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Humanizacao no Cuidar_ Uma Proposta de Desenvolvimento de Equipe i Paula Camargo

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1 
 
Humanização no Cuidar: Uma Proposta de Desenvolvimento de Equipei 
 Paula Camargo 
 
Psicóloga e Administradora de Empresas. Pós-graduada nos cursos de Psico-Oncologia pela Faculdade de 
Ciências Médicas de Minas Gerais (FELUMA), Psicologia Junguiana pelo Instituto de Medicina de 
Reabilitação – Rio, Recursos Humanos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e 
certificada pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia do Rio de Janeiro. Recentemente, desenvolveu 
para o curso avançado em Cuidados Paliativos pela Casa do Cuidar o trabalho de Conclusão de Curso 
“Humanização no Cuidar: Uma Proposta de Desenvolvimento de Equipe”. 
 
Resumo: O interesse por este tema é decorrência de uma série de estudos que 
se iniciaram com o despertar da importância da qualidade de vida diante da 
finitude. Cuidados paliativos e humanização, inexoravelmente compõem este 
cenário, necessitando de aportes que equilibrem saber e sentir, levando-se em 
consideração os aspectos intersubjetivos e interdisciplinares que constituem sua 
equipe de saúde. Um modelo de proposta de desenvolvimento de equipe é 
apresentado com a finalidade de estreitar laços que priorizem a arte do cuidado 
de forma compartilhada e totalmente comprometida com sua concepção de 
integralidade no cuidar. 
Palavras chave: Cuidados paliativos, humanização, instituição hospitalar e 
equipe multiprofissional. 
 
Introdução: Atualmente, à concepção de morrer em nossa sociedade, implica 
em expor demasiadamente as fragilidades naturais do doente, como também as 
dificuldades dos familiares em sustentar, financeiramente, todo um aparato 
tecnológico que não soluciona e nem ameniza a dor e o sofrimento de quem vai 
deixar de existir. Isso sem contar com a inabilidade e falta de competência de 
alguns profissionais em lidar com uma questão tão delicada onde envolve 
sentimentos de profunda simplicidade que muitas vezes assusta. 
Socialmente, o que parece diferenciar o passado do presente, é a 
predisposição de encarar a morte de uma maneira mais equilibrada e 
humanizada, respeitando o limite natural que ela representa. Aquela ideia de que 
com a evolução tecnológica, supostamente, o homem seria capaz de controlar o 
seu próprio fim, levou a humanidade a coisificar a morte, resultando num 
processo de profundo sofrimento e solidão. Hoje, em pleno século XXI, percebe-
se que a morte existe, está muito mais próxima do homem; enquanto 
pensamento, cabendo a ele mesmo buscar a alternativa para lidar com a sua 
subjetividade frente à finitude. 
A repercussão desta nova atitude, forçosamente instaura um novo 
paradigma no contexto institucional, na medida em que a dor, o sofrimento e o 
tempo de sobrevida passam a ser questionados pelo próprio doente ou por sua 
família, exigindo do profissional de saúde uma postura diferenciada diante da 
vida e da morte, legitimado pelo novo código de ética médica. Cuidar de forma 
humanizada, estabelecendo um equilíbrio entre competências técnica e 
emocional, sugere promover emergência no estabelecimento de articulações 
que visem introduzir a concepção de integralidade de cuidados, cujos preceitos 
se fundamentam numa multidimensionalidade de sistemas constituídos por 
doença – paciente – familiar – equipe de saúde e a instituição hospitalar. 
 
i Artigo publicado na REVISTA BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS 2012; 3 (4), p. 19-30, ABCP – São 
Paulo. 
2 
 
Sob a perspectiva da humanização na saúde, dentre seus pressupostos, 
são encontrados de forma clara e abrangente a importância de um 
aprimoramento no campo de interações entre todos os envolvidos no processo 
saúde – doença, visando melhorias de qualidade e prestações de serviços 
ofertados pela rede de saúde. Esta preocupação se intensifica na medida em 
que se constatam deficiências no eixo comunicacional, mais precisamente na 
rede pública hospitalar, prejudicando sensivelmente a execução de cuidados, 
tanto na condição de usuário, quanto na de cuidador profissional. 
Esta lacuna, por sua vez, parece suscitar uma ausência de 
comprometimento emocional projetada sob a forma de descontentamento 
profissional, transparecendo em inúmeras situações tais como, discrepâncias 
entre colegas de equipe dificultando uma adequada abordagem de cuidados na 
condição de interdisciplinaridade, descrédito nos desígnios institucionais, 
incidência de burnout entre os profissionais devido aos excessivos desgastes 
frente às exigências instituídas pela própria rotina de trabalho, ausência do 
espírito de equipe, dificuldade em lidar com situações de intenso sofrimento 
provocadas pela experiência do processo de morrer e da morte e não elaboração 
do luto. Desta forma, este artigo apresenta como propósito aprofundar conceitos 
levando em consideração as contribuições dos cuidados paliativos e da 
humanização para a busca de uma reeducação que promova à conscientização 
e sensibilização do cuidador profissional sob a perspectiva de integralidade no 
cuidar. 
 
1. Cuidados Paliativos: O Renascer das Cinzas 
 
Com base na definição estabelecida pela Organização Mundial da Saúde 
(2002), juntamente com os princípios que o legitimam, cuidados paliativos 
surgem como uma nova modalidade de assistência, priorizando a relação 
dialógica entre paciente fora de possibilidade de cura, família e equipe de saúde, 
integrando aspectos de natureza biopsicossocial e espiritual. Este é o cenário da 
morte contemporânea, instaurado na década de 1970, promovedora de 
profundas transformações no que diz respeitos às atitudes diante da morte. De 
acordo com Menezes¹, “o ideal é que o indivíduo que está morrendo tenha 
controle do processo de morte, realizando escolhas a partir de informações sobre 
as técnicas médicas e espirituais que achar adequadas. A palavra de ordem é a 
comunicação franca entre profissionais de saúde e pacientes: o tratamento deve 
ser discutido, em suas várias etapas, entre enfermos, seus familiares e o médico 
responsável”. 
Em se tratando de comunicação em cuidados paliativos, imprescindível 
reconhecer a peculiaridade da experiência pessoal, tanto no cuidador quanto 
naquele que é cuidado, no intuito de viabilizar o vínculo necessário para que o 
desligamento da vida aconteça. Segundo Kovács², “aprender a escutar e a falar, 
a dar más notícias e manter-se parceiro, compreender que cuidadores e doentes 
podem cuidar uns dos outros, autocuidar-se e ser cuidado e reconhecer e 
aprender a lidar com a angústia que a fase final da vida traz são aspectos básicos 
para a boa comunicação em cuidados paliativos.” Pondera Menezes¹ que a 
inclusão do diálogo na assistência paliativa, além de dignificar a condição da 
mortalidade humana, promove o reconhecimento dos limites reais, seja no 
contexto individual quanto profissional, de todos os envolvidos no processo de 
morrer. 
3 
 
O ingresso da equipe multiprofissional evidencia a mudança de paradigma 
na medida em que a visão tradicional do modelo institucional cede lugar ao 
modelo sistêmico, cuja epistemologia incorpora os conceitos de 
multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, na dimensão 
do cuidar. A importância dos mesmos consiste na busca da integração do 
conhecimento científico e da humanização junto à intervenção da medicina 
paliativa. Bowlby³ esclarece que a compreensão da formação e rompimento dos 
vínculos afetivos desde os primórdios da vida humana são de fundamental 
importância na relação de base segura, em virtude de serem sinalizadores das 
diversas formas de padrões de comportamento de ligação instaurados nas 
relações onde o vínculo afetivo se faz presenciar, dos quais são largamente 
utilizados no decorrer da vida. Compreender a formação e rompimento de 
vínculos como uma atitude inerente a singularidade do indivíduo, presente tanto 
nas situações de vida e de morte, sugere uma reflexão acerca dos sofrimentos 
instaurados mediante condições limitantes, tais como a finitude humana. 
Deacordo com Ferreira4, os termos vínculo e vincular-se suscitam uma 
diversidade de significados, tais como, respectivamente, ligação moral, nó, 
liame, ônus, restrições, relação, subordinação, nexo, sentido, eternizar-se, 
perpetuar-se, imortalizar-se, sujeitar, obrigar, submeter coisas a vínculo, entre 
outras coisas mais, quando relacionados à experiência da morte e do morrer. 
Estas definições permitem um olhar e uma escuta acerca dos arcabouços 
psicológicos construídos ao longo da vida no que diz respeito às relações 
primárias no campo da inter-relação e da afetividade. Na perspectiva 
psicanalítica, segundo Pichon-Rivière5 o vínculo normal é proveniente da 
“primeira relação da criança com o peito da mãe”, por meio das situações 
parasitárias e simbióticas, onde acontece um “intercâmbio de situações 
emocionais e de afeto”, e que quando minimizados por meio do desenvolvimento 
do bebê, permite uma diferenciação entre o objeto e o sujeito. Sugere ainda que 
por mais gradativo que seja este afastamento mãe-bebê ele é passível de uma 
ligação afetiva que orienta o próprio sujeito em sua sedimentação egóica. 
Tal colocação permite considerar que em se tratando de relações 
sedimentadas por meio de uma vivência primordial com a mãe, onde a dualidade 
de se estar vinculado – desvinculado permeia em tempo integral, imprescindível 
considerar a diversidade da natureza do vínculo, tão presentes na interação de 
fatores humanos e físicos, na conduta exterior, na vivência, nas somatizações e 
nas questões trazidas pelo próprio indivíduo, seja no nível concreto ou abstrato. 
Para Taragano5, “o vínculo configura uma estrutura dinâmica em contínuo 
movimento, que funciona acionada por motivações psicológicas, resultando daí 
uma determinada conduta, que tende a se repetir tanto na relação interna quanto 
na relação externa com o objeto”, sugerindo que este intercâmbio se manifesta 
em diversas situações, podendo estas pertencer à dimensão da vida ou da 
morte. 
Em situações de adoecimento cujo prognóstico conduz aos caminhos da 
terminalidade, vincular-se e desvincular-se neste contexto implica na capacidade 
de enfrentamento diante do inevitável. A partir deste cenário, onde incertezas e 
mudanças remetem à sensação de separação, desconexão ou desamparo, 
aparentemente relacionado apenas a questões extrínsecas, a angústia da morte 
parece mobilizar aspectos intrínsecos, relacionados a crenças e padrões inatos 
e herdados que entremeiam nossas teias de relações no decorrer de nossa 
existência até o momento da finitude, possibilitando refletir sobre as formas de 
4 
 
enfrentamento. De acordo com Lipp6, “o termo enfrentamento, usado com o 
mesmo sentido da palavra inglesa coping, significa a estratégia ou o esforço 
cognitivo e comportamental que o indivíduo emprega para administrar as 
exigências impostas por um agente estressor” e apresenta cinco funções 
principais que visam reduzir as condições ambientais que causam dano, tolerar 
ou adaptar-se a situações negativas, manter uma autoimagem positiva diante da 
adversidade, manter o equilíbrio emocional bem como um relacionamento 
satisfatório com os outros. 
Sendo assim, dois aspectos parecem ser de fundamental importância 
para o fornecimento da relação da base segura por parte do cuidador: seu 
autoconhecimento frente aos comportamentos de ligação que foram 
estabelecidos nas suas relações afetivas, bem como a exploração e cuidados 
dos mesmos, para melhor compreensão das possíveis formas de 
estabelecimento de ligação afetiva emanadas, principalmente, pelo paciente fora 
de possibilidade de cura. Desta forma, imprescindível uma reflexão sobre a 
consciência do morrer e da morte. As reações de temor e horror frente à morte 
e ao processo de morrer, que sugerem acompanhar o indivíduo na medida em 
que ele se conscientiza de sua própria condição de mortal, chamam atenção pelo 
seu comportamento desproporcional. Segundo Kastenbaum e Aisenberg7, o 
filósofo Jacques Choron elaborou uma análise sobre o medo à morte relacionado 
com a distinção eu/outro. De acordo com seus estudos, coloca que o indivíduo 
teme à morte em três situações específicas, sendo respectivamente; o medo de 
morrer, o medo da pós-morte e o medo da extinção. Em cada um desses medos, 
o filósofo diz que existem variados sentimentos manifestos, quando estudados 
na perspectiva morte do eu e morte do outro, justificando desta forma a atitude 
antagônica dos indivíduos frente à morte em nossa sociedade. Ressalta também 
que o maior temor do homem está ligado a possibilidade da sua não existência. 
 
2. Multidimensões da Humanização: Uma Questão de Consciência 
 
 Ao iniciar o estudo sobre humanização do setor de saúde, bem como 
suas contribuições na abordagem paliativa, imprescindível compreender o 
desenvolvimento do conceito humanismo, que se originou na Grécia Antiga, 
demarcando suas passagens em períodos mais significativos ao longo da 
História, levando em consideração aspectos relacionados aos condicionamentos 
herdados. De acordo com a cronologia da História, o Renascimento foi um 
período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, que 
assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, recebendo tal 
designação em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais, 
que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e 
naturalista. Importante considerar que esta fase parece implicar num resgate de 
valores e princípios vivenciados sob o predomínio de uma consciência coletiva 
em detrimento da consciência individual. 
De acordo com Minayo8, as contribuições do período Renascentista no 
que diz respeito a este conceito estão “relacionadas ao resgate do humanismo 
preconizado na Antiguidade”, sendo uma de suas mudanças estruturais a busca 
de “uma nova atitude em relação à humanidade”, já que a época precedente fora 
delimitada pelo obscurantismo, caracterizada pelo domínio da religião sobre o 
poder e as consciências humanas. Surge então o antropocentrismo, que instaura 
um novo paradigma calcado na racionalidade humana, cuja ênfase consiste “no 
5 
 
ideal de autonomia do homem e a crença de que toda sabedoria pode ser 
transformada em conhecimento”, concedendo à ciência o lugar da formalização 
e legitimação da vida manifesta, conforme consta no artigo de revisão A 
Humanização na Assistência de Saúde9. 
Na fase do Iluminismo, o aprofundamento de questões relacionadas aos 
direitos dos indivíduos e dos cidadãos funda um movimento de busca que unifica 
existência humana, faculdade de pensar, articulações entre a experiência vivida 
e a razão lógica. Com o advento da Modernidade, caracterizado pelo 
desenvolvimento industrial, mudanças sensíveis repercutem em nível de 
mentalidades, no que diz respeito à definição inicial concedida a qualidade de 
humano, onde demarca a presença de uma integralidade de sistemas que 
legitimam a produção e atuação de cada indivíduo. Devido às transformações 
ocasionadas pelo conhecimento e utilização da tecnologia, o desarraigar dos 
pressupostos humanistas parecem emergir quando o foco não está mais 
destinado à necessidade humana e sim, a eficiência de resultados, que na área 
de saúde parece se estabelecer mediante a inserção do processo de 
medicalizaçãoii. Com seu ingresso, a partir do final do século XIX, consolida-se 
a instituição hospitalar representada pela sistematização e, consequentemente 
instauram-se os processos de medicalização do social aliado individualização, 
transformando sensivelmente condutas e comportamentos humanos na área da 
saúde, principalmente em relação à morte. Assim sendo, o humanismo no século 
XXI pressupõe uma sucessão de ressignificações onde procuram coadunar 
multidimensões subjetivas associadas às necessidades de aprimoramento 
técnico e científico. Na atualidade, esta busca de equilíbrio acerca do conceito 
humanismo transparece, através do “vocábulo humanização”, tendo na área da 
saúde a representação de “um movimento instituintedo cuidado e da valorização 
da intersubjetividade das relações”, conforme afirma Minayo8. 
Sob a perspectiva de cuidados paliativos, cuja abordagem de assistência 
visa aliviar a dor e o sofrimento, preconizando a importância de um trabalho 
integrado urgem a necessidade de um despertar para a sensibilização 
profissional, quesito indiscutível para a dimensão psicológica nos fatores de 
humanização. No Brasil, a conceituação e a análise da humanização do cuidado 
provieram de uma pesquisa realizada na rede pública dos serviços de saúde, 
cujos resultados implicaram na constituição de uma política ministerial a partir do 
ano de 2000. De acordo com Deslandes10, a preocupação com o atendimento à 
saúde e a inserção da humanização no setor público é legitimada através do 
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) na 
intenção de “promover uma nova cultura de atendimento à saúde” e “aprimorar 
as relações entre profissionais, entre usuários/profissionais (campo das 
interações face-a-face) e entre hospital e comunidades (campo das interações 
 
ii A medicalização pode ser compreendida como um processo pelo qual a continuada evolução tecnológica 
modifica as práticas da medicina por meio de inovações em várias áreas, como métodos diagnósticos e 
terapêuticos, indústria farmacêutica e equipamentos médicos. A medicalização do social pode ser referida 
à redescrição médica de eventos de gravidez, parto, menopausa, envelhecimento e morte, bem como de 
comportamentos sociais tidos como desviantes, como alcoolismo e uso de drogas. A medicalização 
refere-se à ampliação de atos, produtos e consumo médico e a interferência crescente da medicina no 
cotidiano individual, com a imposição de normas de conduta social. (Menezes, 2004; apud Corrêa, 2001 
pg. 24). 
 
6 
 
sociocomunitárias), visando à melhoria da qualidade e eficácia dos serviços 
prestados por estas instituições”. 
Na abordagem paliativa, a subjetividade exerce um papel fundamental 
nesta modalidade de assistência em virtude dinâmica interacional, provenientes 
das sucessivas relações interpessoais exigidas pela rede de cuidados ao qual o 
indivíduo está inserido. Muito embora, de modo geral, a atenção recaia na 
relação paciente – família, imprescindível analisar como o profissional de saúde 
lida com sua dimensão emocional ao se deparar com a dualidade humanização 
– desumanização, tão presentes em sua prática cotidiana. A presença de uma 
articulação constante entre linguagem, verbal ou não verbal, e, realidade, 
oriundos dos diversos modos de existir do ser humano, promove uma reflexão 
acerca da comunicação e do estabelecimento de relação empática num universo 
composto por sujeitos capazes de “construir rede de significados que, ao serem 
compartilhadas, conformam uma identidade cultural”. Segundo Deslandes10, a 
inviabilidade e o estreitamento das comunicações, detectados na atualidade nos 
serviços de saúde, sugerem ser provenientes de condicionamentos herdados no 
que diz respeito ao uso da palavra e o estabelecimento da linguagem médico 
científica. 
O papel da comunicação na humanização parece ocupar grande parte 
das carências existentes nas relações estabelecidas, sejam elas de nível 
pessoal quanto profissional. Outra questão de suma importância é atribuída à 
empatia, cuja habilidade consiste na capacidade de colocar-se no lugar do outro, 
avaliando aspectos de cunho emocional e subjetivo. Tal atitude merece 
consideração, pois, a incapacidade do estabelecimento de uma relação 
empática repercute sensivelmente sob a forma de obstáculos, podendo emergir 
em várias situações, como por exemplo, na constituição e desenvolvimentos de 
equipes interdisciplinares, na estruturação de diretrizes de tratamento, na 
qualidade da assistência em cuidados, no alcance de metas estabelecidas pela 
instituição, dentre outros. 
O despreparo e a suscetibilidade emocional frente à incapacidade do 
cuidador profissional em estabelecer vínculos saudáveis sugerem dificultar ainda 
mais o exercício de uma assistência pautada no cuidar e assegura a crença 
arquetípica de que os ensejos cognitivos atribuídos à mentalidade do curar ainda 
prevalecem, inviabilizando, desta forma, a inserção de uma atenção humanizada 
e compartilhada entre todos os envolvidos. De acordo com pesquisa sobre o luto 
do profissional de saúde11 realizada com dezoito profissionais da área de saúde, 
com a finalidade de investigar como os mesmos lidam com situações de perda 
em sua rotina de trabalho, um de seus resultados aponta para a dificuldade de 
autopercepção e expressão de sentimentos relacionados ao processo de morrer 
e a morte, e posteriormente, a elaboração do luto da equipe, questão bastante 
presente em se tratando de abordagem paliativa. 
Refletir sobre a importância dos cuidados paliativos bem como elencar 
possíveis fatores estressores que se evidenciam mediante a assistência 
prestada pelos seus profissionais de saúde, envolvendo o contexto de 
humanização de saúde aliado às experiências existenciais que envolvem o 
processo de morrer e à morte, solicita atenção na medida em que ainda se 
detecta deficiências no que diz respeito às questões emocionais, conforme 
afirma uma pesquisa denominada A Relação Docente-Acadêmico no 
Enfrentamento do Morrer12, tais como carências existenciais, ausência de 
sentido e sentimentos de onipotência. Outro artigo, intitulado Papel dos 
7 
 
Profissionais de Saúde na Política de Humanização Hospitalar13, corrobora tal 
pensamento quando afirma que “continua ser importante curar doenças, mas 
sem esquecer que mais importante ainda é curar o doente; e não somente curá-
lo, mas também cuidar dele”. Na pesquisa acima mencionada, dentre as 
limitações e dificuldades existentes por parte do cuidador profissional em 
situações de dor, sofrimento e perda, destaca-se a não expressão de emoções 
ou o manejo de questões afetivas, como forma de assegurar crenças 
preestabelecidas, tanto na formação acadêmica quanto na institucional, 
principalmente em se tratando da temática morte. 
Averiguar o ponto de encontro entre humanização e cuidados paliativos, 
bem como elencar possíveis dimensões que possam interferir na atuação do 
profissional de saúde, parece ser o grande desafio da atualidade, na medida em 
que se sinaliza a inexistência de um espaço de escuta que coadune ambas as 
necessidades. Cada vez mais na prática hospitalar a presença de situações 
limites, como por exemplo, escolher e testemunhar os últimos momentos de vida 
do paciente juntamente com seus familiares, vem exigindo dos profissionais de 
saúde condutas individuais e sociais que viabilizem o equilíbrio entre viver e 
morrer de forma cuidadosa. Esta afirmação permite uma análise exploratória 
acerca daquele que cuida. 
 
3. Cuidando de Quem Cuida: Entre o Conhecimento e a Vivência 
 
Por definição, intersubjetividade14 “pressupõe a existência de um espaço 
relacional entre duas ou mais pessoas envolvendo suas subjetividades, no 
campo da linguagem, local de compreensão de diferenças de ponto de vista, 
necessidades e desejos, e construção de respostas conjuntas para questões de 
interesse comum”, e interdisciplinaridade, visa a buscar a “compreensão integral 
do ser humano no contexto das relações sociais e do processo saúde – doença, 
assim como, em sua prática, uma maior abrangência e melhor qualidade na 
assistência prestada ao paciente”. Carvalho6 afirma que, “equipe é um grupo de 
trabalho altamente efetivo, coeso, constituído por indivíduos que atuam juntos, 
comprometidos em alcançar um objetivo comum”, demandando trabalho 
sistematizado e presença de elementos que o constituam com tal, como por 
exemplo, “liderança compartilhada, habilidades de trabalho em grupo, clima 
coesão e nível de contribuição dos membros do grupo”. Tal afirmação parece 
sugerir a existência de um distanciamento emocional no que diz respeito à 
intersubjetividade de seus integrantes, priorizandoapenas os aspectos de 
natureza formal acerca do trabalho em grupo, característica muito peculiar nas 
esferas acadêmicas e institucionais. 
Esta deficiência também foi evidenciada no documento oficial do 
Programa Nacional de Humanização de Assistência Hospitalar (PNHAH), 
realizados a partir de 2000, onde uma das propostas a serem trabalhadas eram 
a articulação dos avanços tecnológicos com o bom relacionamento no eixo 
relacional existente entre usuários de sistema de saúde, profissionais de saúde 
e a própria instituição, devido à existência de ações desumanizadoras na rede 
de cuidados. Importante salientar que a busca da conscientização e reintrodução 
da dimensão subjetiva no contexto da assistência e atenção em saúde, 
abrangendo todos os envolvidos no processo de cuidados inclusive os aspectos 
socioculturais e institucionais, vem a ser um dos pressupostos da humanização 
na assistência hospitalar. 
8 
 
Transformar o conhecimento em experiência vivencial implica na 
permissão de um espaço interacional onde reúnam interesses institucionais e 
grupais, rompendo com a mentalidade paternalista focada na decisão médica 
como única alternativa, no que diz respeito à assistência e cuidados. 
Deslandes10mostra que a “leitura paternalista” vem a ser fruto de uma cultura de 
atendimento instituída em decorrência de barreiras comunicacionais, onde a 
instituição de uma linguagem diferente e interdita, por si só, propiciava um 
distanciamento natural na relação profissional de saúde – paciente. 
Esta atitude, ainda vigente na atualidade, sugere reforçar a ideia da 
unidisciplinaridade, contrapondo os pressupostos da visão interdisciplinar bem 
como, assegura ao profissional julgar “saber o que é melhor para o paciente e 
tenta prover os meios para satisfazer pretensas expectativas, o que não dá 
resposta satisfatória ao problema”, devido a sua incapacidade de se colocar no 
lugar do outro. Pensar sobre a qualidade das relações intersubjetivas no contexto 
da instituição hospitalar remete inevitavelmente à importância das equipes 
interdisciplinares no que diz respeito à busca de humanização da assistência em 
saúde, principalmente nos cuidados paliativos. Esta correlação entre os termos 
transparece na medida em que a integralidade de cuidados passa a ser inserida 
no campo da prática, principalmente em situações de final de vida, conforme 
pondera Rios14 quando afirma que, “os cuidados paliativos, como modelo de 
atenção que escapa ao reducionismo biológico, operariam os valores da 
humanização das práticas de saúde, particularmente nos aspectos considerados 
essenciais para o cuidado integral da pessoa em momento significativo da 
história”. 
De modo geral, na dinâmica do cuidar e ser cuidado emerge questões de 
cunho sociopsicológico relacionadas ao convívio com o processo do adoecer, 
padrões funcionais ou disfuncionais existentes na interação familiar, luto 
antecipatório, conspiração do silêncio, oscilação permanente das formas de 
enfrentamento, diversidade emocional quanto à aceitação de um diagnóstico 
desfavorável, sentimentos de impotência, incertezas, mudanças, perdas, a 
iminência da morte, conduzindo seus cuidadores profissionais a fatores 
estressores despendendo intensa carga emocional. O processo de cuidar exige 
por parte da equipe interdisciplinar uma percepção consciente sobre estas 
inúmeras formas em estar se colocando junto ao paciente, ou seja, através do 
olhar, da proximidade corporal; respeitando-se evidentemente os espaços 
interpessoais estabelecidos pela interação, do toque e do tom da voz, bem como 
oferecer, em momentos críticos do adoecer, o reconhecimento de estar sendo 
visto, em ambas as perspectivas. 
Sendo assim, no exercício dos cuidados paliativos, a equipe de saúde 
se depara com a dualidade vida-morte de modo a instigar seus movimentos de 
defesa ou enfrentamento. As exigências externas e internas incitadas pelo ato 
de cuidar, neste caso, permitem uma reavaliação sobre a prioridade do 
cuidado, uma vez que a atitude da equipe de saúde pode recorrer a um 
distanciamento emocional em circunstâncias cuja aproximação do 
espelhamento do medo, da dor e sofrimento vicário, atesta a inviabilidade dos 
preceitos da cura. Desta forma, refletir sobre o limite real ou imaginário 
originado ao se estar em contato direto com a morte, por intermédio do 
relacionamento equipe de saúde e paciente, parece constituir uma questão 
importante a ser compreendida. Esta questão sinaliza a necessidade de 
atenção ao cuidador no que diz respeito ao exercício ético de sua profissão, 
9 
 
bem como a qualidade relacional despendida ao paciente no que diz respeito 
aos limites da possibilidade terapêutica. 
A intensa rotina de cuidados com o paciente fora de possibilidade de cura 
instiga uma aproximação constante com a dor e o sofrimento, podendo conduzir 
o cuidador profissional a um profundo desgaste físico, psíquico e emocional, 
levando-o a um nível de estresse conhecido como síndrome de burnout, 
conforme aponta a revisão de literatura denominada Síndrome de Burnout ou 
Estafa Profissional e os Transtornos Psiquiátricos16. Muito embora esta pesquisa 
tenha sido realizada no ano de 2007, seus dados conclusivos parecem contribuir 
sensivelmente para a questão apresentada. Com base no pensamento destes 
autores, conceitualmente, a síndrome de burnout é um processo iniciado com 
excessivos e prolongados níveis de estresse no trabalho. Para o diagnóstico, 
leva-se em consideração a concepção sociopsicológica, cujas características 
individuais estão associadas as do ambiente e as do trabalho propiciando o 
aparecimento dos fatores multidimensionais da síndrome, dentre eles, exaustão 
emocional, distanciamento afetivo e baixa realização profissional. Estes por sua 
vez, surgem com intensidade quando o profissional de saúde lida com situações-
limite, deflagrando alguns distúrbios. 
Conforme explica Carvalho15 os fatores estressores de natureza interna e 
externa, prevalecentes na tarefa do cuidador, se caracterizam, respectivamente, 
pela característica pessoal do profissional e pelas respostas decorrentes da 
assistência imbricada no contexto do adoecer, envolvendo relacionamento 
interpessoal com todos os envolvidos. Desta forma, imprescindível considerar 
questões de ordem ética e bioética na dimensão do cuidar. De acordo com 
Pessini15, os cinco referenciais éticos cruciais para o exercício da medicina 
paliativa são: a veracidade, a proporcionalidade terapêutica, o referencial duplo 
efeito, prevenção e o não abandono. Em relação à bioética, o autor compreende 
a mesma como sendo “o resgate da dignidade humana e qualidade de vida, num 
momento crítico da existência humana em que as pessoas estão enfrentando a 
morte iminente e inevitável”. 
Nos cuidados com pacientes fora de possibilidade de cura, a função do 
cuidar consiste em paliar nos momentos em que já não há mais possibilidade de 
cura, podendo o paciente incidir nos caminhos do desejo de morrer, da 
obstinação terapêutica ou da supressão do tratamento, denominadas eutanásia, 
distanásia e ortotanásia, respectivamente. Sob a perspectiva da boa morte, cujas 
concepções se diferenciam em detrimento das necessidades tanto do paciente 
quanto do cuidador, os cuidados paliativos priorizam a visão da ortotanásia no 
que diz respeito à garantia dos preceitos éticos e bioéticos no encontro do viver 
e morrer. Estas situações, por sua vez, são geradoras de profundos desgastes 
emocionais em virtude de acionar aspectos subjetivos e singulares existentes na 
formação pessoal e profissional de cada integrante da equipe, reacendendo 
sentimentos de vulnerabilidade e impotência, além de instigar aspectos 
referentes à conduta profissional mediante a disponibilização tecnológica 
ofertada pela instituição hospitalar. Desta forma, o encontro entre vida e morte 
se instaura no papel do cuidador, convidando-o à busca da conscientização da 
morte contemporânea, cujo maior desafio consiste em aliar conhecimento 
técnico,autoconhecimento e humanização através dos caminhos “da aceitação 
e da assimilação do cuidado da vida humana no adeus final”. 
Recentemente foi divulgado um estudo inédito realizado pela unidade de 
inteligência da revista The Economist17, onde atribui ao Brasil indicadores 
10 
 
qualitativos e quantitativos que indica seu mau desempenho na qualidade da 
morte, englobando questões relacionadas à formação do profissional, o uso 
adequado da medicação em situações de assistência paliativista, bem como, um 
forte determinismo acerca do poder medicalizado, atribuindo à figura do 
profissional de saúde à representação do curador. Aliado a estes resultados, sob 
a perspectiva do luto na área da saúde, em Casellato11 consta a falta de apoio 
por parte das instituições hospitalares no que diz respeito ao estabelecimento e 
a preservação de um espaço de escuta, onde trocas comunicativas entre os 
profissionais de saúde pudessem existir, em consonância com as necessidades 
pessoais, profissionais e institucionais. 
 
4. Humanização no Cuidar: Uma Proposta de Desenvolvimento de Equipe 
 
Promover uma conscientização e sensibilização no nível de equipe, 
levando em consideração a rede de sistemas operacionais e administrativos que 
contemplam o alcance de uma missão assistencial, assegurando um espaço de 
escuta seguro e protegido com a intenção e propósitos bem delineados pelo 
grupo, pode propiciar resultados calcados em mudanças de atitudes 
compartilhadas que, invariavelmente, irá repercutir nos propósitos e metas 
preestabelecidos. Estas modificações de comportamento frente à morte, 
manifestada tanto no campo individual quanto no social possibilita refletir sobre 
quais os fatores que vem determinando esta nova atitude no âmbito hospitalar, 
além de ofertar assistência dos cuidados paliativos; um espaço promissor no que 
diz respeito à integralidade dos cuidados, que vai desde a aplicabilidade de 
medidas de conforto até o momento da passagem. Ressalta-se que a concepção 
de integral abrange questões de natureza física, emocional, social e espiritual, 
tanto do paciente quanto daqueles que o assistem, bem como a instituição aos 
quais seus atores estão vinculados. 
A problemática existente entre falta de apoio institucional frente a 
experiências cotidianas que acionam aspectos de natureza emocional chama 
atenção pela ausência de cuidado da alta administração quanto às necessidades 
da equipe no que diz respeito à melhoria de desempenho da própria equipe e 
mudanças comportamentais a nível institucional. Segundo Katzenbach18, existe 
uma sutil diferença nestas definições no que diz respeito aos fundamentos de 
cada um, quando explica que “equipes são mais flexíveis do que grupamentos 
organizacionais maiores, porque podem ser mais rapidamente montadas, 
ativadas, redirecionadas e dissolvidas, geralmente de maneira que realce em 
vez de romper as estruturas e processos mais permanentes. As equipes são 
mais produtivas do que os grupos que não possuem objetivos claros de 
performance, porque seus participantes estão compromissados com a obtenção 
de resultados tangíveis”. Esta afirmação permite deduzir a existência de 
fragmentação estrutural, dificultando à interação e comunicação entre os 
profissionais que compõe o corpo institucional, assinalando uma linguagem 
específica correspondente a cada área de atuação, bem como, estabelecendo 
uma gradativa perda de foco e objetivos a ser alcançada coletivamente, 
fortalecendo deste modo a postura individualizada, traço marcante da 
abordagem grupo de trabalho. 
Para um gestor institucional, usualmente a atenção ao cuidador 
profissional está delimitada à oferta de um aparato tecnológico e educacional 
onde assegure resultados que alcancem metas estipuladas e controles de 
11 
 
qualidade, muitas vezes eximindo o lugar da ação e expressão espontâneas, 
conforme pondera Deslandes10 num dos eixos discursivos do PNHAH designado 
humanização como melhoria das condições de trabalho do cuidador. 
No ambiente hospitalar da rede pública, por exemplo, comumente são 
verificados níveis de desmotivação dos profissionais de saúde através do 
desinvestimento emocional do profissional aos objetivos e metas estipuladas 
pela instituição, em decorrência das constantes desvalorizações e ausências de 
reconhecimento, refletidas na falta de recursos materiais e pessoais, tendendo 
ao profissional não se reconhecer como pessoa que atua e contribui para 
aquisição dos pressupostos organizacionais sob a perspectiva de uma equipe 
de atuação, e sim, como um elemento individualizado, setorizado, contratado 
para garantir e realizar apenas o ofício de cuidados em saúde estabelecidos pelo 
seu grupo de trabalho. 
Outros parâmetros detectores da falta de motivação de um grupo de 
trabalho num ambiente institucional rondam em torno da alta rotatividade de 
pessoal, absenteísmo, baixos resultados operacionais, custos elevados, além 
dos altos índices de acidentes no trabalho. Traçando um paralelo com as 
manifestações desencadeadas pela síndrome de burnout, já mencionadas 
anteriormente, possível deduzir que tanto o cuidador profissional quanto a 
instituição carecem da identificação de necessidades prementes para inclusão 
de uma abordagem de equipe mais efetiva. 
Moscovici19 afirma que “um grupo se transforma em equipe quando passa 
a prestar atenção à sua própria forma de operar e procurar resolver os problemas 
que afetam seu funcionamento. Esse processo de autoexame e avaliação são 
contínuos, em ciclos recorrentes de percepção dos fatos, diagnóstico, 
planejamento de ação, prática, resolução de problemas e avaliação”, sugerindo 
a necessidade de conscientização e sensibilização de seus integrantes quanto 
à vinculação de variáveis internas e externas que influenciam o comportamento 
humano existente na instituição. Para que tal metamorfose aconteça, 
imprescindível avaliar os elementos constituintes de um grupo de trabalho, 
levando em consideração os modos de enfrentamento mediante situações de 
conflito, estratégias de atuação, funcionamento, graus de autonomia, 
resistências, crenças, além de questões comportamentais, campo complexo e 
multidimensional quando analisado sob a perspectiva de relações humanas, 
além de abranger todos os níveis hierárquicos que contribuem para o 
funcionamento do trabalho. 
Criar um espaço de valorização da escuta verbal e não-verbal instituída 
pela linguagem de cuidados, abordando assuntos ainda considerados tabu; 
como por exemplo, processo de morrer, luto antecipatório e morte 
inevitavelmente revelam uma necessidade de desenvolvimento de equipe, 
através de um programa educacional dirigido a grupos de pessoas 
interdependentes que precisam unir esforços tanto nos procedimentos de 
trabalho quanto na resolução de problemas. A autora explica que 
desenvolvimento de equipe vem a ser “uma intervenção psicossocial no sistema 
humano da organização”, levando-se em consideração aspectos que abrange 
necessidades, objetivos, características do grupo e da organização, dentro da 
perspectiva espaço – tempo – contexto. 
Por definição, desenvolvimento de equipe contempla “incrementar a 
efetividade de um grupo trabalhar colaborativamente para alcançar resultados”, 
e pressupõe “mudanças significativas pessoais e interpessoais dentro dos 
12 
 
conhecimentos, sentimentos, atitudes, valores, motivação, postura 
comportamento”, apresentando como desafio desenvolver um processo de 
integração que englobe variadas unidades de trabalho, com suas diversas 
representações funcionais numa proposta de respeito e potencialização de cada 
empreendimento humano para a produtividade almejada pela instituição. 
Trata-se, portanto, de um trabalho de resgate do processo de interação 
que ainda prima pela abordagem racional, ampliando novos espaços de 
compartilhamento que coadunem nível tarefa e socioemocional de forma 
equilibrada, sendo estes respectivamente, “atividades visíveis e observáveis, 
acordadas tanto nos grupos formais de trabalhoquanto nos grupos informais e 
as sensações e sentimentos variados, já existentes ou gerados pela convivência 
e atividade no grupo”, conforme salienta Moscovici19. Aspectos dimensionais de 
natureza intrapessoal e interpessoal demarcam os processos grupais através da 
relação eu/eu e eu/outro, sendo que muitos problemas de participação no grupo 
se originam de dificuldades provenientes destas etapas de desenvolvimento, 
quando mal estruturadas. Detectar estas limitações e trabalhá-las dentro de um 
grupo possibilita o indivíduo a buscar novas formas de confrontação, pois “o 
grupo, quando bem conduzido, pode ajudar os participantes a enfrentarem suas 
dificuldades pessoais”. 
Face aos benefícios expostos pelo trabalho de desenvolvimento de 
equipe e, concomitantemente, às necessidades do cuidador profissional 
detectada ao longo deste estudo realizado sobre a temática cuidados paliativos 
e humanização, o projeto Humanização no Cuidar é um projeto que apresenta 
como objetivo transformar este campo de saber em um curso de capacitação de 
abordagem vivencial, destinado aos profissionais da área da saúde que lidam 
com a prática dos cuidados paliativos e humanização. Trata-se de um 
treinamento que intenciona identificar grupos e sensibilizar equipes sobre a 
importância de desenvolver uma nova postura comportamental frente aos 
desafios propostos pela Instituição na busca de maior qualidade e produtividade 
em seus resultados. 
 
 
 
Projeto Humanização no Cuidar 
 
Objetivo Geral: Conscientizar e sensibilizar os profissionais da área da saúde sobre a 
importância nos cuidados paliativos e humanização, no intuito de viabilizar uma maior receptividade às 
situações suscitadas através desta experiência. 
 
Objetivos Específicos: Integrar e capacitar o profissional da saúde frente à experiência de 
sobrevida em nível de doença, do processo de morrer e a morte; desenvolver recursos internos para 
estudar, analisar e debater com base em conhecimento teórico-prático sobre o sentido e o significado 
que a morte pode adquirir no decorrer do tratamento paliativo; propiciar um espaço terapêutico para que 
os profissionais da saúde possam compartilhar e aprender a elaborar situações relacionadas à temática 
da finitude, através da abordagem vivencial, promover entre os integrantes eventos de natureza 
informativa sobre a experiência de sobrevida em nível de doença, do processo de morrer e a morte, 
através da vivência prática numa abordagem multiprofissional. 
 
Público Alvo: Enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, médicos, assistente social, nutricionista, 
e demais profissionais da área de saúde que abordem pacientes sob cuidados paliativos em assistência 
hospitalar. 
 
Metodologia: Técnicas de dinâmica de grupo e jogos empresariais, permitindo criar dentro do 
ambiente de trabalho de treinamento um espaço necessário para que o grupo possa vivenciar de forma 
lúdica e espontânea suas atitudes concretas diante das tarefas propostas. Será utilizado junto ao grupo 
13 
 
material de apoio atendam a demanda dos módulos mencionados abaixo, aliados aos aspectos 
psicossociais e culturais na prática do cuidado. 
 
Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 
Cuidado Paliativo – 
Afinal, curar ou 
cuidar? 
 
Apresenta como 
finalidade abordar o 
princípio do cuidado 
paliativo, bem como 
inserir seu campo de 
atuação, levando em 
consideração o papel do 
cuidador neste processo 
diante da inviabilidade 
da cura. 
 
Comunicação – Você 
sabe com quem está 
falando? 
 
Visa capacitar e 
aprimorar o 
profissional da área da 
saúde em identificar, 
apurar e compreender 
os diversos níveis de 
linguagem 
estabelecidos na 
relação do cuidado. 
 
Cuidando de quem 
cuida – Quem somos 
nós? 
 
Introduz a perspectiva 
da representação 
simbólica do cuidador 
e da morte na 
dimensão do cuidado, 
bem como incita uma 
reflexão acerca do 
autocuidado. 
 
Equipe – Cuidar junto 
ou em conjunto? 
 
Sensibilizar os 
profissionais da área 
da saúde sobre o 
sentido e significado do 
trabalho 
multidisciplinar, bem 
como ressaltar a 
importância do mesmo 
mediante o processo 
de morrer. 
 
Módulo 5 Módulo 6 Módulo 7 Módulo 8 
Humanização do 
cuidado – Quando o 
cuidar é humano? 
 
Trabalhar aptidões 
individuais e grupais 
acerca do SER humano, 
nas etapas que 
conduzem ao final do 
ciclo da vida, levando 
em consideração as 
emoções no cuidar, 
oriundas do paciente, 
família e cuidador 
profissional. 
 
Integralidade do 
cuidado – Da 
dimensão física à 
espiritual: um desafio 
no cuidar. 
 
Abordar a concepção 
do conceito de dor 
total, preconizado no 
Cuidado Paliativo, 
levando em 
consideração a 
postura do profissional 
da área de saúde 
frente à visão do 
cuidado integrado. 
 
Morte – O percurso 
do cuidador. 
 
Aproximar o arquétipo 
da morte bem como a 
sua representação 
simbólica mediante a 
finalização dos 
cuidados. Trabalhar 
aspectos culturais, 
sociais e emocionais 
suscitados no percurso 
do cuidador. 
 
Luto – O cuidar de si-
mesmo. 
 
Capacitar o profissional 
a lidar com a 
perspectiva do luto na 
dimensão do cuidado e 
autocuidado. 
 
 
Duração: A carga horária para realização do projeto consistirá de oito encontros mensais, com 
duração de 08 horas, distribuídos em 04 horas no turno da manhã e 04 horas no turno da tarde, uma vez 
por mês, distribuídos de acordo com a disponibilidade do grupo institucional. 
 
Considerações Finais 
 
Atualmente incessantes estudos e pesquisas são realizados sobre 
cuidados paliativos e humanização, no intuito demonstrar e comprovar 
cientificamente os inúmeros benefícios deste novo paradigma de atenção à 
saúde a todos os envolvidos. Todavia, pensar em cuidados paliativos e 
humanização como modalidades de assistência acessível a todos aqueles que 
se enquadrem nas suas indicações, inevitavelmente conduz a 
questionamentos acerca do amadurecimento pessoal, profissional e 
institucional para lidar com uma abordagem que não comporta mais a profilaxia 
terapêutica, contrapondo um dos ensinamentos básicos da ciência médica, 
círculo vicioso aos quais os profissionais da saúde ainda retroalimentam. 
Importante considerar que neste contexto, estamos falando de profissionais de 
saúde que constituem diferentes áreas de saber. 
Segundo o Conselho Federal de Medicina, na normatização que legitima 
a prática de cuidados paliativos, através do sexto Código de Ética Médica 
reconhecido no Brasil e em vigor desde 13 de abril de 2010, na cláusula XXII 
consta que “nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a 
14 
 
realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e 
propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos 
apropriadosiii”. Indubitavelmente, trata-se de um reconhecimento valioso sobre a 
abordagem da assistência paliativa em nosso país, que convoca ao 
estabelecimento de cuidados especializados aliados a preparação de 
profissionais aptos a sua implantação, desde nos meios institucionais até os 
meios acadêmicos. 
O paradoxo parece se instalar quando se constatam indicadores 
negativos no que diz respeito à assistência e atenção à saúde, objeto de estudo 
do Programa Nacional de Humanização de Assistência Hospitalar, onde se 
identifica a existência de um desinvestimento do cuidado, na medida em que os 
níveis de insatisfação de cuidadores profissionais e usuários do sistema de 
saúde pública são temas motivacionais constantes em pesquisas acadêmicas, 
com absoluta ausência de medidas pautadas na integralidade de cuidados que 
visem modificar este cenário. A questão parece se tornar mais delicada ainda 
quando se constata, no campo da prática, elevados índices de medidas 
desumanizadoras em detrimento de medidas de conforto e alívio de dor e 
sofrimento, favorecendo a busca de uma fragmentação através do 
reconhecimento de uma especialidade médica. Sabe-se, portanto, que cuidados 
paliativos e a prática da humanização na assistência em saúdenão exigem título 
de reconhecimento, mas sim, a necessidade de conscientização e sensibilização 
das intenções de cada componente deste processo, mobilizando indivíduos ao 
aprendizado e a unificação entre o saber e o sentir, de forma abrangente, 
disponibilizando estes recursos todos os indivíduos que necessitam de cuidados 
e atenção. 
Portanto, edificar novos caminhos que conduzam à sensibilização e 
conscientização frente ao reconhecimento das próprias limitações diante do 
desconhecido, ou seja, promover o religar dos aspectos materiais e espirituais 
que compõe a natureza humana, expansão horizontes onde oportunidades e 
possibilidades coadunem em seus princípios, invariavelmente perpassa pela 
reavaliação de valores morais e éticos, que constituem a qualidade do ser, em 
consonância com propósitos institucionais. Sob este aspecto, o atual desafio 
perpassa pela validação de uma teia relacional que ultrapasse as limitações 
demarcadas pela ausência de ressonância e pela presença de solidão, ambas 
originárias de um condicionamento herdado proveniente de padrões arcaicos, 
estipulados ao longo das décadas. 
Para finalizar, cabe relembrar que na trajetória de Saunders e Kübler-
Ross, estas sistematizações ressurgiram sob diversas formas, e, 
soberanamente foram molas propulsoras para que a incorporação de uma 
nova filosofia de cuidados frente à temática morte fosse uma realidade. 
Atualmente, esta iniciativa ainda ressona em nossa mentalidade no que diz 
respeito às atitudes e comportamentos mais humanizados despertando 
constantes reformulações, seja na dimensão das relações intersubjetivas, 
compostas por todos os seus integrantes, seja através do meio sociocultural, 
através da opção de uma morte digna de forma compartilhada. Um caminho 
sem volta, que certamente, irá exigir de seus seguidores a constante presença 
 
iii Resolução CFM Nº1931/2009, publicada no D.O.U. de 24 de setembro de 2009, Seção I, p. 90, retificação 
publicada no D.O.U. de 13 de outubro de 2009, Seção I, p.173. 
15 
 
da unicidade de valores e princípios constituintes dos desígnios do viver e 
morrer cercado de cuidados, de forma consciente, sensível e humanizada. 
 
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