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1ºAula A sociedade humana como objeto de estudo Caros ( as) Alunos(as). Vocês devem estar se perguntando por que é importante estudar as questões sociais? Por que elas são importantes? De que forma os pensamentos sociológicos podem contribuir para a nossa vida. Estas são algumas dentre as diversas questões que procuramos entender nesta disciplina, e nesta primeira aula apresentaremos os principais conceitos e pensadores da disciplina. Vamos ao texto? Boa leitura!! Bons estudos! Objetivos de aprendizagem Esperamos que, ao término desta aula, vocês sejam capazes de: �HQWHQGHU�R�SURFHVVR�GH�HYROXomR�GDV�&LrQFLDV�6RFLDLV�H�D�VXD�FRQWULEXLomR�SDUD�HQWHQGHU�R�GHVHQYROYLPHQWR�VRFLDO� porque passou sociedade humana; �FRQKHFHU�RV�SHQVDGRUHV�H�RV�WHUPRV�XWLOL]DGRV�QDV�&LrQFLDV�6RFLDLV�SDUD�XP�PHOKRU�HQWHQGLPHQWR�H�GHVHQYROYLPHQWR� de uma perspectiva sociológica; �FRQKHFHU�DV�DERUGDJHQV�VRFLROyJLFDV�WHyULFDV�PRGHUQDV� Noções de Ciências Sociais 6 Seções de estudo 1 - Conhecendo as ciências sociais 1 - Conhecendo as Ciências Sociais 1.1 - Valorização das questões sociais 1.2 - Interdisciplinaridade 1.3 - A evolução das Ciências Sociais 2 - Desenvolvendo uma perspectiva sociológica 2.1 - A Sociologia 2.2 - Os primeiros Teóricos 2.3 - Solidariedade Mecânica 2.4 - Solidariedade orgânica 2.5 - Capitalismo e luta de classe 2.6 - Mudança social: a concepção materialista da história 2.7 - Racionalização 3 - Abordagens teóricas modernas 3.1 - Sociologia como ciência social 3.2 - Sociologia e o conhecimento da realidade social 3.2.1 - Objeto da Sociologia 3.2.2-Investigação científica e obstáculos epistemológicos 3.2.3 - Realidade Social Ciências sociais incluem toda a ciência que lida com o estudo do aspecto social do homem, como seu comportamento e seu desempenho como um indivíduo dentro da sociedade nas diversas realidades humanas. A Sociologia, segundo Bressan ( 2008) constitui a base e o fundamento das Ciências Sociais contemporâneas. O desenvolvimento da divisão do trabalho científico, contudo, estabeleceu uma outra divisão, compondo o que hoje denominamos de Ciências Sociais particulares. Além da Sociologia, também a Antropologia, a Ciência Política, a Economia, a Geografia, a História, o Serviço Social, a Comunicação Social, etc. fazem parte desse campo teórico. Mesmo que cada ciência tenha um campo particular, elas possuem uma identidade e um fundamento comuns: a existência social do homem. Como o conteúdo e a abordagem são muito amplos, nossos estudos irão enfocar alguns aspectos dentre os seguintes campos teóricos: 1. Sociologia - Estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. A Sociologia envolve, portanto, o estudo dos grupos e dos fatos sociais, a divisão da sociedade em classes e camadas, da mobilidade social, dos processos de cooperação, FRPSHWLomR��FRQÁ�LWR�QD�VRFLHGDGH�HWF�� 2. Economia - Tem por objeto as atividades humanas ligadas a produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços. Portanto, são fenômenos estudados pela Economia a distribuição da renda num pais, a política salarial, a produtividade de uma empresa etc. 3. Antropologia - Estuda e pesquisa as semelhanças e as diferenças culturais entre os vários agrupamentos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. Além de estudar a cultura dos povos pré-letrados, a Antropologia ocupa-se também da diversidade cultural existente nas sociedades industriais. São objetos de estudo da Antropologia os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, os ritos de iniciação dos jovens, o casamento etc. 4. Ciência Política - Ocupa-se da distribuição de poder na sociedade, assim como da formação e do desenvolvimento das diversas formas de governo. É a Ciência Politica que estuda, por exemplo, os partidos políticos, os mecanismos eleitorais etc. (BRESSAN, 2008 p.08). Embora cada uma das Ciências Sociais esteja voltada preferencialmente para um aspecto da realidade social, elas são complementares entre si e atuam frequentemente juntas para explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade. As pessoas têm consciência e a capacidade de desenvolver representações abstratas e que têm influência no seu comportamento. Por isso, a interação social rege-se por diversas regras e supostas normas. As Ciências Sociais nos ajudam a “limpar a lente” para enxergarmos melhor as diferentes realidades com que convivemos. Elas têm como objeto de estudo tudo o que diz respeito às culturas humanas, sua história, suas realizações, seus modos de vida e seus comportamentos individuais e sociais. Elas ajudam a identificar e compreender os diferentes grupos sociais, contextualizando seus hábitos e costumes na estrutura de valores que rege cada um deles. 1.1 - Valorização das questões sociais Os estudiosos das Ciências Sociais são intelectuais com a responsabilidade de pesquisar, entender, comunicar e defender suas ideias perante a sociedade. E a compreensão dessa sociedade, baseada em análises profundas e precisas, é fundamental para que se possa planejar o presente e preparar o futuro. Os conhecimentos desenvolvidos nessas áreas são fundamentais na formação do cidadão e reforçam a importância de estudos que possam contribuir, em todos os aspectos, para melhorar as relações entre os povos e, assim, a qualidade de vida de todos os indivíduos que habitam nosso planeta. 1.2 - Interdisciplinaridade As Ciências Sociais, assim como as outras Ciências, tendem cada vez mais à interdisciplinaridade. Nas zonas de fronteira entre as disciplinas estão surgindo nichos como a Ecologia Humana, a Geografia Humana, a Psicologia Social, a Sociologia Médica, entre outras. É a interdependência necessária e benéfica dos saberes. 1.3 – A evolução das ciências sociais As Ciências Sociais, segundo Ortiz (2002) constituíram- se como um universo autônomo, isto é, distinto de outras formas discursivas (senso- comum, religião, política, filosofia, literatura, etc.), apenas no final do século XIX. As Ciências Sociais, segundo com autor (2002) irão se disseminar em diferentes países seguindo um padrão de trabalho em princípio universal. 7 $� SURÀVVLRQDOL]DomR� GDV� &LrQFLDV� 6RFLDLV� implica um padrão de legitimidade e de trabalho FLHQWtÀFR� TXH� VH� DIDVWD� GR� TXH� RV� IROFORULVWDV� consideravam como “Ciência”, a rigor, uma semiciência (cf. Gennep, 1967). As Ciências Sociais nascem em contextos nacionais, por isso falamos em Sociologia francesa e alemã, ou em Antropologia britânica e norte-americana. Como já demonstraram vários autores que se dedicaram à sua história, elas vêm marcadas pelos debates políticos e intelectuais que se desenrolam nos países em que se desenvolvem e são gestadas. (ORTIZ, 2002 p.19) Entretanto, Ortiz (2002), reforça que, mesmo isso sendo verdadeiro, pode-se dizer que a problemática da nação não determina prioritariamente o conteúdo e a orientação das Ciências Sociais é legítimo afirmar que a temática da cultura nacional, embora permeie o pensamento dos autores e esteja presente no horizonte intelectual da época, nunca é hegemônica, a ponto de caracterizar a produção científica como um todo. Pois, modernidade, metrópole, industrialização, divisão do trabalho são temas que evoluem relativamente distantes da questão nacional (ORTIZ, 2002 p.19) De qualquer maneira, Ortiz (2002 p. 20,) retornando à questão nacional, afirma que ela irá condicionar o contexto intelectual, da universidade às artes, da política à literatura. A racionalização do aparelho de Estado, o fomento à industrialização, a necessidade de se “ultrapassar” as tradições populares, a superação do subdesenvolvimento,são temas que se articulam em torno da identidade nacional. Para Ortiz ( 2002), uma outra dimensão importante das Ciências Sociais refere-se à análise da cultura de massa. A problemática emerge nos Estados Unidos nos anos 30/40, um momento em que são desenvolvidas pesquisas sobre os meios de comunicação procurando entender o impacto das mensagens junto às audiências e ao público. �2�IDWR�GHVVHV�HVWXGRV�ÁRUHVFHUHP�QRV�(VWDGRV� Unidos é sintomático. Enquanto os países mais industrializados da Europa encontram-se mobilizados pela guerra, aí o debate intelectual WHP�FRPR�UHIHUrQFLD�RXWUD�UHDOLGDGH��RV�ÀOPHV� de Hollywood, o star-system, o rádio, a soap- opera, a publicidade. A verdade é que os Estados Unidos conhecem antes dos outros a “revolução” tecnológica-comunicacional, assim como suas implicações na esfera da cultura. Cabe lembrar que nenhuma sociedade, antes do século XX, conheceu um tipo de instituição semelhante, na qual a organização da cultura encontra-se em grande parte separada da vida daqueles que a utilizam. (ORTIZ, 2002 p. 21). Graças aos meios tecnológicos, os produtos elaborados industrialmente podem ser difundidos em escala ampliada. Pierre Bourdieu, em seus estudos sobre o campo intelectual, sugere que uma das formas de compreendermos a história do pensamento social é considerarmos o seu processo de institucionalização (cf. Bourdieu, 1980). De acordo com Ortiz(2002) a análise sociológica ganha assim em abrangência, pois temas, abordagens, discussões teóricas tornam-se mais claros quando situados no contexto da formação dos universos acadêmicos. Ortiz ( 2002 p. 21), retoma portanto o argumento sobre a autonomização das Ciências Sociais. Comparando o que ocorre na Europa e nos Estados Unidos com a América Latina, fica evidente a existência de uma defasagem temporal, ou seja, aqui ela demorou mais tempo para se consolidar. Durkheim, fundador da Sociologia francesa, isto é, interessado em compor uma disciplina com métodos e procedimentos específicos na construção do objeto sociológico, escreve As regras do metódo sociológico em 1895, e a formação da equipe do L’Année Sociologique é de 1898. Seu projeto de institucionalização das Ciências Sociais, construído em torno de uma equipe coesa de indivíduos (Mauss, Halbwachs, Granet), data portanto do final do XIX (cf. Ortiz, 1989). Na América Latina, segundo Ortiz (2002) temos uma institucionalização “tardia” das Ciências Sociais. O caso brasileiro é sintomático. Até pelo menos a década de 40, a produção do pensamento sociológico se fazia dentro de um contexto em que literatura, filosofia e discurso político se misturavam. Por isso é apenas na década de 50, segundo Ortiz (2002) que se inicia a consolidação de um campo autônomo da Sociologia no Brasil. $� ´HVFROD� SDXOLVWDµ�� UHSUHVHQWDGD� SHOD� ÀJXUD� de Florestan Fernandes, é dessa época. Seu WH[WR�� 2� SDGUmR� GH� WUDEDOKR� FLHQWtÀFR� GRV� sociólogos brasileiros (importante como marco metodológico na Sociologia brasileira) foi publicado em 1958. ( ORTIZ 2002 p. 27). Na verdade, a institucionalização das Ciências Sociais se consolida nos anos 70 e 80 com a expansão das universidades e a emergência de um sistema nacional de pós-graduação (implantação dos mestrados e doutorados). Segundo Ortiz ( 2002) é difícil, a partir da especificidade brasileira, generalizá- la inteiramente para o resto da América Latina, sabendo inclusive da diversidade existente em termos continentais. Mas , segundo Ortiz (2002) é possível dizer, pelo menos em linhas gerais, que a autonomização do campo das Ciências Sociais é tardia mas efetiva. Isso tem implicações nos temas e nas análises realizadas, aproximando- as e distanciando-as da realidade dos países “centrais” (utilizo o termo entre aspas pois com a globalização ele torna-se cada vez mais impreciso). )DODU� HP� DXWRQRPL]DomR� VLJQLÀFD� SHQVDU� as fronteiras. Para existirem, as Ciências Sociais devem se separar de outras formas de conhecimento. Na América Latina, a íntima relação entre pensamento e política, consubstanciada no debate sobre a questão nacional, foi também possível devido à fragilidade dessa autonomização. Sendo tênues, DV� IURQWHLUDV� GHL[DYDP� ÀOWUDU� PDLV� IDFLOPHQWH�� no interior de sua territorialidade, problemas em princípio externos à sua lógica. Por isso, quando ainda hoje, tradicionalmente nos referimos ao “pensamento brasileiro”, ou ao “pensamento latino-americano”, nos vem à mente um quadro QR� TXDO� D� UHÁH[mR� WHyULFD� YHP� PDUFDGD� SHOD� política. Algo semelhante ocorre com o universo da arte. (ORTIZ, 2002 p.27). Noções de Ciências Sociais 8 Um outro aspecto diz respeito à problemática do poder. Tradicionalmente, as Ciências Sociais tenderam a identificá-lo com a política. Não obstante, o movimento dominante no pensamento sociológico (no sentido amplo do termo) foi considerá-lo como algo preferencialmente vinculado ao universo da política. Por isso temas como Estado, governo, partidos, sindicatos e movimentos sociais tornaram-se hegemônicos entre os cientistas sociais. O movimento de institucionalização das Ciências Sociais, incentivou a separação entre compreensão da realidade e atuação política. As transformações recentes deslocam ainda mais a centralidade do Estado-nação, UHGHÀ�QLQGR�D�VLWXDomR�QD�TXDO�VmR�SURGX]LGDV� DV� &LrQFLDV� 6RFLDLV�� 0XLWR� GR� TXH� VH� GHÀ�QH� por “crise política” associa-se às restrições impostas à sua atuação. Com o processo de globalização, ele se debilita cindindo o elo postulado entre identidade nacional e luta política. (ORTIZ, 2002 p. 28). O deslocamento do debate, da identidade nacional para as identidades particulares (étnicas, de gênero e regionais) reflete essa nova tendência. Quanto ao processo de globalização e de mundialização da cultura é importante entender que, no seu contexto, o que está em causa é a própria noção de espaço. Se o espaço é, como diziam Mauss e Durkheim, uma representação social, decorre que ela se modifica com as mudanças da própria sociedade. (ORTIZ 2002 p.29). Segundo o autor, a consolidação da modernidade- mundo, a presença dos meios tecnológicos de comunicação, a unificação dos mercados no seio de uma unidade integrada, global, altera radicalmente o substrato material no qual estão inseridas as culturas. O que requer uma outra perspectiva analítica em relação à sua compreensão. Portanto, noções como “território”, “fronteiras”, “local”, “nacional”, devem VHU� UHYLVWDV�� ,VVR� QmR� VLJQLÀ�FD� D� VXSHUDomR� GR� HVSDoR�� R� VHX� À�P�� FRPR� jV� YH]HV� apressadamente concluem alguns pensadores. Não é necessário imaginarmos a história como uma sucessão de desaparecimentos GHÀ�QLWLYRV�� ,PSRUWD� TXDOLÀ�FDUPRV� D� VLWXDomR� presente e compreendê-la dentro de uma outra perspectiva. (ORTIZ 2002 p. 30) As relações desiguais entre países não desapareceram , isso seria insensato afirmar, mas Ortiz (2002) afirma que tais categorias já não mais dão conta das próprias relações de poder num mundo globalizado. De alguma maneira, repensar seus próprios conceitos, definir problemáticas e objetos de estudo, essa é a tarefa das Ciências Sociais no século XXI. Seja na Europa, Estados Unidos, América Latina ou Japão. O que elas têm hoje em comum é que os “objetos globais” tornam- se uma preocupação de todos nós. Um panorama distinto do final do XIX, quando a modernidade era propriedade de alguns lugares, sendo objeto de reflexão apenas de algumas mentes privilegiadas (Renato Ortiz 2002, pág 19-32). 2 - Desenvolvendo uma perspectiva sociológica 2.1 - A sociologia A sociologia pode ser definido como o estudo sistemático das sociedades humanas, tem como objetos de estudo a sociedade, a sua organização social e os processos que interligam os indivíduos em grupo, prestando umaespecial atenção aos modernos sistemas industrializados, esta se concebeu como uma tentativa de entender as mudanças ocorridas nas sociedades humanas nos dois ou três últimos séculos. O termo Sociologia foi criado em 1838 (séc. XIX) por Auguste Comte, que pretendia unificar todos os estudos relativos ao homem — como a História, a Psicologia e a Economia. Mas foi com Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber que a Sociologia tomou corpo e seus fundamentos como ciência foram institucionalizados. Segundo seus fundadores, a sociologia é uma ciência porque implica métodos de investigação sistemática e a avaliação de teorias à luz dos dados e de um argumento lógico. No entanto, não pode seguir diretamente o padrão das ciências naturais, já que existem diferenças fundamentais entre o estudo do comportamento humano e o da natureza. 2.2 - Os primeiros teóricos Entre os fundadores clássicos da sociologia há quatro figuras especialmente importantes: Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber. Augusto Comte ( 1798 – 1857) Nenhum indivíduo único pode fundar um campo inteiro de estudo, havendo muitos colaboradores no pensamento sociológico inicial. Todavia, geralmente, atribui-se especial proeminência ao autor francês Augusto Comte (1798-1857), mesmo que apenas por ter inventado a palavra “sociologia”. Segundo Giddens ( 2005) Comte originalmente usara o termo “física social” para descrever o novo campo, mas alguns de seus rivais intelectuais da época também estavam usando esse termo. Comte queria distinguir as suas ideias das deles e, então, cunhou o termo “sociologia” para descrever a disciplina que desejava estabelecer. O pensamento de Comte refletia os acontecimentos turbulentos da sua era. A Revolução Francesa de 1789 mudou a sociedade francesa significativamente, enquanto a disseminação da industrialização estava alterando as vidas tradicionais da população. De acordo com Giddens ( 2005), Comte tentou criar uma ciência da sociedade que pudesse explicar as leis do mundo social, assim como a ciência natural explicava o funcionamento 9 do mundo físico. Ainda que Comte reconhecesse que cada disciplina científica tem o seu próprio objeto de estudo, ele argumentava que esse estudo poderia ser feito usando-se a mesma lógica comum e método científico adotados para revelar leis universais. Assim como a descoberta de leis no mundo natural nos permitira controlar e prever os acontecimentos ao nosso redor, descobrir as leis que governam a sociedade humana poderia nos ajudar a moldar o nosso destino e melhorar o bem- estar da humanidade. Comte argumentava que a sociedade agia conforme leis invariáveis, da mesma forma que o mundo físico. A visão de Comte, segundo Giddens ( 2005), para a sociologia era de que ela se tornasse uma “ciência positiva”. Ele queria que a sociologia aplicasse os mesmos métodos científicos rigorosos ao estudo da sociedade que os físicos e químicos usam para estudar o mundo físico. O positivismo sustenta que a ciência deve se preocupar apenas com entidades observáveis que sejam conhecidas pela experiência direta. Com base em observações cuidadosas, pode-se inferir leis que expliquem a relação entre os fenômenos observados. Compreendendo as relações causais entre os fatos, os cientistas podem então prever como serão os acontecimentos futuros. Uma abordagem positivista à sociologia visa a produção de conhecimento sobre a sociedade com base em evidências empíricas obtidas com observação, comparação e experimentação. A lei dos três estágios de Comte assinala que as tentativas humanas de entender o mundo passam por estágios teológicos, metafísicos e positivos. No estágio teológico, o pensamento era guiado por ideias religiosas e pela crença de que a sociedade era expressão da vontade divina. No estágio metafísico, que tomou frente por volta da época da Renascença, a sociedade passou a ser vista em termos naturais, e não sobrenaturais. O estágio positivo, anunciado pelas descobertas e realizações de Copérnico, Galileu e Newton, estimulou a aplicação de técnicas científicas ao mundo social. De acordo com essa visão, Comte considerava a sociologia como a última ciência a se desenvolver – com base na física, na química e na biologia – mas também como a mais significativa e complexa de todas as ciências. No final da sua carreira, de acordo com Giddens ( 2005), Comte criou planos ambiciosos para a reconstrução da sociedade francesa em particular e para as sociedades humanas em geral, com base em seu ponto de vista sociológico. Ele clamava pelo estabelecimento de uma “religião de humanidade” que abandonaria a fé e o dogma, em favor de um embasamento científico. A sociologia estaria no centro da nova religião. Comte estava bastante ciente do estado da sociedade em que vivia, para Giddens (2005) ele se preocupava com as desigualdades produzidas pela industrialização e a ameaça que elas representavam para a coesão social. A solução de longo prazo, em sua visão, era a produção de um novo consenso moral, que ajudasse a regular, ou manter a integridade da sociedade, apesar dos novos padrões de desigualdade. Embora a visão de Comte para a reconstrução da sociedade nunca tenha se realizado, sua contribuição para a sistematização e unificação da ciência da sociedade foi importante para a profissionalização da sociologia como uma disciplina acadêmica. Émile Durkheim Os escritos de outro sociólogo francês, Emile Durkheim (1858-1917), tiveram um impacto mais duradouro na sociologia moderna do que os de Comte. Segundo Giddens (2005). Embora Durkheim tenha se baseado em certos aspectos da obra de Comte, ele pensava que muitas ideias de seu predecessor eram especulativas e vagas demais, e que Comte não havia conseguido implementar seu programa – estabelecer a sociologia com uma base científica. Durkheim, de acordo com Giddens(2005) considerava a sociologia uma nova ciência, que poderia ser usada para elucidar questões filosóficas tradicionais, mediante análise empírica. Como Comte antes dele, Durkheim argumentava que devemos estudar a vida social com a mesma objetividade que os cientistas estudam o mundo natural. Seu famoso primeiro princípio da sociologia era “estudar os fatos sociais como coisas”. Com isso, segundo Giddens ( 2005) ele queria dizer que a vida social pode ser analisada de forma tão rigorosa quanto os objetos ou fenômenos da natureza. Os escritos de Durkheim cobriam uma ampla variedade de temas. Três dos principais temas que ele abordou foram a importância da sociologia como ciência empírica, a ascensão do indivíduo e a formação de uma nova ordem social, e as fontes e o caráter da autoridade moral na sociedade. Para Durkheim, ainda de acordo com Giddens ( 2005) a principal preocupação intelectual da sociologia é o estudo de fatos sociais. Ao invés de aplicar métodos sociológicos ao estudo de indivíduos, os sociólogos devem analisar os fatos sociais – aspectos da vida social que moldam nossas ações como indivíduos, como o estado da economia ou a influência da religião. Durkheim argumentava que as sociedades têm uma realidade própria – que a sociedade é mais que simplesmente ações e interesses de seus membros individuais. Segundo Durkheim, os fatos sociais são modos de agir, pensar ou sentir que são externos aos indivíduos e têm sua própria realidade à margem da vida das percepções de pessoas individuais. Outro atributo dos fatos sociais é que eles exercem um poder coercitivo sobre os indivíduos. As pessoas não costumam reconhecer o caráter condicionante dos fatos sociais. Isso ocorre porque as pessoas geralmente obedecem livremente os fatos sociais, acreditando que estão agindo por escolha própria. ( Giddens, 2005, p. 29) De fato, segundo Durkheim, as pessoas simplesmenteNoções de Ciências Sociais 10 seguem os padrões que são gerais à sua sociedade. Os fatos sociais podem condicionar a ação humana de várias formas, desde punição direta (no caso de um crime, por exemplo) à rejeição social (no caso de comportamentos inaceitáveis) e um simples mal-entendido (no caso de uso incorreto da língua). De acordo com Giddens ( 2005) Durkheim acreditava que os fatos sociais são difíceis de estudar. Como são invisíveis e intangíveis, os fatos sociais não podem ser observados diretamente. Pelo contrário, suas propriedades devem ser reveladas indiretamente, analisando seus efeitos ou considerando suas tentativas de expressão, como leis, textos religiosos ou regras de conduta escritas. No estudo dos fatos sociais, Durkheim enfatizava a importância de abandonar preconceitos e ideologias. Uma postura científica exige uma mente que esteja aberta às evidências dos sentidos e livre de ideias preconcebidas vindas de fora. Durkheim sustentava que os conceitos científicos somente podem ser gerados por meio da prática científica. Ele desafiava os sociólogos a estudar as coisas como elas realmente são e a construir novos conceitos que refletissem a verdadeira natureza do social. Como os outros fundadores da sociologia, Durkheim estava preocupado, segundo Giddens ( 2005) com as mudanças que em sua época estavam transformando a sociedade. Ele se interessava particularmente pela solidariedade social e moral – em outras palavras, aquilo que une a sociedade e a impede de cair no caos. A solidariedade é mantida quando os indivíduos conseguem se integrar aos grupos sociais e são regulados por um conjunto de valores e costumes compartilhados. Em sua primeira obra importante, A Divisão do Trabalho Social, Durkheim faz uma análise das mudanças sociais, argumentando que o advento da era industrial significou a emergência de um novo tipo de solidariedade (Durkheim 1984 [1893]). Com esse argumento, Durkheim contrastou dois tipos de solidariedade, mecânica e orgânica, e as relacionou com a divisão do trabalho – o crescimento de distinções entre as diferentes ocupações. 2.3 -Solidariedade mecânica Segundo Durkheim, as culturas tradicionais com uma baixa divisão do trabalho se caracterizam pela solidariedade mecânica. Como a maioria das pessoas na sociedade tem ocupações semelhantes, elas são unidas pela experiência comum e crenças compartilhadas. Para Giddens (2005) o poder dessas crenças compartilhadas é repressivo – a comunidade rapidamente pune qualquer um que desafie os modos de vida convencionais. Dessa forma, existe pouco espaço para a dissensão individual. A solidariedade mecânica, portanto, baseia-se no consenso e na similaridade de crenças. As forças da industrialização e urbanização, contudo, levaram a uma divisão cada vez maior do trabalho, que contribuiu para o rompimento dessa forma de solidariedade. Durkheim argumentava que a especialização de tarefas e a crescente diferenciação social nas sociedades avançadas levaria a uma nova ordem, caracterizando a solidariedade orgânica. 2.4 - Solidariedade orgânica As sociedades caracterizadas pela solidariedade orgânica se Karl Marx – (1818-1883) As ideias de Karl Marx (1818-1883) contrastam nitidamente com as de Comte e Durkheim, mas, como eles, Marx procurou explicar as mudanças que estavam ocorrendo na sociedade durante a época da Revolução Industrial. Quando jovem, as atividades políticas de Marx o colocaram em conflito com as autoridades alemãs; depois de uma breve estadia na França, ele se exilou permanentemente na Grã-Bretanha. Marx testemunhou o crescimento de fábricas e da produção industrial, bem como as desigualdades resultantes. De acordo com Giddens ( 2005) seu interesse no movimento operário europeu e nas ideias socialistas refletia em seus escritos, que cobriam uma diversidade de temas. Grande parte do seu trabalho se concentrava em questões econômicas, mas, como sempre se preocupou em conectar os problemas econômicos com instituições sociais, sua obra era, e ainda é, rica em visões sociológicas. Mesmo seus críticos mais severos consideram seu mantêm pela interdependência econômica das pessoas e por seu reconhecimento da importância da contribuição dos outros. Para Giddens ( 2005) à medida que a divisão do trabalho se amplia, as pessoas se tornam cada vez mais dependentes umas das outras, pois cada pessoa precisa de bens e serviços, fornecidos por indivíduos em outras ocupações. As relações de reciprocidade econômica e dependência mútua passam a substituir as crenças compartilhadas para criar o consenso social. Ainda assim, os processos de mudança no mundo moderno são tão rápidos e intensos que dão vazão a grandes dificuldades sociais. Eles podem ter efeitos perturbadores sobre estilos de vida tradicionais, costumes, crenças religiosas e padrões cotidianos sem proporcionar novos valores claros. Durkheim, segundo Giddens ( 2005), relacionou essas condições perturbadoras com a anomia: sentimentos de falta de propósito, medo e desespero provocados pela vida social moderna. Os controles e padrões morais tradicionais, que antes eram supridos pela religião, são totalmente desfeitos pelo desenvolvimento social moderno, e isso deixa muitos indivíduos sentindo que suas vidas cotidianas carecem de sentido. Um dos estudos mais famosos de Durkheim dizia respeito à análise do suicídio. O suicídio parece ser um ato puramente pessoal, resultado da infelicidade pessoal extrema. Todavia, Durkheim mostrou que fatores sociais exercem uma influência fundamental sobre o comportamento suicida, sendo a anomia uma dessas influências. As taxas de suicídio apresentam padrões regulares a cada ano, e esses padrões devem ser explicados sociologicamente. Para quem deseja conhecer mais sobre o pensamento de Durkheim sobre tema pode ler o texto “ O estudo de Durkheim sobre o suicídio”. 11 trabalho importante para o desenvolvimento da sociologia. 2.5 - Capitalismo e luta de classe Para Giddens ( 2005), embora tenha escrito sobre várias fases da história, Marx concentrou-se principalmente nas mudanças nos tempos modernos. Para ele, as mudanças mais importantes estavam ligadas ao desenvolvimento do capitalismo. O capitalismo é um sistema de produção que se diferencia radicalmente de todos os sistemas econômicos anteriores, envolvendo a produção de bens e serviços vendidos a uma ampla variedade de consumidores. Marx identificou dois elementos básicos nas empresas capitalistas. O primeiro é o capital – qualquer recurso, incluindo dinheiro, máquinas ou mesmo fábricas, que possa ser usado ou investido para criar recursos futuros. A acumulação do capital acompanha um segundo elemento, a mão de obra assalariada. A mão de obra assalariada refere- -se ao conjunto de trabalhadores que não possuem os meios para sua sobrevivência, mas que devem buscar emprego proporcionado pelos donos do capital. De acordo com Giddens ( 2005) Marx argumentava que aqueles que possuem o capital – capitalistas – formam uma classe dominante, ao passo que a massa da população forma uma classe de trabalhadores assalariados – uma classe trabalhadora. À medida que a industrialização avançava, grandes quantidades de camponeses que se sustentavam trabalhando na terra se mudaram para as cidades em processo de expansão ajudaram a formar uma classe trabalhadora industrial urbana. Essa classe trabalhadora também costuma ser chamada de proletariado. De acordo com Giddens ( 2005) Marx acreditava que o capitalismo era um sistema inerentemente classista, no qual as relações de classe se caracterizam pelo conflito. Embora os donos do capital e trabalhadores dependam uns dos outros – os capitalistas precisam da mão de obra e os trabalhadores precisam do salário – a dependência é muito desequilibrada. A relaçãoentre as classes é de exploração, pois os trabalhadores têm pouco ou nenhum controle sobre o seu trabalho, e os empregadores podem obter lucro apropriando-se do produto da mão de obra dos trabalhadores. Marx enxergou que o conflito de classe quanto aos recursos econômicos se tornaria mais agudo com o passar do tempo. 2.6 - Mudança social: a concepção materialista da história Para Giddens ( 2005) o ponto de vista de Marx baseia- se naquilo que chamou de concepção materialista da história. Segundo essa visão, não são as ideias ou os valores que os seres humanos detêm que são as principais fontes de mudanças sociais; ao invés disso, as mudanças sociais são primordialmente induzidas por influências econômicas. Os conflitos entre as classes proporcionam a motivação para o desenvolvimento histórico – eles são o “motor da história”. Conforme escreveu Marx no começo do Manifesto Comunista, “a história de todas a sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classe” (Marx e Engels 2001 [1848]). Embora Marx tenha concentrado sua atenção mais no capitalismo e na sociedade moderna, ele também analisou como as sociedades se desenvolveram no decorrer da história. Segundo ele, os sistemas sociais fazem uma transição de um modo de produção para outro – às vezes gradualmente, às vezes por uma revolução – como resultado de contradições em suas economias. De acordo com Giddens ( 2005) ele propôs uma progressão de estágios históricos que começa com as sociedades comunistas primitivas de caçadores e coletores e passa pelos antigos sistemas escravagistas e sistemas feudais baseados na divisão entre proprietários de terras e servos. O surgimento de mercadores e artesãos marcou o começo de uma classe comercial ou capitalista, que deslocou a nobreza proprietária de terra. De acordo com essa visão da história, Marx argumentava que, assim como haviam se unido para derrubar a ordem feudal, os capitalistas também seriam suplantados por uma nova ordem instalada: o comunismo. O trabalho de Marx , segundo Giddens (2005) teve uma profunda influência no mundo do século X. Até apenas uma geração atrás, mais de um terço da população da terra vivia em sociedades, como a União Soviética e os países do Leste Europeu, cujos governos afirmavam derivar sua inspiração das ideias de Marx. Marx teorizou a inevitabilidade de uma revolução de trabalhadores que derrubaria o sistema capitalista e anunciaria uma nova sociedade, na qual não haveria classes – nenhuma divisão de grande escala entre ricos e pobres. Ele não quis dizer que todas as desigualdades entre os indivíduos desapareceriam, pelo contrário, a sociedade não seria mais dividida em uma pequena classe que monopoliza o poder econômico e político e a grande massa de pessoas que recebem poucos benefícios pela riqueza que seu trabalho gera. O sistema econômico passaria a ser de propriedade comum, e se estabeleceria uma sociedade mais humana do que a que conhecemos. Max Weber ( 1864- 1920) Como Marx, Max Weber (1864-1920) não pode ser simplesmente rotulado como sociólogo; seus interesses e preocupações cobriam muitas áreas. Nascido na Alemanha, onde passou a maior parte da sua carreira acadêmica, Weber foi um indivíduo muito estudioso. Seus escritos cobriam os campos da economia, do direito, da filosofia e da história comparativa, além da sociologia. Segundo Giddens ( 2005) grande parte do seu trabalho também estava relacionada com o desenvolvimento do capitalismo moderno e as maneiras em que a sociedade moderna era diferente de formas anteriores de organização social. Por uma série de estudos empíricos, Weber propôs algumas das características básicas das sociedades industriais modernas e identificou debates sociológicos cruciais que permanecem centrais para os sociólogos atualmente. Noções de Ciências Sociais 12 Em comum com outros pensadores da sua época, Weber buscou entender a natureza e as causas das mudanças sociais. Ele foi influenciado por Marx, mas também foi bastante crítico de algumas das principais visões de Marx. Ele rejeitava a concepção materialista da história e considerava os conflitos de classe menos significativos do que Marx. Segundo a visão de Weber, os fatores econômicos são importantes, mas as ideias e os valores também têm um grande impacto nas mudanças sociais. A elogiada e discutida obra de Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo (1992 [1904- 195]), propõe que os valores religiosos – especialmente aqueles associados ao puritanismo – tinham importância fundamental para criar uma perspectiva capitalista. Para Giddens ( 2005) ao contrário de outros pensadores sociológicos, Weber argumentava que a sociologia devia se concentrar na ação social, e não em estruturas sociais. Ele argumentava que a motivação e as ideias humanas eram as forças por trás da mudança – ideias, valores e opiniões tinham o poder de causar transformações. Segundo Weber, os indivíduos têm a capacidade de agir livremente e de moldar o futuro. Ele não considerava, como Durkheim e Marx, que as estruturas existiam fora ou independentemente dos indivíduos. Pelo contrário, as estruturas da sociedade eram formadas por uma complexa inter-relação de ações. E era trabalho da sociologia entender os significados por trás dessas ações. Para Giddens ( 2005) alguns dos textos mais influentes de Weber refletem sua preocupação com a ação social, ao analisar a peculiaridade da sociedade Ocidental em relação a outras civilizações importantes. Ele estudou as religiões da China, Índia e do Oriente Próximo e, no decorrer dessas pesquisas, fez grandes contribuições para a sociologia da religião. Comparando os principais sistemas religiosos da China e da Índia com os do Ocidente, Weber concluiu que certos aspectos das crenças cristãs tiveram grande influência na ascensão do capitalismo. Ele argumentava que a perspectiva capitalista nas sociedades Ocidentais não emergiu, conforme supunha Marx, apenas de mudanças econômicas. Na visão de Weber, as ideias e os valores culturais ajudaram a moldar a sociedade e nossos atos individuais. Um elemento importante na perspectiva sociológica de Weber, segundo Giddens (2005), foi a ideia do tipo ideal. Os tipos ideais são modelos conceituais ou analíticos que podem ser usados para se entender o mundo. No mundo real, os tipos ideias raramente, ou nunca, existem – muitas vezes, apenas alguns dos seus atributos estão presentes. Todavia, essas construções hipotéticas podem ser muito proveitosas, pois é possível entender qualquer situação do mundo real comparando-a com um tipo ideal. Dessa forma, os tipos ideais servem como um ponto de referência fixo. É importante mostrar que, com o tipo “ideal”, Weber não queria dizer que a concepção era um objetivo perfeito ou desejável. Ao invés disso, Weber queria dizer que era uma forma “pura” de um certo fenômeno. Weber usou os tipos ideais em seus escritos sobre formas de burocracia e mercados econômicos. 2.7 - Racionalização Para Giddens (2005) na visão de Weber, a emergência da sociedade moderna foi acompanhada por importantes mudanças em padrões de ação social. Ele acreditava que as pessoas estavam se afastando de crenças tradicionais fundamentadas em superstição, religião, costumes e hábitos antigos. Pelo contrário, os indivíduos estavam cada vez mais envolvidos em cálculos racionais e instrumentais, que levavam em conta a eficiência e as consequências futuras dos seus atos. Na sociedade industrial, havia pouco espaço para o sentimento e para fazer as coisas simplesmente porque vinham sendo feitas daquele modo há gerações. Weber descreveu o desenvolvimento da ciência, da tecnologia moderna e da burocracia coletivamente como racionalização – a organização da vida social e econômica segundo os princípiosda HÀ�FLrQFLD�H�FRP�EDVH�QR�FRQKHFLPHQWR�WpFQLFR�� (GIDDENS, 2005 p. 30) Se, nas sociedades tradicionais, a religião e os costumes antigos definiam as posturas e valores das pessoas, a sociedade moderna foi marcada pela racionalização de um número cada vez maior de áreas da vida, da política à religião e à atividade econômica. Segundo Weber, a Revolução Industrial e a ascensão do capitalismo foram evidências da tendência mais ampla para a racionalização. O capitalismo não é dominado pelo conflito de classe, como argumentava Marx, mas pela ascensão da ciência e da burocracia: organizações de grande escala. Para Giddens(2005) Weber considerava o caráter científico do Ocidente como um de seus aspectos mais característicos. A burocracia, o único modo de organizar grandes quantidades de pessoas efetivamente, expande-se com o crescimento econômico e político. Weber usou o termo “desencantamento” para descrever a maneira em que o pensamento científico no mundo moderno havia varrido as forças do sentimentalismo do passado. Todavia, Weber não era totalmente otimista quanto ao resultado da racionalização. Ele temia que a disseminação da burocracia moderna para todas as áreas da vida nos aprisionasse em uma “jaula de ferro”, da qual haveria pouca chance de escapar. A dominação burocrática, de acordo com Giddens ( 2005) ainda que baseada em princípios racionais, poderia esmagar o espírito humano, tentando regular todas as esferas da vida social. Ele se preocupava particularmente com os efeitos sufocantes e desumanizantes da burocracia e suas implicações para o destino da democracia. A agenda aparentemente progressista da Era do Iluminismo do século XVIII, de progresso científico, aumentando a riqueza e a felicidade produzida enquanto rejeitava costumes tradicionais e superstições, também tinha um lado obscuro e com novos perigos. De acordo com Giddens ( 2005) 0s primeiros sociólogos estavam unidos em seu desejo de compreender as mudanças nas sociedades em que viviam. Porém, eles queriam fazer mais que apenas representar e interpretar os acontecimentos momentâneos do seu tempo. Todos tentaram desenvolver 3 - Abordagens teóricas modernas 13 maneiras de estudar o mundo social que pudessem explicar como as sociedades funcionavam e quais eram as causas das mudanças sociais. Ainda assim, como já vimos, Durkheim, Marx e Weber empregaram abordagens bastante diferentes em seus estudos. Por exemplo, onde Durkheim e Marx se concentram na intensidade de forças externas ao indivíduo, Weber usa, como ponto de partida, a capacidade de os indivíduos agirem de maneiras criativas sobre o mundo externo. Onde Marx aponta para a predominância de questões econômicas, Weber considera significativa uma variedade muito mais ampla de fatores. Essas diferenças de abordagem persistiram através da história 3.1 - Sociologia como ciência social A Sociologia surgiu como disciplina no século XVIII, como resposta acadêmica para um desafio que estava surgindo: o início da sociedade moderna. Se o mundo está ficando mais integrado, a experiência de pessoas do mundo é crescentemente atomizada e dispersada. Sociólogos não só esperavam entender o que unia os grupos sociais, mas também desenvolver um “antídoto” para a desintegração social. Com a Revolução Industrial e posteriormente com a Revolução Francesa (1789), iniciou-se uma nova era no mundo, com as quedas das monarquias e a constituição dos Estados nacionais no Ocidente. A Sociologia surge então para compreender as novas formas das sociedades, suas estruturas e organizações. A sociologia ocupa-se, ao mesmo tempo, das observações do que é repetitivo nas relações sociais para daí formular generalizações teóricas; e também se interessa por eventos únicos sujeitos à inferência sociológica (como, por exemplo, o surgimento do capitalismo ou a gênese do Estado Moderno), procurando explicá-los no seu significado e importância singulares). Além de suas aplicações no planejamento social, na condução de programas de intervenção social e no planejamento de programas sociais e governamentais, o conhecimento sociológico é também um meio possível de aperfeiçoamento do conhecimento social, na medida em que auxilia os interessados a compreender mais claramente o comportamento dos grupos sociais, assim como a sociedade com um todo. Sendo uma disciplina humanística, a Sociologia é uma forma significativa de consciência social e de formação de espírito crítico. Hoje os sociólogos pesquisam macroestruturas inerentes à organização da sociedade, como raça ou etnicidade, classe e gênero, além de instituições como a família; processos sociais que representam divergência, ou desarranjos, nestas estruturas, inclusive crime e divórcio; e microprocessos como relações interpessoais. Sociólogos fazem uso frequente de técnicas quantitativas de pesquisa social (como a estatística) para descrever padrões generalizados nas relações sociais. Isto ajuda a desenvolver modelos que possam entender mudanças sociais e como os indivíduos responderão a essas mudanças. Em alguns campos de estudo da sociologia, as técnicas qualitativas — como entrevistas dirigidas, discussões em grupo e métodos etnográficos — permitem um melhor entendimento dos processos sociais de acordo com o objetivo explicativo. Os cursos de técnicas quantitativas/qualitativas servem, normalmente, a objetivos explicativos distintos ou dependem da natureza do objeto explicado por certa pesquisa sociológica: o uso das técnicas quantitativas é associado às pesquisas macrossociológicas; as qualitativas, às pesquisas microssociológicas. Entretanto, o uso de ambas as técnicas de coleta de dados pode ser complementar, uma vez que os estudos microssociológicos podem estar associados ou ajudarem no melhor entendimento de problemas macrossociológicos. Os resultados da pesquisa sociológica não são de interesse apenas de sociólogos(as). Cobrindo todas as áreas do convívio humano — desde as relações na família até a organização das grandes empresas, o papel da política na sociedade ou o comportamento religioso —, a sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a diversas outras áreas do saber. Entretanto, os maiores interessados na produção e sistematização do conhecimento sociológico atualmente são o Estado, normalmente o principal financiador da pesquisa desta disciplina científica, e a sociedade civil organizada (movimentos sociais por exemplo). Assim como toda ciência, a sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de pesquisa. Ainda que esta tarefa não seja objetivamente alcançável, é tarefa da sociologia transformar as malhas da rede com a qual ela capta a realidade social cada vez mais estreitas. Por essa razão, o conhecimento sociológico, através dos seus conceitos, teorias e métodos, pode constituir para as pessoas um excelente instrumento de compreensão das situações com que se defrontam na vida cotidiana, das suas múltiplas relações sociais e, consequentemente, de si mesmas como seres inevitavelmente sociais. A Sociologia nasce da própria sociedade, e por isso mesmo essa disciplina pode refletir interesses de alguma categoria social ou ser usado como função ideológica, contrariando o ideal de objetividade e neutralidade da ciência. Nesse sentido, se expõe o paradoxo das Ciências Sociais, que ao contrário das ciências da natureza (como a biologia, física, química etc.), as ciências da sociedade estão dentro do seu próprio objeto de estudo, pois todo conhecimento é um produto social. Se isso a priori é uma desvantagem para a Sociologia, num segundo momento percebemos que a Sociologia é a única ciência que pode ter a si mesma como objeto de indagação crítica. 3.2 - Sociologia e o conhecimento da realidade social 3.2.1 - Objetoda Sociologia As preocupações com as questões sociais decorrentes da nova sociedade resultante da industrialização do século XIX. É com a intenção de compreender os novos problemas sociais que os novos investigadores, utilizando o método científico, deram origem á Sociologia. Sendo uma ciência nova é natural que os primeiros investigadores se preocupassem com a definição do seu objeto e método. Emile Durkheim identifica os fatos sociais como o objeto da Sociologia e defende o método explicativo para os estudar; Marx Weber (1864-1920) refere a ação social resultante da estrutura social como objeto de estudo e preconiza o método compreensivo para o estudo da ação social, embora não exclua o recurso à explicação para uma abordagem completa. Durkheim considera os fatos sociais exteriores aos indivíduos como objeto da Sociologia porque estes condicionam o comportamento social (impõem-se do Noções de Ciências Sociais 14 exterior),atribuindo-lhes, assim, as características da exterioridade e coercitividade). Os fatos sociais têm, igualmente, a característica da relatividade, na medida em que, para serem entendidos, têm de ser analisados dentro do contexto em que ocorrem, não tendo significado serem estudados em abstrato. Sendo um produto da sociedade, estudar os fatos sociais é encontrar o objeto da Sociologia. Max Weber considera que a ação social desenvolvida pelos indivíduos resulta da estrutura da sociedade em questão. Estudar a ação social é entender os valores, os modelos, as características dessa sociedade. A ação social é, então, o objeto de estudo da Sociologia. A compreensão, método de análise que consiste em o cientista se colocar no lugar de quem estuda, é a proposta de Weber que a defende pelo fato de todos sermos seres sociais, mas não exclui a necessidade de completarmos as nossas instituições com a validação da explicação dada pelo método científico. 3.2.2 - Investigação científica e obstáculos epistemológicos Para fazermos uma investigação científica e produzirmos conhecimento científico temos de respeitar alguns preceitos. O primeiro é fazer uma ruptura com alguns elementos que nos impedem de ser objetivos. Esses elementos são os obstáculos epistemológicos e entre eles estão o senso comum, a ilusão da transparência do social, a familiaridade com o social, o naturalismo (tudo o que é social é criado pelo homem, não é natural), o individualismo (a Sociologia estuda a ação social em que o comportamento individual é um produto) e o etnocentrismo cultural (quando o investigador faz da sua cultura a referência para avaliar outras). Uma vez feita a ruptura com o senso comum, afastados os preconceitos e as explicações simplistas da realidade social, o cientista terá de definir um percurso para a sua investigação, isto é, terá de adotar um método ou estratégia de investigação e escolher as técnicas para recolher a informação necessária. Por método podemos entender o processo de seleção de técnicas de pesquisa adequadas, o controle de sua utilização e a integração dos resultados obtidos, tudo em função do tipo de trabalho a realizar. (....) Por sua vez, técnicas são os instrumentos de que o investigador se serve para recolher a informação (questionários, entrevistas, etc.)O cientista terá, também, de recorrer a teorias que são enunciados sobre a realidade social que o ajudarão a compreender os fenômenos a estudar. 3.2.3 - Realidade Social Segundo Oliveira (2008) quando falamos em “realidade social” estamos pensando nos seres humanos e nas relações se estabelecem entre eles e aquilo que os rodeia. Os indivíduos organizam-se em grupos de dimensão variada, onde há uma influência recíproca moldando comportamentos e interesses. Estabelecem um conjunto de normas e regras que orientam sua atuação e colaboram para manutenção e sobrevivência do indivíduo e do grupo. Os indivíduos não vivem isolados e a sua sobrevivência depende da cooperação entre eles no processo de produção e distribuição de bens. Sua sobrevivência depende, então, do cumprimento deste conjunto de regras, que condicionam suas ações, que denominamos como práticas sociais. Práticas que são demarcadas espacialmente e temporalmente. Qualquer sociedade, para o mesmo autor (2008) tem existência real num dado lugar geográfico e num certo momento histórico, apresentando características próprias que as diferenciam. Logo as práticas sociais devem ser compreendidas como procedimentos aceitos e compartilhados pelos indivíduos, como respostas a algumas de suas necessidades Assim, a vida dos indivíduos e as suas práticas sociais representam formas diversas de integração destes com o meio natural, o que nos permite observar diferentes formas de organização social. Fruto de uma interação recíproca entre o homem e o meio, a realidade social, isto é, o conjunto de interações que os indivíduos estabelecem entre si e aquilo que os cerca, apresenta-se complexa. Esta realidade social complexa é o objeto de estudo da Sociologia. Retomando a aula Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar essa aula, vamos recordar: 1 – Conhecendo as Ciências Sociais Na primeira seção da aula um, entendemos que as Ciências Sociais Ciências sociais incluem toda a ciência que lida com o estudo do aspecto social do homem, como seu comportamento e seu desempenho como um indivíduo dentro da sociedade nas diversas realidades humanas. 2 – Desenvolvendo uma perspectiva sociológica Na segunda seção da aula um compreendemos que a sociologia pode ser definido como o estudo sistemático das sociedades humanas, tem como objetos de estudo a sociedade, a sua organização social e os processos que interligam os indivíduos em grupo, prestando uma especial atenção aos modernos sistemas industrializados, esta se concebeu como uma tentativa de entender as mudanças ocorridas nas sociedades humanas nos dois ou três últimos séculos. O termo Sociologia foi criado em 1838 (séc. XIX) por Auguste Comte, que pretendia unificar todos os estudos relativos ao homem como a História, a Psicologia e a Economia. Mas foi com Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber que a Sociologia tomou corpo e seus fundamentos como ciência foram institucionalizados. 3 – Abordagens teóricas modernas Na terceira seção da aula um estudamos que a sociologia ocupa-se, ao mesmo tempo, das observações do que é repetitivo nas relações sociais para daí formular generalizações teóricas; e também se interessa por eventos únicos sujeitos à inferência sociológica (como, por exemplo, o surgimento do capitalismo ou a gênese do Estado Moderno), procurando explicá-los no seu significado e importância singulares). Além de suas aplicações no planejamento social, na condução de programas de intervenção social e no planejamento 15 de programas sociais e governamentais, o conhecimento sociológico é também um meio possível de aperfeiçoamento do conhecimento social, na medida em que auxilia os interessados a compreender mais claramente o comportamento dos grupos sociais, assim como a sociedade com um todo. Sendo uma disciplina humanística, a Sociologia é uma forma significativa de consciência social e de formação de espírito crítico. Hoje os sociólogos pesquisam macroestruturas inerentes à organização da sociedade, como raça ou etnicidade, classe e gênero, além de instituições como a família; processos sociais que representam divergência, ou desarranjos, nestas estruturas, inclusive crime e divórcio; e microprocessos como relações interpessoais. Minhas anotações
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