Buscar

Química e Toxicologia Forense

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 145 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 145 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 145 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

QUÍMICA E TOXICOLOGIA 
FORENSE
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Patrícia Martins Botelho Nunes
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2019
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
N972q
 Nunes, Patrícia Martins Botelho
 Química e toxicologia forense. / Patrícia Martins Botelho Nunes. 
– Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 145 p.; il.
 ISBN 978-85-7141-312-2
1. Toxicologia forense. - Brasil. 2. Química. - Brasil II. Centro Univer-
sitário Leonardo Da Vinci.
CDD 363.25
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................05
CAPÍTULO 1
Farmacologia dos Agentes Tóxicos ..........................................07
CAPÍTULO 2
Principais Grupos de Agentes Tóxicos ....................................51
CAPÍTULO 3
Toxicologia Analítica e Qualidade do
Laudo Toxicológico ....................................................................99
APRESENTAÇÃO
Prezado aluno! 
A disciplina de Química e Toxicologia Forense tem por objetivos reconhecer, 
identificar e estudar os agentes tóxicos lícitos e ilícitos utilizados para a execução 
de crimes, bem como o processo de intoxicação e seus mecanismos, além 
de esclarecer o uso da química e da toxicologia para a elucidação de crimes; 
indicar os métodos analíticos e fatores interferentes na identificação do agente 
tóxico e apontar a importância da interpretação correta dos resultados e as 
normas e características a serem observadas para a confecção do laudo químico 
toxicológico, que será usado para instruir o inquérito policial e a ação penal.
No primeiro capítulo serão apresentados os conceitos gerais relacionados à área 
de Toxicologia e Química Analítica, bem como as etapas da investigação toxicológica. 
Por meio do estudo da toxicocinética e da toxicodinâmica, você poderá identificar 
mecanismos de biotransformação de agentes tóxicos, suas rotas e formas de eliminação. 
E, ao final do capítulo, será discutido o panorama geral da execução dos principais crimes 
com entorpecentes, agrotóxicos, medicamentos, bebidas e combustíveis.
Na sequência serão estudados os principais grupos de substâncias tóxicas 
– drogas recreativas lícitas e ilícitas (álcool, cocaína, anfetaminas, maconha, 
opiáceos, alucinógenos), domissanitários, agentes cáusticos e medicamentos. 
Ainda serão abordados aspectos relevantes do uso e identificação das substâncias 
facilitadoras de abuso sexual (date rape drugs).
No terceiro capítulo será abordada a parte técnica e analítica do exame 
químico toxicológico. Você conhecerá as normas para a escolha e para a 
determinação da qualidade de amostras biológicas para a análise toxicológica, 
em que serão descritos os diferentes métodos de análise para a identificação de 
substâncias tóxicas, com seus respectivos possíveis interferentes, os quais podem 
comprometer o resultado da análise, sua interpretação e os trâmites legais.
Portanto, este livro didático reúne informações de diferentes fontes 
bibliográficas para esclarecer e instruir você sobre os conceitos e atualidades 
da química e da toxicologia forense e, ainda, contribuir para a sua formação 
profissional dentro da área forense, visto que a Toxicologia é uma ciência 
de extrema importância para as descoberta, quantificação e identificação de 
substâncias tóxicas, responsáveis por ocasionar a morte de muitos indivíduos ou 
o favorecimento de crimes. Esta área forense é uma das principais ferramentas 
legais e um dos componentes da análise pericial.
Bons estudos.
Profª. Patrícia Martins Botelho Nunes
CAPÍTULO 1
Farmacologia dos Agentes Tóxicos
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� identificar a aplicação dos conhecimentos fundamentais de toxicologia;
� definir toxicologia forense e diferenciar suas aplicações;
� identificar mecanismos de biotransformação de agentes tóxicos, suas rotas e 
formas de eliminação;
� entender os principais mecanismos de ação tóxica;
� definir agente tóxico, intoxicação, risco e segurança;
� descrever os principais mecanismos de crimes com entorpecentes, agrotóxicos, 
medicamentos, bebidas e combustíveis;
� esclarecer o uso da química e da toxicologia para a elucidação de crimes;
� analisar e classificar os efeitos de diferentes agentes tóxicos no organismo 
humano;
8
 Química e Toxicologia Forense
� examinar e identificar diferentes alterações relacionadas à ação de 
substâncias tóxicas;
� aplicar as ferramentas e conhecimentos em química e toxicologia para a 
identificação de crimes;
� analisar com imparcialidade e de maneira objetiva as informações obtidas 
por meio de técnicas científicas e precisas.
9
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
1 Contextualização
Crimes, de modo geral, geram grande repercussão e interesse da sociedade. 
Não é à toa o grande sucesso das séries investigativas de TV, dos documentários 
e dos livros e filmes policiais. A personagem Sherlock Homes, que usa e abusa 
da química de forma bem irônica para a resolução de crimes inimagináveis, 
está presente nas nossas vidas desde 1887 e ainda é um sucesso. A grande 
curiosidade que cerca a análise pericial estimula e cativa a maioria das pessoas. 
O médico da série Dr. House conquistou milhares de fãs ao longo dos anos devido 
a sua curiosa habilidade de desvendar diagnósticos, usando dados técnicos e seu 
surpreendente raciocínio e pragmatismo. 
Portanto, quem busca conhecimento na área de perícia forense é um curioso 
nato e procura desenvolver habilidades que possam contribuir para esclarecer 
situações e desvendar mistérios.
Pretende-se que você, ao longo do estudo, possa desenvolver seu raciocínio 
lógico e sua visão realística sobre os dados encontrados em amostras toxicológicas, 
usando o conhecimento técnico sobre as provas toxicológicas para extrair 
conclusões pertinentes. Ao final do curso, você poderá descrever e esclarecer 
a importância da coleta de amostras e da análise químico-toxicológica para a 
investigação criminal. Poderá questionar interferentes, procedimentos de coleta, 
métodos e amostras fora do padrão técnico-científico. E, ainda, refletir sobre: Como 
se deve escrever um laudo técnico? Existe crime sem prova pericial ou agente que 
não procurou direito? A análise química é um exame que subsidia tecnicamente 
o inquérito policial ou o processo penal? Qual é o papel do perito toxicologista 
dentro da investigação de um crime? Diante disso, este capítulo será o primeiro 
passo para uma imersão na toxicologia forense e que esclarecerá conceitos iniciais 
e os mecanismos de agentes tóxicos no organismo humano. Você entenderá as 
peculiaridades do trabalho do perito toxicológico e do uso da química forense.
“Porque, na terra do House, e no resto do universo, quando 
aparece uma pergunta, ela pede por uma resposta” – Dr. House.
2 Introdução à Toxicologia 
Forense e Perícia Criminal: 
Conceitos e Considerações Gerais
Substâncias químicas são usadas para tratar ou matar pessoas desde a 
Antiguidade. “Existem relatos do uso de cicuta, chumbo, plantas e até mesmo10
 Química e Toxicologia Forense
animais para fins terapêuticos ou letais de épocas anteriores a Cristo” (OGA; 
CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 3). 
Trecho Romeu e Julieta, ato V, Cena I: [...] BOTICÁRIO – Ponde 
isto em qualquer líquido; tomando-o, embora a resistência 
possuirdes de vinte homens, caireis de pronto morto. ROMEU 
– Eis teu ouro, veneno mais nocivo para as almas dos homens, 
que mais crimes tem cometido neste mundo sujo, do que essas 
pobres drogas misturadas que não podes vender. Dei-te veneno; 
não tu a mim. Adeus [...] (SHAKESPEARE, 2000, p. 155).
A Toxicologia é uma ciência multidisciplinar e envolve uma vasta área de 
conhecimentos e técnicas, desde as ciências básicas (Matemática, Biologia, 
Física) até as áreas mais tecnológicas (Biologia Molecular, Biotecnologia e 
Química Analítica). A Toxicologia se ocupa da identificação dos agentes tóxicos 
e de seus efeitos nos organismos vivos ou no post mortem. “Existem diferentes 
segmentos de aplicação da toxicologia e a área forense é um deles” (PASSAGLI, 
2018, p. 5). 
A Toxicologia Forense combina procedimentos da química 
analítica e da toxicologia geral, com o objetivo de buscar e identificar 
evidências consistentes da presença de substâncias tóxicas ou 
de seus efeitos, para solucionar casos de crimes de morte ou de 
alteração comportamental e de adulteração de produtos. 
Este estudo pode ser feito no vivo ou no morto. In vivo, geralmente, se 
aplica a toxicologia para a identificação do abuso de drogas lícitas ou ilícitas 
e, também, para a determinação do uso de substâncias psicoativas durante a 
jornada de trabalho ou na fiscalização das condições psicomotoras de condutores 
de veículos. Essas informações podem ser usadas na caracterização de 
situações para a qualificação do delito (periculosidade ou inimputabilidade, por 
exemplo). No post mortem, a suspeita de morte por intoxicação se enquadra no 
âmbito de “morte violenta” e existe a obrigatoriedade legal, nesta hipótese, de 
proceder à necropsia, seguida da retirada de material biológico para a perícia 
químico-toxicológica. “A toxicologia forense pode contribuir de forma decisiva na 
investigação criminal, fornecendo informações relevantes sobre as circunstâncias 
que envolveram o delito ou o óbito” (PASSAGLI, 2018, p. 8-13). 
11
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
Além dessas aplicações, a análise toxicológica pode ser usada para exames 
de substâncias que oferecem risco à saúde pública, com a adulteração de 
medicamentos, alimentos e bebidas.
Um exemplo de aplicação da toxicologia forense para o 
esclarecimento das circunstâncias de um crime seria o caso recente 
da morte do jogador do São Paulo, Daniel Corrêa. Através da 
detecção e quantificação do teor de etanol, comprovou-se a presença 
de álcool e, ainda, a promotoria descartou a hipótese de estupro 
devido ao elevado teor alcóolico (13,4 dg/L) no sangue de Daniel. 
Desta forma, o laudo pericial contribui para o esclarecimento da 
dinâmica dos fatos e para individualizar as condutas dos suspeitos. 
FONTE: <https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2018/11/06/
caso-daniel-apos-ouvir-testemunhas-delegado-diz-que-nao-houve-
tentativa-de-estupro.ghtml>. Acesso em: 9 mar.2019.
Para iniciarmos o estudo da toxicologia, precisamos definir alguns conceitos. 
São eles:
a) Perícia Criminal
Tem como função auxiliar a Justiça Criminal, atuando na parte da investigação 
(policial) para a realização e obtenção de prova material dos incidentes (acidentes, 
crimes ou delitos) e da autoria do crime. Segundo Espíndula (2002, p. 22):
[...] a prova pericial é produzida a partir de fundamentação 
científica, enquanto que as chamadas provas subjetivas 
dependem do testemunho ou interpretação das pessoas, 
podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta 
de capacidade da pessoa em relatar determinado fato, até o 
emprego de má-fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos 
para não se chegar à verdade. 
Portanto, na presença de vestígios, o exame de corpo de delito é 
imprescindível para a obtenção de indícios e é obrigatório, podendo ocorrer 
a nulidade processual caso ele não seja realizado nos termos do artigo 158 do 
Código de Processo Penal Brasileiro (Figura 1).
12
 Química e Toxicologia Forense
O médico legista é o profissional que realiza o exame de corpo de delito em 
indivíduos mortos ou vivos. O toxicologista forense tem como papel estabelecer 
a causa e o efeito de determinado evento, de forma imparcial e com isenção, 
baseando-se em análises de alta qualidade e apresenta uma declaração – o 
laudo químico toxicológico –, fornecendo informação qualificada e técnica com 
dados instrutórios a um julgamento dentro do processo judicial. “Por meio deste 
laudo, o perito leva ao juiz e jurados elementos informativos de ordem técnica-
científica e o juiz, por sua vez, pode aceitá-lo ou rejeitá-lo em todo ou em parte” 
(PASSAGLI, 2018, p. 5). Portanto, o toxicologista forense exerce o papel de 
testemunha técnica em processos judiciais, através do seu testemunho objetivo 
ou de uma emissão de opinião, prestando, dessa forma, assistência ao júri.
A cadeia de custódia é um método utilizado para manter a 
integridade, o rastreamento e a idoneidade de uma evidência. É 
usada para manter e documentar a história cronológica da evidência, 
desde a sua coleta, transporte, recebimento, armazenamento até a 
análise, portanto engloba, todo o tempo, pessoas e procedimentos 
usados para manusear a evidência. Este protocolo legal é usado para 
garantir a identidade e integridade da amostra, em todas as etapas 
do processo, reforçando a qualidade das perícias e evitando possíveis 
questionamentos. Leia mais em De Menezes, Borri e Soares (2018).
FIGURA 1 – PAPEL DA PERÍCIA NA OBTENÇÃO DE INDÍCIOS 
PARA A INSTALAÇÃO DO PROCESSO PENAL
FONTE: Passagli (2018, p. 4)
Corpo de Delito:
Vestígios/ Evidências
Examinados e
Correlacionados:
Indícios
Processo
Penal
13
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
Dica de filme: Para entender melhor o papel da perícia criminal, 
assista ao filme Seven – Os sete pecados capitais (EUA, 1995). 
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Seven_
(filme)>. Acesso em: 22 nov. 2018.
Dica de Documentário: Investigação Criminal (Netflix, 2012). 
b) Investigação Toxicológica
A identificação de substâncias tóxicas em amostras biológicas é um desafio 
devido ao grande número de substâncias químicas tóxicas que podem ser o agente 
da intoxicação. Portanto, a obtenção e coleta das amostras, seu preparo e análise 
devem seguir critérios bem específicos e rígidos para a manutenção da qualidade 
da amostra e do laudo final, que deve ser representativo do estado fisiopatológico 
do indivíduo. O resultado explicitado no laudo toxicológico deve refletir com clareza e 
segurança a realidade da amostra e/ou as condições físico-toxicológicas do indivíduo 
vivo ou morto. Muitos fatores podem interferir no resultado do laudo, entre eles:
• Complexidade das matrizes biológicas (material coletado do indivíduo 
ante mortem ou post mortem para a análise toxicológica. Existem 
diversas matrizes – sangue, plasma, urina, vísceras, líquidos biológicos, 
fios de cabelo etc. – e essas são escolhidas de acordo com fatores que 
relacionam a natureza e integridade da amostra, facilidade de coleta, 
transporte etc. (BORDIN et al., 2015). As matrizes biológicas apresentam 
composição muito complexa, sendo compostas por diferentes tipos de 
moléculas, como proteínas, carboidratos, ácidos nucleicos e substâncias 
orgânicas e inorgânicas. É importante ressaltar que as matrizes biológicas 
trazem alterações de fenômenos fisiológicos e também do post mortem, 
14
 Química e Toxicologia Forense
possivelmente alterando a sua constituição química ebioquímica. Isso 
torna a análise toxicológica ainda mais complexa. 
• Tipo e quantidade de amostras disponíveis. Devem ser levadas em 
consideração as informações sobre a distribuição e a biotransformação 
dos analitos, para que a amostra obtida seja aquela que apresenta a 
maior concentração da substância a ser pesquisada.
• Informações sobre históricos do paciente e da amostra, incluindo 
informações sobre a necropsia.
• Tratamento das amostras e tipo de análise a ser realizada. Etapa crítica 
do processo analítico, pois o tratamento inadequado da amostra pode 
comprometer a análise, obtendo-se falsos resultados negativos. Além 
disso, os métodos utilizados de análise devem ser padronizados e 
validados, e apresentar especificidade e sensibilidade suficientes para 
analisar o que se pretende.
Portanto, é importante organizar e protocolar todas as etapas do processo 
de análise das amostras. Esse protocolo recebe o nome de Análise Toxicológica 
Sistemática (ATS). A ATS é um conjunto de procedimentos padronizados 
(Procedimentos Operacionais Padrão – POP) para a coleta, processamento e 
quantificação da substância tóxica com o objetivo de identificar a presença de 
determinada substância através de dados analíticos, independente das demais 
substâncias potencialmente presentes na amostra (metabólitos, compostos 
endógenos e outros interferentes). Para isso, “a ATS possui três etapas: 
preparação da amostra, isolamento e concentração dos analitos; detecção e 
diferenciação e, por fim, identificação e quantificação” (PASSAGLI, 2018, p. 318). 
A Figura 2 mostra as etapas de uma análise toxicológica e seus pontos críticos 
que devem ser observados e controlados para a obtenção de laudos de qualidade 
e passíveis de esclarecer as circunstâncias de determinado incidente:
FIGURA 2 – ETAPAS DA ANÁLISE TOXICOLÓGICA
Fasé Pré-analítica Fase Analítica Fase Pós-analítica
● Coleta de material 
para a análise
● Identificação do 
material
● Transporte/
armazenamento
● Disponibilidade 
de metodologias 
sensíveis e seletivas
● Escolha dos 
procedimentos 
analíticos
● Controle de qualidade
● Análise confirmatória 
com técnicas 
diferentes das usadas 
na triagem
● Equipamentos 
calibrados e 
manutenidos
● Interpretação dos 
resultados
● Confecção do laudo
FONTE: Adaptado de Passagli (2018)
15
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
É importante ressaltar que, devido à complexidade das matrizes e ao grande 
número de substâncias a serem pesquisadas, torna-se extremamente importante 
as informações sobre a história do caso/evidência que está sendo analisada. 
Essas informações podem direcionar as análises (escolha de amostras, métodos 
e avaliação de possíveis interferentes) para a obtenção de resultados mais rápidos 
e evitar análises desnecessárias. Por exemplo, no caso de análise toxicológica 
em um motorista envolvido em um acidente de trânsito, apresentando hálito com 
odor forte e comprometimento da fala e do equilíbrio, pensa-se, inicialmente, em 
uso de etanol. Porém, obtendo-se análise negativa para a presença de etanol 
no sangue, com a análise dos achados clínicos disponíveis, pode-se direcionar 
as análises para a pesquisa de acetona e de fármacos depressores do sistema 
nervoso central. A produção de corpos cetônicos em um indivíduo com diabetes 
descompensada e o uso de barbitúricos ou benzodiazepínicos explicariam 
os achados clínicos. Sem essas informações, o laboratório ficaria “às cegas” 
e liberaria o laudo negativo para etanol e os resultados clínicos e laboratoriais 
seriam discordantes (PASSAGLI, 2018, p. 331).
1 Defina o que são matrizes biológicas e cite exemplos. 
2 Explique como a fase pré-analítica pode comprometer o laudo 
toxicológico.
Geralmente, a análise toxicológica é iniciada com testes mais gerais e 
simples para a detecção de grupos químicos, por exemplo, obtendo-se uma 
triagem das amostras e identificando os casos negativos. E, em seguida, usam-
se métodos mais específicos de identificação e confirmação de cada substância 
e, se necessário, faz-se também a sua quantificação (PASSAGLI, 2018). Por fim, 
com a emissão do laudo, o perito fornece à corte a “sua opinião” sobre os dados 
obtidos, para isso ele utiliza conhecimentos sobre toxicocinética e toxicodinâmica, 
realizando a análise e interpretação dos resultados.
c) Agente tóxico
É qualquer substância química, orgânica ou inorgânica, que interagindo 
com o organismo é capaz de produzir um efeito tóxico, causando alteração 
comportamental ou funcional ou até a morte. A maioria das substâncias químicas, 
consideradas como agentes tóxicos, são substâncias exógenas também 
chamadas xenobióticos. Porém, segundo Oga, Camargo e Batistuzzo (2008, p. 6), 
16
 Química e Toxicologia Forense
em toxicologia, também se pode considerar xenobiótico uma substância química 
entranha quantitativamente no organismo, ou seja, em baixas concentrações essa 
substância seria considerada não tóxica, mas acima de um limite quantitativo, 
passa a ser um agente tóxico. Os agentes tóxicos podem ser agentes poluentes 
na atmosfera e metais, como o chumbo e o mercúrio, e são classificados quanto 
as suas propriedades físicas (gases, vapores, partículas), quanto as suas 
características químicas (se destacam os halogêneos, fenóis, metais etc.) e 
quanto ao tipo de ação tóxica (hepatotóxicos, neurotóxicos, nefrotóxicos). 
d) Fármaco
Substância de estrutura química definida capaz de alterar estado fisiológico 
ou patológico em benefício do organismo receptor.
e) Droga
É toda substância capaz de modificar sistemas fisiológicos ou estados 
patológicos, utilizada com ou sem intenção de benefício do receptor.
f) Veneno
Substância ou mistura de substâncias químicas que provoca intoxicação ou 
morte em pequenas quantidades (baixas doses).
g) Medicamento 
“Toda substância, ou associação de substâncias, utilizada para modificar ou 
explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos para benefício do sistema 
receptor” (ZANINI; OGA, 1994, p. 3).
Veneno x Medicamento
Existe uma linha tênue que separa a definição de medicamento e veneno. A 
diferenciação desses dois conceitos não é simples, e basicamente é um conceito 
quantitativo que depende da dose. Segundo Paracelsus (1493-1541), famoso 
médico e alquimista suíço, “todas as substâncias são venenos, não há nenhuma 
que não seja veneno, a dose correta diferencia o veneno de um remédio” (OGA; 
CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 4).
h) Risco 
É a probabilidade de uma substância produzir dano sob condições 
controladas de exposição.
17
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
i) Segurança 
É a certeza de que determinada substância não causa danos para um 
indivíduo exposto à quantidade e forma recomendadas para seu uso.
j) Intoxicação
É a manifestação do efeito tóxico, representado pelos sinais e sintomas 
que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pelo contato do agente tóxico 
e o sistema biológico. O efeito tóxico só será produzido se o contato com o 
agente tóxico ocorrer em dose e por tempo suficiente para romper o equilíbrio do 
organismo. Portanto, de modo geral, ocorrem diferentes processos em sequência, 
desde o contato do agente tóxico com o organismo, até o sintoma clínico que 
revela esta interação. Isso permite dividir a intoxicação em quatro fases distintas, 
como mostra a Figura 3:
FIGURA 3 – FASES DA INTOXICAÇÃO
FONTE: Adaptado de Oga, Camargo e Batistuzzo (2008, p. 6)
3 Toxicocinética de Agentes 
Tóxicos
Antes de estudarmos toxicocinética, vamos observar aspectos importantes 
da fase de exposição.
18
 Química e Toxicologia Forense
A fase de exposição é representada pelo período em que o ser humano fica 
exposto à substância tóxica e ocorre o contato do agente tóxicocom as superfícies 
externas ou internas do organismo. São importantes nesta etapa:
• Concentração e tipo de substância: propriedades físico-químicas, 
solubilidade, estabilidade. A dose vai determinar a extensão da resposta 
biológica. É a quantidade do agente tóxico que entrou em contato com 
o organismo do indivíduo. Além disso, deve ser levado em consideração 
que o agente tóxico pode ser uma mistura de substâncias químicas. 
Portanto, a resposta final aos xenobióticos combinados pode ser maior 
ou menor que o efeito de cada uma separadamente. A composição 
química do agente tóxico vai determinar a sua maior ou menor absorção 
pelas membranas biológicas.
• Duração e a frequência da exposição. 
FIGURA 4 – TIPOS DE INTOXICAÇÃO DE ACORDO 
COM A EXPOSIÇÃO AO AGENTE TÓXICO
FONTE: A autora
Quanto à frequência de exposição, normalmente, doses fracionadas do 
agente tóxico reduzem o efeito tóxico. Assim, uma dose única de um agente que 
produz efeito imediato e severo, poderá produzir menos do que a metade ou 
nenhum efeito, quando dividida em duas ou mais doses, administradas durante um 
período de várias horas ou dias. No entanto, a redução do efeito provocado pelo 
aumento de frequência (ou seja, do fracionamento da dose) só ocorrerá quando: 
1) a velocidade de eliminação é maior do que a de absorção, de modo que os 
processos de biotransformação e/ou excreção ocorram no espaço entre duas 
19
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
exposições; 2) o efeito tóxico pela substância é parcial ou totalmente revertido 
antes da exposição seguinte. Caso nenhuma destas situações ocorrerem, o 
aumento de frequência resultará em efeitos tóxicos crônicos (PASSAGLI, 2018).
Nas exposições agudas, as substâncias químicas são rapidamente absorvidas 
e os efeitos produzidos geralmente são imediatos. Mas, em certas situações 
podem ocorrer efeitos retardados, similares ou não aos efeitos produzidos nas 
exposições a longo prazo. Em contrapartida, as exposições crônicas a um agente 
tóxico podem produzir efeitos imediatos (agudos) após cada administração, além 
dos efeitos produzidos a longo prazo em baixas concentrações do agente.
• As principais vias de exposição são gastrointestinal (ingestão, via muito 
usada nas intoxicações intencionais), pulmonar (inalação), cutânea 
(contato) e parenteral. A via de introdução influi tanto na potência quanto 
na velocidade de aparecimento do efeito tóxico.
• Fatores do indivíduo: saúde, estado nutricional, sexo, idade, estrutura 
genética. A variabilidade de resposta biológica a um agente tóxico 
depende de cada indivíduo exposto.
Usaremos um artigo para ilustrar a ideia da variabilidade dos 
indivíduos. Para trabalhadores que desempenham funções iguais 
durante anos na área de produção de lâmpadas elétricas e, portanto, 
expostos ao mesmo ambiente e nas mesmas condições ao mercúrio, 
é possível que apenas uma parte deles desenvolva uma determinada 
enfermidade pela exposição ao metal presente no ambiente de trabalho. 
E, ainda, cada trabalhador pode apresentar alterações fisiológicas 
diferentes em resposta à exposição. Nenhuma pessoa é igual à outra, 
portanto, as respostas tóxicas podem variar de um indivíduo para 
outro. Com base no artigo de Kavariz e Glina (1993), disponível em 
https://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X1993000200002, identifique as diferentes alterações clínicas 
apresentadas pelos trabalhadores. Todos os trabalhadores 
apresentaram todas as manifestações clínicas? Por quê? 
“Todos esses fatores determinam a disponibilidade química do xenobiótico 
e a fração do mesmo que estará disponível para a absorção” (OGA; CAMARGO; 
BATISTUZZO, 2008, p. 7).
20
 Química e Toxicologia Forense
O grau de toxicidade de uma substância é definido pela sua DL 50 
(Dose Letal Média), que é a dose obtida estatisticamente necessária para 
matar 50% dos organismos expostos ao agente tóxico. Portanto, quanto 
menor a DL 50, mais tóxica é a substância. A DL 50 é uma característica 
intrínseca da substância, mas não é uma descrição absoluta da 
toxicidade de um composto a todos os indivíduos, visto que não reflete 
a habilidade do indivíduo em responder ao contato com o agente tóxico. 
A via de introdução pode influenciar na toxicidade da substância 
química. Por exemplo, espera-se que um agente que é destoxificado 
pelo fígado seja menos tóxico quando introduzido no organismo por via 
oral (passagem pela circulação porta) do que por inalação (circulação 
sistêmica). A comparação da dose letal de um agente tóxico por 
diferentes vias de exposição também fornece informações úteis referentes ao 
processo de intoxicação. Os xenobióticos que apresentam doses letais por via 
oral e dérmica similares àquela administrada por via intravenosa, considera-se 
que o agente é pronta e rapidamente absorvido por essas vias. Por outro lado, 
quando a dose letal dérmica é muito maior que a dose letal oral, significa que a 
pele constitui uma barreira efetiva à absorção desse agente tóxico.
A toxicocinética descreve as ações do organismo sobre os fármacos, 
enquanto que a toxicodinâmica descreve o que o fármaco faz no organismo. 
Usando os conhecimentos destas áreas da toxicologia, o perito pode traçar uma 
estratégia de análise que melhor fornece os resultados para a identificação das 
substâncias presentes na amostra. 
A DL 50 é uma 
característica 
intrínseca da 
substância, 
mas não é uma 
descrição absoluta 
da toxicidade de 
um composto a 
todos os indivíduos, 
visto que não 
reflete a habilidade 
do indivíduo em 
responder ao 
contato com o 
agente tóxico.
FIGURA 5 – COMPORTAMENTO DO AGENTE TÓXICO NO ORGANISMO
FONTE: Adaptado de Azevedo e Chasin (2003)
21
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
De todo o processo de transporte, transformação e eliminação do agente tóxico resulta 
a quantidade de agente tóxico que irá reagir com o receptor biológico e esse conjunto de 
ações é bastante complexo, por isso estudaremos cada etapa separadamente.
3.1 Absorção
Para que o agente tóxico se movimente pelo organismo e chegue ao sítio de 
ação no organismo, ele precisa primeiramente transpor as membranas biológica, 
e existem fatores importantes que afetam o transporte através das membranas:
a) Fatores relacionados à membrana
• Estrutura da membrana, a qual é constituída de uma dupla camada de 
fosfolipídios com camada lipídica, com grupos polares voltados para a face 
externa e ácidos graxos voltados para a parte interna, sendo, portanto, 
bimolecular. Os ácidos graxos que compõem a camada lipídica, na temperatura 
fisiológica, apresentam características fluidas. “A permeabilidade da membrana 
é determinada pela estrutura e proporção desses ácidos graxos” (OGA; 
CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 24; PASSAGLI, 2018, p. 36).
o espessura da membrana;
o área de membrana disponível;
o seletividade da membrana.
b) Fatores relacionados ao agente tóxico
• Lipossolubilidade/hidrossolubilidade: as substâncias químicas 
lipossolúveis (apolares) transpõem mais facilmente as membranas 
biológicas (difusão passiva). As substâncias hidrossolúveis penetrarão 
no organismo mais facilmente se forem moléculas pequenas, que 
possam ser filtradas pelos poros aquosos. 
• Grau de ionização/dissociação: a maior parte dos agentes tóxicos são ácidos 
ou bases fracas. A sua ionização depende do pH do meio e do próprio pKa da 
substância. A forma ionizada é a forma polar, hidrossolúvel e, portanto, tem 
pouca facilidade para transpor as membranas biológicas. Essa transposição 
é dependente do pH do meio. Quando o pH for igual ao pKa da substância, 
metade do composto estará na forma ionizada (PASSAGLI, 2018).
O transporte dos agentes tóxicos do meio externo para o meio interno, 
através das membranas, ocorre segundo trêsmecanismos de absorção:
1- Transporte passivo: mecanismo que depende do gradiente de concentração e da 
composição físico-química do agente tóxico, principalmente em relação ao coeficiente 
22
 Química e Toxicologia Forense
de partição óleo/água. O coeficiente de partição é o parâmetro que define o grau de 
lipossolubilidade de uma substância. É determinado agitando a agente químico em 
uma mistura de solvente orgânico e água. Quanto maior a concentração da substância 
na fase orgânica, maior a sua lipossolubilidade e maior a sua absorção (PASSAGLI, 
2018). O transporte passivo envolve o processo de filtração (o agente tóxico, na forma 
de soluto, passa através dos poros da membrana junto ao fluxo de água; é influenciada 
pela solubilidade do agente tóxico em água e pela hidratação do tecido) e de difusão 
lipídica (simples), que é a passagem das moléculas hidrofóbicas por difusão através das 
membranas. Existe também o processo de difusão facilitada, a favor do gradiente de 
concentração, sem gasto de energia e com a presença de transportadores moleculares 
(OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008; PASSAGLI, 2018).
2- Transporte ativo: caracterizado pelo consumo de energia, movimento contra o 
gradiente de concentração e a presença de proteínas transportadoras, as quais são 
saturáveis e seletivas frente às substâncias.
FIGURA 6 – TRANSPORTES ATRAVÉS DA MEMBRANA
FONTE: Adaptado de Whalen, Finkel e Panavelil (2016)
3- Endocitose: determinadas células “incorporam” o agente tóxico, 
fazendo-o através de dobras da membrana celular:
FIGURA 7 – ESQUEMA COMPARATIVO DOS TRÊS 
TIPOS PRINCIPAIS DE ENDOCITOSE
FONTE: <https://wikiciencias.casadasciencias.org/wiki/index.
php/Endocitose>. Acesso em: 21 mar. 2019.
23
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
Vias de absorção: há três vias importantes de absorção dos xenobióticos 
no organismo: a entérica, respiratória e dérmica. A via parenteral é considerada 
uma via normal para introdução de agentes medicamentosos no organismo, que, 
dependendo da dose, podem causar alterações graves. Após a entrada do agente 
tóxico na corrente sanguínea, seja pela absorção ou pela administração direta, 
ele estará apto para ser distribuído (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008; 
PASSAGLI, 2018).
FIGURA 8 – VIAS DE ENTRADA DE XENOBIÓTICOS NO ORGANISMO
FONTE: A autora
a) Via Dérmica
Normalmente, as intoxicações via cutânea são aquelas de efeito local, ou seja, 
as dermatoses, produzidas pelo contato com os agentes tóxicos. Porém, também 
pode ocorrer a penetração do agente tóxico através da pele e seu posterior ingresso 
na corrente circulatória, por meio da epiderme, causando efeitos sistêmicos.
A pele constitui-se numa barreira de revestimento do corpo, sendo um 
obstáculo contra a penetração de xenobióticos. A epiderme é a camada mais 
externa, e a derme, a camada interna, em que se observa a presença de glândulas 
sudoríparas, vasos sanguíneos, nervos e folículos pilosos.
“A pele é geralmente impermeável à maioria dos íons e soluções aquosas, 
mas é permeável a um grande número de toxicantes sólidos, gasosos e líquidos 
lipossolúveis” (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 12). Muitos fatores 
influenciam a absorção através da pele, tais como: abrasão ou descontinuidade 
da pele, que tornam fácil a penetração do xenobiótico; inflamação; pilosidade 
24
 Química e Toxicologia Forense
(a presença de pelos facilita a absorção cutânea); tamanho da área exposta; 
presença de outras substâncias na pele; tempo de exposição; redução da camada 
gordurosa protetora (efeitos dos solventes e sabões).
b) Via Gastrointestinal
Ao entrar no trato gastrointestinal, o agente tóxico poderá sofrer absorção 
desde a boca até o reto, por difusão passiva ou por transporte ativo. Na mucosa 
oral é raro ocorrer absorção devido ao fato do tempo de contato ser muito pequeno 
entre o agente tóxico e a mucosa. “Cocaína e derivados do ópio podem sofrer 
absorção via oral, nesse caso, esses agentes não sofrem com efeitos do suco 
gastrointestinal, alcançando elevados níveis sanguíneos” (PASSAGLI, 2018, p. 37).
Nas demais seções do trato gastrointestinal (TGI) a absorção varia em 
função das características do agente tóxico e ele sofrerá maior absorção na 
região onde existir maior quantidade de sua forma não ionizada. De modo geral, 
devido ao epitélio e mucosa do TGI, as substância lipofílicas são absorvidas mais 
facilmente (difusão passiva). Portanto, as substâncias com baixo coeficiente de 
partição óleo/água (hidrossolúveis) têm uma baixa absorção. “O curare, composto 
quaternário de amônio, é polar e não absorvível pelo TGI, por isso já foi muito 
utilizado para abater caças, não causando intoxicação nas pessoas que comem a 
carne” (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 13).
Nesta via, a absorção é dependente da composição e da quantidade de 
alimento. A absorção será favorecida quando o estômago estiver vazio (exceto 
no caso de intoxicação por álcool), já que haverá mais contato entre o agente 
tóxico e a mucosa estomacal. O leite, por exemplo, pode aumentar a absorção de 
chumbo (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).
No estômago ocorre a absorção de ácidos fracos, como os barbitúricos, os 
quais não estarão ionizados em pH ácido. A seguir, no intestino, o pH varia de 
12 a 14, e isso facilita ou interfere na absorção de bases fracas, como êxtase 
(ecstasy) e anfetaminas. No intestino grosso, a ação de bactérias sobre o agente 
tóxico poderá levar à produção de moléculas absorvíveis (PASSAGLI, 2018).
A mobilidade intestinal reduzida aumenta o tempo de contato do agente 
tóxico com a mucosa. 
Outro fator relevante desta via é a possibilidade de ocorrer o ciclo entero-
hepático, que consiste na reabsorção de uma substância já excretada. As sustâncias 
lipofílicas passam pelo fígado e são excretadas no intestino através da bile, podendo 
ser reabsorvidas ou excretadas nas fezes. É muito importante levar em conta 
também a passagem dos agentes tóxicos (AT) por este ciclo em caso de insuficiência 
hepática. Neste caso, o AT levará mais tempo para ser eliminado do organismo.
25
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
FIGURA 9 – ROTA DO AGENTE TÓXICO PELA VIA ENTÉRICA, INCLUINDO O 
CICLO ENTERO-HEPÁTICO
FONTE: Adaptado de <http://www.vademecumfarmacia.com>. Acesso em: 24 nov. 2018.
26
 Química e Toxicologia Forense
1 A clorotiazida é um ácido fraco com pKa de 6,5. Em qual dos 
seguintes locais de absorção ela consegue passar facilmente 
através da membrana se for administrada por via oral? Justifique 
sua resposta.
a) ( ) Boca (pH aproximado de 7).
b) ( ) Estômago (pH de 2,5).
c) ( ) Duodeno (pH aproximado de 6,1).
d) ( ) Jejuno (pH aproximado de 8).
e) ( ) Íleo (pH aproximado de 7).
c) Via Respiratória
Neste caso, a absorção do agente tóxico se dá tanto nas vias aéreas 
superiores quanto nos alvéolos.
A superfície de contato pulmonar, composta pela superfície interna dos brônquios 
e bronquíolos é estimada em 90 m2, a superfície interna dos alvéolos pulmonares 
estimada em 70 m2, e as duas juntas formam a interface de contato com o exterior. 
Essa área, somada a uma rede capilar de vasos sanguíneos com área média de 
140 m2, aumenta a extensão da absorção, particularmente de substâncias na forma 
gasosa. Levando em conta o consumo diário de ar pelo ser humano, e, dependendo 
de alterações, por exemplo, com o esforço físico realizado (metabolismo), conclui-se 
que essa via é uma grande facilitadora da entrada de agentes tóxicos.
As partículas sólidas ou mesmo as líquidas de maiores diâmetros podem 
ficar retidas nas partes superiores do aparelho respiratório, onde podem causar 
doenças irritativas. Quando menores que 1 µm, podem chegar até os alvéolos 
pulmonares, onde são absorvidas e chegam à corrente sanguíneae à linfática, 
podendo também ser fagocitadas pelos macrófagos. Quando os xenobióticos 
fixam-se firmemente nas paredes pulmonares, tornando-se resistentes às 
tentativas de remoção do organismo, que tenta dissolvê-los, através do sangue 
e muco, surgem reações pulmonares a essa agressão, como inflamações e 
cicatrizações que acabam por afetar a função dos pulmões a longo prazo (OGA; 
CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).
A quantidade de um agente tóxico que será absorvida pelo organismo, quando 
a penetração se dá pela via respiratória, depende de alguns fatores, tais como:
27
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
• concentração do agente tóxico no ar;
• taxa de respiração (quantidade de ar respirada, que depende da 
taxa de metabolismo);
• solubilidade do material no sangue (coeficiente de partição);
• reatividade do material com tecidos do organismo.
À medida que as moléculas passam pelos alvéolos e chegam ao sangue 
ocorre uma espécie de equilíbrio dinâmico, depois de algum tempo, entre as 
moléculas contidas no ar inspirado e dissolvidas no sangue. Com as moléculas 
altamente solúveis, esse equilíbrio é rápido e, nesse momento, é constante 
a relação da concentração do gás no ar e no sangue. Cada gás apresenta 
uma solubilidade no ar e no sangue e essa correlação é chamada coeficiente 
de partição sangue/ar (Tabela 1). Substâncias com alto coeficiente de partição 
sangue/ar passam facilmente do ar para o sangue. A alta perfusão pulmonar e 
o aumento da circulação sanguínea favorecem a absorção de gases de baixo 
coeficiente de partição sangue/ar. Em contrapartida, o aumento de frequência 
respiratória favorece a absorção de gases com alto coeficiente de partição 
sangue/ar (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 26).
TABELA 1 – FATORES LIMITANTES DE ABSORÇÃO DE 
GASES E VAPORES POR VIA RESPIRATÓRIA
FONTE: Oga, Camargo e Batistuzzo (2008, p. 26)
3.2 Distribuição e Armazenamento
Uma vez absorvido ou administrado diretamente, o agente tóxico (AT) está 
disponível para ser distribuído pelo organismo e alcançar o seu “sítio de ação”. 
O sítio de ação ou sítio-alvo é o local (tecido ou órgão) onde o agente tóxico vai 
exercer sua ação nociva. A intensidade e a duração do efeito tóxico dependem 
da concentração do AT no sítio de ação. “Pode ocorrer, entretanto, a ligação 
do AT a outros constituintes do organismo (tecidos de depósito), e, então ele 
poderá ser encontrado em locais diferentes do sítio de ação” (OGA; CAMARGO; 
BATISTUZZO, 2008, p. 14).
Substância Coeficiente de partição sangue/ar
Tempo de 
equilíbrio (min.) Fator Limitante
Clorofórmio 15 Superior a 60 respiração
Etileno 0,14 8 a 21 circulação
28
 Química e Toxicologia Forense
O acúmulo do AT em locais que não são o seu sítio de ação é uma 
forma de proteção do organismo, pois previne a elevada concentração 
do xenobiótico no sítio-alvo.
O sangue é de grande importância para a distribuição, uma vez 
que circula por todos os tecidos. Assim, existe certo equilíbrio entre as 
concentrações do AT no sangue e nos tecidos. Se a concentração da 
forma livre cai, o agente tóxico armazenado em outro tecido tende a ser 
liberado em quantidade tal que o equilíbrio seja restabelecido. E, por 
isso, a concentração plasmática do AT fornece melhor avaliação da ação tóxica 
que a dose (PASSAGLI, 2018, p. 38).
A distribuição geralmente é rápida e a sua velocidade e extensão dependem 
de dois fatores principais:
• fluxo sanguíneo através dos tecidos de um dado órgão;
• facilidade que tem o agente tóxico para atravessar a membrana capilar e 
atingir as células de um determinado tecido.
A fixação ou concentração de um agente tóxico em um determinado tecido 
pode ser vista como um processo de armazenagem. A armazenagem poderá 
ocorrer inclusive no próprio tecido sanguíneo, através das ligações entre o 
xenobiótico e as proteínas plasmáticas. 
O elevado peso molecular das proteínas plasmáticas dificulta a passagem 
do complexo AT-proteína pelas membranas dos capilares, assim, o AT permanece 
mais tempo na corrente sanguínea e estará menos disponível para a distribuição 
aos tecidos. A albumina é a principal proteína plasmática a se ligar aos AT, por 
possuir afinidade por um grande número de moléculas e está em alta concentração 
no sangue. Fármacos de caráter ácido, como o fenobarbital e naproxeno, ligam-se 
quase que exclusivamente à albumina. Já molécula de caráter básico tem maior 
afinidade pela α1-glicoproteína ácida. As crianças possuem uma concentração 
menor de albumina que os adultos, portanto os AT estarão mais livres e podem 
ser mais rapidamente distribuídos. Deste modo, a idade e a concentração 
proteica interferem na distribuição do AT (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008; 
PASSAGLI, 2018). 
Pelo fato do armazenamento de agentes tóxicos em determinados órgãos 
ocorrer pelo mecanismo de ligação celular, do qual participam as proteínas 
intracelulares, as células dos rins e fígado têm uma enorme capacidade de 
fixação de agentes tóxicos. Doenças hepáticas alteram a capacidade fixadora 
de xenobióticos, por alterarem a produção de proteínas plasmáticas (OGA; 
CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).
O acúmulo do AT 
em locais que não 
são o seu sítio de 
ação é uma forma 
de proteção do 
organismo, pois 
previne a elevada 
concentração do 
xenobiótico no sítio-
alvo.
29
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
 O armazenamento pode funcionar, portanto, como um mecanismo de defesa, 
visto que mantém o AT menos disponível para atingir o sítio-alvo. O tecido adiposo 
(gorduroso) (em média 50% de peso em uma pessoa obesa e 20% em uma pessoa 
magra) é também um local de armazenagem de agentes tóxicos. Nesse caso, o 
fenômeno se dará por simples dissolução do xenobiótico nesse tecido e a toxicidade 
de um AT será menos para pessoas obesas (esse efeito é bastante significativo no 
quadro de intoxicação alcoólica) (PASSAGLI, 2018, p. 38).
O corpo humano possui diferentes mecanismos de proteção 
para minimizar ou até evitar a absorção do xenobiótico. Por exemplo: 
a pele e a película de suor e gordura que a recobrem atuam como 
barreira efetiva para várias substâncias químicas, impedindo sua 
penetração; a camada queratinosa da pele (formada por células 
mortas) resiste, até certo ponto, à ação da água, ácidos, raios 
ultravioleta etc. e ação das células sanguíneas denominadas 
macrófagos alveolares que englobam e tentam destruir os agentes 
estranhos. Porém, caso a exposição persista e/ou ocorra em altas 
doses, esses mecanismos de proteção tornam-se ineficientes e o 
xenobiótico instala-se no organismo. 
Ocorrendo isto, o processo de intoxicação prossegue, ou seja, o agente 
tóxico começa a movimentar-se no organismo. Para se evitar uma doença 
ou intoxicação, deve-se então eliminá-lo ou neutralizá-lo. Entram em cena os 
mecanismos de desintoxicação, que são a biotransformação e a excreção.
3.3 Biotransformação
Biotransformação é o conjunto de alterações químicas que as substâncias 
sofrem no organismo, geralmente pela ação de enzimas. Essas alterações 
modificam as moléculas dos agentes tóxicos, produzindo compostos mais polares 
e hidrossolúveis. Biotransformação e detoxicação não são sinônimos.
A detoxificação (desintoxicação) pode ser entendida como a biotransformação 
de um agente tóxico que resulta em um composto menos tóxico. O oposto à 
detoxificação seria a biotoxificação (intoxicação). A maior parte dos agentes 
tóxicos ao serem biotransformados sofrem desativação, ou seja, o produto 
resultante da biotransformação é menos ativo (menos tóxico) que o precursor. 
30
 Química e Toxicologia Forense
Nestes casos, a biotransformação é, realmente, um mecanismo de detoxificação. 
Esta não é, entretanto, uma regra geral; como exemplo cita-se a biotransformação 
dos hidrocarbonetosaromáticos policíclicos, quando os mesmos são convertidos 
em derivados arilados, que podem reagir com proteínas, induzindo a mutações, 
câncer e anormalidades embrionárias (PASSAGLI, 2018, p. 42).
Enzima é um tipo de proteína que possui ação catalítica, ou 
seja, interferem nas reações químicas, normalmente sem participar 
de forma direta da mesma, alterando a sua velocidade de reação. 
Uma proteína, por sua vez, é um polímero de um aminoácido. As 
proteínas existem em todas as células vivas, constituindo-se em 
cerca de 3/4 do peso seco dos tecidos animais. Algumas proteínas 
têm função estrutural (pele, cabelos, fibras musculares); outras têm 
função reguladora (hormônios); outras participam ativamente dos 
mecanismos imunológicos de defesa dos organismos (anticorpos); 
outras têm a função catalisadora, atuando como enzimas 
(HOFFMAN, 1996).
A biotransformação dos xenobióticos é catalisada por enzimas inespecíficas. 
As reações envolvidas na biotransformação são divididas em: 
• Reações de Fase I: oxidação, redução, hidrólise, as quais adicionam 
às moléculas grupos polares, aumentando sua hidrossolubilidade 
e sua toxicidade (compostos mais ativos que o agente tóxico) e 
esse processo também é chamado bioativação. Na metabolização 
do etanol ocorre a produção de um agente mais tóxico ao final da 
fase I (aldeído), em seguida, uma outra reação de fase I transforma 
o aldeído em ácido carboxílico, o qual é menos tóxico que o anterior 
e é a forma hidrossolúvel excretada na urina (OGA; CAMARGO; 
BATISTUZZO, 2008, p.18).
• Reações de Fase II: conjugação, acetilação, glicuronidação, metilação 
etc. Essas reações caracterizam-se pela incorporação de cofatores 
endógenos aos produtos da fase I. Porém, alguns AT, como morfina, 
codeína e heroína sofrem diretamente a conjugação com ácido 
glicurônico, sem passar pela fase I (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 
2008, p. 16).
Na metabolização 
do etanol ocorre 
a produção de 
um agente mais 
tóxico ao final da 
fase I (aldeído), 
em seguida, uma 
outra reação de 
fase I transforma o 
aldeído em ácido 
carboxílico, o qual 
é menos tóxico que 
o anterior e é a 
forma hidrossolúvel 
excretada na urina 
(OGA; CAMARGO; 
BATISTUZZO, 2008, 
p.18).
31
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
A biotransformação de agentes tóxicos por oxidação se dá pela ação das 
enzimas do grupo oxidase, localizadas no fígado. As reações de oxidação são as 
mais frequentes, sendo esta a tendência dos processos bioquímicos no reino animal.
 
O sistema enzimático principal na oxidação de xenobióticos é o chamado 
Citocromo P450 (CYP450). Essas enzimas representam uma superfamília ampla 
e diversificada de proteínas responsáveis por oxidar um grande número de 
substâncias para torná-las mais polares e hidrossolúveis. O CYP450 parece estar 
localizado nas camadas profundas na membrana do retículo endotelial liso (REL), 
mais especificamente nos microssomos hepáticos. Esta enzima é a oxidase 
terminal do sistema de oxidases mistas. Ela recebe os elétrons provenientes de 
outras fases da reação, se reduz e se liga ao O2 e ao fármaco, promovendo de 
fato a oxidação do composto (PASSAGLI, 2018, p. 43). 
Em menor escala, a biotransformação de agentes tóxicos por redução se dá 
pela ação das flavoproteínas, também situadas no fígado. As reações de hidrólise 
ocorrem pela ação das enzimas do grupo esterases, as quais podem localizar-se no 
fígado, plasma do sangue e outros tecidos. Geralmente estas esterases não têm uma 
boa especificidade, ou seja, uma esterase pode, além de hidrolisar ésteres, provocar a 
quebra de acetanilidas, amidas e outros derivados da anilina (PASSAGLI, 2018, p. 43).
Nas reações de conjugação, o xenobiótico, proveniente ou não da fase pré-
sintética, se liga a substratos endógenos do organismo formando metabólitos 
com tamanho molecular elevado e, consequentemente, mais excretáveis e 
menos tóxicos. Ou seja, na conjugação observa-se: aumento do tamanho, maior 
polaridade, maior ionização, maior excreção, menor toxicidade. Os principais 
compostos endógenos envolvidos na conjugação são:
• Aminoácidos e seus derivados, tais como a glicina, cisteína etc.
• Carboidratos e seus derivados, especialmente o ácido glicurônico e 
glicose.
• Conjugação com compostos simples, como por exemplo, sulfato e acetato. 
O composto endógeno envolvido na conjugação está, geralmente, na 
sua forma “ativa”, ou seja, ligado a uma coenzima da qual é transferido para o 
xenobiótico. As conjugações mais frequentes são aquelas feitas com ácido 
glicurônico e com o sulfato (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 18).
A biotransformação pode ser intensificada pela presença de substâncias 
indutoras da síntese de enzimas específicas, esse fenômeno ocorre devido 
ao aumento da concentração de algumas enzimas microssomiais e acarreta 
um aumento da velocidade de excreção dos produtos biotransformados. 
Contrariamente, substâncias inibidoras de certos grupos enzimáticos reduzem 
32
 Química e Toxicologia Forense
a velocidade do processo de biotransformação (PASSAGLI, 2018, p. 44). A 
biotransformação varia com alguns fatores, tais como:
• Idade: o recém-nascido tem biotransformação mais lenta, pois apresenta 
apenas 20 a 50% da atividade do cit. P450 dos adultos. Os idosos 
possuem menor biotransformação de AT porque apresentam atividade 
diminuída de cit. P450, menor fluxo sanguíneo e menor eficiência dos 
sistemas de excreção renal e biliar.
• O estado nutricional: deficiências de vitaminas reduzem a velocidade 
de biotransformação.
• Dose e frequência: a frequência pode levar a uma sensibilização ou 
indução de receptores enzimáticos, aumentando a biotransformação.
• Estado patológico: doenças cardiovasculares diminuem o fluxo 
sanguíneo no fígado e doenças hepáticas acarretam redução drástica 
da atividade hepática e, consequentemente, a taxa de biotransformação 
(OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 21; PASSAGLI, 2018, p. 44).
3.4 Excreção
A excreção de xenobióticos pode ocorrer através de fluidos corporais e 
outros materiais, como fezes e ar expirado. A via de eliminação de importância é 
determinada pelas propriedades físico-químicas dos compostos. A excreção pode 
ser entendida como o processo oposto ao de absorção e é a eliminação do agente 
tóxico “in natura” ou biotransformado. Essa eliminação pode ocorrer através das 
secreções (secreção biliar, sudorípara, lacrimal, salivar, láctea), através das 
excreções (urina, fezes e catarro) ou através do ar expirado. O processo mais 
importante para a toxicologia é a excreção urinária (PASSIAGLI, 2018, p. 46).
A excreção renal ocorre em três etapas:
a) filtração glomerular, em que após a filtração pelos glomérulos 
pode ocorrer a reabsorção passiva do AT ou de seus metabólitos 
nos túbulos renais. Ou, as substâncias podem ser eliminadas. As 
substâncias de caráter alcalino são eliminadas na urina ácida e as 
substâncias ácidas são eliminadas na urina alcalina, assim essas 
substâncias estarão ionizadas e serão hidrossolúveis;
b) difusão tubular passiva: substâncias lipossolúveis nos capilares 
renais podem atravessar a membrana por difusão passiva e cair 
nos túbulos e podem ser eliminadas ou reabsorvidas;
c) secreção tubular renal, que tem as características do transporte 
ativo (WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).
33
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
De acordo com Passagli (2018, p. 48), vários fatores podem interferir na 
velocidade e na via de excreção, são eles:
• via de introdução;
• afinidade por elementos do sangue e tecidos (AT na sua forma livre está 
disponível à eliminação);
• facilidade de ser biotransformado (aumento da polaridade facilita a 
excreção urinária);
• frequência respiratória (as trocas gasosas ocorrem mais rapidamente);
• função renal(qualquer doença ou disfunção leva ao acúmulo de AT).
Associado ao fenômeno de excreção surge o conceito de meia vida biológica 
do agente tóxico. 
Os AT encontrados nas fezes são, geralmente, aqueles com fração não ingerida 
ou absorvida, por isso esse material tem pouca relevância toxicológica. A eliminação 
de AT (líquidos voláteis e gases inalados) pode ocorrer, parcialmente, pelo ar exalado. 
Nesse processo ocorre difusão través de membranas e os gases com menor 
solubilidade no sangue são rapidamente eliminados (PASSAGLI, 2018, p. 48).
1 A toxicocinética é um estudo da relação entre a quantidade de um 
agente tóxico que atua sobre um organismo e a concentração dele 
no plasma, relacionando os processos de absorção, distribuição e 
eliminação do agente, em função do tempo. Em relação a este assunto, 
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Biotransformação é toda alteração que ocorre na estrutura 
química da substância no organismo.
( ) As substâncias lipofílicas são facilmente absorvidas e facilmente 
excretadas.
( ) As substâncias hidrofílicas têm absorção mais precária, mas são 
facilmente excretadas.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V - F - V.
b) ( ) F - F - V.
c) ( ) F - V - V.
d) ( ) V - V - F.
34
 Química e Toxicologia Forense
4 Toxicodinâmica de Agentes 
Tóxicos
A toxicodinâmica descreve as ações dos AT no organismo e as influências 
das suas concentrações na magnitude das respostas. Todas as substâncias 
químicas tóxicas atuam alterando as condições fisiológicas e normais das células 
(OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 29).
A Figura 10 mostra os estágios potenciais no desenvolvimento da toxicidade 
após a exposição a xenobióticos. Uma via comum é quando o toxicante alcança 
a molécula-alvo e reage com ela, resultando numa disfunção celular. Outras 
vezes, o xenobiótico não alcança o alvo específico, mas influencia adversamente 
o (micro) ambiente biológico, causando disfunção molecular, celular, de organelas 
ou órgãos, levando a efeitos deletérios. O caminho mais complexo envolve mais 
etapas. Primeiro, o toxicante alcança o alvo e interage com moléculas endógenas, 
causando perturbações na função ou estrutura celular, iniciando mecanismos que 
provocam dano. Quando estas perturbações induzidas pelo toxicante excedem 
a capacidade de reparação do organismo, a toxicidade se manifesta, podendo 
ocorrer, por exemplo, necrose tissular, câncer ou fibrose.
FIGURA 10 – ESTÁGIOS POTENCIAIS NO DESENVOLVIMENTO 
DE TOXICIDADE APÓS EXPOSIÇÃO A TOXICANTES
FONTE: Adaptado de Gregus e Klaasen (2001)
35
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
A intensidade de um efeito tóxico depende primeiramente da concentração 
e persistência do toxicante (toxicante final) no seu sítio de ação. O toxicante final 
é a espécie química que reage com moléculas endógenas-alvo (por exemplo, 
receptor, enzima, DNA, proteína, lipídio) ou altera criticamente o (micro) ambiente 
biológico, iniciando alteração estrutural ou funcional que resulta na toxicidade. 
Frequentemente, esse toxicante final é um metabólito do composto inicial, ao qual 
o organismo é exposto, gerado na biotransformação. Ocasionalmente, o toxicante 
final pode ser uma molécula endógena. 
No caso dos medicamentos, é importante diferenciar reação adversa e 
intoxicação. Reação adversa é provocada com dose terapêutica, devido a 
não seletividade do medicamento por um único alvo molecular ou por esse 
medicamento estar distribuído em diferentes sítios do organismo. A intoxicação 
medicamentosa deve-se ao uso de dose excessiva do medicamento, 
intencionalmente ou de forma acidental (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, 
p. 29).
Tolerância é uma resposta diminuída a um AT devido a uma exposição prévia 
a esse AT ou a uma substância química de estrutura similar. Seletividade de ação 
é quando o AT causa danos somente a um tipo de órgão ou estrutura (WHALEN; 
FINKEL; PANAVELIL, 2016).
Principais mecanismos de ação tóxica:
a) Modificação na permeabilidade da membrana
Como foi visto anteriormente, as membranas celulares têm papel fundamental 
na absorção ou não absorção do AT. “A modificação de sua permeabilidade afeta 
a entrada e saída de nutrientes como fármacos e excretas, além dos íons Na, K e 
Ca, responsáveis pelos fenômenos de polarização e despolarização da membrana 
e, consequentemente, pela transmissão elétrica do impulso nervoso” (GOLAN et 
al., 2012, p. 95). 
A neurotoxicidade do DDT, por exemplo, é o resultado da interferência 
nos íons sódio, alterando a permeabilidade da membrana. Muitos solventes 
orgânicos produzem efeitos depressores do sistema nervoso central devido a sua 
capacidade de alterar a fluidez da membrana, tornando-a mais densa e rígida, 
comprometendo processos que necessitem de mudanças rápidas e reversíveis na 
estrutura das membranas. O álcool etílico altera a fluidez das membranas devido 
a sua propriedade lipofílica. Desta forma, ele dissolve o componente lipídico e 
diminui a sua viscosidade (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 29). 
36
 Química e Toxicologia Forense
b) Modificação na atividade enzimática
Alguns AT são capazes de inibir a ação de enzimas com funções essenciais. 
Entre os agentes que atuam dessa forma estão os organofosforados e o cianeto.
Os organofosforados inativam as enzimas colinesterases, através da 
fosforilação do sítio esterásico, tornando a recuperação da enzima extremamente 
lenta e, assim, ocorre acúmulo de acetilcolina nas terminações nervosas. “O 
cianeto age complexando com o heme da citocromo oxidase, incapacitando-o de 
fixar o oxigênio” (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 33).
Além do fenômeno de inibição enzimática deve-se considerar o fenômeno 
relacionado com a indução enzimática, que supõe um incremento na atividade de 
algumas enzimas como consequência da absorção de determinados xenobióticos.
c) Interações de agentes tóxicos com receptores
Os receptores seriam macromoléculas situadas nas membranas celulares, 
citoplasma ou núcleo. Por exemplo, o curare (alcaloide extraído de plantas da 
América do Sul) atua em receptores das junções neuromusculares. 
d) Inibição da fosforilação oxidativa
Interferências na produção de energia celular (ATP) e bloqueio da liberação 
de oxigênio aos tecidos. Esse bloqueio pode ocasionar alteração na integridade 
das membranas, interferência nas bombas iônicas e na síntese proteica. O 
cianeto, por exemplo, bloqueia a utilização de oxigênio pelos tecidos por inibição 
do transporte de elétrons. A oxidação do ferro na hemoglobina pelos nitritos, 
formando metemoglobina, interfere com a transferência de oxigênio, pois a 
metemoglobina não transporta O2 (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 33).
Na exposição a mais de dois toxicantes, deve-se considerar a possibilidade 
de um composto interferir na ação do outro. Portanto, numa mistura de agentes 
tóxicos pode haver alterações dos efeitos que produziriam separadamente. 
No efeito aditivo, o efeito tóxico final é igual à soma dos efeitos produzidos 
separadamente. Por exemplo, a exposição ao chumbo e ao arsênio na inibição da 
biossíntese do heme, em que ocorre um aumento aditivo de coproporfirinogênio 
na urina. No efeito sinérgico, o efeito final é maior do que a soma dos efeitos 
individuais. A exposição ao tetracloreto de carbono e compostos clorados 
aromáticos promovem uma hepatotoxicidade sinérgica.
37
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
Na potenciação, um xenobiótico apresenta seu efeito aumentado por interagir 
com outro toxicante que, originalmente, não produziria aquele efeito tóxico. 
O propanolol não é hepatotóxico, entretanto, junto ao tetracloreto de carbono 
aumenta a hepatotoxicidade deste (KLAASSEN; WATKINS III, 2009, p. 8).Quando um toxicante reduz o efeito tóxico de outro, observa-se um 
antagonismo, em que o efeito tóxico final será menor. No antagonismo competitivo, 
o antagonista compete com o agonista pelo mesmo sítio de ação, sem reagir 
com este último, nem com seus receptores. Por exemplo, os praguicidas 
organofosforados inibem a enzima colinesterase, com o acúmulo de acetilcolina 
nas sinapses colinérgicas. A atropina (antagonista) bloqueia os receptores de 
acetilcolina, sendo usada no tratamento das intoxicações por organofosforados. 
No antagonismo químico, o antagonista reage com o agonista (responsável pela 
ação tóxica), inativando-o. Por exemplo, o EDTA forma complexos solúveis com o 
chumbo. Quando dois agonistas agem sobre o mesmo sistema produzindo efeitos 
contrários, tem-se o antagonismo funcional. Os glicosídeos cardiotônicos, por 
exemplo, aumentam a pressão arterial e os bloqueadores α-adrenérgicos atuam 
diminuindo a pressão arterial (GOLAN et al., 2012, p. 275).
4.1 Efeitos Tóxicos Reversíveis e 
Irreversíveis
Algumas substâncias químicas podem provocar efeitos tóxicos com lesão 
patológica a um tecido que pode ser reversível ou irreversível, isso vai depender da 
capacidade regenerativa do tecido. O tecido hepático apresenta alta capacidade 
de regeneração, portanto, a maioria das lesões são reversíveis. Já no sistema 
nervoso central, que apresenta células diferenciadas que não são substituíveis, 
as lesões são normalmente irreversíveis. Efeitos carcinogênicos e teratogênicos 
sempre serão irreversíveis (KLAASSEN; WATKINS, 2009, p. 8).
38
 Química e Toxicologia Forense
FIGURA 11 – VISÃO GERAL DO METABOLISMO DO BENZENO
FONTE: Adaptado de Anderson et al. (2014)
1 Que é DL50 e o que representa?
2 Na intoxicação, os complexos eventos envolvidos podem ser 
desdobrados nas chamadas fases de intoxicação. Qual é a fase 
em que as superfícies externa ou interna do organismo entram 
em contato com o toxicante?
3 No âmbito da toxicologia existem conceitos que devem ser 
conhecidos para estudo do tema. Dentre os conceitos de 
toxicologia, analise as afirmativas a seguir:
I- Agente tóxico é a entidade química capaz de causar dano a um 
sistema biológico, alterando seriamente uma função ou levando-o 
à morte, sob certas condições de exposição.
II- Droga é toda substância capaz de modificar ou explorar o sistema 
fisiológico ou estado patológico, utilizada com ou sem intenção de 
benefício do organismo receptor.
III- Ação tóxica é a maneira pela qual um agente tóxico exerce sua 
atividade sobre as estruturas teciduais.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
39
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
5 Aplicação da Química, 
Farmacologia e Toxicologia na 
Elucidação de Crimes Envolvendo 
Tráfico de Entorpecentes, 
Agrotóxicos, Medicamentos, 
Bebidas e Adulteração de 
Combustíveis
A toxicologia e a química forense são responsáveis pela análise de vestígios 
e produção de provas materiais de interesse judiciário. Essas áreas englobam 
a identificação de substâncias lícitas e ilícitas em materiais biológicos (sangue, 
esperma, liquor, tecidos) e em outros tipos de materiais; a análise da presença 
de agrotóxicos e da adulteração de medicamentos, bebidas, alimentos e até 
combustíveis. 
A química pode contribuir para a elucidação de diferentes casos de crimes 
facilitados por drogas, os quais normalmente implicam no uso de substâncias com 
fortes efeitos depressores do sistema nervoso central, e que são usadas para 
transformar as pessoas em vítimas fáceis de roubos ou assaltos sexuais. Dentre 
os crimes, nos quais a química forense pode atuar ativamente estão:
• Crimes contra o patrimônio, como por exemplo, roubo com o uso de boa-
noite cinderela.
• Crimes contra a vida: homicídio, indução ao suicídio, infanticídio e aborto.
• Crimes contra a dignidade sexual: na análise de fluidos corporais e 
detecção de drogas facilitadoras de abuso sexual.
• Crimes contra a administração pública: diferenciação de papéis e tintas 
usados para a falsificação de documentos.
• Crimes ambientais: análise de água, solo e ar que podem estar poluídos.
• Crimes em relação à Lei de Drogas: na análise, identificação e 
caracterização de substâncias lícitas ou ilícitas. Acidentes de trânsito: 
análise do teor de etanol.
• Fraudes diversas: nas fraudes de medicamentos, suplementos 
alimentares, bebidas, alimentos e combustíveis (BRUNI; VELHO; 
OLIVEIRA, 2012). 
Investigações sobre narcóticos e o tráfico de entorpecentes tomam conta 
do país devido ao alto número de substâncias lícitas e ilícitas comercializadas. 
40
 Química e Toxicologia Forense
Maconha, cocaína, opioides e drogas sintéticas são substâncias consumidas 
mundialmente e em taxas que mudam de acordo com o país e a região. 
Segundo o Relatório Mundial Sobre Drogas (UNODC, 2018), a cannabis foi 
a droga mais usada em 2016, o número global de usuários de cannabis continua 
a aumentar e aparenta ter expandido em aproximadamente 16% na última 
década até o ano 2016, refletindo assim um aumento similar na população global. 
Drogas como a heroína e a cocaína, que têm estado disponíveis por um período 
significativo, coexistem de modo crescente com novas substâncias psicoativas 
(NSP) e medicamentos sob prescrição. Houve aumento no fluxo de preparações 
farmacêuticas de origens pouco claras destinadas ao uso não medicinal. 
FIGURA 12 – NÚMERO DE USUÁRIOS DE DROGAS NO ANO DE 2016
FONTE: Adaptado de UNODC (2018)
As drogas sintéticas (“designer drugs”) ou NPS são substâncias químicas ou 
mistura delas com ação principal sobre o sistema nervoso central. Essas drogas 
são produzidas em laboratórios domésticos e clandestinos, por meio de síntese 
química com componentes ativos normalmente não encontrados na natureza. 
Porém, seus componentes apresentam baixo custo e são facilmente encontrados 
no mercado ilícito. Essas drogas são muito usadas em “raves” e clubes noturnos 
(PASSAGLI, 2018). 
De acordo com o Escritório das Nações Unidas (UNODC, 2018), no Brasil, 
o mercado consumidor de novas drogas sintéticas é crescente. No período entre 
2008 e 2015 foram identificadas 644 NPS em 106 países. Ainda, segundo a 
41
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
UNODC (2018), canabinoides sintéticos representam 35% das NPS reportadas 
até 2015. Eles podem ser vendidos sob o nome de K2, “spice’’ ou incensos 
herbais. Sua venda é feita através da internet ou coffeshops em países onde a 
venda da cannabis é legal (PASSAGLI, 2018).
A legislação brasileira só considera droga uma substância elencada na 
Portaria nº 344/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Logo, 
uma substância que foi modificada quimicamente e não se encontra na lista da 
Portaria nº 344 não pode ser considerada droga. Infelizmente, o mercado de 
novas drogas sintéticas está em plena expansão. Em seu trabalho, o toxicologista 
e químico forense deve analisar, identificar e classificar as substâncias ilícitas e as 
NSP em uso no país, contribuindo para a fiscalização e controle do crescimento 
deste mercado ilícito no país. 
A identificação inicial de drogas pode ser realizada através de métodos 
colorimétricos, através de kits, de uma forma simples e rápida. Em seguida, ocorre 
uma análise detalhada das substâncias que compõem o material apreendido, pelo 
uso de equipamentos e técnicas mais seguras, por meio das quais se consegue 
conhecer a origem dos entorpecentes (MOTA, 2013). O trabalho da toxicologia 
forense é indispensável na elucidação de crimes, na punição de responsáveis e no 
conhecimento disponibilizado à sociedadeatravés de seus dados (SILVA et al., 2018).
A identificação e quantificação do teor alcoólico em seres vivos é realizada em 
indivíduos envolvidos em acidente de trânsito ou em operações de fiscalização. 
Após um acidente de trânsito com vítima fatal, o motorista pode passar por 
exames clínicos e toxicológicos. Como a eliminação do álcool ocorre de forma 
gradativa e regular, esses exames devem ser realizados em tempo hábil para 
que as provas materiais sejam geradas. Além disso, a estabilidade do etanol nas 
amostras coletadas é um ponto crítico para a análise. Dentro do frasco de coleta 
pode ocorrer formação de etanol pela ação de microrganismos. Também pode 
ocorrer diminuição do álcool etílico pelo consumo de bactérias ou pela evaporação 
do álcool dentro do frasco, ocorrendo o escape para a atmosfera quando o frasco 
for aberto (BRUNI et al., 2012). 
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em 
acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito 
poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro 
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma 
disciplinada pelo Contran, permita certificar influência de álcool 
ou outra substância psicoativa que determine dependência 
(Lei nº 12.760, de 2012, s.p.).
Outra questão que deve ser levada em consideração é a adulteração de 
bebidas, drogas e medicamentos. É enorme e crescente o número de ocorrências 
42
 Química e Toxicologia Forense
de crimes facilitados com o uso de drogas e isso se tornou um problema sério de 
saúde e segurança pública. O surgimento de NSP e a facilidade de acesso às 
mesmas aumentam a demanda de trabalho dos toxicologistas forenses. Há uma 
grande dificuldade na identificação das novas substâncias sem métodos analíticos 
para a sua detecção rápida (PRIOR; RIBEIRO; SANTOS, 2013).
De acordo com a Sociedade dos Toxicologistas Forenses (SOFT, do inglês 
Society of Forensic Toxicologists), existem mais de 50 drogas reconhecidas 
ou suspeitas de serem usadas em crimes facilitados por drogas (SOFT, 2018). 
As substâncias mais comumente encontradas são drogas de abuso recreativo, 
medicamentos sujeitos à prescrição médica obrigatória e etanol. Entre os 
fármacos normalmente implicados nestes casos podem destacar-se os 
benzodiazepínicos, barbitúricos e anti-histamínicos. Todas essas substâncias 
apresentam propriedades ansiolíticas, calmantes ou hipnóticas e são depressores 
do sistema nervoso central. Adicionalmente, os seus efeitos são perigosamente 
potenciados quando as drogas são ingeridas com álcool.
Uma observação interessante é que é de extrema relevância a 
execução de análises nas bebidas suspeitas de adulteração, visto que a 
estabilidade química e a concentração das substâncias são maiores nas 
bebidas do que no material biológico (PRIOR; RIBEIRO; SANTOS, 2013).
Um ponto que tem levantado muitos estudos e pesquisas é a 
presença de adulterantes e/ou diluentes nas drogas, os quais o usuário 
consome com a droga, sem prévio conhecimento. Estes adulterantes 
podem ter princípios ativos que geram efeitos tóxicos nos usuários, 
podendo levar a consequências graves associadas aos efeitos das 
drogas ou até mascarar a presença dessas drogas nos ensaios 
laboratoriais (MAGALHÃES et al., 2013).
O objetivo da adulteração da composição final da droga é, 
principalmente, aumentar seu volume ou potencializar o efeito do 
princípio ativo da droga em si. A identificação destes adulterantes permite 
descobrir a sua fonte de fabricação, caso já existam registros de investigação 
policial e padrões laboratoriais conhecidos (MAGALHÃES et al., 2013).
Uma das drogas que vem sendo adulterada constantemente é a cocaína 
(Tabela 2), que é comercializada principalmente como sal (cloridrato de cocaína) 
ou como “crack”, pasta-base de cocaína, mais barata e mais facilmente produzida. 
Várias podem ser as consequências para o usuário. Existem vários relatos de casos 
na literatura de usuários que deram entrada em hospitais com quadros graves devido 
à presença de certos adulterantes. O levamisol, por exemplo, desencadeia infecções 
recorrentes e oportunistas por ser um imunossupressor (ALCÂNTARA, 2006).
Uma observação 
interessante é 
que é de extrema 
relevância a 
execução de 
análises nas 
bebidas suspeitas 
de adulteração, visto 
que a estabilidade 
química e a 
concentração das 
substâncias são 
maiores nas bebidas 
do que no material 
biológico (PRIOR; 
RIBEIRO; SANTOS, 
2013).
43
Farmacologia dos Agentes Tóxicos Capítulo 1 
TABELA 2 – PRINCIPAIS ADULTERANTES ENCONTRADOS 
NA COCAÍNA E SEUS EFEITOS
FONTE: Adaptado de Alcântara (2006)
A adulteração de combustíveis e a falsificação de agrotóxicos são áreas 
criminais em que a química tem papel importante na identificação de substâncias. 
O uso de combustíveis adulterados acarreta deterioração precoce dos veículos, 
danos ao meio ambiente, devido à combustão irregular e o prejuízo à arrecadação 
de impostos. A adulteração de combustíveis ocorre principalmente pela adição de 
solventes ou água, ou pela presença de substâncias acima das especificações 
permitidas. A fiscalização da qualidade dos combustíveis está a cargo da ANP 
(Agência Nacional de Petróleo). Porém, quando há suspeita de adulteração, é 
comum a realização de laudos preliminares e, havendo indício de irregularidade, 
as amostras são encaminhadas para a análise definitiva. Nesse contexto, a ANP 
pode contar com a parceria da polícia técnica (DE SOUZA NETO et al., 2004).
Agrotóxicos proibidos no território brasileiro são comercializados legalmente em 
países vizinhos, o que facilita a compra dos produtos no exterior e o contrabando no 
Brasil (LEMOS; CARVALHO; ORTIZ, 2018). A agricultura brasileira é 
altamente dependente de agrotóxicos e, em 2008, nos tornamos o país com 
o maior mercado mundial desses produtos. No Brasil, o uso de agrotóxicos 
ilegais é tipificado como crime e infração penal ambiental e a sua importação 
é considerada contrabando e sonegação fiscal. A existência de alimentos 
produzidos em lavouras que utilizam agrotóxicos ilegais traz riscos à saúde 
pública. A realização de análises quantitativas em agrotóxicos apreendidos 
pela perícia toxicológica, pode gerar informações confiáveis para embasar 
políticas de repressão a esse crime (FRAGA et al., 2016).
“Art. 15. Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, 
prestar serviço, der destinação a resíduos e embalagens vazias 
de agrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento às 
exigências estabelecidas na legislação pertinente estará sujeito à pena 
de reclusão de dois a quatro anos, além de multa” Lei nº 7.802/89 (com a 
redação que lhe deu a Lei nº 9.974, de 06.06.2000) (BRASIL, 1989, s.p.).
Adulterante Efeito
Lidocaína Anestésico local
Benzocaína Anestésico local
Caféina Estimulante
Fenacetina Analgésico e antipirético
Aminopirina Analgésico antiinflamatório
Levamisol Imuno regulados e antihelmíntico
amido, carbonatos, talco Diluentes inertes
“Art. 15. Aquele que 
produzir, comercializar, 
transportar, aplicar, 
prestar serviço, der 
destinação a resíduos 
e embalagens vazias 
de agrotóxicos, seus 
componentes e afins, 
em descumprimento 
às exigências 
estabelecidas na 
legislação pertinente 
estará sujeito à pena 
de reclusão de dois a 
quatro anos, além de 
multa” Lei nº 7.802/89 
(com a redação 
que lhe deu a Lei nº 
9.974, de 06.06.2000) 
(BRASIL, 1989, s.p.).
44
 Química e Toxicologia Forense
O gráfico a seguir representa a relação dose/resposta para uma 
substância hipotética em uma população homogênea, sendo que o 
efeito medido foi a letalidade. A respeito desta análise toxicológica, 
em que DL50 é a dose que causou a morte de 50% dos indivíduos 
analisados, assinale a opção correta:
FONTE: Adaptado de CESPE/UnB

Continue navegando