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Autor: Prof. Márcio Antoni Santana Colaboradores: Prof. Santiago Valverde Profa. Ana Paula de Andrade Trubbianelli Profa. Angélica Carlini Ética e Legislação: Trabalhista e Empresarial Professor conteudista: Márcio Antoni Santana Márcio Antoni Santana é especialista em Direito Processual, Psicopedagogia Clínica e Institucional, possui extensão universitária em Direito Administrativo e Docência do Ensino Superior, especialização em MBA em Mercado de Capitais, graduação em Ciências Jurídicas e Sociais, e Licenciatura Plena em Pedagogia. Atua como advogado e defensor público conveniado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo nas Áreas Cível, Criminal, Família e Trabalhista, com ênfase na advocacia preventiva há mais de 10 anos. Na área acadêmica é professor há mais de doze anos, tendo atuado em diversas universidades do Estado de São Paulo, trabalhado com turmas de formação de professores em nível de pós-graduação nos anos de 2008 a 2011. Atualmente é professor da disciplina de Ética e Legislação Empresarial e Trabalhista na UNIP, atuando também como orientador de trabalhos para conclusão de curso no modo presencial e a distância, e também é professor conteudista da disciplina Ética e Legislação: Empresarial e Trabalhista para turmas de Gestão em Recursos Humanos. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S232e Santana, Márcio Antoni. Ética e Legislação : trabalhista e empresarial / Márcio Antoni Santana. - São Paulo: Editora Sol, 2013. 168 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-011/13, ISSN 1517-9230. 1. Ética. 2. Legislação. 3. Direito. I. Título. CDU 340:17 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Cristina Z. Fraracio Lucas Ricardi Luanne Batista Sumário Ética e Legislação: Trabalhista e Empresarial APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................9 INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 ÉTICA E DIREITO ............................................................................................................................................... 11 1.1 Ética ........................................................................................................................................................... 11 1.1.1 Conceito de moral e justiça .................................................................................................................11 1.1.2 Responsabilidade social ....................................................................................................................... 12 1.1.3 Ética empresarial ................................................................................................................................... 13 1.1.4 Responsabilidade social empresarial (RSE) ................................................................................... 13 1.1.5 Código de Conduta Ética .................................................................................................................... 15 1.2 Direito ....................................................................................................................................................... 19 1.2.1 O que é Direito? ....................................................................................................................................... 19 1.2.2 Distinção entre moral e Direito ......................................................................................................... 19 1.2.3 Principais fontes de Direito ................................................................................................................ 20 1.2.4 Ramos do Direito .................................................................................................................................... 21 2 DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIçãO ....................................................................................... 23 2.1 A Carta Magna – Constituição da República Federativa do Brasil: ................................. 23 2.2 Poder Constituinte .............................................................................................................................. 24 2.2.1 Titular e exercente do Poder Constituinte .................................................................................... 24 2.2.2 Poder Constituinte Originário ............................................................................................................ 24 2.2.3 Poder Constituinte Derivado .............................................................................................................. 24 2.2.4 Cláusulas pétreas (artigo 60, parágrafo 4º da CF/1988) ......................................................... 25 2.2.5 Conceito de povo, soberania e território ..................................................................................... 25 2.3 FEDERAçãO .................................................................................................................................................... 27 2.3.1 Forma de Estado ...................................................................................................................................... 27 2.3.2 Entes federativos (artigo 18 da CF/1988) ..................................................................................... 27 2.3.3 Forma de governo .................................................................................................................................. 28 2.4 Defesa do Estado e das instituições democráticas ............................................................... 30 2.4.1 Instrumentos de defesa do Estado e das instituições democráticas ................................. 30 2.5 Separação dos Poderes ....................................................................................................................... 32 2.5.1 Separação dos Poderes na Constituição Federal de 1988 ...................................................... 32 2.6 Cidadania e direitos políticos .......................................................................................................... 34 2.6.1 Direitos políticos positivos .................................................................................................................. 35 2.6.2 Direitos políticos negativos ................................................................................................................ 38 2.7 Direitos fundamentais do indivíduo ............................................................................................. 38 2.7.1 Direito à vida ............................................................................................................................................39 2.7.2 Principais decorrências do direito à vida ...................................................................................... 39 2.7.3 Direito à liberdade .................................................................................................................................. 41 2.7.4 Direito à segurança ................................................................................................................................ 44 2.7.5 Direito à igualdade ................................................................................................................................. 45 2.7.6 Direito à propriedade ............................................................................................................................ 45 2.7.7 Desapropriação ........................................................................................................................................ 46 Unidade II 3 DIREITO EMPRESARIAL ................................................................................................................................. 57 3.1 Teoria da Empresa no direito brasileiro ....................................................................................... 57 3.2 Empresa e empresário ....................................................................................................................... 57 3.2.1 Conceito de empresa ............................................................................................................................. 57 3.2.2 Conceito de empresário ....................................................................................................................... 58 3.2.3 Espécies de empresário ....................................................................................................................... 58 3.2.4 Condições para ser empresário individual ou administrador de sociedade empresária ........................................................................................................................................................... 60 3.2.5 Abertura ou registro de empresa .................................................................................................... 61 3.2.6 Documentos necessários para a abertura ................................................................................... 62 3.2.7 Classificação quanto à responsabilidade dos sócios ................................................................ 66 3.2.8 Juntas Comerciais .................................................................................................................................. 68 3.2.9 Estabelecimento empresarial ............................................................................................................ 69 3.3 Ação renovatória de aluguel .......................................................................................................... 69 4 PROPRIEDADE INDUSTRIAL ....................................................................................................................... 71 4.1 Bens da propriedade industrial ....................................................................................................... 71 4.1.1 Invenção – art. 13 da LPI ..................................................................................................................... 71 4.1.2 Modelo de utilidade – art. da 14 LPI............................................................................................... 72 4.1.3 Desenho Industrial– art. 95 da LPI .................................................................................................. 72 4.1.4 Marca – art. 122 da LPI ........................................................................................................................ 72 4.1.5 Das invenções e dos modelos de utilidade não patenteáveis ............................................. 73 4.1.6 Segredo de empresa ............................................................................................................................. 73 4.2 Desconsideração da personalidade jurídica ............................................................................. 74 4.2.1 Desconsideração inversa ...................................................................................................................... 74 4.2.2 Empresa controladora ........................................................................................................................... 75 Unidade III 5 DIREITO DO TRABALHO ................................................................................................................................. 82 5.1 Empregador (artigo 2º CLT) ............................................................................................................. 82 5.2 Empregado (artigo 3º CLT) ................................................................................................................ 82 5.3 Elementos identificadores do vínculo empregatício .............................................................. 82 5.4 Trabalhadores domésticos ............................................................................................................... 83 5.4.1 Direitos não reconhecidos ao empregado doméstico ............................................................. 83 5.5 Trabalhador avulso ............................................................................................................................... 84 5.6 Trabalhador autônomo ...................................................................................................................... 84 5.7 Trabalhador temporário ..................................................................................................................... 84 5.7.1 Vínculo empregatício entre a empresa e o trabalhador ......................................................... 85 5.8 Empresa terceirizada ........................................................................................................................... 85 5.9 Trainee ....................................................................................................................................................... 85 5.10 Estagiário ............................................................................................................................................... 85 5.11 Menor aprendiz ................................................................................................................................... 86 5.12 Contrato individual de trabalho .................................................................................................. 87 5.12.1 Contrato por prazo determinado................................................................................................... 89 5.12.2 Normas gerais sobre os contratos de trabalho ........................................................................ 89 5.12.3 Garantias de emprego ........................................................................................................................ 93 5.12.4 Extinção do contrato de trabalho ................................................................................................ 93 5.12.5 O regime do FGTS ................................................................................................................................. 96 5.12.6 Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) ........................................................................................................................... 97 5.13 Direito coletivo do trabalho .......................................................................................................... 99 5.13.1 Contribuição sindical .......................................................................................................................... 99 5.13.2 Acordo, convenção e dissídio coletivo .....................................................................................1005.13.3 Direito de greve ...................................................................................................................................101 5.14 Assédio moral ou violência moral no trabalho ....................................................................103 5.14.1 O que a vítima deve fazer? .............................................................................................................106 5.14.2 A quem recorrer? ................................................................................................................................106 5.15 A OIT e o seu surgimento .............................................................................................................107 6 TRATADOS INTERNACIONAIS ....................................................................................................................109 6.1 Algumas expressões empregadas nos tratados internacionais .......................................109 6.2 O conceito de Convenção Internacional ..................................................................................110 Unidade IV 7 DIREITO DO CONSUMIDOR........................................................................................................................120 7.1 Código de Defesa do Consumidor (CDC) – Lei nº 8.078/90...............................................120 7.2 Relação de consumo .........................................................................................................................121 7.3 Conceito de consumidor .................................................................................................................121 7.4 Conceito de fornecedor ...................................................................................................................122 7.4.1 Espécie de fornecedores responsáveis ........................................................................................ 123 7.5 Conceito de produto ........................................................................................................................123 7.6 Conceito de serviço ...........................................................................................................................124 7.7 Política Nacional de Consumo ......................................................................................................125 7.7.1 Proteção da vida, saúde e segurança .......................................................................................... 125 7.7.2 Recall ........................................................................................................................................................ 125 7.7.3 Educação e informação do consumidor ..................................................................................... 126 7.7.4 Proteção contra publicidade enganosa e práticas comerciais abusivas........................ 126 7.7.5. Prevenção de danos individuais e coletivos ............................................................................ 126 7.7.6 Inversão do ônus da prova ............................................................................................................... 126 7.8 Direitos básicos do consumidor ...................................................................................................127 7.8.1 Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço .......................................................... 128 7.8.2 Prazo da garantia legal (decadência) ............................................................................................131 7.8.3 Prazo de validade ................................................................................................................................. 132 7.8.4 Produtos com defeito ........................................................................................................................ 132 7.8.5 Responsabilidade por danos ............................................................................................................ 132 7.8.6 Responsabilidade civil ........................................................................................................................ 133 7.8.7 Causas excludentes ............................................................................................................................. 134 7.8.8 Qualidade e segurança dos produtos e serviços ..................................................................... 135 7.8.9 Informações necessárias e adequadas ........................................................................................ 136 7.8.10 Impressos .............................................................................................................................................. 136 7.8.11 Direito de arrependimento ........................................................................................................... 136 7.8.12 Prazo de reflexão: sete dias (para evitar abusos) ................................................................. 137 7.8.13 Práticas comerciais abusivas ........................................................................................................ 137 7.9 Prescrição e decadência ...................................................................................................................139 7.10 Da proteção contratual .................................................................................................................147 7.10.1 Cláusulas abusivas ............................................................................................................................ 147 7.10.2 Cláusulas exemplificativas ............................................................................................................. 147 7.10.3 Compra e venda a prestação ........................................................................................................ 147 7.10.4 Contratos de adesão ........................................................................................................................ 147 7.10.5 Cobrança de dívidas ......................................................................................................................... 147 8 PUBLICIDADE E PROPAGANDA ................................................................................................................149 8.1 Formas comuns de publicidade enganosa ...............................................................................151 8.1.1 O “chamariz” ..........................................................................................................................................151 8.1.2 Informação distorcida .........................................................................................................................151 8.1.3 Ambiguidade ...........................................................................................................................................151 8.2 Responsabilidade do fornecedor-anunciante, das agências e do veículo ..................151 8.3 Oferta e publicidade ..........................................................................................................................152 8.4 Conceitos de publicidade enganosa e abusiva .......................................................................152 8.5 Princípio da vinculação ....................................................................................................................153 8.6 Princípio da transparência ..............................................................................................................153 8.7 Serviço de Atendimento Telefônico aos Consumidores - SAC ........................................153 9 APrESEnTAção Prezados alunos, Em cumprimento à formação acadêmica de Gestão em Recursos Humanos, apresentamos o conteúdo escrito da disciplina Ética e Legislação: Empresarial e Trabalhista. Nela, buscaremos dar o suporte necessário para que o futuro profissionaldos Recursos Humanos possa utilizar os conceitos éticos e a legislação não só para tornar melhor o ambiente de trabalho, mas também para gerar e promover um ambiente saudável e harmonioso, minimizando os conflitos que possam surgir na gestão de seus colaboradores. Estudaremos, portanto, assuntos de grande interesse para vocês, futuros profissionais da área, abordando e refletindo sobre ética, moral e valores sociais e suas implicações na conduta do indivíduo diante da sociedade. Mais especificamente, nos ateremos à ética profissional e às questões sociais, propondo uma abordagem capaz de fornecer elementos para melhorar a atuação do Gestor de Recursos Humanos em sua prática cotidiana e em seu comportamento profissional. Nosso intuito é permitir que o aluno relacione os conteúdos com aspectos da sua prática e realidade. Dessa forma, espera-se que o futuro profissional possa conhecer e dominar as leis que regulam e estão presentes na profissão de Gestor de Recursos Humanos e a importância do compromisso social na busca de uma atuação comprometida com a garantia dos direitos fundamentais do cidadão. Nesse sentido, tendo como base as premissas entre ensino, pesquisa e extensão, nossos objetivos são: • formar gestores humanistas e críticos, capazes de intervir no âmbito social e profissional com uma sólida, coerente e consistente fundamentação teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política; • preparar novos profissionais para o mercado de trabalho a partir de uma visão total dos processos sociais e da intervenção no movimento contraditório da sociedade, bem como prepará-lo para lidar com a legislação vigente sobre assuntos relacionados à sua área de atuação; • possibilitar ao profissional de Recursos Humanos o exercício de uma postura ética, que respeite acima de tudo a diversidade de ideias. InTrodução Partindo do pressuposto de que o profissional de Recursos Humanos precisa exercer suas funções com competência e responsabilidade para com a sua organização e seus colaboradores, ele necessita conhecer seu espaço de trabalho e a legislação que rege e ampara sua profissão. O presente livro-texto traz elementos capazes de fornecer ao futuro profissional uma base teórica que fundamente sua prática. 10 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Os mais relevantes objetivos desta disciplina são: a conceituação e a identificação da Ética, do Direito e da moral como norteadores da ampla execução das atividades sociais e profissionais e suas relações com os diversos campos de atuação do profissional que atua na área de Recursos Humanos; a compreensão das fontes e dos princípios do Direito, e um aprofundado estudo sobre o Direito Constitucional, o Direito Empresarial, o Direito do Trabalho e, por fim, os direitos dos consumidores abrangidos pelo Código de Defesa e pelas fontes do Direito. De início, na unidade 1, o aluno é convidado a refletir sobre a formação da sociedade e suas peculiaridades que, somadas aos conceitos históricos e culturais, formaram a Ética e a forma de agir perante a sociedade. Também serão abordados temas como a responsabilidade social e o ambiental empresarial, e código de Ética e conduta empresarial. Nela, o aluno receberá instruções preliminares sobre o Direito e sua atuação, bem como adquirirá conhecimentos sobre o Direito Constitucional e suas características. Na unidade 2, o tema em pauta é o Direito Empresarial. Nela, o discente conhecerá cada elemento que compõe a estrutura do conceito de empresa, bem como os tipos de empresa e suas peculiaridades perante o mercado. Serão tratados também os aspectos e características da propriedade industrial com base na legislação vigente. A unidade 3 nos leva a conhecer e refletir sobre o Direito do Trabalho, suas características, tipos de empregado, relações de emprego, direitos e obrigações dos trabalhadores, as formas de contratos e seus efeitos, bem como outras características abordadas na CLT e nas práticas trabalhistas. Nela serão abordados temas importantes e atuais como a questão do assédio moral e sexual nas relações de emprego, aspectos históricos relevantes sobre a proteção internacional do trabalhador, o papel da OIT, os tratados internacionais, entre outros. Por fim, a unidade 4 nos trará um estudo do Código de Defesa do Consumidor, observando os conceitos e as características dos envolvidos nas relações de consumo e alguns julgados recentes sobre a matéria. Durante a leitura do livro-texto o aluno encontrará jurisprudências e julgados sobre os casos tratados em cada unidade, podendo, assim, entender como aqueles conceitos são aplicados no dia a dia pelo judiciário e, com isso, evitar conflitos que possam gerar futuras ações na prática como gestor de Recursos Humanos. 11 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL Unidade I 1 ÉTICA E dIrEITo 1.1 Ética Um dos grandes desafios da sociedade contemporânea é saber lidar e limitar o entendimento e o alcance do que é a ética. A palavra ética é de origem grega derivada de ethos, que diz respeito ao costume e aos hábitos dos homens vivendo em sociedade. No entanto, a difícil missão é saber como avaliar o comportamento do ser humano nessa sociedade. Sabemos que no mundo todo existem várias sociedades agindo e convivendo de formas diferentes, com costumes, religiões, regras de sobrevivência entre outros aspectos diversos, e avaliar o que é correto vai além da forma como fomos educados. É necessário saber que cada sociedade está ligada às suas origens e história. Se analisarmos a forma como a mulher é tratada em algumas sociedades islâmicas sob o olhar da nossa sociedade ocidental, certamente não poderemos compreender os regramentos do Islã. Todavia, quando se analisa pelo lado deles, dentro dos seus preceitos religiosos, legais e comportamentais, entende-se mais facilmente tais tratamentos. A ética serve para qualificar as organizações (empresa ética), as pessoas (sujeito ético) e os comportamentos (conduta ética), dentro de uma sociedade. Assim podemos considerar que a ética de um indivíduo, grupo, organização ou comunidade seria a manifestação visível, por meio de comportamentos, hábitos, práticas e costumes, de um conjunto de princípios, normas, pressupostos e valores que regem a sua relação com o mundo. Uma condição fundamental para que o homem atinja seus objetivos é, sem dúvida nenhuma, que ele se associe. Sozinho, o homem é incapaz de conseguir grande parte de seus bens, objetivos, finalidades e interesses. Portanto, a sociedade é uma comunidade, uma comunhão, uma organização, onde uns suprem o que aos outros falta e onde todos, em conjunto, realizam o que nenhum, isoladamente, seria capaz de conseguir. 1.1.1 Conceito de moral e justiça Se a ética pode ser entendida como a forma com que o indivíduo se comporta em sociedade, a moral pode ser definida como a sociedade enxerga este e seus atos perante ela. 12 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 O conceito de justiça, ou seja, o conceito sobre o que o indivíduo considera justo ou injusto, está diretamente ligado às suas convicções pessoais, íntimas, sobre o que ele entende por certo ou errado, dentro daquilo que mais lhe convém. Um exemplo clássico que mistura o entendimento e a praticidade dos dois conceitos é dado na seguinte situação: um pai que entende por justo matar o homem que assassinou o seu filho. Essa atitude é proibida (ilegal) e imoral dentro da sociedade brasileira, que não permite o “fazer justiça com as próprias mãos”, mas circunstância, dentro do espaço íntimo de um pai que se encontra nessa situação, pode ser considerado por ele como “justa”. A própria expressão “fazer justiça com as próprias mãos” já traz, em seu contexto, o conceito de justiça aqui descrito. Podemosidentificar padrões morais estabelecidos em épocas diferentes na mesma sociedade. À medida que a sociedade evolui ou até mesmo se globaliza, ela modifica os seus conceitos morais. Há algumas décadas, na sociedade brasileira, como em outras culturas, era totalmente imoral perante a comunidade uma mulher ser mãe ou engravidar sem ter, anteriormente, feito os votos do matrimônio, bem como o era casar sem ser virgem. Inclusive, em determinada época, era quase que obrigatório estender o lençol sujo de sangue na varanda das casas para provar o defloramento da esposa. Atualmente, a sociedade em geral entende como normal esse tipo de acontecimento, sendo um assunto apenas discutido no seio de cada família. O comportamento moral não se baseia numa reflexão, mas nos costumes de determinada sociedade em determinado lugar, em um preciso tempo histórico. A moral é habitualmente um meio mais poderoso do que a lei para reger o comportamento humano. Muitas vezes, é mais fácil infringir a lei, para agir de acordo com a moral, do que infringir a moral para agir de acordo com a lei. Embasando qualquer decisão que tomamos, na vida profissional ou privada, estarão sempre os nossos valores morais como orientação. Diante do conceito de ética descrito no tópico anterior e do conceito de moral disposto, podemos concluir que a moral baseia-se no comportamento da sociedade e que a ética, a partir da reflexão desse comportamento, criará normas universais com a finalidade de estabelecer as melhores ações. 1.1.2 Responsabilidade social Podemos conceituar a responsabilidade social como um processo instrutivo e dinâmico, baseado na ciência do dever humano e na ética, envolvendo ações governamentais e não governamentais pelos direitos fundamentais para a vida, as relações sociais e o equilíbrio ambiental. Essas manifestações, além de regras de ordem moral, estão disciplinadas em códigos e instrumentos pátrios como as leis de proteção ao consumidor, às crianças e aos adolescentes, às mulheres e aos idosos, e, no âmbito internacional temos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Universal dos Direitos da Criança e as Convenções sobre as Condições de Trabalho, entre outros. 13 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL Dentro das sociedades, podemos encontrar diversas formas de manifestação de responsabilidade social que podem ser exercidas pelo governo municipal, por meio de políticas públicas, e pelos cidadãos, por meio de desenvolvimento social com ações individuais, coletivas ou empresariais junto a órgãos públicos ou entidades privadas com a execução de trabalhos voluntários. 1.1.3 Ética empresarial A ética empresarial pode ser definida como o comportamento da pessoa jurídica de Direito Público (empresas públicas) ou de Direito Privado, quando ela age de conformidade com os princípios morais e éticos aceitos pela sociedade, ou seja, quando elas agem em conformidade às regras éticas provindas do senso comum de uma sociedade. Esse comportamento ético e moral é o que espera a sociedade na qual a pessoa Jurídica está inserida, devendo a empresa agir com ética em todos os seus relacionamentos, especialmente com clientes, fornecedores, empregados, concorrentes e governo. É importante ressaltar que toda empresa tem o dever ético de cumprir a lei e os costumes. Segundo o autor Joaquim Manhães Moreira (apud COTRIM, 2008, p. 228), são razões para a empresa ser ética: • custos menores, pois não faz pagamentos irregulares ou imorais, como o “suborno”; • possibilidade de avaliar com precisão o desempenho da sua estrutura; • legitimidade moral para exigir comportamento ético dos empregados; • geração de lucro livre de contingências; por exemplo, condenações por procedimentos indevidos; • obtenção de respeito dos parceiros comerciais; e • cumprimento do dever inerente à responsabilidade social da organização. 1.1.4 Responsabilidade social empresarial (RSE) Responsabilidade social empresarial ou RSE é a forma de gestão empresarial que se define pela relação ética/moral e transparente da empresa com todos os seus públicos (clientes, fornecedores, empregados etc.) e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionam o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações presentes e futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. A responsabilidade empresarial, seguindo os ensinamentos de Robert Henry Srour (2008), adquire o caráter social em função da adoção de um conjunto de práticas. São elas: 14 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 I. Conjugar o desenvolvimento profissional dos colaboradores e sua coparticipação em decisões técnicas, estimular investimentos em segurança e melhores condições de trabalho, conceder participação nos lucros e nos resultados, assim como outros benefícios sociais. Seus impactos imediatos são maior produtividade, mais eficiência nos processos, incremento do capital intelectual, maior assiduidade do pessoal e menor rotatividade. II. Valorizar a diversidade interna da empresa, por meio do combate às discriminações – no recrutamento, no acesso ao treinamento, na remuneração, na avaliação do desempenho e na promoção das “minorias políticas” –, como é o caso de uma política de emprego para portadores de deficiência física, da adaptação do ambiente de trabalho às suas necessidades e da previsão de vagas para jovens de pouca qualificação que recebem formação e capacitação adequadas. III. Exigir dos prestadores de serviços que seus trabalhadores desfrutem de condições semelhantes de trabalho às dos próprios funcionários da empresa contratante. IV. Constituir parcerias entre clientes e fornecedores para gerar produtos e serviços de qualidade, garantir preços competitivos, estabelecer um fluxo de informações precisas e tempestivas, e para assegurar relações confiáveis e duradouras. V. Contribuir para o desenvolvimento da comunidade local e, por extensão, da sociedade inclusiva, por meio da implantação de projetos que aumentem o bem-estar coletivo. VI. Incluir investimentos em pesquisa tecnológica para inovar processos e produtos, além de melhor satisfazer os clientes ou usuários. VII. Exigir a conservação e a restauração do meio ambiente por meio de intervenções não predatórias (consciência da vulnerabilidade do planeta) e com de medidas que evitem externalidades negativas. VIII. Publicar um “balanço social”. No ano de 1998, o Conselho Empresarial Mundial, em convenção na Holanda, institui as bases para o conceito de Responsabilidade Social Corporativa (empresarial), estabelecendo o comprometimento permanente dos empresários com comportamentos eticamente orientados e com o desenvolvimento econômico, no intuito de melhorar a qualidade de vida dos empregados e de suas famílias, bem como da comunidade local e da sociedade como um todo. 15 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL As consequências trazidas para as empresas que adotam a responsabilidade social dentre as suas estratégias podem ser resumidas da seguinte forma: • contribuição decisiva para a perenidade das empresas, uma vez que diminui sua vulnerabilidade ao reduzir desvios de conduta, processos judiciais e possíveis retaliações por parte dos stakeholders; • promoção da reputação das empresas, sobretudo junto aos clientes e às comunidades locais em que suas sedes estão implantadas; • conciliação da eficácia econômica com preocupações sociais; • fortalecimento interno a empresa, conquistando e retendo talentos, além de cultivar um relacionamento duradouro com clientes e fornecedores; • projetos sociais são agregados como valor aos produtos ou serviços prestados;• ações inovadoras para alcançar o sucesso empresarial. Desse modo, as empresas têm a missão de competir não somente pela conquista do mercado, para auferir lucros, mas também para conquistar um capital de reputação, de prestigio, dispor de uma reserva de credibilidade que lhe confira a “licença para operar” e, por conseguinte, o benefício da dúvida em situação de crise. Procuram obter, sobretudo, um crédito de confiança que lhes outorgue uma vantagem competitiva para incrementar sua rentabilidade (SROUR, 2008). 1.1.5 Código de Conduta Ética O Código de Ética é um instrumento que busca a realização e a satisfação dos princípios, visão e missão da empresa. Serve para orientar e disciplinar as ações de seus colaboradores e explicitar a postura social da empresa em face dos diferentes públicos com os quais interage, como clientes, fornecedores e público em geral. É da máxima importância que seu conteúdo seja refletido nas atitudes das pessoas a quem o Código se dirige e encontre respaldo na alta administração da empresa, de modo que até o último empregado contratado tenha a responsabilidade de vivenciá-lo e praticá-lo. O Código de Ética formaliza um padrão de conduta considerado adequado para uma organização. Quando uma empresa decide adotar uma postura ética em seus relacionamentos, é muito importante que essa resolução conste de um documento interno que será chamado de Código de Ética ou Código de Conduta. Sabemos que as pessoas que integram uma organização possuem formações culturais, intelectuais e científicas diferentes, experiências sociais e opiniões diversas quanto aos fatos da vida. Contudo, o Código de Ética tem a missão de padronizar e formalizar o entendimento sobre organização empresarial, incluindo o comportamento de seus colaboradores em seus diversos relacionamentos e operações.Com isso, ele evita que os julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação plena dos princípios. 16 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Pode-se traçar, dentre outras, algumas formas para que a organização cumpra, ou melhor, obedeça o Código de Ética estabelecido. São elas: • treinamento dos conceitos constantes do Código; • sistema de revisão e verificação do efetivo cumprimento das normas do Código de Ética; • criação de um canal de comunicação destinado a receber e a processar relatos sobre eventuais violações às normas traçadas no Código de Ética. A consciência ética das empresas manifestadas por meio de seus gestores cresce a cada dia, como se pode perceber pelo grande número de causas submetidas à justiça. Essas causas revelam que em todos os relacionamentos da empresa, a sociedade deseja ética e obediência à legislação. O profissional da atualidade, no Brasil, está vivendo uma experiência ímpar ao integrar o mundo dos negócios nessa “Era Ética”. O Código de Ética, como já ressaltado, formaliza-se numa espécie de documento da empresa, seus padrões éticos e morais, criando assim, regras de condutas. Srour (2008, p. 232) apresenta uma lista de alguns temas recorrentes nos códigos de ética, no Brasil: • relacionamento com clientes, acionistas, colaboradores, fornecedores e prestadores de serviços, distribuidores, autoridades governamentais, órgãos reguladores, mídia, concorrentes, sindicatos, comunidades locais, Terceiro Setor, associações empresariais; • conflitos de interesse entre os vários públicos; • regulamentação da troca de presentes, gratificações, favores, cortesias, brindes, convites de fornecedores ou clientes; • observância das leis vigentes; • segurança e confidencialidade das informações não públicas, em especial da informação privilegiada; • teor dos balanços, das demonstrações financeiras e dos relatórios da diretoria endereçados aos acionistas, e seu nível de transparência; • propriedade intelectual dos bens simbólicos, patentes ou marcas; • espionagem econômica ou industrial versus pesquisas tecnológicas e uso do benchmarking e da inteligência competitiva; • postura diante do trabalho infantil e do trabalho forçado; • formação de lobbies ou tráfico de influência; 17 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL • formação de cartéis e participação em associações empresariais; • contribuição para campanhas eleitorais; • prestação de serviços profissionais por parte dos colaboradores a fornecedores, prestadores de serviços, clientes ou concorrentes; • respeito aos direitos do consumidor; • relação com o meio ambiente: uso de energia, água e papel; consumo de recursos naturais; poluição do ar; disposição final de resíduos; • uso do tempo de trabalho para assuntos pessoais; • uso do nome da empresa para obter vantagens pessoais; • discriminação das pessoas em função de gênero, etnia, raça, religião, classe social, idade, orientação sexual, incapacidade física ou qualquer outro atributo, e regulação de sua seleção e promoção (questão da diversidade social); • assédio moral e assédio sexual; • segurança no trabalho com adequação dos locais de trabalho e dos equipamentos para prevenir acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. • uso de drogas ilícitas, ingestão de bebidas alcoólicas e prática de jogos de azar; • porte de armas; • relações de apadrinhamento (nepotismo, favoritismo, paternalismo, compadrio, amizade) e contratação de parentes ou amigos como colaboradores ou como terceiros; • troca de informações com concorrentes, fornecedores e clientes; • adoção de critérios objetivos e justos na contratação e no pagamento dos fornecedores ou prestadores de serviços, para afastar qualquer favorecimento; • existência de interesses financeiros ou vínculos de qualquer espécie com empresa que mantenha negócios com a organização, para não ensejar suspeita de favorecimento. • posicionamento com relação à concorrência desleal; • difusão interna de fofocas ou rumores maliciosos; • privacidade dos colaboradores; • direito de associação dos colaboradores a sindicatos, igrejas, associações, partidos políticos ou organizações voluntárias; • restrição do fumo a locais ao ar livre ou a áreas reservadas. 18 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 • proibição da comercialização interna de produtos ou serviços por colaboradores; • cuidado com bens e recursos da empresa, para que não ocorram danos, manejos inadequados, desperdícios, perdas, furtos ou retiradas sem prévia autorização; • utilização dos equipamentos e das instalações da empresa para uso pessoal dos colaboradores ou para assuntos políticos, sindicais ou religiosos; • proteção da confidencialidade dos registros pessoais que ficam restritos a quem tem necessidade funcional de conhecê-los, salvo exceções legais. Portanto, pode-se dizer que administrar a ética dentro de uma empresa é gerir o alinhamento do comportamento dos seus colaboradores com um conjunto de normas que consideramos indispensáveis e que formam a base da cultura desejada para a corporação. O que se busca com essa “Era Ética”, assim denominada por vários doutrinadores, é estabelecer para sempre o orgulho de ser honesto, o qual será ostentado por empresários, acionistas, administradores, empregados, parceiros e agentes das organizações empresariais. O respeito aos Códigos de Ética depende da determinação de cada um dos envolvidos na organização empresarial, de conhecer, seguir e disseminar os princípios éticos, assim como de exigir a sua observância por parte de todos. Lembrete A ética serve para qualificar as organizações (empresa ética), as pessoas (sujeito ético) e os comportamentos (conduta ética), dentro de uma sociedade. Saiba mais Os filmes a seguir podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos da unidade: UMA SECRETÁRIA de Futuro. Dir. Mike Nichols. EstadosUnidos: Twentieth Century Fox, 1988. 113 minutos. WALL Street. Dir. Oliver Stone. Estados Unidos: Twentieth Century Fox, 1987. 126 minutos. 19 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL 1.2 direito 1.2.1 O que é Direito? Desde o momento em que o homem decidiu viver em sociedade foi necessária a criação de algumas regras de conduta e convivência. A partir desse marco surge a figura do Direito. O Direito é um fenômeno da rotina diária, que encontramos a todo o momento e em toda parte: desde o momento em que acordamos até quando dormimos estamos assegurados e disciplinados pelas suas regras. Ele resguarda, defende, ampara, protege e serve o indivíduo em todos os momentos. Agimos ou abstemo-nos de agir de alguma maneira dentro de moldes traçados pelo Direito. Seguindo os ensinamentos do mestre Miguel Reale: Aos olhos do homem comum, o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Assim sendo, quem age de conformidade com essas regras comporta-se direito; quem não o faz, age torto (REALE, 2004, p. 1). Consequentemente, por querer e viver em sociedade, a ação de um ser humano interfere na vida de outros, provocando a reação dos seus semelhantes, ou seja, uma conduta interfere direta ou indiretamente na outra. Para que essa interferência de condutas tivesse um sentido construtivo, foi preciso que se criassem regras capazes de preservar a paz no convívio social. Dessa forma, nasceu o Direito, ou seja, da necessidade de se estabelecer um conjunto de regras que dessem certa ordem e organização à vida em sociedade. 1.2.2 Distinção entre moral e Direito Durante o processo de formação e crescimento do homem, lhe são agregados vários ensinamentos que formam o seu caráter e a sua moral. Essas experiências irão ditar a sua consciência e, muitas vezes, determinar seu futuro profissional e social. Esse processo de formação da moral dita diretamente ao sujeito uma escolha entre as ações que pode praticar, mas diz respeito apenas ao próprio indivíduo, levando em consideração seus aprendizados culturais e familiares. Enfim, em regra, somos todos frutos do meio. No entanto, o Direito leva a confronto atos diversos de vários sujeitos, que agem de acordo com o que acreditam ser correto dentro de sua formação. A moral é unilateral, porque emana do próprio sujeito e o Direito é bilateral porque assiste um ou mais indivíduos. 20 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 A moral indica um dever/poder, mas não impõe regras, não há imperatividade de uma ordem superior que lhe impõe repressão. A sanção pelo descumprimento da regra moral é apenas de consciência. O descumprimento da regra de direito implica sanção (punição) e repressão externa e objetiva. Desse modo, como as normas de Direito envolvem padrões de ética, moral e justiça, podemos nos deparar com comportamentos que são classificados como legais e éticos. Contudo, alguns comportamentos podem ser somente legais (baseados em lei), mas não éticos, e outros podem ser éticos, mas não possuírem o respaldo legal (por exemplo, um comerciante que troca um produto fora do prazo de garantia legal). Dessa forma, muitas vezes um comportamento moral pode infringir o direito de outrem, ou o direito de alguém pode estar em desacordo com a moral de outra pessoa. O mestre Reale assim define a distinção entre Direito e moral: Há, pois, que distinguir um campo de Direito que, se não é imoral, é pelo menos amoral, o que induz a representar o Direito e a Moral como dois círculos secantes. Podemos dizer que dessas duas representações – de dois círculos concêntricos e de dois círculos secantes – a primeira corresponde à concepção ideal, e a segunda, à concepção real, ou pragmática, das relações entre o Direito e a Moral (REALE, 2004, p. 42). 1.2.3 Principais fontes de Direito A palavra fonte tem significado como de “lugar de onde a água surge, nasce ou jorra”, nesse sentido vamos entender de onde o Direito surge, ou seja, as formas pelas quais ele se manifesta. São cinco as fontes formais do Direito: I. Lei: é a norma escrita ou não, vigente em um país, elaborada pelo Poder Legislativo; podemos definir a lei como uma norma aprovada pelo povo de um país por meio de seus representantes. Em outras palavras, lei é a regra escrita ou tácita, feita pelo legislador com a finalidade de tornar expresso o comportamento considerado desejável ou indesejável (âmbito penal) para a coletividade. As leis brasileiras, exceto disposição em contrário, começam a vigorar 45 dias depois de oficialmente publicadas no Diário Oficial da União (Jornal Oficial da União). Mas em geral, as próprias leis estabelecem em seu próprio texto o prazo inicial de sua vigência, sendo comum declararem que “entram em vigor na data de sua publicação”. Este procedimento é denominado vigência da lei no tempo. II. Costume: é o conjunto de normas de comportamento que a sociedade pratica ao longo dos tempos, ao qual as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade, porém não 21 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL estão escritas em códigos ou qualquer legislação. É criado espontaneamente pela sociedade, sendo produzido por uma prática geral, constante e reiterada. Exemplo: a caderneta de anotações utilizada por alguns comerciantes na venda de produtos a prazo (fiado) ou a fila (não há uma lei determinando a obediência à fila em locais de atendimento, mas as pessoas por costume a respeitam, por ordem de chegada). III. Princípios Gerais de Direito: inspiram e dão alicerce ao sistema jurídico na elaboração das leis ou na decisão que deverá ser tomada num conflito de interesses. Exemplo: o princípio da Boa-Fé, que deve estar presente em todas as relações de negócios, significa que a honestidade e a transparência devem fazer parte de todo relacionamento entre os indivíduos, principalmente nas relações contratuais. A partir destes princípios, os legisladores criam e aprovam as leis que irão reger toda a sociedade. IV. Jurisprudência: é o conjunto de decisões judiciais (sentenças, acórdãos etc.) reiteradas sobre determinadas questões idênticas. A jurisprudência vai- se formando a partir das soluções adotadas pelos órgãos judiciais ao julgar casos jurídicos. V. Doutrina Jurídica: o parecer sobre determinados assuntos, que pode ser manifestado por meio de livros, artigos, notas entre outras manifestações escritas por diversos especialistas de notório saber jurídico, constitui verdadeiras normas que orientam legisladores, juízes e advogados. observação As cinco fontes do Direito são: Lei, Costume, Princípios Gerais do Direito, Jurisprudência e Doutrina Jurídica e estão presentes em todas as decisões judiciais na aplicação do Direito. 1.2.4 Ramos do Direito O Direito, primeiro, pode ser dividido em dois ramos, ou duas classes fundamentais: Direito Público e Direito Privado. • Direito Público: regula as relações em que predominam os interesses gerais da sociedade. • Direito Privado: regula as relações em que predominam os interesses dos particulares. O Direito Público é subdividido nos seguintes ramos: • Direito Constitucional: regulamenta a lei suprema da nação. 22 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 • Direito Administrativo: regulamenta a organização e o funcionamento da Administração Pública e dos órgãos que executam serviços públicos. • Direito Penal: regulamenta os crimes e as contravenções, determinando as penas e medidas de segurança. • Direito Processual: regulamenta as atividades do Poder Judiciário e daspartes em conflito dentro de um processo judicial. • Direito Tributário: regulamenta os tributos, responsáveis pela arrecadação de receita para o Estado. • Direito Internacional Público: regulamenta as relações entre Estados, por meio de normas aceitas como obrigatórias pela comunidade internacional. O Direito Privado é subdividido nos seguintes ramos do Direito: • Direito Civil: regulamenta a vida civil do indivíduo, com exercício de direitos e obrigações, ou seja, nascimento, aquisição de capacidade, casamento, morte, bens etc. • Direito Empresarial: regula as práticas de atos mercantis pelo empresário e pelas sociedades empresarias. • Direito do Trabalho: regula as relações de trabalho entre empregado e empregador, bem como as condições em que a atividade é exercida. • Direito do Consumidor: regula as relações de consumo de bens ou serviços, entre fornecedor e consumidor. • Direito Internacional Privado: regula os problemas particulares, ocasionados pelo conflito de leis de diferentes países. Saiba mais Os filmes a seguir podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos da unidade: DESMUNDO. Dir. Alain Fresnot. Brasil: A. F. Cinema e Vídeo, 2002. 101 minutos. HISTÓRIAS do poder. Dir. Max Alvim e Ana Dip. Brasil: SESCTV; TV Cultura; Digital Produções; Canal Independente, 1999. Documentário, 5 episódios. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/ programa/50-HISTORIAS-DO-PODER.html>. Acesso em: 1 mar. 2013. 23 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL 2 dIrEITo ConSTITuCIonAL E ConSTITuIção Direito Constitucional é o ramo do Direito Público composto por regras ligadas à forma do Estado, de Governo, modo de aquisição e exercício do poder, estabelecimento dos órgãos do poder e vinculadas aos direitos e garantias fundamentais. 2.1 A Carta Magna – Constituição da república Federativa do Brasil: A última e atual Constituição promulgada no ano de 1998 vem sofrendo diversas alterações conferidas por decretos ao longo desses anos. Essa Constituição garantiu os direitos tanto da população civil quanto dos administradores do país, militares, outras entidades etc. Organizou a estrutura administrativa do país tendo como marco o direito restabelecido da população votar novamente em seus governantes, por meio das eleições diretas. Antes dessa última promulgação, o Brasil havia passado por longos anos sob o regime ditatorial militar, em que a população não tinha voz ativa e seus atos eram ditados pelos militares que estavam no poder. Conforme a nossa nova Constituição, o presidente da República é o chefe do Poder Executivo que acumula as funções de chefe de Estado (representa o país perante os Estados estrangeiros) e chefe de governo. A implantação do dia 25 de março como sendo o dia da Constituição foi em virtude da primeira Carta Magna do Brasil ter sido outorgada por D. Pedro I no ano de 1824. O Brasil já contou até hoje com oito Constituições diferentes, cada uma com suas peculiaridades. Essa última foi promulgada no governo de José Sarney, tendo como principal conquista e característica a restituição dos direitos democráticos da população brasileira. A Constituição é a lei máxima do país, e nenhum ordenamento pode ser superior a ela, ou seja, não pode existir nenhuma lei ou ordem que passe por cima das regras constitucionais. Constituição Demais normas Figura 1 No topo da pirâmide estão as normas constitucionais, logo, todas as demais normas do ordenamento jurídico devem buscar seu fundamento de validade no texto constitucional, sob pena de inconstitucionalidade, ou seja, a regra ou lei que for contrária ao que está escrito na Constituição não são validas. 24 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 A Constituição é conhecida por diversos sinônimos, sempre realçando o caráter de superioridade das normas constitucionais em relação às demais normas jurídicas. Destacamos os sinônimos mais frequentes, como Carta Magna, Lei Fundamental, Código Supremo, Lei Máxima, Lei Maior e Carta Política. Resumindo, pode-se concluir que a Constituição da República Federativa do Brasil é a lei fundamental de organização do Estado, ao estruturar e delimitar os seus poderes políticos. O estudo das normas de direito pressupõe o conhecimento de certas noções básicas de teoria geral do Estado, que serão abordadas no próximo tópico. 2.2 Poder Constituinte A doutrina subdivide o Poder Constituinte em originário e derivado e, a partir daí, ganha contornos mais definidos. 2.2.1 Titular e exercente do Poder Constituinte É titular do Poder Constituinte o povo já o exercente desse poder é aquele que em nome do povo edita a Constituição. No caso da elaboração da nossa última e atual Constituição, o exercente foi a Assembleia Nacional Constituinte. 2.2.2 Poder Constituinte Originário É aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo completamente com a ordem jurídica anterior. Em outras palavras, é a criação de uma nova Constituição, não guardando vínculos com a anterior. Nossa atual Constituição, por ter rompido por completo com a ordem jurídica anterior, é considerada fruto do Poder Constituinte Originário. 2.2.3 Poder Constituinte Derivado É derivado do Poder Constituinte Originário, isto é, é criado e instituído por tal poder e é subdivido em três espécies: • Poder Constituinte Derivado Reformador; • Poder Constituinte Derivado Decorrente; e • Poder Constituinte Derivado de Revisão. 2.2.3.1 Poder Constituinte Derivado Reformador (artigo 60 da CF/1988) É aquele destinado à alteração do texto constitucional, por meio de emendas à Constituição, editadas segundo processo legislativo previsto na própria Constituição. 25 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL 2.2.3.2 Poder Constituinte Derivado Decorrente (artigo 25, caput, da CF/1988) É o poder conferido aos Estados-membros para que se auto-organizem por intermédios das próprias Constituições Estaduais, sempre respeitando as regras gerais da Constituição Federal. 2.2.3.3 Poder Constituinte Derivado de Revisão (artigo 3º do ADCT) É aquele que prevê uma revisão no texto constitucional após determinado tempo. Na nossa Constituição, esta revisão que estava prevista aconteceu cinco anos após a promulgação, ou seja, no ano de 1994 e deu ensejo à elaboração de seis emendas constitucionais de revisão. 2.2.4 Cláusulas pétreas (artigo 60, parágrafo 4º da CF/1988) São denominadas “cláusulas pétreas”, pela doutrina jurídica especializada, aqueles dispositivos elencados no parágrafo 4º do artigo 60 da mesma Carta Magna. Assim está disposto: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: […] § 4º – Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais (BRASIL, 1988a). Basicamente, as cláusulas pétreas estão elencadas no artigo 5º da CF/1988: porém, a doutrina e a jurisprudência reconhecem haver direitos e garantias individuais previstos em outros dispositivos constitucionais. O STF, por exemplo, considerou ser cláusula pétrea, por ser garantia individual do contribuinte, o princípio da anterioridade tributária, que garante os direitos adquiridos sobre uma lei anterior, previsto no artigo 150, III, b, da CF/1988. 2.2.5 Conceito de povo, soberania e território O Estado (país) é uma sociedade política dotada de algumas características próprias ou de elementos essenciais que a distinguem das demais: povo, território e soberania. Pode-se dizer que esses três elementos são fundamentais, sem os quais o Estado não poderia existir. 2.2.5.1 Povo A palavra povo, que deriva do termo latino populus,permite fazer referência a conceitos diversos: os habitantes de certa região, a população em geral, uma povoação de menor tamanho que uma cidade e à classe baixa de uma sociedade. 26 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 O conceito de povo não se confunde com o conceito de população que é o conjunto de pessoas que se encontram no território de um determinado Estado, seja nacional ou estrangeiro, permanente ou temporariamente. Assim, o conceito de população é apenas numérico, estatístico, e refere-se à quantidade de habitantes do Estado, soma, num determinado momento, composta por habitantes fixos e temporários (por exemplo, os turistas). Por outro lado, nação é o conjunto de pessoas que formam uma comunidade unida por laços históricos e culturais. 2.2.5.2 Soberania A soberania pode ser conceituada como o poder impositivo do Estado. É o direito exclusivo de uma autoridade suprema sobre seu território ou grupo de pessoas. Há casos em que a soberania é atribuída a um indivíduo, como nas monarquias ou no imperialismo, no qual ele é conhecido como “soberano”. Resumindo, pode-se afirmar que soberania é o poder máximo de que está dotado o Estado para fazer valer suas decisões e sua autoridade dentro do seu território. Na atual Constituição da República Federativa do Brasil, o Poder Constituinte emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos nos termos da própria Constituição. Como estabelece o artigo 1º, § único, da Constituição da República Federativa do Brasil: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” (BRASIL, 1988a). 2.2.5.3 Território Território é o elemento material do Estado (país): as terras divididas entre fronteiras internacionais ou espaços delimitados por tratados ou acordos internacionais. Neles, o Estado exerce a sua supremacia sobre pessoas e bens. A ideia de território vai bem mais além do que espaço geográfico: é acima de tudo jurídico. Abrange, além do espaço delimitado entre fronteiras do Estado, o mar territorial, a plataforma continental, o respectivo espaço aéreo, navios e aeronaves particulares em alto-mar e navios e aeronaves públicas (militares) ou a serviço do governo onde quer que estejam. Assim, território é o espaço geográfico onde o Estado exerce a sua soberania, seu poder de império sobre pessoas e bens. Fazem parte do território: • superfície terrestre: é a camada de terra aparente. No Brasil, a superfície abrange aproximadamente 8,5 milhões de Km², sendo o quinto país mais extenso do mundo; 27 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL • subsolo dessa superfície: camada de terra abaixo dessa superfície; • mar territorial: compreende a faixa de 12 milhas marítimas, medida a partir do litoral continental; • zona contígua: compreende uma faixa que se estende das 12 milhas às 24 milhas marítimas do mar territorial; • zona econômica exclusiva: compreende uma faixa que se estende das 12 milhas às 200 milhas marítimas do mar territorial; • espaço aéreo: é o espaço correspondente acima da superfície terrestre e do mar territorial. 2.3 FEdErAção 2.3.1 Forma de Estado A Federação é caracterizada como a união de dois ou mais Estados para a formação de um novo (único), em que as unidades conservam autonomia política, podendo legislar sobre assuntos específicos disciplinados pela lei maior (Constituição) enquanto a soberania é transferida para o Estado Federal que dita as regras gerais. Os Estados podem ser classificados sob o aspecto de sua forma em duas principais características: federativos ou unitários. A Federação (ou Estado Federativo) é uma modalidade de forma de Estado, caracterizada pela descentralização política. 2.3.2 Entes federativos (artigo 18 da CF/1988) A forma federativa de Estado tem por característica fundamental a descentralização política. Assim, dentro da atual organização do Estado brasileiro existem as seguintes entidades federativas: a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios: 2.3.2.1 União A União é a entidade federativa voltada para os assuntos de interesse de todo o Estado brasileiro. O ente federativo central denominado União só existe em Estados Federais, em que os diversos Estados- membros se reúnem para a formação de um governo central e a administração dos assuntos de interesse comum. A União, além da autonomia no plano interno, exerce soberania quando representa o Estado federal (Brasil) perante a comunidade internacional. 2.3.2.2 Estados-membros Os Estados brasileiros surgiram em 1889, com a proclamação da República e a adoção do federalismo como forma de Estado. As antigas províncias foram elevadas à condição de Estados-membros, dotados 28 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 de autonomia política e integrantes da nova Federação brasileira. Contudo, os Estados-membros são dotados somente de autonomia política, não podendo contrariar os limites e os princípios fixados pela Constituição da República Federativa do Brasil. Não possuem soberania. No Estado federal brasileiro, comumente, os Estados-membros recebem simplesmente a denominação de Estados. Atualmente o Brasil possui 26 (vinte e seis) Estados-membros. 2.3.2.3 Município É a entidade federativa voltada para assuntos de interesse local. A Constituição admite sua criação, incorporação, fusão e desmembramento. 2.3.2.4 Distrito Federal É um ente federativo, assim como a União, os Estados e os municípios. Tem sua autonomia parcialmente tutelada pela União: a polícia civil, militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal são organizados e mantidos pela União. O mesmo ocorre com o Poder Judiciário e o Ministério Público do Distrito Federal. O chefe do Poder Executivo de Brasília é o governador, e não o prefeito. 2.3.2.5 Territórios federais São meras autarquias da União, não constituem entidades federativas, pois não são dotadas de autonomia política. Atualmente não existe nenhum território no Brasil: Roraima e Amapá foram transformados em Estados-membros e Fernando de Noronha, extinto, com a reincorporação de sua área ao Estado-membro de Pernambuco. Contudo nada obsta que sejam criados por lei novos territórios. 2.3.3 Forma de governo O nome atual do Estado brasileiro é “República Federativa do Brasil”. Portanto o Brasil é uma República Federativa, tendo assim, a república como forma de governo. A palavra república tem origem latina e significa: “res” coisa e “pública” povo, ou seja, “coisa do povo”. Partindo dessa premissa, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 definiu, logo em seu artigo 1º, a República Federativa do Brasil como um “Estado Democrático de Direito” e consagra a dignidade da pessoa humana como um de seus fundamentos. Pode-se então conceituar o Estado Democrático de Direito como o Estado regido por leis, em que o governo está nas mãos de representantes legitimamente eleitos pelo povo e há ampla valorização dos direitos humanos. Em outros termos, o Estado Democrático de Direito caracteriza-se pela eletividade, temporariedade dos membros do Poder Legislativo e Executivo (mandatos por prazo determinado) e um regime de responsabilidade das pessoas que ocupam cargos públicos. 29 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL Portanto, o Brasil é uma república, cujas principais características são: • a eleição dos agentes políticos pelo povo (presidente da República, governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores); • os agentes políticos ocupam cargos do Poder Executivo e do Legislativo, exercendo mandatos por tempo limitado. Dessa forma, na república são realizadas eleições periódicas para a escolha dos representantesdo povo no Poder Legislativo e Executivo, prevendo a possibilidade de impeachment do presidente da República e a necessidade das pessoas que ocupam cargos públicos de prestarem contas de seus atos na esfera cível, administrativa e criminal. O Estado deve ter como finalidade prestar serviço ao cidadão, promovendo o bem-estar geral do povo e melhorando as condições de vida social. A grande tarefa a ser desempenhada pelo Estado Democrático consiste em favorecer a construção de uma sociedade mais justa e, ao mesmo tempo, mais livre e igualitária. Assim, outro aspecto da nossa República é a democracia exercida pelo povo como o regime político. A palavra democracia é de origem grega, que significa: “demos” povo, “arché” governo, governo do povo, é o regime político em que todo o poder emana da vontade popular. É o governo do povo, pelo povo e para o povo. Segundo o artigo 3º da Constituição Federal, são objetivos fundamentais do Brasil: - construir uma sociedade livre, justa e solidária – o Estado brasileiro deve buscar a construção de uma sociedade informada pelos princípios de liberdade, justiça e solidariedade; - garantir o desenvolvimento nacional – o desenvolvimento nacional deve ser buscado em todos os sentidos, incluindo o econômico e social; - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; - promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988a). Por fim, em uma sociedade democrática, a autoridade do povo deve sempre prevalecer, pois a democracia, na clássica definição, é “o regime do povo, pelo povo e para o povo”. 30 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 2.4 defesa do Estado e das instituições democráticas 2.4.1 Instrumentos de defesa do Estado e das instituições democráticas A Constituição Federal regulamenta, para a defesa do Estado e das instituições democráticas: • o estado de defesa; • o estado de sítio; • as forças armadas; • a segurança publica. 2.4.1.1 O estado de defesa (artigo 136 da CF/1988) e o estado de sítio (artigo 137, I e II da CF/1988) Estas medidas de crise têm natureza excepcional, devem ser provisórias, só podendo ser utilizadas quando realmente necessárias. Devem, ainda, ser proporcionais à situação de crise que pretendem superar e se utilizadas em momento de normalidade constitucional estarão violando a Constituição. As duas medidas deverão ser decretadas pelo presidente da República e deverão ser ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional. Todavia, a decretação do estado de sítio depende de prévia autorização pelo Congresso Nacional. 2.4.1.2 Duração e limitação do estado de sítio Em regra, o estado de sítio deverá durar o mesmo tempo do estado de defesa – até 30 dias –, mas são admitidas prorrogações de até 30 dias de cada vez. No caso de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira, poderá ainda ser decretado pelo tempo que durarem tais situações. O estado de sítio poderá atingir todo o território nacional. 2.4.1.3 Cabimento do estado de defesa e do estado de sitio Nos termos do artigo 136 da CF/1988, caberá estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social, ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. Com relação ao estado de sítio, ele será decretado sempre que houver comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa, ou nos casos de declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira. 31 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL 2.4.1.4 Medidas restritivas no estado de defesa e no estado de sítio (artigo 136 e 139 da CF/1988) No estado de defesa, haverá restrições aos direitos de: • reunião, ainda que exercida no seio das associações; • sigilo de correspondência; • sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; • ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, inciso I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: I – obrigação de permanência em localidade determinada; II – detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; III – restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; IV – suspensão da liberdade de reunião; V – busca e apreensão em domicílio; VI – intervenção nas empresas de serviços públicos; VII – requisição de bens. 2.4.1.5 Forças Armadas (artigo 142 da CF/1988) Constituída pela Marinha, Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República. Têm como objetivo principal a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. 2.4.1.6 Segurança pública (artigo 144 da CF/1988) A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos: 32 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 • Polícia Federal; • Polícia Rodoviária Federal; • Polícias Ferroviária Federal; • Polícia Civil; • Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar. As Polícias Civil, Militar e Corpo de Bombeiros Militar são órgãos estaduais. Subordinam-se aos governadores dos respectivos Estados. A Polícia Civil, Militar e o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal são organizados e mantidos pela União. Subordinam-se, contudo, ao governador do Distrito Federal. Os municípios poderão constituir guardas municipais destinados à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. 2.5 Separação dos Poderes 2.5.1 Separação dos Poderes na Constituição Federal de 1988 São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário (art. 2º Da CF/1988). A separação de poderes é clausula pétrea, isto é, limitação material ao Poder Constituinte Derivado Reformador, sendo inconstitucional qualquer proposta de emenda constitucional tendente a aboli-la (artigo 60, parágrafo 4º, inciso III, da CF/1988). 2.5.1.1 Poder Executivo O Poder Executivo é responsável pela organização, administração e funcionamento da administração pública como um todo. O Poder Executivo Federal é exercido pelo presidente da República, auxiliado pelos ministros de Estados. A eleição do presidente e do vice-presidente realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato presidencial vigente. Se o candidato obtiver maioria absoluta de votos nas eleições, não haverá necessidade de segundo turno; caso contrário, far-se-á nova eleição, em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados no primeiro turno, considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos. O presidente da República é o chefe do Estado (representa o país perante os países estrangeiros) e ao mesmo tempo chefe de governo, pelo sistema presidencialista. Pelo sistema parlamentarista, as funções 33 Re vi sã o: C ris tin a/ Lu ca s - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 04 /1 3 Ética e LegisLação: trabaLhista e empresariaL de chefe de Estado são cumpridas
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