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Arquitetura bioclimática APRESENTAÇÃO Considerando o impacto significativo e a importância da construção civil, muitas das novas ferramentas estão voltadas para os mais diversos projetos, desde casas pequenas e tradicionais até grandes e imponentes edificações, porém sempre pensando em ações que levam em conta a sustentabilidade. As tendências arquitetônicas atuais se preocupam muito com tal questão, visando não só à integração ao meio ambiente e diminuição da poluição, mas também a economia e o melhor aproveitamento dos recursos naturais durante a construção e em toda a vida útil do imóvel. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer mais acerca da arquitetura bioclimática, os procedimentos e materiais utilizados, além de conhecer alguns projetos construídos e reconhecidos pelo uso dessas técnicas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir arquitetura bioclimática.• Identificar os materiais e as tecnologias bioclimáticas disponíveis para a construção civil.• Exemplificar projetos de arquitetura bioclimática.• DESAFIO A ideia principal da arquitetura bioclimática é respeitar e agregar elementos sustentáveis à construção a fim de garantir mais conforto às pessoas. Você foi o engenheiro contratado pela família de Ana Lúcia para construir sua residência sustentável sonhada há vários anos. Quais são as estratégias sustentáveis à arquitetura de interiores, considerando aspectos de conforto térmico, acústico e lumínico que você indicaria? Explique. INFOGRÁFICO A ideia principal da arquitetura bioclimática é gerar a própria energia para cada família. São aproveitados, assim, os recursos naturais e preservando o meio ambiente, além de redução ao máximo da dependência até de fornecimento de água externa por meio de poços e minas de água locais ou captação de águas de chuva. Se uma economia enorme é conseguida apenas diminuindo o consumo de maneira tradicional, imagine o que aconteceria se existisse consciência coletiva no caso do uso dos recursos naturais e preservação do meio ambiente. No Infográfico, observe algumas medidas a fim de obter arquitetura de qualidade que não impacte tanto o meio ambiente. CONTEÚDO DO LIVRO Em busca de soluções inteligentes que integrem o homem ao meio ambiente, arquitetos e engenheiros se esforçam para aplicar os sistemas construtivos que se tem hoje de maneira mais eficaz e desenvolvem tecnologias a fim de aprimorar o uso de recursos naturais. No capítulo, Arquitetura bioclimática, da obra Conforto ambiental, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você verá as principais características que baseiam o conceito de arquitetura bioclimática e questões teóricas e práticas mais comuns que podem ser aplicadas facilmente em projetos de qualquer tipo. Boa leitura. CONFORTO AMBIENTAL Arquitetura bioclimática Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar arquitetura bioclimática. Identificar os materiais e as tecnologias bioclimáticas disponíveis para a construção civil. Exemplificar projetos de arquitetura bioclimática. Introdução Muito se fala de arquitetura ecológica, sustentável, verde e eficiente. Na verdade, os primeiros estudos de uma arquitetura integrada com a natureza e o clima surgiram há aproximadamente 45 anos. Neste capítulo, você vai estudar a chamada arquitetura bioclimática, que surgiu na década de 1960. Esta consiste na adequada e harmoniosa relação entre ambiente construído, clima e os seus processos de troca de energia, tendo como objetivo final o conforto ambiental humano em todas as suas formas (térmico, luminoso, acústico, etc.). Você também vai identificar materiais e tecnologias bioclimáticas destinadas à construção civil e vai verificar exemplos de projetos que empregam a arquitetura bioclimática. O que é arquitetura bioclimática? A chamada arquitetura bioclimática é um conceito que visa à harmonização das construções com o meio ambiente, de forma a otimizar a utilização dos recursos naturais disponíveis (como a luz solar e o vento), proporcionando conforto ao homem em harmonia com a natureza. Corbella e Yannas (2003) apresentam o conceito de arquitetura biocli- mática como sendo uma arquitetura focada na integração com o clima local, visando à habitação centrada no conforto ambiental do ser humano e na sua influência sobre o planeta. Esse conceito surgiu em decorrência da crise de energia decorrente do grande aumento no preço do petróleo, em 1973. Esse tipo de arquitetura visa à estruturação do projeto arquitetônico de acordo com as características bioclimáticas de cada local nos mínimos deta- lhes. Assim, consegue-se aumentar a eficiência energética das construções e reduzir os impactos ambientais destas. A arquitetura bioclimática envolve também o desenvolvimento de técnicas e equipamentos necessários para a melhoria da eficiência energética nas edificações. No entanto, o fator predominante ainda é o aproveitamento da energia proveniente do sol, seja na forma de calor, quando pode ser usada para o aquecimento da água, por exemplo, ou na forma de luz, que pode ser melhor aproveitada com o intuito de reduzir o uso da iluminação artificial, conforme aponta Figueiredo (2017). Figueiredo (2017) afirma ainda que são quatro os princípios básicos da arquitetura bioclimática: criação de espaços em ambiente saudável para os moradores e usuários; eficiência energética e consideração do ciclo de vida da estrutura edificada; minimização de desperdícios; uso de fontes renováveis de energia e materiais que não agridem o meio ambiente. A importância da sustentabilidade foi evidenciada inicialmente com a primeira definição de desenvolvimento sustentável concebida pelo Relatório Brundtland, em 1987 (NASCIMENTO, 2002). Segundo o Relatório, o de- senvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento às necessidades das gerações futuras. Tal conceito foi ampliado e aperfeiçoado em uma nova visão do próprio processo de desenvolvimento sustentável. Segundo Ribeiro et al. (1996, p. 99): Desenvolvimento Sustentável poderia ser, então, o resultado de uma mudança no modo da espécie humana se relacionar com o ambiente, no qual a ética não seria apenas entendida numa lógica instrumental, como desponta no pensa- mento eco- capitalista, mas sim, embasada em preceitos que ponderassem as temporalidades alteras à própria espécie humana, e, porque não, também as internas à nossa própria espécie. O desenvolvimento sustentável surge para harmonizar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, visando a obter melhor qualidade Arquitetura bioclimática2 de vida e melhores condições de sobrevivência por meio do equilíbrio entre tecnologia e ambiente. O desenvolvimento sustentável deve ser compreendido como parte integrante do processo de desenvolvimento e não ser considerado de forma isolada. Isso implica o surgimento de uma consciência ecológica criada a partir de um modelo de educação, sendo a chave para a inversão dos valores da sociedade em direção a uma nova ordem econômica que compreende, com o mesmo grau de importância, o ambiente e o futuro. Segundo o site do Ministério das Relações Exteriores brasileiro (MRE, 2018, online), foram concluídas em 2015 as negociações que culminaram na adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), após a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu de 25 a 27 de setembro de 2015 (BRASIL, 2016). Esses objetivos deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Após essas negociações, chegou-se a um acordo que contempla 17 Objetivos e 169 metas envolvendo temáticas diversificadas, como erradicação da pobreza, segurançaalimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança e meios de implementação. O papel do Brasil foi fundamental na implementação dos ODM, e o País tem mostrado empenho desde a Conferência Rio +20, que ocorreu em 2012, promovendo a Agenda Pós-2015. As inovações brasileiras em termos de políticas públicas também são vistas como contribuições para a integração das dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvi- mento sustentável. 3Arquitetura bioclimática Se quiser saber mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável acordados, acesse o link a seguir. https://goo.gl/6ZMQRr Corbella e Yannas (2003) afirmam que a arquitetura sustentável é a continuidade mais natural da arquitetura bioclimática, considerando também a integração do edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto maior. O tema da arquitetura sustentável começou a ser discutido na arquitetura dos edifícios em conjunto com o ambiente urbano. Atualmente, na escala urbana, as discussões e propostas vêm abordando as seguintes questões: estruturas morfológicas compactas; adensamento populacional; transporte público; resíduos e reciclagem; energia; água; diversidade; pluralidade socioeconômica, cultural e ambiental. Isso reforça o papel do edifício como um elemento do projeto urbano e da sustentabilidade da cidade. Discute-se principalmente a localização e infraestrutura, a qualidade ambiental dos espaços internos, o impacto na qualidade do entorno imediato, a otimização do consumo de recursos como água, energia e materiais, e o potencial de contribuição para as dinâmicas socioeconômicas do lugar, conforme apontam Gonçalves e Duarte (2006). Estratégias de arquitetura bioclimática O objetivo do projeto de arquitetura bioclimática é prover um ambiente cons- truído com conforto físico, que seja sadio, agradável e adaptado ao clima Arquitetura bioclimática4 local, que minimize o consumo de energia convencional e que exija o mínimo de instalações elétricas possível, o que também leva à mínima produção de poluição, conforme apontam Corbella e Yannas (2003). Pode-se projetar, hoje, com tecnologia disponível no Brasil, uma ar- quitetura bioclimática que funciona perfeitamente, integrada ao clima e à tradição local e com baixo consumo de energia convencional. No Quadro 1, podemos visualizar os diferentes aspectos a serem considerados em cada tipo de construção. Aspectos Construção convencional Construção bioclimática Construção ecoeficiente Configuração do edifício Outras influências Influenciada pelo clima Influenciada pelo meio ambiente Orientação do edifício Pouco importante Crucial Crucial Fachadas e janelas Outras influências Dependentes do clima Dependentes do meio ambiente Fontes de energia Gerada Gerada/ambiente Gerada/ ambiente/local Controle do ambiente interno Eletromecânico (artificial) Eletromecânico/ natural Eletromecânico/ natural Consumo de energia Geralmente elevado Reduzido Reduzido Fontes de matérias-primas Pouco importante Pouco importante Reduzido impacto ambiental Tipos de materiais Pouco importante Pouco importante Reutilizáveis Quadro 1. Tipos de construção (convencional, bioclimática e ecoeficiente) e aspectos da edificação 5Arquitetura bioclimática Há diversas técnicas de projeto capazes de amenizar o sobrecarregamento dos recursos naturais, seja por meio de elementos construídos, como as coberturas verdes, ou por meio da seleção de materiais. Na escala urbana, os princípios de ecologia industrial — ou seja, agrupar indústrias pequenas para que elas compartilhem os processos de calefação e refrigeração por meio de suas fontes de aproveitamento de resíduos e perdas térmicas — oferecem inúmeros benefícios por meio de uma única estratégia. Em escala menor, encontra-se a substituição de serviços, um método que envolve a troca da propriedade individual de produtos por um modelo que se baseia no compartilhamento de recursos com fins semelhantes, conforme lecionam Keeler e Burke (2010). O conceito de tecnologia apropriada é relevante para edificações susten- táveis e para o meio ambiente, visto que as comunidades rurais e os países em desenvolvimento que utilizam essa tecnologia se baseiam mais na mão de obra do que nos recursos materiais na hora de construir infraestruturas e edificações. Os resultados são construções duráveis e com pouca necessidade de manutenção, que utilizam materiais e tecnologias apropriados para a região, como adobe e taipa. Segundo Keeler e Burke (2010), as chamadas edificações integradas têm como meta a eficiência de recursos por meio de técnicas que envolvem tanto materiais como métodos de construção. Essas técnicas incluem: reduzir a quantidade de matéria-prima utilizada em materiais, produtos e sistemas de produção; utilizar produtos que minimizem os impactos da nova construção ou reforma; projetar utilizando componentes reutilizáveis visando à flexibilidade ou à adaptabilidade; projetar pensando na desconstrução, o que reduz o impacto na hora da demolição; projetar utilizando componentes pré-fabricados, como painéis de con- creto pré-fabricado do sistema tilt-up — esse tipo de construção reduz o impacto da construção no sítio e diminui as perdas da obra como um todo; selecionar produtos, materiais e sistemas com base em atributos rela- cionados à pré-ciclagem. Arquitetura bioclimática6 As chamadas edificações integradas, então, são aquelas nas quais se considera que cada decisão de projeto tem inúmeras consequências, não um efeito isolado. O projeto integrado de qualidade demanda o entendimento das inter-relações de cada um dos materiais, sistemas e elementos espaciais. Durante o seu processo, o projetista deve estar ciente de um conjunto mais amplo de impactos, incluindo a estética, a energia, o meio ambiente e a experiência do usuário. O conceito de pré-ciclagem pode ser aplicado a um produto que é reusável, durável e reparável e feito de recursos renováveis ou não renováveis; a sua embalagem não deve ser exagerada, ou deve ser reusável/reciclável. Alguns aspectos que ocorrem no ambiente externo deverão ser levados em consideração para que se tenha um bom projeto de arquitetura bioclimática. Segundo Gonçalves e Duarte (2006), ao focarmos o projeto no desempenho ambiental da arquitetura, atrelado ao conforto e à eficiência energética dentro do conceito de sustentabilidade, partindo da fase conceitual e da definição do partido arquitetônico, o projeto de um edifício deve incluir o estudo dos seguintes tópicos: orientação solar e dos ventos; forma arquitetônica, arranjos espaciais, zoneamento dos usos internos do edifício e geometria dos espaços internos; características condicionantes ambientais — como vegetação, corpos de água e ruídos — deverão ser consideradas, assim como o tratamento do entorno imediato; materiais da estrutura e das vedações internas e externas e cores, con- siderando o desempenho térmico; tratamento das fachadas e coberturas, de acordo com a necessidade de proteção solar; áreas envidraçadas e de abertura, considerando a proporção quanto à área de envoltória, o posicionamento na fachada e o tipo de fechamento, seja ele vazado, transparente ou translúcido; detalhamento das proteções solares, considerando tipo e dimensionamento; detalhamento das esquadrias. 7Arquitetura bioclimática Na Figura 1 é possível visualizar algumas soluções arquitetônicas que atendem à critérios de economia de energia, com a aplicação de algumas tecnologias. Figura 1. Diagrama de uma casa moderna apontando sugestões de tecnologiasque economizam energia. Fonte: Adaptada de Slavo Valigursky/Shutterstock.com. Esses aspectos terão papel determinante no uso das estratégias de venti- lação natural, reflexão da radiação solar direta, sombreamento, resfriamento evaporativo, isolamento térmico, inércia térmica e aquecimento passivo. A sustentabilidade de um projeto arquitetônico começa na leitura e no entendimento do contexto no qual o edifício se insere e nas decisões iniciais de projeto. No que se relaciona aos recursos tecnológicos envolvendo os sistemas prediais, são muitas as opções para minimizar o impacto ambiental dos edifícios, tais como painéis fotovoltaicos e turbinas eólicas para geração Arquitetura bioclimática8 de energia (Figura 2), painéis solares para aquecimento de água, sistemas de reaproveitamento de águas cinzas e outros. Essas técnicas devem ser aplica- das desde a concepção do projeto, para que possam contribuir para o melhor desempenho. Figura 2. Ilustração de uma casa com painéis solares e turbinas eólicas, promovendo o uso de energia sustentável e a conservação ambiental. Fonte: Adaptada de Grimgram/Shutterstock.com. Uma alternativa à demolição e à construção de novos edifícios, cujo impacto ambiental é característico, ocorre a partir da reabilitação tecnológica, ou retrofit. O retrofit tem como objetivos adaptar o edifício a novos usos, melhorar a qualidade ambiental dos ambientes internos, otimizar o consumo de energia em médio e longo prazos, aumentar o valor arquitetônico e econômico de um edifício existente ou mesmo restaurar o seu valor inicial. A reabilitação tecnológica deverá incluir o tratamento da estrutura, da envoltória, dos espaços internos e dos sistemas prediais de uma maneira integrada, conforme apontam Gonçalves e Duarte (2006). 9Arquitetura bioclimática Arquitetura bioclimática na prática O alto desenvolvimento tecnológico, gerando novos materiais e sistemas pre- diais, pode diminuir impactos e promover um aumento do bem-estar humano e um incremento no ecossistema local. Exemplo disso são as edifi cações que integram materiais orgânicos e inorgânicos, utilizam coberturas verdes e minimizam os impactos ambientais sem abrir mão do emprego de alta tecno- logia, como apresentado na Figuras 3. Nos projetos de edifícios que utilizam recursos da própria natureza, como coberturas verdes, deve-se considerar a altura e as espécies orgânicas utilizadas, pois, à medida que as vegetações fi cam mais altas, mais alterações pode sofrer o microclima, e algumas espécies podem não se desenvolver adequadamente. Outro exemplo de construção sustentável que não implica necessariamente em emprego de materiais naturais são as edificações construídas com materiais pré-fabricados. Na maioria das vezes, os materiais pré-fabricados podem ser montados, desmontados, transportados e mesmo reciclados ou reaproveitados facilmente. Essas construções geralmente são projetadas de forma modular e apresentam planta flexível, podendo incorporar mais ambientes, se necessário, sem desperdício de materiais. Figura 3. ACROS Building, Fukuoka, Japão, 1989-95. Edificação sustentável projetada pelo arquiteto Emílio Ambasz. Fonte: Adaptada de Thanya Jones/Shutterstock.com. Arquitetura bioclimática10 Integrando-se os princípios da ecoeficiência com as condicionantes eco- nômicas, a equidade social e o legado cultural, é possível apresentar uma lista de prioridades — como se pode observar no quadro da Figura 4 — que podem ser consideradas os pilares da construção sustentável. Essa aborda- gem integra todas as fases que compõem o ciclo de vida de uma construção, como leciona Mateus (2004): projeto, construção, operação/manutenção e demolição/deposição. Figura 4. Abordagem integrada e sustentável das fases do ciclo de vida de uma construção. Fonte: Adaptada de Mateus (2004). Na prática Você sabe como funciona a geração de energia elétrica em uma residência por meio de soluções sustentáveis? Aponte para o QR code ou acesse o link https://goo.gl/RtwuxK para ver o recurso. . 11Arquitetura bioclimática Podemos identificar o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, como um dos mais representativos desse tipo de arquitetura no Brasil. Ele demonstrou na prática o que vem a ser essa arquitetura, empregando-a em belos projetos de forma confortável, prática, suntuosa, regional, nacional e internacionalmente reconhecida, reconhecendo nossa riqueza bioclimática e utilizando-se dela com maestria. Projeto de Lelé de 1994, o Hospital do Aparelho Locomotor da Rede de Hospitais Sarah Kubitschek, em Salvador, na Bahia, é um bom exemplo de adoção das técnicas bioclimáticas. O aproveitamento das brisas devido à implantação do edifício em terreno elevado, a inércia térmica e umidifica- ção e o uso de luz natural para a produção de conforto dominam o espaço arquitetônico. Nesse projeto, fica evidente a preocupação do arquiteto em integrar o projeto à paisagem, com ventilação natural e proteção da radiação solar, sem causar conflito com a natureza e a topografia do lugar. É também um exemplo da utilização da tecnologia da construção industrializada no Brasil, no qual se reuniu toda a experiência acumulada a partir do primeiro hospital da rede, construído em 1980, em Brasília, conforme apontam Cor- bella e Yanna (2003). Outros projetos pelo mundo podem ser reconhecidos como bons exemplos dessa prática, como o California Academy of Sciences, em São Francisco, na Califórnia. Trata-se de um projeto do arquiteto Renzo Piano em parceria com o escritório Chong Partners Architecture, de 2008, e oferece, dentre as várias soluções, a cobertura verde (Figura 5), que cobre um hectare com seis espécies de plantas nativas do Estado da Califórnia, que se conectam com os sistemas fotovoltaicos integrados às marquises. Placas de fibra de coco foram usadas para configurar as grandes ondulações da cobertura, além de a edificação ser dotada de ventilação natural, com janelas de abrir, e ainda possuir brises e claraboias (Figura 6) que abrem automaticamente com o auxílio de sensores, conforme lecionam Keeler e Burke (2010). Arquitetura bioclimática12 Figura 5. Imagem da cobertura verde da edificação do California Academy of Sciences, em São Francisco, conectada aos sistemas fotovoltaicos integrados às marquises. Fonte: Adaptada de huangcolin/Shutterstock.com. Figura 6. Imagem interna com a entrada de luz zenital. Fonte: Adaptada de Teecom (c2018). 13Arquitetura bioclimática Nas estratégias do conceito de edifício passivo, considera-se que é sempre necessária uma renovação de ar nas divisões do edifício, de forma a garantir os requisitos de qualidade do ar interior. Essas estratégias de arquitetura passiva se baseiam na tradição da arquitetura vernacular, mas foram desenvolvidas para satisfazer ao conforto climático de um usuário contemporâneo durante o ano inteiro. Dessa forma, o resultado das estratégias apresentadas difere da concepção das antigas casas passivas e corresponde a uma interpretação moderna mais adequada aos padrões atuais de vida, conforto e construção, como no exemplo da Figura 7, em que foram utilizadas técnicas e tecnologias como a energia solar, o aquecedor solar de água, os painéis solares e as claraboias instaladas em telhado de betume. Figura 7. Exemplo de residência com uso eficaz da energia renovável: aquecedor solar para água, painéis solares e claraboias instaladas em telhado de betume, garantindo a iluminação e a ventilação naturais. Fonte: Adaptada de Radovan1/Shutterstock.com. O arquiteto tem a responsabilidade ambiental de conhecer o clima e suas vantagens e desvantagens, principalmente diante do panorama de crise am- biental atual. Mais do que inter-relacionar o ambiente construído com o clima local, o arquiteto deverá ter uma visão interdisciplinar, capaz de agregar e harmonizar outras importantes variáveis nos seus projetos, visando a um futuro sustentável para nossa geração e para as que estão por vir. Arquiteturabioclimática14 Cabe aos profissionais ligados à construção civil retomar, nos seus pro- jetos, os conceitos de bioclimatologia básicos, simples e eficientes, pois nem todas as edificações visam a serem certificadas, e nem todo cliente quer a certificação. O projeto, certificado ou não, necessita nascer resolvido no seu âmbito bioclimático. Os selos de certificação como BREEAM e LEED visam à sustentabilidade e à gestão em todo o processo, que vai do lançamento do projeto até sua execução, relacionando as edificações ao ambiente. Já o certificado WELL Building Certification tem como foco o bem-estar e a saúde mental do ser humano e atende às demandas relacionadas ao edifício e seus ocupantes, conforme lecionam Cole e Valdebenito (2013). O Ministério do Meio Ambiente tem uma ferramenta eletrônica para orientar a constru- ção de prédios sustentáveis, principalmente residenciais, com informações bioclimáticas de aproximadamente 400 cidades brasileiras. Chama-se Projeteee (Projetando Edifícios Energicamente Eficientes) e conta com 20 mil consultas por mês pela internet. Se quiser saber mais sobre essa ferramenta que orienta a construção de edifícios sustentáveis, acesse o link a seguir. https://goo.gl/exRP3r Só se atingirá um futuro sustentável com a redução do consumo de energia das cidades e com a mudança da atual concepção economicista- -consumista de mundo por seus habitantes. Para isso, devemos reavaliar a dimensão espacial do processo de desenvolvimento em busca da ecoefici- ência das cidades, proporcionando conforto ao homem e preservação ao meio ambiente. Nesse contexto, deverá ser dada ênfase ao planejamento urbano sustentável, com especial destaque para o ambiente construído, responsável por grande parte da poluição e do desperdício energético do planeta. Quanto mais adaptada ao clima e mais passiva energeticamente, mais sustentabilidade bioclimática terá nossa arquitetura e urbanismo, uma questão fundamental. Além disso, não podemos esquecer da arquitetura bioclimática, que conta com projetos regionais, adaptados ao clima, passivos e acessíveis a qualquer classe social, conforme expõe Ferreira (2015) — o conforto ambiental nesses projetos é vital. 15Arquitetura bioclimática No Brasil, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), em parceria com universidades e instituições, visa à definição de uma regulamentação nacional para a adoção de edificações mais eficientes, além de fomentar o desenvolvimento de tecnologias e pesquisas relacionadas ao tema. Outras iniciativas brasileiras incluem o Concurso Estudantil Latino-Americano de Arquitetura Bioclimática, que faz parte da Bienal José Miguel Aroztegui, promovida pelo Grupo de Conforto e Eficiência Energética da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, em parceria com outras instituições. Saiba mais sobre o programa PROCEL, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia e executado pela Eletrobras, no link a seguir. https://goo.gl/YHTbvv BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Coordenadoria-geral de Desenvolvimento Sustentável. Objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF, 2016. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/ODSportugues12fev2016.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2018. COLE, R. J; VALDEBENITO, M. J. The importation of building environmental certification systems: international usages of BREEAM and LEED. Building Research & Information, v. 41, n. 6, p. 662-676, 2013. CORBELLA, O.; YANNAS, S. Em busca de uma arquitetura sustentável para os trópicos: conforto ambiental. Rio de Janeiro: Revan, 2003. FERREIRA, D. B. Por uma arquitetura bioclimática brasileira. AECweb, 27 fev. 2015. Dis- ponível em: <https://www.aecweb.com.br/cont/a/por-uma-arquitetura-bioclimatica- -brasileira_10869>. Acesso em: 7 nov. 2018. FIGUEIREDO, L. Arquitetura da paz. São Paulo: Scortecci, 2017. GONÇALVES, J. C. S.; DUARTE, D. H. S. Arquitetura sustentável: uma integração entre ambiente, projeto e tecnologia em experiências de pesquisa, prática e ensino. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 6, nº. 4, p. 51-81, out./dez. 2006. KEELER, M.; BURKE, B. Fundamentos de projeto de edificações sustentáveis. Porto Alegre: Bookman, 2010. Arquitetura bioclimática16 MATEUS, R. Novas tecnologias construtivas com vista à sustentabilidade. Dissertação (Mestrado) — Escola de Engenharia, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, Guimarães, 2004. Disponível em: <https://repositorium.sdum.uminho.pt/ bitstream/1822/817/5/Parte%20I.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2018. NASCIMENTO, E. P. Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social ao econômico. Estudos avançados, v. 26, nº. 74, 2012. Disponível em: < http://www.scielo. br/pdf/ea/v26n74/a05v26n74.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2018. RIBEIRO, W. C. et al. Desenvolvimento sustentável: mito ou realidade? Terra Livre, São Paulo, n. 11/12, 1996. TEECOM. California Academy of Sciences. c2018. Disponível em: < http://teecom.com/ media/CAS_Hero-Image-1.jpg>. Acesso em: 9 nov. 2018. Leituras recomendadas HERNANDÉZ, A. (Coord.). Manual de desenho bioclimático urbano. Manual de orientações para a elaboração de normas urbanísticas. Bragança [Portugal]: Instituto Politécnico de Bragança, 2013. LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. 3. ed. Rio de Janeiro: Eletrobrás, PROCEL, Procel Edifica, 2018. Disponível em: <http:// www.mme.gov.br/documents/10584/1985241/Livro%20-%20Efici%C3%AAncia%20 Energ%C3%A9tica%20na%20Arquitetura.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2018. MASCARÓ, L. R. Energia na edificação: estratégia para minimizar seu consumo. 2. ed. São Paulo: Projeto, 1991. 213 p. VAN LENGEN, J. Manual do arquiteto descalço. Rio de Janeiro: Casa do Sonho, 2002. 724 p. 17Arquitetura bioclimática DICA DO PROFESSOR Em todo o mundo, cidades expandiram-se rapidamente no século XXI, resultando em aumento considerável da população urbana, a qual representa 54% da população mundial total hoje. A previsão é de que tal número seja de 66% até 2050, indicando que as cidades mundiais abrigarão mais de 6 bilhões de pessoas nas próximas décadas. Os planejadores urbanos estão enfrentando imensa pressão para acomodar a crescente população sem esgotar as limitadas reservas naturais que nos restam. O desenvolvimento sustentável é fundamental a fim de alcançar equilíbrio entre os dois e garantir a segurança dos recursos às gerações futuras. No vídeo da Dica do Professor, você vai conhecer um pouco mais a sustentabilidade no planejamento e projeto urbano das cidades. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Para Corbella e Yannas (2009), arquitetura bioclimática é aquela preocupada com sua integração ao clima local, visando à habitação centrada sobre o conforto ambiental do ser humano e sua repercussão no planeta. Alguns aspectos que ocorrem no meio ambiente externo deverão ser levados em consideração a fim de que se tenha adequado projeto. As decisões adotadas com foco na resolução de cada caso devem ser integradas, buscando propiciar bom nível de conforto ambiental e contemplando aspectos térmicos, visuais e acústicos, além de promover um ambiente construído sadio, agradável e adaptado ao clima local. Sendo assim, conforme os princípios da arquitetura bioclimática, a alternativa que apresenta os elementos do clima a serem controlados é: A) temperatura, ventos, umidade e radiação solar. B) temperatura, massa de ar, umidade e pressão atmosférica. C) pressão atmosférica, ventos, altitude e radiação solar. D) altitude, massa de ar, umidade e radiação solar. E) altitude, massa de ar, pressão atmosférica e radiação solar. 2) A arquitetura bioclimática visa a promover ambiente construído com conforto físico, sadio e agradável, adaptado ao clima local, que minimize o consumo de energia convencional e necessite de instalação da menor potência elétrica possível, reduzindo, assim, a produção de poluição.Tendo como objetivo aumentar a dissipação de energia do espaço habitado em clima tropical úmido, deve‐se: A) promover níveis maiores de ventilação quando a temperatura externa for maior que a interna. B) estimular o uso de aberturas que deixarão entrar a luz natural e a radiação solar direta. C) combinar a possível ventilação noturna com a inércia térmica. D) transferir o calor para zonas com temperatura maior do que a do ambiente habitado. E) inibir o movimento do ar e sua renovação no período em que as pessoas estejam ocupando o ambiente. O setor da construção civil tem papel fundamental para a realização dos objetivos globais do desenvolvimento sustentável. Além dos impactos relacionados ao consumo de matéria e energia, há aqueles associados à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas sejam provenientes da construção. Tais aspectos ambientais, 3) somados à qualidade de vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam as relações entre construção e meio ambiente. Na busca pela minimização dos impactos ambientais provocados pela construção, surge o paradigma da construção sustentável. Pode-se chamar de construção sustentável aquela que: A) é capaz de se sustentar financeiramente apenas com os próprios recursos advindos da comercialização de suas unidades. B) é sustentada por fundação exclusiva, sem a interferência das construções vizinhas. C) pode ser apoiada facilmente por reforços de simples execução caso não seja capaz de sustentar a carga a que é submetida. D) possibilita aos usuários garantir o próprio sustento a partir das receitas geradas pelo aluguel de cada fração. E) consiste na redução e otimização do consumo de materiais e energia, redução dos resíduos gerados, preservação do ambiente natural e melhoria da qualidade do ambiente construído. 4) A adoção de telhado verde na edificação pode trazer algumas vantagens e desvantagens. Assinale a alternativa que aponta, respectivamente, uma vantagem e uma desvantagem no uso desse tipo de cobertura. A) Drena a água da chuva e aumenta a temperatura ambiente. B) Reduz a temperatura ambiente e requer frequente manutenção para manter sua estrutura saudável e bonita. C) Reduz os ruídos urbanos e pode drenar a água das chuvas. D) Diminui a temperatura ambiente e não altera a condição dos ruídos externos. E) Leva a vegetação para ambientes urbanos, mas não tem relação com a temperatura ambiente. 5) Uma alternativa à demolição e construção de novos edifícios em que o impacto ambiental é característico ocorre por meio da reabilitação tecnológica (retrofit). Dentre os objetivos do retrofit está: A) restaurar o antigo uso do edifício. B) melhorar a qualidade ambiental dos ambientes internos. C) otimizar o consumo de energia a curto prazo. D) fazer especulação imobiliária em um edifício existente. E) restaurar o seu valor inicial. NA PRÁTICA O projeto integrado é a prática de projetar de maneira sustentável. Esse tema é abrangente e orienta a tomada de decisões referentes ao consumo de energia, recursos naturais e qualidade ambiental. Uma vez que cada decisão de projeto tem inúmeras consequências e não efeito isolado, o projeto integrado de qualidade demanda o entendimento das inter-relações de cada um dos materiais, sistemas e elementos espaciais. Anderson é engenheiro e foi contratado por Juliana a fim de construir um prédio ecologicamente sustentável que vai ao encontro à filosofia de vida de Juliana. No entanto, ela não conhece todas as possibilidades que a arquitetura bioclimática tem a lhe oferecer para atingir o objetivo e o sonho de ter o prédio ecologicamente sustentável. Assim, a primeira coisa que o profissional fez foi dar explicações acerca dessa possibilidade na primeira reunião. Veja a explicação de Anderson a Juliana. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Princípios de Engenharia Ambiental O livro tem como foco os aspectos mais importantes da tomada de decisão em Engenharia Ambiental. O texto utiliza o conceito de balanço de massa como ferramenta para a solução dos problemas mais comuns da área. Os conteúdos relevantes da química, biologia, hidrologia, qualidade da água, o tratamento de efluentes domésticos e industriais, poluição atmosférica/sonora e gestão de resíduos sólidos urbanos são apresentados detalhadamente. Meio ambiente e sustentabilidade O livro trata da busca de soluções para os problemas ambientais economicamente eficientes e socialmente justas. Passivhaus aplicado ao Instituto de Artes Lygia Pape O artigo tem como objetivo estudar a aplicação do conceito passivhaus e de seus preceitos fundamentais no projeto arquitetônico do Instituto de Artes Lygia Pape, verificando a adaptação dessa norma à Zona Bioclimática Brasileira 8. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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