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[KATHANA E LARISSA] Caderno de Direito Comercial I

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LARISSA CUERVO E KATHANA LUVISON 
CADERNO DE DIREITO COMERCIAL I 
 
Prof. Gustavo Saad Diniz (gsd@usp.br) 
 
SUMÁRIO 
 
CRONOGRAMA 4 
1. HISTÓRIA E FASES DO DIREITO COMERCIAL 4 
2. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO COMERCIAL 7 
3. DIREITO COMERCIAL NO BRASIL 7 
4. CONCEITO E FUNÇÃO DO DIREITO COMERCIAL 8 
5. ORDEM ECONÔMICA E PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL 8 
6. FONTES DO DIREITO COMERCIAL 11 
7. TEORIA JURÍDICA DA EMPRESA E DA ORGANIZAÇÃO 11 
7.1. DIREITO COMERCIAL E ECONOMIA 11 
7.2. EMPRESA: DO ATO À ATIVIDADE 12 
7.3. TEORIA DOS PERFIS DE ASQUINI 13 
7.4. JURIDICIZAÇÃO DO CONCEITO ECONÔMICO 14 
8. EMPRESÁRIO 14 
8.1. EMPRESÁRIO E REGISTRO 16 
8.2. SISTEMA DE REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS (Lei 8.934) - RPEM 17 
8.3. REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA SER EMPRESÁRIO 18 
8.4. CONSEQUÊNCIAS DE EXERCÍCIO IRREGULAR DA PROFISSÃO DE EMPRESÁRIO 20 
8.5. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO 20 
9. ESTABELECIMENTO 21 
10. NEGÓCIOS SOBRE O ESTABELECIMENTO 27 
10.1. TRANSFERÊNCIA 27 
10.2. RESPONSABILIDADE POR DÍVIDAS 28 
10.3. CONCORRÊNCIA 29 
10.4. AÇÃO RENOVATÓRIA DE LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL 29 
11. PESSOAS JURÍDICAS E FUNÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES 31 
11.1. AGRUPAMENTOS DE INTERESSE COMUM 31 
11.2. PESSOAS JURÍDICAS 32 
11.2.1. ASSOCIAÇÕES 32 
11.2.2. SOCIEDADES 33 
11.2.3. FUNDAÇÕES 33 
1 
 
11.2.4. EIRELI 34 
12. TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO E AS ORGANIZAÇÕES (DE GARANTIA, 
SOCIETÁRIA, PATRIMONIAL E DE ATIVIDADE) 37 
12.1. CONCEITO DE SOCIEDADE (ART. 981, CC) 37 
12.2. CONJUNTO DE REGRAS DE UMA SOCIEDADE 37 
12.3. CLASSIFICAÇÃO 40 
13. CONTRATO DE SOCIEDADE 41 
13.1. NATUREZA JURÍDICA 41 
13.2. ELEMENTOS DO CONTRATO 42 
13.3. O CONTROVERTIDO AFFECTIO SOCIETATIS 43 
13.4. STATUS SOCII (STATUS DE SÓCIO) 43 
13.4.1. DIREITOS 44 
13.4.2. PODERES 45 
13.4.3. OBRIGAÇÕES 45 
13.4.4. RESPONSABILIDADE 45 
13.4.5. PECULIARIDADES 46 
14. TEORIAS DA PERSONIFICAÇÃO 46 
14.1. O QUE A PESSOA JURÍDICA É? 46 
14.2. AQUISIÇÃO PELO REGISTRO 47 
15. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 47 
15.1. MOVIMENTAÇÃO TEÓRICA 47 
15.2. ART. 50 DO CC 49 
15.3. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO 49 
16. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS 50 
16.1. SOCIEDADE EM COMUM 50 
16.1.1. FUNÇÃO 50 
16.1.2. REGRAS ESPECÍFICAS 51 
16.2. SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO 52 
16.2.1. REGRAS ESPECÍFICAS 53 
16.2.2. RIR (Regulamento do Imposto de Renda - Decreto nº 9.580/2018) 55 
16.2.3. UTILIZAÇÃO FRAUDULENTA 55 
17. SOCIEDADES PERSONIFICADAS NÃO EMPRESÁRIAS 57 
17.1. SOCIEDADE SIMPLES 57 
17.1.1. REGRAS ESPECÍFICAS 57 
17.1.2. ÓRGÃOS INTERNOS 60 
17.1.2.1. ASSEMBLEIA OU REUNIÃO (quóruns) 60 
17.1.2.2. ADMINISTRAÇÃO 61 
17.1.3. RESPONSABILIDADE 62 
17.1.3.1. DE SÓCIO 62 
17.1.3.2. DE ADMINISTRADOR 63 
2 
 
17.1.4. RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE QUANTO A UM SÓCIO 63 
17.1.5. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE 65 
17.2. SOCIEDADE COOPERATIVA 66 
17.2.1. SISTEMA DE DIREITO POSITIVO COOPERATIVO NO BRASIL 66 
17.2.2. CONCEITO (ART. 981, CC) 68 
17.2.3. CARACTERÍSTICAS 68 
17.2.4. ORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA 71 
17.2.4.1. TIPICIDADE 71 
17.2.4.2. INTERESSE SOCIAL E PODER DE CONTROLE 72 
17.2.4.3. STATUS DE SÓCIO 72 
17.2.4.4. DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO 73 
17.2.5. ORGANIZAÇÃO DE PATRIMÔNIO 74 
17.2.5.1. RESPONSABILIDADE 75 
17.2.5.2. OPERACIONAL 77 
17.2.6. ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE 78 
17.2.7. ORGANIZAÇÃO DAS GARANTIAS 78 
17.2.8. AMICUS CURIAE 78 
17.2.9. AÇÕES COLETIVAS 78 
18. SOCIEDADES DE PESSOAS 79 
18.1. SOCIEDADES LIMITADAS 79 
18.1.1. CONCEITO 79 
18.1.2. MARCO LEGAL 80 
18.1.3. QUOTAS 80 
18.1.4. VISÃO DA TEORIA GERAL 82 
18.1.5. REGRAMENTO SUPLETIVO (art. 1053, CC) 82 
18.1.6. CAPITAL 83 
18.1.7. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO 83 
18.1.8. ÓRGÃOS 84 
18.1.8.1. ADMINISTRADOR 84 
18.1.8.2. CONSELHO FISCAL 85 
18.1.8.3. ASSEMBLEIA GERAL OU REUNIÃO 85 
18.1.9. RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE QUANTO A UM SÓCIO 88 
18.1.10. PAGAMENTO DE HAVERES 89 
18.1.11. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE 90 
19. CONCENTRAÇÕES E DESCONCENTRAÇÕES 91 
19.1. “TRANSFORMAÇÃO” (220 LSA e 1113 CC) 91 
19.2. INCORPORAÇÃO (223 LSA e 1116 CC) 91 
19.3. FUSÃO 91 
19.4. CISÃO 92 
19.5. GRUPOS NO DIREITO BRASILEIRO 92 
19.5.1. GRUPOS ECONÔMICOS 92 
19.5.2. CONCENTRAÇÕES POR RELAÇÕES CONTRATUAIS 92 
3 
 
19.5.3. GRUPOS DE SOCIEDADES 92 
EXTRA: MEDIDA PROVISÓRIA (881/2019) DA LIBERDADE ECONÔMICA 92 
REVISÃO PARA A PROVA 1 93 
O CONTRATO PLURILATERAL, TÚLIO ASCARELLI 93 
PROVA 96 
REVISÃO COM CASOS 97 
 
CRONOGRAMA 
15/10: ​5 PERGUNTAS DISCURSIVAS - 1 DO ASCARELLI, 1 TEÓRICA, 3 
CASOS, MATÉRIA ATÉ SOCIEDADE SIMPLES. 
22/10: ​trabalho DIFÍCIL (em grupo ou individual) que vale 8 + monitoria que vale 2. 
19/11: ​teste com 10 questões. 
 
1. HISTÓRIA E FASES DO DIREITO COMERCIAL 
O ​direito empresarial analisa a empresa da porta para dentro, enquanto o ​comercial 
analisa-a de forma ampla, isto é, a empresa e seus negócios. 
O direito comercial é um direito construído a partir de ​categorias históricas​, pois é criado 
originalmente pela ​classe de mercadores (que depois tornaram-se comerciantes e, agora, 
empresários). Por ser um direito de classe, ele é formado com vistas a ​dar lucro à sua classe 
criadora, isto é, os próprios mercadores criam as categorias jurídicas para que sejam lucrativas 
para eles. O que acontece é o seguinte: à medida em que surgem necessidades ou ideias capazes 
de aumentar a lucratividade, categorias novas são criadas, as quais apenas posteriormente passam 
a ser reguladas pelo direito positivo - é um movimento pendular constante​. A princípio, os 
mercadores atuavam sozinhos, depois passaram a atuar em conjunto (ex: contrato de franquia). 
Desde a pré-história o ser humano celebra trocas conforme suas necessidades (ex: 
escambo). O direito comercial não é só sobre dinheiro, é também sobre cultura (ex: Mercador de 
Veneza). 
1. Fase subjetiva:​ de autorregulamentação e autojulgamento. 
Fase de conhecimento reiterado, de direito costumeiro, prático, em que o mercador era 
aquele reconhecido pelos seus pares (​jus mercatorum​). Fase do associativismo (guildas, hansas, 
Companhia das Índias), em que os mercadores se protegiam. Aqui já havia guildas, a partir das 
4 
 
quais muitas cidades estruturaram-se. A Companhia das Índias iniciou um tipo de sociedade para 
captar investimentos e expandir o comércio. 
Mercadores passaram a se organizar em associações de mercadores e, posteriormente, em 
sociedades de mercadores. 
Época das trocas em praças, do início dos títulos de créditos. As praças eram um local de 
publicidade (aqui, começou a bolsa de valores). O título de crédito surgiu da necessidade de 
garantir que a pessoa que transportava riquezas as levaria ao banco. 
Comércio e guerra andam sempre de mãos dadas - p. ex., a China entrou em guerra para 
defender as rotas comerciais da seda. 
Na idade média, como categoria sistematizada, o ​direito comercial se emancipa quando 
as pessoas ​migram para as cidades e passam a fazer contratos de forma mais sistemática, 
profissional​. Os mercadores eram profissionais que efetivamente se ​organizavam ​(ex: em 
associações ou em sociedades de tecelões, sapateiros, padeiros) e que ​regulamentavam os 
instrumentos úteis a eles (ex: regulamentação das tabuletas nas portas que identificavam sua 
profissão), criando, por exemplo, regras para as trocas (ex: trigo e tecido em Veneza - aqui, surge 
o título de crédito). Nessa época, as pessoas faziam negócios entre si de forma padrão, 
independentemente das diferenças linguísticas. 
Essa fase de regulamentação mostra que essa classe adquiriu muito poder ao longo da 
história. Na fase seguinte, então, ocorreu o rompimento da autorregulação, para que esse poder 
fossedomado por um Estado déspota. 
2. Fase objetiva (teoria do ato comercial): ​Código Civil (1804) e Código Comercial 
(1808) franceses inauguram a teoria do ato de comércio. 
O maior exemplo dessa fase é Napoleão Bonaparte, que, com o Código Comercial 
Francês (1808), definiu que o Estado passaria a dizer quem era comerciante: aquele que pratica o 
ato de comércio​, isto é, os atos realizados por um profissional comercialmente, ou seja, voltados 
ao lucro. Nessa época, no Brasil, também houve a regulamentação do CCom. 
Essa fase não alcançou toda a sofisticação alcançada pela criação de novos instrumentos 
industriais, por isso, houve necessidade de outra fase. 
5 
 
3. Fase econômica, da Atividade: ​do ato à atividade. Teoria da firma (Ronald Coase) e 
Codice Civile ​(Itália). Houve rompimento da teoria do ato de comércio e juridicização da 
categoria do empresário. Período fascista, que buscava expansão. 
A ​teoria da firma ​(Ronald Coase) trata de duas maneiras de criação de preço na 
economia: 
(1) oferta e procura​: 
pouca oferta + muita procura = preço maior (ex: ouro); 
muita oferta + pouca procura = preço menor. Essa já era conhecida. 
(2) organizações​: esse modo foi estudado e percebido por Coase. Ele identificou ser 
possível apreender ​fatores de produção (capital, trabalho, propriedade e tecnologia) e 
organizá-los de maneira eficiente, de modo a obter lucratividade. É o surgimento do que passou a 
ser chamado de ​firma ou empresa​. Quanto mais eficiente a estruturação desta cadeia econômica, 
maior a obtenção de resultado e lucratividade. 
Essa teoria surgiu no pós-guerra, com o fim de alocar capital de forma eficiente para 
produzir produtos de forma massificada com ​depreciação ​(redução do preço, do valor financeiro) 
programada​. Para conseguir esses recursos é necessária a ​concentração econômica (ex: poucas 
empresas controlando a cadeia). 
Assim, tornou-se necessária uma nova regulamentação para o comércio, visto que uma 
nova figura tinha surgido. A fase do ato de comércio foi, portanto, rompida. No CC Italiano 
(1942, fascismo), então, foi ​criada a categoria jurídica dos “empresários”​, a saber, aquele que 
desempenha uma ​atividade (e não ato) ​econômica, isto é, ​um conjunto de atos concatenados e 
finalisticamente organizados para a obtenção de lucro (art. 966, CC). Com essa definição, mais 
pessoas estão inseridas na categoria. 
4. Fase do mercado: o empresário inserido na perspectiva do mercado em que negocia. 
Hoje, analisam-se os negócios entre si (ex: a franquia é permitida, ainda que não haja uma 
sociedade, já que só se vende sua marca). Aqui, o relacionamento entre as empresas passou a ser 
objeto de análise. O empresário e a sociedade empresária formaram estruturas hierárquicas por 
meio de coligação e controle em grupos ou por meio de arranjos de contratos 
6 
 
 
A mudança das fases tem a ver com o esforço do direito por regular aquilo que ele já 
não consegue atingir - movimento pendular: “o empresário engendra seu próprio direito”. 
 
2. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO COMERCIAL 
1. Capacidade de adaptação e padronização: ​sociedade anônima, por exemplo, é a mesma 
independentemente do país. 
2. Cosmopolitismo: funciona extra fronteiras, não é regido por costumes locais. São exemplos os 
títulos de crédito e as SAs (da mesma forma que se faz em Dubai, se faz no Brasil). 
★ O cosmopolitismo é um pensamento filosófico que despreza as fronteiras geográficas impostas pela sociedade 
considerando que a humanidade segue as leis do Universo. 
 
3. Uniformização. 
4. Organização (dos fatores de produção) e garantias (mínimas dos interesses dos 
trabalhadores): a organização dos fatores sempre visa à redução dos custos de transação; cuidar 
das minorias (econômicas), reconhecendo-as como tal. 
5. Preservação (1) do tráfico mercantil (inerência dos riscos) prezando-se pelo bom fluxo das 
negociações, para a supressão das incertezas. Os empresários correm os riscos para ganhar 
mais dinheiro; gostam de riscos, mas não de incertezas. Preservação (2) das organizações​, 
que devem ser estáveis, bem estruturadas, preservadas pela legislação (ex: um país pode ter 
maiores incertezas, se for pouco estável). 
 
3. DIREITO COMERCIAL NO BRASIL 
O Brasil Colônia não possuía de fato uma organização jurídica, pois seguia a metrópole. 
Mesmo após a independência, o Brasil ficou sob as ordenações. 
★ Ordenações significam ordens, decisões ou normas jurídicas avulsas ou as coletâneas que dos mesmos 
preceitos se elaboraram, ao longo da história do direito português. 
7 
 
 
Inicialmente, as ordenações (Manuelinas, Filipinas, Afonsinas) previam a 
autorregulamentação de documentos não escritos, lei da boa razão (costumeira) e ​lex mercatoria​. 
★ A ​Lex mercatoria foi um sistema jurídico desenvolvido pelos comerciantes da Europa medieval e que se 
aplicou aos comerciantes e marinheiros de todos os países do mundo até o século XVII. ​Sistema de usos e 
costumes criado e adotado pelos atores do comércio internacional, dotado de força de lei entre as partes. 
 
A demora do rompimento com a escravidão prejudicou o Brasil economicamente, pois 
isso travou nossos recursos, enquanto outros países se industrializavam. Nessa época, Mauá 
expandiu a industrialização, inclusive, requerendo uma regulamentação comercial. O CC do 
Brasil foi inspirado no código francês (ato de comércio mitigado, com determinação taxativa de 
quem eram os comerciantes), assim, o comerciante era o que praticava o comércio e era inscrito 
no Registro do Comércio (art. 10, CCom/1850). 
Desde 2003, o Código Comercial Brasileiro de 1850 só está em vigor no que se refere 
ao Direito Comercial Marítimo, pois os demais assuntos foram revogados pelo CC/02. Em 2002, 
o CC unificou as obrigações e os direitos das empresas. Porém, apesar da unificação, o direito 
comercial continua tendo suas especificações, pois visa a compreender a atividade e não só o ato. 
 
4. CONCEITO E FUNÇÃO DO DIREITO COMERCIAL 
Conjunto de princípios e regras (que lhes são próprios) de organização e garantias do 
tráfico mercantil e dos direitos e obrigações dos sujeitos que ocupam o mercado. 
Quando falamos de direito comercial, falamos de ​atividades ​profissionais e não de ​atos 
isolados. Nele, não há uma militância para proteger (equilibrar) alguma das partes, como 
acontece no direito do trabalho ou do consumidor. 
 
5. ORDEM ECONÔMICA E PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL 
Ao falarmos de direito comercial, estamos inserindo os sujeitos em uma ordem 
econômica. No momento em que o colocamos no ordenamento jurídico, percebemos que, apesar 
de ter uma lógica própria, ele se relaciona com a CF e outros códigos, como o CC. 
Temos um ​sistema fechado​, de leis, regras etc., e um ​sistema aberto​, composto por 
produções da ciência e da doutrina que influenciam o sistema de direito positivo. O sistema de 
direito positivo divide-se em 3 estratos: valores, princípios e regras. 
8 
 
Valores​ são variáveis de acordo com o tempo e o espaço. 
Princípios carregam uma carga normativa e são vetores interpretativos da legislação; 
representam valores, mas apenas orientam condutas, não as prescrevem. Os princípios não se 
revogam, mas prevalecem uns sobreos outros. 
Regras podem ser ​estruturantes​, quando definem órgãos públicos, sistemas; e ​de 
condutas​, quando determinam comportamentos. Nas regras de condutas, encontram-se ​3 modais 
deônticos​, que têm a ver com a semântica do comando legal: ​permitido, proibido e obrigatório​. 
Elas produzem efeitos no caso concreto. O juiz é a pessoa que aplica a regra e produz normas. 
A ​figura do empresário​, no Brasil, está inserida no ordenamento desde a CF, a qual 
delimita os ​princípios da ordem econômica​. Inserir uma figura no ordenamento significa 
encontrar um conjunto normativo para regulá-la. 
1. Princípios da Constituição Econômica (art. 170, CF)​: interpretá-la, atualmente, sob o 
viés da MP da liberdade econômica (881/2019). 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: 
I - soberania nacional; 
 
A ​soberania nacional é um princípio importante e que precisa ser enunciado, porque 
existem países querendo conquistar espaços, existem guerras econômicas veladas (ex: comprar 
empresas em outro país). 
II - propriedade privada; 
III - função social da propriedade; 
 
Direito à propriedade também é um princípio constitucional, mas que também obriga o 
cumprimento da ​função social​. Há uma função social da empresa? A empresa é um conceito 
econômico, mas pode haver uma função social da empresa no sentido de obrigar o empresário a 
não destruir o meio ambiente ao exercer a atividade empresarial, por exemplo. A empresa é uma 
organização, que se apropria dos meios de produção e que, por isso, possui ​grupos de interesse​. 
A função social deve ser ​interna​, porque a empresa tem a função de produzir lucros (resultados) 
e ​externa​, quando deve respeitar os grupos de interesse que a atividade atinge. 
IV - livre concorrência; 
V - defesa do consumidor; 
 
9 
 
A ​livre concorrência ​deve ser respeitada, pois todos (e cada um de nós) podem 
empreender, já que nosso país baseia-se na livre iniciativa. Cabe ao Estado garantir a liberdade de 
empreender pela guarda da concorrência. Com isso, em segundo plano, o Estado protege o 
consumidor, pois nada é pior para ele que a existência de ​monopólios​. Acontece que todo 
empresário tem vocação para garantir um monopólio. A livre concorrência tem a ver com a 
lealdade na concorrência​, porque existe muita deslealdade nesse campo. O ​CADE é o órgão 
responsável por orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos do poder econômico, garantindo a 
concorrência econômica. 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental 
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; ​Toda atividade que se insere na ordem 
econômica precisa respeitar o meio ambiente. 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII - busca do pleno emprego; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que 
tenham sua sede e administração no País. 
 
Lei Complementar 123​, lei da micro e pequena empresa, que favorece sua atuação, 
garantindo que sua tributação seja a do sistema simples​. A ​MEI ​também foi criada para garantir 
que esses pequenos empreendedores possam aposentar-se, além de regular sua tributação. Essas 
leis servem para inserir tais figuras econômicas no ordenamento. 
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, 
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. 
 
A CF econômica ​brasileira de 1988 foi originalmente carregada por forte presença estatal 
(com funções de fiscalização, incentivo e planejamento - art. 174, CF), com posterior alteração 
por reformas dos anos 90. A atuação direta do Estado em atividade econômica foi autorizada pelo 
art. 173 da CF quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse 
coletivo - ​empresas públicas e ​sociedades de economia mista se inserem em setores de 
interesse público (são estratégicas). O Estado deve estimular as ​cooperativas​, pois são órgãos de 
solidariedade. O Estado brasileiro, atualmente, sobretudo nas áreas de interesse público, age mais 
como regulador ​por meio de ​Agências Reguladoras​, como a Anatel, a Anvisa - e menos sob a 
forma de empresas. 
A ​liberdade de associação também é um princípio que impacta diretamente na ordem 
econômica. 
10 
 
2. Princípios do CC unificado: eticidade ​(boa-fé), sociabilidade ​(atendimento à função 
social),​ operabilidade​ (análise sistêmica do CC). 
3. Quadripartição dos princípios do Direito Comercial: ​É possível destilar 4 princípios 
inerentes ao direito comercial, segundo a opinião de Gustavo Saad Diniz. 
3.1. Autonomia privada: tudo o que a lei não proíbe é permitido. Assim, podem-se criar 
livremente conjuntos normativos que regulem sua atividade. É a atividade pendular, ou seja, o 
empresário cria ferramentas e o direito as positiva. 
3.2. Confiança: ​ela demarca toda a interpretação da legislação, já que os instrumentos se 
mantém porque as pessoas colaboram, confiam umas nas outras. A confiança demarca os 
negócios e reduz custos de transação, porque dispensa a necessidade de serviços cartorários, por 
exemplo. “Os cartórios servem à desconfiança, são os templos da desconfiança”. 
3.3. Risco de empresa ou de atividade: ​é inerente à atividade empresarial, inclusive, 
porque demarca a interpretação. É um princípio porque é algo próprio do empresário, que não 
pode socializar (dividir) seus riscos. 
3.4. Preservação da empresa: o ordenamento se esforça para que a empresa permaneça, 
porque ela é uma organização que se relaciona com muitas e muitas pessoas (ela atinge quem está 
ao seu redor). A perda de uma unidade empresarial não é interessante para a sociedade. 
Art. 47, lei 11.101/05 (Lei de Falências). A ​recuperação judicial tem por objetivo ​viabilizar a superação 
da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a ​manutenção da fonte produtora, do 
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores​, promovendo, assim, a ​preservação da empresa​, sua 
função social e o estímulo à atividade econômica. 
 
A empresa é um feixe de contratos (de trabalho, de tecnologia e informação, de 
circulação de riquezas, de locação, de fornecimento etc.). É uma cadeia econômica que tem como 
fim a produção de um produto ou serviço. Ao redor de toda essa organização há muitos interesses 
envolvidos e, por isso, há o ​princípio da preservação da empresa - protegê-la é proteger o 
interesse de muita gente. 
 
6. FONTES DO DIREITO COMERCIAL 
Segundo Tércio Sampaio 
 
11 
 
1. Fontes estatais: ​leis, tratados, precedente vinculantes, regras administrativas. Existem 
tratados que definem o que são marcas de alto renome e protegem-nas. Há súmulas vinculantes 
em matéria de direito comercial. Há regras administrativas que regulam as agências reguladoras. 
2. Fontes menos objetivas: usos e costumes (há costumes ​contra legem e que podem 
prevalecer sobre fontes estatais), jurisprudêncianão vinculante, decisões arbitrais, ​lex mercatoria​. 
3. Fontes subjetivas: ​contratos, doutrina, equidade. Têm menos carga normativa que as 
demais fontes. 
 
7. TEORIA JURÍDICA DA EMPRESA E DA ORGANIZAÇÃO 
Esta aula é sobre o art. 966 do CC: quem é empresário, quem não é e quem pode se 
inscrever como tal. 
 
7.1. DIREITO COMERCIAL E ECONOMIA 
A economia é útil ao estudo do direito comercial, pois usa-se conceitos econômicos. A 
ordem jurídica, a partir da CF, define os parâmetros do mercado (e não o inverso, pois o mercado 
não pode subjugar o direito), coibindo os efeitos autodestrutivos decorrentes do excesso de ​poder 
de mercado​. O direito não só estuda a ​escassez​, mas também ​modula os custos​. 
As ​análises econômicas do direito (AEDs) auxiliam como modelo hermenêutico não 
exclusivo e para observar a função das instituições. A AED se apresentou como instrumento de 
explicação de estruturas hierárquicas (como a firma), a busca dos custos de transação como 
justificativos da tomada de decisões e, numa visão mais aguda, a supressão de falhas de mercado 
como pressuposto de eficiência sistêmica para o direito. 
1. Ronald Coase (Teoria da Firma): análise dos custos de transação e custo benefício de 
regras. Diz que a empresa representa um feixe de obrigações para uma maior eficiência de 
organização e diminuição dos custos de transação. O direito deveria, então, garantir a eficiência 
alocativa dos recursos escassos para maximização de resultados. 
2. Escola de Chicago (Richard Posner - escola Law and Economics): diz que o 
conceito de justiça é subjetivo e, por esse motivo, deve ocorrer a total substituição pela noção de 
eficiência. Para ele, o direito só serve para quando a economia falha (a economia prevalece sobre 
o direito), solucionando ​falhas de mercado​ (ex: monopólio, assimetrias informacionais). 
12 
 
3. Oliver Williamson (escola da Nova Economia Institucional - NEI): a governança 
organizacional deve lidar com as possibilidades futuras de rompimento de contratos. Então, as 
organizações ​passam a ser formas de coordenação e minimização dos custos de transação. 
4. Economia comportamental: análise de qual o comportamento das pessoas diante de 
um padrão econômico (ex: se a pessoa está se comportando com ou sem boa-fé). 
 
7.2. EMPRESA: DO ATO À ATIVIDADE 
A ciência econômica, a organização de fatores de produção e a descrição da formação de 
preços modificaram a percepção do que é empresa. A transição do ato para a atividade significa 
deixar de estudar ​atos ​isolados para compreender a ​atividade ​econômica, ou seja, um conjunto 
de atos organizados, concatenados com uma finalidade econômica, a saber, formação de riquezas 
e serviços (para a obtenção de lucro). 
A ​qualificação econômica se dá pela ​criação de riquezas e pelo ​resultado de serviços 
patrimonialmente avaliáveis​. Tullio Ascarelli define atividade como a criação de riqueza e de 
serviços; enquanto Sylvio Marcondes, como a coordenação dos fatores de produção para uma 
utilidade específica. 
O termo ​organização ​tem fundamento econômico, pois se trata da “coordenação da 
influência recíproca entre atos”. ​Por meio de organização, conjuga-se o feixe de contratos que 
racionaliza os custos de transação da atividade. 
 
7.3. TEORIA DOS PERFIS DE ASQUINI 
O termo “​empresa​” aparece na legislação brasileira, muitas vezes, de forma errada, 
imprecisa. Asquini adota o perfil corporativo, no qual a empresa deve servir para o 
engrandecimento do Estado. Isso porque ele era um grande entusiasta do fascismo. O ​Poliedro 
de Asquini acredita que existam 4 Perfis da Empresa, os quais servem para auxiliar na 
interpretação adequada. 
1. Perfil Subjetivo: é a empresa enquanto ​sujeito ​(empresário ou sociedade empresária), 
é a pessoa que exerce a atividade. No perfil subjetivo a empresa se confunde com o próprio 
empresário, uma vez que somente ele, e não ela, possui personalidade jurídica. 
13 
 
➢ A Lei de Registro Público de Empresa Mercantil usa de forma inadequada o termo 
“empresa”, já que ela se remete ao sujeito - isso porque, nessa época, ainda se falava em 
comércio. 
➢ Ademais, a interpretação da palavra empresa de modo subjetivo (= sujeito) deve ser feita 
nos seguintes arts.: 966 e 5º, § único, V do CC (sujeito que se estabelece); 1º Lei 
8.934/94; 2º e 10 da CLT (também fala em empresa, termo que só foi adotado pelo CC 60 
anos depois); 222 da CF (por “empresa jornalística” entende-se o sujeito). 
2. Perfil Objetivo: o aspecto ​objetivo ou patrimonial foca nas coisas (patrimônio) 
utilizadas pelo empresário individual ou sociedade empresária no exercício de sua atividade. Em 
suma, consiste no estudo da ​teoria do estabelecimento empresarial​. 
➢ Esse perfil deve ser identificado nos arts.: 1142, CC; 222, CF; 50 XIII e 140 LREF; 825, 
III, 835, X e 862, CPC. 
3. Perfil Funcional: refere-se à ​dinâmica empresarial​, isto é, à atividade própria do 
empresário ou da sociedade empresária, organizada para a produção de bens e serviços, para a 
obtenção de resultados. 
➢ Esse perfil deve ser identificado nos arts.: 47 LREF; 45, §1º, LPI; 7º, XI, CF. 
4. Perfil Corporativo: ​compreende a empresa como ​instituição​, por formar núcleo social 
organizado e sob comando do empresário. Ideia de Rathenau, que, apesar de não ser fascista, 
entendia que a empresa devia servir à nação. 
Em geral deve-se entender que empresa é a atividade. 
Esquematicamente: o empresário e a sociedade empresária organizam os bens no 
estabelecimento e os colocam em função da atividade de produção ou de prestação de serviços. 
 
7.4. JURIDICIZAÇÃO DO CONCEITO ECONÔMICO 
A partir do conceito econômico de empresa, pode-se concluir que as regras do direito 
comercial, em geral, e do direito empresarial, em especial, são de: 
1. Organização:​ atuam na descrição da coordenação de atividades. 
2. Garantia: ​atentam-se às pessoas atingidas em seus interesses, contendo abusos de 
poder. Numa organização é preciso compreender o relacionamento que se trava com o Poder 
14 
 
Público (autorizações de funcionamento, p. ex.), empregados, fornecedores, consumidores, sócios 
minoritários etc. 
8. EMPRESÁRIO 
O empresário pode organizar sua atividade empresarial tanto (1) individualmente​, como 
pessoa física, quanto (2) em sociedade​, com duas ou mais pessoas fazendo um contrato de 
sociedade, bem como através de uma (3) EIRELI ou uma ​(4) sociedade limitada unipessoal​. 
Ao organizar sua atividade empresarial, o empresário insere-se na ordem econômica 
constitucional, do CC e tudo o mais que se atualizar. 
No art. 966 do CC, encontram-se três núcleos importantes de caracterização da figura do 
empresário. O dispositivo trata de ​pessoas físicas, naturais ​SOMENTE ​(não de sócios e afins), 
que, ainda que possuam CNPJ para fins fiscais, não se tratam de PJs. 
 
Art. 966. Considera-se empresário ​quem ​(sujeito, pessoa natural) exerce ​profissionalmente atividade 
econômica ​(núcleo 1: atividade essencialmente onerosa e com objetivo de lucrar a partir dos riscos inerentes à 
coordenação e à direção dos fatores de produção organizados) ​organizada ​(núcleo 2: organiza-se fatores de 
produção - capital,trabalho, tecnologia -, colocando-os em função da atividade desempenhada profissionalmente) 
para a produção ou a ​circulação de bens ou de serviços ​(núcleo 3: ou seja, atividades de indústria e de comércio, 
respectivamente​). 
Parágrafo único. ​Não se considera empresário quem exerce profissão ​intelectual ​(conhecida como liberal)​, 
de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício 
da profissão constituir elemento de empresa. 
A justificativa: falta organização de fatores de produção e, sobretudo, objetiva a proteção de clientes e 
pacientes. Tais profissionais ficarão preponderantemente sujeitos aos regramentos específicos das respectivas 
congregações de classe, assegurando capacidades técnica e deontológica necessárias ao exercício profissional. 
Ainda que tais pessoas atuem em sociedade simples, qualificada como não empresária por essência, 
prepondera o exercício intelectual da atividade, servindo a sociedade somente como suporte para tal finalidade (STJ 
– REsp nº 958.116). Todavia, ocorre subsunção pelo conjunto de regras da empresa, se a profissão intelectual for 
absorvida como parte da organização e constituir elemento de empresa. 
 
Como exemplo de elemento de empresa, pode-se considerar a situação de um médico 
especialista que inicialmente atende em um consultório particular e conta somente com a ajuda de 
uma secretária, para prescrever medicamentos - usando seu intelecto. Até aqui, ainda que possua 
uma sociedade, ela será simples e, portanto, ele não será empresário. Após expandir suas 
atividades, vendo a necessidade, contrata mais médicos especialistas para trabalhar no local, bem 
como disponibiliza serviços referentes a atividade que exercem, oferece exames, estrutura 
hospitalar, atendimento personalizado, vende equipamentos e hospeda pacientes em sua própria 
clínica, passando a contar com toda uma equipe de administradores, secretários, serviço de 
15 
 
limpeza, setor de RH, advogados. Assim, passa a constituir uma empresa, em que o médico que 
deu início será um elemento da empresa, fará parte do todo - a sua atividade intelectual passará a 
ser um elemento de sua empresa. 
Outro exemplo de empresário é um corretor de imóveis que passa a administrar bens. 
Os advogados são exceção à essa subsunção da atividade do advogado a um elemento da 
empresa, pois, segundo o art. 17 do Estatuto da OAB (lei 8906/94), a atividade do advogado não 
pode se confundir com atividade empresarial. Isso vale, inclusive, para sociedades. 
Inscrição facultativa da atividade rural: 
Art. 971. O empresário (é considerado empresário, mas não está formalizado como tal; se ele quiser, pode 
fazê-lo)​, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, ​pode ​(é facultativo)​, observadas as formalidades de 
que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva 
sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. 
 
Produtores rurais podem optar por se inscrever ou não, ainda que ​já ​sejam considerados 
empresários. Essa é uma opção legislativa histórica. O que a lei faculta é a inscrição no sistema 
de Registro Público de Empresas Mercantis, equiparando-o ao empresário comum para todos os 
fins. É uma opção do empresário rural, inclusive para efeito de pedido de recuperação de empresa 
e falência. A vantagem de não se cadastrar é tributária, pois a tributação de pessoa física é menor. 
Por que o empresário rural não se registra? Se ele se registrar, vai ter que manter livros 
organizados. 
Há muitos problemas quanto a facultatividade do registro: existem muitos rurais que são 
grandes empresários, mas sem registro. 
Não está na lei, mas o empresário individual é a pessoa física​. Assim, não há distinção 
entre a PF e a PJ. A técnica da PJ permite a distinção (isolamento) dos centros de imputação. Isto 
é, com a separação de patrimônio, separam-se os bens que serão atingidos e os que não serão em 
caso de insolvência, por exemplo. Além disso, distinguem-se os bens que serão atingidos 
imediatamente dos que deverão ser buscados posteriormente, em caso de desconsideração da PJ. 
 
8.1. EMPRESÁRIO E REGISTRO 
Para ser considerado empresário não é preciso registro, apesar de ser obrigatório (art. 967, 
CC). Isso porque a empresa é um fato econômico e a qualificação como empresário também é 
fática (requisitos do art. 966). No entanto, a obrigatoriedade não atinge a caracterização fática do 
16 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art968
 
empresário, mas somente a regularidade do exercício da atividade. Então, quem não se registra é 
empresário que atua de maneira irregular, não podendo se valer do sistema de regras de 
organização e garantia que decorrem dessa inscrição, entre os quais o valor probatório dos livros 
(art. 226, 1.179 a 1.195 do CC e arts. 417 e 418 do CPC) e o pedido de recuperação da empresa 
(art. 1º da LREF). 
Art. 967. É ​obrigatória ​a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis (Lei nº 8934 
94) ​da respectiva sede,​ antes do início de sua atividade. 
 
O registro afeta sujeitos, objetos e negócios. 
O empresário tem o dever de se registrar, para dar publicidade ao seu negócio. Para que 
ele atue regularmente, é necessário se registrar na junta comercial e, a partir daí, haverá 
presunção (​iuris tantum, relativa) de legalidade e adequação formal, pela publicidade que se dá 
de atos constitutivos e declaratórios. Por meio do ​site da junta ​comercial​, pode-se acessar todas 
as informações daquele empresário, inclusive as atas de reuniões de uma sociedade. É possível, 
ainda, recorrer quando não se concorda com algum ato da empresa. 
Quem pede o registro está sujeito aos subprincípios registrários, próprios dessa atividade: 
1. Prioridade: ​preferência àquele que pede o registro primeiro (ex: nome empresarial). 
2. Continuidade: há uma sequência de atos atinentes àquela atividade que deve ser cumprida 
para que outros possam ser realizados (ex: não se pode transformar uma sociedade limitada em 
anônima sem antes resolver a questão do antigo sócio falecido). 
3. Presunção de fé pública: ​presume-se boa-fé daquilo que está registrado. 
4. Disponibilidade de direitos: ninguém pode transferir direitos, além do que seja titular, 
proprietário ou possuidor (ex: ceder seu estabelecimento a outrem). 
5. Oponibilidade: ​uma vez cumpridas as formalidades, o ato registrado pode ser oposto a 
terceiros (​erga omnes​), não podendo eles alegarem ignorância. 
 
8.2. SISTEMA DE REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS (Lei 8.934) - 
RPEM 
Prevê a CF a competência privativa da União para legislar sobre registros públicos (art. 
22, XXV, CF) e a competência concorrente da União e dos Estados para legislar sobre Juntas 
Comerciais (art. 24, III, CF). 
17 
http://www.institucional.jucesp.sp.gov.br/
http://www.institucional.jucesp.sp.gov.br/
http://www.institucional.jucesp.sp.gov.br/
 
Ministério da Economia (Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa):​ responsável 
pelo registro. 
⇓ 
Departamento de Registro Empresarial eIntegração (DREI):​ órgão regulatório, com função 
supervisora, orientadora, coordenadora e normativa, no plano técnico, e supletiva, no plano 
administrativo. 
⇓ 
Juntas comerciais: ​órgão executivo e administrador dos serviços de registro. 
 
8.3. REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA SER EMPRESÁRIO 
Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que (1) estiverem em pleno gozo da capacidade 
civil e (2) não forem legalmente impedidos. 
 
1. Capacidade​ (arts. 3º a 5º e 972 do CC) 
Art. 3º São ​absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 
(dezesseis) anos. 
Art. 4º São ​incapazes​, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. 
Art. 5º ​A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de 
todos os atos da vida civil. 
Parágrafo único. ​Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, 
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos 
completos; 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - ​pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em 
função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
A ​continuidade da empresa na superveniência de incapacidade (art. 974, CC) 
depende de representação e aferição de riscos. 
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa 
antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. 
 
18 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art127
 
A ​possibilidade de ser sócio é diferente, pois o incapaz pode se tornar sócio de uma PJ, 
desde que não assuma funções de administrador, esteja assistido e o capital esteja integralizado 
(art. 974, § 3º do CC). 
2. Ausência de impedimentos para ​pessoas físicas​ ​(art. 973, CC) 
Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, 
responderá pelas obrigações contraídas. 
 
Esses impedimentos ​não servem para proibi-los de ser sócios ​de alguma empresa; mas 
sim para proibir que ​administrem ​empresas e que sejam ​empresários ​diretamente. 
A atividade empresarial é incompatível com determinadas profissões, públicas ou 
privadas, que conflitem seu interesse com ela. 
2.1 Funcionários públicos ​(art. 117, X, da Lei nº 8.112/90)​: incompatibilidade de carga 
horária e função. Gera conflito de interesses potenciais. Um juiz, por exemplo, pode defender 
seus interesses empresariais ao exercer sua função de juiz. 
2.2 Empresários falidos ​(art. 243, II, da Lei nº 10.261/1968)​: ​são considerados maus 
empresários, pois a decretação da falência implica o reconhecimento do estado de insolvência 
(devedor). Durante certo tempo, o falido é retirado do mercado, sendo impedido de exercer 
atividade empresarial e de atuar na administração de sociedade empresárias. Da ​reabilitação ​para 
frente, o ex-falido pode ser empresário. 
2.3 Militar da ativa ​(art. 29 da Lei nº 6.880/80; art. 204 do CP Militar - Estatuto dos 
Militares)​. 
2.4 Leiloeiros (art. 36 do Decreto 21.981/1932)​: ​se um leiloeiro for empresário, pode 
alocar o resultado do leilão em seu benefício. 
2.5 Juízes ​(art. 36, I, da Lei Complementar nº 35/79)​. 
2.6 Membros do Ministério Público ​(art. 128, §5º da CF; art. 237, III, da Lei 
Complementar nº 75/93, para MPU; art. 44, III da Lei nº 8.625/93 - Lei Orgânica Nacional do 
MP, normas gerais para a organização do MPEs)​. 
2.7 Os condenados a penas que vedem acesso a cargos públicos, crime falimentar, de 
prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato ou contra a economia popular, contra o 
sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações 
de consumos, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação 
19 
 
(art. 1.011, §1º, CC)​: ​após a reabilitação penal (depois de passados os efeitos da condenação), o 
ex-condenado pode ser empresário ou administrador de empresa. 
 
8.4. CONSEQUÊNCIAS DE EXERCÍCIO IRREGULAR DA PROFISSÃO DE 
EMPRESÁRIO 
A irregularidade do exercício é o mesmo que atuar sem registro. 
1. Impossibilidade de autenticação de livros na Junta Comercial (art. 1.181, §único, 
CC)​: os livros registrados tem presunção ​iuris tantum (que admite prova em contrário) de 
veracidade. Por isso, quando atua irregularmente, perde-se a eficácia probatória (art. 226, CC). 
2. Perda da prioridade de proteção do nome empresarial ​(art. 1.166, CC)​. 
3. Perda da legitimidade ativa de pleitear a recuperação judicial da empresa ​(art. 48, 
da LREF)​. 
4. Como credor, falta de legitimidade ativa para pedido de falência do devedor (art. 
97, §1º, da LREF)​: ​é uma causa de crime falimentar, além de haver contravenção penal de 
exercício irregular de profissão. 
5. Caracterização de crime falimentar (art. 178 da LREF) e contravenção de exercício 
irregular de profissão​ (art. 47 do Dec. Lei nº 3.688/41 - Lei das Contravenções Penais)​. 
6. Vedação de participação em licitações​ (art. 28, II e III, da Lei nº 8.666/93)​. 
O judiciário não combina com a dinâmica da atividade empresarial, a velocidade é 
incompatível. Na maior parte das vezes, a presença de um juiz nos negócios é sinônimo de 
obstáculo. 
 
8.5. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO 
1. Escrituração contábil (art. 1.779, CC)​: ​obrigação de manter sistema de contabilidade 
(mostrar a situação do patrimônio, dos lucros e prejuízos etc.), sob pena de crime falimentar. 
2. Manutenção de livros obrigatórios: ​como Livro Diário (descrição das operações 
relativas ao exercício da empresa) e Livro Razão (enfatiza as contas que compõem o patrimônio) 
- ressalvadas ME e EPP (art. 68 da LC 123), para diminuir os custos de uma empresa de pequeno 
porte. A escrituração em livros dá ​fidedignidade ​à atividade empresária, permitindo acesso a 
interessados, como os sócios ou o fisco. 
20 
 
3. Manutenção de livros auxiliares: ​sociais (ex: atas de assembleias), fiscais (ex: 
inventário), administrativos (ex: registro de empregados), como o livro de ações, por exemplo. 
A ​eficácia probatória é dada pela existência de tais livros. Aquilo que o empresário 
escreve neles tem presunção (relativa) de veracidade (art. 206, CC), pois é revestido de fé 
pública. Então, quem duvida, deve produzir prova em contrário. 
Somente na hipótese do art. 373, do CPC, permite-se inversão do ônus da prova. 
 
9. ESTABELECIMENTO 
Até aqui, continuamos vendo o empresário pessoa física, que tem CNPJ, mas não é PJ. 
Agora vamos ver estabelecimento empresarial, que é o conjunto de bens (A), materiais e 
imateriais (B) que o empresário ou a sociedade empresária organiza (C) e os coloca em função da 
atividade empresarial, para fins produtivos (D). É um patrimônio especializado,uma 
universalidade de fato e bens organizados. 
O estabelecimento não é apenas o local, pois este é chamado de ​ponto​. Ele é mais que 
simplesmente o prédio e os móveis que estão dentro dele, porque engloba também, p. ex., a 
marca, a clientela e os contratos. No estabelecimento forma-se um centro ativo de negócios e de 
giro econômico do empresário, com vinculação de clientes, consumidores e demais interesses da 
organização. 
Art. 1.142, CC. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da 
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. 
 
A. CONJUNTO DE BENS 
Conjunto organizado economicamente. A lei não diz que o conjunto é uma universalidade 
de fato, mas o fato de o empresário dar-lhe uma destinação unitária, caracteriza-o assim. Por isso, 
apesar do estabelecimento não ser uma pessoa jurídica, ele pode participar de relações jurídicas 
próprias - tanto que se pode penhorar a sede de uma empresa, mas não a empresa em si. 
A todo sujeito corresponde um ​patrimônio​. O patrimônio precisa ser compreendido sob 
suas duas faces, a ​ativa ​(conjunto de bens) e a ​passiva ​(conjunto de dívidas). Se alguém tem mais 
ativos que passivos, ele é ​solvente​. Se tem mais passivos que ativos, é ​insolvente ​e pode ser 
retirado do mercado através da ​falência ​(reconhecimento do estado fático de insolvência). 
21 
 
Cada pessoa tem um ​patrimônio geral e pode ter vários ​patrimônios especiais​. É 
possível especializar parte do patrimônio geral de uma pessoa em uma atividade empresarial. O 
estabelecimento é um patrimônio especializado. Primeiramente, a responsabilidade é obtida do 
estabelecimento, isto é, do patrimônio especializado (como em uma penhora de bens). Só depois 
de analisá-lo é que o restante dos bens serão procurados. 
Os ​bens singulares ​(art. 89, CC) ​devem ser analisados de forma singular, isolada. O 
empresário pode ter seu carro e seu estabelecimento analisados separadamente, por exemplo. 
Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos 
demais. 
 
Os ​bens coletivos​ devem ser analisados coletivamente. Há dois tipos de​ universalidades: 
1. Universalidade de fato ​(art. 90, CC)​: ​são bens singulares, unificados por alguém, com 
destinação unitária - que é, no caso do estabelecimento empresarial, a atividade empresária. 
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, 
tenham destinação unitária. 
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias 
(negócios)​. 
 
2. Universalidade de direito ​(art. 91, CC)​: ​p. ex., tem-se o espólio, que é extinguido após 
a partilha dos bens. Ou então, a massa falida, que é criada quando um empresário vai à falência, 
tendo por objetivo conduzir a atividade do falido até seu fim, arrecadando ativos e pagando 
passivos. 
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de 
valor econômico. 
B. MATERIAIS E IMATERIAIS 
Não compõem o estabelecimento somente os ativos específicos como prédios, mobiliário, 
estoques e maquinário, mas também clientela, aviamento, propriedade industrial, direitos 
autorais, contratos, dentre outros. 
1. Corpóreos: ​são materiais, tangíveis, como os imóveis, que costumam ter critérios de 
aferição de valor mais simples. 
2. Incorpóreos: são imateriais, intangíveis e acabam tendo maior importância, a 
depender da atividade empresarial que se analisa. 
22 
 
2.1 Aviamento ou goodwill (objetivo e subjetivo)​: ​é o potencial, a capacidade de 
produção de rendimento, de lucro de um estabelecimento. 
O ​objetivo tem a ver com o ​locus​, o local onde o estabelecimento foi montado - é o 
ponto​. Montado num local apropriado, capaz de atrair o cliente, por possuir seu perfil (ex: um 
depósito com finalidade logística precisa ser bem localizado, independentemente da aparência). É 
fruto de um estudo estratégico e independe do titular do estabelecimento. Existem atividades para 
as quais o local não é importante. 
O ​subjetivo tem a ver com o sujeito do negócio, depende do seu domínio sobre a ​arte do 
comércio​. Ele é tido por quem domina profundamente a arte de vender, e, por isso, sabe da 
necessidade do cliente. “Se você tem uma pastelaria colocada em um local errado, mas que faz 
um bom pastel, ela vai ter sucesso”. É um obstáculo à concorrência. 
2.2 Clientela​: ​ela é resultado do aviamento. É o conjunto de pessoas ​vinculadas pelo 
interesse na atividade empresarial e na confiança de que a legítima expectativa será concretizada, 
que buscam seus interesses no estabelecimento. 
Ela deve ser obtida de modo leal e lícito, pois o ​desvio de clientela está sujeito à 
responsabilidade civil, além de que, a ​concorrência desleal caracteriza um tipo penal, por 
configurar fraude (art. 195, III e 207 da LPI). 
Art. 195. ​Comete crime de concorrência desleal​ quem: 
III - emprega meio fraudulento, para ​desviar​, em proveito próprio ou alheio, clientela de outrem; 
 
Há empresas que valem pela clientela que tem e não pela estrutura que montam. A 
Ambev fideliza os estabelecimentos, fornecendo geladeiras, fachadas etc. e com isso, monopoliza 
o comércio de cervejas. Uma transportadora vale pelo tanto de caminhões que ela tem. Já uma 
imobiliária não vale o tanto de computadores que ela tem, mas sim pela clientela que consegue 
angariar e pela capacidade de produção de rendimentos. Dessa forma, os bens incorpóreos 
possuem mais relevância que os corpóreos. 
2.3 Sinais distintivos e criações industriais​: ​há diversos sinais e o fundamento geral de 
proteção deriva do art. 5º, XXIX, da CF: “a lei assegurará aos autores de inventos industriais 
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à 
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o 
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País”. 
23 
 
2.3.1. Nome empresarial ​(art. 1.155, CC) é o que leva registro na junta comercial. Ele é 
protegido, além de ser dado prioridade ao que pediu primeiro o registro. Por meio do nome 
empresarial, apresenta-se o titular da atividade perante o mercado, inclusive para que se inicie 
primeira averiguação dos riscos envolvidos na negociação com aquele empresário específico. 
2.3.2 Título de estabelecimento (nome fantasia) e ​insígnia ​(ou tabuleta, placa do 
estabelecimento​, ​que atrai as pessoas para o estabelecimento)​: isso também conta com proteção, 
pois outras pessoas não podem copiar. 
Ambos (título e insígnia) atendem a critérios de novidade e prioridade no uso e estão 
protegidos contra práticas de concorrência desleal (art. 195, V, da LPI). Ademais, a primeira 
utilização do título do estabelecimento pode representar obstáculo para que terceiro pleiteie a 
mesma marca (art. 124, V, da LPI). 
Art. 124. Não são registráveis como marca: 
V - reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou 
nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associaçãocom estes sinais distintivos; 
Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem: 
V - usa, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia alheios ou vende, expõe ou 
oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências; 
 
2.3.3. Desenhos industriais: são um tipo de produção industrial, que geram uma 
distinção no produto. É comum nas indústrias de moda e de móveis o pedido de registro dos 
desenhos para proteger essa produção e evitar que terceiros “roubem” seus desenhos. As 
empresas produzem conhecimento e buscam meios para protegê-lo. 
2.3.4. Patentes: ​são uma proteção a uma inovação no estado da técnica (art. 8º da LPI). 
★ É um documento formal, expedido por uma repartição pública, por meio do qual se conferem e se 
reconhecem ​direitos de propriedade e uso exclusivo para uma invenção descrita amplamente. Trata-se de 
um privilégio concedido pelo Estado aos inventores (pessoas física ou jurídica) detentores do ​direito de 
invenção​ de produtos e processos de fabricação, ​ou aperfeiçoamento​ de algum já existente. 
 
Ela é sua apenas por 20 anos, depois torna-se de domínio público, porque não é justo que 
você detenha o conhecimento sobre aquele produto para sempre. 
2.3.5. Marcas: é o sinal distintivo de produtos ou serviços, tornando-os singulares, 
distintos. Caracteriza seu produto ou serviço e permite sua exploração com exclusividade 
perpetuamente, desde que seguidas as determinações legais. Não se pode pegar carona na marca 
alheia, fazendo um logo muito parecido. Existe até um direito marcário. 
★ A marca ​nunca é uma representação simbólica de uma entidade, mas sim de produtos ou serviços​, 
relacionando-os com uma pessoa ou determinada entidade. A marca deve ser sempre registrada. Só assim, o 
24 
 
titular da marca poderá garantir a proteção da mesma. É importantíssimo efetuar uma vigilância constante à 
marca, com vista a garantir a inexistência de novas marcas iguais ou confundíveis com a existente. 
 
A proteção às marcas se dá por ​classes​. Existem marcas protegidas por serem de ​alto 
renome​, impedindo que elas sejam usada de modo brega e oportunista, como ao colocar o 
símbolo da Nike em um leite. 
 2.3.6. Expressão propaganda: são bordões ou slogans autorais e que, caindo no gosto e 
na memória da clientela, destaca e consolida o sinal distintivo. É algo que caracteriza muito o 
produto ou a marca, como “51, uma boa ideia”. Isso pode valorizar sobremaneira a marca. 
2.3.7. Direitos autorais de obras literárias, científicas, artísticas (Lei nº 9.610/98)​: 
uma empresa vale muito pelos direitos autorais que ela tem. Por exemplo, a Disney tem direitos 
autorais sobre as histórias que ela concebeu e, por isso, ela recebe por cada produto que as utiliza 
em sua embalagem. 
É lícito transferir para pessoa jurídica o recebimento de direitos de imagem e arena de 
esportistas e artistas, embora a Receita Federal entenda que seria burla à tributação. Portanto, 
vê-se como válido o planejamento tributário, de transferência de gestão de direitos de imagem 
para pessoa jurídica empresária. 
2.3.8. Proteção do ponto (ou do contrato de locação) ​(arts. 51, 52, 72 a 74 da lei do 
inquilinato)​: o local, o aviamento objetivo é protegido. É uma forma de proteger o empresário, 
obrigando que haja a renovação do contrato de locação após o vencimento. 
2.3.9. Contratos de trabalho especializado ​(art. 448, CLT)​: a equipe que você monta 
(qualifica) gera valor na empresa. 
Esse também é o elo causador da sucessão do adquirente por débitos trabalhistas 
porque, conforme prevê o art. 448 da CLT, “a mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da 
empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados”. 
2.3.10. Contratos especiais ​(como ​leasing​, concessão mercantil, distribuição, franquia)​: 
o Mc Donald’s vale o que vale porque é uma franquia. Nesses casos, o conjunto de contratos tem 
protagonismo da definição de preços da organização. 
O estado de ​compliance ​de um estabelecimento (o dever de estar em conformidade com 
atos, normas e leis, para seu efetivo cumprimento) também agrega valor à empresa. 
25 
 
2.3.11. Nome de domínio de internet (www.): muitas atividades estão migrando para o 
ambiente eletrônico. Por isso, o ​app ​da empresa ou seus ​programas ​podem gerar valor nela. 
2.3.12. Trade dress: é o conjunto imagem-marca (vestimenta do produto; variedade de 
elementos visuais de ​diferenciação arquitetônica ​do estabelecimento, do ​produto​, do ​prédio​, 
do ​site​, da ​pigmentação de cores​, da ​composição das letras​, das ​imagens ​utilizadas para o 
destaque da atividade etc.). Não é a marca nem o logo, é a aparência do produto ou da loja, a 
embalagem, que não podem confundir os clientes na hora da compra. O objetivo é coibir sua 
contrafação e a imitação, ainda que sutil. 
Sua proteção não está na legislação, trata-se de uma discussão jurisprudencial, pautada na 
vedação à concorrência desleal e na proteção aos direitos autorais (ex: Taco Bell x Taco Cabana - 
marcas que pegaram carona uma na outra, porque copiaram suas cores; Nestlè Grego x Danone 
Grego; solado Louboutin). 
C. ORGANIZADOS PELO EMPRESÁRIO 
Organização finalística dos bens e apropriação dos meios de produção. Os bens 
organizados valem como um todo, inclusive para fins de pagamento de dívidas. 
REsp nº 1.355.812, STJ: a ​filial ​é espécie (parte, extensão) de estabelecimento, para 
todos os fins, protetivos, de cobrança de dívidas etc. 
Súmula 451, STJ: é legítima a penhora da ​sede ​do estabelecimento. Porém, existe uma 
ordem de preferência na penhora de bens, que coloca os bens móveis em primeiro lugar e a sede 
em último. 
Art. 835, CPC. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: 
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; 
II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em mercado; 
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; 
IV - veículos de via terrestre; 
V - bens imóveis; 
VI - bens móveis em geral; 
VII - semoventes; 
VIII - navios e aeronaves; 
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias; 
X - percentual do faturamento de empresa devedora; 
XI - pedras e metais preciosos; 
XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia; 
XIII - outros direitos. 
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no 
caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto. 
26 
 
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia 
judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento. 
§ 3º Na execução de crédito com garantia real, a penhora recairá sobre a coisa dada em garantia, e, se a 
coisa pertencer a terceiro garantidor, este também será intimado da penhora. 
Em princípio, as dívidas são vinculadas ao estabelecimento. Só posteriormente é que se 
pode chegar aos bens do empresário. Os processos executivos, com débito já reconhecido, 
servem para promover a cobrança; neles é possível penhorar um estabelecimento. 
 
10. NEGÓCIOS SOBRE O ESTABELECIMENTOAinda estamos falando de pessoa física. 
Enquanto universalidade de fato, o estabelecimento pode ser ​objeto unitário de relações 
jurídicas próprias. 
10.1. TRANSFERÊNCIA 
1. Alienação (ou trespasse): passar o estabelecimento para frente, por meio de uma 
compra e venda. Antigamente, falava-se em “vender o ponto”. A alienação do estabelecimento 
precisa ser feita com cautela, pois afeta a terceiros que negociam com o empresário e o contrato 
pode ser ineficaz se prejudicar terceiros. 
Não se confunde com a ​cessão das quotas​ ​na Ltda​ ou a ​alienação do controle da S/A​. 
2. Usufruto: ​comum em casos de doação, como quando o pai doa para o filho o 
estabelecimento, mas o filho torna-se apenas nu-proprietário. 
3. Arrendamento: ​locação. 
A transferência do estabelecimento provoca a ​sub-rogação do adquirente em contratos 
(art. 349 do CC), exceção feita àqueles de caráter pessoal e vinculativo somente do alienante, 
como no caso do mandato, franquia etc. 
Fatores de eficácia:​ 3 hipóteses de ​ineficácia​ do negócio jurídico. 
1. Para terceiros: para que o efeito valha para terceiros (oponível ​erga omnes​), deve-se 
dar publicidade à compra e venda, ​registrando​-a na junta comercial. 
Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só 
produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade 
empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. 
 
2. Para credores:​ os credores são as pessoas para as quais o alienante do ponto deve. 
27 
 
Se não restarem bens, a eficácia do negócio, para credores, fica suspensa até o pagamento 
de todos eles ou até eles expressarem seu consentimento. Os credores devem ser comunicados da 
venda, com antecedência de 30 dias, para que se manifestem. 
Art. 1.145, CC. Se ao alienante não restarem bens ​suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da 
alienação do estabelecimento depende do ​pagamento de todos os credores​, ​ou do consentimento destes, de ​modo 
expresso ou tácito​, em trinta dias a partir de sua ​notificação​. ​Se foram notificados e não se manifestaram, 
concordaram tacitamente. Caso contrário, os credores poderão considerar ineficaz o negócio e ainda fazer recair a 
satisfação dos créditos sobre os bens do estabelecimento alienado. 
 
3. Na falência: quando não sobra mais nenhum bem ativo ao devedor e ele resolve alienar 
o ponto, a venda pode ser causa do pedido de falência (art. 94, c, LREF) e pode gerar ineficácia 
do negócio em relação à massa falida (art. 129, VI, LREF), quando os credores não são pagos 
nem consentem com ele. 
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: [...] 
III - pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: [...] 
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar 
com bens suficientes para solver seu passivo; [...] 
 
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de 
crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores: [...] 
VI - a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de 
todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, 
salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, 
judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos; 
 
10.2. RESPONSABILIDADE POR DÍVIDAS 
1. Geral: 
Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à 
transferência, desde que regularmente ​contabilizados​, continuando o devedor primitivo ​solidariamente ​obrigado 
pelo prazo de um ano, a partir, (1) quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, (2) quanto aos outros, da data do 
vencimento. 
 
Se você quer comprar um estabelecimento, você deve primeiro analisar suas dívidas, 
porque você não vai querer se responsabilizar por elas. 
Os débitos não contabilizados são só do devedor primitivo. Os demais são de 
responsabilidade solidária dele apenas por 1 ano. 
O legislador protege terceiros em geral e credores em especial​, pelas técnicas da 
ineficácia ​e da ​solidariedade​, além da ​sucessão pelos débitos​. 
2. Sucessão: 
28 
 
Trabalhista:​ art. 448, CLT. 
Art. 448. A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho 
dos respectivos empregados. ​Não importa, o sucessor sucede o devedor, inclusive quanto ao passivo trabalhista. 
Parágrafo único. A empresa sucedida responderá ​solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada 
fraude​ na transferência. 
 
Tributária: ​art. 133, CTN. 
Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo 
de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob 
a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, ​responde pelos tributos​, relativos ao fundo ou 
estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: 
I -​ integralmente, se o alienante cessar a exploração​ do comércio, indústria ou atividade; 
II - ​subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses 
a contar da data da alienação, nova atividade​ no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. 
§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial: ​Casos de isenção 
na sucessão tributária: 
I – em processo de falência; 
II – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial. 
§ 2º Não se aplica o disposto no § 1º deste artigo quando o adquirente for: Não estão isentos da 
sucessão tributária: 
I – sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em 
recuperação judicial; 
II – parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consangüíneo ou afim, do devedor falido ou 
em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou 
III – identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a 
sucessão tributária. 
§ 3º Em processo da falência, o produto da alienação judicial de empresa, filial ou unidade produtiva isolada 
permanecerá em conta de depósito à disposição do juízo de falência pelo prazo de 1 (um) ano, contado da data de 
alienação, somente podendo ser utilizado para o pagamento de créditos extraconcursais ou de créditos que preferem 
ao tributário. 
 
Quem comprar um estabelecimento, em caso de falência/recuperação, não sucede o 
falido. Caso Varig e Gol. 
 
10.3. CONCORRÊNCIA 
Dependendo do caso, o aviamento subjetivo de um empresário tem potencial de 
desvalorizar ou mesmo tornar irrelevantes os ativos transferidos com o estabelecimento por conta 
do desvio de clientela. 
Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o ​alienante ​do estabelecimento ​não pode fazer 
concorrência ao adquirente​, nos ​cinco anos subseqüentes à transferência. Veda o desenvolvimento de atividadeempresarial semelhante. A vedação aqui é à concorrência. Ela se dá para trespasse; não há vedação para a venda 
de controle societário. Então, ela deve estar expressa no contrato para que a vedação valha. 
Parágrafo único. No caso de ​arrendamento ​ou ​usufruto ​do estabelecimento, a proibição prevista neste 
artigo persistirá durante o ​prazo do contrato​. 
A violação da proibição gera pretensão de reparação de danos correspondentes à redução do movimento 
de clientela no estabelecimento do adquirente, além de impactos no próprio aviamento. É possível cumular o pleito 
de obrigação de não concorrência, com fixação de multa pelo descumprimento do preceito cominatório. 
29 
 
 
10.4. AÇÃO RENOVATÓRIA DE LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL 
É uma medida processual para proteção do ponto. Com a revogação da ​Lei de Luvas 
(Decreto 24.150/34), a do ​Lei do Inquilinato​ (Lei nº 8.245/91) passou a regulá-la. 
Ser ​dono​, proprietário ​na atividade empresarial, às vezes, não significa muita coisa. Isso 
porque, ser dono pode significar ter um dinheiro “parado” - rico não compra casa e sim a aluga, 
pagando o aluguel com o rendimento do valor que utilizaria para comprá-la. Por isso, a locação é 
uma boa estratégia desse mercado. 
O ​contrato ​é um instrumento que pacifica uma relação antagônica, reduzindo os possíveis 
atritos e comportamentos oportunistas que podem surgir dela. Por meio dessa ação ​constitutiva​, 
o locatário-empresário pleiteia ao juiz que, uma vez vencido o contrato de locação não 
residencial, ele seja renovado por igual prazo e por preços de mercado, ainda que sem a anuência 
do locador. Para tanto, é preciso que sejam preenchidos os 4 requisitos cumulativos. 
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio (não residenciais)​, ​o locatário terá direito a 
renovação do contrato​, por igual prazo, desde que, cumulativamente: cumpridos os requisitos, há a 
obrigatoriedade na renovação do contrato de locação. 
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por ​escrito ​e com ​prazo determinado​; 
II - o ​prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de 
cinco anos​; 
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no ​mesmo ramo​, pelo ​prazo mínimo e ininterrupto de 
três anos​.​ Usar para a mesma atividade. 
§ 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores da locação; no 
caso de sublocação total do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo sublocatário. 
§ 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de sociedade de que faça 
parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser exercido pelo locatário ou 
pela sociedade. 
§ 3º Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios, o sócio sobrevivente fica sub-rogado no 
direito a renovação, desde que continue no mesmo ramo. 
§ 4º O direito a renovação do contrato estende-se às locações celebradas por indústrias e sociedades civis 
com fim lucrativo​, regularmente constituídas, desde que ocorrentes os pressupostos previstos neste artigo. 
§ 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um ano, no máximo, até 
seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor. ​De 1 ano a 6 meses antes de 
acabar o contrato. ​É um prazo decadencial (ex: se o contrato termina 31/12, a ação de renovação deve ser proposta 
entre 01/01 e 30/06). 
Art. 52. ​O locador não estará obrigado a renovar o contrato se: 
I - por determinação do Poder Público, tiver que realizar no imóvel obras que importarem na sua 
radical transformação; ou para fazer modificações de tal natureza que aumente o valor do negócio ou da 
propriedade; 
II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ​ou para transferência de fundo de comércio existente 
há mais de um ano, sendo detentor da maioria do capital o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente​. 
§ 1º Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá ser destinado ao uso do mesmo ramo do locatário, 
salvo se a locação também envolvia o fundo de comércio, com as instalações e pertences. 
§ 2º ​Nas locações de espaço em shopping centers, o locador não poderá recusar a renovação do 
contrato com fundamento no inciso II​ deste artigo. 
30 
 
§ 3º O locatário terá direito a indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos lucros cessantes que tiver 
que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio, se a renovação não ocorrer em razão 
de proposta de terceiro, em melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da entrega do imóvel, não 
der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou pretender realizar. 
 
Art. 72. ​A contestação do locador, além da defesa de direito que possa caber, ficará adstrita, quanto à 
matéria de fato, ao seguinte: 
I - não preencher o autor os requisitos ​estabelecidos nesta lei; 
II - não atender, a proposta do locatário, o valor locativo real ​do imóvel na época da renovação, 
excluída a valorização trazida por aquele ao ponto ou lugar; 
III - ter proposta de terceiro para a locação, em condições melhores; 
IV - não estar obrigado a renovar a locação (incisos I e II do art. 52). 
§ 1º No caso do inciso II, o locador deverá apresentar, em contraproposta, as condições de locação que 
repute compatíveis com o valor locativo real e atual do imóvel. 
§ 2º No caso do inciso III, o locador deverá juntar prova documental da proposta do terceiro, subscrita 
por este e por duas testemunhas, ​com clara indicação do ramo a ser explorado, que não poderá ser o mesmo do 
locatário​. Nessa hipótese, o locatário poderá, em réplica, aceitar tais condições para obter a renovação pretendida. 
§ 3º No caso do inciso I do art. 52, a contestação deverá trazer prova da determinação do Poder Público ou 
relatório pormenorizado das obras a serem realizadas e da estimativa de valorização que sofrerá o imóvel, assinado 
por engenheiro devidamente habilitado. 
§ 4º Na contestação, o locador, ou sublocador, poderá pedir, ainda, a fixação de aluguel provisório, para 
vigorar a partir do primeiro mês do prazo do contrato a ser renovado, não excedente a oitenta por cento do pedido, 
desde que apresentados elementos hábeis para aferição do justo valor do aluguel. 
§ 5º Se pedido pelo locador, ou sublocador, a sentença poderá estabelecer periodicidade de reajustamento do 
aluguel diversa daquela prevista no contrato renovando, bem como adotar outro indexador para reajustamento do 
aluguel. 
Art. 73. Renovada a locação, as diferenças dos aluguéis vencidos serão executadas nos próprios autos da 
ação e pagas de uma só vez. 
Art. 74. Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de mandado de despejo, que conterá 
o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver pedido na contestação. 
 
11. PESSOAS JURÍDICAS E FUNÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES 
Até aqui analisamos o empresário que atua individualmente, como pessoa física. A partir 
de ​agora​, falaremos sobre as ​pessoas jurídicas​. 
 
11.1. AGRUPAMENTOS DE INTERESSE COMUM 
Comunhão: concorrência de direitos iguais

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