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RAPP - Volume 24, 2016 RAPP - Volume 24, 2016 RAPP - Volume 23, 2015 I Valorize sua formação profissional, seu futuro e sua consciência. R A DEVISÃO NUAL E P D PATOLOGIA E LANTAS RAPP Volume 23, 2015Volume 24, 2016 RAPP - Volume 23, 2015 I Valorize sua formação profissional, seu futuro e sua consciência. R A DEVISÃO NUAL E P D PATOLOGIA E LANTAS RAPP Volume 23, 2015 RAPP REVISÃO ANUAL DE PATOLOGIA DE PLANTAS II RAPP - Volume 24, 2016 REVISÃO ANUAL DE PATOLOGIA DE PLANTAS COPYRIGHT© REVISÃO ANUAL DE PATOLOGIA DE PLANTAS 2016 RAPP REVISÃO ANUAL DE PATOLOGIA DE PLANTAS Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem prévia autorização, por escrito, do editor. RAPP - REVISÃO ANUAL DE PATOLOGIA DE PLANTAS SGAS 902 Bloco B Salas 102 e 103 Edifício Athenas Asa Sul Brasília DF Brasil CEP 70390-020 Site SBF: www.sbfito.com.br Site RAPP: rappsbf.weebly.com Publicado no Brasil Diagramação: Gráfica Diagrama III RAPP - Volume 24, 2016 RAPP VOLUME 24, 2016 COMISSÃO EDITORIAL Edson L. Furtado Fernando Cezar Juliatti Francisco Murilo Zerbini Mario Lúcio V. Resende Marcos A. Machado Sérgio F. Pascholati RONALDO J. D. DALIO Editor chefe RAPP Uma publicação da REVISÃO ANUAL DE PATOLOGIA DE PLANTAS Brasília DF ISSN 0104 - 0383 IV RAPP - Volume 24, 2016 EDITORIAL Renovar para avançar Toda a comunidade da fitopatologia brasileira concordará que a Revisão Anual de Patologia de Plantas se incorporou definitivamente como obra de referência para todos os profissionais e estudantes que atuam nessa área. Com seus capítulos atualizados e abrangendo não só assuntos específicos do Brasil, mas de toda a ciência da fitopatologia ela, juntamente com a Tropical Plant Pa- thology e a Summa Phytopathologica, consolidam e difundem informações científicas e tecnológicas essenciais para o avanço ainda maior da agricultura brasileira. Ao ser definitivamente incorporada à Sociedade Brasileira de Fitopatologia a RAPP tornou- -se institucional e passa a ter abrangência maior, sendo uma publicação que continuará consolidando assuntos atuais e importantes. Ao ser disponibilizada eletronicamente ela segue a tendência irre- versível de publicações científicas. Quando se tornar completamente aberta seu índice de citação aumentará expressivamente. Seu novo formato editorial demonstra leveza e alinha-se com outras publicações de revi- sões. Melhoria contínua no conteúdo e formato sinalizará que ela está no caminho de ser compara- da, em futuro próximo, às melhores publicações do gênero. É evidente que a comunidade científica que mantém dinâmica e competitiva a Fitopatologia Brasileira está mais que habilitada a enriquecer e elevar o nível das revisões publicadas pela RAPP. Como toda área da ciência, a Fitopatologia defronta-se com desafios crescentes, principal- mente face às questões relacionadas a sustentabilidade de produção agrícola, aumento e agrava- mento de problemas fitossanitários e a problemas ambientais, principalmente aqueles associados a mudanças climáticas, cada vez mais determinantes na agricultura. A resposta a isso deverá vir na forma de novas tecnologias de manejo, novos cultivares e novas tecnologia de produção. O caminho para todos esses desafios passa necessariamente pela ciência da Fitopatologia. Avanços somente podem alcançados se o caminho da ciência for mantido e fortalecido. Fora disso não há milagres. A RAPP a medida que seguir o caminho da qualidade de suas revisões deverá contribuir em muito para que os avanços se concretizem. A RAPP passa também a adotar o sistema de trabalho com revisão submetidas ao invés de revisões convidadas. Com isso espera-se que maior número de revisões serão submetidas para avaliação e eventual publicação, ampliando sobremaneira o número de colaboradores. Revisões con- vidadas podem sugerir que sejam revisões aceitas, o que nunca foi o caso. Somente mantendo sua qualidade editorial é que ela se fortalecerá como veículo importante na Fitopatologia Brasileira. To- das as frentes de avanço do conhecimento e da tecnologia devem ser priorizados. A diversidade e a amplitude da Fitopatologia permitem isso. Toda a comunidade da Fitopatologia Brasileira está convidada a fazer com que a RAPP ali- nhe-se cada vez maisàs mais prestigiadas publicações brasileiras. Dr. Marcos A. Machado Membro do corpo editorial da RAPP e Diretor do Centro de Citricultura Sylvio Moreira – IA- SP V RAPP - Volume 24, 2016VI CONTEÚDO VÍRUS TRANSMITIDOS POR MOSCAS-BRANCAS NO BRASIL: VETORES, PRINCIPAIS DOENÇAS E MANEJO Alice Kazuko Inoue-Nagata Claudine Márcia Carvalho Francisco Murilo Zerbini Jorge Alberto Marques Rezende Renate Krause Sakate Tatsuya Nagata 8-9 MANCHA DE MICOSFERELA: O GRANDE OBSTÁCULO PARA O CULTIVO DE EUCALYPTUS GLOBULUS NO BRASIL Martha Maria Passador Edson Luiz Furtado 30-41 MANEJO DO MÍLDIO DA CEBOLA: AVANÇOS E BARREIRAS DA PESQUISA CIENTÍFICA Edivânio R. Araújo Daniel P. Alves 42-54 FUNGOS “DARK SEPTATE” E SUA RELAÇÃO COM AS PLANTAS E FITOPATÓGENOS Peter Soares Medeiros Carlos Vergara Torres Júnior Claudia Maria Xavier Faria Kerly Martínez Andrade Jerri Édson Zilli Carlos Antonio Inácio 55-69 NEMATOIDES QUARENTENÁRIOS PARA O BRASIL - DIAGNOSE, CONTROLE E PERSPECTIVAS Paulo Sergio Torres Brioso Ricardo Moreira de Souza 70-103 RISCOS POTENCIAIS DE PATÓGENOS FLORESTAIS EXÓTICOS PARA O SETOR FLORESTAL BRASILEIRO Celso Garcia Auer Álvaro Figueredo dos Santos 104-114 BACTÉRIAS ENDOFÍTICAS: PASSADO, PRESENTE E PERSPECTIVAS VISANDO UM FUTURO SUSTENTÁVEL Bruna Canabarro Pozzebon Juliano dos Santos 115-129 EFEITO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO SISTEMA DE DEFESA DAS PLANTAS Mathias Ferrari Rockenbach Mateus Brusco de Freitas Marciel João Stadnik 130-144 RESISTÊNCIA DE MONILINIA SPP. AOS FUNGICIDAS DOS GRUPOS DOS INIBIDORES DA DESMETILAÇÃO (IDM), DOS INIBIDORES DA QUINONA EXTERNA (IQE) E DOS METILO BENZIMIDAZOL CARBAMATOS (MBC) Paulo dos Santos Faria Lichtemberg Isabela Vescove Primiano Juliana Muehlmann Fischer Chirley Glienke Lilian Amorim Louise Larissa May De Mio 145-173 SCLEROTINIA SCLEROTIORUM: MOLECULAR ASPECTS IN PLANT-PATHOGENIC INTERACTIONS Wei Wei Steven J. Clough 174-189 7RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) 1. Introdução No Brasil, até o final da década de 1980, os insetos vetores de vírus mais relevantes eram os afídeos (pulgões) e os tripes. Algumas espécies de vírus dos gêneros Potyvirus, Polerovirus, Closterovirus, Cucumovirus e Tospovirus representavam os vírus de maior ocorrência em várias culturas. A única exceção era o mosaico dourado do feijoeiro, causado por um begomovírus transmitido pela mosca- branca Bemisia tabaci. Esse cenário se modificou radicalmente a partir da década de 1990, quando ocorreu a introdução de um novo biótipo de Bemisia tabaci. O biótipo B (atualmente considerado uma espécie críptica, B. tabaci Middle East-Asia Minor 1, MEAM1) rapidamente se dispersou em todo o território nacional e hoje é considerado como uma das pragas mais sérias da agricultura mundial. Junto com ela, emergiram viroses devastadoras para a agricultura, destacando-se o mosaico dourado do tomateiro, o amarelão do meloeiro e o amarelão do tomateiro. Fomos testemunhas da rápida e extensiva invasão do complexo mosca-branca- vírus. Atualmente, as viroses associadas às moscas- brancas despontam em todo o Brasil pela alta incidência e pelas perdas que elas causam. O seu manejo é dificultado pela complexidade do sistema agrícola brasileiro, onde áreas de produção contêm bons hospedeiros da mosca-branca, presentes ao longo de todo o ano. Sendo um inseto polífago, a mosca-branca coloniza e multiplica-se em inúmeras plantas cultivadas, silvestres e invasoras, sendo, porém, as plantas cultivadas as mais prejudicadas. VÍRUS TRANSMITIDOS POR MOSCAS-BRANCAS NO BRASIL: VETORES, PRINCIPAIS DOENÇAS E MANEJO Alice Kazuko Inoue-Nagata1; Claudine MárciaCarvalho2; Francisco Murilo Zerbini2; Jorge Alberto Marques Rezende3; Renate Krause Sakate4; Tatsuya Nagata5 1Embrapa Hortaliças, Brasília, DF, 70351-970 - E-mail: alice.nagata@embrapa.br; 2Dep. de Fitopatologia/BIOAGRO, Universidade Fe- deral de Viçosa, Viçosa, MG, 36570-900 - E-mail: claudine.carvalho@ufv.br e zerbini@ufv.br; 3Dep. de Fitopatologia e Nematologia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, 13418-900 - E-mail: jrezende@usp.br; 4Dep. de Defesa Fitossanitária, FCA/UNESP, Botucatu, SP, 18610-370 - E-mail: renatekrause@fca.unesp.br; 5Dep. de Biologia Celular, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 70910-000 - E-mail: tatsuya@unb.br RESUMO A mosca-branca Bemisia tabaci tem sido considerada a praga do sécu- lo. Ainda não conseguimos conviver com essa praga cosmopolita, que além de produzir prejuízos diretos para a agricultura tem nos efeitos indiretos a principal fonte de preocupação dos produtores. A sua capacidade de atuar como vetor de diferentes espécies de vírus e a extrema dificuldade de seu controle resulta- ram na emergência de doenças sérias para a agricultura brasileira. Esta revisão aborda as principais viroses associadas a B. tabaci no Brasil, com descrições dos vírus, das doenças e dos prejuízos que estas vêm causando à cadeia de produção agrícola. Ainda há muito o que aprender para viabilizar um manejo adequado dessas viroses e esta revisão tem como propósito apresentar as informações atualizadas sobre os vírus e incentivar os interessados a trabalharem com esse tema que é complexo e ao mesmo tempo atrativo e desafiador. RAPP - Volume 24, 20168 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) Dentre as grandes culturas mais afetadas destacam- se a soja, o algodoeiro e o feijoeiro, e dentre as hortaliças, o tomateiro, a batateira, as brássicas e as cucurbitáceas. Verdadeiras nuvens de moscas- brancas são regularmente observadas nas lavouras e não raro nas cidades nas épocas de pico populacional, particularmente na época de senescência da soja. O controle da mosca-branca é muitas vezes negligenciado, principalmente em culturas onde as viroses associadas a esse vetor não causam prejuízos relevantes, como é o caso da soja e do algodoeiro. Considerando-se as graves perdas registradas em cultivos de feijoeiro e tomateiro, medidas extremas como o estabelecimento de vazios fitossanitários foram regulamentadas na tentativa de conter o mosaico dourado do feijoeiro e do tomateiro, respectivamente. O período de vazio fitossanitário, nestes casos, serve para reduzir a fonte de inóculo e não a população do vetor. Esta revisão tem a finalidade de reunir de forma concisa as informações disponíveis sobre as viroses associadas à mosca-branca e as principais características de B. tabaci, seguidas de um detalhamento sobre os principais vírus transmitidos por esse vetor no Brasil (listados na Tabela 1). Nome (acrônimo) Genoma Vetor(es) Hospedeiros naturais Nome comum da doença (se existir) Importância econômica Gênero Begomovirus Bean golden mosaic virus (BGMV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente feijoeiro, soja, Macroptilium spp. mosaico dourado do feijoeiro alta Macroptilium yellow spot virus (MaYSV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente feijoeiro, P. lunatus, Macroptilium spp. mosaico dourado do feijoeiro baixa (predominante em AL) Cotton chlorotic spot virus (CCSV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente algodoeiro -- baixa Okra mottle virus (OMoV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente quiabeiro -- baixa Sweet potato leaf curl virus (SPLCV) ssDNA, um componente B. tabaci, persistente batata-doce enrolamento das folhas baixa (?) Sweet potato leaf curl São Paulo virus (SPLCSPV) ssDNA, um componente B. tabaci, persistente batata-doce enrolamento das folhas baixa (?) Tomato chlorotic mottle virus (ToCMoV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente tomateiro mosaico dourado baixa Tomato common mosaic virus (ToCmMV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente tomateiro mosaico dourado baixa (predominante no ES) Tomato golden vein virus (TGVV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente tomateiro mosaico dourado baixa Tomato mottle leaf curl virus (ToMoLCV) ssDNA, um componente B. tabaci, persistente tomateiro mosaico dourado alta (NE) Tomato rugose mosaic virus (ToRMV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente tomateiro mosaico dourado/ rugoso baixa Tomato severe rugose virus (ToSRV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente batateira, tomateiro, pimentão, Nicandra physaloides mosaico dourado/ rugoso alta (SE, CO) Tomato yellow vein streak virus (ToYVSV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente batateira, tomateiro mosaico dourado baixa Tomato yellow spot virus (ToYSV) ssDNA, dois componentes B. tabaci, persistente tomateiro, feijoeiro, soja, Leonurus sibiricus mosaico dourado baixa Gênero Crinivirus Tomato chlorosis virus (ToCV) (+)ssRNA, dois componentes B. tabaci e T. vaporariorum, semi-persistente tomateiro, pimentão amarelão do tomateiro intermediária Gênero Carlavirus Cowpea mild mottle virus (CPMMV) (+)ssRNA, um componente B. tabaci, não- persistente soja, feijoeiro necrose da haste intermediária Melon yellowing-associated virus (MYaV) (+)ssRNA, um componente B. tabaci, não- persistente meloeiro amarelão do meloeiro intermediária Tabela 1. Vírus transmitidos por mosca-branca relatados no Brasil em plantas cultivadas. 9RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) 2. A mosca-branca Bemisia tabaci Bemisia tabaci (Gennadius) (Hemiptera: Aleyrodidae), comumente denominada mosca- branca, passou a ter destaque como praga global a partir da década de 1980, quando principalmente pelo comércio de plantas ornamentais este inseto foi disseminado a partir de seu centro de origem (Oriente Médio e Ásia Menor – “Middle East-Asia Minor”) para ao menos 54 países. Nas Américas sua introdução se deu inicialmente nos Estados Unidos, associada a infestações em poinsétia (Euphorbia pulcherrima) e mais tarde ao sintoma do prateamento das folhas da aboboreira (Maynard e Cantliffe, 1989 citados por Morales, 2006a, b). Rapidamente a praga se dispersou aos demais países, chegando ao Brasil na década de 1990 (Lourenção, 1994). Seguiram- se relatos de vírus transmitidos pela mosca-branca, principalmente para solanáceas (Ribeiro et al., 1998; Zerbini et al., 2002). B. tabaci causa danos diretos à planta como o aparecimento de desordens fisiológicas, perda de vigor e liberação de secreção açucarada (“honeydew”) que favorece o desenvolvimento de fungos, dentre outros (Brown et al., 1995). Além disso, é excelente vetora de vírus, sendo capaz de transmitir mais de 200 espécies de vírus pertencentes aos gêneros Begomovirus, Carlavirus, Crinivirus, Ipomovirus e Torradovirus (Gilbertson et al., 2015; Navas-Castillo et al., 2011; ipomovírus e torradovírus não foram relatados no Brasil até o presente, e não serão abordados nesta revisão). Os begomovírus e os crinivírus causam impacto econômico relevante em várias culturas, sendo reconhecidos como os mais importantes vírus de plantas emergentes em regiões tropicais e subtropicais (Navas-Castillo et al., 2011a). Por ser um inseto altamente polífago alimentando- se de plantas de mais de 500 espécies de plantas de 74 famílias botânicas (Brown et al., 1995), apresentar alta taxa de fecundidade e excelente habilidade de dispersão, B. tabaci é considerada uma “super- vetora” de vírus (Gilbertson et al., 2015), facilitando a transferência de vírus nativos de plantas não- cultivadas para plantas cultivadas (Bedford et al., 1994; Navas-Castillo et al., 2011a; Rocha et al., 2013). A reprodução em B. tabaci é sexuada ou por partenogênese arrenótoca, na qual ovos não fertilizados originam machos e ovos fertilizados originamfêmeas. A taxa de oviposição pode atingir até 394 ovos por fêmea (Byrne, 1991). Seu ciclo de vida é compreendido por seis estádios: ovo, ninfa de primeiro, segundo, terceiro e quarto instares (esta última referida como pupa) e adulto (Lourenção, 2015). B. tabaci é um inseto multivoltino, que não apresenta diapausa ou estádio quiescente, de forma que as populações são mantidas por meio dos recursos vegetais existentes. No Brasil as principais culturas infestadas e prejudicadas por este inseto incluem o tomateiro, feijoeiro, meloeiro e a batateira, em que a transmissão de vírus é expressiva, além de culturas como algodoeiro, soja, aboboreira, melancia, videira, hortaliças diversas e ornamentais em que o ataque do inseto tem se manifestado de forma cada vez mais intensa. Diversas plantas da vegetação espontânea também são hospedeiras do inseto, bem como de alguns vírus (Lourenção, 2015). As populações de B. tabaci, apesar de morfologicamente idênticas, exibem variabilidade biológica quanto aos hospedeiros preferencialmente colonizados, polimorfismo genético, diferenças na fecundidade e na capacidade de causar fitotoxicidade. Há também diferenças na composição de procariotas endossimbiontes e na capacidade de transmissão de vírus, tendo sido tradicionalmente classificadas em biótipos (Brown et al., 1995). Recentemente, baseado na análise molecular do gene mitocondrial citocromo oxidase I (mtCOI), passou-se a considerar B. tabaci como um complexo de 37 espécies crípticas (De Barro e Ahmed, 2011; Dinsdale et al., 2010; Firdaus et al., 2013; Alemandri et al., 2012; Chowda- Reddy et al., 2012; Esterhuizen, 2013; Hu et al., 2011; Parrella et al., 2014), das quais as espécies MEAM1 (correspondente ao biótipo B) e Mediterranean (MED - correspondente ao biótipo Q), são consideradas mundialmente as mais invasivas e danosas (Dinsdale et al., 2010). No Brasil já foram relatadas quatro espécies crípticas de B. tabaci, das quais New World 1 (NW1) e New World 2 (NW2), correspondentes ao biótipo A, são consideradas nativas das Américas e foram quase extintas após a disseminação de MEAM1 (Marubayashi, 2013; Barbosa et al., 2014). Mais recentemente a espécie MED foi relatada, inicialmente no Rio Grande do Sul (Barbosa et al., 2015) e em seguida no estado de São Paulo (R. Krause-Sakate, dados não publicados). B. tabaci MED tem sua origem na Bacia do Mediterrâneo e sua presença nas Américas é mais restrita, com relatos nos Estados Unidos (Dalton, 2006), México RAPP - Volume 24, 201610 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) (Martinez-Carrillo, 2007), Guatemala (Bethke et al., 2008), Costa Rica (Guevara-Coto, 2011), Argentina, Uruguai (Grille, 2011) e Brasil (Barbosa et al., 2015). Como importantes características desta espécie ressaltam-se a alta resistência aos inseticidas neonicotinoides; a adaptação a ambientes fechados, como estufas e casas-de-vegetação (Horowitz et al., 2005); a adaptação a culturas como o pimentão (Muniz, 2001), atualmente pouco afetadas por begomovírus no Brasil; e a excelente habilidade em transmitir o begomovírus Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV) (Li, 2010), ainda não relatado no Brasil e um dos patógenos mais devastadores do tomateiro (Moriones e Navas-Castillo, 2000). Nas Américas, o TYLCV já foi relatado no Caribe, México, Sudeste dos EUA e Venezuela (Navas-Castillo et al., 2011a). 3. Begomovírus Historicamente, a primeira descrição de uma doença de planta causada por um begomovírus é encontrada em um poema escrito pela imperatriz Koken, no Japão. Ela descreve as folhas amareladas (cloróticas) da planta conhecida como Eupatorium makinoi. Alguns trabalhos sucederam essa descrição, porém somente após mais de 1200 anos foi confirmada a associação do begomovírus Eupatorium yellow vein virus, suposto causador da virose naquela época (Saunders et al., 2003). No Brasil há relatos de begomovírus em diversas plantas desde a década de 1930 (Costa, 1937; Costa, 1955; Costa e Bennett, 1950). A etiologia viral foi comprovada com a transmissão para plantas sadias pelas moscas-brancas, reprodução de sintomas e também pela presença de partículas virais geminadas (Costa, 1955; Costa e Bennett, 1950; Matyis et al., 1975; Orlando, 1945; Orlando, 1946). Muitas doenças com sintomatologia semelhante, como o mosaico do algodoeiro e a clorose variegada das malváceas, não tiveram a etiologia confirmada na época (Costa, 1955, Flores et al., 1960; Orlando, 1945; Orlando, 1946). Apesar da falta de identificação definitiva do patógeno, esses relatos constituem registros preciosos sobre as doenças e refletem as contribuições altamente relevantes de grandes pesquisadores como A. A. Bitancourt, E. W. Kitajima, A. S. Costa, A. Orlando e K. Silberschmidt. Estudos com begomovírus progrediram lentamente no século XX, principalmente por eles não serem transmitidos por extrato vegetal tamponado e serem detectados com dificuldade por sorologia. Somente a partir de meados da década de 1990, com a popularização de técnicas moleculares de diagnose e clonagem, a detecção e identificação rápida e precisa do agente causal tornou-se possível. Assim, a compreensão da situação dos begomovírus experimentou um progresso rápido não só no Brasil, mas em todo o mundo. Os begomovírus possuem genoma de DNA circular de fita simples, com um ou dois componentes. A absoluta maioria dos begomovírus encontrados nas Américas possuem genoma com dois componentes (bissegmentado), denominados DNA-A e DNA-B. Cada componente possui aproximadamente 2600 nucleotídeos (nt) e uma “região comum” de aproximadamente 200 nt na qual está localizada a origem de replicação. O DNA-A possui cinco genes que codificam proteínas associadas à replicação do genoma viral, supressão de respostas de defesa do hospedeiro e formação das partículas. O DNA-B possui dois genes envolvidos no movimento célula-a- célula do vírus na planta (Brown et al., 2012). 3.1. Begomovírus em fabáceas O Brasil é um centro de diversidade genética de begomovírus, com relatos de sua detecção em plantas não-cultivadas desde a década de 1950 (Costa e Bennett, 1950; Flores et al., 1960; Costa, 1955). A partir da década de 1970, o grande aumento da área plantada com soja favoreceu a emergência de begomovírus na cultura do feijoeiro (Costa, 1975). A soja é um excelente hospedeiro de B. tabaci e sofre poucos danos com a presença da praga e, por isso, o seu controle é frequentemente negligenciado pelos produtores. Essa falha permite que as populações de insetos atinjam níveis altíssimos, com a posterior migração para outras plantas no período de senescência das plantas de soja. Esse contexto levou à disseminação do begomovírus Bean golden mosaic virus (BGMV), agente causal do mosaico dourado do feijoeiro, nos plantios de feijoeiro próximos a áreas de cultivo de soja (Menten e Roston, 1980; Vicente et al., 1985). O mosaico dourado tornou-se um fator limitante à cultura do feijoeiro ao longo das décadas de 1970 e 1980, essencialmente impedindo o cultivo em regiões de clima quente e seco. O problema foi agravado com a dispersão de B. tabaci MEAM1, que coloniza bem o feijoeiro. O mosaico dourado apresenta como característica o aparecimento nas folhas de clorose 11RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) intensa, mosaico, bolhas, rugosidade, deformação, diminuição da área foliar e nanismo da planta (Figura 1A). Em muitos casos, a forte clorose produz uma cor amarelo-ouro nas folhas, o que originou o nome comum da doença. Frequentemente o vírus causa redução da produção de vagens, resultando em drástica diminuição de produtividade. Os prejuízos são altos e essa doença tornou-se uma das principais preocupações dos produtores de feijão do país na atualidade. A frequente ocorrência de epidemias em feijoeiro evidencia que o controle do mosaico dourado permanece como um grande desafio para a cadeia produtiva. Não há cultivaresde feijoeiro com bom nível de resistência ao mosaico dourado. O controle químico do vetor com inseticidas nem sempre é satisfatório, devido à alta eficiência de transmissão e à presença de hospedeiros da mosca- branca nas regiões agrícolas ao longo de todo o ano. Em vista das frequentes epidemias que ocorreram nos últimos anos, destacando-se aquelas do ano agrícola 2012/2013 (Figura 1A), houve uma pressão forte da cadeia produtiva para que medidas enérgicas fossem tomadas pelos órgãos públicos para conter a doença. Após intenso debate entre todos os elos da cadeia de produção, foi decidida a implementação de um vazio fitossanitário em GO, DF e MG (IN 15, SDA, MAPA, 16/06/2014). As regiões produtoras foram divididas em duas sub-regiões. A primeira sub-região abrange os municípios ao sul de GO, onde o vazio fitossanitário do feijoeiro ocorre entre 5 de setembro e 5 de outubro. Na sub-região 2, compreendendo MG, DF e o norte de GO, o período foi instituído entre os dias 20 de setembro e 20 de outubro. A incidência da virose foi reduzida (Canal Rural, 2015), porém a medida ainda é questionada por alguns produtores. O vazio fitossanitário tem como objetivo principal a redução do inóculo do vírus no início da estação de cultivo, pelo fato de os begomovírus não apresentarem transmissão transovariana e infectarem uma gama reduzida de hospedeiros. Entretanto, durante o período há a presença de outras plantas hospedeiras da mosca- branca, como o tomateiro e a soja, que multiplicam eficientemente o vetor. Apesar da controvérsia, acredita-se que a medida tem contribuído efetivamente para a diminuição dos prejuízos. Até o momento, não se conseguiu por melhoramento genético clássico o desenvolvimento Figura 1. Plantas expressando sintomas de infecção por vírus transmitidos por B. tabaci. A. Lavoura de feijoeiro em que 100% das plantas apresentam sintomas de clorose, bolhas e mosaico, causados por infecção pelo begomovírus Bean golden mosaic virus (BGMV). B. Tomateiro de crescimento determinado infectado pelo begomovírus Tomato severe ru- gose virus (ToSRV), apresentando sintomas de clorose internerval, enrolamento foliar e nanismo. C. Planta de pimentão infectado pelo ToSRV com sintoma de manchas cloróticas, bolhosidade e deformação foliar. D. Planta de soja infectada pelo carlavírus Cowpea mild mottle virus, com necrose severa do ponteiro. E. Tomateiro de crescimento indeterminado infectado pelo crinivírus Tomato chlorosis virus, apresentando mosaico e clorose internerval. F. Meloeiro com infecção pelo carlavírus Melon yellowing-associated virus apresentando sintomas de clorose foliar intensa. A B C D E F RAPP - Volume 24, 201612 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) de uma cultivar de feijoeiro com resistência ao mosaico dourado. Devido a essa dificuldade, um programa de produção de uma planta geneticamente modificada (GM) com resistência foi iniciado com base na estratégia do silenciamento gênico. A planta GM expressa uma fita dupla de RNA correspondente à parte do genoma viral e desencadeia uma resposta de defesa da planta com a destruição do RNA específico do vírus, o que leva a uma redução expressiva de proteínas essenciais para o ciclo replicativo do patógeno. No caso do BGMV, as plantas transgênicas expressam parte do gene Rep e são altamente resistentes à infecção viral (Aragao et al., 2013). Após anos de testes em ambiente confinado e no campo, e todas as avaliações de biossegurança, o feijoeiro transgênico foi liberado para cultivo comercial em 2011 (http://ctnbio.mcti. gov.br/publicacoes/-/document_library_display/ cwksGAQxt1lp/view/678011). Essa é uma ferramenta a mais que deverá fazer parte de um programa de manejo integrado de pragas (Gilbertson et al., 2011) para um manejo efetivo do mosaico dourado do feijoeiro. No Brasil, a diversidade de espécies de begomovírus que infectam fabáceas é baixa. O BGMV foi a única espécie encontrada em amostras de feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris) e de Macroptilium lathyroides coletadas em 2011 e 2012 nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (Ramos-Sobrinho et al., 2014). Na região Nordeste, além do BGMV, foi detectada também a presença do Macroptilium yellow spot virus (MaYSV) (Ramos-Sobrinho et al., 2014; Silva et al., 2012). O BGMV foi o begomovírus predominante em amostras de fabáceas cultivadas e não-cultivadas coletadas em 2003-2005 em três estados do Nordeste (AL, BA e PE) (Wyant et al., 2012; Ramos-Sobrinho et al., 2014). Entretanto, em amostras coletadas em 2011 em Alagoas, o MaYSV foi o vírus predominante (Ramos-Sobrinho et al., 2014). O MaYSV foi relatado pela primeira vez em amostras de M. lathyroides coletadas em 2010 (Silva et al., 2012). Os resultados de Ramos-Sobrinho et al. (2014) sugerem que o MaYSV pode estar substituindo o BGMV como o begomovírus predominante em fabáceas em AL. Caso essa tendência se confirme e o MaYSV se torne comum em cultivos de feijoeiro em outras regiões, o sucesso do plantio do feijoeiro GM com resistência ao BGMV poderá ser comprometido (além disso, esse feijoeiro transgênico poderá ser alvo de infecção com outro vírus transmitido por mosca-branca, o carlavírus Cowpea mild mottle virus, descrito mais à frente). Mais recentemente, houve um relato da ocorrência de Sida micrantha mosaic virus (SiMMV), um begomovírus que infecta naturalmente malváceas, infectando o feijoeiro no estado de Goiás (Fernandes-Acioli, 2011). A importância e a distribuição desta espécie em feijoeiro ainda não são conhecidas. Em termos de variabilidade genética, existem diferenças significativas entre o BGMV e o MaYSV. Populações de BGMV obtidas de feijoeiro comum (P. vulgaris) apresentam baixa variabilidade, enquanto populações obtidas de feijão-fava (P. lunatus) são recombinantes e mais variáveis (Faria e Maxwell, 1999; Ramos-Sobrinho et al., 2014). Já o MaYSV apresenta um elevado grau de variabilidade genética, independentemente do hospedeiro (P. vulgaris, P. lunatus ou M. lathyroides), em parte devido a vários eventos de recombinação (Silva et al., 2012; Ramos-Sobrinho et al., 2014; Lima et al., 2013). Além disso, a população de BGMV analisada por Ramos- Sobrinho et al. (2014) estava estruturada com base em hospedeiro/região geográfica, o que não foi observado para a população de MaYSV. Apesar da ocorrência frequente de BGMV em feijoeiro, infecções de begomovírus em soja não são comuns no Brasil. Ocorrências esporádicas, sem impacto econômico, têm sido relatadas desde 1980, com a detecção de BGMV, SiMMV, Okra mottle virus (OMoV), Tomato yellow spot virus (ToYSV) e Soybean chlorotic spot virus (SoCSV) (Coco et al., 2013; Fernandes et al., 2009; Rodríguez-Pardina et al., 2011). Este cenário está em contraste com a Argentina, onde a infecção de soja pelos begomovírus Soybean blistering mosaic virus (SbBMV) e ToYSV é frequente na região Noroeste, causando perdas moderadas a severas na produção (Rodríguez- Pardina et al., 2011). Como os sintomas causados pelos begomovírus, caracterizados como mosqueado e manchas cloróticas, são suaves, é possível que sua ocorrência não esteja sendo percebida pelos técnicos e produtores brasileiros. Considerando-se a presença de vírus capazes de infectar as plantas de soja e a alta preferência de B. tabaci MEAM1 por essas plantas, acredita-se que em um futuro próximo os begomovírus possam emergir como um problema sério para a sojicultura nacional. Considerando que a soja é excelente multiplicador da mosca-branca, o 13RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) manejo eficiente do inseto nessa cultura é essencial para a agricultura brasileira. 3.2. Begomovírus em solanáceas Uma situação oposta a que ocorre em fabáceas é observada para begomovírus que infectam solanáceas, a exemplo do tomateiro, onde um grande número de espécies tem sido descritas e a variabilidade genética entre os isolados de uma determinada espécie é normalmente muitoalta (Rocha et al., 2013; Zerbini et al., 2005). Os primeiros relatos de begomovírus em tomateiro no Brasil datam da década de 1960 (Costa et al., 1975; Flores et al., 1960). Plantas de tomateiro apresentando sintomas de deformação foliar, encrespamento e clorose internerval difusa foram relatadas. O vírus foi caracterizado e denominado Tomato golden mosaic virus (TGMV). Além do TGMV, cinco outros vírus transmitidos por mosca-branca foram identificados, porém sem causar danos de importância econômica (Matyis et al., 1975). Isso provavelmente ocorria porque as moscas-brancas nativas do grupo NW, únicas que ocorriam no País naquela época, colonizam o tomateiro com baixa eficiência (Bedford et al., 1994). No entanto, no início da década de 1990 um complexo de begomovírus surgiu em tomateiro no Brasil, coincidindo com a introdução e disseminação de B. tabaci MEAM1 (Ambrozevicius et al., 2002; Ribeiro et al., 2003). Desde então, dezesseis espécies de begomovírus já foram descritas, incluindo o Tomato chlorotic mottle virus (ToCMoV), Tomato rugose mosaic virus (ToRMV), Tomato severe rugose virus (ToSRV), Tomato yellow spot virus (ToYSV), Tomato golden vein virus (TGVV) e Tomato yellow vein streak virus (ToYVSV) (Calegario et al., 2007; Fernandes et al., 2006; Ribeiro et al., 2007; Firmino et al., 2009). A introdução de B. tabaci MEAM1 causou um grande impacto para a tomaticultura brasileira, e não se sabe se a recente introdução de B. tabaci MED pode resultar em impactos semelhantes ou ainda maiores. Os begomovírus causam uma grande diversidade de sintomas em tomateiro, incluindo clareamento de nervuras, manchas cloróticas, clorose internerval, mosaico de diferentes intensidades, deformação foliar, diminuição do limbo foliar, enrolamento foliar e nanismo (Figura 1B) (Inoue- Nagata et al., 2006) . Em infecções precoces, os sintomas são severos com uma dramática redução de produtividade (Giordano et al., 2005). De forma análoga ao que é observado para begomovírus em outras culturas (feijoeiro, algodoeiro, mandioca), uma alta taxa de infecção é frequentemente observada, particularmente em tomateiro de crescimento determinado, quando perdas de 100% podem ser observadas (Bergamin Filho et al., 2016). O controle químico do vetor é uma das estratégias mais empregadas na tentativa de redução da incidência da doença, porém apresenta baixa eficiência em períodos de alta população de moscas-brancas. Evidências crescentes apontam que o controle deverá ser voltado para conter a dispersão primária da doença, isto é, as moscas-brancas virulíferas que vêm de fora da lavoura de tomateiro (Bergamin Filho et al., 2016). O uso de plantas com resistência genética a begomovírus representa uma realidade para a cultura do tomateiro. Há no mercado um considerável leque de ofertas de híbridos F1 com resistência moderada ou tolerância. Esses híbridos possuem um ou mais dos principais genes de resistência conhecidos, como Ty-1, Ty-2, Ty-3, Ty-4, Ty-5, ty-5, tcm-1e tgr- 1. Esses genes foram identificados em programas de melhoramento visando resistência ao TYLCV, um begomovírus monossegmentado que não ocorre no Brasil. A resistência conferida por esses genes aos begomovírus bissegmentados existentes no Brasil não é completa. As cultivares são menos suscetíveis à infecção, e quando infectadas, os sintomas são mais brandos, com expressão de leves manchas cloróticas. Em situações de alta pressão de inóculo, os sintomas podem ser severos (Boiteux et al., 2007; Gonzales-Aguilera et al., 2011). O uso de cultivares com resistência é mandatório em regiões de alta incidência, como GO, DF, MG, CE e SP. Levantamentos realizados ao longo dos últimos 20 anos para acessar a distribuição relativa de begomovírus em tomateiro indicam que determinadas espécies tornaram-se prevalentes em diferentes regiões do país (Rocha et al., 2013; Fernandes et al., 2008; Albuquerque et al., 2012b). O sequenciamento direto de fragmentos de PCR de amostras de tomateiro coletadas nos quatro estados da região Sudeste entre os anos de 1998 e 2004 indicou o ToYVSV e o ToSRV como as espécies predominantes em SP, o ToCMoV e o ToSRV como as espécies predominantes em MG e ES, e o ToCMoV e o ToYVSV como as espécies predominantes no RJ (Cotrim et al., 2007; Ambrozevicius et al., 2002). RAPP - Volume 24, 201614 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) A mesma estratégia foi utilizada para identificar begomovírus em amostras de tomateiro coletadas entre 2002 e 2004 no DF e nos estados de SP, MG, GO, BA e PE. O ToSRV foi o vírus predominante no Sudeste e Centro-Oeste, enquanto o Tomato mottle leaf curl virus (ToMoLCV) foi predominante no Nordeste (Fernandes et al., 2008). A prevalência do ToMoLCV no Nordeste foi confirmada por Albuquerque et al. (2012b) [interessantemente, resultados recentes sugerem que esse begomovírus pode ter o genoma monossegmentado (Vu et al., 2015)]. Nos anos de 2005 e 2007, foi realizado um estudo sobre a diversidade de begomovírus em duas importantes regiões produtoras de tomate na região Sudeste, Paty do Alferes (RJ) e Coimbra (Zona da Mata de MG). A análise de sequências de nucleotídeos do DNA-A revelou que em Paty do Alferes o ToYVSV era o begomovírus predominante, encontrado em 56,4% das amostras analisadas, seguido pelo Tomato common mosaic virus (ToCmMV). Já em Coimbra o ToCmMV foi o único begomovírus encontrado infectando tomateiro. Dados mais recentes confirmaram a prevalência do ToSRV e ToCMoV na Zona Metalúrgica de MG (municípios de Carandaí e Florestal) e do ToSRV e ToCmMV na Zona da Mata de MG e na Região Serrana do Espírito Santo (González- Aguilera et al., 2012; Rocha et al., 2013; Barbosa et al., 2016). Rocha et al. (2013) observaram que as populações de begomovírus que infectam o tomateiro no Brasil são altamente recombinantes, possuem uma rápida taxa de evolução molecular e são estruturadas com base em localização geográfica. A hipótese mais aceita para explicar a emergência dos begomovírus que infectam tomateiro no Brasil é a transferência horizontal de vírus nativos que infectam plantas não-cultivadas por B. tabaci MEAM1, inseto que possui uma gama de hospedeiros muito maior do que B. tabaci NW. Uma vez presentes no novo hospedeiro, esses vírus evoluem rapidamente, dando origem às espécies detectadas em plantas cultivadas (Zerbini et al., 2010; Rocha et al., 2013). A predominância de algumas espécies pode ser devido a diferenças na adaptação ao tomateiro (Alves-Junior et al., 2009) ou diferenças na eficiência de transmissão pelo vetor (Macedo et al., 2015). Uma vez que os vírus estejam estabelecidos no tomateiro, as plantas não-cultivadas passam a servir como reservatório natural e fonte de inóculo primário (Barreto et al., 2013; Silva et al., 2010), mas são dispensáveis epidemiologicamente caso o tomateiro esteja presente no campo durante todo o ano. Assim, uma das medidas mais eficientes de controle de begomovírus em tomateiro é o estabelecimento do vazio fitossanitário (Salati et al., 2002). Devido aos sérios prejuízos causados pelos begomovírus em tomateiros, foi implementado em 2003 um período de vazio fitossanitário (IN 024, SDA, MAPA, 15/03/2003). Essa normativa tem o objetivo de reduzir a população de tomateiro, considerado a principal fonte de vírus, e não de moscas-brancas. Uma Instrução Normativa da Agrodefesa instituiu o vazio fitossanitário em Goiás a partir de 2007 (Agrodefesa, IN 05/2007) e foi reeditada em 2011 (Agrodefesa, IN 06/2011). Desde então, não é permitido o plantio de tomateiro para processamento nos meses de dezembro e janeiro, isto é, o transplantio somente pode ser realizado entre os meses de fevereiro a junho. Entretanto, a normativa é restrita a tomateiro de crescimento determinado e não restringe o cultivo de tomateiro de crescimento indeterminado. Essa situação leva em conta a dificuldade de fiscalização de pequenos produtores, porémcontribui para a redução da eficiência da medida. Considerando-se a importância da tomaticultura para processamento industrial em certas regiões, a Instrução Normativa de 2011 estendeu o vazio fitossanitário para o tomateiro estaqueado em alguns municípios. A realização de medidas de manejo integrado de pragas também é preconizada pela Instrução Normativa. Outros estados como SP e MG também seguem este período de vazio fitossanitário, apesar de não regulamentado oficialmente. O controle químico do vetor é baseado na aplicação sistemática e frequente de inseticidas na lavoura, o que resulta na baixa eficiência do controle. O controle do vetor precisa ser realizado em escala regional, abrangendo as culturas vizinhas e considerando a flora nativa e plantas invasoras. A complexidade do sistema agrícola brasileiro, que consiste de cultivos contínuos de hospedeiros de moscas-brancas e de vírus, dificulta esse controle. Assim como em fabáceas, o manejo de begomovírus em tomateiro requer um programa de manejo integrado de pragas (Gilbertson et al., 2011). Em pimenteiras (Capsicum annuum, C. frutescens, C. chinense e C. baccatum), a ocorrência de begomovírus parece ser menos expressiva, 15RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) provavelmente pela baixa atratividade dessas plantas às populações de B. tabaci presentes no Brasil (em contraste com outros países como Índia e México). Os begomovírus causam em pimenteiras sintomas de manchas cloróticas e deformação foliar (Figura 1C). Em 2001, Lima e colaboradores relataram a ocorrência de begomovírus em C. annuum (Lima, 2001), seguido do relato de ToSRV em C. baccatum (Bezerra-Agasie et al., 2006) e Tomato golden vein virus (TGVV) e ToYVSV em pimentão (Nozaki, 2010). Em batateira, houve nos anos recentes um destacado aumento da infestação de moscas- brancas. Junto com a alta população de moscas- brancas, cresceu a incidência da virose conhecida como “mosaico deformante da batateira”. O primeiro relato de begomovírus em batateira data da década de 1980, mais tarde confirmado como uma infecção causada por ToYVSV (Ribeiro, 2006). Atualmente são relatadas a ocorrência de ToYVSV e ToSRV nas principais regiões produtoras de batata do Brasil (Albuquerque et al., 2010; Souza-Dias et al., 2008). Assim, verifica-se que os mesmos begomovírus infectam tomateiros, pimenteiras e batateiras. Os begomovírus constituem o grupo mais numeroso de geminivírus, e certamente são os mais importantes economicamente no Brasil. No entanto, há relatos da ocorrência de vírus causando encrespamento apical em fumo e tomateiro no Brasil, e que seriam transmitidos por cigarrinhas (Agallia albidul) (Bennett, 1949). Embora a identidade desses vírus não tenha sido confirmada por métodos moleculares, os sintomas e a transmissão por cigarrinha sugerem que seriam curtovírus (um outro gênero da família Geminiviridae). Não há relatos recentes desses vírus no Brasil e, portanto, essa questão permanece indefinida. 3.3. Begomovírus em batateira-doce A batata-doce, devido a sua característica de propagação vegetativa, enfrenta uma série de problemas fitossanitários, principalmente pela ausência de um programa de produção de material propagativo livre de vírus. Justamente devido à falta de propágulos comprovadamente sadios, a avaliação da importância dos vírus que infectam a batata-doce é dificultada. Os begomovírus causam sintomas como enrolamento foliar, mosqueado e clareamento de nervuras, porém a diagnose é complexa pela possível ocorrência de infecção mista com outros vírus. Os begomovírus têm sido observados em batata-doce em todo o mundo, inclusive no Brasil. Até o momento, dois begomovírus foram relatados na cultura: Sweet potato leaf curl virus (SPLCV) e Sweet potato leaf curl Sao Paulo virus (SPLCSPV) (Albuquerque et al., 2012a; Albuquerque et al., 2011; Paprotka et al., 2010a; Brown et al., 2015). Ambos possuem genoma monossegmentado, em contraste com os begomovírus relatados em outras culturas cujos genomas são bissegmentados. Apesar de estarem amplamente disseminados no país, não há conhecimento sobre danos causados por begomovírus nesta cultura. 3.4. Begomovírus em malváceas Uma paisagem comum pode ser frequentemente observada em áreas rurais, principalmente em pastagens: pontos amarelos em meio à vegetação verde. Ao se aproximar, verifica- se que são malváceas cujas folhas apresentam forte sintoma de clorose e mosaico. Trata-se da “clorose variegada das malváceas”. Essas plantas chamaram a atenção de inúmeros pesquisadores no Brasil e foram alvo de relatos pioneiros nas décadas de 1930-1960. Foi possível verificar naquela época que o agente causal da clorose variegada das malváceas tinha como vetor a mosca-branca e que o agente etiológico [que se acreditava ser o Abutilon mosaic virus, descrito no início do século XX na Alemanha (Baur, 1906)] causava mosaico em diversas malváceas, incluindo Sida spp. e algodoeiro (Costa, 1937; Costa, 1955; Orlando, 1946; Costa, 1960; Costa, 1954 ). Entretanto, a caracterização de begomovírus em malváceas, realizada utilizando ferramentas moleculares, não confirmou a presença de Abutilon mosaic virus no Brasil. Todos os begomovírus relatados em malváceas no país até o presente são de ocorrência exclusiva no Brasil: Cotton chlorotic spot virus (CCSV), Melochia mosaic virus (MelMV), Melochia yellow mosaic virus (MelYMV), Okra mottle virus (OMoV), Pavonia mosaic virus (PavMV), Pavonia yellow mosaic virus (PavYMV), Sida common mosaic virus (SiCmMV), Sida mottle Alagoas virus (SiMoAV), Sida mottle virus (SiMoV), SiMMV, Sida yellow blotch virus (SiYBV), Sida yellow leaf curl virus (SiYLCV), Sida yellow mosaic Alagoas virus (SiYMAV), Sida yellow mosaic virus (SiYMV), Sida yellow net virus (SiYNV) (Almeida et al., 2013, Barreto et al., 2013, Castillo- Urquiza et al., 2008, Fiallo-Olivé et al., 2015, Jovel et RAPP - Volume 24, 201616 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) al., 2004, Pinto et al., 2015, Tavares et al., 2012). Uma ou mais dessas espécies podem ter sido responsáveis pela clorose variegada das malváceas estudada nas décadas de 1930-1960. 3.5. A alta diversidade dos begomovírus no Brasil Um grande número de begomovírus infectando plantas não-cultivadas tem sido caracterizado no Brasil (Arnaud et al., 2007; Castillo- Urquiza et al., 2008; Silva et al., 2012; Silva et al., 2011; Tavares et al., 2012; Fernandes et al., 2011; Pinto et al., 2015; Fiallo-Olivé et al., 2015; Blawid et al., 2013; Paprotka et al., 2010b; Paprotka et al., 2010a). A análise comparativa de populações de begomovírus encontradas em plantas cultivadas e não-cultivadas indicou que aquelas infectando plantas não-cultivadas apresentam um grau de variabilidade genética mais elevado em comparação àquelas presentes em plantas cultivadas (Lima et al., 2013; Rocha et al., 2013). Um estudo comparando populações dos begomovírus MaYSV (proveniente de Macroptilium lathyroides) e ToSRV (proveniente de tomateiro) sugeriu que a recombinação, e não a seleção adaptativa, explica a maior variabilidade de begomovírus em hospedeiros não-cultivados (Lima et al., 2013). Os resultados desses trabalhos dão suporte à hipótese de que os begomovírus encontrados em tomateiro no Brasil são originados de vírus nativos presentes em plantas não-cultivadas, e que após a transferência para o tomateiro as populações virais evoluíram rapidamente, originando novas espécies mais adaptadas ao novo hospedeiro. A presença de diversas espécies no campo, todas transmitidas pelo mesmo inseto vetor, torna comum a ocorrência de infecções mistas, com dois ou mais vírus presentes simultaneamente na mesma planta, aumentando a probabilidade da ocorrência de eventos de recombinação e pseudo- recombinação, o que pode levar ao surgimento de espécies melhor adaptadas ao hospedeiro (Andrade et al., 2006; Inoue-Nagata et al., 2006; Ribeiro et al.,2007). Evidências de recombinação e pseudo- recombinação já foram encontradas em associação ao complexo de begomovírus infectando o tomateiro no Brasil. Galvão et al. (2003)2003 e Ribeiro et al. (2007) sugeriram que os isolados MG-Bt1 e BA-Se1 do ToCMoV possuem origem recombinante. A formação de pseudo-recombinantes viáveis entre clones infecciosos do TGMV (DNA-A) e ToYSV (DNA-B), e entre o ToYSV (DNA-A) e o Tomato crinkle leaf yellow virus (ToCrLYV) já foi demonstrada (Andrade et al., 2006). Um exemplo do grau de promiscuidade entre os begomovírus que infectam o tomateiro no Brasil, com infecções mistas que facilitam a ocorrência de eventos de recombinação e pseudo-recombinação, é aquele envolvendo o Tomato rugose mosaic virus (ToRMV) e o ToSRV. A identidade das sequências de nucleotídeos do DNA-A dos dois vírus é de 86%, porém para o DNA-B é de 98%, indicando que na verdade esses dois vírus constituem pseudo-recombinantes naturais, no qual dois DNA-A distintos compartilham o mesmo DNA-B. Todas as combinações possíveis entre o DNA-A e o DNA-B de isolados dos dois vírus apresentam o mesmo grau de infectividade e induzem os mesmos sintomas em tomateiro (Silva et al., 2014). Além disso, o DNA-A do ToRMV inclui um fragmento recombinante doado pelo ToSRV, com cerca de 1400 nt, incluindo a maior parte do gene Rep (Ribeiro et al., 2007; Silva et al., 2014). Assim, a origem do ToRMV envolve eventos de recombinação e pseudo-recombinação com o ToSRV. É interessante ressaltar que o ToSRV é muito mais comumente encontrado no campo do que o ToRMV. Entretanto, em infecções mistas envolvendo componentes genômicos dos dois vírus, os componentes do ToRMV são replicados preferencialmente em relação aos do ToSRV (Silva et al., 2014). Os autores propõem que a prevalência do ToSRV no campo pode ser devida à transmissão preferencial pelo inseto vetor, somado à ocorrência de infecções simples apenas pelo ToSRV. 3.6. Características da transmissão de begomovírus por B. tabaci O gênero Begomovirus contém o maior número de vírus transmitidos por B. tabaci (Navas- Castillo et al., 2011a; Gilbertson et al., 2015) e o vírus-modelo para estudos de transmissão é o TYLCV. Vários estudos demonstram que a eficiência de transmissão de begomovírus varia de acordo com as diferentes espécies crípticas de B. tabaci, e mesmo entre populações da mesma espécie. As diferenças na habilidade de transmissão podem ser atribuídas a hábitos alimentares, aos hospedeiros preferencialmente colonizados, à constituição de endossimbiontes secundários na mosca branca, e principalmente à constituição genética (Ghanim, 2014; revisado por Rosen et al., 2015). Ghanim et al. (1998) verificaram que um 17RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) isolado de TYLCV proveniente de Israel foi transmitido de forma transovariana de fêmeas virulíferas para sua progênie, bem como entre copulações entre fêmeas e machos (Ghanim e Czosnek, 2000). Bosco et al. (2004) detectaram o DNA do Tomato yellow leaf curl Sardinia virus (TYLCSV) em ovos, ninfas e raramente em adultos da primeira geração da progênie, indicando transmissão do DNA de forma transovariana, porém este DNA não foi infectivo, sendo portanto sem relevância epidemiológica. A relação vírus-vetor é do tipo persistente circulativa. O início da transmissão ocorre após um período de latência, que corresponde ao tempo necessário para que as partículas virais atravessem todas as barreiras do inseto e alcancem as glândulas salivares (Ghanim, 2014). O período de latência para o TYLCV foi inicialmente definido como sendo de 21 horas (Cohen e Nitzany, 1966; citados por Ghanim, 2014) e mais recentemente de 8 horas (Ghanim et al., 2001). O estilete de B. tabaci penetra a epiderme da planta e move intracelularmente pelo parênquima até alcançar o floema, local onde os begomovírus são adquiridos e transmitidos. O período mínimo de acesso à aquisição (PAA) do TYLCV (isolados do Oriente Médio) varia de 15 a 60 minutos e o período mínimo de inoculação (PAI) de 15 a 30 minutos. No inseto, os vírus se movem pelo canal alimentar até alcançar o intestino médio (“midgut”), atravessam as células epiteliais do intestino para cair na hemolinfa e serem levados às glândulas salivares, de onde serão liberados no interior da planta pela salivação do inseto durante o processo de alimentação (Ghanim, 2014). A presença do endossimbionte secundário de B. tabaci, Hamiltonella defensa, é essencial para a transmissão do TYLCV pela mosca-branca. Este endossimbionte produz uma proteína de 63kDa, homóloga à proteína GroEL de E. coli, com a provável função de proteger as partículas virais da proteólise incitada pelo sistema imune do inseto (Morin et al., 1999; Morin et al., 2000). Bemisia tabaci pode transmitir o TYLCV por várias semanas e muitas vezes durante todo o seu período de vida, porém a eficiência de transmissão reduz com a idade do inseto (Rubinstein e Czosnek, 1997). Insetos da espécie MED passam mais tempo se alimentando e salivando em comparação com a espécie MEAM1 (Liu et al., 2012; Liu et al., 2013), e consequentemente adquirem e transmitem o TYLCV com maior eficiência (Ning et al., 2015). Além disso, a alimentação em plantas infectadas pelo TYLCV tem um efeito negativo sobre MEAM1 e positivo sobre MED. Estas diferenças de comportamento das duas espécies podem explicar a substituição de MEAM1 por MED como a espécie dominante na China (Liu et al., 2013), e sugerem que a espécie MED pode se tornar prevalente também no Brasil. No caso de begomovírus brasileiros, os primeiros estudos apontaram que os vírus podem ser adquiridos pelos insetos durante períodos muito curtos (~10 min) de alimentação, e que a taxa de transmissão aumenta com o aumento do tempo de alimentação na fonte de vírus, até 24 horas, e com o período de inoculação na planta sadia (Costa, 1998). Trabalhos realizados com o ToSRV confirmaram que a aquisição do vírus pode ocorrer com um minuto de alimentação na planta (J.A.M. Rezende, dados não publicados), porém a eficiência de transmissão aumenta à medida que o inseto tem maior período de acesso à aquisição do vírus (Freitas, 2012). O período de retenção do ToSRV na mosca-branca pode chegar a 25 dias (Freitas et al., 2012). Com relação ao ToYVSV, verificou-se que o período mínimo de acesso de aquisição é de 30 minutos e o período de acesso de inoculação é de 10 minutos (Firmino et al., 2009). Estudos realizados com o ToRMV constataram que os períodos mínimos de acesso de aquisição e inoculação do vírus foram de 15 minutos e de 30 minutos, respectivamente. O período de latência foi superior a 16 horas. A capacidade do inseto em transmitir o vírus aumentou com o aumento do período de aquisição (Santos et al., 2003). A população predominante do vetor e a capacidade de transmissão de cada espécie de begomovírus podem influenciar de forma decisiva a prevalência de espécies virais no campo e, por conseguinte, impactar a incidência, a severidade e a distribuição das viroses, e a resistência das plantas. Acredita-se que B. tabaci NW era a única espécie presente no Brasil até a década de 1990, quando os begomovírus ocorriam em feijoeiro, malváceas e euforbiáceas. Após a introdução de B. tabaci MEAM1, verificou-se a rápida emergência de begomovírus em tomateiro, o amarelão em meloeiro e o amarelão em tomateiro, além do mosaico dourado do feijoeiro. O caráter polífago de B. tabaci MEAM1 certamente contribuiu para a transferência dos begomovírus nativos no país, presentes em espécies silvestres RAPP - Volume 24, 201618 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) e daninhas, para plantas cultivadas. Isso também influenciou de forma decisiva a elevação da taxa de infecção mista de vírus na mesma planta, desencadeando a ocorrência de processos de recombinação e pseudo-recombinação entre os vírus, descritos anteriormente. Um exemplo do efeitoda relevância desta inter-relação entre vírus-vetor é o relato da maior taxa de transmissão de um isolado de ToSRV quando em infecção mista com o TGVV (Macedo et al., 2015). Isso sugere que a prevalência atual de ToSRV em tomateiro é relacionada com a ampla dispersão de B. tabaci MEAM1 e eficiente transmissão de ToSRV por esse vetor. Um outro estudo foi realizado com Euphorbia yellow mosaic virus (EuYMV) em Euphorbia heterophylla. A espécie nativa B. tabaci NW2 é uma excelente vetora do EuYMV comparada a MEAM1, sugerindo que NW2 pode ter um papel crucial na dispersão desse vírus no Brasil (Marchi, 2014). Conforme mencionado anteriormente, a recente introdução de B. tabaci MED pode ocasionar mudanças significativas na ocorrência de viroses no Brasil, seja em culturas onde as viroses associadas a moscas-brancas já são importantes ou em culturas em que essas viroses não são relatadas ou ocorrem em baixa incidência. 4. Crinivírus em tomateiro e pimentão Tomato chlorosis virus (ToCV) e Tomato infectious chlorosis virus (TICV) são as duas únicas espécies do gênero Crinivirus (família Closteroviridae) associadas com doenças de importância econômica, principalmente na cultura do tomateiro, em diferentes países. O TICV já foi relatado em 12 países, localizados principalmente na América do Norte, Europa e Ásia, mas até o presente não foi encontrado no Brasil (Navas-Castillo et al., 2011). O ToCV já foi relatado em 23 países, entre os quais o Brasil (Barbosa et al., 2008). O ToCV foi identificado pela primeira vez infectando tomateiros na Florida, EUA, causando a doença denominada “yellow dwarf disorder”, inicialmente atribuída a fatores nutricionais (Simone et al., 1996; Wisler et al., 1998). A partir de então esta espécie de crinivírus foi encontrada infectando tomateiro e pimentão em mais de 20 países (Navas-Castillo et al., 2011b). No Brasil, o ToCV foi primeiramente constatado em tomateiros no município de Sumaré, São Paulo (Barbosa et al., 2008), causando a doença denominada “amarelão”. Um relato de infecção dessa solanácea por um closterovírus, não completamente caracterizado, na região de Campinas, SP, em 1998, cuja descrição dos sintomas é semelhante à descrita para o ToCV, foi feito por Pavan et al. (1999). Mais tarde o ToCV foi encontrado nos estados de MG, RJ, ES, GO e BA (Barbosa et al., 2011). É possível que o ToCV ocorra em outras regiões do país, visto infectar espécies de solanáceas que ocorrem em todo território nacional e ser transmitido por um vetor cosmopolita. No Brasil, além do tomateiro e do pimentão, o ToCV já foi encontrado infectando naturalmente outras espécies cultivadas de solanáceas como a batateira (Freitas et al., 2012), a berinjela e o jiloeiro (Fonseca et al., 2015). A incidência do ToCV, tanto no Brasil como em outros países, principalmente em tomateiro e pimenteira é bastante variável, podendo em alguns casos chegar a 100% (Barbosa et al., 2008; Dovas et al., 2002; Fortes et al., 2012; Macedo et al., 2014; Navas-Castillo et al., 2000; Orfanidou et al., 2014; Velasco, 2008). O efeito do ToCV na produção ainda não foi avaliado de maneira quantitativa para a maioria das solanáceas cultivadas, com exceção do pimentão (Fortes et al., 2012) e do tomateiro (Mansilla, 2015). Para o pimentão, em avaliações experimentais em casa-de-vegetação, encontraram- se reduções na produção da ordem de 45-75%, em função da variedade. Em ensaios de avaliação de resistência/tolerância de diferentes genótipos de tomateiro ao amarelão causado pelo ToCV, a redução do peso dos frutos colhidos das plantas infectadas quando jovens variou de 21 a 52 %, dependendo do genótipo. Os sintomas induzidos pelo ToCV em tomateiros aparecem normalmente após três a quatro semanas da inoculação e caracterizam-se principalmente por áreas cloróticas internervais nas folhas baixeiras (Figura 1E). Esse sintoma pode vir acompanhado por bronzeamentos ou manchas avermelhadas, enrolamento das margens das folhas para cima e engrossamento do limbo foliar, que se torna quebradiço. Não há sintomas em flores e frutos (Wisler et al., 1998). Os mesmos sintomas já foram observados em plantas de pimentão e batateira. Apesar de não ocorrerem sintomas óbvios nas frutas, a produção é frequentemente afetada pela redução do tamanho e do número de frutos. O ToCV apresenta partículas alongadas e flexuosas, com comprimentos que variam de 800 - 19RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) 850 nm (Liu et al., 2000). O genoma é composto por duas moléculas de RNA de fita simples, senso positivo. Os RNA1 e RNA2 do isolado brasileiro possuem 8594 e 8242 nt, respectivamente (Albuquerque et al., 2013), e apresentam as características típicas de outros isolados do ToCV cujos genomas completos estão depositados em bancos de dados públicos: o RNA1 apresenta quatro genes, dos quais os dois maiores codificam proteínas associadas à replicação, e o RNA2 possui nove genes que codificam proteínas associadas com a proteção do genoma, movimento, transmissão pelo vetor e outras funções ainda não identificadas (Albuquerque et al., 2013; Wintermantel e Wisler, 2006). Ambos componentes genômicos codificam proteínas com atividade de supressão do silenciamento de RNA (Canizares et al., 2008). Análises filogenéticas realizadas com base nas sequências de nucleotídeos dos genes que codificam a proteína HSP70h (homóloga da “heat shock protein”) e do genoma completo de isolados do ToCV indicaram alto nível de conservação dos isolados brasileiros, com identidades de sequência superiores a 99% (Albuquerque et al., 2013; Barbosa et al., 2013). Em ambos os trabalhos, as maiores identidades nas sequências de nucleotídeos ocorreram entre isolados de ToCV de países do Mediterrâneo, sugerindo que os isolados brasileiros devem ter origem a partir de uma única introdução. Wintermantel e Wisler (2006) também constataram um alto grau de identidade genética quando compararam as sequências de nucleotídeos do gene que codifica a proteína capsidial de isolados do ToCV dos EUA (incluindo Porto Rico) com as sequências correspondentes de isolados de outros países. Tendo em conta que o ToCV não é transmitido verticalmente e a relação com o vetor é semi-persistente, o mais provável é que a introdução desse vírus no Brasil tenha acontecido por meio de material vegetativo infectado (Barbosa et al., 2013). Dados recentes apontam que a gama de hospedeiros do ToCV envolve 52 espécies de plantas pertencentes a 18 famílias (Kil et al., 2015) e este quadro não parece definitivo, pois mais recentemente foram incluídas as espécies Raphanus sativus, R. raphanistrum e Eruca sativa (Boiteux et al., 2015). O ToCV é um vírus limitado ao floema e transmitido de forma semi-persistente por várias espécies de mosca-branca: B. tabaci NW1, MEAM1 e MED, Trialeurodes abutilonea e T. vaporariorum (Navas-Castillo et al., 2011b; Wintermantel e Wisler, 2006). B. tabaci MEAM1 e T. abutilonea são os vetores mais eficientes do vírus. Este persiste por até cinco dias em T. abutilonea, três dias em B. tabaci MEAM1, e apenas um dia em B. tabaci NW1 e T. vaporariorum (Wintermantel e Wisler, 2006). A aquisição e a transmissão do vírus pelos vetores ocorrem após curtos períodos de alimentação, embora a transmissão seja mais eficiente após algumas horas. No Brasil não há relato da presença de T. abutilonea, porém sabe-se que T. vaporariorum também transmite o ToCV (Freitas et al., 2012). O ToCV não é transmitido por extrato vegetal (Dovas et al., 2002). Também não há evidência de transmissão por sementes. Ressalte-se que o TICV é transmitido de maneira semi-persistente somente por T. vaporariorum (Navas-Castillo et al., 2011). A detecção do ToCV em plantas sintomáticas, bem como a sua diferenciação do TICV, pode ser feita por RT-PCR (Dovas et al., 2002; Wintermantel e Hladky, 2010) e hibridização com sonda de ácido nucléico (Fortes etal., 2012; García-Cano et al., 2010). Adicionalmente, o ToCV e o TICV podem ser diferenciados e identificados por meio da transmissão pelo vetor, visto que o TICV é transmitido somente por T. vaporariorum (Navas-Castillo et al., 2011). O manejo do amarelão em tomateiro, bem como em outras solanáceas cultivadas, baseia-se principalmente no manejo do vetor, por meio de pulverizações com inseticidas e práticas culturais. Embora os inseticidas possam reduzir a população do vetor, eles não são eficientes no controle da doença, pois geralmente não impedem que insetos virulíferos inoculem o vírus antes de serem mortos. Eliminação de plantações velhas de solanáceas e de hospedeiros alternativos do vírus, para redução de fontes de inóculo, deve ser implementada antes do início da nova plantação (Tzanetakis et al., 2013). Não há variedades ou híbridos de tomateiros comerciais resistentes ao ToCV. O mesmo é verdadeiro para as outras espécies de solanáceas cultivadas. Solanum peruvianum é fonte de resistência ao ToCV que pode ser usada em programas de melhoramento para desenvolvimento de híbridos de tomateiro resistentes a esse crinivírus (García-Cano et al., 2010). 5. Carlavírus em soja e feijoeiro Na safra de 2000/01, os produtores de soja do estado de Goiás observaram plantas com sintomas de nanismo, queima do broto e necrose RAPP - Volume 24, 201620 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) da haste (Figura 1D), denominando a nova doença de “necrose da haste”. Acreditava-se que a doença seria de origem fúngica, porém estudos com enxertia comprovaram que a doença tem etiologia viral e a caracterização molecular, sorológica, com ensaios de transmissão e microscopia eletrônica revelaram que o vírus causador pertence à espécie Cowpea mild mottle virus (CPMMV), um carlavírus (Almeida et al., 2005). Nos anos seguintes, ocorrências severas foram relatadas nos estados do MT, BA, MA, PR e MG, limitando a produção de soja (Almeida et al., 2005; Zanardo et al., 2014b). O CPMMV foi descrito pela primeira vez infectando caupi (Vigna unguiculata) em Gana, onde foram observados sintomas como mosqueado, manchas cloróticas e deformação foliar (Brunt e Kenten, 1973; Menzel et al., 2010; Naidu et al., 1998; Tavassoli et al., 2008). Desde então sua ocorrência tem sido relatada em diversos hospedeiros da família Fabaceae em diferentes regiões geográficas (Menzel et al., 2010; Naidu et al., 1998; Tavassoli et al., 2008). O primeiro relato de CPMMV no Brasil ocorreu em 1979, causando uma virose do feijoeiro denominada mosaico angular (Costa et al., 1983). O vírus causador do mosaico angular, na época denominado Bean angular mosaic virus (BAMV), foi observado também no Paraná infectando outras fabáceas, incluindo a soja (Costa et al., 1983). Mais tarde, estudos sorológicos realizados por Gaspar e Costa (1993) comprovaram que o BAMV era idêntico ao CPMMV descrito em Gana (Brunt e Kenten, 1973). O CPMMV pertence ao gênero Carlavirus, família Betaflexiviridae, que inclui vírus de partículas flexuosas com dimensões de aproximadamente 610- 700 nm de comprimento e 12-15 nm de diâmetro (Adams et al., 2012). Seu genoma é composto de RNA fita simples, sentido positivo, com comprimento entre 6500 e 8600 nt. Sequências completas de nove isolados de CPMMV estão disponíveis em bancos de dados públicos. A transmissão natural de CPMMV ocorre de forma não-persistente pelo vetor B. tabaci MEAM1 (Marubayashi et al., 2010). O CPMMV, juntamente com o Melon yellowing-associated virus (MYaV), são os únicos carlavírus transmitidos por mosca- branca, sendo os demais comumente transmitidos por afídeos (Nagata et al., 2003). Também há relatos da ocorrência de transmissão de alguns isolados do CPMMV via extrato vegetal e semente (Horn et al., 1991; Thouvenel et al., 1982). Hospedeiros naturais do CPMMV pertencem à família Fabaceae, e a gama de hospedeiros experimentais inclui plantas das famílias Chenopodiaceae e Solanaceae (Marubayashi et al., 2010; Zanardo et al., 2014a). Os sintomas variam de acordo com o hospedeiro e a época do ano. Em caupi, o CPMMV causa manchas cloróticas nas folhas primárias e distorção foliar (Brunt e Kenten, 1973). Em feijoeiro, o CPMMV causa clorose das nervuras, clorose internerval, faixa verde das nervuras e mosaico em forma de manchas angulares amarelas limitadas pelas nervuras (mosaico angular) (Costa et al., 1983). Em plantas de soja, causa clorose e mosaico nas folhas, necrose apical, distorção e nanismo (Figura 1D). Os sintomas em soja tornam-se mais aparentes na época de surgimento das vagens: queima do broto e necrose das hastes, que pode levar à morte das plantas (Almeida et al., 2005; Zanardo et al., 2014a). As caracterizações biológica, molecular e de diversidade genética do CPMMV mostraram que os seis isolados brasileiros cujos genomas completos foram sequenciados constituem uma estirpe do CPMMV, denominada CPMMV-BR, enquanto o isolado relatado em Gana corresponderia a uma estirpe distinta (Zanardo et al., 2014b)2014b. Dentre os seis isolados brasileiros, cinco são altamente relacionados, e um isolado (BR:GO:01:1) possui um relacionamento um pouco mais distante devido a um evento de recombinação englobando as ORFs 2 a 6 (Zanardo et al., 2014b). A emergência da necrose da haste em soja preocupou os sojicultores inicialmente, porém o uso de cultivares com tolerância à doença (Arias et al., 2015) amenizou o problema. Não há informações na literatura sobre danos causados pelo CPMMV em outras culturas no Brasil. 6. Carlavírus em meloeiro A doença conhecida como “amarelão do meloeiro” foi observada em plantios comerciais do município de Baraúnas, RN, em 1997. O sintoma principal é a clorose generalizada nas folhas mais velhas (Figura 1F), de coloração amarelo intensa. O sintoma de amarelecimento foliar aparece inicialmente nas folhas velhas e depois atinge as folhas mais novas (Nagata et al., 2003). Nas folhas medianas, sintomas de mosaico são normalmente observados. Nas plantas doentes não se observa 21RAPP - Volume 24, 2016 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) alteração no tamanho e peso dos frutos, porém há diminuição do conteúdo de sólidos solúveis (grau Brix), o que restringe a exportação dos frutos. A causa da doença ficou por muitos anos desconhecida, com a hipótese de alguma desordem nutricional sendo a mais favorecida. Testes de transmissão por enxertia demonstraram o caráter patogênico da doença (Nagata et al., 2003). Verificou-se também que o vírus é transmitido por mosca-branca (Santos, 2004; Nagata et al., 2003). Mais tarde, verificou-se em tecido de meloeiro doente a presença de inclusões citoplasmáticas semelhantes àqueles produzidos por carlavírus. Foi detectada, em seguida, a presença de um vírus de RNA com organização genômica semelhante a um carlavírus e a sequência parcial do seu genoma demonstrou ser um vírus desconhecido, nomeado como Melon yellowing-associated virus (MYaV) (Nagata et al., 2005, Nagata et al., 2003). Esse vírus é distinto de outros carlavírus, que são em geral transmitidos por afídeos (exceção também do CPMMV). O MYaV apresenta partículas alongadas e flexuosas, com comprimentos que variam de 600 - 700 nm (Nagata et al., 2003). O genoma é formado por uma molécula de RNA de fita simples. Apenas parte da sequência genômica foi determinada, incluindo os 1612 nt da extremidade 3’ (Nagata et al., 2005). Esta região contém duas ORFs em sobreposição, a que codifica a proteína capsidial e a possível proteína que se liga a ácidos nucleicos, seguida da região 3’ não-traduzida (3’UTR) e uma cauda poliadenilada. Essa organização genômica é típica dos carlavírus. A proteína capdisial apresenta a maior identidade com a sequência do carlavírus Garlic latent virus, um carlavírus relatado somente no Brasil. O MYaV é um vírus restrito ao floema, que se encontra em baixa concentração na planta infectada e não é transmissívelvia extrato vegetal. Testes sorológicos demonstraram a associação entre plantas de meloeiro com sintomas e a presença do MYaV (Ávila et al., 2008, Lima et al., 2009). Esforços para o desenvolvimento de cultivares resistentes estão sendo realizados, porém ainda não há oferta de meloeiros com resistência ao vírus. Atualmente, a doença é controlada com o uso de um túnel de TNT (tecido-não-tecido) sobre as plantas desde a fase inicial de desenvolvimento até a floração, após o qual a transmissão do vírus ocorre e afeta o meloeiro no final de cultivo. A doença é particularmente importante no Nordeste em cultivos de meloeiro, tanto para exportação como para o consumo interno dos frutos. 7. Considerações finais A mosca-branca representa um dos problemas mais preocupantes da agricultura mundial. No Brasil, contrastando com a ocorrência de viroses associadas a B. tabaci anteriormente restrita a fabáceas e malváceas, a lista atual de culturas afetadas pelo inseto é extensa. Acredita-se que dois fatores estejam particularmente envolvidos com a explosão da mosca-branca no Brasil, notadamente a partir da década de 1990: a expansão da cultura da soja e a introdução de B. tabaci MEAM1. Levando-se em conta também o aumento da área irrigada na região do cerrado, o sistema agrícola brasileiro propicia a constante e abundante presença de alimento para B. tabaci. A característica de alta polifagia de B. tabaci MEAM1, em comparação a B. tabaci NW, também foi essencial para dispersão e estabelecimento deste inseto por todo território brasileiro. A presença de grande diversidade de vírus eficientemente transmitidos por este inseto em plantas nativas e invasoras desencadeou a emergência de diversas doenças de importância econômica. Hoje, viroses importantes são relatadas em fabáceas, solanáceas e cucurbitáceas, causando prejuízos altíssimos para a cadeia produtiva. É possível que os danos causados pelos vírus associados a B. tabaci aumentem, face os relatos recentes de ocorrência de begomovírus em culturas como soja, algodoeiro e maracujazeiro; ou com a introdução de novo begomovírus em cucurbitáceas e brássicas, crinivírus em cucurbitáceas e torradovírus em tomateiro. Fica claro que a introdução de B. tabaci MEAM1 no Brasil, seguido da sua rápida dispersão em todas as áreas agrícolas, foi decisiva para os problemas atuais. Entretanto, ainda não se sabe o que acontecerá com a dispersão de B. tabaci MED, recentemente encontrada no Brasil. Necessita-se de mais grupos atuando na pesquisa com esses vírus e insetos. Há também necessidade de viabilizar a realização de um conjunto de práticas visando o manejo integrado de pragas em nível regional, considerando toda a paisagem agrícola e natural. 8. Referências Adams MJ, Candresse T, Hammond J, Kreuze JF, RAPP - Volume 24, 201622 Alice Kazuko Inoue-Nagata, et al. (7-29) Martelli GP, Namba S, Pearson MN, Ryu KH, Saldarelli P, Yoshikawa N (2012) Betaflexiviridae. In: King AMQ, Adams MJ, Carstens EB, Lefkowitz EJ (Eds.) Virus Taxonomy - Ninth Report of the International Committee on Taxonomy of Viruses. San Diego, EUA, Elsevier Academic Press. pp. 920- 941. 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