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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 1 SISTEMAS AGRÁRIOS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 2 SISTEMAS agrários ..................................................................................................................... 4 2.1 Teoria dos sistemas agrários ................................................................................................... 6 2.2 Classificação dos sistemas ...................................................................................................... 6 3 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO ................................................................................... 8 4 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS .......................................................... 9 4.1 Sistema agrícola ................................................................................................................. 13 4.2 Bioma ................................................................................................................................... 13 5 A HISTÓRIA DA AGRICULTURA E DOS SISTEMAS AGRÁRIOS MUNDIAIS ................ 14 6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS .............................................................. 15 7 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA ........................................... 17 8 DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA) .......................................................... 18 8.1 O Diagnóstico do Sistema Agrário da Região ..................................................................... 18 8.2 Os Objetivos do diagnóstico do sistema agrário da região ............................................... 19 8.3 O que estudar/observar no diagnóstico do sistema agrário ............................................. 21 8.4 As principais etapas dos procedimentos da ADSA ........................................................... 21 9 DIAGNÓSTICO DO Sistema de Produção............................................................................. 23 9.1 Do que trata o diagnóstico do sistema de produção ..................................................... 24 9.2 Para que serve o Diagnóstico .......................................................................................... 24 9.3 As partes que compõem o diagnóstico dos sistemas de produção ................................. 25 10 O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA .................................................................................. 25 10.1 O Estudo das práticas e técnicas do agricultor ............................................................. 26 11 DINÂMICA DOS SISTEMAS AGRÁRIOS ............................................................................... 27 12 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA ...................................................................................... 29 12.1 Sistemas agrícolas sustentáveis ...................................................................................... 32 13 A AGRICULTURA E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ........................................................... 38 13.1 Considerações acerca da organização do espaço ........................................................ 40 14 RISCOS NA AGRICULTURA .................................................................................................... 42 14.1 Riscos associados ................................................................................................................. 44 14.2 Gestões integrada de risco .................................................................................................. 46 15 A EVOLUÇAO DA AGRICULTURA ......................................................................................... 47 16 O IMPACTO DA AGRICULTURA SOBRE O MEIO AMBIENTE ....................................... 49 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 53 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 4 2 SISTEMAS AGRÁRIOS Fonte: www.brasilescola.uol.com.br De acordo com Philereno (2007), a noção de sistemas agrários nos permite estudar e formular diagnósticos sobre sua evolução em curso e propor linhas de desenvolvimento apropriadas e equilibradas ao meio estudado. Para BERTALANFFY (1973 p.17 apud PHILERENO, 2007), “os sistemas estão em toda parte, e a aplicação de uma teoria geral de sistemas, fornece as bases para um entendimento interdependente de variáveis que, aparentemente, parecem estar desconectadas. No que concerne aos sistemas sociais na agricultura. Desta forma o sistema agrário contém elementos que refletem relações de dependência existentes entre as categorias sociais agrárias numa determinada sociedade rural, tais como: relações de concorrência e de complementaridade, sendo importante estabelecer a noção de sistema agrário permitindo a análise de suas atividades agrícolas na sociedade e de suas relações técnicas, econômicas e de diálogo dentro de um mesmo território (PHILERENO, 2007). Segundo Lima (2005), o conceito de sistema agrário é um instrumento intelectual que permite apreender a complexidade de toda a forma de agricultura real, por meio da análise metódica da sua organização e do seu funcionamento. Este http://www.brasilescola.uol.com.br/ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 5 conceito permite também classificar as inúmeras formas de agricultura identificáveis no passado, ou atualmente observáveis, num número limitado de sistemas, caracterizados por um gênero de organização e funcionamento. A teoria da evolução dos sistemas agrários é um instrumento que permite representar as incessantes transformações da agricultura de uma região do mundo como uma sucessão de sistemas distintos, que constituem outras tantas etapas de uma série histórica definida. Finalmente, a teoria da diferenciação dos sistemas agrários é um instrumento que permite apreender suas grandes linhas e explicar a diversidade geográfica da agricultura, numa determinada época (LIMA, 2005). Ainda segundo Lima (2005), a Teoria dos Sistemas Agrários é uma teoria sistêmica. Analisar e conceber um objeto complexo em termos de sistema é primeiramente delimitá-lo, isto é, traçar uma fronteira (teórica) entre o objeto e o resto do mundo. Significa distingui-lo de outros objetos que são da mesma natureza, mas que são também suficientemente diferentes para serem considerados como pertencentes a uma outra espécie do mesmo objeto. Assim, diferenciar as múltiplas formas atuais, observáveis, de agricultura implica classificá-las em tantas espécies (ou sistemas)quantas forem necessárias para delimitar sua repartição geográfica. De outra parte, considerar a estrutura de um objeto complexo é concebê-lo como uma combinação de subsistemas hierarquizados e interdependentes (LIMA, 2005). Segundo Lima (2005), assim concebido, um sistema agrário é uma expressão teórica de um tipo de agricultura histórica e geograficamente situado, constituído de uma combinação de espécies (selvagens e domésticas) de um determinado meio ecológico, explorado por unidades de produção, onde seres humanos desenvolvem atividades produtivas, com ajuda de instrumentos de trabalho. Dada esta combinação biológica e social, um sistema agrário corresponde a um modo específico de exploração de um ecossistema, resultante de profundas transformações históricas e de adaptações geográficas em larga escala, visando à obtenção de produtos biológicos de interesse do homem. É considerado um sistema complexo composto de um agroecossistema e de um subsistema social produtivo definido, que mantém relações de troca com um meio ambiente ecológico, socioeconômico e institucional (LIMA 2005). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 6 2.1 Teoria dos sistemas agrários A teoria dos sistemas agrários disponibiliza os elementos teóricos capazes de apreender a complexidade de cada forma de agricultura e de perceber, em grandes linhas, as transformações históricas e a diferenciação geográfica das diferentes formas de agricultura implementadas pela humanidade (MIGUEL, 1987). Para compreender o que é um sistema agrário, é preciso, em princípio, distinguir, de um lado, a agricultura tal qual ela é efetivamente praticada, conforme se pode observar, o que constitui um objeto real de conhecimento; e, por outro lado, o que o observador pensa desse objeto real e o que diz sobre ele, o que forma um conjunto de conhecimentos abstratos, que podem ser metodicamente elaborados para constituírem um verdadeiro objeto concebido, ou objeto teórico de conhecimento e de reflexão (MIGUEL, 1987), De acordo com Filho et al. (2018), a teoria dos sistemas agrários aborda a complexidade das formas de agriculturas, composta por um meio cultivado, unidades de produção que variam entre distintas localidades e que mudam de uma época para outra. Apesar, no entanto, da diversidade de formas de agricultura, observa-se que, em determinada região e época, tais formas são suficientemente semelhantes, o que possibilita sua classificação em categorias. Segundo Mazoyer e Roudart (1998 apud Filho et al. 2018): Ora, analisar e conceber um objeto complexo em termos de sistema é, antes de tudo, delimitá-lo, isto é, traçar uma fronteira, virtual, entre esse objeto e o resto do mundo, e é considerá-lo como um todo, composto de subsistemas hierarquizados e interdependentes. Assim, analisar e conceber em termos de sistema agrário a agricultura praticada num momento e espaço determinados consiste em decompô-la em dois subsistemas principais, o ecossistema cultivado e o ecossistema social produtivo, em estudar a organização e o funcionamento de cada um desses sistemas, em estudar suas inter- relações. 2.2 Classificação dos sistemas Para Trist (1970 apud PORTO, 2003), citado por Silva (1973 apud PORTO, 2003), os sistemas podem ser classificados como fechados ou abertos. Nos sistemas CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 7 fechados, os elementos componentes mantêm relações entre si, mas não efetuam trocas com o meio exterior. Os sistemas fechados são bem representados pelos sistemas estudados pela física e pela química (Bertalanffy, 1977 apud PORTO, 2003). De acordo com Porto (2003), porém este autor chama a atenção que, mesmo na física, alguns sistemas tendem para a máxima desordem não alcançando o equilíbrio, característica dos sistemas fechados. Nos sistemas abertos, representados pelos organismos vivos e os socioculturais, as relações que se passam no seu interior mantêm trocas com o meio exterior em que se encontram inseridos, as quais, por sua vez, influenciam o comportamento dos elementos componentes dos sistemas, que por seu turno, repercutem no ambiente externo. Segundo Buckley (1976 apud Porto 2003), a resposta do sistema fechado a uma intromissão externa (ambiental, social, cultural ou econômica) é a sua desorganização ou uma mudança no sentido de sua dissolução. Entretanto, às vezes, conforme a natureza e força da intromissão, o sistema pode passar a um novo nível de equilíbrio. O sistema aberto, por sua vez, responde às intromissões externas mudando a sua estrutura para um nível mais complexo com condições de elaborar as intromissões. Para Buckley (1976 apud Porto, 2003), o equilíbrio consiste na maneira pela qual estão inter-relacionados os elementos de um sistema: uma mudança num elemento resulta numa mudança em outros, que a neutralizam e o trazem de volta ao estado original. De acordo com Porto (2003), pelo exposto, podemos concluir que a diferenciação entre ambos está no conceito de equilíbrio. Enquanto o sistema fechado alcança seu ponto de equilíbrio, o sistema aberto, por estar elaborando constantemente as intromissões externas, não reúne ou não tem as condições necessárias para alcançar seu equilíbrio. Para Bertalanffy (1977 apud Porto, 2003), a variação da entropia nos sistemas fechados é sempre positiva, por conseguinte a ordem é continuamente destruída. Nos sistemas abertos, além da produção da entropia dá-se a importação de entropia, que pode ser negativa. Assim, os sistemas abertos evitam o aumento de entropia mantendo-se em um estado estacionário e podem desenvolver-se mesmo no sentido de estados de ordem e organização crescentes. CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 8 3 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO Um sistema agrário é, antes de tudo, um modo de exploração do meio historicamente constituído, um sistema de forças de produção, um sistema técnico adaptado às condições bioclimáticas de um espaço determinado, que responde às condições e às necessidades sociais do momento (NEUMANN; FIALHO, 2019). Um modo de exploração do meio que é o produto específico do trabalho agrícola, utilizando uma combinação apropriada de meios de produção inertes e 20 meios vivos para explorar e reproduzir um meio cultivado, resultante das transformações sucessivas sofridas historicamente pelo meio natural (MAZOYER, 1987 apud NEUMANN; FIALHO, 2019). De acordo com (Mazoyer, 1987 apud Neumann e Fialho 2019), poderíamos, então, definir um sistema agrário como uma combinação das seguintes variáveis essenciais: • o meio cultivado – o meio original e as suas transformações históricas -; • os instrumentos de produção – as ferramentas, as máquinas, os materiais biológicos (as plantas cultivadas, os animais domésticos, etc.) - e a força de trabalho social (física e intelectual) que os utiliza; • o modo de “artificialização” do meio que disso resulta (a reprodução e a exploração do ecossistema cultivado); • a divisão social do trabalho entre a agricultura, o artesanato e a indústria que permite a reprodução dos instrumentos de trabalho e, por conseguinte; • os excedentes agrícolas, que, além das necessidades dos produtores, permitem satisfazer as necessidades dos outros grupos sociais; • as relações de troca entre os ramos associados, as relações de propriedade e as relações de força que regulam a repartição dos produtos do trabalho, dos bens de produção e dos bens de consumo e as relações de troca entre os sistemas (concorrência); • o conjunto das ideias e das instituições que permite assumir a reprodução social: produção, relações de produção e de troca, repartição do produto, etc. É graças a esse conceito que podemos apreender e caracterizar as mudanças de estado de uma agricultura e as mudanças qualitativas das variáveis e de suas relações e desenvolver uma teoria que permite distinguir, ordenar e compreender os CURSODE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 9 grandes momentos da evolução histórica e a diferenciação geográfica dos sistemas agrários. O conceito de sistema agrário vem sendo desenvolvido por meio de uma abordagem sistêmica evolução histórica e da diferenciação geográfica da agricultura (Mazoyer & Roudart, 1998; Silva Neto & Basso, 2005 apud Santos et al 2007). Este conceito pode ser aplicado com objetivos específicos os mais diversos, que vão desde estudos puramente acadêmicos até a definição de intervenções para a promoção do desenvolvimento. Nestes estudos fica claro que a grande diversidade da dinâmica dos sistemas agrários deve-se ao seu caráter complexo e evolutivo (Silva Neto, 2005 apud Santos et al 2007). No entanto, poucos são os autores que tem procurado estabelecer uma relação mais direta entre a interpretação da evolução da agricultura baseada no conceito de sistemas agrários e os resultados de estudos mais recentes sobre a complexidade (SANTOS et al 2007). 4 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS Segundo Hirakuri et al. (2012), Com uma tipologia baseada em escala geográfica, padronizou-se as seguintes definições de sistemas no cenário agropecuário: ✓ Sistema de cultivo; ✓ Sistema de produção; ✓ Sistema agrícola; ✓ Bioma. O sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo associadas a uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação lógica e ordenada de um conjunto de atividades e operações. No caso da produção animal, esse processo é chamado de sistema de criação. O fluxograma ilustra etapas que geralmente compõe um sistema de cultivo de soja, complementadas pelas atividades de planejamento e de pós-colheita (HIRAKURI, et al. 2012). Segundo (HIRAKURI, et al. 2012), o sistema de produção é composto pelo conjunto de sistemas de cultivo ou de criação no âmbito de uma propriedade rural, CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 10 definidos a partir dos fatores de produção (terra, capital e mão-de-obra) e interligados por um processo de gestão. Ainda segundo Hirakuri, et al. (2012), os sistemas de produção foram classificados pela complexidade e pelo grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação, que formam tais sistemas de produção. Em relação a sua complexidade, os sistemas de produção podem ser classificados como: a) Sistema em monocultura ou produção isolada: ocorre quando, em uma determinada área, a produção vegetal ou animal se dá de forma isolada em um período específico, que normalmente é categorizado por um ano agrícola. b) Sistema em sucessão de culturas: ocorre quando se tem a repetição sazonal de uma sequência de duas espécies vegetais no mesmo espaço produtivo, por vários anos. c) Sistema em rotação de culturas: ocorre por meio da alternância ordenada, cíclica (temporal) e sazonal de diferentes espécies vegetais em um espaço produtivo específico. d) Sistema em consorciação de culturas ou policultivo. e) Sistema em integração: ocorre quando sistemas de cultivo/criação de diferentes finalidades (agricultura ou lavoura, pecuária e floresta) são integrados entre si, em uma mesma gleba, com o intuito de maximizar o uso da área e dos meios de produção, e ainda diversificar a renda. De acordo com Hirakuri, et al. (2012), Nesse contexto, destacam-se quatro possíveis tipos de sistemas integrados: • Lavoura-pecuária (Ex.: milho e braquiária ou girassol e braquiária). Nesses exemplos, é importante frisar que, caso a braquiária não seja utilizada para pastejo, e sim para outros fins, como por exemplo, a formação de palhada no sistema plantio direto (SPD), esse sistema de produção não se caracteriza como integração e sim como consórcio. CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 11 Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). • lavoura-floresta (Ex.: soja nas entrelinhas do eucalipto); Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). • pecuária-floresta (Ex.: gado sobre pastagem em reflorestamento de eucalipto) CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 12 Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). • lavoura-pecuária-floresta (Ex.: cultivo de milho seguido de pastagem com entrada de bovinos em área de eucalipto). Fonte: nisseymaquinas.com.br Em relação ao grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação (subsistemas) que formam um determinado sistema de produção, este pode didaticamente ser classificado em: (HIRAKURI, et al. 2012) CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 13 4.1 Sistema agrícola O sistema agrícola refere-se à organização regional dos diversos sistemas de produção vegetal e/ou animal, que considera as peculiaridades e similaridades desses diferentes sistemas (HIRAKURI, et al. 2012). O sistema agrícola desenvolvido pelas comunidades ao longo do Rio Negro, da cidade de Barcelos até o Alto Rio Negro, apresenta expressivas particularidades. A primeira delas se refere ao contexto multiétinico, e multilinguístico, no qual esse sistema agrícola é elaborado e constantemente atualizado. Apesar dessas especificidades étnicas, existe um expressivo compartilhamento de padrões culturais relacionados às formas de transmissão e circulação desses saberes, práticas e produtos (Um patrimônio, 2009 apud EIDT; UDRY, 2019). Essa organização deve permitir a construção de modelos e arranjos produtivos que descrevam da forma mais acurada possível, os sistemas de produção predominantes na região (HIRAKURI, et al. 2012). 4.2 Bioma O bioma se refere o espaço físico onde os sistemas agrícolas estão inseridos. Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). Segundo HirakuriI, et al. (2012), é importante salientar que o bioma não representa um conjunto de sistemas agrícolas. Entende-se por bioma um conjunto de CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 14 vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2004). Ressalta- -se que as características geoclimáticas de cada bioma influenciam significativamente na conformação dos sistemas agrícolas, podendo limitar determinados sistemas de cultivo ou de criação. 5 A HISTÓRIA DA AGRICULTURA E DOS SISTEMAS AGRÁRIOS MUNDIAIS De acordo com Neumann; Fialho (2019), nos dias atuais, ao se falar em agricultura, pensamos em atividades agrícolas tecnologicamente avançadas, mediante o uso de equipamentos de última geração, isto é, em atividades quase que totalmente automatizadas. Ledo engano, pois, segundo Mazoyer e Roudart (2001 apud NEUMANN; FIALHO, 2019), aproximadamente 80% dos agricultores da África e entre 40 e 60% dos agricultores da América Latina e da Ásia trabalham unicamente com equipamentos manuais e não chega a 30% o total daqueles que dispõem de tração animal para auxiliar na atividade produtiva agrícola. Os autores afirmam que a agricultura moderna está longe de conquistar o mundo, já que à nossa volta observamos que o acesso a tecnologias modernas é para poucos. E, quando tratamos especificamente de agricultura familiar, essa constatação é fortalecida, visto que os avanços tecnológicos para a atividade produtiva estão longe do bolso e da realidade da agricultura de base familiar (NEUMANN; FIALHO, 2019). Segundo Neumann; Fialho (2019): A diversidade de formas de exploração da terra para a atividade produtiva agrícola é muito grande, são inúmeros condicionantes que motivam formas distintas, principalmente porque nós precisamos nos adaptar às condições naturais e também culturais que por séculos determinam como trabalhar a terra em cada região. Ainda segundo Neumann; Fialho (2019), para acompanhar um pouco desse processo de transformação e desenvolvimento da agricultura, retornaremos à gênese dos primeiros sistemas de cultivo e de criação, mais especificamente há pouco menos de 10.000anos – período neolítico, em que a agricultura era praticada nas CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 15 proximidades das habitações e com o aproveitamento de áreas inundadas por grandes volumes de água (aluvião). Essas áreas passavam por um processo natural de fertilização, já que as águas traziam matéria orgânica de outras regiões. Segundo Mazoyer e Roudart (2001 apud Neumann; Fialho 2019), essa forma de utilização da terra (agricultura neolítica) espalhou-se pelo mundo sob duas formas principais: a) sistema de criação de gado pastoril: atividade realizada em regiões de campo – Eurásia Setentrional, Ásia Central, Oriente, no Saara, nos Andes, etc.; b) sistema de cultivo em terrenos desflorestados-queimados: praticado nas florestas tropicais e temperadas como na África, Ásia e América Latina. Os sistemas de cultura do período neolítico, sobre terrenos desflorestados- queimados, deram origem a sistemas agrários pós-florestais como, por exemplo, os de tipo agrário-hidráulicos, de savanas, de cere ali cultura pluvial, de pousio com pastagem e de criação de gado associadas, etc. Foram diversos os períodos sucessivos até chegarmos ao contexto atual da agricultura no mundo – degradação ambiental, monocultura, crise de alimentos, uso intensivo de insumos químicos, entre outros (NEUMANN; FIALHO, 2019). 6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS De acordo com Ferreira (2001), o diagnóstico de uma realidade rural deve captar a complexidade e a diversidade que, geralmente, caracterizam a atividade agrícola e o meio rural. Os agroecossistemas constituem-se em um primeiro fator de complexidade, que representam potenciais ou que impõem limitações às atividades agrícolas. A forma como as sociedades utilizam o meio natural representa um esforço de adaptação ao ecossistema, buscando explorar da melhor maneira o seu potencial ou vencer os obstáculos. Este modo de utilização do espaço evoluiu ao longo da história em razão dos fatos que se relacionam entre si, sejam eles ecológicos, técnicos ou econômicos (FERREIRA, 2001). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 16 Assim, os agroecossistemas cultivados são produto da história, da ação passada e presente, bem como das sociedades agrárias onde eles se inserem. Essas sociedades são diferenciadas, ou seja, são compostas de classes sociais que mantêm relações sociais, econômicas e de troca entre si. A ação de cada um depende da ação e reação dos outros, assim como do seu entorno ambiental, social e econômico. Este fato constitui-se em um outro fator da complexidade do estudo da realidade rural (FERREIRA, 2001). Ainda de acordo com Ferreira (2001), Na agricultura pode-se identificar a existência de diversos tipos de produtores, que se diferenciam suas condições socioeconômicas, por seus critérios de tomada de decisão e pelas práticas agrícolas que empregam. Essa diversidade pode ser identificada no interior de uma mesma categoria de produtores, pois nem todos possuem a mesma forma de acesso à terra, aos recursos naturais, ao crédito rural, aos serviços e as políticas públicas, assim como também não apresentam o mesmo nível de capitalização, o 19 mesmo modo de organização e de se relacionar com os agentes sociais em seu entorno. Ainda que se considerem as culturas e criação isoladamente, a atividade agrícola é complexa e por combinar os diferentes recursos à disposição do agricultor com um conjunto de práticas agrícolas, como por exemplo, preparo do solo, fertilização, controle de doenças e de ervas daninhas, colheita, comercialização. Assim, a complexidade e a diversidade podem ser encontradas até mesmo nas unidades de produção agrícola especializadas e que praticam a monocultura. Como se viu anteriormente, a evolução de cada tipo de agricultor e de sistemas de produção foi determinada por um conjunto complexo de fatores ecológicos, técnicos, sociais e econômicos que se relacionaram entre si ao logo da história. É essa complexidade e diferenciação que cabe compreender na análise-diagnóstico de uma realidade rural (INCRA/FAO, 1999 apud FERREIRA, 2001). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 17 7 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA Segundo Santos et al. (2007), originado como uma transformação das primeiras formas de agricultura desenvolvidas pelo homem durante a Revolução Neolítica, os sistemas agrários de derrubada e queimada são tipicamente florestais. Assim, por meio da derrubada e, após um período de secagem natural, a queima dos restos vegetais, os nutrientes acumulados na grande quantidade de biomassa, característica desses ecossistemas, são disponibilizados às culturas (SANTOS et al. 2007). Dessa forma a agricultura pode se estabelecer mesmo sobre solos relativamente pobres, desde que as culturas sejam precedidas por um período suficientemente longo para que a biomassa acumule os nutrientes necessários à sustentação de um próximo ciclo cultural (SANTOS et al. 2007). Como as florestas se constituem de plantas com baixa capacidade de colonização, a ocorrência de plantas invasoras nos primeiros 8 anos de cultura é muito baixa. Tal característica, aliada à grande eficiência da queimada na eliminação da vegetação espontânea, torna os sistemas agrários de derrubada e queimada pouco exigentes em trabalho (SANTOS et al. 2007). Ainda de acordo com Santos et al (2007), além disso, estes sistemas agrários podem ser praticados com um mínimo de meios de produção, cuja fabricação pode ser realizada até sem o conhecimento da metalurgia. Em suma, os sistemas agrários de derrubada e queimada constituem-se em formas de agricultura com produtividades do trabalho relativamente elevadas, pouco exigentes em técnicas para a confecção de ferramentas, que podem ser realizadas com um mínimo de meios de produção e bastante eficientes na mobilização da fertilidade natural dos ecossistemas florestais, o que os torna altamente sustentáveis, sob condições sociais adequadas (como livre acesso à terra e densidades demográficas relativamente baixas). (SANTOS et al. 2007). Portanto, não é de se admirar que os sistemas agrários de derrubada e queimada estão entre as formas de agricultura que mais se disseminaram no mundo, sendo ainda hoje encontrados (SANTOS et al. 2007). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 18 8 DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA) Segundo Neto (2007), a “Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários” (ADSA) é um método de estudo da agricultura concebido para o estabelecimento de linhas estratégicas de desenvolvimento local relacionadas ao setor agropecuário. Tal método foi elaborado especificamente para ser aplicado em países do terceiro mundo, cujos complexos problemas agrícolas, normalmente associados a técnicas pouco usuais em relação aos padrões ocidentais e a grandes dificuldades de intervenção do poder público, tornam a elaboração de projetos de desenvolvimento uma tarefa extremamente difícil. A propósito, embora a ADSA esteja fundamentada em uma sólida interpretação da evolução da agricultura, proposta por Mazoyer e Roudart (1997 apud NETO, 2007), sendo neste sentido também discutida por Dufumier (1996; 2004 apud NETO, 2007), sua aplicação, de um ponto de vista estritamente científico, é ainda sujeita a controvérsia, uma vez que seus procedimentos diferem substancialmente dos propostos pelos métodos usuais de pesquisa. 8.1 O Diagnóstico do Sistema Agrário da Região Segundo Neumann; Fialho, (2019), a questão a ser colocada antes mesmo se iniciar o estudo é: para um perfeito entendimento do objeto de estudo é necessário ter algum conhecimento prévio do sistema agrário local? Qual a abrangência territorial desse sistema agrário? Na análise-diagnóstico de sistemas agrários, a definição de região, e consequentemente, da abrangência territorial a ser coberta pelo estudo, não é rígida. A definição e a delimitação daregião dependem da complexidade e do problema a ser analisado. Assim, a região pode ser entendida como o entorno de uma unidade de produção em particular, a área de abrangência de um único município ou mesmo ainda a área de abrangência de vários municípios (como, por exemplo, os Conselhos Regionais de Desenvolvimento - COREDEs). Na maior parte das vezes, a região é compreendida como o espaço agrário como qual se deseja trabalhar ou que será o objeto das ações a serem desenvolvidas. Assim, nos estudos com o enfoque sistêmico, a delimitação da área territorial abrangida não é necessariamente fixa e pode ser revista no decorrer do andamento dos estudos (pelas sucessivas etapas de CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 19 aproximação ao objeto de estudo), de forma a adequá-la aos objetivos inicialmente propostos (NEUMANN; FIALHO, 2019). Entretanto, por menor que seja o espaço agrário abrangido pelo conceito de região utilizado, dificilmente ele se apresentará homogêneo. Na maioria das vezes, uma região é composta de espaços que apresentam características naturais e de ocupação completamente distintos. Essas diferenças naturais e históricas influenciam e determinam de maneira diferente as atividades produtivas e as técnicas utilizadas pelos agricultores que, por sua vez, acabam também eles mesmos (os agricultores) se diferenciando uns dos outros (o processo constante de diferenciação). Em consequência, as formas de exploração dos espaços agrários são, em geral, heterogêneas (GARCIA FILHO,1999 apud NEUMANN; FIALHO, 2019). Uma das motivações para a elaboração dos procedimentos da ADSA foi a constatação das dificuldades provocadas por uma estratégia comum adotada em estudos que visam a apoiar ações de desenvolvimento. É que muitas vezes, a partir de uma definição por demais vaga e abrangente das variáveis pertinentes ao estudo procura-se, logo de início, obter o máximo de informações possíveis sobre a situação, o que em geral ocasiona grandes dificuldades no tratamento de dados e, quase sempre, leva à conclusão de que os dados mais pertinentes à pesquisa não foram obtidos. Segue-se assim uma nova rodada de coleta de dados, muitas vezes com recursos adicionais e com atrasos no cronograma da pesquisa, e com novas dificuldades de tratamento, a qual leva a novas coletas, etc. Dessa forma muitas pesquisas sobre situações concretas de desenvolvimento da agricultura, bastante promissoras, terminam sem apresentar resultados consistentes (NETO, 2007). 8.2 Os Objetivos do diagnóstico do sistema agrário da região Segundo (NEUMANN; FIALHO, 2019) os objetivos dos diagnósticos são: • Identificar e localizar no espaço os grandes modos de exploração do meio ambiente, isto é, identificar as principais zonas agro ecológicas da região em foco (zoneamento); • Reconstruir a trajetória histórica da agricultura da região, buscando entender a relação existente entre as mudanças socioeconômicas e as CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 20 mudanças técnicas e identificar os fatores que provocaram as diferenciações entre as distintas zonas e entre os agricultores; • Compreender a dinâmica atual da região através da análise dos elementos ecológicos, técnicos e sociais, suas potencialidades e os fatores limitantes ao seu desenvolvimento. Assim, os estudos baseados na ADSA são realizados a partir de uma rigorosa hierarquização das análises em função da sua abrangência, iniciando pelos seus níveis mais amplos. Segundo a ADSA, o estudo deve inicialmente se concentrar nos aspectos mais gerais da realidade a ser estudada e só passar a aspectos mais específicos após uma síntese que permita formular quais são as variáveis mais pertinentes a serem analisadas (ou questões mais importantes a serem respondidas), no nível imediatamente inferior. Tal síntese é efetuada pela organização e análise da coerência das informações obtidas, sendo retidas apenas aquelas consideradas imprescindíveis para explicar a realidade observada, e não para descrevê-la, no nível de abrangência em questão (NETO, 2007). O contraste entre, por um lado, um procedimento desenvolvido segundo o princípio de efetuar as análises “do geral para o particular”, como na ADSA e, por outro lado, os procedimentos normalmente adotados em outras pesquisas, pode ser ilustrado pela representação das configurações possíveis do desenvolvimento de uma região por meio de uma árvore de possibilidades (NETO, 2007). Fonte: Silva Neto et al (2003) CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 21 Já um procedimento baseado na ADSA consistiria em analisar cada nível, separada e progressivamente, procurando responder apenas àquelas questões que parecem ser as mais pertinentes (que são frequentemente as mais óbvias). No momento em que as principais questões relativas àquele nível foram respondidas de forma satisfatória realiza-se uma síntese que permita que a análise a ser efetuada no nível posterior se concentre em apenas alguns ramos da árvore de possibilidades (NETO, 2007). Assim, concentrando-se nas informações claramente mais pertinentes, mais no objetivo de descartar possibilidades do que de responder definitivamente às questões, pode-se progressivamente definir a configuração do desenvolvimento de uma região no nível de detalhe desejado de forma eficiente e rigorosa (NETO, 2007). 8.3 O que estudar/observar no diagnóstico do sistema agrário Segundo Neumann e Fialho (2019), o Diagnóstico do Sistema Agrário da Região é composto por três estudos distintos e integrados: a) Caracterização das condições naturais e socioeconômicas da região; b) Análise da trajetória histórica da região; c) Identificação e caracterização da heterogeneidade do espaço territorial (Zoneamento). 8.4 As principais etapas dos procedimentos da ADSA Segundo neto (2007) define: 1° Etapa – Caracterização do Processo de Desenvolvimento da Agricultura da Região Esta etapa compreende o estudo das condições agroecológicas e socioeconômicas da região delimitada, consistindo: ✓ Na análise geral da região, como localização, população total e rural, principais setores econômicos, principais atividades agropecuárias, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ou Índice de Desenvolvimento Social Municipal (IDSM), nível médio de renda e grau de desigualdade social e CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 22 econômica (por meio da estrutura fundiária e do índice de Gini da renda, se disponíveis); ✓ Na definição de zonas homogêneas do ponto de vista das condições para as atividades agropecuárias (clima, solo, infraestrutura, etc.); ✓ Na análise da trajetória de evolução e diferenciação interna do setor agropecuário da região; 2° Etapa – Tipologia dos Sistemas de Produção Agropecuária Nesta etapa as unidades de produção agropecuária da região são agrupadas em tipos, decorrentes da análise dos processos de diferenciação identificados na etapa anterior. Assim, vale lembrar que uma tipologia é uma resposta a um questionamento que se coloca ao nível do conjunto das unidades de produção de uma região, a partir da análise da sua história. No caso da ADSA, a tipologia visa a agrupar as unidades de produção em função das diferentes formas de organização da produção (sistemas de produção) adotadas pelos agricultores para assegurar a sua reprodução social ao longo do tempo. Nesta etapa também são realizadas a caracterização técnica e a avaliação econômica dos sistemas de produção, visando a esclarecer a capacidade de reprodução social de cada tipo. 3° Etapa – Definição de Linhas Estratégicas de Desenvolvimento Inicialmente procura-se avaliar as possibilidades de melhorar as condições para a reprodução econômica das explorações em função do tipo de sistema de produção adotado. Após, a partir da caracterização técnica e das avaliações econômicas da etapa anterior, é possível identificar atividades ou técnicas quepossam contribuir para um aumento da produtividade e da renda dos agricultores, respeitando-se os estrangulamentos anteriormente detectados em cada tipo de sistema de produção analisado. Com base nestes resultados são definidas alternativas de ação técnica, organizacional, gerencial e de políticas públicas para o desenvolvimento dos diferentes tipos de unidades de produção, bem como estratégias de intervenção no processo de desenvolvimento local. É interessante salientar que tais alternativas devem ser avaliadas tanto do ponto de vista financeiro no âmbito das unidades de produção (por meio de fluxos financeiros baseados no potencial de renda gerada pelas atividades) quanto do ponto de vista do interesse econômico geral da sociedade CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 23 (por meio da análise do potencial de agregação de valor das atividades) (NETO, 2007). 9 DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO Segundo Neumann e Fialho (2019), o objetivo desta unidade é a análise detalhada dos sistemas de produção agrícolas predominantes em cada microrregião, sendo a escala de análise a Unidade de Produção Agrícola (UPA). A análise irá avaliar as possibilidades de reprodução dessas unidades de produção em função da lógica de organização da produção adotada. Nesse sentido, serão identificados e avaliados os estrangulamentos e as potencialidades de cada sistema, bem como a identificação das alternativas de ação técnica, organizacional, gerencial e de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável dos diferentes tipos de unidade de produção. Nesta etapa, são selecionadas (amostra intencionalizada) unidades de produção representativas de cada sistema de produção, onde são coletadas informações, através de um instrumento denominado “enquete”, sobre as características estruturais das unidades, o funcionamento do sistema de produção e a trajetória histórica da unidade e os objetivos do produtor e sua família. Esta é sem dúvida a etapa mais trabalhosa do procedimento, pelo número de informações a coletar em cada unidade de produção e pelo número de análises a serem realizadas (NEUMANN; FIALHO, 2019). Segundo Silva (2012), os produtores em geral necessitam de um assessoramento administrativo, visando uma maior geração de renda na unidade de produção. As inúmeras experiências de trabalho, realizadas na área da administração rural, baseiam-se praticamente no método contábil. Porém este método exige procedimentos demorados e complexos, o que requer maior disponibilidade de tempo do produtor para a obtenção dos dados. Na atualidade, verifica-se um crescente interesse pela administração rural, normalmente por parte de técnicos e instituições que atuam na assistência técnica e extensão rural. Este fato está, certamente, associado às transformações que vêm ocorrendo nas condições de produzir na agricultura, nos últimos anos (SILVA, 2012). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 24 Conforme Dufumier (2010 apud et al Jaehn (2012), muitos projetos de desenvolvimento agrícola continuam sendo malsucedidos por causa do desconhecimento das condições e modalidades do desenvolvimento agrícola. Isso aponta para a real necessidade de um conhecimento prévio das realidades agrárias em que se pretende intervir, bem como das particularidades locais. Isso inclui conhecer as verdadeiras demandas, necessidades e problemas vivenciados pelos agricultores que compõem os sistemas agrários em estudo. Para os agricultores, essas transformações signicam a necessidade de adaptação ou reconversão dos seus sistemas de produção. Para as empresas e responsáveis ligados à agricultura, isso representa a necessidade de redefinição de suas estratégias e métodos de atuação para dar conta da nova problemática vivenciada pelos agricultores. Nesse contexto, a administração rural vem constituindo- -se em uma modalidade alternativa de trabalho para os técnicos e instituições (SILVA, 2012). Diante desses aspectos, torna-se importante e necessário considerar que uma unidade de produção é reprodutível quando fornece uma renda suficiente para que os agentes econômicos envolvidos possam se reproduzir socialmente, ou seja, a existência de certo patamar de renda, denominado Nível de Reprodução Social (NRS), o qual a unidade de produção deve atingir para que se mantenha na mesma categoria social ou se ascenda a outra mais capitalizada (SILVA, et al. 2019 apud Jaehn 2012). 9.1 Do que trata o diagnóstico do sistema de produção De acordo com Neumann e Fialho (2019), ✓ Entender o funcionamento global da unidade de produção (enquanto sistema de produção); ✓ Entender a evolução da unidade e as condições de sua reprodução; ✓ Pôr em evidência os problemas e dificuldades que encontram os agricultores na condução de sua propriedade. 9.2 Para que serve o Diagnóstico De acordo com Neumann e Fialho (2019), CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 25 ✓ Para a elaboração de projetos de melhoria das unidades de produção ✓ Para o aconselhamento técnico aos agricultores; ✓ Para elaboração e execução de programas de desenvolvimento agrícolas 9.3 As partes que compõem o diagnóstico dos sistemas de produção De acordo com Neumann e Fialho (2019), ✓ Características estruturais do sistema de produção (ou da UPA); ✓ Funcionamento do sistema (ou da UPA); ✓ A trajetória do sistema de produção (ou da UPA). 10 O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA É o estudo da gestão das glebas, distribuição das atividades, potencialidades e limitações. Desenhar um croqui da propriedade com descrição das áreas de lavoura, pastagens nativas, mato, açude, sede, etc. Não é necessário usar escala como referência, mas é importante que contenha a indicação da área (ha) e atividade desenvolvida em cada de cada espaço (NEUMANN; FIALHO, 2019). Cada unidade de produção é dividida em diferentes culturas que ao longo do tempo são gerenciadas pelo produtor com base em limites estáveis. Uma primeira divisão do território da UPA responde a um objetivo de utilização (chamaremos de parcelas de cultivo ou lavouras) e uma segunda divisão a um objetivo de gestão do espaço (chamaremos de glebas). Embora estreitamente interdependentes, são fundamentalmente diferentes. Unidades de utilização são divisões realizadas pelo agricultor segundo seu plano de cultura, e podem variar em número e tamanho segundo as estratégias utilizadas no ano agrícola (as parcelas de cultivo ou lavouras) (NEUMANN; FIALHO, 2019). Caracterizam-se assim, pela aplicação homogênea de um itinerário técnico. Já as unidades de gestão (as glebas), ao contrário, resultam de determinantes mais complexos, tais como os elementos do território, dos sistemas de cultura utilizados, dos limites naturais; e sua existência dificilmente se altera ao longo do tempo (NEUMANN; FIALHO, 2019). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 26 Assim, a utilização do território da UPA consiste em adaptar o sistema de cultura e os objetivos propostos aos meios disponíveis. Por isso a Unidade de Produção Agrícola raramente é constituída por um espaço homogêneo e único (integral), o agricultor divide a superfície segundo seus projetos, adaptados às características dificilmente modificáveis de seu terreno (NEUMANN; FIALHO, 2019). A gleba corresponde à unidade de gestão das unidades de produção. São divisões internas das terras da unidade de produção e, diferentemente das parcelas de cultivo, resultam de determinantes mais complexos, como elementos do território, dos sistemas de cultura utilizados, dos limites naturais existentes, etc. Sua existência dificilmente se altera ao longo do tempo (NEUMANN; FIALHO, 2019). 10.1 O Estudo das práticas e técnicas do agricultor Ainda segundo Neumann e Fialho (2019), o estudo detalhado de cada operação desenvolvida em cada etapa da produção vegetal e animal, de forma a identificar e quantificar os insumos ou produtos utilizadosno processo produtivo. Na produção vegetal, o processo produtivo pode ser normalmente dividido em três etapas: • Plantio Manejo do solo para o plantio: Detalhar o tipo de manejo realizado (preparo convencional, plantio direto, época do manejo, área utilizada, quantidades e tipos de insumos utilizados, quantidade de dias de trabalho, gastos com combustível, etc.; - Reposição da fertilidade: tipo e quantidade de fertilizantes utilizados, tempo gasto com a operação, época, etc.; - Semeadura/plantio: época, densidade, variedade utilizada, gastos com combustível, tempo gasto com a operação. • Tratos culturais Adubação de cobertura: tipo e quantidade, época, combustível, tempo gasto com a operação, etc.; - Controle fitossanitário: tipos de controle realizados: doenças, pragas etc. Tipo e quantidade de produtos utilizados, gastos com combustível, tempo gasto com a operação, etc.; CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 27 - Controle de inços: tipo de controle (mecânico, químico), número de operações, tipo e quantidade de produtos utilizados, gastos de combustível, tempo gasto nas operações, etc.; - Outros tratos culturais utilizados: detalhar outros manejos utilizados. • Colheita Tipo e período da colheita, tempo gasto, combustível, -- quantidade colhida, etc. Já a criação animal pode ser dividida em três manejos: - Manejo alimentar: detalhar alimentação de cada categoria animal: pastagens, rações, silagem, etc.; - Manejo sanitário: vacinas, controle de doenças, parasitas, etc.; - Manejo reprodutivo: caracterizar o tipo de reprodução. 11 DINÂMICAS DOS SISTEMAS AGRÁRIOS Segundo Mazoyer e Roudart (2019), o desenvolvimento de um sistema agrário resulta da dinâmica de suas unidades de produção. Costumamos dizer que há desenvolvimento geral quando todos os tipos de unidades de produção agrícola progridem, adquirindo novos meios de produção, desenvolvendo suas atividades, aumentando suas dimensões econômicas e seus resultados. O desenvolvimento é inegável quando certas unidades progridem muito mais depressa que outras. No entanto, ele é contraditório quando certas unidades progridem enquanto outras estão em crise e regridem. A crise de um sistema agrário é considerada geral quando todos os tipos de unidades de produção regridem e tendem a desaparecer. Em certos casos, as unidades de produção agrícolas que progridem podem adotar novos meios de produção, desenvolver novas práticas e novos sistemas de cultura e de criação e, portanto, engendrar um novo ecossistema cultivável: assim emerge um novo sistema agrário. Chama-se revolução agrícola essa mudança no sistema agrário (MAZOYER; ROUDART, 2019). Ainda segundo Mazoyer e Roudart (2019), dessa forma, ao longo do tempo, podem nascer, desenvolver se, declinar e suceder-se, em uma dada região do mundo, sistemas agrários que constituem as etapas de uma série evolutiva característica daquela região. CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 28 Por exemplo, a série evolutiva dos sistemas agrários hidráulicos do vale do Nilo (sistemas de cultivo em bacias hidráulicas e de cultivo de inundação de inverno, sistemas de cultivo irrigados em diferentes estações do ano); a série evolutiva dos sistemas agrários das regiões temperadas da Europa (sistemas de cultivo de derrubada-queimada; sistemas de cultivo com tração leve e alqueive associados à criação animal; sistemas de cultivo com tração pesada e alqueive associados à criação animal; sistemas de cultivo com tração pesada e sem alqueive associados à criação animal; sistemas motorizados, mecanizados e especializados); a série evolutiva dos sistemas hidroagrícolas das regiões tropicais úmidas; etc (MAZOYER; ROUDART, 2019). Segundo Mazoyer e Roudart (2019), A análise da dinâmica dos sistemas agrários nas diferentes partes do mundo e em diferentes épocas permite retomar o movimento geral de transformação, no tempo e no espaço, da agricultura e expressá-lo sob a forma de uma teoria da evolução e da diferenciação dos sistemas agrários. Outros objetos complexos, variados, animados e em evolução inspiraram análises e teorizações do mesmo tipo: classificação sistemática e teoria da evolução das espécies vivas; classificação e teoria da formação e da diferenciação zonal dos grandes tipos de solos; classificação e teoria da filiação das línguas; etc. Concebido desta forma, cada sistema agrário é a expressão teórica de um tipo de agricultura historicamente constituído e geograficamente localizado. Ele é composto de um ecossistema cultivado característico e de um sistema social produtivo definido, que permite explorar sustentavelmente a fertilidade do ecossistema cultivado correspondente. O sistema produtivo é caracterizado pelo tipo de instrumento e de energia utilizado para desmatar o ecossistema, para renovar e para explorar sua fertilidade. O tipo de instrumento e de energia utilizado é, por sua vez, condicionado pela divisão do trabalho hegemônico na sociedade da época (MAZOYER; ROUDART, 2019). Um sistema agrário não pode ser analisado independentemente das atividades a montante que os meios de produção proporcionam. Tampouco pode ser analisado independentemente da utilização que é feita de seus produtos pelas atividades a jusante e pelos consumidores. Tampouco pode ser analisado independentemente de outros sistemas agrários concorrentes, pois estes também colaboram para satisfazer as necessidades da sociedade (MAZOYER; ROUDART, 2019). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 29 12 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA www.agronegociointerior.com.br Sustentabilidade agrícola é a capacidade de um agroecossistema de manter a produção através do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e pressões socioeconômicas (LOPES, et al. 2010). A sustentabilidade contempla três dimensões: ecológica, econômica e social. A ecológica se refere à estabilidade dos recursos naturais e do ambiente em geral, implicando na manutenção das características fundamentais do ecossistema, quanto aos seus componentes e suas interações; a econômica sugere a viabilidade financeira, traduzida por uma rentabilidade estável no tempo; e a dimensão social diz respeito à equidade e valorização social, associada à ideia de que o manejo e a organização do sistema são compatíveis com os valores culturais e éticos dos grupos envolvidos e das sociedades, promovendo a continuidade ao longo do tempo, sendo isso tudo, atingido pela adequação de tecnologias às diferentes situações e com uso racional dos recursos locais (LOPES, et al 2010). A análise da evolução do sistema agrário permite que o desenvolvimento rural seja analisado sob a ótica da sustentabilidade, aqui entendida como o atendimento adequado das condições socioeconômicas e ambientais dos espaços físicos. Assim, o meio ambiente é mais que um fornecedor de recursos ou assimilador de resíduos, pois a forma de sua preservação e conservação permite que as atividades produtivas evoluam e se diversifiquem. Nesse sentido, o desenvolvimento sob essa perspectiva possibilita encadear transformações técnicas, ecológicas, econômicas e sociais dos ambientes. Portanto, compreender o processo histórico de sua formação, sua CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 30 dinâmica e contradições, cria mecanismos para realizar previsões e tendências de comportamento desse desenvolvimento (LOPES, et al 2010). A evolução do sistema agrário impõe mudanças socioeconômicas decorrentes da ocupação do homem no espaço rural. As transformações dos espaços originais podem ser evidenciadas pela modificação da estrutura populacional e introdução de sistemas de produção mais heterogêneos. A compreensão dessas relações e evolução do sistema agrário é complexa, pois é necessário conhecer a dinâmica local e o processo de tomada de decisão dos agricultores. Tal entendimento deve preceder qualquer diretriz ou intervenção,que leve ao processo de desenvolvimento rural sustentável (LOPES, et al 2010). Para se avaliar a sustentabilidade de um agroecossistema, que é a unidade básica para análise, devem-se considerar suas características hierárquicas e a complementaridade com o ambiente externo, tornando possível a identificação dos processos chaves e dos organismos envolvidos que governam as quatro propriedades ou comportamentos dos agroecossistemas sustentáveis, ou seja, a produtividade, a estabilidade, a elasticidade ou resiliência e a equidade (LOPES, et al 2010). Um ponto-chave no desenho de agroecossistemas sustentáveis é a compreensão de que existem duas funções no ecossistema que devem estar presentes na agricultura: a biodiversidade dos micro-organismos, plantas e animais e a ciclagem biológica de nutrientes da matéria-orgânica (LOPES, et al 2010). O uso da água no meio rural representa 80,7% da demanda de captação de água total brasileira, dos quais 67,2% são destinados à irrigação, 11,1% ao consumo animal e 2,4% ao consumo humano (Agência Nacional de Águas, 2017). Além disso, o desperdício é preocupante, estimado em cerca de 40%, devido às perdas em sistemas inadequados de irrigação ou vazamentos nas tubulações. A irrigação está em franca expansão no Brasil, passou de 462 mil hectares em 1960 para 6,1 milhões de hectares em 2014, em especial por meio de pivôs centrais, perfazendo um total de 1,275 milhão de hectares distribuídos em 19.892 pivôs (79% no Cerrado e 11% na Mata Atlântica) (Levantamento..., 2016; Zoneamento..., 2017) (LOPES, et al 2010). Desta forma, o uso adequado de recursos hídricos no meio rural envolve decisões sobre a irrigação, uso de métodos recomendados para cada tipo de solo e cultura, além do seu manejo a partir do monitoramento preciso da evapotranspiração, CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 31 utilização de sistemas mais eficientes e adaptados às condições locais, evitando o desperdício de água e energia. Em regiões onde a disponibilidade hídrica é muito variável, reservatórios de pequeno porte, barragens subterrâneas, reuso e captação de chuvas em propriedades agrícolas podem melhorar a disponibilidade hídrica, reduzindo a vulnerabilidade em relação à variabilidade hidrológica (LOPES, et al 2010). Ainda conforme Lopes et al 2010), O uso eficiente da água nos sistemas de produção agrícola é um dos desafios principais no que diz respeito ao uso racional dos recursos hídricos, e vem a cada ano tendo importância maior nas discussões de comitês de bacias hidrográficas e nas agências reguladoras do direito do uso da água. Muitas tecnologias já foram desenvolvidas principalmente na área de irrigação, porém ainda existem muitos desafios a serem superados, como os programas de manejo da água, que integram todo o setor agropecuário e urbano dentro de uma mesma bacia hidrográfica, o manejo de irrigação parcelar, etc. Outra demanda crescente, principalmente pela escassez hídrica que vem assolando diversos locais do mundo e influencia no abastecimento hídrico de centros urbanos, é o “reuso de águas residuais (efluentes) e captação de águas pluviais”. O Brasil participa de diversos acordos internacionais e está comprometido com agendas de sustentabilidade. Em 2015, na conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 21), o Brasil se comprometeu a reduzir em 43% as emissões de GEE até 2030. Foi estabelecida como meta a redução em 80% as taxas de desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado. As ações propostas abrangem o reflorestamento de 12 milhões de hectares e o alcance de participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética brasileira (EMBRAPA, 2018). Outro compromisso importante é com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma ampla agenda global com 17 objetivos integrados que mesclam as três dimensões da sustentabilidade: a econômica, a social e a ambiental. No Brasil, é grande a importância da agricultura para o alcance desses objetivos, considerando a extensão da área agrícola, a quantidade de produtores e trabalhadores envolvidos e a relevância do setor para o desenvolvimento econômico e a melhoria do bem-estar social da população (EMBRAPA, 2018). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 32 12.1 Sistemas agrícolas sustentáveis O desenvolvimento agrícola sustentável pode ser entendido como o manejo e a conservação da base de recursos naturais e a orientação das mudanças tecnológicas de forma a assegurar o alcance e a satisfação contínua das necessidades humanas do presente e das futuras gerações (EMBRAPA, 2018). Segundo Embrapa (2018), A agricultura sustentável compreende principalmente sistemas integrados de práticas utilizadas na produção de plantas e de animais aplicáveis a determinados ambientes de produção e que, ao longo do tempo, satisfarão as necessidades humanas de fibras e alimentos; melhorarão a qualidade ambiental e a base de recursos naturais da qual a economia agrícola depende; farão o uso mais eficiente dos recursos não renováveis e de recursos nas propriedades, integrando, onde for apropriado, os ciclos e os controles biológicos naturais; sustentarão a viabilidade econômica dos processos agrícolas; e melhorarão a qualidade de vida dos produtores e da sociedade como um todo . O Brasil já conta com uma série de sistemas e tecnologias sustentáveis amplamente adotados como: • Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) Fonte:embrapa.br CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 33 Os sistemas de ILPF, em suas diferentes modalidades (lavoura-pecuária, lavoura- -pecuária-floresta, sistemas agroflorestais e silvipastoris, entre outros), já são uma realidade em 11,5 milhões de hectares no Brasil. É uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área (EMBRAPA, 2018). Os estados com maior área de adoção são Mato Grosso do Sul (2 milhões de hectares); Mato Grosso (1,5 milhão de hectares); Rio Grande do Sul (1,4 milhão de hectares); Minas Gerais (1 milhão de hectares) e Santa Catarina (680 mil hectares). Os principais fatores motivadores apontados para a adoção de sistemas de ILPF pelos pecuaristas relacionam-se com a preocupação na adequação ambiental da atividade diante das pressões, a cada dia maiores, da sociedade e dos mercados. Já entre os produtores de grãos, as principais motivações para a adoção se relacionam ao aumento da rentabilidade e à diminuição dos riscos financeiros (EMBRAPA, 2018). • Sistemas Agroflorestais Fonte: embrapa.br Os sistemas agroflorestais, em suas diferentes estruturas (sequenciais, simultâneos ou complementares), incorporam maior diversidade vegetal com espécies agrícolas, frutíferas e florestais (nativas e exóticas) e ocupam milhares de hectares em todos os biomas brasileiros (EMBRAPA, 2018). Segundo Embrapa (2018), novos nichos de mercados estão sendo organizados envolvendo produtores e o setor agroindustrial, valorizando ainda mais a biodiversidade das espécies nativas, como frutas, castanhas, palmito, peixes e CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 34 recursos florestais não madeireiros. Esses sistemas deverão ter relevância crescente no processo de intensificação sustentável da agricultura brasileira nas próximas décadas. • Agricultura orgânica Fonte: embrapa.br A agricultura orgânica vegetal (grãos, hortaliças e frutas) e animal (carne, ovos e leite) tem se destacado como uma das alternativas de renda para os pequenos, médios e grandes produtores, principalmente devido à crescente demanda mundial e brasileira por alimentos mais saudáveis e sustentáveis (EMBRAPA, 2018). Ainda de acordo com Embrapa (2018), a produção orgânica tem se destacado pelo seu potencial no desenvolvimento social e local, pelo estímulo à formação de circuitos de comercialização de curtadistância entre produtor e consumidor (cadeias curtas) e pela venda para os mercados institucionais como escolas e hospitais. Além disso, em decorrência das mudanças de hábitos, maior informação e poder aquisitivo de segmentos de consumidores, a tendência é de crescimento desse mercado. Segundo Embrapa (2018), a agricultura orgânica não utiliza agrotóxicos, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos. • Sistema Plantio Direto (SPD): CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 35 Fonte: sistemafaep.org.br O SPD já está presente em torno de 86% da área agrícola brasileira de soja, milho (1a safra) e feijão (1a safra), aumentando o acúmulo de carbono no solo, promovendo melhorias biológicas no solo e diminuindo o processo de erosão e assoreamento dos recursos hídricos (EMBRAPA, 2018). Além de ser uma prática conservacionista, o plantio direto foi fundamental para que o País ampliasse sua área de segunda safra, ao reduzir o tempo utilizado no preparo do solo. • Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Fonte: embrapa.br CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 36 A FBN é a principal fonte de nitrogênio da agricultura brasileira e contribui para diminuir a importação de fertilizantes, hoje responsável pelo atendimento de 76% da demanda doméstica, e com projeções de atingir 83% em 2025 (Associação Nacional para Difusão de Adubos, 2017). A FBN tem melhorado as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, resultando em maior produtividade, menor impacto ambiental e maior economia para o produtor (EMBRAPA, 2018). Há tendência de intensificação do uso de FBN para recuperação de áreas degradadas, redução da emissão de GEE, e diminuição de riscos de contaminação • Manejo integrado e controle biológico de pragas e doenças Fonte: embrapa.br O manejo integrado e o controle biológico de pragas e doenças na agricultura têm sido fortalecidos, visando minimizar os atuais níveis de utilização de agrotóxicos (EMBRAPA, 2018). Métodos de controle racional são desenvolvidos com objetivo de reduzir impactos ambientais e minimizar os resíduos nos alimentos, melhorando com isso a qualidade de vida do produtor rural e do consumidor. Esse conjunto de práticas e processos inovadores terá relevância crescente na transição dos sistemas de produção atuais para uma agricultura mais sustentável no Brasil (EMBRAPA, 2018). http://www.embrapa.br/ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 37 • Plantios florestais Fonte: embrapa.br Plantios florestais com espécies nativas e exóticas (homogêneos ou integrados) têm fortalecido o processo de intensificação sustentável da produção florestal brasileira. A produtividade das florestas plantadas no Brasil é superior à do restante do mundo, contribui anualmente com 17% de toda a madeira colhida mundialmente, com uma área equivalente a 3% da área mundial de florestas plantadas (EMBRAPA, 2018). Esses altos níveis de produtividade estão associados ao melhoramento genético e aos tratamentos silviculturais que foram desenvolvidos para determinadas finalidades e regiões brasileiras (EMBRAPA, 2018). Nas próximas décadas, a inovação tecnológica da silvicultura de espécies nativas e exóticas terá papel de grande relevância para apoiar a solução dos passivos ambientais de Reservas Legais decorrentes dos Programas de Regularização Ambiental (PRA) dos estados e dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e Alteradas (Prada) dos mais de 5 milhões de propriedades rurais do Brasil. Também haverá tendência de ocupação de áreas de pastagens degradadas liberadas pela intensificação da produção pecuária para crescimento da silvicultura visando à produção de fibras e à agroenergia (EMBRAPA, 2018). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 38 • Extrativismo Fonte: embrapa.br Tem tido destaque o uso da biodiversidade brasileira. Apenas em 2016 foram registrados mais de 30 produtos extrativos não madeireiros sendo explorados comercialmente. Essas atividades geraram praticamente R$ 1,9 bilhão, derivados de mais de 1,110 milhão de toneladas de produto não madeireiro, como açaí e castanha- do-brasil (EMBRAPA, 2018). A grande variedade de espécies nativas no Brasil favorece este tipo de atividade. 13 A AGRICULTURA E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO Conforme Valente e Godoy (2002), as transformações técnico-científicas são permanentes, no entanto não atingem simultaneamente os diversos espaços. O desenvolvimento tecnológico torna o processo de produção capitalista mais flexível, no sentido de utilizar mais máquinas e menos mão-de obra, favorecendo a acumulação do capital, não se restringindo, no entanto, à acumulação no campo econômico, mas também ao político, social e espacial. Não somente pela presença de inovações tecnológicas que um espaço se renova e se organiza, assim como se interliga com os demais, mas também pela forma como se organiza a produção, bem como pela estrutura que se cria e pela função que CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 39 determinada área passa a ter no processo de acumulação em nível regional, nacional ou internacional (VALENTE; GODOY, 2002). Ainda conforme Valente e Godoy (2002), na pesquisa geográfica, o estudo da organização do espaço se consolida e se valoriza à medida que são destacados os estudos locais e regionais, uma vez que a organização espacial é indicativo da existência de uma unidade integrada resultante de um produto terminal (no sentido de concluído), só que esse produto terminal nos parece relativo, visto que o espaço está em constante modificação e transformação. O estudo da organização espacial envolve relações, combinações, interações, conexões e localizações, processados de forma dinâmica entre os elementos que a constituem e que dão origem à diversificação de formas espaciais. Para analisar a evolução da organização do espaço, temos que pressupor, inicialmente, a existência do meio natural que, mediante a ação humana e através do uso da técnica, transforma-o em espaço geográfico. O avanço da ciência permite que o meio técnico científico seja incorporado ao espaço geográfico, possibilitando outras formas de organização do espaço (VALENTE; GODOY, 2002). Atualmente, além da técnica e do meio técnico científico, ainda compõe o espaço geográfico o conteúdo técnico-científico informacional. Desse modo, novas formas de organização espacial são incorporadas. Porém, “um meio não suprime o outro, por isso o espaço geográfico é uma acumulação desigual de tempos”, segundo Santos (1988, p. 6 apud VALENTE; GODOY, 2002). A ação humana geradora da organização espacial (em termos de forma, movimento e conteúdo de natureza social) é caracterizada pelo trabalho dos atores (pessoas) que deixam suas marcas sobre o espaço com o objetivo de se apropriarem e controlarem os recursos existentes (VALENTE; GODOY, 2002). Segundo Valente e Godoy (2002), O trabalho não só transforma o espaço como também determina a apropriação do mesmo, pois, à medida que o processo de produção capitalista avança, este gera mudanças com relação à importância e ao valor de determinadas parcelas do espaço, tendo em vista que o mesmo depende das modificações. Portanto, a organização espacial espelha fielmente a qualidade das relações sociais. Na organização espacial, encontramos o lugar que exprime uma categoria básica. No entanto, esse lugar apresenta CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 40 um conjunto de paisagens que exprime suas finalidades e que, por sua vez, caracteriza o lugar organização do espaço. 13.1 Considerações acerca da organização do espaço A base econômico-social de cada sociedade, que constitui um espaço organizado, consiste num determinado modo de produção e na reprodução da vida social, pois a técnica, fruto da criatividade humana e considerada medida de poder do homem é, em última análise, o elemento determinante das forçasprodutivas, nas quais o homem se coloca como principal elemento e agente de transformação dos recursos naturais (VALENTE; GODOY, 2002). Conforme Miorin (1988 apud Valente e Godoy 2002), o mundo é a realidade material em transformação e em contínua construção, realizada por pessoas que vivem em determinada época e num determinado sistema de relações sociais, uma vez que o grau de transformação do mundo, encontrado pelas gerações sucessoras, depende das relações de produção das gerações anteriores e da atividade prática de desenvolvimento da consciência do grupo humano anterior. Assim sendo, o número de objetos construídos no espaço aumenta a cada geração através dos quais é possível descobrir seus aspectos, suas propriedades e esclarecer os meios de ação. Também é possível, a cada geração, descobrirmos que cada ação pode se realizar de diferentes maneiras e por meio de diferentes instrumentos, assim como um mesmo instrumento pode ser usado para a realização de diferentes ações. Portanto, o espaço é um testemunho de momentos de um modo de produção, no qual, em cada paisagem criada, é fixada a construção das forças produtivas e dos instrumentos utilizados (VALENTE; GODOY, 2002). Na geografia, o espaço deve ser concebido como totalidade, constituída de momento Ambientes estudos de Geografia, mas há totalidades mais abrangentes, outras, nem tanto. As totalidades e os momentos expressam a dinâmica natural e social, bem como suas determinações específicas em termos de tempo e de lugar. Cada momento guarda peculiaridades próprias do tempo histórico e do lugar manifestadas na paisagem de forma diferenciada, razão por que não existe um espaço único na superfície da Terra (VALENTE; GODOY, 2002). CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 41 No entanto, muitos espaços existentes na superfície terrestre apresentam um traço comum, a submissão ao modo de produção, pois, em muitos deles, ocorreu ou ocorre a exploração econômica e existe um componente básico, a terra, onde as relações sociais de produção se caracterizam pela divisão social do trabalho (VALENTE; GODOY, 2002). O espaço, visto como algo organizado e ao mesmo tempo indicador de relações sociais, não pode ser concebido como estático, pois, quando surge o homem, este constitui a paisagem humanizada, símbolo do espaço geográfico, dando provas de que a produção existe e, desse modo, a organização do espaço deve ser entendida como resultado das relações de produção. Para compreendermos o espaço geográfico, necessário também se faz conhecermos a forma, representada pelas atividades que nele se desenvolvem, bem como vê-lo em suas contradições, e elas existem em cada realidade (VALENTE; GODOY, 2002). As mudanças provocadas no território afetam as formas de sua organização de maneira diversa, quando não organizando ou reorganizando o espaço. Essa organização ou reorganização ocorre vinculada não só à produção propriamente dita, mas também à circulação, distribuição e consumo, já que são questões que se complementam. No entanto, esse espaço se organiza de acordo com os níveis de exigência do processo, vinculado ao volume de capital, à tecnologia e à organização correspondente, razão pela qual a paisagem agrária é mais homogênea, se comparada à urbana (VALENTE; GODOY, 2002). A organização do espaço geográfico consiste na criação de um sistema de objetos cada vez mais artificiais, compostos por sistemas de ações imbuídos de artificialidade, muitas vezes com fins estranhos ao lugar e a seus habitantes. Nesse sentido, o espaço constitui-se em um novo sistema da natureza quase que totalmente desnaturalizado. Na análise da organização do espaço, não se pode excluir a produção, vinculada ao meio urbano- industrial e ao modelo de produção capitalista (VALENTE; GODOY, 2002). As diferenças territoriais de produção agrícola são resultantes dos tipos diferentes de integração entre os setores agrícola e industrial e da articulação da produção agrícola capitalista com os modos anteriores de produção. Novas produções agrícolas se estruturam dentro da lógica da produção capitalista do espaço, mediante CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 42 uma interação com as especificidades da agricultura e do lugar (VALENTE; GODOY, 2002). As interligações não se limitam por aí, acontecem também com os setores da comercialização, da armazenagem, dos transportes e das comunicações. Com o aumento dos capitais fixos (estradas, silos, etc.), dos capitais constantes (máquinas, fertilizantes, veículos) e dos fluxos, rompem-se os equilíbrios preexistentes, porque aumenta a necessidade de movimento e outros se impõem, diminuindo, desse modo, o espaço reservado à produção, enquanto aumenta o espaço das outras instâncias da produção, circulação, distribuição e consumo, de acordo com Santos (1999 apud VALENTE; GODOY, 2002). 14 RISCOS NA AGRICULTURA A atividade agrícola é fortemente marcada por uma especificidade que a diferencia da produção da indústria e do setor de serviços: a forte dependência dos recursos naturais (como terra, clima e solo) e dos processos biológicos (EMPRAPA, 2018). Plantas, animais e microrganismos não se comportam com a precisão de máquinas. O clima não se repete da mesma forma de um ano para o outro e um solo fértil pode, com manejo equivocado, perder suas propriedades em alguns ciclos de produção. É uma atividade de risco (EMPRAPA, 2018). De acordo com Embrapa (2018), em particular, essa característica requer as seguintes condições: a) maior rigidez do processo produtivo, tendo como consequência menor flexibilidade para ajustar-se aos ciclos da economia e às mudanças nas conjunturas dos mercados relevantes; b) sazonalidade da produção; c) dependência de processos biológicos que são responsáveis diretos pelas operações mais importantes do processo produtivo. Essas condições refletem os riscos que cercam a atividade agrícola, os quais tendem a ser maiores do que aqueles relacionados ao conjunto das demais atividades. Na atualidade, esses riscos são ainda mais intensos devido aos maiores requerimentos de investimento. A agricultura contemporânea se caracteriza pelo uso CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 43 intensivo do capital. Por exemplo pode ser gigantesco o prejuízo financeiro com uma seca inesperada, uma geada forte, uma quebra de safra ou uma baixa repentina nos preços. De acordo com Embrapa (2018), é necessário considerar ainda que atualmente a agricultura está inserida em uma nova ordem global, que condiciona sua dinâmica, seu desempenho e interfere nos riscos em geral. Destacam-se, em particular, alguns fatores: a) o ambiente criado pelo multilateralismo e pelo peso crescente das regras fixadas em acordos internacionais e na legislação nacional; b) controles e regras que regulam os principais aspectos que envolvem toda a cadeia do agronegócio – ambiente, segurança alimentar, saúde, relações de trabalho, comércio, propriedade intelectual; c) mudança do clima no âmbito global, que se reflete na elevação da temperatura e principalmente na instabilidade do clima; d) pressões sociais com suficiente força para impor regras, atitudes, legitimar ou refutar opções tecnológicas, etc.; e) valorização do consumidor como stakeholder central da cadeia de valor do agronegócio. Esse novo ambiente interfere diretamente nos riscos agropecuários, em particular nos riscos institucionais, tecnológicos e de produção, riscos de mercado, do ambiente de negócios, bem como na percepção de integração e na consequente gestão desses riscos (EMPRAPA, 2018). Os resultados da atividade agrícola estão relacionados à qualidade das diversas decisões dos agricultores, antes, durante e após o processo produtivo. São três as perguntas básicas: o que produzir, como produzir e para quem produzir. Os agricultores precisam decidir qual cultivo ou
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