Buscar

Geografia das Redes - Coleção Formando Educadores

Prévia do material em texto

GEOGRAFIA DAS 
REDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cláudia Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COLEÇÃO FORMANDO EDUCADORES 
EDITORA NUPRE 
2010 
GEOGRAFIA DAS 
REDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REDE DE ENSINO FTC 
 
William Oliveira 
PRESIDENTE 
 
Reinaldo Borba 
VICE-PRESIDENTE DE INOVAÇÃO E EXPANSÃO 
 
Fernando Castro 
VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO 
 
João Jacomel 
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO 
 
Cristiane de Magalhães Porto 
EDITORA CHEFE 
 
Francisco França Souza Júnior / Lorena Porto Seroes 
CAPA 
 
Mariucha Silveira Ponte 
PROJETO GRÁFICO 
 
Cláudia Santos 
AUTORIA 
 
Larissa Valéria Costa Aragão 
DIAGRAMAÇÃO 
 
Larissa Valéria Costa Aragão 
ILUSTRAÇÕES 
 
Corbis/Image100/Imagemsource/Stock.Xchng 
IMAGENS 
 
Hugo Mansur 
Márcio Melo 
Paula Rios 
REVISÃO 
 
 
 
 
COPYRIGHT © REDE FTC 
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. 
É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização 
prévia, por escrito, da REDE FTC - Faculdade de Tecnologia e Ciências. 
www.ftc.br 
 
 
SUMÁRIO 
1 CONCEITOS E TEMAS SOBRE AS REDES ......................................................................................9 
1.1 TEMA 1. A NATUREZA DAS REDES ............................................................................................11 
1.1.1 CONTEÚDO 1. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS REDES NO MUNDO 
CONTEMPORÂNEO .........................................................................................................11 
1.1.2 CONTEÚDO 2. REDES: CONCEITOS E TEMAS ..................................................................16 
1.1.3 CONTEÚDO 3. CONTRIBUIÇÕES GEOGRÁFICAS AOS ESTUDOS DAS REDES ...................21 
1.1.4 CONTEÚDO 4. AS DIFERENTES ESCALAS DAS REDES ......................................................32 
MAPA CONCEITUAL ...........................................................................................................................37 
ESTUDO DE CASO ..............................................................................................................................38 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ...................................................................................................................39 
 
1.2 TEMA 2. O GLOBAL E O LOCAL ..................................................................................................45 
1.2.1 CONTEÚDO 1. INTERAÇÕES ESPACIAIS E DINÂMICA BRASILEIRA ..................................45 
1.2.2 CONTEÚDO 2. O MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL ....................................51 
1.2.3 CONTEÚDO 3. A COMPRESSÃO TÊMPORO-ESPACIAL: FIM DAS DISTÂNCIAS? ..............58 
1.2.4 CONTEÚDO 4. OS EXCLUÍDOS DAS REDES ......................................................................60 
MAPA CONCEITUAL ...........................................................................................................................67 
ESTUDO DE CASO ..............................................................................................................................68 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ...................................................................................................................69 
2 TERRITÓRIO E REDES .............................................................................................................. 77 
2.1 TEMA 3. AS REDES NO BRASIL ..................................................................................................79 
2.1.1 CONTEÚDO 1. O TERRITÓRIO E AS REDES ......................................................................79 
2.1.2 CONTEÚDO 2. A IMPORTÂNCIA DAS REDES NA CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO 
BRASILEIRO .....................................................................................................................84 
2.1.3 CONTEÚDO 3. AS REDES DE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS NO BRASIL .....................90 
2.1.4 CONTEÚDO 4. TRANSPORTES, COMUNICAÇÃO E URBANIZAÇÃO NO BRASIL ...............94 
MAPA CONCEITUAL .........................................................................................................................105 
ESTUDO DE CASO ............................................................................................................................106 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................................................107 
 
2.2 TEMA 4. O ESTUDO E A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS REDES NO ENSINO FUNDAMENTAL E 
MÉDIO .....................................................................................................................................113 
2.2.1 CONTEÚDO 1. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS REDES NO ENSINO FUNDAMENTAL E 
MÉDIO ...........................................................................................................................113 
2.2.2 CONTEÚDO 2. A LINGUAGEM DA GEOGRAFIA NO ESTUDO DAS REDES NO ENSINO 
FUNDAMENTAL E MÉDIO .............................................................................................118 
2.2.3 CONTEÚDO 3. GEOGRAFIA DAS REDES NO ENSINO FUNDAMENTAL: AS DIVERSAS 
POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM ................................................................................122 
2.2.4 CONTEÚDO 4. GEOGRAFIA DAS REDES NO ENSINO MÉDIO: AS DIVERSAS 
POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM ................................................................................128 
MAPA CONCEITUAL .........................................................................................................................139 
ESTUDO DE CASO ............................................................................................................................140 
 
 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................................................141 
GLOSSÁRIO ............................................................................................................................... 147 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 151 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
Estimados alunos, 
 
Com o processo de globalização, as redes se tornam elementos constituintes dos fluxos 
de transporte, comunicação e informação. Nesse contexto, a disciplina Geografia das Redes se 
destaca por exigir uma visão articulada entre a organização espacial e seus fluxos, inserido-nos 
no debate contemporâneo quanto ao sentido e aos efeitos das relações existentes entre tecno-
logia e sociedade. 
 A disciplina tem como objetivo analisar e compreender a nova realidade do espaço geo-
gráfico, que, desde o final do século XX e com o advento da globalização, transforma-se rapi-
damente em todos os planos – chegando ao território das redes, das velocidades, da multicen-
tralidade e das mudanças decorrentes destes aspectos. 
Esperamos que vocês aproveitem a disciplina, pois buscamos abordar conteúdos multi-
disciplinares que visam aprofundar o processo de globalização e as inter-relações com a pro-
dução do espaço geográfico. 
 
Atenciosamente, 
Professora Cláudia Santos 
 
 
 
 
 
1 
CONCEITOS E TEMAS SOBRE AS REDES 
BLOCO 
TEMÁTICO 
 
 
 
 
11 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
CONCEITOS E TEMAS SOBRE AS REDES 
1.1 
TEMA 1. 
A NATUREZA DAS REDES 
1.1.1 
CONTEÚDO 1. 
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS REDES NO MUNDO 
CONTEMPORÂNEO 
Praticamente toda ciência que busca analisar e compreender o mundo contemporâneo 
tem como um dos elementos de discussão a questão das redes. O processo de globalização que 
permeia todo o mundo nos força revogar, cada dia mais, por uma Geografia das Redes. 
 Compreender o papel das redes como elemento fundamental dos fluxos de transporte, 
comunicação e informação nos leva ao entendimento de um processo relevante denominado: 
compressão do espaço-tempo. Este processo é importante, pois está relacionadodiretamente 
com uma cotidianidade das grandes metrópoles mundiais e brasileiras. 
 
FONTE: HTTP://WWW.RAMIRO-VERISSIMO.INFO/IMAGES/INTERNET%202.PNG 
Os fluxos sempre se fizeram presentes na história da humanidade e as redes sempre fo-
ram elementos essenciais de fluidez. Para Corrêa (1999): 
 
 
12 
CLÁUDIA SANTOS 
 
Presente desde o início da vida humana – por exemplo, através dos poços, 
trilhas e pastagens temporárias entre os povos nômades – as redes geográfi-
cas refletem e condicionam a existência e reprodução social. Este era o papel 
da rede de cidades e vias do Império Romano, da Liga Hanseática, da rede 
ferroviária do século XIX e das redes das grandes corporações funcionalmen-
te complexas e multilocalizadas do final do século XX (p.67). 
Podemos dizer que no século XX e XXI as redes se tornaram elementos essenciais de 
uma análise do espaço geográfico. As redes não permitem somente uma maior circulação e 
velocidade de informação, bens e pessoas, mas também propiciam uma nova forma de socia-
bilidade entre os grupos sociais. Não há como negar, atualmente, o fenômeno dos sites de re-
lacionamento no mundo e no Brasil. Um dos exemplos clássicos no Brasil é o site de relacio-
namento “orkut”, onde 80% dos brasileiros possuem um perfil. 
A fluidez das redes propicia, também, a formação de redes consideradas “problemas” 
para o mundo, como: a rede do tráfico de drogas, a rede da prostituição, a rede da pedofilia e 
até mesmo as redes consideradas terroristas. Para analisar as características e consequências 
espaciais dos grupos considerados terroristas no mundo é preciso entender o papel das redes 
no mundo contemporâneo. Essa temática dos grupos considerados terroristas é importante e 
você como professor deve trabalhar na sala de aula. 
Como já pudemos verificar, as redes permitem uma compreensão do espaço geográfico, 
que vai do local ao global. Iremos nos aprofundar mais adiante sobre a importância das dife-
rentes escalas das redes, pois uma das premissas colocadas por Henry Lefebvre (2008)1 é a 
questão da mudança de escala. Para o autor, a mudança de escala não é algo apenas quantita-
tivo, mas essencialmente qualitativo. Não é uma questão apenas de aproximação, afastamento 
e ampliação cartográfica do fenômeno, mas também de mudança da análise e da essência do 
fenômeno. 
As redes desempenham um papel importante no processo de apropriação do espaço, 
pois produzem transformações nas construções das rodovias, ferrovias, linhas de comunica-
ção e rotas aéreas e, consequentemente, com as inovações tecnológicas tendem cada vez mais 
a produzir a compressão espaço-tempo, acelerando a velocidade e o fluxo das informações. 
Para Dias (2006): 
A questão das redes reapareceu de outra forma, renovada pelas descobertas e avanços em 
outros campos disciplinares e na própria Geografia. Neste novo contexto teórico, a análise das 
redes implica abordagem que, no lugar de tratá-la isoladamente, procure suas relações com a 
 
1
 Esta ideia foi apresentada em 1972 no livro “Le droit à la ville – suivi de Espace et politique”. No ano de 2008 
foi realizada a tradução para o português editada pela Universidade Federal de Minas Gerais. 
 
 
13 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
urbanização, com a divisão territorial do trabalho e com a diferenciação crescente que esta in-
troduziu entre as cidades. Trata-se, assim, de um instrumento valioso para a compreensão da 
dinâmica territorial brasileira (p.149). 
Entretanto a acessibilidade às redes se dá de forma homogênea nos territórios/lugares? 
Será que todas as pessoas têm acesso às inovações impostas por essas redes? São questiona-
mentos que serão desvelados essencialmente no tema 2 deste material, pois iremos nos apro-
fundar nas interações e dinâmicas espaciais e no processo dos excluídos das redes. Apenas 
para que comecemos a refletir sobre a acessibilidade dos territórios as redes, iremos demons-
trar algumas comparações estatísticas, entre alguns países, através de dados encontrados no 
site do IBGE, produzidos por um software denominado Países@. Os dados encontrados no 
site do IBGE, que envolvem a temática “redes”, foram quatro: linhas telefônicas, telefonia ce-
lular, número de computadores pessoais e usuário com acesso à internet. Para fazer as cons-
truções dos gráficos representados pelas figuras de 1 a 4 utilizamos dados de 7 países2, a ideia 
foi trabalhar com um país de cada continente, mas resolvemos, também, trabalhar com 3 da 
América para que o estudante já visualize algumas questões e contradições do próprio conti-
nente. No processo de coleta de dados, vocês podem se deparar com a ausência de dados em 
alguns países, como, por exemplo, a Coreia do Norte. Cabe ao futuro professor entender se 
realmente os habitantes dos países com ausência de dados não estão tendo acesso às redes de 
comunicação e informação, ou se os países não disponibilizaram os dados por questões estra-
tégicas baseado numa Geopolítica. 
0
10
20
30
40
50
60
Brasil Chile Eua Finlândia Somália Índia Austrália
 
FIGURA 1. NÚMERO DE USUÁRIOS COM ACESSO ÀS LINHAS TELEFÔNICAS A CADA 100 HABITANTES 
FONTE: IBGE, 2008. ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS. 
 
 
 
2
 No Tema 4 iremos descrever como é possível encontrar e trabalhar com estes dados no site do IBGE. 
 
 
14 
CLÁUDIA SANTOS 
 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
Brasil Chile Eua Finlândia Somália Índia Austrália
 
FIGURA 2. NÚMERO DE USUÁRIOS DE TELEFONIA CELULAR A CADA 100 HABITANTES 
FONTE: IBGE, 2008. ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS. 
 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Brasil Chile Eua Finlândia Somália Índia Austrália
 
FIGURA 3. NÚMERO DE COMPUTADORES PESSOAIS A CADA 100 HABITANTES 
FONTE: IBGE, 2005. ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS. 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Brasil Chile Eua Finlândia Somália Índia Austrália
 
FIGURA 4. NÚMERO DE USUÁRIOS COM ACESSO À INTERNET A CADA 100 HABITANTES 
FONTE: IBGE, 2008. ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS. 
 
 
15 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
Buscando analisar os gráficos, encontramos a primeira informação importante sobre os 
dados coletados: a noção de redes para o IBGE, através do software países@, envolve apenas as 
redes de comunicação e informação. Sabemos que as temáticas de uma geografia das redes 
envolvem também, por exemplo, as redes de transportes. A pergunta inicial sobre todos os 
territórios/lugares terem acessos iguais às redes é facilmente desconstruída pelos dados apre-
sentados pelos gráficos. Tanto a Índia como a Somália são os países que apresentam sempre os 
dados inferiores em relação à acessibilidade às redes; enquanto que a Finlândia, os EUA e a 
Austrália apresentam o número maior de habitantes em um grupo de 100 pessoas tendo aces-
so às redes de informação e comunicação. O resultado destas diferenças produz também dife-
renciações entre os territórios, pois a instrumentalização dos territórios, através das redes téc-
nicas, permite uma maior fluidez e velocidade nos processos de uma economia global. 
A instrumentalização dos territórios, através das redes de comunicação e informação, 
permite evitar grandes catástrofes advindos de fenômenos naturais como ciclones, furacões, 
tornados, terremotos, tsunamis e vulcões. Para entender a importância dessas redes de comu-
nicação e informação, vamos lembrar a ação de um tornado em Santa Catarina (Brasil), no 
ano de 2009, que atingiu três municípios: Guaraciaba, Salto Veloso e Santa Cecília. O municí-
pio de Guaraciaba apresentou os maiores estragos, com quatro mortes, 90 feridos e 250 pesso-
as desabrigadas. O Brasil, infelizmente, não possui radares meteorológicos suficiente para a-
branger o território brasileiro. Atualmente, há apenas 20 radares3 distribuídos no país e, 
segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), seria necessário pelo me-
nos100 radares meteorológicos para a produção de uma boa informação. O Brasil, além de 
não possuir uma quantidade importante para melhorar a qualidade das informações, também 
não tem uma rede integrada entre os órgãos responsáveis pela previsão do tempo, não permi-
tindo assim a fluidez e a velocidade das informações. A previsão do tempo depende também 
de informações das estações meteorológicas e das imagens captadas pelo satélite Góes. Entre-
tanto, em 2010, o satélite Góes (satélite americano) será desativado e o Brasil terá que compar-
tilhar dados com outro satélite. O problema é que quando existir uma tempestade severa nos 
EUA o satélite americano deixa de transmitir informações ao Brasil. Essas informações de-
monstram o papel da importância das redes de informação e comunicação para um país. A-
través da figura 5 demonstramos como seria a análise em redes dos estudos meteorológicos: 
 
 
 
 
 
3
 Para ser eficiente, um radar deve cobrir uma área de 250 quilômetros. 
 
 
16 
CLÁUDIA SANTOS 
 
 
FIGURA 5. ESQUEMA EM REDE DA ANÁLISE DE DADOS METEOROLÓGICOS 
(ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS) 
Ao entender os processos mais gerais, que demonstram a importância das redes no 
mundo contemporâneo, podemos entender melhor a formação e a consolidação das redes no 
Brasil. Assim, buscando relacionar uma Geografia das Redes com processos mais gerais da 
nossa sociedade com as especificidades dos territórios/lugares, é possível transpor um conteú-
do muitas vezes complexo para os nossos alunos de ensino fundamental e médio com mais 
facilidade. O desafio, futuro professor, é buscar análises contextualizadas de temáticas consi-
deradas distantes do cotidiano dos alunos. 
1.1.2 
CONTEÚDO 2. 
REDES: CONCEITOS E TEMAS 
Inicialmente quando nos colocamos diante da questão “o que são redes?” podemos nos 
remeter a diversas ideias, como: as redes telefônicas, as redes de transporte, as redes de inter-
net e podemos até mesmo pensar em redes de pesca. O termo é polissêmico. Por isso, ao tra-
balhar a relação entre as redes e a Geografia, precisamos nos colocar diante de um quadro 
teórico-metodológico geográfico, pois as redes são compreendidas em diversas perspectivas, 
que vão desde análises biológicas envolvendo as teias alimentares até análises sociológicas 
buscando a compreensão das redes sociais. Na Geografia, muitos autores, principalmente Mil-
ton Santos (2008)4 e Leila Dias (2006), advogam para uma relação primordial entre a história 
 
4
 A primeira edição do livro “A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e emoção” é de 1996, mas, para a 
construção deste material, foi utilizada a 4ª edição do livro, produzida no ano de 2008. 
 
 
17 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
das técnicas e a configuração das redes, uma temática que será bastante trabalhada na nossa 
disciplina. 
 
FONTE: HTTP://WWW.FRIENDSTRIBE.COM/IMAGES/TUTORIAL/MAIN/MAIN.PNG?IMGMAX=512 
Ao propor uma discussão sobre o que são redes, precisamos entender a priori a diferen-
ça entre definição e conceito. Quando buscamos o significado de uma palavra nos dicionários 
entramos no campo da definição. O conceito permite a compreensão de diversas realidades 
sem necessariamente delimitar os processos. O primeiro exercício de procurar o significado 
da palavra redes nos dicionários nos coloca diante das possíveis definições de redes, mas não 
de conceituações. No momento em que estudamos diversos autores, sejam eles geógrafos, bió-
logos, sociólogos e/ou arquitetos e nos deparamos com toda uma contextualização do termo 
redes, possivelmente estamos diante das diversas conceituações. Por isso, futuro professor, é 
preciso ficar claro se você vai trabalhar com definições ou conceituações. No último capítulo 
deste material iremos aprofundar um pouco mais sobre esta temática relacionando com os 
conteúdos dos livros didáticos e indicar possíveis caminhos para o estudo das redes no âmbito 
escolar. Entretanto, o ideal é que você busque trabalhar com as conceituações, pois permitirá 
debates e análises mais profundas. 
Vamos conhecer agora uma possível definição de redes encontrada no Dicionário Auré-
lio (1988): “redes são entrelaçamento de fios, cordas, cordéis, arames com aberturas regulares, 
fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido” (p.556). Segundo Dias (2007), essa defi-
nição se aproxima muito do significado etimológico da palavra rede, que “provém do latim 
retis e aparece no século XII para designar o conjunto de fios, linhas e nós” (p.59). Perceba 
que estas definições não promovem uma discussão geográfica das redes, mas permitem uma 
primeira relação com a temática da Geografia das redes. 
Dentre os autores, que consideramos importante para uma discussão dos conceitos rela-
cionados a uma geografia das redes, podemos destacar as análises propostas por Roberto Lo-
bato Corrêa (1999), Leila Christina Dias (2006), Milton Santos (2008) e Manuel Castells 
 
 
18 
CLÁUDIA SANTOS 
 
(1999). É importante salientar que Manuel Castells não é geógrafo. Ele é um sociólogo espa-
nhol, que propõe uma discussão interessante sobre uma sociedade aliada às redes. Iremos per-
ceber também, na obra desse autor, que o conceito de redes é facilmente apreendido para uma 
análise geográfica. O nosso objetivo, então, é transpor as discussões sociológicas de Castells 
para produzir fundamentações mais profundas na Geografia. 
Antes de adentrar nas discussões propostas por estes autores, que iremos denominar de 
contribuições geográficas aos estudos das redes, faz-se necessário abrir um parêntesis e cha-
mar a atenção para algumas abordagens que influenciaram na construção de um estudo das 
redes. 
Na segunda metade do século XVIII, segundo Dias (2007), surge um novo conceito de 
rede devido à ruptura da metáfora do corpo que dá lugar às formas geométricas do território. 
A partir daí, os engenheiros cartógrafos, assim como os militares, utilizam o termo redes para 
construir uma cartografia baseada em princípios matemáticos, representando os mapas num 
plano de linhas imaginárias, como pode ser verificado na figura 6: 
 
FIGURA 6. COORDENADAS GEOGRÁFICAS REPRESENTADAS NO MAPA MUNDI 
FONTE: HTTP://TKGEO.BLOGSPOT.COM/2007/02/COORDENADAS-GEOGRFICAS-1.HTML. 
O século XIX é marcado pelas grandes inovações e construções de rodovias e ferrovias 
advindas da Revolução Industrial do século XVIII na Inglaterra. Para Dias (2006) 
[...] As trilhas e os caminhos foram progressivamente substituídos pelas es-
tradas de ferro no transporte de bens e mercadorias; com o advento do telé-
grafo e em seguida do telefone, a circulação das ordens e das novidades já 
dispensava a figura do mensageiro. Todas estas inovações, fundamentais na 
história do capitalismo mundial, se inscreveram e modificaram os espaços 
 
 
19 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
nacionais, doravante sulcados por linhas e redes técnicas que permitiram 
maior velocidade na circulação de bens, de pessoas e de informações (p.142). 
Podemos dizer que a organização espacial mundial se dava através de uma burguesia que 
influenciava diretamente com investimentos em infraestrutura. Um exemplo clássico no Brasil 
foram os investimentos realizados por Irineu Evangelista de Souza – o Visconde de Mauá. Ele 
implantou a primeira ferrovia brasileira entre Petrópolis e Rio de Janeiro em 1852. Iremos nos 
aprofundar mais sobre a influência das redes no Brasil no tema 3 deste material impresso. 
Assim, encontramos na metade do século XIX algumas contribuições teóricas sobre a 
temática de redes. Para uma melhor sistematização dessas contribuições, construímos o qua-
dro 01 com os principais autores e seus estudos: 
 
QUADRO 01. O ESTUDO DAS REDES E SEUS PRINCIPAIS AUTORES NO SÉCULO XIX 
FONTE: DIAS, 2006 E 2007. ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS 
Podemos perceber que entre os séculos XVIII e XIX a históriada noção de redes ficou 
ligada através de uma tríade: rede, organismo e técnica. No século XX ainda teremos esta in-
fluência e dois estudos demonstram estas influências: “Os capitais e a região”, do geógrafo 
Jean Labasse (1955), e “Pionniers et planteurs de São Paulo”5, em 1952, de Pierre Monbeig. O 
 
5
 Pioneiros e Plantadores de São Paulo. 
 
 
20 
CLÁUDIA SANTOS 
 
trabalho de Labasse demonstrou a importância da rede ferroviária e da rede bancária na Fran-
ça como elementos primordiais de unificação do mundo material naquele período; já o traba-
lho de Monbeig analisou a importância da rede ferroviária para a organização espacial do Bra-
sil. Para Dias (2006): 
Após os trabalhos de Monbeig e de Labasse, assistimos a um relativo silêncio 
sobre o crescimento, sobre a multiplicação das redes, que vinham aprisio-
nando o mundo em tramas cada vez mais fechadas, exceção feita aos inúme-
ros trabalhos de rede urbana (p.146). 
Com a complexidade das relações presentes no século XX através da integração de mer-
cados, de capitais e de informações, as noções de rede entram em voga, mas para Dias (2006) 
“o quadro teórico privilegiado por grande parte dos autores interessados no estudo das redes 
integra a noção de sistema” (p.148). A teoria dos sistemas surgiu no século XX, em meados de 
1950, nos EUA, relacionada ao avanço da Cibernética e foi proposta pelo biólogo Ludwig von 
Bertanffy. A noção de sistemas foi baseada numa perspectiva diferente do reducionismo cien-
tífico para buscar uma unicidade científica6. Essa unicidade dos sistemas é algo importante 
para o estudo das redes, pois faz com que as redes de transporte, comunicação, informação e 
capital funcionem com mais rapidez e fluidez. 
Numa perspectiva geográfica, a teoria das localidades centrais, idealizada por Walter 
Christaller e publicada em 19337, foi considerada a primeira teoria de relevância voltada para a 
Geografia e possibilitou estudos de outras localidades centrais no mundo todo. O que pressu-
põe a teoria das localidades centrais? Para Dias (2007): 
A teoria das localidades centrais pressupõe regularidade no número, no ta-
manho e na distribuição do conjunto de cidades de uma região ou de um pa-
ís; todo centro urbano é concebido como localidade central, e sua centralida-
de resulta das funções centrais que desempenha como centro distribuidor de 
bens e prestador de serviços. A diferenciação entre as localidades centrais na 
oferta de bens e serviços traduz-se em níveis hierárquicos de centros urbanos 
(p.64). 
Atualmente a teoria das localidades centrais não consegue explicar com profundidade 
a complexidade dos territórios, pois a proximidade entre os mercados, um dos elementos da 
teorização, é quebrada através das implicações das redes de telecomunicação. A questão de 
 
6
 Na Geografia essa teoria é muito utilizada na Geografia Física, segundo Sales (2004): “Na Geografia Física, a 
aplicação da visão sistêmica data dos anos 1950, inicialmente utilizada em pesquisas de cunho hidrológico e 
climatológico. Na Geomorfologia, ela é introduzida nos anos 1960 (CHORLEY, 1962)” (p.126). 
7
A publicação original de 1933 foi escrita em alemão, apenas em 1966 foi feita a tradução para o inglês. 
 
 
21 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
níveis de hierarquia entre as cidades, atualmente, não consegue explicar a fluidez das redes. 
Portanto, estudar as redes no âmbito geográfico pressupõe a quebra das distâncias sem níveis 
de hierarquização, buscando as conexões entre os fluxos. Importante ressaltar que conexidade 
é a primeira propriedade da rede ligada aos nós, onde estes nós são os lugares de referência e 
poder (DIAS, 2006). 
Ao pensar nos nós das redes, muitas vezes podemos nos deparar com a não localização 
dos/nos territórios. Claro, ao entender a organização em rede das transnacionais é óbvio que 
encontramos os nós localizados nos países centrais. Mas como localizar as redes dos grupos 
considerados terroristas? Entendendo a lógica das redes como algo não hierárquico e com 
diversas conexões entre os nós, os grupos considerados terroristas se beneficiam dessa fluidez 
e os seus líderes rapidamente escapam de possíveis capturas, podendo estar em qualquer lugar 
do planeta. 
A partir dessas explanações vocês puderam visualizar como a noção de redes foi cons-
truída no decorrer dos tempos e também como foi pensada e analisada em outras áreas das 
ciências. Como dito no início deste tema, qualquer conceito precisa de um quadro teórico 
metodológico, por isso ainda não apresentamos nenhum conceito específico de redes. O futu-
ro professor precisa estar atento às escolhas dos conceitos. Iremos agora nos aprofundar em 
algumas teorizações para que as incoerências entre os teóricos não aconteçam no nosso coti-
diano do fazer geográfico. Convido vocês a continuarem a leitura e se aprofundarem nas con-
tribuições geográficas aos estudos de redes. 
1.1.3 
CONTEÚDO 3. 
CONTRIBUIÇÕES GEOGRÁFICAS AOS ESTUDOS DAS REDES 
O estudo das redes tem grande relevância na ciência geográfica. Não é à toa que muitos 
geógrafos se dedicam ao estudo dessa temática durante toda a sua vida acadêmica. Podemos 
citar aqui dois grandes geógrafos brasileiros, com enfoques diferentes, que se dedicaram ao 
estudo das redes: Milton Santos e Roberto Lobato Corrêa. 
Vamos começar com a contribuição de Roberto Lobato Corrêa sobre os estudos das re-
des. É preciso ressaltar que os estudos mais detalhados realizados pelo professor estão relacio-
nados com a rede urbana, mas ele tem uma conceituação bem interessante para rede geográfi-
ca, que diz: 
A rede geográfica é um caso particular de rede, sendo definida como conjunto de localiza-
ções sobre a superfície terrestre articulado por vias e fluxos. A sede de um banco e suas agên-
cias distribuídas em amplo espaço e articuladas entre si por diversos fluxos constitui-se em e-
xemplo de rede geográfica. Os exemplos são numerosos, envolvendo organizações estatais e 
 
 
22 
CLÁUDIA SANTOS 
 
privadas visando diversos fins imediatos e atuando através de diferentes meios (CORRÊA, 
1999, p. 65). 
A principal característica de distinção de uma rede geográfica é a espacialização, pois 
nem todos os objetos e processo possuem a dimensão espacial. Toda rede geográfica possui 
uma intencionalidade, portanto conseguimos distinguir claramente uma rede geográfica de 
uma rede fluvial. Mesmo a rede fluvial, sendo o objeto de estudo da Geografia Física, é um 
produto natural. “Ao ser transformada em rede de navegação, contudo, passa a ser uma rede 
geográfica” (CORRÊA, 1999, p.66). 
As redes geográficas possuem também características universais, particulares e singula-
res. A formação material de uma rede possui atributos repetitivos, mas, ao mesmo tempo, são 
únicos aos lugares que estas são consolidadas. Corrêa (1999) demonstra um exemplo bem 
claro à questão: “A rede ferroviária, por exemplo, contém características que só existem no 
país, ao lado de características pertinentes a sodas as redes ferroviárias e, simultaneamente, a 
todas as redes geográficas” (p.66). 
Como dito anteriormente, Corrêa tem estudos mais aprofundados sobre as redes urba-
nas. Mas as redes urbanas também não podem ser consideradas redes geográficas? Para o au-
tor a resposta é sim e complementa: 
As diversas redes geográficas, como as das grandes corporações, das religi-
ões, do Estado, dos partidos políticos, de comunicação instantânea e as redes 
técnicas, entre outras, têm como nós principais os centros urbanos. Incluem-
se entre estes os pequenos lugares centrais em áreas camponesas ou de agri-
cultura moderna, as cidades de maior nível hierárquico, entre elas as metró-
poles globais, e os centros funcionalmente especializados, tanto em termos 
de produção industrial como em termos dos diferentes serviços (CORRÊA, 
1999,p.69). 
Assim, ao trabalhar com o quadro teórico metodológico de Corrêa, é importante se re-
meter à questão das redes urbanas. Mas, buscando outros referenciais sobre as redes, vamos 
aprofundar um pouco mais as nossas análises, a partir dos estudos de Milton Santos, impor-
tante para o estudo da Geografia das Redes. 
Santos (2008) nos chama a atenção, inicialmente, de que os estudos das redes envolvem 
duas grandes matrizes de análise: “a que considera o seu aspecto, a sua realidade material, e 
uma outra, onde é também levado em conta o dado social” (p.262). Perceba que na temática 
anterior a noção de redes dos séculos XVII e XIX ficou interligada ao aspecto material dos 
processos, onde há uma valorização das infraestruturas de consolidação das redes. 
 
 
23 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
Mas a rede é também social e política, pelas pessoas, mensagens, valores que a frequenta. 
Sem isso, e a despeito da materialidade com que se impõe aos nossos sentidos, a rede é, na ver-
dade, uma mera abstração (SANTOS, 2008, p.262). 
Na obra de Santos não há um conceito definido para as redes geográficas, pois a partir 
do método utilizado, o ato de conceituar leva ao empobrecimento do movimento, o importan-
te é o processo da análise em questão. No livro “A natureza do espaço” há um capítulo, volta-
do para análise das redes, denominado: “Por uma Geografia das Redes”. Nesse capítulo o pro-
cesso é claramente deflagrado para análise das redes. O autor propõe três momentos para 
análise das redes: “o pré-mecânico, o mecânico intermediário e a fase atual” (SANTOS, 2008, 
p.264). Estes três períodos serão aprofundados e esclarecidos no conteúdo: “Período Técnico-
Cientifico-Informacional”. O que nos interessa aqui é entender que estes três momentos 
também não são estanques, mas produzem uma análise geográfica da historicidade das redes 
geográficas. 
A formação das redes, no primeiro momento, servia para atender a uma pequena vida 
de relações, não havia grandes trocas e o “tempo era vivido como um tempo lento” (SANTOS, 
2008, p.265). O momento seguinte, “cuja afirmação coincide com os albores da modernidade, 
as redes assumem o seu nome, mediante o caráter de deliberado de sua criação” (SANTOS, 
2008, p.264). Podemos citar como exemplo as redes elétricas, as redes ferroviárias e as redes de 
telefonia. No terceiro momento, o atual, as redes se superpõem aos tempos da natureza e as 
redes técnicas já são criadas com características técnicas, cientificas e informacionais. Enten-
dendo que os momentos não são estanques: o que diferencia as redes do passado com as atu-
ais? 
[...] a grande distinção entre elas é a respectiva parcela de espontaneidade na 
elaboração respectiva. Quanto mais avança a civilização material, mais se 
impõe o caráter deliberado na constituição das redes. Com os recentes pro-
gressos da ciência e da tecnologia e com as novas possibilidades abertas à in-
formação, a montagem das redes supõe uma antevisão das funções que pode-
rão exercer e isso tanto inclui a sua forma material, como as suas regras de 
gestão (SANTOS, 2008, p.265). 
A compreensão das redes, a partir da teorização de Santos, nos remete a uma discussão 
também fundamental sobre a competitividade e a fluidez dos processos no mundo contempo-
râneo. A fluidez é um elemento marcante do nosso tempo, pois os agentes hegemônicos de-
pendem dessa característica para a circulação de informações, bens e pessoas com maior velo-
cidade. Esse processo acaba por produzir uma maior competitividade entre os 
territórios/lugares. Afinal há uma busca incessante por objetos técnicos mais eficazes. “Criam-
 
 
24 
CLÁUDIA SANTOS 
 
se objetos e lugares destinados a favorecer a fluidez: oleodutos, gasodutos, canais, autopistas, 
aeroportos, teleportos. Constroem-se edifícios telemáticos, bairros inteligentes, tecnopolos” 
(SANTOS, 2008, p.274). É importante lembrar que a fluidez é seletiva, nem todos os territó-
rios/lugares têm acesso de maneira homogênea. Portanto os processos de migração de pessoas 
e de empresas são possíveis resultados do valor do espaço. 
Há diversos pesquisadores que seguindo o caminho proposto por Milton Santos produ-
ziram e ainda estudam a importância das redes. Neste material iremos destacar o trabalho de 
Rubens de Toledo Júnior. Sua tese de doutorado denominada “Território e Densidades Técni-
cas: Redes de Fibra Óptica no Brasil”, defendida em 2003, analisou a relação entre as teleco-
municações e o uso dos territórios. O autor foca sua análise nas redes de fibra óptica, pois 
para ele “é a infraestrurura com maior capacidade de transmissão de informação no formato 
digital” (TOLEDO JÚNIOR, 2003, p.93). Sua pesquisa possui um recorte temporal intencio-
nal, as reflexões foram realizadas a partir do ano de 1995, devido ao processo de privatização 
das empresas de telecomunicação. Mesmo admitindo a imbricação de escalas, a partir dos 
estudos de redes, suas análises foram aprofundadas na Região Sudeste, mais especificamente 
no município de São Paulo. 
Até 1998 as empresas de telefonia estavam interligadas ao sistema Telebras. Existia uma 
empresa de telecomunicações para cada unidade de federação, sendo responsável também 
pelas empresas de telefonia celular. “Porém um novo modelo de regulação começou a ser im-
plantado a partir de 1995, com a aprovação da emenda constitucional que flexibilizou o mo-
nopólio estatal de telecomunicação” (TOLEDO JÚNIOR, 2003, p.96). 
Que a principal e mais antiga empresa a possuir uma rede de fibra óptica para transmissão 
de dados a longa distância foi a Embratel. Essa empresa era a responsável pela interconexão 
das diversas regiões do Brasil, tanto por meio da transmissão dos dados como pela telefonia de 
longa distância (TOLEDO JÚNIOR, 2003, p.99). 
Mas por que Toledo escolheu o município de São Paulo como o recorte espacial para 
análise das redes de telecomunicação? Porque, segundo o autor, “no Brasil, a capital do Estado 
de São Paulo é o lugar onde passam todas as redes de comunicação de alta capacidade e de 
longa distância, tanto nacionais quanto internacionais” (TOLEDO JÚNIOR, 2003, p.100). A 
capital do estado de São Paulo é o lugar de concentração das diversas redes técnicas, aqui ana-
lisadas, mas essa temática será aprofundada no bloco temático 2, tema 3, deste material. 
 
 
25 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
Os resultados encontrados pelo pesquisador demonstram que atualmente a privatização 
das empresas de telecomunicação permitiu uma expansão da quantidade de infraestrutura no 
território brasileiro. Entretanto, 
[...] manteve-se a lógica segundo a qual os equipamentos mais modernos e 
com mais capacidade de transmissão de informações se situam primeira-
mente nos lugares mais densamente ocupados, mais bem servidos por diver-
sas infraestruturas e com maior poder econômico (TOLEDO JÚNIOR, 2003, 
p. 104-105). 
Também é preciso chamar a atenção sobre os novos investimentos nessas áreas, que en-
volvem apenas o retorno financeiro e uma ausência de políticas governamentais podem au-
mentar as desigualdades regionais. 
Esse sucinto resumo que fizemos sobre a pesquisa de Toledo é apenas para demonstrar 
como atualmente, através da teorização de Santos, há pesquisas voltadas ao estudo das redes e 
o tipo de rede estudada pelo autor, as redes de fibras ópticas, é pouco lembrada por nós, pro-
fessores de Geografia. Geralmente, ficamos presos aos exemplos de redes de transporte e 
quando lembramos das redes de telecomunicações, como a telefonia, esquecemos de dizer 
qual base técnica é construída tal rede. 
Por fim, devemos nos debruçar um pouco sobre os estudos de Castells sobre a relação 
entre as redes e os processos sociais. O autor defende a ideia de uma sociedade relacionada à 
uma economia informacional e global. Os termos informacional e global são considerados 
características dessa economia, mas quais são os sentidos para Castells? 
Informacional,porque a produtividade e a competividade de unidades ou 
nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente 
de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informa-
ção baseada em conhecimentos (CASTELLS,1999, p.87). 
 
Global, porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circula-
ção, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, admi-
nistração, informação, tecnologia e mercados) estão organizados em escala 
global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes eco-
nômicos (CASTELLS,1999, p.87). 
Considerando, a partir das análises de Castells, sobre uma economia informacional e 
global, surge um questionamento: quando surge essa economia? Rapidamente respondemos 
que essa economia surgiu no último quartel do século XX, tendo como base material a Revo-
lução da Tecnologia da Informação. Mas informação e conhecimento não são elementos de 
uma economia? 
 
 
26 
CLÁUDIA SANTOS 
 
Sem dúvida, informação e conhecimentos sempre foram elementos cruciais 
no crescimento da economia, e a evolução da tecnologia determinou em 
grande parte a capacidade produtiva da sociedade e os padrões de vida, bem 
como formas sociais de organização econômica (CASTELLS, 1999, p.87). 
O grande diferencial nessa economia informacional e global é a possibilidade de a in-
formação se tornar produto do processo produtivo, algo não muito comum nas outras revolu-
ções. Vamos então analisar o quadro 02, que compara as revoluções industriais e em seguida 
aprofundar a Revolução da Tecnologia da Informação. 
 
QUADRO 02. REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS 
FONTE: CASTELLS, 1999 E MÓDULO DO UNIVERSIDADE PARA TODOS. ADAPTADO POR: CLÁUDIA SANTOS. 
Analisando o quadro 02 e buscando outras análises sobre a III Revolução Industrial, a 
qual denomina, a partir da teorização de Castells (1999), Revolução da Tecnologia da Infor-
mação, a informação foi o elo para acontecer essa revolução, assim como foi o carvão para a 
Primeira Revolução e o petróleo para a Segunda Revolução. 
A Primeira e a Segunda Revolução Industrial possuíram, como pode ser verificado no 
quadro 02, características distintas. Entretanto a crucial foi a utilização de conhecimentos ci-
entíficos, após 1850, para sustentar as novas invenções. Não obstante, ambas oferecem subsí-
dios para a compreensão da Terceira Revolução Industrial. Para Castells (1999), “um conjunto 
 
 
27 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
de macroinvenções preparou o terreno para o surgimento de microinvenções nos campos da 
agropecuária, indústria e comunicações” (p.53). 
A Revolução da Tecnologia da Informação, após a Segunda Guerra Mundial, tem como 
base as descobertas tecnológicas na área da eletrônica. O exemplo clássico foi a invenção do 
computador Eniac em 1946. Como pode ser observado na figura 07, o computador era imen-
so, as pessoas andavam por dentro e o seu consumo de energia equivalia ao consumo de um 
bairro inteiro da cidade da Filadélfia. O Eniac foi considerado um marco, pois não realizava 
apenas uma operação, como projetar aviões/mísseis ou decodificar códigos, mas poderia ser 
usado de maneira geral, parecido com o que fazem os computadores hoje. 
 
FIGURA 07. O CUMPUTADOR ENIAC 
FONTE: HTTP://WWW.TARINGA.NET/POSTS/APUNTES-Y-MONOGRAFIAS/2059091/ARQUITECTURA-Y-ORGANIZACION-DE-
COMPUTADORAS-1.HTML 
Mas foram as grandes descobertas dos anos 70 do século XX que configuram com clare-
za a Terceira Revolução Industrial. Podemos citar, assim como Castells, as seguintes descober-
tas no início da década de 1970: Invenção do Microprocessador, Invenção do Microcomputa-
dor, fibra óptica, videocassetes produzidos pela Sony e uma rede eletrônica de comunicação 
baseado num protocolo de interconexão em rede, o que denominamos hoje de internet. 
Acho que podemos dizer, sem exagero, que a Revolução da Tecnologia da 
Informação propriamente dita nasceu na década de 70, principalmente se 
nela incluirmos o surgimento e a difusão paralela da engenharia genética 
mais ou menos nas mesmas datas e locais [...] (CASTELLS, 1999, p. 64). 
Como futuros professores de Geografia, precisamos também conhecer um pouco mais 
sobre a engenharia genética, que quebra paradigmas em diversas ciências, pois o homem des-
cobre possibilidades de manipular o código genético, podendo produzir seres clonados. Algo 
 
 
28 
CLÁUDIA SANTOS 
 
que permeia as discussões sobre a ética nas ciências, as religiões e até mesmo a questão da eu-
genia na nossa sociedade. 
Os estudos mais importantes podem ser analisados através do Projeto Genoma Huma-
no, aprovado pelo governo dos EUA em 1988, com verba de 3 bilhões de dólares e duração de 
15 anos. O projeto tem como objetivo decifrar todos os genes da espécie humana. Um dos 
objetivos desse projeto é a adoção de métodos mais precisos e mais confiáveis de detecção e 
diagnóstico de doenças, para as quais se poderia aplicar uma terapia gênica. 
É importante lembrar que o Brasil faz parte deste projeto, ocupa lugar de destaque nas 
pesquisas sobre decodificação de genes e possui também uma rede denominada ONSA (sigla 
em inglês para Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos). Essa rede “foi 
criada em 1997, ligando mais de 30 unidades de pesquisa no estado de São Paulo. A exemplo 
dela, outros 25 centros estão distribuídos pelo Brasil, reunidos na Rede Nacional do Projeto 
Genoma Brasileiro” (UNIVERSIA, 2004). 
Que a primeira experiência muito bem-sucedida do país nessa área foi com o estudo da 
Xylella, que causa uma doença chamada "amarelinho" na plantação de cítricos. Este foi o pri-
meiro sequenciamento de genoma concluído por cientistas brasileiros. O trabalho teve início 
em 1988, foi feito pela rede ONSA da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de 
São Paulo) e coordenado pelo professor Andrew Simpson, do Instituto Ludwig de Pesquisa 
sobre o Câncer, com participação das biólogas Mariana Cabral de Oliveira e Marie-Anne Van 
Sluys, do Laboratório de Biologia Molecular de Plantas do Instituto de Biociências da USP e do 
professor João Setúbal, da Unicamp. O custo foi de US$ 13 milhões. 
Fonte: http://www.universia.com.br/materi. Jsp? Materia=3054 
Depois desta pequena pausa explicativa sobre a engenharia genética, continuemos nos-
sas reflexões sobre a III Revolução Industrial. Não sei se vocês perceberam, mas todas as gran-
des inovações das tecnologias da informação se concentram basicamente nos EUA. Castells 
(1999) responde a essa análise da seguinte maneira: 
[...] a primeira Revolução em Tecnologia da Informação concentrou-se nos 
EUA e, até certo ponto, na Califórnia nos anos 70, baseando-se nos progres-
sos alcançados nas duas décadas anteriores e sob a influência de vários fato-
res institucionais, econômicos e culturais... Foi mais o resultado de indução 
tecnológica que determinação social (p.69). 
É preciso ressaltar o local exato nos EUA, afinal o país é composto por 50 estados e um 
distrito federal. A Revolução da Tecnologia da Informação se iniciou no estado da Califórnia, 
 
 
29 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
mais especificamente no Vale do Silício. Essa área abrange várias cidades da Califórnia e há 
uma concentração de empresas com o objetivo de gerar inovações científicas e tecnológicas. 
Como exemplo de uma dessas cidades destacamos San José na figura 08: 
 
FIGURA 08. VISTA DA CIDADE DE SAN JOSÉ – CALIFÓRNIA (EUA) 
FONTE: HTTP://UPLOAD.WIKIMEDIA.ORG/WIKIPEDIA/COMMONS/3/3F/SJPAN.JPG 
Que as grandes empresas como Apple, Altera, Google, NVIDIA Corporation, Electronic 
Arts, Symantec, Advanced Micro Devices (AMD), eBay, Maxtor, Yahoo!, Hewlett-Packard 
(HP), Intel e Microsoft (hoje está em Redmond, próximo a Seattle) surgiram no Vale do Silí-
cio. 
Por que ressaltamos o Vale do Silício e suas características? Para desmistificar o “concei-
to de inovação sem localidade geográfica na era da informação” (CASTELLS, 1999, p.75). 
Comoa Revolução da Tecnologia da Informação não se restringiu ao Vale do Silício, o autor 
faz uma importante ressalva sobre as outras áreas de inovação no planeta: “as maiores áreas 
metropolitanas antigas do mundo industrializado são os principais centros de inovação e pro-
dução de tecnologia da informação” (CASTELLS, 1999, p.74). O autor cita como exemplos 
Paris-sud, corredor M4 de Londres, Bavária na Alemanha, Tóquio-Yokoma, Moscou-
Szelenograd, Pequim, Xangai, Campinas em São Paulo, Cidade do México e Buenos Aires. 
Outro elemento da Revolução da Tecnologia da Informação, defendida por Castells 
(199), é o surgimento de uma nova forma espacial denominada de megacidades, que são cida-
des com mais de 10 milhões de habitantes, como pode ser verificado no quadro 03: 
 
 
 
30 
CLÁUDIA SANTOS 
 
 
QUADRO 03. AS 10 MEGACIDADES E SUAS POPULAÇÕES NO ANO DE 2007 
FONTE: UNITES NATIONS, DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, POPULATION DIVISION (2008). 
ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS 
Castells (1999) nos lembra que o tamanho das cidades não é a qualidade definidora, na 
verdade são: 
[...] os nós da economia global e concentram tudo isso: as funções superiores 
direcionais, produtivas e administrativas de todo o planeta; o controle da 
mídia; a verdadeira política do poder; e a capacidade simbólica de criar e di-
fundir mensagens (p.428). 
A partir do quadro 03 e da relevância da informação sobre uma megacidade não apenas 
ter como base a quantidade de habitantes, notamos também que muitas megacidades não pos-
suem uma influência numa economia global, como por exemplo Buenos Aires, Calcutá, São 
Paulo, Nova Délhi. Entretanto “conectam enormes segmentos da população humana a esse 
sistema global. Também funcionam como imãs para suas hinterlândias, isto é, o país inteiro 
ou a área regional onde estão localizadas” (CASTELLS, 1999, p.429). 
Como futuro professor de Geografia, você deve estar se perguntando se Castells (1999) 
ao enfatizar o processo de construção das redes no mundo contemporâneo, destacando, inclu-
sive, uma forma urbana específica (a megacidade), também não conceitua as redes como Mil-
ton Santos. Não! Castells (1999) tem um conceito bem definido, mas que explicita apenas na 
conclusão de sua obra: 
Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma cur-
va se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de redes 
concretas de que falamos. São mercados de bolsas de valores. São conselhos 
nacionais.. São campos de coca e papoula, laboratórios clandestinos. São sis-
temas de televisão... Redes são estruturas abertas capazes de expandir de 
forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se 
 
 
31 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmo códigos de co-
municação (p.498). 
A partir do conceito de redes proposto por Castells (1999) podemos construir a seguinte 
ilustração: 
 
FIGURA 09. POSSÍVEL REPRESENTAÇÃO DE UMA SOCIEDADE EM REDES 
(ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS) 
Analisando a figura 08, podemos perceber que há ainda diversas possibilidades de cone-
xões entre os círculos (representando os nós das redes), o objetivo de não traçar todos foi de 
demonstrar que nem todos os lugares estão conectados em rede. Entretanto é importante 
chamar a atenção para as conexões. “As conexões que ligam as redes (por exemplo, os fluxos 
financeiros assumindo o controle de impérios da mídia que influenciam os processos políti-
cos) representam os instrumentos privilegiados do poder” (CASTELLS, 1999, p.499). Além 
disso, há algo que você, futuro professor, não pode esquecer-se de ensinar a seus alunos: qual é 
o papel das redes neste atual sistema socioeconômico? 
Redes são instrumentos apropriados para a economia capitalista baseada na inovação, 
globalização e concentração descentralizada; para o trabalho, trabalhadores e empresas volta-
das para a flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de desconstrução e reconstrução 
contínuas; para uma política destinada ao processamento instantâneo de novos valores e hu-
mores públicos; e para uma organização social que vise à suplantação do espaço e invalidação 
do tempo. (CASTELLS, 1999, p.498) 
A partir dessas diversas abordagens, você como professor pode escolher aquela mais in-
teressante para trabalhar com seus alunos. Lembrando, também que você pode relacionar al-
gumas teorizações, entretanto faz-se necessário algumas ressalvas, pois todo conceito está ba-
seado numa teorização. Nem sempre os campos teóricos dialogam e você precisa deixar bem 
claro nas suas explicações em sala de aula sobre as possíveis divergências. O nosso próximo 
assunto irá buscar entender como as redes, instrumentos apropriados ao atual sistema, estão 
presentes em diversas escalas geográficas. 
 
 
 
32 
CLÁUDIA SANTOS 
 
1.1.4 
CONTEÚDO 4. 
AS DIFERENTES ESCALAS DAS REDES 
A noção de redes envolve uma imbricação de escalas, como diria Santos (2008) são “ao 
mesmo tempo globais e locais” (p.277). O global é o imperativo da fase atual da nossa socie-
dade. Antes de adentrar sobre as inter-relações escalares e os processos sociais, há duas ques-
tões que balizam os estudos das redes e as escalas: qual a diferença entre escala cartográfica e 
escala geográfica? Qual escala utilizamos como ferramenta teórico-metodológica para a análi-
se das redes? 
A utilização do termo escala na Geografia tem um significado ainda pouco explorado 
pelos geógrafos. A discussão sobre esse assunto não é muito realizada e quando se utilizam 
dessa terminologia tentam buscar uma relação entre a escala cartográfica e geográfica, priori-
zando esta primeira. Esse pensamento promove um impedimento a problematização do con-
ceito de escala, já que a diferenciação não é contestada. Escala cartográfica representa uma 
proporção matemática entre o real e o abstrato, já a escala geográfica permite a apreensão da 
noção de tamanho e fenômeno. 
Ao trabalhar com a noção de escala cartográfica através de mapas, desenhos e gráficos, 
fazemos geralmente escolhas de partes do fenômeno. Essas escolhas são banalizadas e não 
consideram a verdadeira complexidade do conceito de escala. 
Os fenômenos se alteram nas diversas escalas, sendo elas cartográficas ou geográficas, 
tendo como consequência importante a tendência ao crescimento da homogeneização na rela-
ção inversa da escala (Escala menor – maior área apreendida – menor detalhamento). Essa 
análise pode ser verificada na figura 09 abaixo: 
 
FIGURA 10. MAPAS EM DIFERENTES ESCALAS 
FONTE:HTTP://WWW.PROFESSORES.UFF.BR/CRISTIANE/ESTUDODIRIGIDO/CARTOGRAFIA.HTM 
 
 
33 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
A análise da figura pode inicialmente levar a uma reflexão de proporção matemática. 
Entretanto qualquer temática relacionada às redes na mudança de escala, a análise do fenô-
meno também muda. A noção de escala exprime tanto a relação entre tamanho e fenômeno, 
quanto a sua separação. A escala, hoje, não pode ser vista apenas como um problema dimen-
sional, mas fenomenológico, porque com as mudanças dimensionais de escala ocorrem mu-
danças nos fenômenos. A dificuldade está em compreender como esses fenômenos vão se ma-
nifestar em diversas escalas, por isso temos que analisar as escalas mais na perspectiva 
fenomenal do que dimensional, ou seja, vendo a escala como a apreensão da realidade, sem, 
no entanto, provocar uma fragmentação desta. 
Analisando a relação entre as redes e as escalas, Santos (2008) chama atenção para um 
elemento primordial de análise, a imbricação de escalas: 
As redes seriam incompreensíveis se apenas as enxergássemos a partir de su-
as manifestações locais ou regionais. Mas estas são também indispensáveis 
para entender como trabalham as redes à escala do mundo (p.269-270). 
A análise escalar das redes, a partir de Santos (2008)8, possui três níveis: nível mundial, 
nível dos territórios dos Estados e o nível local. No primeironível, “o mundo aparece como 
primeira totalidade, empiricizada por intermédio das redes” (SANTOS, 2008, p.270); no se-
gundo nível – território, país, Estado – possui contratos e limites, que são enfraquecidos com a 
mundialização das redes; e já no terceiro nível – o lugar – possui fragmento das redes com 
características únicas e socialmente concretas. 
É necessário, antes de prosseguir a análise, fazer uma ressalva sobre o termo nível. Este 
termo dá um sentido de hierarquia, propondo um aprofundamento maior ou menor do co-
nhecimento a depender da escala. Entretanto na obra de Santos (2008), mesmo utilizando o 
termo nível, não há hierarquização do processo de análise, pois o professor propõe as possí-
veis dialéticas das redes no território. Para a compreensão dessas dialéticas propõe a noção de 
divisão do trabalho, como uma categoria analítica e nos coloca as seguintes reflexões: 
Cabe dizer que a sociedade local faz o trabalho local e a sociedade nacional 
faz o trabalho geral ou trabalho nacional? Aí está um problema. Que é esse 
trabalho nacional? Como ele se exprime, além das certezas estatísticas? Qual 
o papel da configuração territorial nacional? (SANTOS, 2008, p.272). 
A proposta dessas indagações é explícita no sentido da sociedade nacional possuir o po-
der das decisões e também os elementos técnicos e funcionais. Os exemplos envolvem desde 
 
8
 Santos, ao propor esses três níveis, salienta que a divisão é algo “grosseiro”, essa divisão é apenas uma forma 
didática de apresentar as possíveis escalas de análise das redes. 
 
 
34 
CLÁUDIA SANTOS 
 
as legislações, que são geridas para todo um território, até mesmo os orçamentos nacionais, 
que são direcionados aos municípios. Uma curiosidade interessante dos orçamentos são os 
chamados orçamentos temáticos: 
O orçamento da União contém programas sociais do governo para diversas 
áreas de atuação, como saúde, educação e segurança alimentar, e para diver-
sos grupos de beneficiários, como mulheres, crianças e quilombolas. Por 
meio de parcerias com organizações da sociedade civil que acompanham 
segmentos específicos das políticas públicas, identificamos e destacamos os 
diversos ‘orçamentos temáticos’ contidos no orçamento da União, de modo a 
facilitar o acesso à informação pelos interessados 
(http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/orcamento_senado/Program
as_Sociais, 2009). 
Esses orçamentos são resultantes, muitas vezes, de redes de movimentos sociais que atu-
am na escala local, entretanto suas reivindicações chegam até a escala nacional. Falando sobre 
as redes dos movimentos sociais, faz-se necessário aprofundar um pouco mais sobre essa te-
mática, pois, como futuros professores de Geografia, estaremos diante dessas questões que 
envolvem a relação espacial entre as diversas redes de movimentos sociais, como: os ambien-
talistas, os quilombolas, os sem teto e os sem-terra, entre outros. 
Os estudos mais interessantes sobre a relação espacial e os movimentos sociais foram e-
laborados pela socióloga Ilse Scherer-Warren. Assim, é importante conhecermos o conceito 
de movimento social proposto pela autora: 
 
FIGURA 03. HTTP://WWW.REPORTERBRASIL.ORG.BR/EXIBE.PHP?ID=1064 
FONTE: HTTP://VIAGEMALEATORIA.FILES.WORDPRESS.COM/2009/10/MANIFESTACAO-MST.JPG 
HTTP://WWW.SBDP.ORG.BR/CREATETHUMB.PHP?IMAGE=LIVRO/IMAGENS/QUILOMBOLA.JPG&MAX=220 
HTTP://OUTRAPOLITICA.FILES.WORDPRESS.COM/2008/08/QUILOMBOLAS-2.JPG 
HTTP://WWW.FSC.ORG.BR/IMAGES/LOGO%20WWF3.JPG) 
Movimento Social deve ser entendido como uma rede que conecta sujeitos e organizações 
de movimentos, expressões de diversidades culturais e de identidades abertas, em permanente 
 
 
35 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
constituição, que buscam reconhecimento na sociedade civil (SCHERER-WARREN, 2003, 
p.30). 
A partir do conceito proposto há claramente o pressuposto da rede como elemento de 
construção dos movimentos. Na verdade, podemos pensar que o próprio movimento é a rede. 
Mas há outro aspecto importante dentro da teorização de Scherer-Warren para uma discussão 
em sala de aula sobre a diferença entre organizações e movimento social: 
Organizações são, por exemplo, Associações de bairro e grupos comunitá-
rios, Grupos de mútua-ajuda e voluntariado, Associações de classe, como 
sindicatos e associações profissionais, Organizações não-governamentais 
(ONGs), Organizações de defesa da cidadania, que lutam pela defesa de di-
reitos específicos e/ou pela melhoria da qualidade de vida (de gênero, ecolo-
gistas, étnicos etc.). Podemos começar a falar de movimentos sociais quando 
começam a surgir práticas de lutas pela cidadania que transcendem as rei-
vindicações específicas, particularizadas, de cada associação. O movimento 
social transcende a prática localizada e temporal de uma organização. Quan-
do começam a se formar redes que articulam um conjunto de organizações e 
sujeitos podemos falar sobre a existência de movimento social (SCHERER-
WARREN, 2003, p.30). 
As redes, como instrumento teórico, ganham um caráter fundamental para viabilizar a 
construção dos movimentos. As redes sociais sempre existiram, mas atualmente possuem ca-
racterísticas importantes para a compreensão do mundo contemporâneo. Para Scherer-Warren 
(2000), há três dimensões relevantes para a compreensão das redes no contexto dos movimen-
tos sociais: a sociabilidade, a espacialidade e a temporalidade. 
No nível da sociabilidade encontramos as redes sociais do cotidiano, que se 
constroem a partir das tradicionais redes sociais primárias (famílias, círculos 
de amizades, comunidades, grupos identitários locais etc.), que são penetra-
das por redes virtuais (intersubjetividades decorrentes de exposição à mídia 
ou a intercâmbios por meios eletrônicos, como a internet), e que em conjun-
to vão formando as novas identidades na era da informação (SCHERER-
WARREN, 2003, p.32) 
 
O nível da espacialidade é, especialmente, relevante ser considerado, uma 
vez que com as novas tecnologias de informação os atores coletivos e os mo-
vimentos sociais engendram redes que estão continuamente redimensionan-
do seus territórios de influência e ação. O global penetra no associativismo 
local, originando um espaço que veio a ser denominado por algumas ONGs 
como “glocalização”, isto é, a possibilidade de criar alternativas à globaliza-
 
 
36 
CLÁUDIA SANTOS 
 
ção desde cima, a partir de iniciativas de resistência da sociedade civil local e 
de suas redes transnacionais (SCHERER-WARREN, 2003, p.32) 
 
As redes de movimentos através de seus vários níveis de expressividade (la-
tente, submersa, manifesta ou virtual) respaldam-se em várias temporalida-
des: o passado (a tradição, a indignação), o presente (o protesto, a solidarie-
dade, a proposta) e o futuro (o projeto, a utopia) (SCHERER-WARREN, 
2003, p.32). 
A discussão da inter-relações entre redes e movimentos sociais permite ao professor 
contextualizar melhor suas aulas com exemplos do cotidiano do aluno. Afinal não é somente o 
espaço da escola o local privilegiado de aprendizagem. Você poderá lecionar também em esco-
las de movimentos sociais. A autora deste material didático não fez seu estágio orientado em 
escola institucionalizada. Fez seu estágio num assentamento rural localizado no município de 
Água Fria, no estado da Bahia. A experiência da produção de uma cartilha de Geografia para 
crianças de assentamentos rurais, da 1ª. à 4ª. série do ensino fundamental, permitiu um enri-
quecimento da sua carreira profissional e demonstrou a importância da relação entre as redes 
e os movimentos sociais na Geografia. Apenas para ilustrar a situação, colocamos uma ima-
gem demonstrando o desenvolvimento de nossas atividades no assentamento. 
 
(AUTOR: DENÍLSON ALCÂNTARA.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
MAPA CONCEITUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38CLÁUDIA SANTOS 
 
ESTUDO DE CASO 
Leia com atenção as informações retiradas da revista Veja On-line: 
Texto 1. Quando e como se deu o processo de privatização no Brasil? 
A partir do início da década de 1990, ocorreu a venda do controle de mais de 100 em-
presas e concessionárias de serviços públicos (na foto abaixo, FHC com o martelo do leilão do 
sistema Telebras). Foi importante, porque diminuiu a participação do Estado na economia e 
tornou os serviços mais eficientes e baratos. Também serviu para recuperar empresas que ca-
minhavam para a falência. 
 
Texto 2. Quais foram as principais empresas privatizadas pelo governo brasileiro? 
A Embraer, a Companhia Vale do Rio Doce, o sistema Telebras, a Light e Companhia Si-
derúrgica Nacional certamente estão entre os negócios mais vultosos do processo nacional. Vale 
lembrar que bancos estaduais foram federalizados e, em seguida, passados ao controle privado. 
É o caso do Banespa, antigo Banco do Estado de São Paulo, o cearense BEC e o maranhense 
BEM. Além disso, vários estados comandaram seus próprios processos de desestatização. 
FONTE: TEXTOS E IMAGEM EXTRAÍDOS DE: HTTP://VEJA.ABRIL.COM.BR/IDADE/EXCLUSIVO/PRIVATIZACOES/01.HTML 
 
A partir dos dois textos, responda às duas questões abaixo: 
a) A partir do texto 1 há uma relação entre o processo de privatização e as redes geográ-
ficas no Brasil? Justifique sua resposta. 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
 
39 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
b) No texto 2 existem exemplos de empresas que foram privatizadas no Brasil. Como 
professor de Geografia, como você explicaria para alunos do ensino médio a questão da priva-
tização e as redes no Brasil? 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 
QUESTÃO 01 
A partir dos seus conhecimentos sobre a relação entre as redes e os movimentos sociais, 
escolha a alternativa correta: 
a) Os movimentos sociais não atuam em rede, portanto o MST é facilmente manipulável 
pelos grandes latifundiários. 
b) O MST utiliza a estratégia em redes para buscar a conquista da propriedade privada. 
c) A relação entre as redes e os movimentos sociais não pode ser analisada a partir de 
uma perspectiva geográfica, mas apenas pelos estudos da Sociologia. 
d) A estratégia em redes beneficia os movimentos sociais, entretanto os latifundiários 
ainda possuem grande força no país, através de uma bancada ruralista no Senado. 
e) A charge demonstra a potencialidade entre as redes e os movimentos sociais, sendo o 
MST o principal exemplo do Brasil. 
 
QUESTÃO 02 
Analise o gráfico abaixo: 
0
10
20
30
40
50
60
Brasil Chile Eua Finlândia Somália Índia Austrália
 
NÚMERO DE USUÁRIOS COM ACESSO ÀS LINHAS TELEFÔNICAS A CADA 100 HABITANTES 
FONTE: IBGE, 2008. ELABORAÇÃO: CLÁUDIA SANTOS. 
 
 
40 
CLÁUDIA SANTOS 
 
a) A partir dos seus conhecimentos sobre as redes geográficas, faça uma descrição do 
gráfico relacionando com a seguinte afirmação: “A rede geográfica é um caso particular de 
rede, sendo definida como conjunto de localizações sobre a superfície terrestre articulado por 
vias e fluxos” (CORRÊA, 1999, p. 65) 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
b) Como professor, você acha este gráfico interessante para as aulas? Justifique sua res-
posta dando exemplos de sua didática. 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
QUESTÃO 03 
Como futuro professor, você provavelmente irá usar filmes como instrumento metodo-
lógico para discutir temáticas geográficas. Assim, achamos interessante discutir o filme “Gat-
taca – A Experiência Genética” para abordar questões geográficas. Este filme foi produzido 
por Andrew Niccol em 1997 e teve como um dos objetivos analisar a experiência genética co-
mo “produtora” de eugenias. Em qual temática seria interessante abordar este filme: 
 
FONTE: HTTP://MRHARTANSSCIENCECLASS.FILES.WORDPRESS.COM/2009/02/ENG_GATTACA.JPG 
a) As redes geográficas no Brasil. 
b) Os excluídos da era informacional. 
c) As revoluções industriais. 
d) As diversas redes sociais no mundo e no Brasil. 
e) As redes geográficas no mundo. 
 
 
41 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
QUESTÃO 04 
Analise o trecho a seguir: 
É cada vez maior a preocupação com as questões socioambientais da Amazônia, já que a 
região possui a maior floresta tropical do planeta. Em vista disto, um estudo de abrangência 
nacional busca levantar dados sobre lutas e reivindicações com o caráter ambiental na Ama-
zônia. A pesquisa é uma parceria da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), da Univer-
sidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e tem por 
nome "Atores e Trajetórias Socioambientais na Amazônia Brasileira". O estudo observa desde 
1998 a influência das grandes personagens dos movimentos na perpetuação da luta de caráter 
ambientalista e de que forma essas manifestações de proteção ao meio ambiente repercutem 
internacionalmente. Além disto, procura demonstrar as relações existentes entre os grupos 
sociais locais, as práticas produtivas e a conservação ambiental. 
FONTE: TRECHO EXTRAÍDO DE HTTP://WWW.BADAUEONLINE.COM.BR/2008/7/1/PAGINA32556.HTM 
A partir do texto podemos afirmar: 
a) O estudo das redes sociais é importante para a Geografia, pois possibilita análises so-
bre as questões ambientais. 
b) A preocupação com as questões ambientais data desde a década de 50 do século XX 
no Brasil, mas os estudos mais recentes foram realizados no inicio do século XXI. 
c) Os seringueiros e ribeirinhos (praticantes de pesca, agricultura e extrativismo) possu-
em práticas predatórias e conseguem aumentar a biodiversidade florestal através dos noma-
dismos. 
d) Os movimentos ambientalistas não atuam em redes, portanto a relação entre estes 
grupos e uma Geografia das Redes é algo irrisório. 
e) O Brasil possui 50 reservas extrativistas, das quais cinco pertencem ao Maranhão, e 
cerca de 96 pedidos de criação de novas reservas estão em processo de análise pelo Instituto 
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
CLÁUDIA SANTOS 
 
Para responder à questão 05 analise a charge a seguir: 
 
FONTE:HTTP://IDGNOW.UOL.COM.BR/IDGIMAGES/ILUSTRAS_REUTILIZAVEIS_IDGNOW/HUMOR-BETA/CHARGE_OBAMA2_400.JPG 
 
QUESTÃO 05 
Relacionando a charge a seus conhecimentos sobre as eleições nos EUA, responda à 
questão a seguir: 
I) As campanhas eleitorais pela internet foram liberadas no Brasil no ano de 2009. En-
tretanto, apenas candidatos podem utilizar estas redes de comunicação e informação, incluin-
do sites próprios e sites de relacionamento. 
II) Atualmente, a internet não é uma estratégia em rede importante para as campanhas 
eleitorais. Mas um dos presidentes dos EUA conseguiu grandes avanços a partir da internet. 
III) A campanha na internet no Brasil só será liberada a partir do dia 5 de julho de cada 
ano, a exemplodo que ocorre com outros veículos. A ideia é que o Brasil adote um modelo 
semelhante ao norte-americano, que foi decisivo para a eleição do atual presidente dos Esta-
dos Unidos, Barack Obama. 
a) I e II são verdadeiras. 
b) I, II e III são verdadeiras. 
c) Apenas a I. 
d) I e III. 
e) Apenas a III. 
 
 
43 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
CONSTRUINDO CONHECIMENTO 
GEOGRAFIA EM QUESTÃO 
A importância de Chico Mendes para as redes ambientalistas. 
 
FONTE: HTTP://WWW.CHICOMENDES.ORG/ 
Todo mundo conhece ou pelo menos já ouviu falar de Chico Mendes. A sua importân-
cia é inegável para as questões ambientais. Assim, devemos demonstrar como Chico Mendes 
foi um dos agentes sociais mais importantes na construção das redes ambientalistas no Brasil. 
Uma das consequências do seu trabalho – após a sua morte – foi a construção de um comitê 
denominado: Comitê Chico Mendes. As informações aqui retratadas foram extraídas do site: 
http://www.chicomendes.org/: 
 
O que é o Comitê Chico Mendes? 
É uma articulação de entidades não governamentais, sindicais e de estudantes. Não é 
uma entidade em si, mas tem uma coordenação que é eleita a cada dois anos entre as entida-
des que o compõem. Dessa coordenação é escolhida uma secretaria. A entidade-secretaria 
também sedia o comitê enquanto durar o seu mandato. 
 
Quando surgiu? 
O comitê foi criado na noite de 22 de dezembro de 1988. As pessoas do movimento so-
cial e político de esquerda do Acre, ao tomarem conhecimento da morte do Chico, dirigiram-
se ao centro da cidade na busca do encontro mútuo como que querendo arrancar do peito a 
bala que de alguma maneira atingiu a todos. O encontro se deu na Casa do Bispo (Diocese de 
Rio Branco), onde foi criado o Comitê Chico Mendes, que permanece até hoje. 
 
Quais são os objetivos? 
1. Lutar para que os assassinos e mandantes fossem punidos. 
 
 
44 
CLÁUDIA SANTOS 
 
2. Divulgar, por todos os meios, as razões do crime e suas ligações com as profundas dis-
torções sociais brasileiras e a responsabilidade do latifúndio, da devastação antiecológica, da 
UDR e a conivência das autoridades. 
3. Apoiar, material e politicamente as reivindicações dos trabalhadores rurais e serin-
gueiros, acossados pelo processo de intimidação e violência crescente por parte de fazendeiros 
e grandes proprietários. 
Para que seus alunos conheçam de maneira mais interessante a vida de Chico Mendes, 
selecione trechos do filme “Amazônia em Chamas“ para os seus alunos. Este filme relata a 
vida de Chico Mendes, seringueiro que lutou em defesa da Amazônia. Sua preocupação com 
a devastação e com o desmatamento da Floresta Amazônica lhe deram reconhecimento 
mundial, alertando o mundo inteiro sobre o mal da destruição desse santuário ecológico. A 
Amazônia possui os maiores recursos biológicos do mundo, mas hoje esse paraíso está ar-
dendo em chamas, ameaçando a fauna e a flora do planeta. O filme mostra, além da destrui-
ção, também os interesses políticos que existiam por trás disso. Para Chico Mendes, a Ama-
zônia devia ser explorada economicamente para ser salva da destruição, e isso não coincidiu 
com a luta que estava acontecendo pelo progresso, luta essa que não media suas consequên-
cias, tornando Chico uma ameaça a esses interesses. Em 22 de dezembro de 1988, Chico 
Mendes foi assassinado. 
 
FONTE: HTTP://WWW.CHICOMENDES.ORG/ 
 
 
 
 
 
 
45 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
1.2 
TEMA 2. 
O GLOBAL E O LOCAL 
1.2.1 
CONTEÚDO 1. 
INTERAÇÕES ESPACIAIS E DINÂMICA BRASILEIRA 
"As interações espaciais constituem um amplo e complexo conjunto de deslocamentos de 
pessoas, mercadorias, capital e informação sobre o espaço geográfico. Podem apresentar maior 
ou menor intensidade, variar segundo a frequência de ocorrência, caracterizar-se por diversos 
propósitos conforme a distância e a direção e se realizar através de diversos meios e velocida-
des" (CORRÊA, p.11, 1997). 
Fonte: http://topicoscomtemporaneos.blogspot com/2009/09/local-e-global.html 
 
A partir da afirmação de Corrêa, entende-se que as interações espaciais constituem-se 
nos diversos fluxos presentes no território. Estes fluxos podem ser materiais (pessoas e merca-
dorias) e não materiais (capitais e informações), e sua intensidade, velocidade e direção são 
influenciadas por interesses políticos e econômicos e pelas condições de infraestrutura do ter-
ritório (como a rede de transportes e comunicação). 
Desta maneira, a compreensão das interações espaciais brasileiras deve partir do enten-
dimento dos fatores históricos e das transformações econômicas e políticas que ocorreram no 
mundo, intensificadas pelo processo da globalização no século XX e pela ampliação das rela-
ções entre os países. 
 
De arquipélago a país-continente 
A atual configuração territorial brasileira resulta de uma “lenta, longa e difícil constru-
ção, tecida durante cinco séculos de história” (IBGE, 2000), na qual os processos de expansão 
 
 
46 
CLÁUDIA SANTOS 
 
econômica, criação de núcleos urbanos e eixos de transporte, ao longo dos séculos XVII, 
XVIII e XIX, ocorreram em grande parte sob domínio colonial português. 
A imagem do arquipélago já foi muito utilizada para representar os processos iniciais de 
constituição do território brasileiro. Mas por que a imagem de um arquipélago? Segundo Gi-
ansanti (2005), 
As regiões do Brasil colônia que foram palco da produção agroexportadora 
se mantiveram sob o domínio do poder central da metrópole portuguesa. Se-
ria, antes de tudo, um arquipélago geográfico, já que não existiam ligações 
entre as regiões, que viviam em relativo isolamento (p.30). 
Para Santos e Silveira (2001, p. 31), durante o processo de integração, podem ser reco-
nhecidos três momentos: o primeiro, do território como arquipélago, constituído de um con-
junto de manchas ou pontos em que se realizavam as atividades mecanizadas; o segundo, no 
qual ocorreu a mecanização da circulação e o início da industrialização; e o terceiro momento, 
no qual esses pontos e manchas são ligados pelas ferrovias e, posteriormente, pelas rodovias, 
criando-se assim as bases para uma integração do mercado e do território. 
Pode-se afirmar que o início da integração do território nacional foi baseado em três fa-
tores principais: os grandes ciclos econômicos concentrados em determinadas atividades pro-
dutivas voltadas para o mercado externo (como a cana-de-açúcar, o ouro e o café); as ações 
internas, como as incursões bandeirantes, a pequena produção mercantil e a expansão da pe-
cuária que, embora incipientes, contribuíram para a ampliação das interações espaciais brasi-
leiras; e as ações da coroa portuguesa e, posteriormente, do Império brasileiro, nos esforços de 
unificação do território. 
 
Incursões bandeirantes 
A expansão bandeirante iniciou-se no século XVI e prolongou-se até o século XVIII. As 
primeiras expedições partiam da Capitania de São Vicente, onde se localizava a Vila de São 
Paulo, fundada em 1554 e percorriam o interior do Brasil para além dos limites estabelecidos 
pelo Tratado de Tordesilhas. Os interesses dos bandeirantes eram basicamente a descoberta de 
minerais preciosos e a caça e escravização dos indígenas. 
 
FONTE: HTTP://WWW.PORTALSAOFRANCISCO.COM.BR/ALFA/BANDEIRANTES/IMAGENS/BANDEIRANTES-3.JPG 
 
 
47 
GEOGRAFIA DAS REDES 
 
Segundo Resende e Moraes (1987), as incursões bandeirantes tiveram quatro eixos prin-
cipais: 
1554 – 1591: Caça aos indígenas, que avançou em direção ao interior de São Paulo e do 
Mato Grosso; 
1650 – 1725: Pesquisa mineral, que se expandiu para o Centro-Oeste e a Amazônia. 
1688 – 1691: Combates a tribos indígenas e a quilombos, pelo litoral das regiões Sudeste 
e Nordeste, avançando para o interior dessa última. 
Sécullo XVII: Expedições fluviais povoadoras e em busca de ouro, em direção ao Mato 
Grosso. 
 
Expansão da pecuária 
Apesar de ter sido uma atividade econômica complementar e voltada

Continue navegando