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SISTEMAS-AGRARIOS

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMAS AGRÁRIOS 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 
2 SISTEMAS agrários ..................................................................................................................... 4 
2.1 Teoria dos sistemas agrários ................................................................................................... 6 
2.2 Classificação dos sistemas ...................................................................................................... 6 
3 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO ................................................................................... 8 
4 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS .......................................................... 9 
4.1 Sistema agrícola ................................................................................................................. 13 
4.2 Bioma ................................................................................................................................... 13 
5 A HISTÓRIA DA AGRICULTURA E DOS SISTEMAS AGRÁRIOS MUNDIAIS ................ 14 
6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS .............................................................. 15 
7 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA ........................................... 17 
8 DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA) .......................................................... 18 
8.1 O Diagnóstico do Sistema Agrário da Região ..................................................................... 18 
8.2 Os Objetivos do diagnóstico do sistema agrário da região ............................................... 19 
8.3 O que estudar/observar no diagnóstico do sistema agrário ............................................. 21 
8.4 As principais etapas dos procedimentos da ADSA ........................................................... 21 
9 DIAGNÓSTICO DO Sistema de Produção............................................................................. 23 
9.1 Do que trata o diagnóstico do sistema de produção ..................................................... 24 
9.2 Para que serve o Diagnóstico .......................................................................................... 24 
9.3 As partes que compõem o diagnóstico dos sistemas de produção ................................. 25 
10 O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA .................................................................................. 25 
10.1 O Estudo das práticas e técnicas do agricultor ............................................................. 26 
11 DINÂMICA DOS SISTEMAS AGRÁRIOS ............................................................................... 27 
12 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA ...................................................................................... 29 
12.1 Sistemas agrícolas sustentáveis ...................................................................................... 32 
13 A AGRICULTURA E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ........................................................... 38 
13.1 Considerações acerca da organização do espaço ........................................................ 40 
14 RISCOS NA AGRICULTURA .................................................................................................... 42 
14.1 Riscos associados ................................................................................................................. 44 
14.2 Gestões integrada de risco .................................................................................................. 46 
15 A EVOLUÇAO DA AGRICULTURA ......................................................................................... 47 
16 O IMPACTO DA AGRICULTURA SOBRE O MEIO AMBIENTE ....................................... 49 
17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 53 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
4 
 
2 SISTEMAS AGRÁRIOS 
 
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 
 
De acordo com Philereno (2007), a noção de sistemas agrários nos permite 
estudar e formular diagnósticos sobre sua evolução em curso e propor linhas de 
desenvolvimento apropriadas e equilibradas ao meio estudado. 
 
Para BERTALANFFY (1973 p.17 apud PHILERENO, 2007), “os sistemas 
estão em toda parte, e a aplicação de uma teoria geral de sistemas, fornece 
as bases para um entendimento interdependente de variáveis que, 
aparentemente, parecem estar desconectadas. No que concerne aos 
sistemas sociais na agricultura. 
 
Desta forma o sistema agrário contém elementos que refletem relações de 
dependência existentes entre as categorias sociais agrárias numa determinada 
sociedade rural, tais como: relações de concorrência e de complementaridade, sendo 
importante estabelecer a noção de sistema agrário permitindo a análise de suas 
atividades agrícolas na sociedade e de suas relações técnicas, econômicas e de 
diálogo dentro de um mesmo território (PHILERENO, 2007). 
Segundo Lima (2005), o conceito de sistema agrário é um instrumento 
intelectual que permite apreender a complexidade de toda a forma de agricultura real, 
por meio da análise metódica da sua organização e do seu funcionamento. Este 
http://www.brasilescola.uol.com.br/
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
5 
 
conceito permite também classificar as inúmeras formas de agricultura identificáveis 
no passado, ou atualmente observáveis, num número limitado de sistemas, 
caracterizados por um gênero de organização e funcionamento. 
 
A teoria da evolução dos sistemas agrários é um instrumento que permite 
representar as incessantes transformações da agricultura de uma região do 
mundo como uma sucessão de sistemas distintos, que constituem outras 
tantas etapas de uma série histórica definida. Finalmente, a teoria da 
diferenciação dos sistemas agrários é um instrumento que permite apreender 
suas grandes linhas e explicar a diversidade geográfica da agricultura, numa 
determinada época (LIMA, 2005). 
 
Ainda segundo Lima (2005), a Teoria dos Sistemas Agrários é uma teoria 
sistêmica. Analisar e conceber um objeto complexo em termos de sistema é 
primeiramente delimitá-lo, isto é, traçar uma fronteira (teórica) entre o objeto e o resto 
do mundo. 
Significa distingui-lo de outros objetos que são da mesma natureza, mas que 
são também suficientemente diferentes para serem considerados como pertencentes 
a uma outra espécie do mesmo objeto. Assim, diferenciar as múltiplas formas atuais, 
observáveis, de agricultura implica classificá-las em tantas espécies (ou sistemas)quantas forem necessárias para delimitar sua repartição geográfica. De outra parte, 
considerar a estrutura de um objeto complexo é concebê-lo como uma combinação 
de subsistemas hierarquizados e interdependentes (LIMA, 2005). 
Segundo Lima (2005), assim concebido, um sistema agrário é uma expressão 
teórica de um tipo de agricultura histórica e geograficamente situado, constituído de 
uma combinação de espécies (selvagens e domésticas) de um determinado meio 
ecológico, explorado por unidades de produção, onde seres humanos desenvolvem 
atividades produtivas, com ajuda de instrumentos de trabalho. Dada esta combinação 
biológica e social, um sistema agrário corresponde a um modo específico de 
exploração de um ecossistema, resultante de profundas transformações históricas e 
de adaptações geográficas em larga escala, visando à obtenção de produtos 
biológicos de interesse do homem. 
É considerado um sistema complexo composto de um agroecossistema e de 
um subsistema social produtivo definido, que mantém relações de troca com um meio 
ambiente ecológico, socioeconômico e institucional (LIMA 2005). 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
6 
 
2.1 Teoria dos sistemas agrários 
A teoria dos sistemas agrários disponibiliza os elementos teóricos capazes 
de apreender a complexidade de cada forma de agricultura e de perceber, 
em grandes linhas, as transformações históricas e a diferenciação geográfica 
das diferentes formas de agricultura implementadas pela humanidade 
(MIGUEL, 1987). 
 
Para compreender o que é um sistema agrário, é preciso, em princípio, 
distinguir, de um lado, a agricultura tal qual ela é efetivamente praticada, conforme se 
pode observar, o que constitui um objeto real de conhecimento; e, por outro lado, o 
que o observador pensa desse objeto real e o que diz sobre ele, o que forma um 
conjunto de conhecimentos abstratos, que podem ser metodicamente elaborados para 
constituírem um verdadeiro objeto concebido, ou objeto teórico de conhecimento e de 
reflexão (MIGUEL, 1987), 
De acordo com Filho et al. (2018), a teoria dos sistemas agrários aborda a 
complexidade das formas de agriculturas, composta por um meio cultivado, unidades 
de produção que variam entre distintas localidades e que mudam de uma época para 
outra. Apesar, no entanto, da diversidade de formas de agricultura, observa-se que, 
em determinada região e época, tais formas são suficientemente semelhantes, o que 
possibilita sua classificação em categorias. 
Segundo Mazoyer e Roudart (1998 apud Filho et al. 2018): Ora, analisar e 
conceber um objeto complexo em termos de sistema é, antes de tudo, delimitá-lo, isto 
é, traçar uma fronteira, virtual, entre esse objeto e o resto do mundo, e é considerá-lo 
como um todo, composto de subsistemas hierarquizados e interdependentes. Assim, 
analisar e conceber em termos de sistema agrário a agricultura praticada num 
momento e espaço determinados consiste em decompô-la em dois subsistemas 
principais, o ecossistema cultivado e o ecossistema social produtivo, em estudar a 
organização e o funcionamento de cada um desses sistemas, em estudar suas inter-
relações. 
2.2 Classificação dos sistemas 
Para Trist (1970 apud PORTO, 2003), citado por Silva (1973 apud PORTO, 
2003), os sistemas podem ser classificados como fechados ou abertos. Nos sistemas 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
7 
 
fechados, os elementos componentes mantêm relações entre si, mas não efetuam 
trocas com o meio exterior. Os sistemas fechados são bem representados pelos 
sistemas estudados pela física e pela química (Bertalanffy, 1977 apud PORTO, 2003). 
De acordo com Porto (2003), porém este autor chama a atenção que, mesmo 
na física, alguns sistemas tendem para a máxima desordem não alcançando o 
equilíbrio, característica dos sistemas fechados. Nos sistemas abertos, representados 
pelos organismos vivos e os socioculturais, as relações que se passam no seu interior 
mantêm trocas com o meio exterior em que se encontram inseridos, as quais, por sua 
vez, influenciam o comportamento dos elementos componentes dos sistemas, que por 
seu turno, repercutem no ambiente externo. 
 
Segundo Buckley (1976 apud Porto 2003), a resposta do sistema fechado a 
uma intromissão externa (ambiental, social, cultural ou econômica) é a sua 
desorganização ou uma mudança no sentido de sua dissolução. Entretanto, 
às vezes, conforme a natureza e força da intromissão, o sistema pode passar 
a um novo nível de equilíbrio. O sistema aberto, por sua vez, responde às 
intromissões externas mudando a sua estrutura para um nível mais complexo 
com condições de elaborar as intromissões. 
 
Para Buckley (1976 apud Porto, 2003), o equilíbrio consiste na maneira pela qual 
estão inter-relacionados os elementos de um sistema: uma mudança num elemento 
resulta numa mudança em outros, que a neutralizam e o trazem de volta ao estado 
original. 
De acordo com Porto (2003), pelo exposto, podemos concluir que a 
diferenciação entre ambos está no conceito de equilíbrio. Enquanto o sistema fechado 
alcança seu ponto de equilíbrio, o sistema aberto, por estar elaborando 
constantemente as intromissões externas, não reúne ou não tem as condições 
necessárias para alcançar seu equilíbrio. 
 Para Bertalanffy (1977 apud Porto, 2003), a variação da entropia nos sistemas 
fechados é sempre positiva, por conseguinte a ordem é continuamente destruída. Nos 
sistemas abertos, além da produção da entropia dá-se a importação de entropia, que 
pode ser negativa. Assim, os sistemas abertos evitam o aumento de entropia 
mantendo-se em um estado estacionário e podem desenvolver-se mesmo no sentido 
de estados de ordem e organização crescentes. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
8 
 
3 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO 
Um sistema agrário é, antes de tudo, um modo de exploração do meio 
historicamente constituído, um sistema de forças de produção, um sistema técnico 
adaptado às condições bioclimáticas de um espaço determinado, que responde às 
condições e às necessidades sociais do momento (NEUMANN; FIALHO, 2019). 
Um modo de exploração do meio que é o produto específico do trabalho 
agrícola, utilizando uma combinação apropriada de meios de produção inertes e 20 
meios vivos para explorar e reproduzir um meio cultivado, resultante das 
transformações sucessivas sofridas historicamente pelo meio natural (MAZOYER, 
1987 apud NEUMANN; FIALHO, 2019). 
De acordo com (Mazoyer, 1987 apud Neumann e Fialho 2019), poderíamos, 
então, definir um sistema agrário como uma combinação das seguintes variáveis 
essenciais: 
• o meio cultivado – o meio original e as suas transformações históricas -; 
• os instrumentos de produção – as ferramentas, as máquinas, os materiais 
biológicos (as plantas cultivadas, os animais domésticos, etc.) - e a força de trabalho 
social (física e intelectual) que os utiliza; 
• o modo de “artificialização” do meio que disso resulta (a reprodução e a 
exploração do ecossistema cultivado); 
• a divisão social do trabalho entre a agricultura, o artesanato e a indústria que 
permite a reprodução dos instrumentos de trabalho e, por conseguinte; 
 • os excedentes agrícolas, que, além das necessidades dos produtores, 
permitem satisfazer as necessidades dos outros grupos sociais; 
 • as relações de troca entre os ramos associados, as relações de propriedade 
e as relações de força que regulam a repartição dos produtos do trabalho, dos bens 
de produção e dos bens de consumo e as relações de troca entre os sistemas 
(concorrência); 
• o conjunto das ideias e das instituições que permite assumir a reprodução 
social: produção, relações de produção e de troca, repartição do produto, etc. 
 É graças a esse conceito que podemos apreender e caracterizar as mudanças 
de estado de uma agricultura e as mudanças qualitativas das variáveis e de suas 
relações e desenvolver uma teoria que permite distinguir, ordenar e compreender os 
CURSODE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
9 
 
grandes momentos da evolução histórica e a diferenciação geográfica dos sistemas 
agrários. 
O conceito de sistema agrário vem sendo desenvolvido por meio de uma 
abordagem sistêmica evolução histórica e da diferenciação geográfica da agricultura 
(Mazoyer & Roudart, 1998; Silva Neto & Basso, 2005 apud Santos et al 2007). 
Este conceito pode ser aplicado com objetivos específicos os mais diversos, 
que vão desde estudos puramente acadêmicos até a definição de intervenções para 
a promoção do desenvolvimento. Nestes estudos fica claro que a grande diversidade 
da dinâmica dos sistemas agrários deve-se ao seu caráter complexo e evolutivo (Silva 
Neto, 2005 apud Santos et al 2007). 
No entanto, poucos são os autores que tem procurado estabelecer uma relação 
mais direta entre a interpretação da evolução da agricultura baseada no conceito de 
sistemas agrários e os resultados de estudos mais recentes sobre a complexidade 
(SANTOS et al 2007). 
4 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS 
Segundo Hirakuri et al. (2012), Com uma tipologia baseada em escala 
geográfica, padronizou-se as seguintes definições de sistemas no cenário 
agropecuário: 
✓ Sistema de cultivo; 
✓ Sistema de produção; 
✓ Sistema agrícola; 
✓ Bioma. 
O sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo associadas a uma 
determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação lógica e 
ordenada de um conjunto de atividades e operações. No caso da produção animal, 
esse processo é chamado de sistema de criação. O fluxograma ilustra etapas que 
geralmente compõe um sistema de cultivo de soja, complementadas pelas atividades 
de planejamento e de pós-colheita (HIRAKURI, et al. 2012). 
Segundo (HIRAKURI, et al. 2012), o sistema de produção é composto pelo 
conjunto de sistemas de cultivo ou de criação no âmbito de uma propriedade rural, 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
10 
 
definidos a partir dos fatores de produção (terra, capital e mão-de-obra) e interligados 
por um processo de gestão. 
Ainda segundo Hirakuri, et al. (2012), os sistemas de produção foram 
classificados pela complexidade e pelo grau de interação entre os sistemas de cultivo 
e/ou de criação, que formam tais sistemas de produção. Em relação a sua 
complexidade, os sistemas de produção podem ser classificados como: 
a) Sistema em monocultura ou produção isolada: ocorre quando, em uma 
determinada área, a produção vegetal ou animal se dá de forma isolada em um 
período específico, que normalmente é categorizado por um ano agrícola. 
b) Sistema em sucessão de culturas: ocorre quando se tem a repetição sazonal 
de uma sequência de duas espécies vegetais no mesmo espaço produtivo, por vários 
anos. 
c) Sistema em rotação de culturas: ocorre por meio da alternância ordenada, 
cíclica (temporal) e sazonal de diferentes espécies vegetais em um espaço produtivo 
específico. 
d) Sistema em consorciação de culturas ou policultivo. 
e) Sistema em integração: ocorre quando sistemas de cultivo/criação de 
diferentes finalidades (agricultura ou lavoura, pecuária e floresta) são integrados entre 
si, em uma mesma gleba, com o intuito de maximizar o uso da área e dos meios de 
produção, e ainda diversificar a renda. 
De acordo com Hirakuri, et al. (2012), Nesse contexto, destacam-se quatro 
possíveis tipos de sistemas integrados: 
• Lavoura-pecuária (Ex.: milho e braquiária ou girassol e braquiária). Nesses 
exemplos, é importante frisar que, caso a braquiária não seja utilizada para pastejo, e 
sim para outros fins, como por exemplo, a formação de palhada no sistema plantio 
direto (SPD), esse sistema de produção não se caracteriza como integração e sim 
como consórcio. 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
11 
 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
• lavoura-floresta (Ex.: soja nas entrelinhas do eucalipto); 
 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
• pecuária-floresta (Ex.: gado sobre pastagem em reflorestamento de 
eucalipto) 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
12 
 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
• lavoura-pecuária-floresta (Ex.: cultivo de milho seguido de pastagem com 
entrada de bovinos em área de eucalipto). 
 
Fonte: nisseymaquinas.com.br 
Em relação ao grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação 
(subsistemas) que formam um determinado sistema de produção, este pode 
didaticamente ser classificado em: (HIRAKURI, et al. 2012) 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
13 
 
4.1 Sistema agrícola 
O sistema agrícola refere-se à organização regional dos diversos sistemas de 
produção vegetal e/ou animal, que considera as peculiaridades e similaridades desses 
diferentes sistemas (HIRAKURI, et al. 2012). 
O sistema agrícola desenvolvido pelas comunidades ao longo do Rio Negro, da 
cidade de Barcelos até o Alto Rio Negro, apresenta expressivas particularidades. A 
primeira delas se refere ao contexto multiétinico, e multilinguístico, no qual esse 
sistema agrícola é elaborado e constantemente atualizado. Apesar dessas 
especificidades étnicas, existe um expressivo compartilhamento de padrões culturais 
relacionados às formas de transmissão e circulação desses saberes, práticas e 
produtos (Um patrimônio, 2009 apud EIDT; UDRY, 2019). 
Essa organização deve permitir a construção de modelos e arranjos produtivos 
que descrevam da forma mais acurada possível, os sistemas de produção 
predominantes na região (HIRAKURI, et al. 2012). 
4.2 Bioma 
O bioma se refere o espaço físico onde os sistemas agrícolas estão inseridos. 
 
Fonte: HIRAKURI, et al. (2012). 
Segundo HirakuriI, et al. (2012), é importante salientar que o bioma não 
representa um conjunto de sistemas agrícolas. Entende-se por bioma um conjunto de 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
14 
 
vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos 
e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história 
compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria 
(IBGE, 2004). Ressalta- -se que as características geoclimáticas de cada bioma 
influenciam significativamente na conformação dos sistemas agrícolas, podendo 
limitar determinados sistemas de cultivo ou de criação. 
5 A HISTÓRIA DA AGRICULTURA E DOS SISTEMAS AGRÁRIOS MUNDIAIS 
De acordo com Neumann; Fialho (2019), nos dias atuais, ao se falar em 
agricultura, pensamos em atividades agrícolas tecnologicamente avançadas, 
mediante o uso de equipamentos de última geração, isto é, em atividades quase que 
totalmente automatizadas. Ledo engano, pois, segundo Mazoyer e Roudart (2001 
apud NEUMANN; FIALHO, 2019), aproximadamente 80% dos agricultores da África e 
entre 40 e 60% dos agricultores da América Latina e da Ásia trabalham unicamente 
com equipamentos manuais e não chega a 30% o total daqueles que dispõem de 
tração animal para auxiliar na atividade produtiva agrícola. 
Os autores afirmam que a agricultura moderna está longe de conquistar o 
mundo, já que à nossa volta observamos que o acesso a tecnologias modernas é para 
poucos. E, quando tratamos especificamente de agricultura familiar, essa constatação 
é fortalecida, visto que os avanços tecnológicos para a atividade produtiva estão longe 
do bolso e da realidade da agricultura de base familiar (NEUMANN; FIALHO, 2019). 
Segundo Neumann; Fialho (2019): 
 
A diversidade de formas de exploração da terra para a atividade produtiva 
agrícola é muito grande, são inúmeros condicionantes que motivam formas 
distintas, principalmente porque nós precisamos nos adaptar às condições 
naturais e também culturais que por séculos determinam como trabalhar a 
terra em cada região. 
 
Ainda segundo Neumann; Fialho (2019), para acompanhar um pouco desse 
processo de transformação e desenvolvimento da agricultura, retornaremos à gênese 
dos primeiros sistemas de cultivo e de criação, mais especificamente há pouco menos 
de 10.000anos – período neolítico, em que a agricultura era praticada nas 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
15 
 
proximidades das habitações e com o aproveitamento de áreas inundadas por 
grandes volumes de água (aluvião). Essas áreas passavam por um processo natural 
de fertilização, já que as águas traziam matéria orgânica de outras regiões. 
Segundo Mazoyer e Roudart (2001 apud Neumann; Fialho 2019), essa forma 
de utilização da terra (agricultura neolítica) espalhou-se pelo mundo sob duas formas 
principais: 
a) sistema de criação de gado pastoril: atividade realizada em regiões de 
campo – Eurásia Setentrional, Ásia Central, Oriente, no 
Saara, nos Andes, etc.; 
b) sistema de cultivo em terrenos desflorestados-queimados: praticado nas 
florestas tropicais e temperadas como na África, Ásia e 
América Latina. 
Os sistemas de cultura do período neolítico, sobre terrenos desflorestados- 
queimados, deram origem a sistemas agrários pós-florestais como, por exemplo, os 
de tipo agrário-hidráulicos, de savanas, de cere ali cultura pluvial, de pousio com 
pastagem e de criação de gado associadas, etc. Foram diversos os períodos 
sucessivos até chegarmos ao contexto atual da agricultura no mundo – degradação 
ambiental, monocultura, crise de alimentos, uso intensivo de insumos químicos, entre 
outros (NEUMANN; FIALHO, 2019). 
6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS 
De acordo com Ferreira (2001), o diagnóstico de uma realidade rural deve 
captar a complexidade e a diversidade que, geralmente, caracterizam a atividade 
agrícola e o meio rural. Os agroecossistemas constituem-se em um primeiro fator de 
complexidade, que representam potenciais ou que impõem limitações às atividades 
agrícolas. 
A forma como as sociedades utilizam o meio natural representa um esforço de 
adaptação ao ecossistema, buscando explorar da melhor maneira o seu potencial ou 
vencer os obstáculos. Este modo de utilização do espaço evoluiu ao longo da história 
em razão dos fatos que se relacionam entre si, sejam eles ecológicos, técnicos ou 
econômicos (FERREIRA, 2001). 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
16 
 
Assim, os agroecossistemas cultivados são produto da história, da ação 
passada e presente, bem como das sociedades agrárias onde eles se inserem. Essas 
sociedades são diferenciadas, ou seja, são compostas de classes sociais que mantêm 
relações sociais, econômicas e de troca entre si. A ação de cada um depende da ação 
e reação dos outros, assim como do seu entorno ambiental, social e econômico. Este 
fato constitui-se em um outro fator da complexidade do estudo da realidade rural 
(FERREIRA, 2001). 
Ainda de acordo com Ferreira (2001), 
 
Na agricultura pode-se identificar a existência de diversos tipos de 
produtores, que se diferenciam suas condições socioeconômicas, por seus 
critérios de tomada de decisão e pelas práticas agrícolas que empregam. 
Essa diversidade pode ser identificada no interior de uma mesma categoria 
de produtores, pois nem todos possuem a mesma forma de acesso à terra, 
aos recursos naturais, ao crédito rural, aos serviços e as políticas públicas, 
assim como também não apresentam o mesmo nível de capitalização, o 19 
mesmo modo de organização e de se relacionar com os agentes sociais em 
seu entorno. 
 
 Ainda que se considerem as culturas e criação isoladamente, a atividade 
agrícola é complexa e por combinar os diferentes recursos à disposição do agricultor 
com um conjunto de práticas agrícolas, como por exemplo, preparo do solo, 
fertilização, controle de doenças e de ervas daninhas, colheita, comercialização. 
Assim, a complexidade e a diversidade podem ser encontradas até mesmo nas 
unidades de produção agrícola especializadas e que praticam a monocultura. Como 
se viu anteriormente, a evolução de cada tipo de agricultor e de sistemas de produção 
foi determinada por um conjunto complexo de fatores ecológicos, técnicos, sociais e 
econômicos que se relacionaram entre si ao logo da história. É essa complexidade e 
diferenciação que cabe compreender na análise-diagnóstico de uma realidade rural 
(INCRA/FAO, 1999 apud FERREIRA, 2001). 
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17 
 
7 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA 
Segundo Santos et al. (2007), originado como uma transformação das 
primeiras formas de agricultura desenvolvidas pelo homem durante a Revolução 
Neolítica, os sistemas agrários de derrubada e queimada são tipicamente florestais. 
Assim, por meio da derrubada e, após um período de secagem natural, a 
queima dos restos vegetais, os nutrientes acumulados na grande quantidade de 
biomassa, característica desses ecossistemas, são disponibilizados às culturas 
(SANTOS et al. 2007). 
Dessa forma a agricultura pode se estabelecer mesmo sobre solos 
relativamente pobres, desde que as culturas sejam precedidas por um período 
suficientemente longo para que a biomassa acumule os nutrientes necessários à 
sustentação de um próximo ciclo cultural (SANTOS et al. 2007). 
Como as florestas se constituem de plantas com baixa capacidade de 
colonização, a ocorrência de plantas invasoras nos primeiros 8 anos de cultura é muito 
baixa. Tal característica, aliada à grande eficiência da queimada na eliminação da 
vegetação espontânea, torna os sistemas agrários de derrubada e queimada pouco 
exigentes em trabalho (SANTOS et al. 2007). 
 Ainda de acordo com Santos et al (2007), além disso, estes sistemas agrários 
podem ser praticados com um mínimo de meios de produção, cuja fabricação pode 
ser realizada até sem o conhecimento da metalurgia. 
 
Em suma, os sistemas agrários de derrubada e queimada constituem-se em 
formas de agricultura com produtividades do trabalho relativamente elevadas, 
pouco exigentes em técnicas para a confecção de ferramentas, que podem 
ser realizadas com um mínimo de meios de produção e bastante eficientes 
na mobilização da fertilidade natural dos ecossistemas florestais, o que os 
torna altamente sustentáveis, sob condições sociais adequadas (como livre 
acesso à terra e densidades demográficas relativamente baixas). (SANTOS 
et al. 2007). 
 
Portanto, não é de se admirar que os sistemas agrários de derrubada e 
queimada estão entre as formas de agricultura que mais se disseminaram no mundo, 
sendo ainda hoje encontrados (SANTOS et al. 2007). 
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18 
 
8 DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA) 
Segundo Neto (2007), a “Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários” (ADSA) é 
um método de estudo da agricultura concebido para o estabelecimento de linhas 
estratégicas de desenvolvimento local relacionadas ao setor agropecuário. Tal método 
foi elaborado especificamente para ser aplicado em países do terceiro mundo, cujos 
complexos problemas agrícolas, normalmente associados a técnicas pouco usuais em 
relação aos padrões ocidentais e a grandes dificuldades de intervenção do poder 
público, tornam a elaboração de projetos de desenvolvimento uma tarefa 
extremamente difícil. 
A propósito, embora a ADSA esteja fundamentada em uma sólida interpretação 
da evolução da agricultura, proposta por Mazoyer e Roudart (1997 apud NETO, 2007), 
sendo neste sentido também discutida por Dufumier (1996; 2004 apud NETO, 2007), 
sua aplicação, de um ponto de vista estritamente científico, é ainda sujeita a 
controvérsia, uma vez que seus procedimentos diferem substancialmente dos 
propostos pelos métodos usuais de pesquisa. 
8.1 O Diagnóstico do Sistema Agrário da Região 
Segundo Neumann; Fialho, (2019), a questão a ser colocada antes mesmo se 
iniciar o estudo é: para um perfeito entendimento do objeto de estudo é necessário ter 
algum conhecimento prévio do sistema agrário local? Qual a abrangência territorial 
desse sistema agrário? Na análise-diagnóstico de sistemas agrários, a definição de 
região, e consequentemente, da abrangência territorial a ser coberta pelo estudo, não 
é rígida. 
 A definição e a delimitação daregião dependem da complexidade e do 
problema a ser analisado. Assim, a região pode ser entendida como o entorno de uma 
unidade de produção em particular, a área de abrangência de um único município ou 
mesmo ainda a área de abrangência de vários municípios (como, por exemplo, os 
Conselhos Regionais de Desenvolvimento - COREDEs). Na maior parte das vezes, a 
região é compreendida como o espaço agrário como qual se deseja trabalhar ou que 
será o objeto das ações a serem desenvolvidas. Assim, nos estudos com o enfoque 
sistêmico, a delimitação da área territorial abrangida não é necessariamente fixa e 
pode ser revista no decorrer do andamento dos estudos (pelas sucessivas etapas de 
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19 
 
aproximação ao objeto de estudo), de forma a adequá-la aos objetivos inicialmente 
propostos (NEUMANN; FIALHO, 2019). 
Entretanto, por menor que seja o espaço agrário abrangido pelo conceito de 
região utilizado, dificilmente ele se apresentará homogêneo. Na maioria das vezes, 
uma região é composta de espaços que apresentam características naturais e de 
ocupação completamente distintos. Essas diferenças naturais e históricas influenciam 
e determinam de maneira diferente as atividades produtivas e as técnicas utilizadas 
pelos agricultores que, por sua vez, acabam também eles mesmos (os agricultores) 
se diferenciando uns dos outros (o processo constante de diferenciação). Em 
consequência, as formas de exploração dos espaços agrários são, em geral, 
heterogêneas (GARCIA FILHO,1999 apud NEUMANN; FIALHO, 2019). 
Uma das motivações para a elaboração dos procedimentos da ADSA foi a 
constatação das dificuldades provocadas por uma estratégia comum adotada em 
estudos que visam a apoiar ações de desenvolvimento. É que muitas vezes, a partir 
de uma definição por demais vaga e abrangente das variáveis pertinentes ao estudo 
procura-se, logo de início, obter o máximo de informações possíveis sobre a situação, 
o que em geral ocasiona grandes dificuldades no tratamento de dados e, quase 
sempre, leva à conclusão de que os dados mais pertinentes à pesquisa não foram 
obtidos. Segue-se assim uma nova rodada de coleta de dados, muitas vezes com 
recursos adicionais e com atrasos no cronograma da pesquisa, e com novas 
dificuldades de tratamento, a qual leva a novas coletas, etc. Dessa forma muitas 
pesquisas sobre situações concretas de desenvolvimento da agricultura, bastante 
promissoras, terminam sem apresentar resultados consistentes (NETO, 2007). 
8.2 Os Objetivos do diagnóstico do sistema agrário da região 
Segundo (NEUMANN; FIALHO, 2019) os objetivos dos diagnósticos são: 
• Identificar e localizar no espaço os grandes modos de exploração do 
meio ambiente, isto é, identificar as principais zonas agro ecológicas da 
região em foco (zoneamento); 
• Reconstruir a trajetória histórica da agricultura da região, buscando 
entender a relação existente entre as mudanças socioeconômicas e as 
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20 
 
mudanças técnicas e identificar os fatores que provocaram as 
diferenciações entre as distintas zonas e entre os agricultores; 
• Compreender a dinâmica atual da região através da análise dos 
elementos ecológicos, técnicos e sociais, suas potencialidades e os 
fatores limitantes ao seu desenvolvimento. 
 
Assim, os estudos baseados na ADSA são realizados a partir de uma rigorosa 
hierarquização das análises em função da sua abrangência, iniciando pelos seus 
níveis mais amplos. Segundo a ADSA, o estudo deve inicialmente se concentrar nos 
aspectos mais gerais da realidade a ser estudada e só passar a aspectos mais 
específicos após uma síntese que permita formular quais são as variáveis mais 
pertinentes a serem analisadas (ou questões mais importantes a serem respondidas), 
no nível imediatamente inferior. Tal síntese é efetuada pela organização e análise da 
coerência das informações obtidas, sendo retidas apenas aquelas consideradas 
imprescindíveis para explicar a realidade observada, e não para descrevê-la, no nível 
de abrangência em questão (NETO, 2007). 
O contraste entre, por um lado, um procedimento desenvolvido segundo o 
princípio de efetuar as análises “do geral para o particular”, como na ADSA e, por outro 
lado, os procedimentos normalmente adotados em outras pesquisas, pode ser 
ilustrado pela representação das configurações possíveis do desenvolvimento de uma 
região por meio de uma árvore de possibilidades (NETO, 2007). 
 
Fonte: Silva Neto et al (2003) 
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21 
 
Já um procedimento baseado na ADSA consistiria em analisar cada nível, 
separada e progressivamente, procurando responder apenas àquelas questões que 
parecem ser as mais pertinentes (que são frequentemente as mais óbvias). No 
momento em que as principais questões relativas àquele nível foram respondidas de 
forma satisfatória realiza-se uma síntese que permita que a análise a ser efetuada no 
nível posterior se concentre em apenas alguns ramos da árvore de possibilidades 
(NETO, 2007). 
Assim, concentrando-se nas informações claramente mais pertinentes, mais no 
objetivo de descartar possibilidades do que de responder definitivamente às questões, 
pode-se progressivamente definir a configuração do desenvolvimento de uma região 
no nível de detalhe desejado de forma eficiente e rigorosa (NETO, 2007). 
8.3 O que estudar/observar no diagnóstico do sistema agrário 
Segundo Neumann e Fialho (2019), o Diagnóstico do Sistema Agrário da Região 
é composto por três estudos distintos e integrados: 
a) Caracterização das condições naturais e socioeconômicas da região; 
b) Análise da trajetória histórica da região; 
c) Identificação e caracterização da heterogeneidade do espaço territorial 
(Zoneamento). 
8.4 As principais etapas dos procedimentos da ADSA 
Segundo neto (2007) define: 
1° Etapa – Caracterização do Processo de Desenvolvimento da Agricultura da 
Região 
Esta etapa compreende o estudo das condições agroecológicas e 
socioeconômicas da região delimitada, consistindo: 
✓ Na análise geral da região, como localização, população total e rural, principais 
setores econômicos, principais atividades agropecuárias, Índice de 
Desenvolvimento Humano (IDH) ou Índice de Desenvolvimento Social 
Municipal (IDSM), nível médio de renda e grau de desigualdade social e 
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22 
 
econômica (por meio da estrutura fundiária e do índice de Gini da renda, se 
disponíveis); 
✓ Na definição de zonas homogêneas do ponto de vista das condições para as 
atividades agropecuárias (clima, solo, infraestrutura, etc.); 
✓ Na análise da trajetória de evolução e diferenciação interna do setor 
agropecuário da região; 
2° Etapa – Tipologia dos Sistemas de Produção Agropecuária 
Nesta etapa as unidades de produção agropecuária da região são agrupadas 
em tipos, decorrentes da análise dos processos de diferenciação identificados na 
etapa anterior. Assim, vale lembrar que uma tipologia é uma resposta a um 
questionamento que se coloca ao nível do conjunto das unidades de produção de uma 
região, a partir da análise da sua história. No caso da ADSA, a tipologia visa a agrupar 
as unidades de produção em função das diferentes formas de organização da 
produção (sistemas de produção) adotadas pelos agricultores para assegurar a sua 
reprodução social ao longo do tempo. 
Nesta etapa também são realizadas a caracterização técnica e a avaliação 
econômica dos sistemas de produção, visando a esclarecer a capacidade de 
reprodução social de cada tipo. 
3° Etapa – Definição de Linhas Estratégicas de Desenvolvimento 
Inicialmente procura-se avaliar as possibilidades de melhorar as condições 
para a reprodução econômica das explorações em função do tipo de sistema de 
produção adotado. Após, a partir da caracterização técnica e das avaliações 
econômicas da etapa anterior, é possível identificar atividades ou técnicas quepossam contribuir para um aumento da produtividade e da renda dos agricultores, 
respeitando-se os estrangulamentos anteriormente detectados em cada tipo de 
sistema de produção analisado. 
 Com base nestes resultados são definidas alternativas de ação técnica, 
organizacional, gerencial e de políticas públicas para o desenvolvimento dos 
diferentes tipos de unidades de produção, bem como estratégias de intervenção no 
processo de desenvolvimento local. É interessante salientar que tais alternativas 
devem ser avaliadas tanto do ponto de vista financeiro no âmbito das unidades de 
produção (por meio de fluxos financeiros baseados no potencial de renda gerada 
pelas atividades) quanto do ponto de vista do interesse econômico geral da sociedade 
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23 
 
(por meio da análise do potencial de agregação de valor das atividades) (NETO, 
2007). 
9 DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO 
Segundo Neumann e Fialho (2019), o objetivo desta unidade é a análise detalhada 
dos sistemas de produção agrícolas predominantes em cada microrregião, sendo a 
escala de análise a Unidade de Produção Agrícola (UPA). A análise irá avaliar as 
possibilidades de reprodução dessas unidades de produção em função da lógica de 
organização da produção adotada. Nesse sentido, serão identificados e avaliados os 
estrangulamentos e as potencialidades de cada sistema, bem como a identificação 
das alternativas de ação técnica, organizacional, gerencial e de políticas públicas para 
o desenvolvimento sustentável dos diferentes tipos de unidade de produção. 
Nesta etapa, são selecionadas (amostra intencionalizada) unidades de produção 
representativas de cada sistema de produção, onde são coletadas informações, 
através de um instrumento denominado “enquete”, sobre as características estruturais 
das unidades, o funcionamento do sistema de produção e a trajetória histórica da 
unidade e os objetivos do produtor e sua família. Esta é sem dúvida a etapa mais 
trabalhosa do procedimento, pelo número de informações a coletar em cada unidade 
de produção e pelo número de análises a serem realizadas (NEUMANN; FIALHO, 
2019). 
 
Segundo Silva (2012), os produtores em geral necessitam de um 
assessoramento administrativo, visando uma maior geração de renda na 
unidade de produção. As inúmeras experiências de trabalho, realizadas na 
área da administração rural, baseiam-se praticamente no método contábil. 
Porém este método exige procedimentos demorados e complexos, o que 
requer maior disponibilidade de tempo do produtor para a obtenção dos 
dados. 
 
Na atualidade, verifica-se um crescente interesse pela administração rural, 
normalmente por parte de técnicos e instituições que atuam na assistência técnica e 
extensão rural. Este fato está, certamente, associado às transformações que vêm 
ocorrendo nas condições de produzir na agricultura, nos últimos anos (SILVA, 2012). 
 
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24 
 
Conforme Dufumier (2010 apud et al Jaehn (2012), muitos projetos de 
desenvolvimento agrícola continuam sendo malsucedidos por causa do 
desconhecimento das condições e modalidades do desenvolvimento 
agrícola. Isso aponta para a real necessidade de um conhecimento prévio 
das realidades agrárias em que se pretende intervir, bem como das 
particularidades locais. Isso inclui conhecer as verdadeiras demandas, 
necessidades e problemas vivenciados pelos agricultores que compõem os 
sistemas agrários em estudo. 
 
Para os agricultores, essas transformações signicam a necessidade de adaptação 
ou reconversão dos seus sistemas de produção. Para as empresas e responsáveis 
ligados à agricultura, isso representa a necessidade de redefinição de suas 
estratégias e métodos de atuação para dar conta da nova problemática vivenciada 
pelos agricultores. Nesse contexto, a administração rural vem constituindo- -se em 
uma modalidade alternativa de trabalho para os técnicos e instituições (SILVA, 2012). 
Diante desses aspectos, torna-se importante e necessário considerar que uma 
unidade de produção é reprodutível quando fornece uma renda suficiente para que os 
agentes econômicos envolvidos possam se reproduzir socialmente, ou seja, a 
existência de certo patamar de renda, denominado Nível de Reprodução Social 
(NRS), o qual a unidade de produção deve atingir para que se mantenha na mesma 
categoria social ou se ascenda a outra mais capitalizada (SILVA, et al. 2019 apud 
Jaehn 2012). 
9.1 Do que trata o diagnóstico do sistema de produção 
De acordo com Neumann e Fialho (2019), 
✓ Entender o funcionamento global da unidade de produção (enquanto sistema 
de produção); 
✓ Entender a evolução da unidade e as condições de sua reprodução; 
✓ Pôr em evidência os problemas e dificuldades que encontram os agricultores 
na condução de sua propriedade. 
9.2 Para que serve o Diagnóstico 
De acordo com Neumann e Fialho (2019), 
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25 
 
✓ Para a elaboração de projetos de melhoria das unidades de produção 
✓ Para o aconselhamento técnico aos agricultores; 
✓ Para elaboração e execução de programas de desenvolvimento agrícolas 
9.3 As partes que compõem o diagnóstico dos sistemas de produção 
De acordo com Neumann e Fialho (2019), 
✓ Características estruturais do sistema de produção (ou da UPA); 
✓ Funcionamento do sistema (ou da UPA); 
✓ A trajetória do sistema de produção (ou da UPA). 
10 O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA 
É o estudo da gestão das glebas, distribuição das atividades, potencialidades e 
limitações. Desenhar um croqui da propriedade com descrição das áreas de lavoura, 
pastagens nativas, mato, açude, sede, etc. Não é necessário usar escala como 
referência, mas é importante que contenha a indicação da área (ha) e atividade 
desenvolvida em cada de cada espaço (NEUMANN; FIALHO, 2019). 
 
Cada unidade de produção é dividida em diferentes culturas que ao longo do 
tempo são gerenciadas pelo produtor com base em limites estáveis. Uma 
primeira divisão do território da UPA responde a um objetivo de utilização 
(chamaremos de parcelas de cultivo ou lavouras) e uma segunda divisão a 
um objetivo de gestão do espaço (chamaremos de glebas). Embora 
estreitamente interdependentes, são fundamentalmente diferentes. Unidades 
de utilização são divisões realizadas pelo agricultor segundo seu plano de 
cultura, e podem variar em número e tamanho segundo as estratégias 
utilizadas no ano agrícola (as parcelas de cultivo ou lavouras) (NEUMANN; 
FIALHO, 2019). 
 
Caracterizam-se assim, pela aplicação homogênea de um itinerário técnico. Já 
as unidades de gestão (as glebas), ao contrário, resultam de determinantes mais 
complexos, tais como os elementos do território, dos sistemas de cultura utilizados, 
dos limites naturais; e sua existência dificilmente se altera ao longo do tempo 
(NEUMANN; FIALHO, 2019). 
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26 
 
Assim, a utilização do território da UPA consiste em adaptar o sistema de 
cultura e os objetivos propostos aos meios disponíveis. Por isso a Unidade de 
Produção Agrícola raramente é constituída por um espaço homogêneo e único 
(integral), o agricultor divide a superfície segundo seus projetos, adaptados às 
características dificilmente modificáveis de seu terreno (NEUMANN; FIALHO, 2019). 
A gleba corresponde à unidade de gestão das unidades de produção. São 
divisões internas das terras da unidade de produção e, diferentemente das parcelas 
de cultivo, resultam de determinantes mais complexos, como elementos do território, 
dos sistemas de cultura utilizados, dos limites naturais existentes, etc. Sua existência 
dificilmente se altera ao longo do tempo (NEUMANN; FIALHO, 2019). 
10.1 O Estudo das práticas e técnicas do agricultor 
Ainda segundo Neumann e Fialho (2019), o estudo detalhado de cada 
operação desenvolvida em cada etapa da produção vegetal e animal, de forma a 
identificar e quantificar os insumos ou produtos utilizadosno processo produtivo. Na 
produção vegetal, o processo produtivo pode ser normalmente dividido em três 
etapas: 
• Plantio 
Manejo do solo para o plantio: Detalhar o tipo de manejo realizado (preparo 
convencional, plantio direto, época do manejo, área utilizada, quantidades e tipos de 
insumos utilizados, quantidade de dias de trabalho, gastos com combustível, etc.; 
- Reposição da fertilidade: tipo e quantidade de fertilizantes utilizados, tempo 
gasto com a operação, época, etc.; 
- Semeadura/plantio: época, densidade, variedade utilizada, gastos com 
combustível, tempo gasto com a operação. 
• Tratos culturais 
Adubação de cobertura: tipo e quantidade, época, combustível, tempo gasto 
com a operação, etc.; 
- Controle fitossanitário: tipos de controle realizados: doenças, pragas 
etc. Tipo e quantidade de produtos utilizados, gastos com combustível, tempo gasto 
com a operação, etc.; 
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27 
 
- Controle de inços: tipo de controle (mecânico, químico), número de 
operações, tipo e quantidade de produtos utilizados, gastos de combustível, tempo 
gasto nas operações, etc.; 
- Outros tratos culturais utilizados: detalhar outros manejos utilizados. 
• Colheita 
Tipo e período da colheita, tempo gasto, combustível, -- quantidade colhida, etc. 
Já a criação animal pode ser dividida em três manejos: 
- Manejo alimentar: detalhar alimentação de cada categoria animal: pastagens, 
rações, silagem, etc.; 
- Manejo sanitário: vacinas, controle de doenças, parasitas, etc.; 
- Manejo reprodutivo: caracterizar o tipo de reprodução. 
11 DINÂMICAS DOS SISTEMAS AGRÁRIOS 
Segundo Mazoyer e Roudart (2019), o desenvolvimento de um sistema agrário 
resulta da dinâmica de suas unidades de produção. Costumamos dizer que há 
desenvolvimento geral quando todos os tipos de unidades de produção agrícola 
progridem, adquirindo novos meios de produção, desenvolvendo suas atividades, 
aumentando suas dimensões econômicas e seus resultados. O desenvolvimento é 
inegável quando certas unidades progridem muito mais depressa que outras. No 
entanto, ele é contraditório quando certas unidades progridem enquanto outras estão 
em crise e regridem. 
A crise de um sistema agrário é considerada geral quando todos os tipos de 
unidades de produção regridem e tendem a desaparecer. Em certos casos, as 
unidades de produção agrícolas que progridem podem adotar novos meios de 
produção, desenvolver novas práticas e novos sistemas de cultura e de criação e, 
portanto, engendrar um novo ecossistema cultivável: assim emerge um novo sistema 
agrário. Chama-se revolução agrícola essa mudança no sistema agrário (MAZOYER; 
ROUDART, 2019). 
Ainda segundo Mazoyer e Roudart (2019), dessa forma, ao longo do tempo, 
podem nascer, desenvolver se, declinar e suceder-se, em uma dada região do mundo, 
sistemas agrários que constituem as etapas de uma série evolutiva característica 
daquela região. 
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28 
 
Por exemplo, a série evolutiva dos sistemas agrários hidráulicos do vale do Nilo 
(sistemas de cultivo em bacias hidráulicas e de cultivo de inundação de inverno, 
sistemas de cultivo irrigados em diferentes estações do ano); a série evolutiva dos 
sistemas agrários das regiões temperadas da Europa (sistemas de cultivo de 
derrubada-queimada; sistemas de cultivo com tração leve e alqueive associados à 
criação animal; sistemas de cultivo com tração pesada e alqueive associados à 
criação animal; sistemas de cultivo com tração pesada e sem alqueive associados à 
criação animal; sistemas motorizados, mecanizados e especializados); a série 
evolutiva dos sistemas hidroagrícolas das regiões tropicais úmidas; etc (MAZOYER; 
ROUDART, 2019). 
Segundo Mazoyer e Roudart (2019), 
 
A análise da dinâmica dos sistemas agrários nas diferentes partes do mundo 
e em diferentes épocas permite retomar o movimento geral de transformação, 
no tempo e no espaço, da agricultura e expressá-lo sob a forma de uma teoria 
da evolução e da diferenciação dos sistemas agrários. Outros objetos 
complexos, variados, animados e em evolução inspiraram análises e 
teorizações do mesmo tipo: classificação sistemática e teoria da evolução das 
espécies vivas; classificação e teoria da formação e da diferenciação zonal 
dos grandes tipos de solos; classificação e teoria da filiação das línguas; etc. 
Concebido desta forma, cada sistema agrário é a expressão teórica de um 
tipo de agricultura historicamente constituído e geograficamente localizado. 
Ele é composto de um ecossistema cultivado característico e de um sistema 
social produtivo definido, que permite explorar sustentavelmente a fertilidade 
do ecossistema cultivado correspondente. 
 
O sistema produtivo é caracterizado pelo tipo de instrumento e de energia 
utilizado para desmatar o ecossistema, para renovar e para explorar sua fertilidade. O 
tipo de instrumento e de energia utilizado é, por sua vez, condicionado pela divisão do 
trabalho hegemônico na sociedade da época (MAZOYER; ROUDART, 2019). 
 Um sistema agrário não pode ser analisado independentemente das atividades 
a montante que os meios de produção proporcionam. Tampouco pode ser analisado 
independentemente da utilização que é feita de seus produtos pelas atividades a 
jusante e pelos consumidores. Tampouco pode ser analisado independentemente de 
outros sistemas agrários concorrentes, pois estes também colaboram para satisfazer 
as necessidades da sociedade (MAZOYER; ROUDART, 2019). 
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29 
 
12 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA 
 
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Sustentabilidade agrícola é a capacidade de um agroecossistema de manter a 
produção através do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e 
pressões socioeconômicas (LOPES, et al. 2010). 
A sustentabilidade contempla três dimensões: ecológica, econômica e social. 
A ecológica se refere à estabilidade dos recursos naturais e do ambiente em geral, 
implicando na manutenção das características fundamentais do ecossistema, quanto 
aos seus componentes e suas interações; a econômica sugere a viabilidade 
financeira, traduzida por uma rentabilidade estável no tempo; e a dimensão social diz 
respeito à equidade e valorização social, associada à ideia de que o manejo e a 
organização do sistema são compatíveis com os valores culturais e éticos dos grupos 
envolvidos e das sociedades, promovendo a continuidade ao longo do tempo, sendo 
isso tudo, atingido pela adequação de tecnologias às diferentes situações e com uso 
racional dos recursos locais (LOPES, et al 2010). 
A análise da evolução do sistema agrário permite que o desenvolvimento rural 
seja analisado sob a ótica da sustentabilidade, aqui entendida como o atendimento 
adequado das condições socioeconômicas e ambientais dos espaços físicos. Assim, 
o meio ambiente é mais que um fornecedor de recursos ou assimilador de resíduos, 
pois a forma de sua preservação e conservação permite que as atividades produtivas 
evoluam e se diversifiquem. Nesse sentido, o desenvolvimento sob essa perspectiva 
possibilita encadear transformações técnicas, ecológicas, econômicas e sociais dos 
ambientes. Portanto, compreender o processo histórico de sua formação, sua 
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30 
 
dinâmica e contradições, cria mecanismos para realizar previsões e tendências de 
comportamento desse desenvolvimento (LOPES, et al 2010). 
A evolução do sistema agrário impõe mudanças socioeconômicas decorrentes 
da ocupação do homem no espaço rural. As transformações dos espaços originais 
podem ser evidenciadas pela modificação da estrutura populacional e introdução de 
sistemas de produção mais heterogêneos. A compreensão dessas relações e 
evolução do sistema agrário é complexa, pois é necessário conhecer a dinâmica local 
e o processo de tomada de decisão dos agricultores. Tal entendimento deve preceder 
qualquer diretriz ou intervenção,que leve ao processo de desenvolvimento rural 
sustentável (LOPES, et al 2010). 
Para se avaliar a sustentabilidade de um agroecossistema, que é a unidade 
básica para análise, devem-se considerar suas características hierárquicas e a 
complementaridade com o ambiente externo, tornando possível a identificação dos 
processos chaves e dos organismos envolvidos que governam as quatro propriedades 
ou comportamentos dos agroecossistemas sustentáveis, ou seja, a produtividade, a 
estabilidade, a elasticidade ou resiliência e a equidade (LOPES, et al 2010). 
Um ponto-chave no desenho de agroecossistemas sustentáveis é a 
compreensão de que existem duas funções no ecossistema que devem estar 
presentes na agricultura: a biodiversidade dos micro-organismos, plantas e animais e 
a ciclagem biológica de nutrientes da matéria-orgânica (LOPES, et al 2010). 
 
O uso da água no meio rural representa 80,7% da demanda de captação de 
água total brasileira, dos quais 67,2% são destinados à irrigação, 11,1% ao 
consumo animal e 2,4% ao consumo humano (Agência Nacional de Águas, 
2017). Além disso, o desperdício é preocupante, estimado em cerca de 40%, 
devido às perdas em sistemas inadequados de irrigação ou vazamentos nas 
tubulações. A irrigação está em franca expansão no Brasil, passou de 462 mil 
hectares em 1960 para 6,1 milhões de hectares em 2014, em especial por 
meio de pivôs centrais, perfazendo um total de 1,275 milhão de hectares 
distribuídos em 19.892 pivôs (79% no Cerrado e 11% na Mata Atlântica) 
(Levantamento..., 2016; Zoneamento..., 2017) (LOPES, et al 2010). 
 
 Desta forma, o uso adequado de recursos hídricos no meio rural envolve 
decisões sobre a irrigação, uso de métodos recomendados para cada tipo de solo e 
cultura, além do seu manejo a partir do monitoramento preciso da evapotranspiração, 
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31 
 
utilização de sistemas mais eficientes e adaptados às condições locais, evitando o 
desperdício de água e energia. Em regiões onde a disponibilidade hídrica é muito 
variável, reservatórios de pequeno porte, barragens subterrâneas, reuso e captação 
de chuvas em propriedades agrícolas podem melhorar a disponibilidade hídrica, 
reduzindo a vulnerabilidade em relação à variabilidade hidrológica (LOPES, et al 
2010). 
Ainda conforme Lopes et al 2010), 
 
O uso eficiente da água nos sistemas de produção agrícola é um dos desafios 
principais no que diz respeito ao uso racional dos recursos hídricos, e vem a 
cada ano tendo importância maior nas discussões de comitês de bacias 
hidrográficas e nas agências reguladoras do direito do uso da água. Muitas 
tecnologias já foram desenvolvidas principalmente na área de irrigação, 
porém ainda existem muitos desafios a serem superados, como os 
programas de manejo da água, que integram todo o setor agropecuário e 
urbano dentro de uma mesma bacia hidrográfica, o manejo de irrigação 
parcelar, etc. Outra demanda crescente, principalmente pela escassez 
hídrica que vem assolando diversos locais do mundo e influencia no 
abastecimento hídrico de centros urbanos, é o “reuso de águas residuais 
(efluentes) e captação de águas pluviais”. 
 
O Brasil participa de diversos acordos internacionais e está comprometido com 
agendas de sustentabilidade. Em 2015, na conferência das Nações Unidas sobre a 
Mudança do Clima (COP 21), o Brasil se comprometeu a reduzir em 43% as emissões 
de GEE até 2030. Foi estabelecida como meta a redução em 80% as taxas de 
desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado. As ações propostas abrangem o 
reflorestamento de 12 milhões de hectares e o alcance de participação estimada de 
45% de energias renováveis na composição da matriz energética brasileira 
(EMBRAPA, 2018). 
Outro compromisso importante é com os Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável, uma ampla agenda global com 17 objetivos integrados que mesclam as 
três dimensões da sustentabilidade: a econômica, a social e a ambiental. No Brasil, é 
grande a importância da agricultura para o alcance desses objetivos, considerando a 
extensão da área agrícola, a quantidade de produtores e trabalhadores envolvidos e 
a relevância do setor para o desenvolvimento econômico e a melhoria do bem-estar 
social da população (EMBRAPA, 2018). 
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32 
 
12.1 Sistemas agrícolas sustentáveis 
O desenvolvimento agrícola sustentável pode ser entendido como o manejo e 
a conservação da base de recursos naturais e a orientação das mudanças 
tecnológicas de forma a assegurar o alcance e a satisfação contínua das 
necessidades humanas do presente e das futuras gerações (EMBRAPA, 2018). 
Segundo Embrapa (2018), 
 
A agricultura sustentável compreende principalmente sistemas integrados de 
práticas utilizadas na produção de plantas e de animais aplicáveis a 
determinados ambientes de produção e que, ao longo do tempo, satisfarão 
as necessidades humanas de fibras e alimentos; melhorarão a qualidade 
ambiental e a base de recursos naturais da qual a economia agrícola 
depende; farão o uso mais eficiente dos recursos não renováveis e de 
recursos nas propriedades, integrando, onde for apropriado, os ciclos e os 
controles biológicos naturais; sustentarão a viabilidade econômica dos 
processos agrícolas; e melhorarão a qualidade de vida dos produtores e da 
sociedade como um todo . 
O Brasil já conta com uma série de sistemas e tecnologias sustentáveis 
amplamente adotados como: 
 
• Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) 
 
 
Fonte:embrapa.br 
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33 
 
Os sistemas de ILPF, em suas diferentes modalidades (lavoura-pecuária, 
lavoura- -pecuária-floresta, sistemas agroflorestais e silvipastoris, entre outros), já são 
uma realidade em 11,5 milhões de hectares no Brasil. É uma estratégia de produção 
que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de 
uma mesma área (EMBRAPA, 2018). 
Os estados com maior área de adoção são Mato Grosso do Sul (2 milhões de 
hectares); Mato Grosso (1,5 milhão de hectares); Rio Grande do Sul (1,4 milhão de 
hectares); Minas Gerais (1 milhão de hectares) e Santa Catarina (680 mil hectares). 
Os principais fatores motivadores apontados para a adoção de sistemas de 
ILPF pelos pecuaristas relacionam-se com a preocupação na adequação ambiental 
da atividade diante das pressões, a cada dia maiores, da sociedade e dos mercados. 
Já entre os produtores de grãos, as principais motivações para a adoção se 
relacionam ao aumento da rentabilidade e à diminuição dos riscos financeiros 
(EMBRAPA, 2018). 
• Sistemas Agroflorestais 
 
Fonte: embrapa.br 
Os sistemas agroflorestais, em suas diferentes estruturas (sequenciais, 
simultâneos ou complementares), incorporam maior diversidade vegetal com espécies 
agrícolas, frutíferas e florestais (nativas e exóticas) e ocupam milhares de hectares 
em todos os biomas brasileiros (EMBRAPA, 2018). 
Segundo Embrapa (2018), novos nichos de mercados estão sendo organizados 
envolvendo produtores e o setor agroindustrial, valorizando ainda mais a 
biodiversidade das espécies nativas, como frutas, castanhas, palmito, peixes e 
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34 
 
recursos florestais não madeireiros. Esses sistemas deverão ter relevância crescente 
no processo de intensificação sustentável da agricultura brasileira nas próximas 
décadas. 
• Agricultura orgânica 
 
Fonte: embrapa.br 
A agricultura orgânica vegetal (grãos, hortaliças e frutas) e animal (carne, ovos 
e leite) tem se destacado como uma das alternativas de renda para os pequenos, 
médios e grandes produtores, principalmente devido à crescente demanda mundial e 
brasileira por alimentos mais saudáveis e sustentáveis (EMBRAPA, 2018). 
Ainda de acordo com Embrapa (2018), a produção orgânica tem se destacado 
pelo seu potencial no desenvolvimento social e local, pelo estímulo à formação de 
circuitos de comercialização de curtadistância entre produtor e consumidor (cadeias 
curtas) e pela venda para os mercados institucionais como escolas e hospitais. Além 
disso, em decorrência das mudanças de hábitos, maior informação e poder aquisitivo 
de segmentos de consumidores, a tendência é de crescimento desse mercado. 
Segundo Embrapa (2018), a agricultura orgânica não utiliza agrotóxicos, 
adubos químicos, antibióticos ou transgênicos. 
 
• Sistema Plantio Direto (SPD): 
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35 
 
 
Fonte: sistemafaep.org.br 
O SPD já está presente em torno de 86% da área agrícola brasileira de soja, 
milho (1a safra) e feijão (1a safra), aumentando o acúmulo de carbono no solo, 
promovendo melhorias biológicas no solo e diminuindo o processo de erosão e 
assoreamento dos recursos hídricos (EMBRAPA, 2018). 
Além de ser uma prática conservacionista, o plantio direto foi fundamental para 
que o País ampliasse sua área de segunda safra, ao reduzir o tempo utilizado no 
preparo do solo. 
• Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): 
 
Fonte: embrapa.br 
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36 
 
A FBN é a principal fonte de nitrogênio da agricultura brasileira e contribui para 
diminuir a importação de fertilizantes, hoje responsável pelo atendimento de 76% da 
demanda doméstica, e com projeções de atingir 83% em 2025 (Associação Nacional 
para Difusão de Adubos, 2017). 
A FBN tem melhorado as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, 
resultando em maior produtividade, menor impacto ambiental e maior economia para 
o produtor (EMBRAPA, 2018). 
Há tendência de intensificação do uso de FBN para recuperação de áreas 
degradadas, redução da emissão de GEE, e diminuição de riscos de contaminação 
• Manejo integrado e controle biológico de pragas e doenças 
 
Fonte: embrapa.br 
O manejo integrado e o controle biológico de pragas e doenças na agricultura 
têm sido fortalecidos, visando minimizar os atuais níveis de utilização de agrotóxicos 
(EMBRAPA, 2018). 
Métodos de controle racional são desenvolvidos com objetivo de reduzir 
impactos ambientais e minimizar os resíduos nos alimentos, melhorando com isso a 
qualidade de vida do produtor rural e do consumidor. Esse conjunto de práticas e 
processos inovadores terá relevância crescente na transição dos sistemas de 
produção atuais para uma agricultura mais sustentável no Brasil (EMBRAPA, 2018). 
 
 
 
http://www.embrapa.br/
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37 
 
• Plantios florestais 
 
Fonte: embrapa.br 
Plantios florestais com espécies nativas e exóticas (homogêneos ou 
integrados) têm fortalecido o processo de intensificação sustentável da produção 
florestal brasileira. A produtividade das florestas plantadas no Brasil é superior à do 
restante do mundo, contribui anualmente com 17% de toda a madeira colhida 
mundialmente, com uma área equivalente a 3% da área mundial de florestas 
plantadas (EMBRAPA, 2018). 
Esses altos níveis de produtividade estão associados ao melhoramento 
genético e aos tratamentos silviculturais que foram desenvolvidos para determinadas 
finalidades e regiões brasileiras (EMBRAPA, 2018). 
Nas próximas décadas, a inovação tecnológica da silvicultura de espécies 
nativas e exóticas terá papel de grande relevância para apoiar a solução dos passivos 
ambientais de Reservas Legais decorrentes dos Programas de Regularização 
Ambiental (PRA) dos estados e dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e 
Alteradas (Prada) dos mais de 5 milhões de propriedades rurais do Brasil. Também 
haverá tendência de ocupação de áreas de pastagens degradadas liberadas pela 
intensificação da produção pecuária para crescimento da silvicultura visando à 
produção de fibras e à agroenergia (EMBRAPA, 2018). 
 
 
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38 
 
• Extrativismo 
 
 
Fonte: embrapa.br 
Tem tido destaque o uso da biodiversidade brasileira. Apenas em 2016 foram 
registrados mais de 30 produtos extrativos não madeireiros sendo explorados 
comercialmente. Essas atividades geraram praticamente R$ 1,9 bilhão, derivados de 
mais de 1,110 milhão de toneladas de produto não madeireiro, como açaí e castanha-
do-brasil (EMBRAPA, 2018). 
A grande variedade de espécies nativas no Brasil favorece este tipo de 
atividade. 
13 A AGRICULTURA E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO 
Conforme Valente e Godoy (2002), as transformações técnico-científicas são 
permanentes, no entanto não atingem simultaneamente os diversos espaços. O 
desenvolvimento tecnológico torna o processo de produção capitalista mais flexível, 
no sentido de utilizar mais máquinas e menos mão-de obra, favorecendo a 
acumulação do capital, não se restringindo, no entanto, à acumulação no campo 
econômico, mas também ao político, social e espacial. 
Não somente pela presença de inovações tecnológicas que um espaço se 
renova e se organiza, assim como se interliga com os demais, mas também pela forma 
como se organiza a produção, bem como pela estrutura que se cria e pela função que 
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39 
 
determinada área passa a ter no processo de acumulação em nível regional, nacional 
ou internacional (VALENTE; GODOY, 2002). 
Ainda conforme Valente e Godoy (2002), na pesquisa geográfica, o estudo da 
organização do espaço se consolida e se valoriza à medida que são destacados os 
estudos locais e regionais, uma vez que a organização espacial é indicativo da 
existência de uma unidade integrada resultante de um produto terminal (no sentido de 
concluído), só que esse produto terminal nos parece relativo, visto que o espaço está 
em constante modificação e transformação. O estudo da organização espacial 
envolve relações, combinações, interações, conexões e localizações, processados de 
forma dinâmica entre os elementos que a constituem e que dão origem à 
diversificação de formas espaciais. 
Para analisar a evolução da organização do espaço, temos que pressupor, 
inicialmente, a existência do meio natural que, mediante a ação humana e através do 
uso da técnica, transforma-o em espaço geográfico. O avanço da ciência permite que 
o meio técnico científico seja incorporado ao espaço geográfico, possibilitando outras 
formas de organização do espaço (VALENTE; GODOY, 2002). 
Atualmente, além da técnica e do meio técnico científico, ainda compõe o 
espaço geográfico o conteúdo técnico-científico informacional. Desse modo, novas 
formas de organização espacial são incorporadas. Porém, “um meio não suprime o 
outro, por isso o espaço geográfico é uma acumulação desigual de tempos”, segundo 
Santos (1988, p. 6 apud VALENTE; GODOY, 2002). 
A ação humana geradora da organização espacial (em termos de forma, 
movimento e conteúdo de natureza social) é caracterizada pelo trabalho dos atores 
(pessoas) que deixam suas marcas sobre o espaço com o objetivo de se apropriarem 
e controlarem os recursos existentes (VALENTE; GODOY, 2002). 
 
Segundo Valente e Godoy (2002), 
 
O trabalho não só transforma o espaço como também determina a 
apropriação do mesmo, pois, à medida que o processo de produção 
capitalista avança, este gera mudanças com relação à importância e ao valor 
de determinadas parcelas do espaço, tendo em vista que o mesmo depende 
das modificações. Portanto, a organização espacial espelha fielmente a 
qualidade das relações sociais. Na organização espacial, encontramos o 
lugar que exprime uma categoria básica. No entanto, esse lugar apresenta 
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40 
 
um conjunto de paisagens que exprime suas finalidades e que, por sua vez, 
caracteriza o lugar organização do espaço. 
13.1 Considerações acerca da organização do espaço 
A base econômico-social de cada sociedade, que constitui um espaço 
organizado, consiste num determinado modo de produção e na reprodução da vida 
social, pois a técnica, fruto da criatividade humana e considerada medida de poder do 
homem é, em última análise, o elemento determinante das forçasprodutivas, nas 
quais o homem se coloca como principal elemento e agente de transformação dos 
recursos naturais (VALENTE; GODOY, 2002). 
Conforme Miorin (1988 apud Valente e Godoy 2002), o mundo é a realidade 
material em transformação e em contínua construção, realizada por pessoas que 
vivem em determinada época e num determinado sistema de relações sociais, uma 
vez que o grau de transformação do mundo, encontrado pelas gerações sucessoras, 
depende das relações de produção das gerações anteriores e da atividade prática de 
desenvolvimento da consciência do grupo humano anterior. 
Assim sendo, o número de objetos construídos no espaço aumenta a cada 
geração através dos quais é possível descobrir seus aspectos, suas propriedades e 
esclarecer os meios de ação. Também é possível, a cada geração, descobrirmos que 
cada ação pode se realizar de diferentes maneiras e por meio de diferentes 
instrumentos, assim como um mesmo instrumento pode ser usado para a realização 
de diferentes ações. Portanto, o espaço é um testemunho de momentos de um modo 
de produção, no qual, em cada paisagem criada, é fixada a construção das forças 
produtivas e dos instrumentos utilizados (VALENTE; GODOY, 2002). 
 
Na geografia, o espaço deve ser concebido como totalidade, constituída de 
momento Ambientes estudos de Geografia, mas há totalidades mais 
abrangentes, outras, nem tanto. As totalidades e os momentos expressam a 
dinâmica natural e social, bem como suas determinações específicas em 
termos de tempo e de lugar. Cada momento guarda peculiaridades próprias 
do tempo histórico e do lugar manifestadas na paisagem de forma 
diferenciada, razão por que não existe um espaço único na superfície da 
Terra (VALENTE; GODOY, 2002). 
 
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41 
 
No entanto, muitos espaços existentes na superfície terrestre apresentam um 
traço comum, a submissão ao modo de produção, pois, em muitos deles, ocorreu ou 
ocorre a exploração econômica e existe um componente básico, a terra, onde as 
relações sociais de produção se caracterizam pela divisão social do trabalho 
(VALENTE; GODOY, 2002). 
O espaço, visto como algo organizado e ao mesmo tempo indicador de relações 
sociais, não pode ser concebido como estático, pois, quando surge o homem, este 
constitui a paisagem humanizada, símbolo do espaço geográfico, dando provas de 
que a produção existe e, desse modo, a organização do espaço deve ser entendida 
como resultado das relações de produção. Para compreendermos o espaço 
geográfico, necessário também se faz conhecermos a forma, representada pelas 
atividades que nele se desenvolvem, bem como vê-lo em suas contradições, e elas 
existem em cada realidade (VALENTE; GODOY, 2002). 
As mudanças provocadas no território afetam as formas de sua organização de 
maneira diversa, quando não organizando ou reorganizando o espaço. Essa 
organização ou reorganização ocorre vinculada não só à produção propriamente dita, 
mas também à circulação, distribuição e consumo, já que são questões que se 
complementam. No entanto, esse espaço se organiza de acordo com os níveis de 
exigência do processo, vinculado ao volume de capital, à tecnologia e à organização 
correspondente, razão pela qual a paisagem agrária é mais homogênea, se 
comparada à urbana (VALENTE; GODOY, 2002). 
 
A organização do espaço geográfico consiste na criação de um sistema de 
objetos cada vez mais artificiais, compostos por sistemas de ações imbuídos 
de artificialidade, muitas vezes com fins estranhos ao lugar e a seus 
habitantes. Nesse sentido, o espaço constitui-se em um novo sistema da 
natureza quase que totalmente desnaturalizado. Na análise da organização 
do espaço, não se pode excluir a produção, vinculada ao meio urbano-
industrial e ao modelo de produção capitalista (VALENTE; GODOY, 2002). 
 
As diferenças territoriais de produção agrícola são resultantes dos tipos 
diferentes de integração entre os setores agrícola e industrial e da articulação da 
produção agrícola capitalista com os modos anteriores de produção. Novas produções 
agrícolas se estruturam dentro da lógica da produção capitalista do espaço, mediante 
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42 
 
uma interação com as especificidades da agricultura e do lugar (VALENTE; GODOY, 
2002). 
As interligações não se limitam por aí, acontecem também com os setores da 
comercialização, da armazenagem, dos transportes e das comunicações. Com o 
aumento dos capitais fixos (estradas, silos, etc.), dos capitais constantes (máquinas, 
fertilizantes, veículos) e dos fluxos, rompem-se os equilíbrios preexistentes, porque 
aumenta a necessidade de movimento e outros se impõem, diminuindo, desse modo, 
o espaço reservado à produção, enquanto aumenta o espaço das outras instâncias 
da produção, circulação, distribuição e consumo, de acordo com Santos (1999 apud 
VALENTE; GODOY, 2002). 
14 RISCOS NA AGRICULTURA 
A atividade agrícola é fortemente marcada por uma especificidade que a 
diferencia da produção da indústria e do setor de serviços: a forte dependência dos 
recursos naturais (como terra, clima e solo) e dos processos biológicos (EMPRAPA, 
2018). 
Plantas, animais e microrganismos não se comportam com a precisão de 
máquinas. O clima não se repete da mesma forma de um ano para o outro e um solo 
fértil pode, com manejo equivocado, perder suas propriedades em alguns ciclos de 
produção. É uma atividade de risco (EMPRAPA, 2018). 
De acordo com Embrapa (2018), em particular, essa característica requer as 
seguintes condições: 
a) maior rigidez do processo produtivo, tendo como consequência menor 
flexibilidade para ajustar-se aos ciclos da economia e às mudanças nas conjunturas 
dos mercados relevantes; 
b) sazonalidade da produção; 
c) dependência de processos biológicos que são responsáveis diretos pelas 
operações mais importantes do processo produtivo. Essas condições refletem os 
riscos que cercam a atividade agrícola, os quais tendem a ser maiores do que aqueles 
relacionados ao conjunto das demais atividades. 
Na atualidade, esses riscos são ainda mais intensos devido aos maiores 
requerimentos de investimento. A agricultura contemporânea se caracteriza pelo uso 
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43 
 
intensivo do capital. Por exemplo pode ser gigantesco o prejuízo financeiro com uma 
seca inesperada, uma geada forte, uma quebra de safra ou uma baixa repentina nos 
preços. 
De acordo com Embrapa (2018), é necessário considerar ainda que atualmente 
a agricultura está inserida em uma nova ordem global, que condiciona sua dinâmica, 
seu desempenho e interfere nos riscos em geral. Destacam-se, em particular, alguns 
fatores: 
a) o ambiente criado pelo multilateralismo e pelo peso crescente das regras 
fixadas em acordos internacionais e na legislação nacional; 
b) controles e regras que regulam os principais aspectos que envolvem toda a 
cadeia do agronegócio – ambiente, segurança alimentar, saúde, relações de trabalho, 
comércio, propriedade intelectual; 
c) mudança do clima no âmbito global, que se reflete na elevação da 
temperatura e principalmente na instabilidade do clima; 
d) pressões sociais com suficiente força para impor regras, atitudes, legitimar 
ou refutar opções tecnológicas, etc.; 
e) valorização do consumidor como stakeholder central da cadeia de valor do 
agronegócio. 
Esse novo ambiente interfere diretamente nos riscos agropecuários, em 
particular nos riscos institucionais, tecnológicos e de produção, riscos de mercado, do 
ambiente de negócios, bem como na percepção de integração e na consequente 
gestão desses riscos (EMPRAPA, 2018). 
Os resultados da atividade agrícola estão relacionados à qualidade das 
diversas decisões dos agricultores, antes, durante e após o processo produtivo. São 
três as perguntas básicas: o que produzir, como produzir e para quem produzir. Os 
agricultores precisam decidir qual cultivo ou

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