Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O REALISMO LITERÁRIO NO ROMANCE MODERNO 1. Na teoria da literatura, diferentes pesquisadores se debruçaram sobre a problemática do realismo buscando compreender as relações entre texto literário e realidade. De acordo com pesquisadores como Ian Watt, Antoine Compagnon e Darío Villanueva, o realismo literário pode ser melhor caracterizado a partir de qual definição? RESPOSTA: C. Um conjunto de procedimentos narrativos que caracteriza uma convenção literária a partir da particularização de personagens, tempo e espaço a fim de representar a realidade. EXPLICAÇÃO: Para pesquisadores como Watt, Compagnon e Villanueva, o realismo não se caracteriza por ser uma escola literária, tampouco uma estética mais fotográfica, objetiva ou imparcial, embora alguns outros estudiosos assim o considerem. Na verdade, trata-se de um conjunto de procedimentos narrativos para a representação da realidade. Convenções essas que, conforme assinalado por Watt, têm muita proximidade com o realismo filosófico de Descartes e Locke. . 2. Em A ascensão do romance, Ian Watt apresenta uma série de características que tornaram o gênero romanesco mais propício à forma de pensamento moderna no século XVIII. Entre as características apontadas, quais são as que tornaram o romance mais propício ao retrato moderno da vida social que seus predecessores? RESPOSTA: B. Personagens individualizadas e contemporâneas, com caracterização do espaço e do tempo em que estão inseridas, além de uma linguagem em prosa, pouco figurada e sem referências clássicas, são fatores que permitiram aos romancistas uma forma moderna de narrar a realidade. EXPLICAÇÃO: O século XVIII caracteriza-se, entre outros aspectos, pelo aumento da classe média urbana. Com ela, houve também o advento de um paradigma de pensamento calcado no indivíduo. Dessa forma, o romance, com suas personagens individualizadas e contemporâneas, a caracterização do espaço e do tempo em que estão inseridas, além de uma linguagem em prosa, pouco figurada e sem referências clássicas, são fatores que permitiram aos romancistas narrar a realidade conforme o pensamento vigente. Para Watt (2010), foram essas características, definidas como realismo formal, (e não a extensão do romance, a narrativa em terceira pessoa, a menor quantidade de elementos "fantasiosos" ou a profissionalização do escritor) que permitiram isso. 3. Um importante ponto da teoria de Watt (2010) é a relação entre os romances do século XVIII e as principais linhas filosóficas da modernidade europeia. Assinale a alternativa correta a respeito da relação entre realismo literário e realismo filosófico. RESPOSTA: D. O realismo literário e o realismo filosófico são duas manifestações de um mesmo paradigma de pensamento que se caracteriza na modernidade europeia: a valorização do indivíduo. EXPLICAÇÃO: O realismo filosófico de nomes como Descartes e Locke e o realismo literário de nomes como Defoe, Richardson e Fielding têm ampla relação. É muito comum a compreensão dessa relação como sendo de causa e consequência. Entretanto, para o crítico literário Ian Watt, um não levou ao outro: ambas as manifestações devem ser encaradas como paralelas de uma mudança mais ampla de indivíduos particulares vivendo experiências particulares em época e lugares particulares. 4. Compreender as linhas gerais da filosofia moderna é fundamental para uma melhor compreensão do realismo literário no romance moderno. Qual das citações de filósofos a seguir é representativa do pensamento moderno ocidental? RESPOSTA: A. Ao buscar seu próprio interesse econômico, frequentemente, o indivíduo promove o interesse da sociedade de maneira mais eficiente do que quando realmente tem a intenção de promovê-lo. EXPLICAÇÃO: A primeira reflexão é extraída de A riqueza das nações, de Adam Smith, clássico pensador liberal. A ênfase ao indivíduo, que deve ter seu crescimento estimulado pelo Estado, aponta para o individualismo moderno. A segunda citação é de autoria de Platão. Na "República", o pensador condena a representação (imitação) por ser uma cópia deturpada (simulacro) das verdades (ideia) –a representação viria a ser um dos pilares do pensamento moderno ocidental. O terceiro pensamento é de Santo Agostinho, filósofo medieval. A generalização do homem, bem como sua platônica concepção enquanto corpo e alma concebidos por Deus, inviabilizam a alternativa. A quarta reflexão é de Aristóteles, em "Poética", onde recomenda personagens generalizados pelo seu comportamento ético (as estéticas modernas tendem a singularizar seus personagens). Por fim, você tem uma consideração de São Tomás de Aquino, pensador medieval, que concebe uma totalidade a partir da criação divina – ou seja, não há espaço para a individuação, pois há uma verdade transcendental e imutável que perpassa tudo. 5. De acordo com Ian Watt, o romance realista apresenta algumas particularidades em sua estrutura narrativa. Em A ascensão do romance, o teórico apresenta essas características e exemplifica-as em romances de Defoe, Richardson e Fielding. Dessa forma, é possível identificar o realismo formal de um texto pela análise de suas características. Qual dos seguintes trechos de narrativa a seguir pertence a um romance realista? RESPOSTA: E. Entramos no jardim desta bela, enorme, antiga e solitária mansão, que parece ter sido feita para o isolamento e a malícia, como eu pensei, pela sua aparência, com todos os seus olmos e pinheiros, horríveis e marrons, inclinando-se sobre ela. E aqui, disse a mim mesma, temo ser o cenário de minha ruína. EXPLICAÇÃO: O primeiro trecho é a célebre abertura da Ilíada, de Homero. As referências à mitologia grega e a ausência de individuação de personagens e espaços deixam claro não se tratar de um romance realista. O segundo trecho é extraído da novela de cavalaria A demanda do Santo Graal. A ausência de nominação e descrição de características da donzela, dos cavaleiros e dos espaços revela uma narrativa pouco individualizante, algo bem distinto das narrativas realistas. O terceiro trecho é parte da peça O auto da barca do inferno, de Gil Vicente. A falta de individuação do lugar (um místico rio que conduz ao paraíso e ao inferno) e dos personagens (Fidalgo e Paje) deixa claro não se tratar de obra realista. A quarta citação, por sua vez, é da tragédia MacBeth, de Shakespeare. A falta de ambientação (a única descrição é: lugar deserto) e a ausência de individuação das personagens que assumem a fala inviabilizam a alternativa. Por fim, o último fragmento é do romance Pamela, de Samuel Richardson, clássico realista inglês. Nota-se no trecho a grande preocupação narrativa em particularizar a experiência da protagonista Pamela na mansão de Lincolnshire. Há descrições físicas minuciosas, retratando os sentimentos desencadeados pelo lugar na personagem.
Compartilhar