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História da Alimentação e da Nutrição Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Esp. Glaucia Fernandes Candido Revisão Textual: Prof.ª Me. Luciene Santos Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural • Antropologia da Nutrição; • Aspectos Econômicos, Sociais e Culturais da Alimentação; • Gastronomia, Culinária e Identidade Cultural; • O “gosto”: Produto Cultural e Social. · Desenvolver conhecimento sobre antropologia da nutrição e como os aspectos econômicos, sociais e culturais influenciam na alimentação. OBJETIVO DE APRENDIZADO Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural Antropologia da Nutrição Antropologia vem no grego anthropos (homem) e logos (estudo) e define-se por ser a ciência que estuda o homem em todas as suas dimensões (AQUINO e PHILIPPI, 2015). Já antropologia da alimentação e nutrição estuda a comida e o ato de comer, bem como os fatores que a influenciam como religião, crenças, preferências e proibições alimentares. Também é estudada nessa área a culinária e a cozinha, uma vez que guardam memórias afetivas, histórias familiares e tradições. A antropologia da nutrição estuda, além das funções nutricionais que o alimento fornece ao indivíduo, a dimensão cultural e coletiva que esse alimento representa. É a função simbólica da alimentação. Para Carneiro (2003, p. 21), a investigação cultural em nutrição tem como objetivo principal a identificação dos hábitos alimentares e das motivações das mudanças que eles podem sofrer. Para o nutricionista, conhecer os aspectos antropológicos da alimentação, principalmente da alimentação dos brasileiros, aprimorando-se de saberes da sua cultura alimentar, pode gerar uma aproximação do profissional com a comunidade ou com o indivíduo. Aspectos Econômicos, Sociais e Culturais da Alimentação Nos séculos XVIII e XIX, as condições de vida das classes trabalhadoras que vivem nas cidades tornam-se ruins, porque os alimentos são insuficientes e muito caros, sobretudo devido às carências no sistema de abastecimento (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). Nesse período da história, observa-se um desequilíbrio entre o crescimen- to da população e reduzido aumento dos recursos alimentares (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). A indústria europeia reage, porém, sua agricultura é incapaz de suprir as ne- cessidades alimentares da população. As economias dos países colonizados e das atingas colônias começam a ganhar destaque, pois ofereciam recursos pratica- mente inesgotáveis. 8 9 O acontecimento mais marcante da economia mundial no século XIX é o cultivo de imensas superfícies que permitem abastecer de gêneros alimentícios o mercado europeu (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). No século XIX, a indústria europeia foi se tornando cada vez mais forte com as exportações dos excedentes para as antigas colônias, o aperfeiçoamento do sistema de transporte por mar e estradas de ferro e a descoberta de nova forma de produção e conservação de alimentos. Figura 1 – Produção de açúcar Fonte: iStock/Getty Images Segundo Carneiro (2003, p. 15), a história econômica estudou a alimentação do ponto de vista da produção agrícula e industrial, do processamento e da pre- paração dos alimentos, assim como a sua distribuição por meio do comércio e, finalmente, das condições do armazenamento e do consumo. Os hábitos da população mundial, além das influências por convicções e valores culturais, religião, clima, localização, agricultura e tecnologia, são fortemente in- fluenciados pelo fator econômico. Dados históricos também mostram que fatores demográficos são influenciados pelos aspectos econômicos e pela alimentação. Crescimentos populacionais, por exemplo, são relacionados com melhorias nu- tricionais. Da mesma forma, as grandes fomes no mundo e o despovoamento são relacionados às deficiências na nutrição. 9 UNIDADE Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural Outro fator muito importante do ponto de vista econômico é o acesso ao ali- mento. O alimento está disponível, mas não é acessível. Figura 2 – Crianças com fome pedem por alimentos Fonte: iStock/Getty Images Mesmo sendo um direito garantido pela constituição, dados econômicos mostram que milhões de pessoas, só no Brasil, vivem na linha da pobreza ou abaixo dela, sem acesso a uma alimentação adequada. Essas pessoas não têm poder aquisitivo para adquirir os alimentos para seu consumo e nem terras para cultivá-los. A distribuição dos alimentos no mundo também acontece de forma desigual, afetando a forma de consumo das populações mundiais. Essa diferença é notória de países desenvolvidos para países em desenvolvimento. As políticas públicas a ações do governo e da população nos países desenvolvidos são muito mais efetivas e atuantes do que em países em desenvolvimento. Para Abreu et al. (2001), a alimentação é o fator primordial na rotina diária da humanidade, não apenas por necessidade básica, mas principalmente porque sua obtenção tornou-se um problema de saúde pública, uma vez que o excesso ou fata dela podem causar doenças. O chamado “deficit de alimentos”, ou seja, a falta desses alimentos em países em desenvolvimento, como o Brasil, são acompanhados pelos altos índices de desnutrição e fome. Abordaremos mais profundamente na unidade seguinte o tema: nutrição e fome. 10 11 Geografi a da fome, uma tragetória em busca do direito humano à alimentação e nutrição. Disponível em: https://goo.gl/URZeE6Ex pl or Do ponto de vista social, o ser humano desde a antiguidade busca, além da fun- ção de nutrir, uma socialização por meio do alimento. Na antiguidade, o homem primitivo fez da fogueira coletiva sua primeira forma de socialização pelo alimento. A palavra convívio (cum-vivere) sugere e identifica o “viver junto” com o “comer junto”. O dividir a comida à mesa também identifica que se faz parte da mesma família. O ato de comer é consciente e voluntário e a escolha dos alimentos a serem pre- parados e consumidos pode variar de cultura para cultura, região em que se vive, poder aquisitivo, religião etc. O modo de preparode um mesmo alimento também pode variar de uma cultura para outra. O arroz, por exemplo, tem muitas variações de consumo pelo mundo e seu cultivo também pode variar de acordo com a região. Figura 3 – Cultivo de arroz no Vietnã Fonte: iStock/Getty Images Um mesmo alimento pode ter significado diferente de uma cultura para outra. O gado, por exemplo, é considerado sagrado em várias religiões, como no hindu- ísmo. Religiões anteriores ao Antigo Egito, Grécia Antiga e Roma Antiga também tinham crenças parecidas. 11 UNIDADE Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural O alimento é universal e essencial para a vida humana. É um direito garantido pela nossa constituição, que garante o direito à alimentação entre os direitos sociais individuais e coletivos. O alimento deve ser preferido, selecionado, preparado e, então, ingerido pelo homem. E, para que todas essas etapas aconteçam, as influências sociais e culturais são decisivas nessas escolhas. O caráter simbólico dos alimentos pode gerar o “prazer pelo comer”, remetendo à infância, a uma lembrança de família, a uma viagem etc. Para Cascudo (2004), o alimento funciona como um fixador psicológico no plano emocional, e, dessa forma, comer certos alimentos é ligar-se ao local ou a quem os preparou. O contexto social tem influência direta na experiência dos indivíduos com a comida, e as experiências vividas na infância são determinantes na formação de referências e hábitos alimentares que esse indivíduo mantém ao longo de sua vida. A comida também pode despertar a emoção. A lembrança de uma comida da infância pode evocar sentimentos bons, lembranças de que somos amados e cuidados. O termo “comfort-food” (“comida- conforto”) refere-se a um alimento que conforta ou que dá amparo, é qualquer alimento que está associado à infância ou com uma comida caseira. Outras definições do termo são: “comida de alma”, “comida do alívio emocional”. O movimento nasceu nos Estados Unidos e ganhou o mundo. Essas bebidas e comidas são definidas prioritariamente a partir de experiências pessoais, embora possam ser identificados padrões de comfort foods em grupos com referências socioeconômicas e culturais semelhantes, e cujos indivíduos pertençam a uma mesma faixa etária (GIMENES-MINASSE, 2016). Esses padrões, muitas vezes, são explorados pela indústria de alimentos no desenvolvimento de novos produtos alimentícios. Geralmente, o “comfort-food” é preparado e degustado de forma isolada, porque o indivíduo precisa ser sozinho e isolado para se conectar às pessoas associadas à sua lembrança alimentar. Mas pode ser uma forma de reforçar identidade e pertencer a um determinado grupo. Comfort-food, para ser melhor entendido, pode ser dividido nas seguintes ca- tegorias: comidas nostálgicas, de indulgência, de conveniência e de conforto físico. 12 13 Comidas nostálgicas são as remetem a um período e/ou lugar na história do indivíduo. Comidas de indulgência são capazes de despertar um sentimento de indulgência no indivíduo, normalmente associadas ao prazer de comer determinado alimento, sem levar em consideração seu valor calórico, por exemplo. Comidas de conveniência são aquelas comidas fáceis e rápidas de serem pre- paradas. Elas também podem estar associadas ao comfort-food e esse é o grande desafio da indústria de alimentos, como produzir um alimento industrialmente que tenha o mesmo sabor do produzido em casa ou que remeta à infância. Já as comidas de conforto físico são aquelas, que devido às suas características, como temperatura e textura, proporcionam um bem estar físico além do emocional ao indivíduo. Figura 4 – Mãe e fi lha: experiências culinárias vividas na infância Fonte: iStock/Getty Images • O frango ensopado da minha mãe | Autor: Nina Horta | Editora: Companhia das Letras | Ano: 2015 • Não é sopa | Autor: Nina Horta | Editora: Companhia das Letras | Ano: 1995 Ex pl or Mas a comida também pode despertar sentimentos ruins. Quando passamos mal com determinado alimento, nosso organismo, como forma de defesa, guarda a lembrança ruim desse alimento, que nos impede muitas vezes de ingerir novamente o mesmo tipo de alimento. 13 UNIDADE Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural Gastronomia, Culinária e Identidade Cultural palavra gastronomia vem do grego gaster (ventre, estômago) e nomo (lei) – “as leis do estômago” (AQUINO e PHILIPPI, 2015). Ainda segundo as autoras, foi criado pelo poeta e viajante grego Arquestratus no século IV a.C., que percorreu territórios provando as especialidades dos locais. O resultado de suas experiências foi descrito em um tratado dos prazeres da comida chamado Hedypatheia. Mas o verdadeiro registro sobre gastronomia ocorreu no final do século XVIII com a publicação do livro A fisiologia do gosto, pelo escritor francês Brillat-Sava- rin, que seria apaixonado pelos prazeres da mesa. A fisiologia do gosto | Autor: Jean-Anthelme Brillat-Savarin | Tradução: Paulo Neves | Editora: Companhia das Letras | Ano: 1995Ex pl or A gastronomia se espalhou pelo mundo. Atualmente, por meio de livros, pro- gramas culinários e aplicativos, temos acesso a receitas e técnicas de preparo e podemos reproduzi-las. Mas, para entendê-la, é preciso voltar na história e estudar as influências que a gastronomia atual sofreu desde a pré-história. Houve dois fatos históricos muito importantes para a gastronomia. O primeiro marco importante foi o surgimento do primeiro restaurante na França em 1765, seguido do início das grandes publicações culinárias. A culinária tem relação direta com a gastronomia e pode ser entendida como “qualquer tipo de processamento de transformação do alimento”. Ela é a arte de preparar os alimentos, por meio das técnicas de cocção ou tranformação dos ingredientes, utilizando utensílios e costumes de um determinado país, região ou cultura. A culinária transforma a comida da natureza para a cultura. Ela foi a responsável por transmitir a cultura de povos de geração a geração pelos seus ensinamentos. O homem é o unico animal que tem e faz cozinha. E podemos dizer que todas as cozinhas são fruto de trocas culturais e, de algum modo, contêm em si o mundo (MONTANARI, 2013). Cozinhar: uma história natural da transformação | Autor: Michael Pollan | Tradutor: Cláudio Figueiredo | Editora: Intrínseca | Ano: 2013Ex pl or 14 15 A gastronomia surgiu como um novo papel para a alimentação. Atualmente, houve uma grande procura e interesse pela gastronomia. Uma descoberta por novos ingredientes e a valorização dos alimentos regionais. A culinária brasileira surgiu muito antes do descobrimento do Brasil. Nosso país tem inúmeros ingredientes regionais, os quais, inclusive, revelam que ela teve ori- gem com a dieta indígena e se caracterizou por ser uma cozinha de terroir , base- ada em frutas, legumes, ervas, raizes da floresta, peixes e carnes. Figura 5 – Criança nativa brasileira e sua comida na tribo Fonte: iStock/Getty Images Terroir: é uma palavra francesa que designa “uma expressão de terra cultivada”. Ex pl or No capítulo “O que é comida brasileira?”, do livro Cozinha de Origem: pratos brasileiros tradicionais revisitados de Thiago Castanho (2013), escrito pelo sociólogo, antropólogo e escritor especializado em gastronomia Carlos Alberto Dória, o escritor diz que, além do Carnaval e do futebol, o Brasil no século XXI será conhecido pela sua gastronomia. O brasileiro está descobrindo cada dia mais a diversidade da sua cultura, que sempre esteve ao alcance de todos e que não era tão valorizada. Castanho (2014, p.6) relata que, na região Norte do Brasil, não há inverno de verdade (ou seja, inverno com temperaturas baixas), e a consequência disso é uma abundância de frutas e legumes frescos o ano todo. 15 UNIDADE Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural Por exemplo, fazem parte da alimentação do paraense as macaxeiras (mandiocas ou aipins) e os inhames, cozidos, assados ou fritos,ou transformados em algum tipo de farinha e os peixes típicos da região. Os paraenses ainda contam com uma variedade de frutas exóticas, comumente desconhecidas pelo resto do país, de sabor e riqueza nutricional inigualáveis. São inúmeros mercados regionais espalhados pelo Brasil, onde é póssivel ter acesso a diferentes ingredientes na nossa culinária. Figura 6 – Mercado Ver-o-Peso, em Belém no Pará, e sua diversidade de ingredientes genuinamente brasileiros Fonte: Acervo do conteudista ver-o-veropeso: https://goo.gl/ttehLZ Ex pl or 16 17 Figura 7 – Mercado Municipal de São Paulo Fonte: iStock/Getty Images O significado de uma cultura pode ser compartilhado socialmente e a alimentação no âmbito da culinária permite esse compartilhamento. Servir um almoço em família, cozinhar com a mãe, por exemplo, são formas de compartilhar cultura. A comida carrega consigo a cultura de um povo e também a identidade de cada um de nós. A forma como nos comportamos perante a comida está relacionada com a nossa identidade. No mundo atual onde vivemos, além dos fatores culturais, religiosos e econômi- co, existem outros fatores sociais que podem influenciar nas nossas escolhas pe- la alimentação. A indústria de alimentos através de propagandas veiculadas na televisão, em revistas, outdoor e internet podem influenciar nas escolhas dos alimentos. 17 UNIDADE Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural Como os homens comem comida e não nutrientes, não apenas se nutrem, mas também buscam “experiências” alimentares, é comum que o indivíduo seja atraído por uma propaganda da indústria alimentar. As propagandas podem despertar sen- timentos que nos levam ao “comer mais”. A comida também pode estar relacio- nada ao pecado. A comida é usada na mídia como símbolo de tentação, reme- tendo ao “pecado da gula”. Também é possivel relacionar a comi- da ao gênero. As mulheres são referidas a alimentos mais leves e delicados, como frutas, saladas, doces, frango e peixe. Já os homens estariam associados alimentos mais pesados, fortes e poderosos, como a carne vermelha. As embalagens dos alimentos também influenciam e muito na decisão de com- pra. Até a altura que as embalagens estão dispostas nas gôndolas do supermerca- do, normalmente na altura dos olhos do consumidor, é mais uma das estratégias da indústria de alimentos para induzir à compra. Figura 9 – Consumidora em compras no supermercado Fonte: iStock/Getty Images Figura 8 – Propaganda de alimentos Fonte: iStock/Getty Images 18 19 As mudanças culturais e tecnológicas distanciaram o homem das tradições culinárias, fazendo crescer o consumo de alimentos industrializados e ocasio- nando doenças. Porém, nos últimos anos, observa-se um aumento do interesse dos consumidores pela culinária, gastronomia e por alimentos considerados saudáveis. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com os rótulos dos alimentos, principalmente dos alimentos oferecidos para as crianças. Cresce a cada dia mais o número de restaurantes, empórios, supermercados voltados para a alimentação saudável. O “gosto”: Produto Cultural e Social Podemos afirmar que o simples ato de ingerir os alimentos, muitas vezes, é uma mera saciação de uma necessidade biológica. Já o gosto consiste na fusão do biológico com o cultural. O “gosto” é algo muito pessoal, uma decisão de cada um, porém, a escolha pela ingestão de deteminados alimentos só é aceita se o “gosto coletivo”, ou seja, do grupo onde esse indivíduo convive permitir o consumo de determinado alimento. Conforme Montarani (2013), o orgão do gosto não é a língua, é o cérebro, um orgão deteminado pela cultura, pelo meio do qual se aprende e transmite critérios de avaliação. O gosto faz parte das culturas das sociedades humanas. Por esse motivo, é muito comum um alimento ser ou não aceito em uma deter- minada sociedade. O gosto pode ser dividido em: sabor e saber. Sabor é a definição como sensa- ção, biológica. O termo saber deriva do latim “ter gosto” e faz parte da avaliação sensorial, que agrada ou desagrada, vem do cérebro e não da língua, remete às experiências vividas, o gosto do “bom ou do “ruim”. O gosto pode mudar com o decorrer dos séculos. O homem na antiguidade buscava descobrir os alimentos e o homem moderno tem uma tendência de apenas distinguir os sabores: doce, salgado, amargo, azedo, picante etc. Educação do Gosto disponível em https://goo.gl/WcUUq5 Ex pl or 19 UNIDADE Antropologia da Nutrição: Alimentação e Identidade Cultural Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Gastronomia hospitalar no conceito do Comfort Food CUKIER, C.; MAGNONI, D.; ROBERTO, T. S.; STIKAN, R. Gastronomia hospitalar no conceito do Comfort Food. São Paulo: Balieiro, 2013. Comida Caseira: Deliciosas Receitas Clássicas OLIVER, Jamie. Comida Caseira: deliciosas receitas clássicas. São Paulo: Globo, 2015. Pequeno Dicionário da Gula ALGRANTI, Márcia. Pequeno dicionário da gula. Rio de Janeiro: Record, 2000. Cozinha Japonesa: Comida, Poder e Identidade Nacional CWIERTKA, J. Katarzyna Moderna Cozinha Japonesa: comida, poder e identidade nacional. São Paulo: Senac, 2008. 20 21 Referências ABREU, E. S.; MORENO, R. B.; TORRES, E. A. F. S.; VIANA, I. C. A alimen- tação mundial: uma reflexão sobre a história. Saúde e Sociedade, vol. 10(2) p. 3-14, 2001. AQUINO, R. C.; PHILIPPI, S. T. Dietética: princípios para o planejamento de uma alimentação saudável. São Paulo: Manole, 2015. CASTANHO, T. Cozinha de Origem: Pratos brasileiros tradicionais revisitados. Publifolha, São Paulo, 2013. CARNEIRO, H. Comida e Sociedade: uma história da alimentação. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. FLANDRIN, J. L.; MONTANARI, M. História da alimentação. 2. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. GIMENES-MINASSE, M. H. S. G. Comfort food: sobre conceitos e principais características. Contexto da Alimentação – Revista sobre Comportamento, Cultura e Sociedade. Vol. 4 p. 92- 102, 2016. MONTANARI, M. Comida como cultura; tradução de Letícia Martins de Andrade. 2 ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2013. 21
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