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TCC TAMIRES MADUREIRA RA 818120249

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARDA COMPARTILHADA DOS ANIMAIS EM CASO DE 
DISSOLUÇÂO DO CASAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TAMIRES MADUREIRA FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2021 
 
 
 
 
TAMIRES MADUREIRA FERREIRA 
2 
 
GUARDA COMPARTILHADA DOS ANIMAIS EM CASO DE 
DISSOLUÇÂO DO CASAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Universidade São Judas Tadeu como requisito 
parcial para obtenção do título graduado em 
direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2021 
 
 
 
 
 
3 
 
GUARDA COMPARTILHADA DOS ANIMAIS EM CASO DE 
DISSOLUÇÂO DO CASAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_________________________________________________________________ 
Prof.(ª): 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AGRADECIMENTO 
 
Aos meus pais, Oswaldo e Adriana e ao meu 
irmão Guilherme, que sempre apoiaram os 
meus sonhos e objetivos e que continuamente 
estiveram presentes nas vitorias e 
principalmente nas derrotas. 
Ao meu marido Henrique, que nunca me 
deixou desistir e me mostrou que o melhor 
sempre está por vir. 
Um agradecimento em especial aos meus 
animais que me despertou o amor e interesse 
por esta linda causa, Nina, Cristal, Teddy, 
Sherry e Dora. 
E o agradecimento indispensável e único a 
Deus, que me abençoou, me sustentou e 
sustenta em todos os dias de minha vida. 
E por fim aos meus professores, que não 
tenho palavras para descrever a admiração e 
paixão que tenho por eles e aos meus amigos 
que são parte vital do meu caminho, Eduarda, 
Paulo, Josiane, Camila e Luiza. 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“ Jamais creia que os animais sofrem menos do que o 
humano. A dor é a mesma para eles e para nós. Talvez pior, 
pois eles não podem ajudar a si mesmo” 
 
Dr. Louis J. Camuti, 1998 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
RESUMO 
 
A presente pesquisa tem por objetivo apresentar e analisar o casamento e a sua dissolução nos 
casos em que as partes possuem em seu ambiente familiar animais de estimação. O que ocorre 
com estes animais após a dissolução. Como os tribunais vem agindo nesses casos, como é 
determinado com quem ficará o animal, não havendo legislação para este tipo de litígio. 
Iniciando pela metodologia utilizada do tipo de pesquisa qualitativa descritiva e bibliográfica 
juntamente com pesquisas baseadas na jurisprudência, doutrinas e legislação podemos 
identificar que atualmente se faz necessário e até mesmo podemos dizer que atua no âmbito da 
sensibilidade deixar de tratar os animais como coisa, como atualmente se encontra em nossa 
legislação e passar a trata lós como seres que possuem sentimento e que fazem parte do ciclo 
familiar. Diante do exposto até aqui, verificamos a necessidade de abordar e estudar mais 
profundamente a inclusão do animal doméstico como ser de sentimentos e que deve ter seus 
direitos afirmados em nosso ordenamento jurídico, estes direitos já reconhecidos em diversos 
países. 
 
 
Palavra-chave: Guarda compartilhada, analogia, casamento, divorcio, animais, família. 
 
 
ABSTRACT 
This research aims to present and analyze marriage and its dissolution in cases where the parties 
have pets in their family environment. What happens to these animals after dissolution. How 
the courts have been acting in these cases, how it is determined with whom the animal will 
remain, with no legislation for this type of litigation. Starting with the methodology used of the 
type of qualitative descriptive and bibliographic research, together with research based on 
jurisprudence, doctrines and legislation, we can identify that it is currently necessary and we 
can even say that it acts within the scope of sensitivity to stop treating animals as a thing, as 
currently is found in our legislation and to treat them as beings who have feelings and are part 
of the family cycle. Given the above, we see the need to address and study more deeply the 
inclusion of the domestic animal as a being of feelings and that must have its rights affirmed in 
our legal system, these rights already recognized in several countries. 
 
 
7 
 
Sumário 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 8 
1. A IMPORTANCIA DO ANIMAL NO NOVO CICLO FAMILIAR ............................................................. 10 
1.1 DISSOLUÇÃO DO MATRIMONIO E A GUARDA COMPARTILHADA .................................................. 11 
1.2 NATUREZA JURIDICA DOS ANIMAIS ............................................................................................... 13 
2. A GUARDA E SUAS IMPLICAÇÕES ................................................................................................... 14 
2.1 DISPUTA DA GUARDA COMPARTILHADA ....................................................................................... 15 
3. IDENTIFICAÇÃO DO ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS ................................................................... 16 
3.1 O USO DA ANALOGIA ..................................................................................................................... 18 
3.2 ANALISE DOS EFEITOS DAS DECISÕES PROFERIDAS PELOS TRIBUNAIS ......................................... 19 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................ 23 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................... 25 
ANEXOS ................................................................................................................................................. 29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
Atualmente os animais passaram a ocupar um espaço ainda maior no ceio familiar e com 
isto esse estudo passa a ter mais força e necessidade. Para muitas famílias este animal não é 
uma coisa como para o nosso ordenamento, ele é possuidor de sentimentos. 
Os animais sempre tiveram seu espaço, porém a muitos anos atrás eram tratados e serviam 
para atividades diferentes, como por exemplo a caça. Entretanto eles estão desempenhando 
papeis de “filhos” para muitos casais. Podemos concluir com clareza a necessidade de um maior 
tato ao lidar com estes. 
De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 
2015, em nosso país, 44,3% dos domicílios das áreas urbanas e 65% das áreas rurais contam 
com pelo menos um cão, em contraste com o número de crianças, que nas cidades não passa de 
38,1%1. Esta pesquisa fortalece a relação do ser humano com o seu animal. 
 
Os tribunais já passaram a receber casos com este tipo de litigio, onde as partes disputam 
com quem ficará o animal. Em decorrência da falta de legislação acerca do direito dos animais 
diante do divórcio, vem se utilizando a analogia que de acordo com a LINDB. Quando a lei for 
omissa o juiz se utilizará da mesma de acordo com o disposto no Código Civil sobre a guarda 
e visita de crianças e adolescentes. 
Segundo o juiz de segundo grau José Rubens Queiróz Gomes: 
 
“Decidir de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de 
direito, nos termos do artigo 4º da Lei de Introdução às Normas de Direito 
Brasileiro”. 
 
"Considerando que na disputa por um animal de estimação entre duas pessoas 
após o término de um casamento e de uma união estável há uma semelhança 
com o conflito de guarda e visitas de uma criança ou de um adolescente, 
mostra-se possível a aplicação analógica dos artigos 1.583 a 1.590 do Código 
Civil”. 2 
 
 
 
 
1 ESTADO DE MINAS;ESTADO DE MINAS. Brasil já tem mais cachorro que criança nas casas. Disponível 
em: <https://www.revistaencontro.com.br/canal/atualidades/2017/11/brasil-ja-conta-com-mais-cachorros-do-
que-criancas-nas-
casas.html#:~:text=Segundo%20dados%20do%20Instituto%20Brasileiro,passa%20de%2038%2C1%25.>. 
Acesso em: 2 out. 2021. 
2 Agravo de Instrumento nº 2052114-52.2018.8.26.0000 -Voto nº 10559 L 
9 
 
Como exemplo, o Tribunal de Justiça de São Paulo deferiu a guarda compartilhada de 
dois cães da raça Spitz Alemão, tendo sido adquiridos juntamente pelo casal no tempo em que 
estavam casados, deferiu que a outra parte terá direitos a visitas alternadas. O que não pode ser 
confundido com a guarda compartilhada dos filhos, pois ao menos temos normatividade se 
tratando dos animais. 
 
Segundo Marianna Chaves: 
 
“Os movimentos em prol dos direitos dos animais foram historicamente 
baseados em ideais de bem-estar. Sabe-se que hoje no ordenamento jurídico 
existem diversas normas que amparam os animais”. Nessa situação, a nossa 
Constituição Federal de 1988 no artigo 225, §1°, VI e VII, preceitua a 
importância de promover a educação ambiental e proteger a fauna e a flora, 
vedando práticas de crueldade que coloquem em risco a sua função ecológica 
de extinção. 3 
 
É muito importante para essas famílias que seus animais de estimação não sejam 
tratados como apenas semoventes ou até mesmo uma coisa, pois já se vem desenhando um novo 
ambiente familiar, estes seres mesmo não possuindo consanguinidade com os seus pais são 
considerados filhos, gerando assim um novo conceito de família. 
 
Em seu livro, Libertação Animal, Peter Singer afirma: 
 
“A extensão do princípio básico da igualdade de um grupo a outro não implica 
que devamos tratar ambos os grupos exatamente da mesma forma, ou conceder 
os mesmos direitos aos dois grupos, uma vez que isso depende da natureza dos 
membros dos grupos. O princípio básico da igualdade não requer um tratamento 
igual ou idêntico; requer consideração igual. A consideração igual para com os 
diferentes seres pode conduzir a tratamento diferente e a direitos diferentes”. 4 
 
Evidenciando assim, Peter Singer expos as diferenças entre os animais e os humanos, 
de forma a dar origem a diferentes direitos. Entretanto essas diferenças não levam a impedir 
que se estenda aos animais o princípio da igualdade. 
 
Diante de todo o exposto acima, foi visto e afirmado a necessidade de ser verificar como 
os tribunais vem decidindo em relação a esta nova problemática, levando em conta a falta da 
 
3 CHAVES, Marianna. Disputa de guarda de animais de companhia em sede de divórcio e dissolução de união 
estável: reconhecimento da família multiespécie. Artigo científico. 2016. 
4 SINGER, Peter. Libertação Animal. 1975 p.20 
10 
 
legislação. Como os tribunais estão se conduzindo apenas com a analogia da guarda 
compartilhada de filhos, diante do novo conceito de família. 
 
1. A IMPORTANCIA DO ANIMAL NO NOVO CICLO FAMILIAR 
 
Os animais de estimação passaram a fazer cada vez mais parte da família moderna. E não 
fazendo uso de seu papel tradicional de animais de estimação e sim como legítimos membros 
da família. A relação afetiva que eram sempre voltadas aos filhos estão sendo passadas a ser 
preenchidas por cães e gatos, isto está se tornando cada vez mais comum entre as famílias. 
Pesquisa recente publicada pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 divulgada pelo 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelou que em 46,1% dos domicílios tinham pelo 
menos um cachorro. Já os gatos eram parte de 19,3% dos lares brasileiros. Está cada vez mais 
maior o número de famílias que veem seus bichinhos não como meros animais de estimação, 
mas sim como verdadeiros membros da família. Segundo a pesquisa do SPC Brasil com mais 
de 600 donos de animais de estimação mostrou que 61% deles tratam seus animais como 
membros da família. Vinte e três por cento dos entrevistados disseram, inclusive, que dormem 
com seus pets no próprio quarto.5 
A família atual passa a identificar o conceito de família baseando-se no afeto adquirido 
pelo animal de estimação, tornando integrante do núcleo familiar. De acordo com Sarria: 
“Afeto seria definido como um sentimento de apego por uma pessoa ou animal, 
ou seja, uma forma do ser humano expressar os seus sentimentos em forma de 
carinho e cuidado” 6 
 
Em suma, a família brasileira funda-se no afeto pelos seus integrantes, inclusive pelos 
seus animais. Tendo o animal passado a ser enxergado de forma diferente, possuindo o afeto 
como base, resultam em preocupação para autoridades competentes, inclusive ao judiciário. 
É inegável a atenção e preocupação dos donos de animais de estimação. Do qual 
passaram a ter cuidados idênticos de quando se tem um filho ser humano, pode não se 
 
5 RIOS, R. Quase 48 milhões de domicílios no Brasil tem cães ou gatos, aponta pesquisa do IBGE. 2019 
6 SARRIA, Larissa de Freitas Tristão, NADER, Carmen Caroline Ferreira do Carmo. Artigo científico. 2018. 
Guarda compartilhada dos animais de estimação nos casos de dissolução do casamento ou da união estável. 
11 
 
comunicar com palavras, porém ele sabe que se versa de outro ser vivo e sente dor igual a uma 
criança. 
Portanto segundo Marianna Chaves: 
“O status que os pets ocupam dentro das famílias é facilmente perceptível, da 
análise de estatísticas. O lugar dos animais como membro das entidades 
familiares vem paulatinamente crescendo. Há casais que se unem e 
simplesmente não desejam procriar, não desejam possuir descendência humana. 
Mas “adotam” cachorros, gatos e outros tipos de animais domésticos a quem 
carinhosamente chamam de “filhos” e tratam como se sua prole fosse. Em seu 
íntimo, sentem-se exercitando a parentalidade em relação a seres que não são 
humanos. ”7 
 
Os animais de estimação deixaram de ser o melhor amigo do homem e passam a ser um 
componente do núcleo familiar. Esta nova identificação de família é chamada de multiespécie, 
onde está é formada por uma pessoa, alguns membros ou um casal e o animal de estimação, 
com integração humano-animal e relação de afeto, merece um tratamento igualitário na 
legislação brasileira. 
 
1.1 DISSOLUÇÃO DO MATRIMONIO E A GUARDA 
COMPARTILHADA 
 
Através do Código Civil de 1916 passamos a regulamentar e conceituar a família tão-
somente por meio do matrimonio, do qual foi composto por marido, mulher e filhos. Sendo esta 
instituição jurídica e social resultante de casamento ou união estável, composta por duas pessoas 
de sexo diferentes com a finalidade de constituírem uma comunhão de vidas e, via de regra, de 
terem filhos a quem possam transmitir o seu nome e o seu patrimônio. Denomina-se de pequena 
família, pois o grupo é reduzido ao seu núcleo essencial. 
 
Sendo o casamento o único modo legitimo de comprovar a união entre casais e a família 
podendo ser constituída apenas quando composta por pessoas de sexo diferente, podemos dizer 
que este conceito inicial de família que se formou dentro do direito era discriminador. Aqueles 
que não o seguiam eram considerados como família ilegítima. O direito de família da época 
sabendo-se que o Direito é flexível e mutável, tendo em vista que se baseia em uma sociedade 
 
7 CHAVES, Marianna. Disputa de guarda de animais de companhia em sede de divórcio e dissolução de união 
estável: reconhecimento da família multiespécie. Artigo científico. 2016. 
12 
 
que nunca será sólida e inalterável, pois se forma de vários tipos de vieses culturais, históricos 
e, etc., se viram obrigados a se adequar as necessidades da época. 
Desta forma o direito realizou importantes alterações e passou a proteger a entidade 
familiar, segundo o entendimento de Maria Berenice Dias, 
 
“Instaurou a igualdade entreo homem e a mulher e esgarçou o conceito de 
família, passando a proteger de forma igualitária todos os seus membros. 
Estendeu igual proteção à família constituída pelo casamento, bem como a 
união estável entre o homem e a mulher e à comunidade formada por qualquer 
dos pais e seus descendentes, que recebeu o nome de família monoparental. 
Consagrou a igualdade dos filhos, havidos ou não no casamento, ou por adoção, 
garantindo-lhes os mesmos direitos e qualificações. ” 8 
 
A partir da Carta Magna de 1988 a família tradicional passou a ser mais uma forma de 
constituir um núcleo familiar, abarcando princípios e direitos conquistados pela sociedade. Em 
consenso com o artigo 266 da Constituição de 1988 incide a ser uma sociedade fundada na 
igualdade e no afeto. Esta mudança se deu por influência principalmente pela Constituição 
Federal de 1988 que, alterou o conceito de familial impondo novos modelos. 
Após este progresso no nosso direito de família, entramos na questão da dissolução dessa 
união, o que ocorre com as partes que não desejam mais manter essa união e o que ocorre com 
os envolvidos nela. 
Com a atual figura de família, muitas das vezes sendo somente o tutor, tutora e o seu animal 
de estimação sendo parte dessa união, sendo tratado este animal como filho em muitos dos 
casos. No momento do divórcio, com quem ficará este animal, sendo que as duas partes nutrem 
um sentimento de amor por ele, podendo até mesmo os dois terem adotado o animal em 
conjunto. 
Com muitos desses casos ocorrendo, o que podemos ver é que vem se fazendo uma analogia 
com a guarda compartilhada de filhos. Tendo os tutores que dividir o tempo que passaram com 
o animal de estimação, passando estes quinze dias com um e outros quinze com o outro. 
Na maioria dos casos estudados temos um tutor que ficará responsável pela guarda efetiva 
e outro que dará uma ajuda de custos para serem usados com medicamentos, consultas 
veterinárias, banhos, ração, com tudo o que o animal vier a precisar. E este também ficará 
 
8 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2009.p.31 
13 
 
encarregado de observar como este animal vem sendo tratado com o seu tutor que possui a 
guarda. 
 
1.2 NATUREZA JURIDICA DOS ANIMAIS 
 
O animal para o direito brasileiro é definido como coisa, bem móvel, objeto do qual 
pode ser comprado, doado, emprestado, violados, muitos desses animais são usados para teste 
de cosméticos, testes clínicos, entretenimento, animais de trabalho, trabalhos árduos como 
propriedade daquele que o obtém. Com esta analise podemos exemplificar qual é a visão do 
nosso ordenamento jurídico para com estes seres, permitindo que tais atos sejam praticados. 
Porém com a mudança de seu status na sociedade, este tema vem ganhando seu espaço 
no direito de família e do Direito Civil. Passa-se a ideia de uma necessidade de outorgar o 
direito destes para que deixem de serem considerados objetos e ganhem respaldo no direito de 
família. Já entendemos que não se deve tratar o animal como mera coisa, mas devido à falta de 
uma lei específica ou uma definição adequada, ficamos diante de um obstáculo. Fazendo assim 
que estes não sejam protegidos integralmente. 
“Atualmente se tornou um dos mais simbólicos conflitos jurídicos dos tempos 
atuais à identificação da natureza jurídica dos animais para destinar 
corretamente aos animais o regime que lhes é próprio”9 
 
Contudo, esses vínculos afetivos gerados entre seus tutores e os animais de estimação 
estão trazendo uma nova visão jurídica, trazendo estas preocupações para além dos animais 
domésticos, mas também aos demais. Por exemplo, a lei de controle de pesquisa com animais 
Lei nº 11.79431, sancionada no ano 2008, regulamentou o artigo nº 225 da Constituição Federal 
de 1988 e estabeleceu as normas válidas até hoje para o uso de animais em pesquisas científicas, 
substituindo a Lei 6.638, de 1979, que até então determinava as regras para a "prática didático 
científica da vivissecção de animais". 
 
Podemos dizer que o posicionamento atual da sociedade está mudando em relação aos 
animais e como estes laços afetivos vem influenciando para que estas mudanças ocorram. Pois 
 
9 GODINHO, Adriano Marteleto, GODINHO, Helena Telino Neves. Artigo científico. 2017. A controversa 
definição da natureza jurídica dos animais no estado socioambiental. 
 
 
14 
 
está cada vez mais latente a necessidade de existir na legislação brasileira amparo legal para as 
questões atuais envolvendo o trato com os animais. 
 
2. A GUARDA E SUAS IMPLICAÇÕES 
 
Um tema de grande importância quando falado em guarda é com quem ficará os filhos 
menores de idade, como será tomada essa decisão. O direito de família passou por muitas 
mudanças, podemos citar que no código de 1916 a guarda dos filhos era decidida de acordo 
com a idade da criança, sexo e até mesmo se houve um culpado pelo divorcio ou se foi de forma 
amigável. 
 
 Com isto eram gerados muitos conflitos, pois muitos dos genitores se aproveitavam 
desta condição para exercitar a alienação parental. Com o Código Civil de 2002, passou –se a 
evidenciar a necessidade de guiar essas decisões de forma mais justa e pensando no melhor 
interesse para o menor. 
 
 Atualmente nosso conceito de família está modificado, como apresentado neste trabalho 
podemos dizer que o animal de estimação em muitas famílias passou a ocupar o lugar de filho 
no ceio familiar. 
 Embora pareça que a guarda compartilhada está totalmente ligada à vontade e 
sentimento dos tutores, esta também é essencial para o animal, pois este também cria vínculos 
afetivos com ambas as partes. Este animal pode a vir sofrer diversas consequências pela falta 
de um de seus tutores, como por exemplo: mudanças de personalidade, problemas de 
comportamento, como ansiedade ou agressividade, excesso de horas de sono, falta de apetite, 
entre outros.10 
11 
 Desta forma se faz necessário um olhar mais atento para a questão da guarda dos animais 
de estimação. E após determinado esta guarda compartilhada pela lei, o animal poderá levar um 
tempo para se adaptar, sendo necessário um trabalho em conjunto de seus tutores, para que esse 
processo ocorra de forma mais tranquila e mais rápida. 
 
 
10 Teófilo, Dr. Samuel, médico veterinário, especializado em comportamento animal. FORMADO: Unifenas -
Universidade José do Rosario Vellano. Clínica médica de Pequenos animais 
 
15 
 
2.1 DISPUTA DA GUARDA COMPARTILHADA 
 
Tendo em consideração ao que foi apresentado no tópico anterior sobre a natureza jurídica 
dos animais de estimação no ordenamento, do qual ainda trata o animal como objeto. Não 
podemos dizer que o mesmo será e deve ser tratado como tal, já que a sociedade vem se 
mostrando afetiva as mudanças ocorridas. Quando um caso concreto chega ao judiciário, este 
pode analisar além das provas documental, todas as vertentes existentes para o caso. 
Com esta modificação no núcleo familiar e nos padrões da sociedade está se tornando 
mais frequente o status de filhos, irmãos, netos para os animais de estimação. O que resulta no 
aumento de casos referente a dissolução do matrimonio, que estes venham a recorrer ao Poder 
Judiciário para dividir seu patrimônio e com isso decidir sobre a guarda dos filhos, bem como 
decidir sobre os animais de estimação. 
Nos países de 1º mundo os animais já são tratados como parte da família e os tribunais 
já possuem um entendimento mais avançado sobre a guarda compartilhada, possuindo até 
mesmo legislação especifica. Quanto aqui no Brasil isso ainda não está tão resolvido, baseando 
se o Brasil nos projetos já aprovados destes países. No que podemos dizer esse apego aos 
animais de estimaçãoé tendencial mundial, consequência da globalização. 
Outro ponto de suma importância é a nomenclatura dado ao indivíduo que adota este 
animal, sempre foi utilizado a palavra “ser dono”, porem isso remete a objeto, algo que podemos 
adquirir. E é exatamente este tipo de pensamento que a sociedade vem com tanta forçar tentando 
descontruir. Hoje se vê com mais frequência os indivíduos tratando como “tutor” aquele que 
cuida de um animal de estimação. 
Quando o matrimonio é desfeito e não foi alcançado um acordo entre os dois parceiros 
necessita-se responder duas questões em relação à visita e a guarda de seus animais de 
estimação após a separação. Não havendo acordo, se faz necessário: 
Deve os tribunais de família envolver-se nessas questões? E se deve, em 
segundo lugar, que critérios devem ser utilizados para resolver essas questões 
sobre visita e guarda? Quanto à possibilidade de que os tribunais de família 
devem se envolver nas disputas sobre os animais de estimação da família, a 
resposta é sim, quer como propriedade ou como uma analogia para as crianças.12 
 
12 EITHNE Mills, AKERS, Kreith. Quem fica com os gatos, você ou eu? Revista Brasileira de Direito 
Animal. Artigo científico. 2011. 
 
16 
 
Diante da situação de divórcio o animal pode ser considerar como uma espécie 
vulnerável e no momento da escolha do titular pode ser proferido a decisão com base nas 
imposições do Estatuto da Criança e do Adolescente como fazer analogia a guarda de crianças. 
Mesmo se tratando de guarda unilateral ou compartilhada. 
Quando decidido por guarda unilateral a responsabilidade dos tutores deve ser de grande 
atenção, pois na analogia aplicada é equiparado o animal como se fossem filhos pelo judiciário. 
Neste caso não excluindo a responsabilidade de um dos tutores, apenas dando a maior parte dos 
cuidados a um de seus tutores. Enquanto o outro fica responsável por vigiar e além disso com 
uma ajuda de custos, que devem ser usados para ração, medicamentos, vacinas, veterinário, 
banho e tosa, e outras tantas, levando sempre em consideração as necessidades do animal. 
Deve-se sempre preservar o vínculo afetivo do outro tutor, não evitando a visita. 
Buscando sempre trazer o menor impacto para o animal de estimação, pois a guarda 
compartilhada visa os dois participarem dos direitos e deveres para com o anima 
Com este tema em alta, é grande o número de casais que criam acordo pré-nupcial para 
antecipar a solução de casos como antes em um futuro divórcio, caso ocorra. Isto devido à falta 
de legislação para o tema. Inclui-se nestes acordos questões relacionadas a guarda, direito de 
visitas e outros interesses relativos ao animal de estimação. 
Tornando-se assim uma obrigação familiar baseada no afeto. 
3. IDENTIFICAÇÃO DO ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS 
 
Vamos expor dois casos a seguir. 
 
A questão da guarda compartilhada depende da decisão do juiz, como iremos observar: 
Em um caso na 3ª Vara da Família e Sucessões de São Paulo em março de 2021 a juíza de 
primeiro grau Andréa Castillo Garcia Paranhos proferiu decisão de guarda compartilhada de 
“Tamtam e Cho” após separação do casal. Tendo a juíza deferido a pedido de tutela de urgência 
para determinar que “cada parte permaneça pelo prazo de quinze dias consecutivos com os 
animais de estimação”. Ficando ainda assim a agravada responsável pela retirada e devolução 
dos mesmos na residência do réu, em horário a ser previamente ajustados pela parte. 13 
 
13 TJ-SP-AI:20399305920218260000 SP 2039930-59.2021.8.26.0000,relator:Carlos Henrique Miguel Trevisan, 
Data de Julgamento:08/03/2021, 29ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 08/03/2021 
17 
 
 O réu não contente com a decisão, solicitou reforma da mesma. Alegando que devido a 
alta carga de litigiosidade entre as partes, o compartilhamento da guarda dos animais de 
estimação é inviável, alegando também estar trabalhando home office, podendo assim estar em 
tempo integral com os animais e a outra parte por ter uma rotina corrida não daria a atenção 
necessária e que é proprietário de ambos os animais, pois tendo ganho da autora o Tamtam e 
no final de 2019 tendo comprado o filhote Cho. E por último alegando receio quanto a 
integridade dos animais, pois não tendo aceito o termino do relacionamento tem medo de que 
a autora possa causar lhe mal os animais para atingi lo. 
Segundo Chaves: 
“Um tema extremamente ‘desafiador’ e que não pode ser ignorado, nesse novo 
contexto sócio jurídico trazido pela Carta Magna, ou seja, a posse, a guarda e 
um eventual direito de convivência com o animal de companhia, quando finda 
a união estável ou o casamento das partes. O relator invocou ainda a irrefutável 
importância de que os pets vêm ostentando em nossa sociedade. De certa 
maneira, pode-se afirmar que esse tipo de altercação se assemelha imensamente 
aos conflitos relacionados à guarda de crianças e adolescentes.” 14 
 
A decisão terminou não sendo reconhecida o pedido de agravo do reu e mantendo assim a 
decisão proferida pela juíza. 
Em outro caso o Juízo da 2ª vara da familia e sucessões do Foro Regional da Nossa Senhora do 
Ó da Comarca da Capital de São Paulo, caso publicado em 28/05/2021. Onde podemos ainda 
destacar a pouca experiência dos tribunais para tratar deste assunto, tendo na ação de nº 
0016762-62.2021.8.26.0000 um conflito entre os juízos Cível e de Família e Sucessões quanto 
à competência para processar e julgar a lide. 15 
 Nesta ação Juliana Zadra ajuizou a ação para reclamar a guarda de dois cães da raça 
Spitz Alemão, conhecidos como Larmor e Curie, do qual era criados juntamente com ex-
companheira Juliana Stivanelli. 
 As partes se casaram em 07/10/2017 sob regime de comunhão parcial de bens, e estão 
separadas de fato desde setembro de 2020. Com isto Juliana Zadra busca a regulamentação da 
“custodia alternada” de seus animais de estimação, adquiridos durante o casamento. 
 
Diz o Ministro Luiz Felipe Salomão: 
 
 
14 CHAVES, Marianna. Disputa de guarda de animais de companhia em sede de divórcio e dissolução de união 
estável: reconhecimento da família multiespécie. 2016.p15. 
15 TJ-SP-CC: 00167626220218260000 SP 0016762-62.2021.8.26.000, Relator: Issa Ahmed, Data de Julgamento: 
28/05/2021, Câmara Especial, Data de Publicação: 28/05/2021 
18 
 
“Muito embora os animais sejam classificados como bens moveis semoventes 
no Código Civil, é inegável que na sociedade atual ostentam valor subjetivo 
único e peculiar, aflorando sentimentos bastante íntimos em seus donos, 
totalmente diversos de qualquer outro tipo de propriedade privada” 16 
 
Um grande número de ações como estas traz ao judiciário a necessidade de leis 
especificas e demostra a fragilidade que se encontra o sistema. Não sendo capaz de dar a devida 
proteção a estes animais e acabando em uma injustiça pela falta de diretrizes e leis vigentes. 
 
3.1 O USO DA ANALOGIA 
 
A analogia é o método mais utilizado para que seja resolvido os conflitos em questão, tendo 
o judiciário se utilizado das leis de guarda compartilhada de filhos, pois como já apresentando 
não temos legislação própria. A opção do uso da analogia como uma das técnicas de integração 
de normas propende diminuir expressivamente ocasiões que poderiam não ter respaldo judicial. 
 
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro garante que, com a omissão da lei, o 
magistrado poderá fazer o uso da analogia e outros meios para proferir a decisão do caso 
concreto atípico. Ainda tratado pelo autor Valle, Borges, é a utilização de analogia sobre a 
ausência de normas envolvendo a família multiespécie: 
 
“A ausência de normas tem obrigado os magistrados a utilizarem a analogia 
para resolver as divergências de guarda dos animais com o término das relações 
familiares.A possibilidade de utilização da analogia como uma das técnicas de 
integração de normas visa diminuir significativamente situações que poderiam 
não ter respaldo judicial; é necessário um profundo estudo por parte do 
magistrado do caso concreto, para que a aplicação da analogia ocorra de forma 
correta, pois serão levadas em conta as necessidades psíquicas dos envolvidos 
e as necessidades básicas condizentes à manutenção da vida do animal. ”17 
Está sendo encontrado na analogia a técnica mais apropriada para estes casos e com isto 
traz uma solução temporária. Entretanto se faz necessário um estudo aprofundado de como o 
magistrado irá aplicar esta analogia, pensando no bem-estar e direitos dos animais. Para que 
estes não venham a ser lesados por falta de uma proteção judicial adequada e especifica. 
 
16 Ibid. 
17 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2009. 
 
 
19 
 
 Mas a pergunta é: “a guarda compartilhada seria a melhor maneira de solucionar este 
problema”? A Dra. Regina Beatriz Tavares da Silva, explica que, se o animal efetivamente é de 
ambos os cônjuges e se estes nutrem a mesma estima pelo pet, o ideal nesse caso é optar pela 
guarda compartilhada.18 
Segundo ela, “Nesta alternativa, o animal terá a atenção de ambos, até mesmo no que diz 
respeito às necessidades e tratamentos, incluindo os cuidados veterinários e afetivos. Na guarda 
compartilhada, o ex-marido e a ex-mulher exercem os mesmos poderes e têm os mesmos 
deveres sobre o animal, regulando-se o regime de companhia, ou seja, quantos dias ficará com 
um e com o outro”. Isto pode ser feito por meio de cláusulas estabelecidas de comum acordo 
entre os cônjuges, ou por meio de decisão judicial, conforme exemplificado anteriormente. 
 
19 
3.2 ANALISE DOS EFEITOS DAS DECISÕES PROFERIDAS PELOS 
TRIBUNAIS 
 
 Não tardou para que questões relacionadas a família multiespecie sobre a guarda 
compartilhada de seus animais de estimação chegassem ao judiciário. Fazendo com que o 
magistrado apele para os recursos disponíveis, como por exemplo a utilização de princípios 
constitucionais, o uso da analogia como demostrado no capitulo acima e ainda sobre os 
costumes vigentes. 
Com o grande número de ações propostas com o tema da guarda compartilhada de 
animais em caso de divórcio, começou a surgir jurisprudências e com ela passou a facilitar as 
decisões dos tribunais. 
Tivemos o primeiro caso apresentado ao tribunal no ano de 2015, onde a tutora entrou 
com a ação após seu pedido de visitas ao animal ser negado pelo seu ex-marido. Tendo seu 
pedido negado em primeira instancia, mas a decisão do TJ determinou a guarda compartilhada. 
Pela decisão, proferida pela 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal, cada um terá o direito 
de ficar com o animal durante semanas alternadas. Decisões que envolvam mudanças na rotina 
de vida do cão, chamado Rody, ou que impliquem em acompanhamento por mais de uma 
semana, entretanto, terão que ser tomadas conjuntamente pelo ex-casal. 
 
18 Silva, Dra. Regina Beatriz Tavares. Advogada e presidente da ADFAS (Associação de Direito de Familia e das 
Sucessões). Entrevista dada para a Revista D’Avila Digital. 
 
20 
 
O relator deste processo Carlos Alberto Garbi em seu voto nos apresenta a importância 
e clareza na necessidade de uma guarda compartilhada: 
 
GUARDA E VISITAS DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. SEPARAÇÃO 
JUDICIAL. O animal em disputa pelas partes não pode ser considerado como 
coisa, objeto de partilha, e ser relegado a uma decisão que divide entre as partes 
o patrimônio comum. Como senciente, afastado da convivência que 
estabeleceu, deve merecer igual e adequada consideração e nessa linha entendo 
deve ser reconhecido o direito da agravante, desde logo, de ter o animal em sua 
companhia com a atribuição da guarda alternada. O acolhimento da sua 
pretensão atende aos interesses essencialmente da agravante, mas tutela, 
também, de forma reflexa, os interesses dignos de consideração do próprio 
animal. Na separação ou divórcio deve ser regulamentada a guarda e visita dos 
animais em litígio. Recurso provido para conceder à agravante a guarda 
alternada até que ocorra decisão sobre a sua guarda. 
 
Outro caso concreto da apelação civil nº 0019757-79.2013.8.19.0208, que ocorreu no 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e possui como relator o Desembargador 
Marcelo Lima Buhatem, sendo esta julgada em 27 de janeiro de 2015: 
 
 
DIREITO CIVIL - RECONHECIMENTO/DISSOLUÇÃO DE UNIÃO 
ESTÁVEL - PARTILHA DE BENS DE SEMOVENTE - SENTENÇA DE 
PROCEDÊNCIA PARCIAL QUE DETERMINA A POSSE DO CÃO DE 
ESTIMAÇÃO PARA A EX-CONVIVENTE MULHER–recurso que versa 
exclusivamente sobre a posse do animal – réu apelante que sustenta ser o real 
proprietário – conjunto probatório que evidencia que os cuidados com o cão 
ficavam a cargo da recorrida direito do apelante/varão em ter o animal em sua 
companhia – animais de estimação cujo destino, caso dissolvida sociedade 
conjugal é tema que desafia o operador do direito - semovente que, por sua 
natureza e finalidade, não pode ser tratado como simples bem, a ser hermética 
e irrefletidamente partilhado, rompendo-se abruptamente o convívio até então 
mantido com um dos integrantes da família - cachorrinho “dully” que fora 
presenteado pelo recorrente à recorrida, em momento de especial dissabor 
enfrentado pelos conviventes, a saber, aborto natural sofrido por estes – 
vínculos emocionais e afetivos construídos em torno do animal, que devem ser, 
na medida do possível, mantidos - solução que não tem o condão de conferir 
direitos subjetivos ao animal, expressando-se, por outro lado, como mais uma 
das variadas e multifárias manifestações do princípio da dignidade da pessoa 
humana, em favor do recorrente –parcial acolhimento da irresignação para, a 
despeito da ausência de previsão normativa regente sobre o tema, mas 
sopesando todos os vetores acima evidenciados, aos quais se soma o princípio 
que veda o non liquet, permitir ao recorrente, caso queira, ter consigo a 
companhia do cão dully, exercendo a sua posse provisória, facultando-lhe 
21 
 
buscar o cão em fins de semana alternados, das 10:00 hs de sábado às 17:00hs 
do domingo. 
 
 
A apelação apresentada foi proposta contra sentença de ação de dissolução de união 
estável simultaneamente com partilha de bens, sendo solicitada em petição inicial pela apelada 
a guarda do animal de estimação. 
 
Tendo o apelante contestado a petição inicial, pois o mesmo alega ser dono do animal, 
do qual sempre realizou passeios, consultas ao veterinário, sempre teve todos os cuidados 
necessários para o bem-estar do animal. E sempre arcou com os custos que o animal de 
estimação precisou, como vacinas, ração. Entretanto, a apelada conseguiu comprovar em 
conjunto probatório que se tratava da responsável pelo animal de estimação. 
Ambas as partes demostraram grande afeição pelo animal no decorrer da demanda e a 
importância que este animal possui. Pois o mesmo foi adquirido em momento de muita tristeza 
e angustia, sendo dado após um aborto espontâneo sofrido pelo casal. 
 
O relator observou o princípio da dignidade da pessoa humana, ao dar seu voto 
valorando a relevância do animal para as partes, tentando assim não gerar um prejuízo 
emocional aos litigantes, estes já estando tão abalados pelos infortúnios promovidos pelo fim 
da união estável. Tendo ainda o relator ressaltado a importância do animal ao ponto das partes 
considera-lo como membro da família e este a fim de sanar a problemática do caso, confrontou-
se com o desafio de atuar em uma demanda que não apresentava lei especifica para o caso 
concreto. 
Foram colocados em pauta as necessidades não só dos sujeitos da ação, mas também do 
animal de estimação, este quejá apresentava idade avançada. 
Inclui que inúmeras ações como esta surgirão com o passar do tempo, tratando-se da 
problemática que envolve a guarda compartilhada dos animais de estimação, devido à ausência 
de lei especifica e a diversidade de decisões diante de casos concretos gera no magistrado uma 
insegurança jurídica. 
Vem ocorrendo na maioria das ações o uso da jurisprudência, criando assim um 
sentimento forte de necessidade de lei que regulamente a guarda compartilhada desses animais. 
Desta forma garantindo a segurança jurídica e possibilitando ao magistrado manifestar-se com 
maior respaldo legal e permitindo que o direito dos envolvidos sejam garantidos. 
 
22 
 
Devido ao tema ser relativamente novo, podemos encontrar vários posicionamentos 
jurisprudências diversos, por não possuir uma lei que a regulamente de forma clara e especifica 
retornando assim a insegurança. Ao qual os envolvidos não desejam quando recorrem ao 
judiciário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
O desenvolvimento do presente estudo abordou a guarda compartilhada dos animais 
domésticos. 
Para elucidar a respeito deste tema retornamos primeiramente para analisar o casamento, o 
desenvolvimento do matrimonio dentro do Direito de Família no Brasil. Com esta pesquisa 
inicial podemos identificar que o direito é mutável, flexível, dentro do possível, ele se baseia 
nas relações pessoais e acompanha, mesmo que de forma tardia, as mudanças da sociedade. 
Alterando e criando assim novas leis, costumes, jurisprudências, culturas e etc. 
 
O presente artigo focou na proteção e na modificação que os animais de estimação vêm 
passando no ambiente familiar, inclusive chegando a demostrar casos de contrapontos de visões 
sobre o tratamento jurídico dos animais. 
 
Podemos notar o desenvolvimento do afeto das famílias com os animais de estimação, a 
afeção dado a estes animais e a importância que passam a ter dentro dos lares. Identificamos 
ainda o benefício que está tema tem não só para casos de animais domésticos, mas também para 
aqueles adquiridos para geração de lucro. Com este tato maior ao lidar com os animais, a 
sociedade vem alterando a sua visão sobre os mesmos, com isso podemos perceber as mudanças 
positivas acontecendo. Um exemplo disto seriam as leis que estão sendo criadas sobre práticas 
que antes eram aceitas e hoje são consideradas cruéis, seja por conceito moral, seja para uma 
forma mais efetiva de lidar com o animal na sociedade humana, como é o caso da lei de controle 
de pesquisa com animais Lei nº 11.794. 
 
Diante da pesquisa também podemos identificar que os animais passam a serem enxergados 
como seres de direitos e tratados dentro do âmbito de Direito de Família. Sendo considerados 
como filhos no momento da dissolução conjugais, sendo ainda determinado seu tutor legal e 
estipulada guarda para este. Este tema como demostrado no estudo vem ganhando cada vez 
mais seu espaço no âmbito jurídico, diante das inúmeras divergências quanto ao tratamento 
jurídico do instituto e sua realidade fático na sociedade. 
 
24 
 
Um dos pontos mais claros e de grande importância é afeção que os tutores passam a ter 
com os seus animais de estimação, igualando os mesmos ao status de filhos. Para muitos eles 
merecem o mesmo cuidado, atenção, reparo e respeito que um filho menor. 
 
Quando o seu tutor gasta o que for preciso para um tratamento médico com o seu animal, 
podemos identificar que esta fidelidade vai além do carinho e apego superficial. De fato, existe 
um sentimento puro e verdadeiro para os seus chamados filhos de quatro patas, diferentemente 
daqueles tutores que tem seus animais apenas para geração de lucro. 
 
Assim, partindo desta premissa, diante da pesquisa realizada, identificou-se o surgimento 
de um novo conceito familiar: família multiespécies - formada por indivíduos que não sejam da 
mesma espécie, mas que mantêm um grande nível de afetividade. Podemos citar também, que 
quem mais está aderindo a esse tipo de convivência são os jovens casais. Porém, segundo 
explanado no presente trabalho, depois da união destes casais e a formação de novos tipos 
familiares, estes ainda estão sujeitos ao divórcio. Assim, quem ficará com este animal? Esta é 
a maior problemática instaurada no judiciário sobre o tema apresentado. 
 
Como vimos muitos juristas estão solucionando o problema baseando-se e fazendo 
analogias e associações com o Direito de Família Brasileiro. 
Assim da mesma forma que anos atrás viu-se a necessidade de uma lei especifica para a guarda 
compartilhada de filhos menores para casais divorciados, com a mudança e evolução da afeição 
do tutor com o seu animal, hoje nos vemos na mesma necessidade. 
No entanto a aplicação da guarda compartilhada através do uso da analogia com o Direito de 
Família é a mais utilizada nestes casos, já que para solucionar tal conflito, busca-se o melhor 
interesse dos ex-cônjuges e do animal da família. 
Espera-se que estas leis sejam rapidamente criadas, levando em conta os diversos projetos de 
lei já existentes, no qual podem aderir como base as regras aplicadas e utilizadas no Direito de 
Família. 
 
Com isso, destinar corretamente aos animais o regime que irá protegê-los, comprovando 
que são seres sencientes, com direito de amar e de ser amado, que é real e verdadeiro o novo 
conceito de família multiespécie e não objetos para a lei suprema e para o Código Civil. 
 
 
25 
 
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ANEXOS 
 
 
Projetos de lei sobre a guarda compartilhada de animais nos casos de divórcio. 
 
A) Brasil, PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 542, DE 2018, dispõe sobre a custódia compartilhada 
dos animais de estimação nos casos de dissolução do casamento ou da união estável. 
 
B) Brasil, PROJETO DE LEI N.º 62-A, DE 2019, dispõe sobre a guarda dos animais de estimação 
nos casos de dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal entre seus possuidores, e dá 
outras providências; tendo parecer da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento 
Sustentável, pela aprovação deste, com substitutivo, e pela rejeição dos de nºs 473/19 e 4099/19, 
apensados (relator: DEP. VAVÁ MARTINS). 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, _____/_______/__________. 
 
Assinatura do Aluno: Tamires Madureira Ferreira

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