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TEXTO 00 - Apostila do Curso

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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA 
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA 
Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública 
Diretoria de Ensino e Pesquisa 
 
COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO 
Coordenação de Ensino a Distância 
 
 
Conteudista 
Bernadete Cordeiro 
Nelson Gonçalves de Souza 
 
Revisão Pedagógica 
Ardmon dos Santos Barbosa 
 
Revisor de Conteúdo (2ª Edição) 
Danilo Bruno Moreira 
 
SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO 
 
Programação e Edição 
Ozandia Castilho Martins 
Fagner Fernandes Douetts 
Renato Antunes dos Santos 
 
Designer 
Ozandia Castilho Martins 
Fagner Fernandes Douetts 
Renato Antunes dos Santos 
 
Designer Instrucional 
Anne Caroline Bogarin Manzolli 
 
 
 
 
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Sumário 
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 6 
OBJETIVOS DO CURSO............................................................................................ 7 
ESTRUTURA DO CURSO .......................................................................................... 7 
Módulo I – Violência e criminalidade: conceitos, classificações e reflexões ...... 8 
Apresentação do Módulo ......................................................................................... 8 
Objetivos do Módulo ................................................................................................ 8 
Estrutura do Módulo ................................................................................................ 9 
Aula 1 – Evolução da violência e criminalidade no Brasil ...................................... 10 
Aula 2 – Manifestações e causas potenciais da violência e do crime .................... 20 
Aula 3 – Violência: por uma definição e suas implicações .................................... 22 
Aula 4 – Violência na visão da Organização Mundial da Saúde (OMS) ................ 25 
4.1. O conceito de violência para a OMS: amplitude e implicações ................. 30 
Aula 5 – Os tipos de violência ................................................................................ 33 
5.1. Atos violentos e sua natureza ................................................................... 35 
5.2. Fatores geradores de violência ................................................................. 36 
Aula 6 – Os custos da violência ............................................................................. 38 
6.1. Tipos de custos ......................................................................................... 39 
6.2. Algumas estimativas de custos da violência e do crime ........................... 41 
Aula 7 – Mídia e segurança pública ....................................................................... 44 
Finalizando... ............................................................................................................ 51 
Módulo II – Prevenção e controle da violência e do crime .................................. 52 
Apresentação do Módulo ....................................................................................... 52 
Objetivos do Módulo .............................................................................................. 53 
Estrutura do Módulo .............................................................................................. 53 
Aula 1 – Prevenção da violência e da criminalidade .............................................. 54 
 
 
 
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Aula 2 – Prevenção: custo e efetividade ................................................................ 55 
Aula 3 – Estratégias de prevenção ........................................................................ 56 
3.1. Prevenção estrutural ................................................................................. 56 
3.2. Prevenção proximal ou imediata ............................................................... 57 
3.3. Prevenção social ....................................................................................... 57 
3.4. Prevenção situacional ............................................................................... 58 
3.5. Prevenção localizada e integral ................................................................ 58 
3.6. Prevenção primária, secundária e terciária ............................................... 58 
Aula 4 – Ambientes institucionais e ações de prevenção recomendadas ............. 60 
Aula 5 – Controle da violência e da criminalidade ................................................. 66 
Aula 6 – Ações promissoras no controle da violência e da criminalidade .............. 68 
6.1. Ação policial .............................................................................................. 68 
6.2. Ação legislativa ......................................................................................... 70 
6.3. Ação no sistema penitenciário .................................................................. 72 
6.4. Ação na saúde .......................................................................................... 73 
Aula 7 – Controle de fatores de risco importantes: drogas e gangues juvenis ...... 76 
7.1. As drogas .................................................................................................. 76 
7.2. As gangues ............................................................................................... 76 
Finalizando... ............................................................................................................ 78 
Módulo III – O papel da polícia na prevenção e controle da violência, do crime e 
da desordem ............................................................................................................ 79 
Apresentação do Módulo ....................................................................................... 79 
Objetivos do Módulo .............................................................................................. 80 
Estrutura do Módulo .............................................................................................. 80 
Aula 1 – Estratégias tradicionais ............................................................................ 82 
1.1. Estratégias tradicionais efetivas ................................................................ 84 
1.2. Estratégias tradicionais que não funcionam .............................................. 85 
 
 
 
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Aula 2 – Estratégias orientadas à comunidade e à solução de problemas ............ 88 
2.1. Atividades comuns da estratégia comunitária ........................................... 89 
2.2. Efeitos das estratégias comunitárias sobre a criminalidade...................... 90 
2.3. Os desafios das estratégias comunitárias................................................. 92 
Aula 3 – Estratégias de redução da desordem ...................................................... 95 
3.1. Efeito sobre a criminalidade ...................................................................... 96 
3.2. Desafios .................................................................................................... 96 
Aula 4 – Reforma policial ....................................................................................... 98 
Aula 5 – O cuidado com modelos estrangeiros ................................................... 100 
Aula 6 - Onde encontrar referências de boas práticas em prevenção do crime, 
violência e desordem ao redor do mundo e no Brasil .......................................... 101 
Finalizando... .......................................................................................................... 105 
 
 
 
 
 
 
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APRESENTAÇÃO 
 
Prezado aluno, 
A Violência é um fenômeno mundial. Assume contornos específicos em cada 
país, porém carrega características que permite compará-la em locais diversos. 
Estudaremos no curso “Violência, Criminalidade e Prevenção” seu caráter 
multifacetário,sua multicausalidade e a dinamicidade que o compõe. Serão 
destacadas ações e métodos desenvolvidos no seu combate e prevenção. 
Em 2019 o Brasil registrou a terceira redução consecutiva no número de 
homicídios, segundo dados do Ministério da Justiça. A redução, no entanto, foi mais 
acentuada no último ano, cujo número de mortes teve uma queda de 20% em relação 
ao ano anterior. 
Estudiosos, contudo, pedem cautela na interpretação desses dados, visto que, 
historicamente, o país segue uma curva crescente no registro de homicídios. 
Uma análise mais apurada, com o propósito de confirmar a tendência de queda 
desses indicadores, exige um período maior de comparação. 
Em contraponto, alguns aspectos observados em anos anteriores podem ser 
admitidos: 
• A tendência de interiorização da violência no Brasil; 
• O perfil das vítimas do crime de homicídios; 
• O forte papel das organizações criminosas (facções/crime organizado) nos 
índices criminais; 
• A vulnerabilidade de mulheres, negros, jovens e da população LGBTTI; e 
• O papel dos presídios no controle criminal. 
 
Citamos acima os índices de homicídio por ser considerado a expressão máxima 
da violência contra uma pessoa. Além disso, esse delito possui níveis muito baixos de 
subnotificação em relação a outros tipos de crimes. Sendo assim, a contabilização 
das estatísticas oficiais permite aproximação dos números reais. 
No contexto geral, é possível afirmar que o Brasil apresenta, tradicionalmente, 
índices que o colocam em uma desconfortável posição no ranking de países violentos.
 Em números absolutos, dados de 2012 da Organização Mundial de Saúde, 
informam que o Brasil foi o país com maior número de homicídios no mundo. 
 
 
 
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Naquele ano, o governo brasileiro informou 47 mil homicídios, mas a OMS em 
decorrência das mortes não esclarecidas e aplicando margens de erro relativas aos 
registros informados, estimou que o número real tenha sido superior: 64 mil. 
Depois do Brasil aparecem na sequência: México (33 mil), Índia (30 mil), África 
do Sul (30 mil), Nigéria (20 mil) e Estados Unidos (17 mil). 
Os dados apresentados no curso foram extraídos de bases que reúnem 
informações e pesquisas sobre a violência no país: 
• Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de 
Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de 
Drogas (Sinesp/Ministério da Justiça e Segurança Pública); 
• Organização das Nações Unidas, por meio de seus escritórios: Organização 
Mundial de Saúde, Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime 
(UNODC) e UNICEF. 
• Entidades da sociedade civil e Organizações não-governamentais especialistas 
no tema. 
 
Dessa forma, pretendemos ampliar nossos estudos, conhecendo abordagens 
diferentes para um segmento que exige esforços conjuntos do governo e da sociedade 
como um todo. 
 
OBJETIVOS DO CURSO 
Ao final do curso você será capaz de: 
 
 
ESTRUTURA DO CURSO 
 
O curso é composto pelos seguintes módulos: 
Módulo 1 - Violência e criminalidade: definições, classificações e implicações 
Módulo 2 - Prevenção e controle da violência e do crime 
Módulo 3 - O papel da polícia na prevenção e controle da violência, do crime e da 
desordem 
 
 
 
 
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Módulo I – Violência e criminalidade: conceitos, 
classificações e reflexões 
 
Apresentação do Módulo 
 
Neste módulo você terá contato com diferentes conceitos de violência e 
criminalidade e com as classificações atualmente utilizadas para possibilitar uma 
compreensão mais ampla dos dois fenômenos, de forma a orientar o desenvolvimento 
de políticas públicas que visem a redução de seus coeficientes e possibilitem o 
desenvolvimento do país em todos os âmbitos de sua sociedade. 
Foram tomadas como referenciais teóricos a definição de violência e a 
taxonomia utilizada pela Organização Mundial da Saúde, por se entender que elas 
oferecem o arcabouço teórico-prático e a amplitude necessários para a compreensão 
do problema da violência no mundo e no Brasil, bem como indica possibilidades de 
minimização dos efeitos da violência a partir da implementação de medidas já 
consagradas como boas práticas em diferentes realidades. 
Foram utilizados como documentos de referência: 
• Estudo Global sobre o Homicídio - 2019, publicado pelo Escritório das 
Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). 
• Atlas da Violência – 2019, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e 
Aplicada. 
• O Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, edição de 2002, publicado pela 
Organização Mundial da Saúde, que continua sendo o referencial para 
políticas públicas e ações de governo que tenham como foco a prevenção 
de epidemias que afetam a saúde pública, incluindo-se aí, a violência e o 
crime. 
 
 
 
Objetivos do Módulo 
Ao final do curso você será capaz de: 
• Apreender as principais características do cenário recente e atual da violência 
 
 
 
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e do crime no Brasil; 
• Explicar as potenciais causas da violência e do crime no Brasil; 
• Conhecer diferentes conceitos de violência; 
• Conhecer o conceito de violência adotado pela Organização Mundial da Saúde 
e suas implicações para as políticas e ações no âmbito da segurança pública; 
• Explicar os diferentes tipos de violência segundo a Organização Mundial da 
Saúde; 
• Entender os custos da violência e do crime no Brasil e seus impactos na 
economia e no desenvolvimento nacional; 
• Analisar o papel da mídia no processo de prevenção e controle da violência e 
do crime. 
 
 
Estrutura do Módulo 
Este módulo está estruturado em 7 aulas: 
Aula 1 – Evolução da violência e criminalidade no Brasil 
Aula 2 – Manifestações e causas potenciais da violência e do crime 
Aula 3 – Violência: por uma definição e suas implicações 
Aula 4 – Violência na visão da Organização Mundial da Saúde (OMS) 
Aula 5 – Os tipos de violência 
Aula 6 – Os custos da violência 
Aula 7 – Mídia e segurança pública 
 
 
 
 
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Aula 1 – Evolução da violência e criminalidade no Brasil 
 
Antes de iniciarmos nossos estudos veja a imagem seguir com o perfil da 
criminalidade no país: 
 
Figura 1: Atlas da violência 2019 
Fonte: IPEA/FBSP – Atlas da Violência, 2019. 
 
 
Na apresentação deste curso, afirmamos que os dados sobre violência e 
criminalidade no Brasil são alarmantes, particularmente pelo histórico elevado dos 
coeficientes de crimes violentos que vêm sendo ostentados nas últimas décadas, 
colocando-nos, como já vimos, em posições avançadas no ranking dos países mais 
violentos do mundo. 
A questão toma uma forma mais complexa ao verificar-se que, diferente do que 
o senso comum nos leva a crer, a violência tem se deslocado de forma significativa 
para o interior do país, concentrando-se de maneira especial em certas regiões. Isso 
tem sido nítido em relação às regiões Norte e Nordeste, as quais experimentaram 
taxas de aumento próximas ou até superiores a 100% ao longo da década 
considerada. 
 
 
 
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Tabela 1 – Taxas de homicídios por 100.000 habitantes por UF, Brasil – 2007/2017 
 
Fonte: Atlas da Violência, retrato dos municípios brasileiros, 2019. 
 
 
Alguns pontos chamam a atenção nessa tabela. Em primeiro lugar, em geral, a 
lista das capitais mais violentas, naturalmente, possui uma alta correlação com a lista 
das UFs mais violentas que, como apontado no Atlas da Violência 2019, situam-se 
nas regiões Norte e Nordeste. 
Outro aspecto a salientar diz respeito ao crescimento dos índices de homicídio, 
entre 2016 e 2017, em Florianópolis (+70,9%) e em Fortaleza (+69,5%). Na outra 
ponta, das capitais que mais reduziram as taxas de homicídio no último ano, estão 
duas no Centro-Oeste, Campo Grande (- 28,9%) e Cuiabá (-26,3%). 
 
 
 
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Quando analisamos a evolução dos homicídios na última década, enquanto as 
dez capitais brasileiras que tiverammaior crescimento da violência letal estavam todas 
localizadas no Norte e no Nordeste, as dez em que se observou maior redução dos 
índices incluíam todas as capitais do Sudeste, além de capitais no Sul, no Centro-
Oeste e curiosamente no Norte (Porto Velho) e no Nordeste (Maceió). 
Segundo os dados oficiais do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do 
Ministério da Saúde (SIM/MS), em 2017 houve 65.602 homicídios no Brasil, o que 
equivale a uma taxa de aproximadamente 31,6 mortes para cada cem mil habitantes. 
Trata-se do maior nível histórico de letalidade violenta intencional no país, conforme 
destacado no gráfico abaixo. 
No gráfico abaixo o número de homicídios na UF de residência da vítima foi 
obtido pela soma das seguintes CIDs 10:X85-Y09 e Y35-Y36, ou seja: óbitos 
causados por agressão mais intervenção legal. Elaborado Diest/Ipea e FBSP. 
 
 
 
Figura 2: Gráfico número e taxa de homicídio (2007-2017) 
Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisa. Coordenação de População e Indicadores Sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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“Apesar de tal situação não mudar de maneira significativa a 
percepção que se tem do Brasil no cenário internacional, em 
função da constante manifestação da mídia sobre os diferentes 
problemas de crime e violência que com frequência vêm 
ocupando os noticiários aqui e fora, ela agrega algumas 
questões que urgem ser compreendidas e que se referem ao 
que vem sendo chamado de ‘interiorização do crime e da 
violência’, fenômeno que desafia de forma acentuada os 
governos em todos os níveis, particularmente por que tal 
deslocamento tem se evidenciado em municípios que, 
sabidamente, detêm recursos insuficientes para fazer frente a tal 
mudança de cenário. Por outro lado, o fenômeno da 
“interiorização” vem sendo ladeado por outro que também 
merece explicação: a queda contínua dos coeficientes de 
homicídios nas grandes capitais brasileiras, o que, mais uma 
vez, parece desafiar a percepção do senso comum.” 
(Atlas da Violência, 2019) 
 
 
 
Tabela 2 - Evolução das taxas de homicídios na população total segundo porte dos 
municípios entre 2004 e 2015. 
 
Fonte: Silva, Phillip César Albuquerque. A interiorização da violência: a dinâmica dos homicídios no 
Brasil. 
 
Observe que a violência aflige todas as cidades, com maior grau entre as 
pequenas e médias, anteriormente consideradas seguras e tranquilas. 
 
 
 
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Figura 3: Reflita 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
 
Saiba Mais... 
Nos últimos dez anos, observamos crescimento (em uma dinâmica 
em degraus) da média da taxa de homicídios entre os estados brasileiros, 
quando saímos de uma média de 30 para 41 homicídios por 100 mil 
habitantes, entre 2007 e 2017. Em contrapartida, enquanto entre 2007 e 
2015 observamos uma diminuição na dispersão da taxa de homicídio entre 
os estados, nos últimos dois anos verificamos um aumento acentuado da 
dispersão entre essas taxas – o que pode ser visualizado pelo aumento de 
seus desvios-padrão. 
Possivelmente, a dinâmica dos homicídios nos municípios até 2015 
está refletindo um movimento de espraiamento e interiorização do crime, 
conforme descrito em Cerqueira et al. (2016), que fez com que municípios 
outrora mais pacíficos convergissem suas taxas para as médias dos 
territórios mais violentos. Já o aumento abrupto da dispersão das taxas 
entre os municípios, após 2015, deve se relacionar ao fato de que houve 
uma diminuição nas taxas de homicídios em quinze UFs no último ano – 
conforme descrito no Atlas da Violência 2019 –, ao mesmo tempo que 
ocorreu crescimento abrupto das mortes em vários municípios ao longo da 
rota do Solimões, pelo controle do tráfico de drogas, incluindo vários 
territórios no Norte e no Nordeste do país. 
 
Fonte: Atlas da Violência dos Municípios 2019 
 
 
 
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Amplie seu conhecimento, acesse: 
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes e veja as 
publicações dos Atlas da Violência disponíveis. 
 
 
Segundo a intepretação do Atlas da Violência de 2019, uma possível explicação 
é o aumento considerável de investimentos, consequência do alcance das metas de 
desenvolvimento econômico do país em municípios do interior dos estados, fato que 
os vem tornando polos atrativos tanto para migrações em busca de emprego e renda 
como para a criminalidade, sendo esta função dos limitados recursos de proteção 
disponíveis em tais municípios. Em relação às capitais, uma explicação possível foi o 
volume de investimentos em segurança pública que cresceram consideravelmente 
nos últimos anos. 
A evolução das taxas de homicídios entre 2007 e 2017 foi bastante diferenciada 
entre as regiões brasileiras. Nos últimos anos, enquanto houve uma residual 
diminuição nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, observou-se certa estabilidade do 
índice na região Sul e crescimento acentuado no Norte e no Nordeste. 
No gráfico abaixo o número de homicídios na região de residência foi obtido 
pela soma das seguintes CIDs 10:X85-Y09 e Y35-Y36, ou seja: óbitos causados por 
agressão mais intervenção legal. Elaborado Diest/Ipea e FBSP. 
 
 
Figura 4: Gráfico taxa de homicídio no Brasil e região (2007-2017) 
Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisa. Coordenação de População e Indicadores Sociais. 
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes
 
 
 
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Veja o que o Atlas da Violência, 2019 traz sobre o crescimento do 
número de homicídios 
"Possivelmente, o forte crescimento da letalidade nas regiões Norte 
e Nordeste, nos últimos dois anos, tenha sido influenciado pela guerra de 
facções criminosas deflagrada entre junho e julho de 2016 (Manso e Dias, 
2018) entre os dois maiores grupos de narcotraficantes do país, o Primeiro 
Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV); e seus aliados 
regionais – principalmente as facções denominadas como Família do Norte, 
Guardiões do Estado, Okaida, Estados Unidos e Sindicato do Crime. 
Tal conflito ocorreu no rastro de dois fatores. Em primeiro lugar, em 
decorrência dos incentivos gerados pela paulatina diminuição da produção 
de cocaína na Colômbia desde 2000, e o aumento da participação da 
produção peruana e boliviana, que fez com que o Brasil assumisse 
gradualmente uma posição estratégica como entreposto para a exportação 
da droga para a África e a Europa, conforme apontado pelo UNODC (2015, 
p. 54). 
Em segundo lugar, conforme apontado por Manso e Dias (2018), 
houve um processo de expansão geoeconômica das maiores facções 
penais do Sudeste pelo domínio de novos mercados varejistas locais de 
drogas, assim como novas rotas para o transporte de drogas ilícitas, que 
se iniciou em meados dos anos 2000. 
Este processo foi engendrado, sobretudo, pelo PCC, que viu a 
possibilidade de aumento dos lucros no negócio de cocaína pela integração 
vertical do mercado, tendo em vista as grandes diferenças de preço do 
cloridrato de cocaína pura nos territórios produtores e consumidores. De 
acordo com Abreu (2017), inúmeras pistas de pouso clandestinas foram 
usadas na rota caipira de tráfico – no interior de São Paulo e no Triângulo 
Mineiro – para receber carregamentos provenientes da Bolívia, 
transportados por pequenos aviões monomotores. Outras novas rotas 
foram exploradas ao Norte do país, cujas mercadorias provenientes da 
Bolívia e do Peru chegavam, principalmente, ao Acre, sendo transportadas, 
posteriormente, para outras Unidades Federativas (UFs), na rota do Rio 
 
 
 
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Solimões, chegando depois ao Nordeste e, em particular, ao Ceará e ao 
Rio Grande do Norte, para serem levadas à Europa.” 
Atlas da Violência, IPEA – 2019 
 
 
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, edição especial de 
2018, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, traz um tema muito 
relevante, o material em pdf está disponível no material 
complementar, e no link: < https://forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_faccoes_2018.pdf>, acesse. 
 
 
O mapa abaixo mostra a distribuição das facções prisionais no Brasil, conforme 
pesquisa de Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso, veja. 
 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_faccoes_2018.pdf
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_faccoes_2018.pdf
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_faccoes_2018.pdf
 
 
 
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Figura 5: Facções Prisionais no Brasil 
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 
 
 
Bem, até aqui estivemos falando de homicídios, e por uma razão bastante 
lógica: dentre os crimes tipificados nas diferentes sociedades, é o que mais denuncia 
o grau de violência a que está submetido um país. Por isso que, infelizmente, ainda 
não se tem outra alternativa a não ser considerar o Brasil como um país violento e, 
por tal, carente de contínuas medidas de prevenção e controle. 
Mas, se formos em busca de maior representatividade da violência na 
sociedade brasileira, veremos que, ao tomar as agregações utilizadas pela Secretaria 
Nacional de Segurança Pública no que tange aos crimes violentos não letais contra a 
pessoa e crimes violentos contra o patrimônio no período de 2004 e 2009, os números 
continuam apontando para altas taxas de violência e criminalidade. 
 
 
 
 
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Tabela 3: Crimes violentos não letais contra a pessoa e crimes violentos contra o 
patrimônio por 100.000 habitantes. Brasil, 2004-2005 e 2008-2009 
CRIMES 2004 2005 2008 2009 
Crimes violentos não letais contra a 
pessoa 
34,5 35,2 32,94 34,31 
Crimes violentos contra o patrimônio 516,9 519,6 492,87 525,40 
Fonte: Composição dos dados do Mapa do Crime 2004 (Senasp/MJ), Anuário 
Estatístico do FBSP/2010 e Projeção da população brasileira até o ano 2050, IBGE, 
27/11/2008. 
 
 
Como se pode ver, a violência expressa-se de diferentes formas, que vão além 
dos crimes letais, como no caso do homicídio, e isso nos deixa clara a necessidade 
de intervir e criar as condições adequadas para tais números. Para isso, entretanto, é 
necessário que se conheça mais profundamente o problema da violência e do crime. 
 
Atenção 
Crimes violentos não letais contra a pessoa - Indicador composto pela soma dos 
números de ocorrências dos seguintes delitos: atentado violento ao pudor, estupro, 
tentativa de homicídio (cf. Mapa do Crime 2004, Senasp/MJ). 
Crimes violentos contra o patrimônio - Indicador composto pela soma do número 
de ocorrências dos seguintes delitos: extorsão mediante sequestro, roubo de veículo, 
roubo de carga, roubo a ou de veículo de transporte de valores (carro-forte), roubo a 
instituição financeira, roubo a transeunte, roubo em transporte coletivo, roubo em 
estabelecimento comercial ou de serviços, roubo em residência, roubo com restrição 
de liberdade da vítima e outros roubos (cf. Mapa do Crime 2004, Senasp/MJ). 
 
 
 
 
 
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Aula 2 – Manifestações e causas potenciais da violência e do 
crime 
 
A violência é um fenômeno complexo, à qual diversos fatores estão associados 
e que se manifesta de diferentes maneiras e intensidades. Desse modo, identificar ou 
apontar quais desses fatores são mais ou menos importantes para explicá-la não é 
tarefa fácil, porque, quase sempre, tais fatores estão agindo conjuntamente para 
produzir o fenômeno. Apesar disso, a compreensão do fenômeno em suas diferentes 
vertentes e possíveis interpretações é essencial para que se possa desenhar 
respostas e intervenções adequadas aos diferentes problemas de violência com os 
que nos defrontamos na atualidade. 
É sob essa ótica multifacetada que as propostas interpretativas do Relatório 
Mundial sobre a Violência e a Saúde da Organização Mundial da Saúde parecem ser 
um instrumento importante tanto na identificação como na compreensão dos fatores 
que estão associados à violência. 
A afirmação que traz o relatório de que nenhum fator pode, 
sozinho, explicar porque alguns indivíduos têm comportamentos 
violentos para com outros indivíduos e, tampouco, porque a violência 
é mais presente em algumas comunidades do que em outras. A 
violência, conforme enfatizado no relatório da OMS, é o resultado da 
ação recíproca e complexa de fatores individuais, relacionais, sociais, 
culturais e ambientais. 
 
O caso brasileiro de escalada da violência a partir dos anos 80 pode ser 
explicado a partir da conjunção desses inúmeros fatores. Nesse sentido, parece 
oportuno concluir essa seção com a entrevista concedida por Daniel Cerqueira a Túlio 
Khan, em 02 de junho de 2011, na qual, ao fazer uma síntese de sua tese de 
doutorado, apresenta uma retrospectiva histórico-causal dos problemas de violência 
e crime no Brasil. 
 
 
 
 
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Saiba mais... 
Leia a entrevista contida na tese. 
< https://tuliokahn.blogspot.com/2011/06/causas-e-
consequencias-do-crime-no.html> 
 
https://tuliokahn.blogspot.com/2011/06/causas-e-consequencias-do-crime-no.html
https://tuliokahn.blogspot.com/2011/06/causas-e-consequencias-do-crime-no.html
 
 
 
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Aula 3 – Violência: por uma definição e suas implicações 
 
A violência como fenômeno multifacético e sensível a diferentes variáveis 
(sociais, econômicas, políticas, jurídicas, culturais) pode assumir diferentes conceitos, 
segundo seja o universo no qual está sendo tratado. Michaud (1989), por exemplo, 
explora a questão da definição de violência de diferentes pontos. Uma compreensão 
inicial do fenômeno, segundo ele, pode se dar a partir do que se denomina “definição 
de dicionário”. Sob esse tipo de definição, violência pode ser definida como: 
 
“a) o fato de agir sobre alguém ou de fazê-lo agir contra sua 
vontade empregando a força ou a intimidação; b) o ato através 
do qual se exerce a violência; c) uma disposição natural para a 
expressão brutal dos sentimentos; d) a força irresistível de uma 
coisa; e) o caráter brutal de uma ação”. 
 
Como destaca Michaud (1989) a definição de dicionário traz consigo duas 
orientações: designa fatos e ações, ou seja, apresenta uma dinâmica própria e 
específica e, introduz elementos de sentimento e natureza que a caracterizam como 
algo que ultrapassa as regras e se assenta na força brutal. 
Outra abordagem proposta por Michaud (1989) caminha no sentido da 
compreensão etimológica. Como explica o autor, violência tem origem no latim 
violentia, vis e no verbo violare. Em todos os casos a palavra está referida ao uso da 
força física, transgredir, agir com vigor, potência, incluindo o sentido de quantidade e 
abundância. A translação para o grego manteve o sentido agregando-lhe a ideia de 
força vital, do corpo, coação pela força. 
Michaud (1989) nos adverte, portanto, que o termo violência traz 
consigo, em sua origem, a ideia do uso da força, de forma violenta, 
contra alguma coisa ou alguém. Lembra, entretanto, que o caráter 
violento próprio do uso da força no sentido da origem, não é 
 
 
 
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necessariamente suscetível a julgamentos de valor, já que é natural e 
próprio do ser. 
 
A configuração em violência, no modo que o senso comum e o uso corrente a 
traduzem, se dá a partir do momento em que a ação violenta ultrapassa medidas 
aceitáveis ou perturba uma ordem. É nesse sentido que Michaud (1989) esclarece 
que a violência, antes de tudo, refere- se a “agressões e maus-tratos”. Entretanto, o 
uso da força só assumirá a condição de violência na medida em que normas assim a 
definam. Por isso, afirma, existem diferentes tipos de violência segundo as normas 
que as descrevem e regulam. 
 
Saiba mais!! 
Do ponto de vista jurídico, a violência traduzida no uso consentido 
da força é objetivado em códigos penais e tendem a regular as ações 
violentas dos representantes do Estado quando, de forma fundada, ela se 
fizer necessáriapara fazer cumprir a lei. 
 
 
Consciente dessa diversidade de possibilidades interpretativas do fenômeno, 
Michaud (1989) busca desenvolver uma definição que seja abrangente o suficiente 
para abarcar tanto as expressões físicas da violência quanto suas manifestações não 
objetivas, ou seja, daquilo que ele chama de atos e estados de violência. Para 
Michaud (1989), então, define-se que: 
 
Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários 
atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, 
causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, 
seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, 
em suas posses, ou em suas participações simbólicas e 
culturais. 
 
 
 
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Para Michaud (1989), a definição parece dar conta do que ele entende que 
sejam os componentes essenciais da violência: 
a) a complexidade das interações, que podem incluir vários e diferentes atores e 
máquinas administrativas; 
b) os diversos modos de produção da violência, orientados pelos diferentes 
instrumentos disponíveis; 
c) a distribuição temporal da violência, a qual pode ser, segundo ele, maciça ou 
distribuída ao longo do tempo (e, neste caso, com uma possibilidade do uso simbólico 
da violência); 
d) os diferentes danos que podem ser impostos com o uso da violência, podendo 
ser físicos, psíquicos, morais, aos bens, aos próximos ou aos laços culturais. 
 
Ainda que tenha oferecido uma definição de violência, Michaud (1989) alerta 
para quatro questões que não podem deixar de estar presentes quando da análise do 
fenômeno. A primeira diz respeito a que, apesar da utilidade das definições objetivas 
de violência, elas não estão isentas de pressupostos (e, nesse caso, são influenciados 
pelas diferentes variáveis presentes no contexto de que utiliza a definição) e, 
tampouco, são capazes de apreender todos os fenômenos da violência. 
Segundo, sempre haverá componentes subjetivos na formulação conceitual e 
na compreensão do fenômeno violência, orientados por diferentes critérios: jurídicos, 
institucionais, culturais, valóricos de grupos ou subgrupos, entre outros. 
Terceiro, os diferentes pontos de vista orientados pelos critérios de 
compreensão não estão em equilíbrio. A passagem de um pelo outro se dá, então, 
pela mudança de perspectiva, ou seja, pelo câmbio do critério. 
Por fim, será preciso reconhecer, afirma Michaud (1989), que não existe 
“discurso nem saber universal sobre a violência”. Ela é própria de cada sociedade, 
segundo seus critérios e trata seus problemas de violência a seu modo, obtendo maior 
ou menor sucesso. 
 
 
 
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Aula 4 – Violência na visão da Organização Mundial da Saúde 
(OMS) 
 
Na percepção da OMS, é possível que a convivência com a violência seja, 
historicamente, parte da convivência humana. Encontrada sob diversas formas em 
praticamente todos os lugares, consubstanciada nos milhares de vidas que são 
perdidas e por outro tanto de lesões sofridas, resultantes dos tipos de interações que 
se estabelecem entre as pessoas, podendo tais perdas, a exceção no caso de mortes, 
serem de natureza objetiva, subjetiva ou ambas. Essa violência tem sido observada 
com uma incidência no mundo todo, sendo a causa de morte da maioria das pessoas 
entre 15 e 44 anos, com uma incidência crescente entre a faixa etária de 15 a 24 anos, 
como mostra o caso brasileiro em relação ao homicídio de jovens nessa faixa de 
idade. 
Os gráficos abaixo, extraído do Atlas da violência de 2019, mostra essa 
distribuição. 
 
 
 
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Figura 6: Taxa de homicídios de jovens, 2017 
Fonte: Atlas da violência, 2019. 
 
 
 
 
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Figura 7: Densidade de Kernel dos homicídios por idade e sexo da vítima 
Fonte: Atlas da violência, 2019. 
 
Produzido com base no empilhamento dos microdados entre 2007 e 2017, do 
Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM. Nota: Com dados preliminares 
para o ano de 2017 e não foram considerados os indivíduos com idade ignorada. 
Elaboração Diest/Ipea e FBSP.. 
 
 
 
 
 
Figura 8: Índice de vitimização juvenil (15 a 24 anos). Brasil, 1998/2008 
Fonte: Atlas da violência, 2019. 
 
 
 
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A organização reconhece que os impactos econômicos da violência no mundo 
são imensuráveis, particularmente se agregarmos a eles os resultados físicos, 
tangíveis da violência, aqueles que, traduzindo em dor e sofrimento, produzem perdas 
de alto custo nos níveis psicológico e social, por exemplo. É essa invisibilidade, à qual 
se refere a OMS e que, em muito, não pode ser mensurada por ocorrer intramuros e 
à distância dos olhos, que poderiam ajudar a torná-la transparente e, como 
consequência, proteger suas vítimas. 
Tal como já propunha Michaud (1989), apresentado na seção anterior, a 
violência, tal como seus impactos, tem causas que podem ser percebidas e outras 
não. Segundo a OMS, ainda que fatores biológicos e individuais possam ser 
explicativos da violência, o mais comum é que a explicação se dê por sua associação 
com outros, tais como: familiares, comunitários, culturais que, em conjunto criam 
condições adequadas a manifestações violentas, físicas ou simbólicas. 
A abordagem da OMS, amplamente adotada pelas Nações Unidas como um 
todo, tem se tornado um marco referencial em diferentes áreas para a criação e 
implementação de políticas públicas que visem prevenir e controlar os níveis de 
violência e crime presentes nas sociedades. Importante destacar que a abordagem 
de saúde pública é de natureza conceitual, sistêmica e de processos. Não se trata do 
atendimento individual, de natureza médico-hospitalar, visando tratar de enfermidades 
na acepção da palavra. Ao contrário, como o enfoque é de saúde pública, o objetivo 
é lidar com tudo que pode ser classificado como doença, condições e problemas que 
possam afetar a saúde. A violência e o crime estão nesse campo. 
 É com base nessa percepção que a OMS afirma que: 
“Os fatores que contribuem para respostas violentas – sejam 
eles de atitude e comportamento ou relacionados a condições 
mais abrangentes sociais, econômicas, políticas e culturais – 
podem ser mudados.” 
 
A violência, afirma a OMS no Relatório Mundial sobre Violência e Saúde de 
2002, pode ser evitada, e não é uma questão de fé, mas de evidências. 
 
 
 
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Para a OMS, a abordagem da saúde pública pode contribuir para a prevenção 
e o controle do crime por características que lhe são peculiares: é interdisciplinar e 
com bases científicas. Além disso, coloca ênfase na ação coletiva, entendendo que a 
cooperação entre vários setores é essencial para o tratamento de problemas 
epidêmicos. Quando tratando do fenômeno da violência, essa abordagem apresenta 
4 etapas básicas: 
Primeira etapa 
Explicitação de todo o conhecimento disponível a respeito do problema em 
questão – no caso, a violência – incluindo dados sobre magnitude, alcance, 
características e implicações em todos os setores da atividade humana. 
Segunda etapa 
Pesquisa das razões da ocorrência do fenômeno, suas causas, fatores 
relacionados, fatores interferentes nos níveis de risco e fatores que podem ser 
modificados por intervenções. 
Terceira etapa 
Identificação de formas de prevenção e controle da violência. 
Quarta etapa 
Implementar intervenções que indiquem possibilidades de sucesso em 
diferentes cenários, divulgando resultados, estabelecendo avaliações de 
efetividade/custo. 
 
Atenção! 
O conceito de epidemia é aqui utilizado como fenômeno que ataca simultaneamente 
grande número de indivíduos em uma determinada localidade; aumento do número 
de casos de um fenômeno anormal; generalização rápida de um fenômeno (Houaiss, 
2009) 
 
 
 
 
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4.1. O conceito de violência para a OMS: amplitude e implicações 
 
Reiterando a percepção de Michaud (1989), a escolha de uma definição para 
um determinadofenômeno será acorde com as perspectivas de utilização. No caso 
da violência, a definição deve buscar em sua amplitude, alcançar o máximo de casos 
possíveis que tragam consigo as diferentes formas de manifestação da violência, 
objetiva e subjetiva. 
Para a Organização Mundial da Saúde, violência é: 
O uso intencional da força física ou do poder, real ou em 
ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um 
grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande 
possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, 
deficiência de desenvolvimento ou privação. 
 
Algumas explicações para o emprego do conceito são dadas pela própria OMS 
em seu relatório de 2002. A primeira refere-se à associação da intencionalidade ao 
ato de violência, e a segunda refere-se à máxima amplitude do que venha a ser 
violência. Vejamos: 
Intencionalidade 
Para a OMS, a intencionalidade é essencial na definição de um ato violento. É 
possível depreender, a partir do relatório, que a OMS faz uma distinção entre violência 
(atos deliberados com intenção de causar dano) e eventos não intencionais que 
resultam em lesões. Tal diferença se estabelece a partir do argumento de que a 
intenção de usar a força não implica, necessariamente, a intenção de causar dano, ou 
seja, pode haver uma grande diferença entre o comportamento pretendido e a 
consequência pretendida. Assim, segundo informa o relatório, os incidentes não 
intencionais estariam excluídos da definição. 
 Aqui, em boa medida, o conceito parece estar aquém do que a sociedade 
brasileira parece entender por violência ou ato violento. Isso fica demonstrado, por 
exemplo, no âmbito do direito, em que a utilização de determinados níveis de força e 
 
 
 
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poder trazem implícita a possibilidade do resultado. É assim quando um condutor 
embriagado insiste em conduzir seu veículo e acaba por produzir acidente com 
resultado lesão ou morte. Embora não quisesse tal resultado, o simples ato de ingerir 
álcool e conduzir o veículo impunha-lhe assumir o risco de produzir o resultado obtido. 
Também no âmbito da Segurança Pública, o exemplo é o atual Sistema 
Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de 
Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp/Ministério 
da Justiça e Segurança Pública); o qual, com fins de produção de conhecimento para 
a gestão, agrega aos fenômenos violentos intencionais (crimes violentos letais 
intencionais), todos aqueles eventos que resultem em lesão ou morte, como é o caso 
dos crimes agregados sob a rubrica de “crimes violentos não letais contra a pessoa” 
e de “crimes violentos contra o patrimônio”. 
Em relação ao “uso da força física ou poder”, a OMS alerta que estão incluídos 
aí todos os tipos de abusos físicos, sexuais ou psicológicos, imputado a outros ou 
autoimputado, como no caso dos suicídios, bem como a negligência, na medida em 
que é a disponibilidade do poder ou da força que determinará a possibilidade 
deliberada do abuso. 
 
Amplitude 
A definição tem por objetivo cobrir a máxima amplitude possível do que venha 
a ser violência, incluindo mesmo, como foi visto, aquela que não resulta em lesão ou 
morte, mas que produz danos psicológicos, oprime pessoas, grupos ou comunidades. 
Ao definir a “violência em relação à saúde das pessoas” inclui comportamentos que, 
mesmo aceitáveis sob determinadas culturas, são considerados violentos e, por isso, 
dignos de atenção. Finalmente, a OMS considera que a definição adotada inclui ainda 
todos os demais atos de violência, sejam públicos ou privados, sejam reativos ou 
proativos, sejam atos criminosos ou não. 
 
Como foi visto, é possível identificar elementos comuns nas duas definições 
apresentadas. Em ambos os casos, o que parece ser mais importante é a amplitude 
de alcance da definição. Estão incluídos todos os tipos de violência, objetivas e 
 
 
 
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subjetivas, que, de algum modo produzam danos físicos, psicológicos ou psíquicos e 
morais de toda ordem, temporários ou permanentes, naqueles que venham a ser 
vítimas do exercício da força ou poder. 
Essa visão tem sido consubstanciada a partir do final dos anos 90 e, mais 
enfaticamente, nos últimos 5 anos, com a intensificação de programas integrados de 
prevenção da violência e do crime. A exemplo disso, o desenvolvimento conceitual e 
a implementação gradativa do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), à 
semelhança do Sistema Único de Saúde (SUS), do Fundo Nacional de Segurança 
Pública e da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) 
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13675.htm) - com 
focos essenciais na integração, cooperação e prevenção (sem olvidar, evidentemente, 
dos mecanismos de repressão qualificada e de fortalecimento das instituições), têm 
sido vetores relevantes de mudança do cenário nacional, através da implementação 
de programas e projetos que visam alterar a qualidade das relações interpessoais e 
intergrupais nas comunidades brasileiras, pelos inúmeros processos de inclusão e 
valorização das pessoas e dos lugares onde vivem, ofertando novas possibilidades 
melhoria da qualidade de vida da população. 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13675.htm
 
 
 
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Aula 5 – Os tipos de violência 
 
A tipologia da violência em uso na OMS é resultante de demanda apresentada 
em 1996 durante a Assembleia Mundial da Saúde, diante do fato da pouca 
disponibilidade de tipologias e, entre essas, das que atendessem de forma abrangente 
os diferentes tipos de violência manifestados na realidade e a conexão entre eles. 
A classificação resultante divide a violência em três categorias que se 
pretendem abrangentes da maioria das manifestações do fenômeno, e está 
referenciada, segundo a OMS, às “características de quem comete o ato de violência”. 
Assim, as categorias são: 
 
 
Figura 9: Classificação da violência 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
 
Violência autoinflingida 
É aquela em que a pessoa que comete a violência, comete contra si mesma. 
Está dividida em dois subtipos: 
(i) o suicídio, no qual se incluem desde os pensamentos suicidas até as 
tentativas e os suicídios consumados; e, 
(ii) o autoabuso, que inclui atos de automutilação. 
 
 
 
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Violência interpessoal 
Nesta categoria estão incluídos todos os tipos de violência cometidos por uma 
pessoa ou por um grupo de pessoas a outras pessoas ou grupos. Segundo a OMS, a 
violência interpessoal pode ser dividida em dois subgrupos: 
(i) violência intrafamiliar (ou da família) e parceiros íntimos. Incluem-se aqui, as 
violências ocorridas tanto no interior das residências quanto fora delas. Neste grupo 
estão incluídos os abusos infantis, violência contra o parceiro íntimo ou contra idosos; 
(ii) violência comunitária, que incluem as interações violentas entre pessoas 
que não tenham laços de parentesco, podendo ou não se conhecerem. Esse tipo de 
violência geralmente se dá fora das residências. Neste grupo incluem-se a violência 
contra jovens, estupros e ataques sexuais, violência contra escolas, empresas, 
prisões e outras instituições. 
 
Violência coletiva 
A violência coletiva constitui-se de três subcategorias de acordo com o relatório 
da OMS: social, política e econômica. O relatório informa que nessa categoria, as 
divisões que a compõem parecem sugerir a existência de razões específicas para a 
violência cometida por grandes grupos de indivíduos ou pelo Estado, como se 
fizessem parte de uma agenda social prévia e legítima, pelo menos na percepção de 
tais grupos, como são, por exemplo, os casos de crimes de ódio cometido por certos 
grupos e os atos terroristas. 
No âmbito da violência política estão incluídas as guerras e as violências 
cometidas pelos Estados ou por grandes grupos. A violência econômicaé resultante 
da ação de grandes grupos motivados pelo possível ganho econômico. Neste âmbito 
encontram-se ataques que buscam interromper a atividade econômica, negar ou 
impedir acesso a serviços considerados essenciais ou, ainda, estabelecer 
segmentações ou fragmentações econômicas. 
 
 
 
 
 
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5.1. Atos violentos e sua natureza 
 
Segundo a classificação adotada pela OMS, os atos violentos podem ser de 
diferentes naturezas, as quais interagem com as categorias e subcategorias 
tipológicas da violência. Assim, os atos violentos podem ser de natureza física, sexual, 
psicológica e/ou de privação ou negligência. 
 A violência interpessoal, por exemplo, poderá estar se caracterizar por atos que 
tenham natureza física, sexual e psicológica, como nos casos de abusos contra 
crianças integrantes da família. Também pode estar presente aí a negligência, tanto 
com crianças quanto com idosos. A violência comunitária pode estar traduzida, por 
exemplo, em agressões entre jovens de diferentes grupos na comunidade, ou assédio 
sexual no trabalho. A violência política, enfim, pode se configurar em abusos físicos e 
sexuais contra pessoas durante conflitos entre países. 
A OMS alerta que a tipologia por ela adotada não pretende ser universal posto 
que, tal como outras, não consegue incluir a totalidade dos casos e atos de violência, 
cujos padrões variam segundo diferentes variáveis. Mais que isso, a tipologia é muito 
mais um esquema teórico para a complexidade do fenômeno e a compreensão de 
suas possíveis manifestações, o que permite daí, desenhar cenários e propor medidas 
de prevenção e controle. Na realidade, entretanto, nem sempre as divisões tipológicas 
são tão claras e/ou perceptíveis, obrigando ao pesquisador, ao decisor político e ao 
gestor público, aprofundar-se de modo contínuo no estudo do problema. 
A figura abaixo apresenta um diagrama tipológico das categorias e naturezas 
dos atos violentos e suas respectivas interações. 
 
 
 
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Figura 10: Tipologia da violência 
Fonte: Relatório Mundial sobre Violência e Saúde. OMS, 2002. 
 
 
5.2. Fatores geradores de violência 
 
Como já vimos anteriormente, a violência é um fenômeno complexo que, por 
sua vez, tem origem em diferentes fatores também complexos, os quais, uma vez 
conhecidos, possibilitam aos gestores públicos e aos operadores da segurança 
pública elaborar alternativas para enfrentar de forma adequada as diversas formas de 
manifestação da violência. Uma classificação dos fatores que contribuem para a 
ocorrência da violência pode ser encontrada em Chesnais (1996), para quem o 
fenômeno tem origem em: 
a. Fatores socioeconômicos como a pobreza, as desigualdades e as heranças 
dos períodos de recessão econômica. 
b. Fatores institucionais relacionados à insuficiência do Estado em atender às 
demandas sociais; crise no modelo familiar e a perda do poder de influência do setor 
religioso. 
 
 
 
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c. Fatores culturais como os relacionados à integração (ou falta dela) racial e a 
desordem moral (declínio dos valores morais na sociedade). 
d. Demografia urbana incapaz de suportar em termos de infraestrutura, o 
crescimento da taxa de natalidade, a migração e ocupação desordenada do solo 
urbano e o surgimento, como consequência, de aglomerados urbanos desprovidos de 
condições minimamente adequadas às demandas das pessoas. 
e. A mídia e sua influência na produção do “medo do crime” e da “sensação de 
insegurança” na sociedade, função da ênfase em crimes violentos. 
f. A globalização mundial e a transnacionalização das relações ente países e 
regiões, incluindo o crime organizado. 
 
 
Segundo Chesnais, tais fatores, em sua maioria, têm suas origens na própria 
sociedade e na qualidade das interações em todos os níveis que nela se estabelecem, 
o que cobra do Estado e dessa mesma sociedade participação ativa na busca de 
soluções que alterem de forma satisfatória o quadro de violência e insegurança a que 
a população se vê submetida. 
 
 
 
 
 
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Aula 6 – Os custos da violência 
 
 
Figura 11: Reflita 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
Esta seção está fundamenta em recentes estudos realizados por Cerqueira et 
al. (2007) e Cerqueira (2010), nos quais são apresentadas discussões bastante atuais 
sobre os custos da violência e criminalidade no Brasil. 
Cerqueira (2007) argumenta que a violência e criminalidade, para além das 
perdas tangíveis e intangíveis impostas às vítimas e suas famílias, também impõe 
gastos adicionais ao Estado pela necessidade de, a cada evento de violência ou crime, 
acionar os sistemas envolvidos na administração do fenômeno: saúde, justiça e 
previdência social. 
Soma-se ao anterior, um volume considerável de capital não acumulado, 
resultante das expectativas de violência e crime, as quais, além de demandarem 
investimentos em setores não produtivos (segurança pública e privada), ainda 
provocam alterações significativas na dinâmica social, alterando rotinas, hábitos, 
inibindo o turismo e reduzindo, assim, o consumo por bens e serviços. Porém, mais 
grave ainda, alerta Cerqueira (2007), é a perda do capital humano resultante da 
violência ou de sua expectativa. 
 Em consequência desse quadro, o autor considera plenamente justificada a 
necessidade de se calcular os custos da violência e da criminalidade, os quais, 
segundo Bourguignon e Morrison (apud Cerqueira, 2007), atendem a três propósitos 
específicos: 
 
 
 
 
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Primeiro propósito 
Caracterizar a violência como uma questão de política social; 
Segundo propósito 
Orientar a alocação de recursos para problemas sociais em estreita conexão 
com a questão da segurança pública; e, 
Terceiro propósito 
Orientar, de forma eficiente, as políticas públicas, para a alocação de recursos 
públicos para programas especificamente voltados para a questão da segurança 
pública. Além disso, ainda interessa aos elaboradores de políticas públicas e 
operadores da segurança e justiça, conhecer de forma mais específica os danos 
causados pelos diferentes tipos de crime, já que, para cada tipo criminal, os danos 
podem ser diferentes e requerer tratamento diferenciado em relação aos danos 
causados. 
 
Para além de tais demandas, informa Cerqueira (2007), a escolha por políticas 
públicas estará pautada pela análise de benefício e custo de programas de prevenção 
e controle da violência e do crime, a qual responderá pela permanência ou não do 
investimento nos programas examinados. 
 
 
6.1. Tipos de custos 
 
Cerqueira (1997, 2010) informa que existem duas abordagens em relação aos 
tipos de custos. A primeira trata da classificação utilizada em análises de benefícios e 
custos de programas sociais. Nesta classificação surgem os conceitos de custos 
sociais e custos externos. O primeiro, segundo Cohen (apud Cerqueira, 2007), são os 
custos que reduzem o bem-estar da sociedade. O segundo, são os “custos impostos 
a uma pessoa por outras, de forma não voluntária e que acarrete consequências 
negativas para aquela primeira”. 
 
 
 
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Outra classificação pretende possibilitar a análise dos custos da violência em 
certos países. Nesse caso, entretanto, três abordagens diferentes têm sido 
evidenciadas nos estudos que pretendem fazer tal medição. Na perspectiva de 
Bourguignon e Morrison, os custos da violência e do crime estão divididos em três 
grandes grupos: 
Primeiro grupo 
“Os custos dos fatores pertencentes à função de produção do crime (onde 
constam os custos para os criminosos dos recursos utilizados e decorrentes das 
ações criminais, além dos recursos públicos e privados para a prevenção ao crime, 
incluindo custos judiciais e do sistema penitenciário”; 
Segundo grupo 
“Os custos das vítimas”; e 
Terceiro grupo 
“Os custos das externalidades sociais, associados à diminuição das taxas de 
investimento, poupançae acumulação de capital e ao aumento das taxas de 
desemprego.” 
 
Noutra vertente, Glaeser, Levitt e Scheinkman (apud Cerqueira, 2007) 
consideram a seguinte taxonomia: 
 
Figura 12: Taxonomia dos custos 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
 
 
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Cerqueira (2007), por outro lado, entende que os custos da violência e do crime 
devam ser classificados segundo os atores que arcam com esses custos, sendo os 
custos arcados pelo Estado e os custos arcados pelo setor Privado. Acesse o 
material complementar e veja a “Tabela Custos da Violência e Criminalidade” 
completa de como estão identificadas as despesas por ator segundo a classificação 
adotada por ele. 
 
 
6.2. Algumas estimativas de custos da violência e do crime 
 
Em um levantamento dos estudos que objetivaram estimar os custos da 
violência e do crime em diferentes países, Cerqueira (2007) encontrou os seguintes 
dados: 
1995 
Estudo realizado por Soares (2003, apud Cerqueira, 2007), concluiu que os 
custos da violência e do crime (ou a perda de bem-estar) em 73 países em 1995 era 
correspondente a 15%, em média, do PIB nacional. Tais perdas, inclusive, eram mais 
acentuadas nos países da América Latina e Caribe (27%), seguidos por países do 
leste europeu – ex-comunistas – (15%), países do oeste do Pacífico (9%), países 
norte-americanos (8%) e países do oeste europeu (5%). 
1999 
Em 1999, o custo bruto do crime e da violência alcançava 11,8% do PIB 
americano, ou seja, cerca de US$ 1,1 trilhão. Na Inglaterra e Wales, em 1999, tal custo 
alcançou a cifra de US$ 60 bilhões de libras. 
2000 
Em seis países da América Latina, no ano 2000, um estudo conduzido por 
Lodoño, Gaviria e Guerrero (apud Cerqueira, 2007), concluiu que os custos da 
violência e do crime alcançavam as seguintes proporções relativas ao PIB de cada 
 
 
 
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país: El Salvador 24,9%; Colômbia 24,7%; Venezuela 11,8%, Brasil 10,5%; Peru 
5,1%; e México 12,3%. 
2001 
Na Austrália, em 2001, os custos chegaram a cerca de US$ 21,7 bilhões. 
 
No Brasil, os estudos sobre os custos do crime, como informa Cerqueira, são 
recentes e pouco se sabe ainda, sobre suas reais dimensões. Entretanto, três estudos 
referenciais podem ser tomados como forma de se ter uma dimensão de tais custos 
em relação ao PIB de três importantes municípios brasileiros: Rio de Janeiro, São 
Paulo e Belo Horizonte. Em estudo realizado por Coutollene et al. (2000), o custo do 
crime e da violência no Rio de Janeiro representava 4,88% do PIB do município. Em 
São Paulo, no ano de 1998, tal custo alcançou a proporção de 3% do PIB municipal 
(KHAN, 1999) e, no ano 2000, os custos totais da violência e do crime em Belo 
Horizonte equivaleram a 3,86% do PIB daquele município. 
 Seguindo a classificação que adota, Cerqueira demonstra, a partir de seus 
estudos sobre informações da Secretaria do Tesouro Nacional, que os gastos do 
Brasil com o custo da violência no ano de 2004 alcançou a proporção de 5,09% do 
PIB nacional, com uma cifra correspondente a R$ 92,2 bilhões de reais, valor que 
ainda não incluía vários fatores de custo da violência como os custos do sistema de 
justiça, perdas com desvio do turismo, perdas por retração de mercados de bens e 
serviços e, particularmente, os custos intangíveis decorrentes da dor, do sofrimento e 
do medo gerados pela violência ou por sua expectativa, bem como as perdas de 
produtividade resultantes dos traumas e da morbidade. 
Finalmente, Cerqueira (2007) alerta que tais números e proporções devem 
servir como um alerta para a sociedade brasileira sobre a magnitude do problema da 
violência no Brasil, bem como serem vistos como um primeiro passo para trazer a 
questão dos custos da violência para o debate racional de forma a possibilitar uma 
melhor organização da segurança pública no país, conferindo-lhe eficácia e eficiência. 
 
 
 
 
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Aprofunde seu conhecimento, acesse <Custo da Violência.pdf - 
Google Drive>, e leia o texto que aborda sobre “Os custos da 
violência no Brasil”. 
 
https://drive.google.com/file/d/1NbG8D3IxH0OaUwHzO3Q1Gz3uWgV9fwD4/view
https://drive.google.com/file/d/1NbG8D3IxH0OaUwHzO3Q1Gz3uWgV9fwD4/view
 
 
 
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Aula 7 – Mídia e segurança pública 
 
 
Figura 13: Reflita 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
Sabe-se que o direito à informação é princípio básico de qualquer democracia. 
Seu exercício deve ser defendido e a imprensa-livre deve ser respeitada. 
Contudo, quais limites devem ser estabelecidos na busca pela informação? 
Sabe-se que uma notícia é capaz de construir lendas ou destruir reputações. 
Em algumas ocasiões, o papel da imprensa foi questionado por setores da 
sociedade a respeito da sua atuação, vejamos o caso abaixo: 
 
Em 2008, muito se discutiu o papel da imprensa na ocorrência 
policial de cárcere privado que ficou conhecida como “Caso Eloá”. 
Em determinados momentos, veículos de comunicação 
transmitiam as ações policiais, enquanto outros meios da mídia 
entrevistavam o criminoso ao vivo pela TV. Especialistas alegaram à 
época que o processo de negociação pode ter sido prejudicado dado 
à intervenção enfrentada. 
Nesse caso, como garantir o direito à informação sem que 
isso coloque em risco o trabalho da polícia? 
 
 
 
 
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O “Observatório da Imprensa”, na coluna “A imprensa no banco dos réus”, 
publicou um artigo sobre o caso Eloá. Veja alguns trechos da reportagem: 
 
“A imprensa esteve no banco dos réus durante o julgamento do motoboy 
Lindemberg Alves, que matou com dois tiros a ex-namorada, a estudante Eloá 
Pimentel, de 15 anos, em outubro de 2008, após um sequestro de mais de 100 
horas. Para a equipe de defesa de Lindemberg, parte da culpa do assassinato 
deveria ser dividida com a imprensa, que teria espetacularizado e prolongado o 
sequestro, e com a polícia, que teria tomado decisões equivocadas durante a 
ação.” 
“A imprensa, na opinião da colunista da Folha de S.Paulo Keyla Gimenez, 
teve uma grande influência no desfecho do caso a partir do momento em que 
saiu do papel de transmissora das informações e se transformou em 
negociadora. Keyla avalia que, quando a equipe de defesa de Lindemberg, 
comandada pela advogada Ana Lúcia Assad, anunciou que levaria ao tribunal a 
tese de que a imprensa também tinha uma parcela de culpa no assassinato, a 
mídia passou a desqualificar a atuação da advogada. “Essa moça 
automaticamente virou uma inimiga da imprensa porque a imprensa não gosta 
de ser questionada. Ela acha que está o tempo todo certa, que ela está ali acima 
de tudo, do bem e do mal. Então, a partir do momento que ela colocou a imprensa 
como um fator, um agente que poderia ter contribuído para este desfecho trágico, 
ela perdeu não um aliado, mas ganhou um inimigo.” 
“Muniz Sodré, professor de Comunicação da Universidade Federal do Rio 
de Janeiro (UFRJ), sublinhou que um caso de violência transmitido ao vivo ganha 
grandes proporções.’Quando você fala para a televisão, você fala para que todo 
o mundo lhe veja. É completamente diferente. Você fala com um controle e 
você fala também para agradar, para satisfazer. Porque a iluminação, a 
reprodução, de uma forma lhe controla. A pessoa é outra. É como um objeto, 
uma coisa a ser fotografada. Ele está agindo para a câmera, para a televisão, 
para um público. Quando essa arma disparou, não é a sanidade – ele não é só 
um psicótico, neurótico, maluco. Ele é alguém fotografado, televisionado, 
filmado’.” 
 
 
 
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“Na avaliação do crítico de TV e jornalista José Armando Vanucci, não é 
possível culpar a imprensa pela atitude do motoboy, mas o caso pode levar a 
uma reflexão sobre a ação da mídia e evitar novos erros. “Nesses momentos, o 
executivo de televisão tem que ser muito mais jornalista do que executivo de 
televisão”, disse.” 
 
 
Para ler a reportagem na integra acesso o link: 
<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-imprensa-no-banco-dos-reus/> 
 
 
Informar fatos e formar opiniões são processos distintos cuja intencionalidade 
deve estar clara para o expectador ou leitor. A falta de transparência no objetivo 
pretendido pelo meio de comunicação pode trazer consequências negativas. 
Ao noticiar a ocorrência de determinado crime, é possível alardear uma 
situação que não confere com a realidade. Chamadas sensacionalistas, ou títulos que 
amedrontam, pode cumprir um papel além do imaginado. 
A leitura de estatísticas e analise de desses dados deve ser realizada de forma 
responsável e técnica. A existência de uma única ocorrência de determinado tipo 
criminal pode ser noticiada de diferentes maneiras. 
 
Observe três manchetes para uma mesma notícia: 
 
 
 
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-imprensa-no-banco-dos-reus/
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-imprensa-no-banco-dos-reus/
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-imprensa-no-banco-dos-reus/
 
 
 
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Figura 14: Manchetes 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
Qual o impacto de cada um dos títulos nos moradores daquela cidade? 
Politicamente, você imagina que há consequências diferentes para cada 
enunciado? 
E em relação aos órgãos de segurança? 
Como isso poderia ser interpretado? 
 
Resguardadas as proporções, a interpretação crítica do expectador e o 
exercício responsável da mídia, deve ser uma constante. É preciso perceber se há 
outras intenções por trás de determinada notícia. 
 
Leia o artigo a seguir e veja como essa questão pode impactar na 
sensação da segurança e na percepção do papel da polícia: “A 
IMAGEM DO CRIME E DA VIOLÊNCIA ATRAVÉS DA 
IMPRENSA NA CIDADE DE MARÍLIA – SP” 
https://drive.google.com/open?id=1lUWF8Y4I_USyNI9ffuX4c1U5
uFwDf2jU 
 
 
https://drive.google.com/open?id=1lUWF8Y4I_USyNI9ffuX4c1U5uFwDf2jU
https://drive.google.com/open?id=1lUWF8Y4I_USyNI9ffuX4c1U5uFwDf2jU
 
 
 
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Importante, dessa forma, refletir sobre os efeitos produzidos pela mídia no 
campo da segurança pública. O Guia para Prevenção do Crime e da Violência nos 
Municípios (GUIAMJ), editado em 2005 pelo Ministério da Justiça, reconhece que, 
cotidianamente os órgãos de imprensa, ao divulgarem notícias sobre crime e 
violência, geralmente selecionando os mais graves, passam a provocar diferentes 
reações nas pessoas e, não raramente, fazendo-as acreditar que aqueles crimes mais 
graves, retratados nos meios de comunicação, são os que mais ocorrem. Os dados 
contrariam tal percepção. 
Khan, 2001 (apud GUIAMJ, 2005), em estudo realizado em dois veículos de 
informação do estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil, nos anos 
de 1997 e 1998, apurou que o maior número de casos noticiados pela mídia não 
correspondia aos casos de maior quantidade registrados pela polícia, conforme 
demonstra a tabela a seguir. 
 
Tabela 4: Crimes divulgados pela Folha de São Paulo e Jornal do Brasil e crimes 
registrados pela polícia. São Paulo, 1997/1998. 
 
Fonte: Guia para Prevenção do Crime e da Violência nos Municípios, 2005. 
 
 
Observe, a partir da tabela, que a maior quantidade de crimes registrados em 
São Paulo foi de furto seguido por lesão corporal e roubos. A atenção da mídia, nesse 
 
 
 
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caso, esteve, nos dois anos examinados, voltada de forma consistente para os 
homicídios, que representaram, em termos de registros, 1,7% do total de crimes 
registrados, seguido pelos roubos e pelo tráfico de drogas. Somente nos casos de 
roubos se pôde identificar alguma convergência entre os valores apresentados na 
tabela. 
Tal situação também é afirmada por Calderinha e Albernaz (2009) em artigo 
publicado no caderno temático “Mídia e Segurança Pública” da 1ª Conferência 
Nacional de Segurança Pública (CONSEG), na qual ressaltam que se pode perceber 
uma diferença entre o que as estatísticas demonstram e o que é selecionado como 
notícia nos veículos de informação. 
A informação anterior demonstra, como ressalta o GUIAMJ (2005), uma 
preferência da mídia pelo que se convencionou chamar de “fato jornalístico” e que 
retrata tão somente algo que, por suas caraterísticas, chama a atenção e que provoca 
sensações e emoções desejados pela mídia por diferentes razões, particularmente as 
comerciais. 
Ao selecionar deliberadamente os crimes mais violentos como pauta e 
desenvolver na população uma percepção de que são os mais frequentes, as pessoas 
começam a imaginar que estão muito mais expostas a um processo de vitimização 
por tais crimes, do que na realidade estão. Tal fenômeno é denominado “medo do 
crime”, ou seja, as pessoas passam a viver com medo porque imaginam que podem 
ser vítimas de um crime violento. Isso gera uma série de consequências, inclusive já 
analisadas na seção anterior. 
 As pessoas se prendem em suas residências, deixam de realizar as coisas que 
gostam de fazer, aumentam seus níveis de estresse, somatizam através de diferentes 
manifestações biopsíquicas, gastam menos tempo e dinheiro com lazer, investem em 
mecanismos de proteção e segurança pessoal e residencial, enfim, reduzem sua 
qualidade de vida a níveis drásticos e passam a viver sob o domínio da sensação de 
insegurança. 
Apesar disso, há uma concordância bastante acentuada de que a mídia ainda 
constitui o principal meio de denúncia dos problemas sociais que afetam a sociedade 
brasileira. 
 
 
 
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No dizer de Ramos e Paiva (apud CONSEG, 2009), a mídia 
brasileira tem mudado e desempenha um papel fundamental no 
debate público sobre temas relevantes para a sociedade, com a 
violência e o crime, inclusive, influenciando a opinião das pessoas, 
motivando-as e induzindo-as na fiscalização da implantação das 
políticas de Estado. 
 
Segundo as autoras, ainda que persistam deficiências no modo como a mídia 
trata as questões relacionadas à violência e ao crime, o papel dela tem sido decisivo 
para influenciar o modo como os governos e a própria sociedade responde aos 
problemas da segurança pública. 
 
 
 
 
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Finalizando... 
 
Neste módulo, você estudou que... 
• O conceito de violência proposto a partir de Ives Michaud, numa vertente 
sociológica, busca alcançar a abrangência necessária para uma interpretação 
inclusiva da violência, compreendendo-a como um fenômeno que se manifesta 
tanto de forma objetiva como de forma subjetiva e, nesse segundo caso, 
explorando os espaços invisíveis das relações de dominação entres os 
indivíduos; 
• O conceito proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) traz o 
tratamento do fenômeno da violência para o campo da saúde pública, 
entendendo-o como um aspecto de alto impacto na qualidade de vida das 
populações e por isso, afetando o bem-estar e provocando diferentes 
manifestações que irão desaguar em uma série de demandas que oneram o 
Estado e, por sua vez, a própria sociedade; 
• De acordo com enfoque proposto pela OMS, os fatores que dão origem à 
violência e os impactos econômicos da violência e do crime demonstram 
perdas possíveis em um ambiente de alta violência e os custos 
socioeconômicos que acabam por ser impostos à sociedade; 
• Um dos mais importantes vetores de criação de uma percepção indesejável em 
relação à violência e o crime é representado pela mídia, que, com sua 
seletividade na escolha dos eventos a noticiar, tem privilegiado, historicamente, 
os crimes violentos por sua capacidade de gerar emoção. Isso, contudo, tem 
se transformado em um importante gerador de medo do crime e de sensação 
de insegurança, dada a ideia de que todos os indivíduos passam a estar 
igualmente vulneráveis e que certas medidas de proteção e isolamento passam 
a ser necessárias, do que resulta o enfraquecimento do tecido social e, por 
consequência, da capacidade de autoproteção das comunidades. 
 
 
 
 
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Módulo II – Prevenção e controle da violência e do crime 
 
Apresentação do Módulo 
 
A violência é multidisciplinar – seja em suas causas, seja em suas 
consequências – isto é, ela deve receber o olhar de diferentes disciplinas e áreas da 
ação humana para sua compreensão e tratamento. Por isso, ela requer, como tal, um 
conjunto de soluções que envolvem ações de diferentes setores do governo e da 
sociedade organizada. Não há, entretanto, soluções previamente estabelecidas para 
a prevenção da violência. Há sim, uma boa quantidade de propostas de ação com 
diferentes abordagens teóricas que podem ser divididas em dois grandes grupos: os 
que propugnam pela prevenção da violência e os que defendem a abordagem do 
controle da violência. Ao primeiro caso, o da prevenção, a epidemiologia e o enfoque 
de saúde pública têm proporcionado metodologias antes vistas como aplicáveis 
apenas ao campo da saúde propriamente dito. Ao segundo, o do controle, a 
criminologia e os estudos jurídicos têm oferecido considerável aporte de 
conhecimento. 
A busca de soluções para a questão dos crimes violentos tem colocado a 
prevenção e o controle em posições opostas. A prevenção, por exemplo, busca a 
solução na correção de distorções sociais, tais como a diminuição da pobreza, a 
melhoria da educação e da melhor distribuição de renda. Essas são conhecidas como 
“soluções brandas”. Por outro lado, as “soluções duras” para os crimes violentos, 
propostas pelos defensores das medidas de controle, apontam o estabelecimento de 
maior quantidade e disponibilidade de recursos policiais, bem como o aumento das 
prisões e disponibilidade de vagas no sistema prisional, como o caminho a ser 
seguido. 
 É preciso ter em conta, entretanto, que ambos, prevenção e controle, fazem 
parte de um contínuo em que o castigo efetivo, classificado como uma “solução dura” 
por natureza pode ser um eficaz dissuasor do crime e, portanto, um mecanismo de 
prevenção contra alguns tipos de conduta violenta. Assim, de acordo com 
 
 
 
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especialistas na matéria, as ações de prevenção não devem ser definidas de acordo 
com as soluções que produzem, e sim pelos seus efeitos observáveis nas condutas 
futuras. 
 
Objetivos do Módulo 
 
Ao final deste módulo, você será capaz de: 
• Diferenciar prevenção e criminalidade; 
• Compreender os fundamentos das estratégias de prevenção; 
• Identificar os ambientes institucionais e os lugares potencialmente indicados 
para programas e projetos de prevenção; 
• Refletir, de forma crítica, sobre as ações policiais no controle da violência e da 
criminalidade. 
 
Estrutura do Módulo 
 
Este módulo está estruturado em: 
Aula 1 – Prevenção da violência e da criminalidade 
Aula 2 – Prevenção: custo e efetividade 
Aula 3 – Estratégias de prevenção 
Aula 4 – Ambientes institucionais e ações de prevenção recomendadas 
Aula 5 – Controle da violência e da criminalidade 
Aula 6 – Ações promissoras no controle da violência e da criminalidade 
Aula 7 – Controle de fatores de risco importantes: drogas e gangues juvenis 
 
 
 
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Aula 1 – Prevenção da violência e da criminalidade 
 
Chamamos de monitoração ou vigilância epidemiológica a coleta, análise e 
interpretação sistemática de dados para sua utilização no planejamento, execução e 
avaliação de programas contra a violência e a criminalidade. Segundo a visão do 
Banco Interamericano de Desenvolvimento, ela se compõe de quatro etapas: 
 
Figura 15: Etapas para os programas contra a violência e criminalidade 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
Nesse sentido, a epidemiologia se configura em uma ferramenta bastante útil 
na construção de sistemas de informação acessíveis, em todos os níveis da ação 
governamental, que podem reduzir o sub-registro das mortes e lesões violentas e 
ajudam a identificar os fatores de risco associados a esses eventos (Lozano, 1997). 
 
 
 
 
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Aula 2 – Prevenção: custo e efetividade 
 
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dados de estudos 
realizados em países industrializados indicam que ações de prevenção tendem a ser 
mais eficientes que ações de controle. Conforme o BID, nos Estados Unidos da 
América (EUA), estima-se que para cada dólar investido em prevenção poderiam ser 
economizados cerca de 6 a 7 dólares investidos em programas de controle. Apesar 
disso, o que se observa é que a maioria dos investimentos dos governos se destinam 
a combater o crime uma vez já ocorrido e ao tratamento das vítimas desses crimes. 
 
 
 
 
 
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Aula 3 – Estratégias de prevenção 
 
Uma das regras mais importantes da prevenção é que quanto mais cedo se 
atuar na vida de um indivíduo, evitando o desenvolvimento de condutas violentas, 
mais efetiva será a ação preventiva. Em decorrência, as estratégias de prevenção 
devem estar orientadas previamente à redução dos fatores de risco de violência e/ou 
criminalidade ou ao aumento dos fatores de proteção contra a violência e/ou a 
criminalidade. O BID utiliza-se de sistema de classificação de estratégias de 
prevenção da violência e da criminalidade, agrupando-as em ações que objetivam: 
a. Modificar fatores estruturais ou proximais. 
b. Modificar fatores sociais ou situacionais. 
c. Modificar fatores específicos de risco e/ou proteção (programas pontuais) ou 
modificar um conjunto de fatores (programas integrais). 
d. Alcançar toda a população (prevenção primária), grupos de alto risco 
(prevenção secundária), agentes violentos e/ou suas vítimas (prevenção terciária). 
 
Vamos estudá-las uma a uma. 
 
3.1. Prevenção estrutural 
 
Redução da pobreza e da desigualdade, por exemplo, são duas medidas 
estruturais de longo prazo que, ao alterar as relações e incentivos do mercado de 
trabalho, bem como o acesso a este, tendem a reduzir a privação e a frustração e, por 
consequência, a probabilidade de condutas violentas e/ou criminosas futuras. 
É fundamental o aumento das oportunidades econômicas para 
os jovens em situação de pobreza que se constituem, na maioria, nas 
vítimas e nos agentes da violência social e da criminalidade, assim 
 
 
 
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como também é importante a atenção e desenvolvimento de medidas 
destinadas à prevenção da violência doméstica, a qual tem sido fator 
responsável por significativa redução das oportunidades de trabalho 
e diminuição da produtividade das mulheres. 
 
 
3.2. Prevenção proximal ou imediata 
 
São ações de prevenção imediatas, aquelas dirigidas a alterar o curso de 
eventos contingentes que produzem ou instigam a violência e/ou a criminalidade. 
Entre eles estão, por exemplo, o fácil acesso a armas de fogo, álcool e drogas. 
 
3.3. Prevenção social 
 
Esse tipo de prevenção tem por base o desenvolvimento social. Atua sobre 
grupos de alto risco, aumentando a probabilidade de que deixem de ser vítimas ou 
agentes da violência e/ou criminalidade. As atividades de prevenção nesse campo 
englobam uma ampla gama de ações dos mais diferentes matizes. Aqui podem ser 
incluídas, por exemplo, atenção pré e pós-natal a mães em situação de pobreza ou 
alto risco; programas educacionais infantis; programas de incentivo ao término dos 
estudos secundários para jovens pobres e/ou em situação de risco; programas de 
treinamentos em resolução pacífica de conflitos para grupos e comunidades em 
situação de risco. 
 
 
 
 
 
 
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3.4. Prevenção situacional 
 
A prevenção situacional reduz as probabilidades de alguém ser vítima potencial 
da violência e/ou do crime, através da redução das oportunidades, tornando a 
possibilidade de ocorrência do crime mais difícil, mais arriscada e menos vantajosa 
ou lucrativa para o criminoso. Dentre as ações de prevenção situacional encontram-
se a implantação de obstáculos físicos, controles de acesso a instalações ou locais e 
sistemas de vigilância e monitoramento que

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