Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arte, estética e cultura de massa APRESENTAÇÃO A arte é uma forma de expressão e, como todas as formas de expressão, é uma ferramenta de comunicação. Sua evolução, ao longo do tempo, contribuiu na composição da história da humanidade e, também, foi um meio de retratá-la. Conhecer seus fundamentos, sua definição e seus principais pontos é importante para que você possa ter um entendimento maior de tudo aquilo que te cerca. Afinal, a arte está em diversos locais do seu cotidiano – como em fotografias, filmes, músicas e tantos outros meios. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender o que é arte; conhecer alguns pontos principais que a permeiam; compreender o senso de estética; e se aprofundar no contexto político que a arte consegue retratar. Além disso, verá que existem estudos sobre o caminho da arte, assim como sobre a indústria cultural que amplifica o alcance das composições artísticas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar a arte e a estética ao longo da história.• Relacionar os fundamentos da arte e da estética à cultura.• Definir indústria cultural e seu impacto na arte e na estética.• DESAFIO O padrão de beleza ou padrão estético é algo que faz parte da sociedade desde o início dos tempos. As pessoas sempre buscam o que mais agrada aos seus olhos e consideram esses elementos como o padrão desejado. Apesar disso, tais padrões se modificam conforme a evolução do pensamento de uma sociedade, a cultura do país ou a época em que se vive. Um exemplo é o padrão de beleza do corpo feminino. Se, hoje em dia, o que se tem é um padrão estético da mulher loura, alta e magra, com curvas e sensualidade, na época do Renascimento as mulheres tinham os corpos mais cheios e a barriga mais saliente. Uma mulher do atual período, naquela época, seria considerada anêmica ou doente. Pensando nisso, você pode concluir que a beleza é relativa. Na arte, a beleza funciona da mesma forma. Considerando os traços e a composição, em geral, de uma obra do movimento cubista (surgido no início do século XX), imagine que você é um crítico iniciante de arte e sua tarefa é observar com atenção a obra a seguir para pontuar suas características. Confira. Como você analisaria essa obra, contextualizando o movimento cubista, falando sobre suas fases e o motivo de as obras de arte serem organizadas de uma forma considerada incomum? Além dessa análise, interprete, com as suas palavras, o que vê e o que sente com a obra do exemplo. INFOGRÁFICO A arte tem grande influência na construção do mundo e faz parte da evolução humana. Desde a pré-história, o ser humano encontra maneiras de se expressar e de retratar o meio em que vive, a sua realidade, as suas relações, emoções e pensamentos – seja pintando paredes, criando esculturas, elementos arquitetônicos, desenhos ou danças. A arte evolui sem parar, juntamente com a história da humanidade. Mais do que isso, a arte se torna uma das principais formas de contar a história da humanidade e o raciocínio da sociedade ao longo do tempo. Neste Infográfico, você vai conhecer a evolução da arte no mundo, nos últimos séculos, por meio de uma linha do tempo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO Nos dias de hoje, pensar que ninguém mais é ligado à arte ou que ela não está mais presente no dia a dia das pessoas é um pensamento equivocado. A humanidade vive a arte nos dias de hoje, mas ela se expressa de uma maneira diferente na atualidade. A arte sai das galerias e domina as ruas, os fones de ouvido e está presente até on-line; porém nem sempre foi assim. No capítulo Arte, estética e cultura de massa, da obra Produção de imagem na propaganda, você vai poder entender um pouco mais sobre a dimensão da arte desde o início dos tempos, conhecendo a estética que permeia os movimentos e como ela transita e se modifica até os dias de hoje. Além disso, vai poder entender os conceitos da indústria cultural e seus estudos sobre a cultura produzida para atingir o máximo de pessoas possível. Bons estudos. PRODUÇÃO DE IMAGEM NA PROPAGANDA Ana Carolina Rodrigues Spadin Arte, estética e cultura de massa Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Conceituar a arte e a estética ao longo da história. � Relacionar os fundamentos da arte e da estética à cultura. � Definir indústria cultural e seu impacto na arte e na estética. Introdução A arte nos cerca o tempo todo e está presente em coisas que nem per- cebemos que são arte. A música que você ouve enquanto realiza seus afazeres ou se desloca de um lugar para o outro, por exemplo, é uma forma de arte. A arte também é um pilar da cultura e um elemento de grande importância para a formação dos cidadãos. Conhecer a arte e possuir o senso de estética, reconhecendo seus aspectos com emoção, é parte do processo de construção do indivíduo e da sociedade, bem como o entendimento dos diversos movimentos e transições ocorridos ao longo dos séculos. Neste capítulo, você conhecerá o contexto histórico da arte e sua importância na construção da civilização moderna, compreenderá os princípios da estética e perceberá como o entendimento da arte vai além dos sentimentos e das emoções que uma obra desperta. Além disso, também entenderá os aspectos culturais da arte e como a realidade de um país ou região pode ser retratada por ela. Contexto histórico Apesar de você não reparar, elementos artísticos fazem parte do seu dia a dia em vários momentos, formas, linhas, desenhos e expressões. A arte está presente em elementos arquitetônicos das construções, em grafites nos muros, na música que você escuta, na interpretação teatral de novelas, filmes e séries que você gosta, por exemplo. A expressão artística é uma habilidade estritamente humana, nenhum outro animal possui essa capacidade criativa, pois trata-se de uma forma do ser humano expressar sentimentos. Além de sentimentos, pode-se dizer que a arte é uma extensão da imaginação do artista. De acordo com Ocvirck et al. (2014), o desejo humano de criar não é um fenômeno recente. É possível encontrar artes desde o início dos tempos dos seres humanos no planeta Terra, quando eles pintavam nas paredes rochosas de cavernas imagens de sua realidade. Na contemporaneidade, chamamos esse movimento de arte rupestre (Figura 1), que geralmente representava animais caçados, rituais e momentos relevantes de sua existência primitiva. Essa forma de arte demonstrou ser eficiente no quesito duração, pois algumas delas estão preservadas até a atualidade. Figura 1. Representação do que parece ser um bovino nas cavernas de Lascaux, sudoeste da França. Cientistas calculam que as artes rupestres do local remontam de 15 a 17 mil anos. Algumas pinturas da caverna chegam a ter 5 metros. Fonte: Charbonnier Thierry/Shutterstock.com. Arte, estética e cultura de massa2 Depois da arte rupestre, aconteceram muitas outras manifestações artís- ticas elementares e importantes para a área, como a arte egípcia, que apre- sentava conceitos de frontalidade muito característicos; a arte grega e seu comprometimento com a realidade; a arte romana, com sua associação aos tão respeitados seres mitológicos da época; e tantas outras que traçam seu caminho até a atualidade. Assim como a espécie humana, a arte se desenvolveu ao longo dos séculos e várias formas surgiram juntamente da evolução. A criatividade humana permitiu que manifestações como a escultura acontecessem. Primeiramente, eram feitas pelas próprias mãos humanas e, depois, com instrumentos que aperfeiçoaram a técnica, permitindo a criação de cada vez mais detalhes. Essa transformação continua acontecendo e, com o passar do tempo, outros recursos e ferramentas são criados, inclusive as digitais. A arte e a beleza estética A arte é uma composição plural, e sua definição depende do entendimentodo indivíduo. Pode estar ligada a sensações e sentimentos do artista, assim como com o seu jeito de enxergar a realidade. Da mesma forma que a definição é ampla, o entendimento também, pois o que é entendido como arte para alguns, para outros, às vezes, não. Conforme Ocvirk et al. (2014, p. 3), “para uns, uma obra de arte é alcan- çada somente quando a criação ultrapassa a simples função ou utilidade e assume mais do que o significado comum”. Outras pessoas, no entanto, têm uma visão menos seletiva e entendem vários outros tipos de manifestações criativas como arte. A definição e a interpretação da arte mudam com o passar do tempo. Um excelente exemplo da transição da arte e do que é considerado arte pela sociedade é o graffiti, um tipo de pintura, geralmente com muitas cores e expressividade feito em muros e espaços urbanos. Segundo Souza (2008), a atividade deixou de ser associada a práticas juvenis de depredação, como a pichação, e conquistou o status de manifestação artística. Antes considerado uma manifestação marginal, o graffiti hoje é respeitado e procurado por muitas pessoas, inclusive para integrar e enriquecer o visual da paisagem urbana, geralmente carregada do cinza dos prédios, e para integrar a decoração de interiores, como casas e empresas. 3Arte, estética e cultura de massa Portanto, é possível entender que a arte é transitória e tem ciclos. O que é considerado bonito para um grupo de pessoas ou em determinado período histórico, pode não ser para outro grupo. Assim, você pode compreender que a arte é subjetiva e depende de expectativas, gostos e preferências dos indivíduos que a apreciam/consomem. A noção de estética também segue a mesma linha de raciocínio. A estética tem ligações com a filosofia e a apreciação daquilo que é considerado belo pelo olhar humano. Assim como a arte, a apreciação da beleza também é relativa e depende de uma série de fatores, como preferências, noções e conhecimento do espectador. Nem todas as pessoas vão encontrar beleza em uma obra específica, pois suas preferências pessoais podem influenciar na apreciação. A arte se altera conforme a necessidade dos artistas de explorar novos formatos e, assim, a noção do que é arte também vai se modificando. São incontáveis as vezes em que essas modificações foram incompreendidas pelo público, que, em geral, fica confuso com o que lhe é apresentado. Conforme Azevedo Junior (2008, p. 15), “para apreciarmos algo ‘belo’ não usamos imediatamente nossa razão, mas os sentimentos, nossa intuição, nossa ima- ginação”, e é dessa forma que muitas pessoas conseguem uma experiência estética com uma obra de arte, seja ela qual for. Sem considerar o “correto” e sem perceber tendências na arte, em geral as pessoas consideram bonito e esteticamente agradável tudo aquilo que lhes toca os sentimentos e emociona de alguma forma. A palavra estética deriva da língua grega, e sua definição é algo aproximado a “compreender pelos sentidos”. Arte e estética e sua relação com a cultura Os padrões do que é considerado artístico são bastante fluidos, pois dependem da interpretação dos interlocutores, que, por sua vez, possuem gostos, raciocí- nios e sentimentos diferentes uns dos outros. Há, também, outro motivo para essas diferenças de interpretações, um pouco mais específico, que a cultura em que indivíduos ou grupos estão inserido. Cultura, em sua definição antropológica, envolve todos os costumes, pa- drões comportamentais, conhecimentos e crenças que distinguem um grupo social. Se você refletir um pouco, perceberá que existe uma quantidade infin- dável de características culturais no espaço em que vive, além de notar que cidades, estados e países possuem uma cultura regional e tradições que, por vezes, remontam de séculos. Arte, estética e cultura de massa4 A culinária de um país, suas tradições e festas típicas têm impacto cultural, e é justamente ele que pode tornar determinada região atrativa para o turismo, por exemplo. Muitas pessoas têm atração e curiosidade em conhecer aspectos culturais que não os de sua origem. As diferentes religiões espalhadas pelo mundo são grandes concentradoras de cultura, uma vez que, de uma para a outra, as comemorações, os rituais e as crenças variam, criando uma diversidade de características entre os grupos. Observe um exemplo de manifestação cultural religiosa na Figura 2. Figura 2. As festas juninas brasileiras são um aspecto cultural bastante característico do país e estão ligadas a tradições religiosas do catolicismo, pois são realizadas em comemoração aos dias de Santo Antonio, São Pedro e São João. Fonte: mauricioalvesfotos/Shutterstock.com. Com a ampliação das fronteiras e o acesso à informação, fragmentos de outras culturas passam a se misturar com o que é tradição para um povo. Para o indivíduo inserido em uma cultura tradicional, toda a realidade que presencia é considerada por ele normal; porém, quando há esse espalhamento do acesso, as novas informações chegam a todo momento, tornando a cultura híbrida. 5Arte, estética e cultura de massa Com a arte e a estética, não é diferente. O primeiro aspecto que analisaremos é a estética da arte, que pode ser considerada válida por indivíduos dentro de um contexto sociocultural específico e, por outros grupos com culturas diferentes, não validada ou não compreendida. Em seguida, para compreender a arte, é necessário, além da habilidade de compreender sensivelmente o que está sendo transmitido, desenvolver a capacidade de compreensão do contexto no qual a arte está inserida. Azevedo Junior (2008) afirma que a maneira de compreender e apreciar a beleza na arte depende diretamente do repertório cultural do observador e do poder de transmissão e expressão das ideias e sentimentos do artista na maneira como escolheu representá-las. Portanto, a apreciação e o entendimento de diversas obras de arte necessita de experiência estética prévia e conheci- mento acerca do contexto histórico do momento em que a arte foi produzida por parte do receptor. Outros aspectos passíveis de uma interpretação mais aprofundada são a biografia do autor da obra e a intenção dele ao transmitir uma mensagem. Nem sempre é possível entender o motivo de uma obra de arte ser executada de determinada forma. No entanto, como você pode perceber, existem diversos elementos que tornam a interpretação de uma obra de arte mais fácil. Da próxima vez que você ficar em dúvida a respeito da intencionalidade de uma obra, realize pesquisas sobre a obra e o autor, assim como o que estava acontecendo na sociedade no momento da sua produção. Conhecendo o contexto de produção, fica muito mais simples compreender a arte. Como você pode notar, a capacidade de perceber as obras de arte depende do conhecimento e da cultura que o indivíduo carrega e da competência do autor de expressar tais elementos na obra. Quanto à estética, cabe a cada indivíduo, ou grupo de indivíduos inserido em uma determinada cultura, a capacidade de julgar uma obra de arte como bela ou não. Esse julgamento vai depender dos recursos físicos inseridos na obra, assim como o contexto social e a cultural na qual ela estiver inserida. Arte, estética e cultura de massa6 É possível interligar, por mais que pareça complicado, obras de arte com contextos políticos e sociais. Existem inúmeras obras de arte que retratam a realidade e a cultura dos países, como as fotografias que demonstram o sofrimento de conflitos civis em países, os efeitos de guerras e as dificuldades de um povo. É necessário, porém, definir a ordem política na arte, para que você consiga compreender por que ela é introduzida nesse contexto. Política refere-se à toda realidade em que vive uma sociedade. Envolve leis e organiza a forma com que os cidadãos devem agir para conviver de forma pacífica, ou busca a melhor forma para que isso aconteça. A política também envolve as relações entre os estados de um determinado país e a forma como essepaís se relaciona com os outros, visando uma convivência pacífica, mesmo com as diferenças culturais existentes. A política vai além das pessoas e tem grandes relações com a cultura e a maneira como a sociedade se constrói, as características que assume ao longo dos anos, bem como com decisões tomadas por grandes líderes, que nem sempre estão de acordo com as necessidades do povo. Neste contexto, é importante ressaltar que existem políticas de incentivo à produção de arte, que normalmente acontecem quando há a percepção de que a produção artística e cultural de uma cidade, estado ou país podem estar comprometidos. Assim, acontecem projetos que estimulam os cidadãos a produzirem arte e entrarem em contato com ela, por exemplo, em exposições e galerias. Dessa maneira, a arte surge não somente para retratar a beleza de uma sociedade e seus acertos, de forma poética e enxergando somente aquilo que é positivo, mas também se eleva para declarar aquilo que é real, incomoda, é difícil de digerir ou gera incômodo, seja geral ou de parcela da população. De acordo com Oliveira (2019, documento on-line), os trabalhos artísticos que surgem de situações políticas não são simples comentários ou manifestações do artista: As obras espelham demandas e sentimentos da coletividade – são declarações políticas que, em sua maioria, evocam o potencial transformador da arte. Lem- bremos que, em meio às táticas de protesto, surgem manifestações artísticas, tais como, fotografias, performances, grafites, música e dança que acabam por compor uma estética contemporânea (OLIVEIRA, 2019, documento on-line). 7Arte, estética e cultura de massa É possível compreender, então, que a arte é abrangente e se transformou, ao longo dos tempos, em uma forma de subverter, de retratar para o mundo aquilo que acontece dentro de uma determinada sociedade, ou seja, é um meio para retratar a história. Indústria cultural e arte Apesar da arte passar por evolução e transição constantes, além de contar com inúmeros movimentos artísticos, técnicas e formas de relatar um acontecimento, seus movimentos mais antigos não se apagam por existirem ferramentas mais modernas. A arte se adapta, surgem novas vertentes, novos movimentos, mas o que foi produzido permanece, sendo relembrado e fazendo parte da história da arte. Dessa maneira, é possível entender que sempre existe espaço na arte e que, apesar de surgir o novo, o contemporâneo, o pós-moderno, nenhum desses movimentos faz a estética antiga ser desconsiderada ou prescrever. A linha do tempo da arte é quase mágica e só se amplia com o passar do tempo. A arte de cada época remonta a uma parte da história da civilização, conta sua existência, seus problemas, expõe sua política e sua cultura. Assim, torna- -se parte da cultura moderna, pois é importante para o sujeito contemporâneo possuir conhecimento histórico. A arte tem a capacidade de comunicar ao seu público tudo aquilo que ele precisa saber de forma visual, auditiva ou interpretativa. A contemporanei- dade, no entanto, trouxe uma evolução nunca imaginada para a arte e para a cultura da população mundial. A evolução da comunicação e dos meios tecnológicos possibilitou a queda das fronteiras invisíveis que delimitavam os países. Geograficamente, os territórios são os mesmos, porém, culturalmente, a tecnologia permitiu o “espalhamento” da cultura, causando uma miscigenação dos elementos históricos e culturais entre os povos. Esses acontecimentos podem ser considerados desde a evolução da prensa e da facilidade com que a informação passou a ter para se espalhar a partir disso. As produções manuais, rudimentares e praticamente artesanais passa- ram por uma industrialização, tornaram-se mais rápidas e, com isso, de mais fácil propagação. A partir disso, surge a fotografia, o cinema, a televisão e a internet, ferramentas que possibilitaram, cada uma de sua forma e a seu tempo, a ampliação das fronteiras e a propagação da informação, assim como a mistura de influências culturais diversas nas sociedades. Arte, estética e cultura de massa8 Conforme os estudiosos da escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer (2000), toda a civilização moderna confere um ar de semelhança, ou seja, todos os livros, músicas, produção televisiva e cinematográfica, entre outros itens de cultura que a modernidade carrega tiveram um toque da indústria cultural. O termo indústria cultural foi criado pelos mesmos autores, Adorno e Horkheimer (1985), que estudavam a teoria crítica e os encaminhamentos da sociedade moderna. A indústria cultural refere-se a todo o tipo de cultura que nasce das massas de forma espontânea, ou seja, todo tipo de formato cultural que pessoas comuns passaram a criar, em vez de eruditos, artistas e grandes estudiosos da arte e da estética, por exemplo. A escola de Frankfurt, fundada no ano de 1923, foi um centro de pesquisa histórico e de grande importância para as teorias da comunicação, sendo citada até hoje em estudo sobre a comunicação e como ela é na atualidade. Tornou-se relevante quando Max Horkheimer foi nomeado diretor do instituto. No entanto, a Escola de Frankfurt foi obrigada a se dissolver na época da segunda guerra mundial e da dominação dos ideais nazistas na Alemanha e parte da Europa. Os idealizadores do instituto mudaram-se para a França e, mais tarde, para os Estados Unidos. Eles nunca pararam seus estudos, os fazendo evoluir e migrar para esses locais. A indústria cultural surge durante a “industrialização” da sociedade, o cres- cimento das linhas de produção e a facilidade e a possibilidade da fabricação de produtos em larga escala. Juntamente a isso, inicia-se uma padronização dos objetos culturais, seguindo o mesmo curso. De acordo com Cordeiro et al. (2017, p. 89) “Estes [os objetos culturais], na sociedade capitalista liberal, passaram a ser produzidos sob a ótica do lucro, cujo fim é meramente o seu consumo”. A indústria cultural fala sobre a lógica de consumo criada pelo capitalismo, que prega não somente o consumo por conta da necessidade básica, mas como um merecimento pelo esforço de cada indivíduo, incentivando o ato deliberado de consumir. Os produtos frutos dessa indústria são feitos para agradar ao máximo de pessoas possível e, dessa forma, serem consumidos em massa. Tudo funcionando está dentro da ótica do lucro, que é o objetivo do capitalismo. 9Arte, estética e cultura de massa Com esse objetivo (satisfazer o máximo de pessoas possível), a indústria cultural usa muitos estereótipos e clichês, fazendo os indivíduos se perceberem naquele produto e o encaixarem em sua realidade, acreditando que precisam comprá-lo ou consumi-lo. Um bom exemplo da indústria cultural são os livros que chamamos de best-sellers, ou seja, os mais vendidos mundialmente. Por conta da indústria cultural, muitas vezes, esses livros carregam alguns ou muitos estereótipos, com intuito de gerar identificação e promover o sucesso entre o público. A rápida propagação da informação, por conta das tecnologias, e a cultura mis- cigenada faz as narrativas desses livros serem agradáveis para uma boa parte da população, e a necessidade de pertencimento a um grupo inerente aos indivíduos também garante o sucesso nas vendas. Faz parte da indústria cultural fazer promessas ao indivíduo, que, muitas vezes, esquece que vive em sociedade e tem necessidade de se autorrecompensar por seu trabalho, pelas horas que passa estudando, entre outros “sacrifícios” que faz. Dessa forma, aquele que consome crê que é preenchido por suas posses e conquistas e se sente realizado em razão delas. Conforme lembram Cordeiro et al. (2017, p. 92), “não sabe o sujeito que ele não é o rei dessa indústria, como poderia pensar, mas reinado por ela. No assalto indefinido entre promessas, sonhos e espetáculos, a sua rotina diária e no trabalho continua a lhe massacrar”. É possível entender, então, dois pontos: o primeiro é que, apesar do consumo gerar uma tranquilidade momentânea,a rotina do homem voltará a fazer ele sentir necessidade de consumir novamente; e o segundo, é que a indústria cultural trabalha em favor do capitalismo. Você pode perceber, portanto, que a indústria cultural tem impacto em muitos setores da sociedade, inclusive na arte. Para Adorno e Horkheimer (2000), a sociedade sob influência da indústria cultural torna-se cada vez mais deficiente de pensamento crítico e mais toldada de liberdade. Estudio- sos afirmam que a indústria cultural tem a capacidade de manipular o ser humano, criando a sensação de que ele precisa fazer o que todos os outros fazem, experimentar o que todos experimentam e ter o que outras pessoas têm. As pessoas são, portanto, influenciáveis. Arte, estética e cultura de massa10 Na arte, podemos citar o cinema como uma das formas pré-moldadas da indústria cultural e que segue o modelo “agradar para vender”. Existe uma infinidade de temáticas de filmes disponíveis nos catálogos dos cinemas, da televisão e, mais recentemente, dos serviços de streaming. Porém, grande parte dessas produções segue uma “receita de bolo”. Um herói ou uma mocinha bondosos, justos e humanos — com os quais as pessoas se identificam por meio dos estereótipos — são imagens padronizadas. Por exemplo, a “moci- nha” de uma história é sempre incapaz de cometer uma maldade, possui um conflito a ser resolvido com resiliência e coragem; o enfrentamento de um problema, que pode ter um grande vilão envolvido, um mal que pode destruir a humanidade, ou qualquer ameaça que lhes comprometa a existência. Depois de muitas lutas, percalços e, às vezes, algum romance, o lado do herói sempre vence e todos os espectadores terminam o filme com aquela sensação de alívio e bem-estar, quase de missão cumprida. Esse efeito é produzido por grandes concentrações de estereótipos e clichês, que causam o sentimento de normalidade e identificação, é o famoso “final feliz”. Se você reparar, vai perceber que qualquer final ou desenvolvimento que saia dessa normalidade gera incômodo em algumas pessoas. Walter Benjamin afirma que a arte se tornou banal e comercial, perdendo a sua capacidade de ser original e seu caráter de objeto artístico (BENJAMIN, 2014). Benjamin defende que com a reprodutibilidade técnica — capacidade de propagação de informações por meios de comunicação, inclusive da arte — a aura da arte acaba por se perder. Ainda segundo Benjamin (1994, p. 168) “Na medida em que ela [a técnica de reprodução] multiplica a reprodução, substitui a existência única da obra por uma existência serial”. Portanto, o autor defende que a essência da obra de arte se desfaz dessa forma, e sua magia, a técnica com que foi feita, os detalhes em sua superfície e a história de sua produção perdem-se com a sua reprodução em diferentes mídias. Imagine que você está em uma praia de areia branca, sentindo o calor do sol na pele, ouvindo o barulho das ondas do mar e sentindo a brisa marítima. Essa sensação de presença em um local específico, com todas as suas carac- terísticas, nunca será substituída pela visualização de uma imagem na tela do seu computador, por mais que você tente. Esse é o pensamento de Walter Benjamin ao falar da reprodução da arte em meios de massa. Por mais que você tente, ver a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, em uma impressão de papel não é o mesmo que visitá-la no museu do Louvre, na França. 11Arte, estética e cultura de massa Apesar de todos esses pontos críticos à indústria cultural e à massificação da informação, existe um contraponto na propagação da arte. A facilidade de acesso às obras de arte e produções artísticas históricas descentraliza o poder das galerias de arte e dos museus, que, na maioria dos casos, está longe da maior parte da população, e democratiza o acesso do conhecimento pelo público, permitindo, ao menos, a compreensão de alguns aspectos das obras de arte, mesmo que não as conheça. Afinal, não seria “justo” que, com a quantidade de informações que temos disponíveis, não fosse possível ver uma obra de arte a não ser indo até todos os museus espalhados pelo mundo. ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massa. In: LIMA, L. C. (org.). Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 364 p. ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. 224 p. AZEVEDO JUNIOR, J. G. Apostila de arte: artes visuais. São Luís: Imagética Comunicação e Design, 2007. 59 p. Disponível em: https://jucienebertoldo.files.wordpress.com/2013/01/ apostila-de-artes-visuais.pdf. Acesso em: 17 dez. 2019. BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: L&PM, 2014. 176 p. (L&PM Pocket, 1216). BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. 253 p. CORDEIRO, R. Q. F. et al. Teorias da comunicação. Porto Alegre: SAGAH, 2017. 295 p. OCVIRK, O. G. et al. Fundamentos de arte: teoria e prática. 12. ed. Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2014. 328 p. OLIVEIRA, A. M. Arte e política, eterna questão. Jornal da USP, São Paulo, 14 fev. 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/arte-e-politica-eterna-questao/. Acesso em: 17 dez. 2019. SOUZA, D. C. A. Graffiti, Pichação e Outras Modalidades de Intervenção Urbana: ca- minhos e destinos da arte de rua brasileira. Enfoques, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 73–90, 2008. Disponível em: http://www.enfoques.ifcs.ufrj.br/ojs/index.php/enfoques/article/ view/74. Acesso em: 17 dez. 2019. Arte, estética e cultura de massa12 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Arte, estética e cultura de massa DICA DO PROFESSOR Marcel Duchamp foi um artista muito famoso do movimento dadaísta, um dos movimentos artísticos de vanguarda do século XX. Iniciado na Suíça, no início do século, o movimento propunha chocar as pessoas e tirá-las da zona de conforto. O perfil do Dadaísmo era usar elementos de pouco valor para criar arte. Um grande exemplo de arte desse movimento é a famosa e polêmica escultura nomeada Fonte, elaborada por Marcel Duchamp, exposta em 1917, em uma galeria de arte de Nova Iorque. Nesta Dica do Professor, você verá uma análise da obra de Duchamp, que ajuda a perceber, por meio do seu contexto e da intenção por trás da obra, uma nova forma de interpretar a arte. Desprende-se, assim, do senso estético que, muitas vezes, é procurado pelas pessoas e entende- se que nem sempre a arte estará associada somente ao que é bonito e faz sentido aos olhos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Segundo a definição geral, a arte expressa os sentimentos, a realidade ou parte da imaginação do artista. A arte pode ser elaborada de diversas maneiras e chegar ao público por meio de uma mensagem direta ou indireta, demonstrando um acontecimento, uma sensação ou uma obra que está longe do entendimento visual – mas que, ainda assim, deve ser considerada um tipo de expressão. Considerando essas informações, assinale a alternativa que apresenta somente tipos de arte. A) Poesia, costura, interpretação de texto e dança. B) Literatura, dança, escultura, música e cinema. C) Dança, filosofia, sociologia, medicina e pintura. D) Religião, dança, teatro, cultura e conhecimento. E) Tecnologia, abstração, cinema, pintura e direito. 2) A estética tem suas ligações com a filosofia e com a apreciação daquilo que é considerado belo pelo olhar humano. Sendo assim, é possível afirmar que a estética: A) é universal: todas as pessoas que veem uma obra de arte precisam considerá-la esteticamenteaceitável. Pode ser considerada objetiva. B) é seletiva: nem todas as pessoas têm a noção do que é bonito ou do que é feio e precisam de treino para isso. Pode ser considerada um dom. C) depende também do gosto da pessoa que admira e tenta compreender a obra de arte. Por isso, pode ser considerada subjetiva. D) depende das influências políticas de cada indivíduo. Por isso, não existe um consenso do que é considerado belo pelas pessoas. E) é transitória e depende do humor da pessoa no dia em que ela tem contato com uma peça artística. É considerada como sorte. 3) Apesar de muitas vezes as pessoas não se darem conta, a arte e a política têm tudo a ver. Uma das formas de fazer arte é misturando-a com fatores políticos da realidade de uma nação ou da situação mundial. Dada essa informação, é correto afirmar: A) A arte política é uma forma de expressão e protesto da população e pode ser considerada um meio de retratar a história para a posteridade. B) A arte política é considerada uma vertente menos conceituada pelos artistas, uma vez que estes pensam que os assuntos não devem ser misturados. C) A abordagem política na arte retrata somente as campanhas dos candidatos à eleição de uma cidade ou país e só são acessíveis para quem tem mais verba. D) A abordagem política na arte relata somente os acontecimentos que os meios de comunicação de massa não mostram para a população. E) A arte política não é considerada pela população, pois esta não pode enxergar a estética padrão. Portanto, não é considerada bonita nem útil. 4) A indústria cultural que se iniciou na época da industrialização e da produção de forma massiva permitiu a ampliação das fronteiras de informação e a propagação da arte, de forma ostensiva e sem fronteiras. O fenômeno foi estudado por Theodore Adorno e Max Horkheimer, da Escola de Frankfurt, e apresenta algumas características específicas. Assinale a alternativa que as apresenta. A) Criada de forma espontânea pelas massas; padronização de objetos culturais; produção da estética com foco no lucro; incentivo ao consumo como recompensa. B) Criada somente por eruditos especialistas em arte; vertente inacessível para as massas, que passaram somente a focar no trabalho e no desenvolvimento. C) Criada de forma acidental por trabalhadores braçais; usa elementos do cotidiano; produção não considerada artística; ganhou valor com o passar dos anos. D) Criada para os meios de comunicação alternativos; padroniza a impressão artesanal; produz somente informações na Internet; não tem a ver com arte. E) Criada de forma intencional pelos donos de indústrias; objetifica o trabalhador e seu trabalho; não dá atenção à qualidade; cria arte conforme o cotidiano de produção. 5) Uma das características da indústria cultural é a massificação e a ampliação da cultura. Por conta das novas tecnologias, as fronteiras entre os países são somente geográficas, tendo sua cultura espalhada em todas as direções. Ocorre, assim, uma grande mistura mundial, disseminando elementos antes somente restritos a um país, pelos cinco continentes afora. Assinale a alternativa que representa melhor esse espalhamento cultural. A) As festas típicas do mês de junho que acontecem em várias regiões do Brasil. B) O Natal Luz, típico da região sul do Brasil, que atrai milhares de turistas no fim do ano. C) A festa de Bumba-Meu-Boi, característica das regiões Norte e Nordeste do país. D) O espetáculo Disney on Ice, exibido todos os anos em teatros pelo Brasil. E) A tradição de levar lembranças de viagem que as pessoas criaram ao longo dos anos. NA PRÁTICA Indústria cultural é uma expressão criada para indicar as transformações que ocorreram, no século XX, na cultura e na interpretação da arte no mundo. Essas transformações passaram a acontecer de uma forma mais massificada, visando a atingir um número muito grande de pessoas, utilizando assuntos genéricos para atrair seu interesse. Um exemplo de como a indústria cultural é capaz de influenciar as pessoas no seu cotidiano de que, com certeza, você já ouviu falar em algum momento da vida, mesmo não tendo visitado seus parques temáticos, é o universo Disney, seus filmes e parques espalhados ao redor do mundo. Veja, Na Prática, uma situação que mostra a relação da Disney com os elementos da indústria cultural, para entender os conceitos desse estudo. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A obra de arte da época da reprodutibilidade técnica Neste texto, de Walter Benjamin, o autor fala sobre a modificação de visão da arte com o surgimento de novas mídias (como o cinema e a fotografia), fazendo um paralelo com a arte antiga e como ela era tratada e entendida pela sociedade. Boa leitura. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O que é arte? Confira, neste vídeo, a conceituação de arte e a forma como ela atinge e influencia as pessoas e a sua realidade, assim como a sua cultura. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Arte em podcast O podcast é um formato novo e a discussão da arte está presente nele também. O Expresso Ilustrada, da Folha, explica a obra de Tarsila do Amaral, de forma informal e interessante. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar