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2 fichamento PPB cap 1

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNISA – CAMPO ADOLFO PINHEIRO
PSICOLOGIA – GRADUAÇÃO
GILVANA FERREIRA OLIVEIRA SIQUEIRA
2° Fichamento – PPB
Pensando criticamente com a ciência Psicológica
São Paulo - SP
2021
GILVANA FERREIRA OLIVEIRA SIQUEIRA
2° FICHAMENTO – PPB
Pensando criticamente com a ciência psicológica
Professora: Júlia Moura Bernardes
São Paulo SP
2021
A psicologia e a ciência
A psicologia é entendida como a ciência que estuda o comportamento e a mente.
A ideia de ciência envolve uma forma de conhecimento que os seres humanos inventaram para conhecer a si próprios e ao mundo. No entanto, esta forma de conhecimento diferencia-se de outras formas de conhecimento: a religião, a filosofia a arte e o senso comum.
Como características da ciência podemos citar: a curiosidade, o empirismo, o ceticismo, o determinismo, a autocorreção e o falseamento ou falseabilidade. A curiosidade mostra que o conhecimento científico é intrinsecamente motivado para responder uma determinada questão. O empirismo trata da importância da observação na prática científica. No entanto, esta observação é seguida de reflexão.
O ceticismo estabelece que na ciência aparece inicialmente a dúvida sobre uma afirmação. Esta dúvida sempre se vincula com uma verificação da informação e não com a negação pura e simples. O determinismo é uma doutrina que explica os fatos do presente pelo passado.
Com a autocorreção, o conhecimento científico é sempre verificado por outras pessoas da mesma área de investigação, assim evitam-se erros e má fé por parte dos cientistas. Finalmente, a falseabilidade significa que se o conhecimento é científico, ele pode ser negado, ou seja, o conhecimento científico nunca responde a todas as questões.
A concepção de ciência aplicada à psicologia começou com Wundt, no final do século XIX, ao criar um laboratório de psicologia experimental para estudar o tempo de reação. Esta escolha pelo tempo de reação deveu-se ao estudo de Bessel, um astrônomo que mostrou a influência de fatores psicológicos no ato da observação. Prioritariamente, a observação vem pelos sentidos e isto impulsionou o surgimento de uma ciência para investigar a influência da mente sobre a observação, a psicologia.
O objetivo de Wundt era estudar a experiência imediata com o uso da introspecção e da matemática. Aqui há a influência de Fechner. Kant, um filósofo, afirmou que a psicologia nunca poderia ser uma ciência, já que a matemática não se aplicaria ao estudo da mente, mais precisamente, a consciência. Segundo Kant, a consciência não pode ser medida. Fechener defrontou-se com esta questão e chegou a uma equação que relaciona a sensação (um evento mental) com a intensidade do estímulo (um evento físico) usando o logaritmo. Fechner mostrou que a mente é abordada de modo indireto pela intensidade do estímulo, permitido a abordagem matemática da mente.
Voltando a definição de psicologia exposta anteriormente, trataremos do comportamento. O comportamento pode ser entendido como qualquer ação observável realizada por uma pessoa ou animal, normalmente indicada por um verbo. Como exemplos de comportamentos podemos citar: correr, comer, digitar, falar, escrever, desenhar. Quando dizemos que um carro se comporta de modo nervoso, não temos comportamento, pois o carro não é um ser vivo. Quando dizemos que a criança sonhou com o brinquedo, não temos comportamento, pois sonhar não é um evento observável. É claro, se pessoa relata o sonho temos um comportamento, mas aí fazemos a distinção entre relato e relatado. O relato é o observável, e o relatado é que o relato revela, mas não se observa. É o evento mental propriamente dito. A mente é algo não observável que apresenta processos conscientes e inconscientes.
A consciência é tudo o que uma pessoa percebe, imagina, lembra, pensa e sente num determinado momento, o agora. A consciência é a experiência. Quando vemos a cor azul temos uma experiência, que por mais que nos esforcemos temos dificuldade de explicar para uma pessoa que não enxerga o azul. Esta natureza privada da experiência ou consciência é um ponto difícil de relacionar com a atividade cerebral. Este é o problema da relação da consciência com o cérebro, proposto de modo claro por Descartes.
Uma outa parte da mente é o inconsciente. O inconsciente é tudo o que não temos consciência neste momento. O inconsciente tem vária perspectivas. Quando lemos um texto não precisamos pegar um dicionário para sabermos o significado de cada palavra. A nossa memória de longo prazo tem armazenada milhares de palavras. No entanto, até o momento de precisarmos destes significados, eles estavam inconscientes. Esta explicação do inconsciente enfatiza o processamento de informação.
Outra concepção de inconsciente foi proposta por Freud, o inconsciente entendido como uma parte da mente em que estão conteúdos de natureza agressiva ou sexual e que foram recalcados da consciência, porém estão ativos, aparecendo na forma de sintomas, sonhos, chistes (um comentário engraçado) e atos falhos ( um conteúdo que se intromete na consciência). O inconsciente proposto por Freud está preso no passado, é emocionalmente instável e não está preocupado com a realidade.
Uma terceira contribuição foi proposta por Jung, que apresenta a noção de inconsciente coletivo. Constituído por arquétipos, ou imagens primordiais encontradas nas narrativas religiosas, mitológicas, na astrologia, nos sonhos e na alquimia. Como exemplos de arquétipos temos a sombra, o par anima e animus e o self. Estas imagens primordiais não dependem da cultura e jamais chegam à consciência da pessoa.
Podemos notar que o inconsciente é uma parte muito maior da mente que a consciência. Poderíamos pensar em desvalorizar a consciência como objeto de estudo da psicologia, mas sem a consciência não haveria a ciência, a filosofia, a religião a arte ou senso comum. Então é melhor compreendermos a consciência e o inconsciente como igualmente importantes.
Uma outra questão tem a ver com a melhor concepção de inconsciente, seria entendido como um processador de informações, um conteúdo recalcado ou como arquétipos? No momento, da ciência psicológica não temos como responder esta pergunta.
Os psicólogos estudam o comportamento, a consciência e o inconsciente de animais humanos e não humanos.
Outra questão é: se a mente não é observável, como os psicólogos podem estudá-la? Pelo comportamento. A partir do que é observado podemos inferir sobre a natureza da mente; o que não observamos. A inferência é uma conclusão que decorre da observação e do pensamento. Os psicólogos observam o comportamento, pensam sobre ele e concluem que há um evento mental. Então, se uma pessoa desenha ou responde a um teste de psicologia ou fala ou escreve sobre si, estes comportamentos revelam algo sobre a mente da pessoa. Evidentemente, as inferências podem conter erros, mas uma forma de avaliar a influência destes erros é o estudo das teorias psicológicas.
Um aspecto importante da ciência é o uso do método científico, um conjunto de passos que leva ao conhecimento. O método científico parte da teoria e da elaboração de uma hipótese. A teoria é um conjunto de conceitos e ideias relacionados. Conhecer uma teoria é importante, porque funciona como um resumo de várias pesquisas feitas, com um encadeamento lógico. Através de uma teoria, os psicólogos podem avaliar os efeitos de suas intervenções e fazer as correções necessárias caso algo não ocorra conforme o esperado.
Mas as teorias psicológicas não são abordagens fixas, elas são continuamente avaliadas na comunidade psicológica. Uma forma de avaliar a teoria é pela elaboração de uma hipótese. Uma hipótese é uma afirmação que será testada por uma pesquisa. A pesquisa busca coletar dados para verificar se a hipótese está correta ou não. A hipótese quando confirmada pela pesquisa, mostra que a teoria está correta. Caso a hipótese não seja confirmada pela pesquisa, temos o funcionamento do princípio da falseabilidade.
Na psicologia científica, existem alguns tiposde pesquisas para a coleta de dados: Na observação, os psicólogos usam os sentidos juntamente com categorias previamente selecionadas. No levantamento, centenas de pessoas são estudadas com base em questionários, analisados estatisticamente. No estudo de caso uma pessoa é estudada ao longo de um período e de modo aprofundado. No método de correlação, duas varáveis são correlacionadas pelo índice de correlação e no método experimental, estabelece-se a relação de causa e efeito entre duas variáveis: a varável independente, que é manipulada e a varável dependente, a observada.
Cada uma das pesquisas ou métodos citados anteriormente tem vantagens e desvantagens, assim é importante o conhecimento de todos para escolher aquele que é o mais adequado para o estudo. Outro ponto é que o estabelecimento de uma hipótese não é um fator necessário para o desenvolvimento de uma pesquisa na psicologia.
Toda a pesquisa em psicologia deve ter preocupações com a ética ou seja, com o bem estar dos participantes da pesquisa, sejam eles pessoas ou animais. Os participantes humanos devem ter informações sobre a pesquisa, que podem desistir quando quiserem e ao fim da pesquisa, serem informados sobre enganos a que foram submetidos. Como pode haver problemas entre as informações que os participantes devem ter e ao mesmo tempo, que essas informações não forneçam dicas que influenciem o comportamento dos participantes nas pesquisas, surge a necessidade do conselho de ética, um conselho de natureza multidisciplinar para avaliar as pesquisas.
Muitos psicólogos concordam com a definição de psicologia proposta anteriormente, a ciência que estuda o comportamento e a mente, mas discordam sobre os métodos e teorias para o estudo da mente. Um exemplo pode ilustrar esta situação: um menino de 4 anos vê uma menina andando de triciclo vai até ela, expulsa-a do brinquedo e anda nele.
Uma psicóloga que aceita uma abordagem biológica explicará o comportamento de menino pela influência de hormônios. Pessoas do sexo masculino tendem a ser mais agressivas. Numa abordagem comportamental, o psicólogo vai explicar o comportamento agressivo como tendo sofrido uma consequência agradável no passado. Uma psicóloga cognitivista pode explicar o comportamento do menino como ligado ao período de desenvolvimento em que está, o que o faz ser egocêntrico. O termo cognição se refere a conhecimento.
Uma psicóloga psicanalista enfocará o inconsciente do menino, possivelmente relacionado a algum conflito na sua resolução do complexo de Édipo. Um psicólogo social tratará da influência da cultura sobre o comportamento das pessoas.
Temos, ao menos, cinco modelos ou abordagens para entender o comportamento do menino: O modelo biológico, o modelo comportamental, o modelo psicanalítico, o modelo cognitivista e o modelo social.
O modelo biológico de explicação considera a influência dos hormônios, da teoria da evolução e dos processos cerebrais na compreensão do comportamento e da mente. O modelo comportamental explica o comportamento em sua relação com o ambiente, desconsiderando a experiência do indivíduo. O modelo psicanalítico enfatiza a determinação do inconsciente sobre o comportamento.
O modelo cognitivo trata dos processos mentais que causam o comportamento, no estudo das sensações, da percepção da memória, do pensamento e da linguagem, do desenvolvimento por exemplo. O modelo social considera a variação do comportamento e da mente nas várias culturas.
Na psicologia científica contemporânea não há um modelo que seja hegemônico. Desta maneira, a formação em psicologia requer o estudo de todos eles. Além disso, não é possível que uma única pessoa conheça todos eles de modo aprofundado, são muito complexos. Neste sentido é necessário que haja uma especialização num dele,s após a graduação para uma prática mais adequada. A psicologia científica é pré-paradigmática, pois não há um modelo ou perspectiva hegemônico na psicologia científica.
Temos alguns desafios para uma psicologia científica: é possível explicar o comportamento e a mente sem a influência da história e da cultura? São os conceitos utilizados pela psicologia para compreender a mente, realidades que existem de modo autônomo ou são ficções? É a psicologia autônoma em relação à biologia? As teorias psicológicas serão reduzidas às teorias neuropsicológicas?
Há duas possibilidades para lidar com estes desafios: a primeira é a utilização da abordagem biopsicossocial, que considera a ideia de ciência aplicada à psicologia numa perspectiva que integra as influências da biologia (fatores genéticos, teoria da evolução, fatores hormonais e cerebrais), da psicologia (processos cognitivos, emocionais e aprendizagens) e da cultura (influência da família, de outras pessoas, da mídia, da sociedade). Esta possibilidade relativiza a noção de causa, tornando-a probabilística.
A segunda é reconhecer que a psicologia não pode ser uma ciência. A proposta fenomenológica e a lacaniana admitem esta possibilidade. Na fenomenologia, as experiências são entendidas como pessoais, considerando ponto de vista de outra pessoa, suas intenções e escolhas. O conhecimento pode ser compartilhado. A abordagem humanista citada anteriormente reconhece que a psicologia não pode ser uma ciência.
Um psicólogo humanista entenderá o comportamento agressivo do caso hipotético do menino citado anteriormente como uma defesa num ambiente que percebe como hostil, assim a ênfase é na vivência que o menino tem de sua vida. Pode-se considerar o modelo humanista, que enfatiza a autorrealização, a busca do potencial de cada pessoa.
Na abordagem de Lacan, a mente é sujeita a interpretações, daí surge o problema de saber qual a interpretação correta. Esta abordagem é denominada de hermenêutica.
Considerar que a psicologia não pode ser uma ciência parece uma solução precipitada: do fato que a compreensão do ponto de vista do outro, pessoa ou animal, não possa ser feita ainda, não significa uma impossibilidade da aplicação da ciência, mas uma séria dificuldade.
Para saber mais:
Ler o livro PSICOLOGIA de Myers e Dewall, 9ª edição, os capítulos:
prólogo: a história da psicologia
capítulo 1: pensando criticamente a ciência psicológica
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