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Carasek (2010) - Cap 28 Livro IBRACON - Argamassas

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Maleriais de Construção Civil e Princfpios de Ciência e Engenharia de Moteriais 
Gera.Ido CecheUa !saia (Organizador/&litor) 
@ 2010 IBRACON. Todos direitos reserv;dos. 
Capítulo 28 
Argamassas 
ffelena c;~asek 1 
Universidade Federal de Goiás 
28.1 Introdução 
28.1.1 Definição e histórico 
Argamassas são materiais de construção, com propriedades de 
aderência e endurecimento, obtidos a partir da mistura homogênea de 
um ou mais aglomerantes, agregado miúdo (areia) e água, podendo 
conter ainda aditivos e adições minerais. · 
As argamassas são materiais muito empregados na construção civil, 
sendo os seus principais usos no assentamento de alvenarias e nas 
etapas de revestimento, como emboço, reboco ou revestimento de 
camada única de paredes e tetos, além de contrapisos para a 
regularização de pisos e ai_nda no assentamento e rejuntamento de 
revestimentos de cerâmica e pedra. 
Os primeiros regi"strõs· ·de-·emprego de argamassa como material de 
construção são da pré-história, há cerca .de 11 .000 anos. No sul da Galil,éia, 
próximo de Yiftah'el-, em Israel, foi descoberto em 1985, quando de uma 
escavação para abrir uma má, o que hoje é considerado o registro mais 
antigo de emprego de argamassa pela humanidade: um piso polido de 180 
m2 , feito com pedras e uma argamassa de cal e areia, o qual se estima ter sido 
produzido entre 7.000 a.C. e 9.000 a.C. (EUROPEAN MORTAR 
INDUSTRY ORGANIZATION - EMO, 2006; HELLENIC CEMENT 
INDUSTRY ASSOCIATION - HCIA, 2006). O segundo registro mais antigo 
é de 5.600 a.C., em uma laje de 25 cm de espessura, também executada com 
argamassa de cal, no pátio da Vila de Lepenske-Vir, hoje Iuguslávia 
(VENUAT apud GUIMARÃES, 1997). A partir daí existem vários registros 
do emprego de argamassas de cal e gesso pelos egípcios, gregos, etruscos e 
romanos. 
Corno visto, as argamassl;IS mais antigas eram à base de cal e areia. No 
1 A autora agradece ao Eng. Mário S~rgio Jorge dos Santos, do Nücleo de Tecnologia das Argamassas e 
Rcvcstimenros - NUTEA , da UFG, pela colaboração na elobornção desle capítulo. 
luisf
Caixa de texto
CARASEK, Helena. Argamassas. In: ISAIA, G. C (Org.). Materiais de construção civil e princípios de ciência e engenharia de materiais. 2 ªed. São Paulo, IBRACON, 2010. Vol.1. p. 893-943.
894 H . Carasek 
en tanto, com as alter::u,.:õcs das técnicas de construção, novos materiais 
foram desenvolvidos . As argamassas modernas geralmente possuem em 
sua composição também o cimento Portland e , muito freqüentemente, 
aditivos orgânicos para melhorar algumas propriedades, como a 
trabalhabilidacle . Esses adi ti vos são, por exemplo, os incorporadores de 
ar que modificam a rcologia da massa fresca pela introdução de 
pequenas bolhas de a r, o u mesmo os aditivos retentores de água (à b ase 
de és teres de celulose , os quais regulam a perda da água de 
am assamento). Já no final séc ulo XIX surgiram, na E uropa e nos Estados 
Unidos , as argamassas industrializadas, misturas prontas, dosadas em 
plantas indus triais, para as quais , na obra, só é necessária a adição de 
água , as quais são muito e mpregadas atua lme nte também no Brasil. 
28.12 Objeti11os e.foco 
Este capítulo tem como o bjetivos apresentar a c lassificação, as 
fun ções , o s requi sitos e as propriedades mais importantes das 
argamassas, associando tais propriedades com alguns mé todos de 
ensaio disponívei s p a ra sua determinação. São discutidos também 
aspectos da dosagem e preparo das argamassas . São abordadas somente 
as a rgamassas inorgâ nicas, principalmente argamassas à base de 
cimento Portland e cal o u de cimento Portland e aditivos, com função 
de assentamento de alve naria e de revestimento de paredes. As demais 
argamassas destinadas a outras funções são tratadas mais 
superficialmente, uma ve z que essas apresentam inúmeras 
partic ularidades. A lé m disso, em termos de consumo de materiais na 
obra, essas outras a rgamassas representam menor volume e são 
freqüe ntemente compradas prontas (argamassas industrializadas) 
ficando a res ponsabili dade do seu proporcionamento aos fabri cantes. 
Cabe destacar-se que o foco do· capítulo é o estudo da argamassa 
e nqua nto material de cons trução. No e ntanto, não se deve esquecer 
que, na prática, é importante, dentro de uma visão s is têmica , a análise 
do m aterial aplicado , ou seja, a avaliação do desempenho. Nesse 
sentido, uma rápida abordagem de desempenho de alguns s ubsistemas 
constituídos por argamassas é feita na seção 28 .3, além de serem 
apresentados alguns asp ectos sobre manifestações patoÍógicas de 
re vestimentos ele argamassa na seção 28,6. 
28.2 . Classificações 
As argamas sas po dem se r classificadas com relação a vários 
critérios, alguns dos qu ais são propostos no Quadro 1. 
Arga,uassas 895 
Qun<lro 1 ~ Clas.-.ificação das arg~nmss:is. 
Crltório de classlflcacão : . lloo 
Quanto à natureza do aglomerante 
. Argamassa ·aérea . Aroàmassa hidráulica . Argamassa.de cal 
Quanto ao tipo de aglomerante 
. Argamassa de cimento . Argamassa de cimento e cal . Argamassa de gesso . Aroamassa de cal e gesso 
Quanto ao número de . Argamassa simples 
ealomerantes . Amamassa mista 
Quanto à consistência da 
. Argamassa seca 
argamassa 
. Argamassa plástica . Amamassa fluida 
Quanto à plasllcidí3de da 
. Argamassa pobre ou magra . Argamassa média ou cheia argamassa 
! 
. Araamassa rica ou oorda 
Quanto à densidade de massa da 
. Argamassa leve 
argamassa 
. Argamassa normal . Aroamassa oesada . Argamassa preparada em obra 
Quanto à forma de preparo ou . Mistura semipronta para argamassa 
fornecimento . Argamasse Industrializada . Arnç1massa dosada em central 
As argamassas podem também ser classificadas segundo sua função na 
constn1ção, conformé resumo apresentado no Quadro 2. 
Qundro 2 • Classific.-ição das nrgomassa.s scgwtdo as suas funçõés no construção. 
Func!lo Tioos 
Para consln1ção de alvenar1as Aroamassà de assentamento lelevacáo da alvenaria\ 
(ver fiem 28.3. 1) Arnamassa de fixacáo (ou encunhamenlo\ alv. da vedação 
Aroamassa de chaoisco 
Para revestimento de paredes e Araamassa de emboco 
·tetos 1 Aroamassa de reboco 
(ver fiem 28.3.2) Araamassa de camada única 
Aroamassa oara revestimento decorativo monocamada 
Pera revesllmenlo de pisos 
Aroamassa de conlranlso 
Araamassa de alta resistência oara olso 
Para revesllmenlos cerãmlcos Argamassa de assentamento de peças cerâmicas - colante 
(paredes/ pisos) Aroamassa de reluntamento 
Para recuoeracão de estruturas Araamassa de reoaro 
283 F~ções das argamassas, requisitos de desempenho e propriedades 
mrus relevantes 
As funções das argamassas estão associadas diretamente às suas finalidades 011 
aplicações. Nesta seção são discutidas, para as argamassas mais empregadas na 
896 H. Carusek 
construção c iv il (as argamassas de assentamento de alvenaria e de 
revestimento de paredes), as s uas funções, e a e las são associadas as 
principais propriedades. Ao final da seção, está apresentado um quadro 
res umo em que, também para as demais argamassas (de chapisco, 
contrapiso, colante, de rejuntamento e de reparo) , são listadas as 
propriedades mais relevantes. As principais propriedades, por sua vez, 
são explicadas e associadas aos _métodos de ensaio na seção 28.4 deste 
capítulo. 
283.1 Argamassa de assentamento de alvenaria 
A argamassa de assentamento de alvenaria é utiiiza:da para a elevação 
de paredes e muros de tijolos ou blocos , também c,hamados de unidacte·s de 
alvenaria. As principais funções das j un tas de arghmassa na àlvenariit' são: 
• unir as unidades de alvenaria de forma a constituir um elemento 
monolítico, contribuindo na res istência aos esforços la tera is ; 
• dis tribuir uniformem ente as cargas atuantes na parede por toda a área 
resistente dos blocos; · 
• selar as juntas g~rantindo a estanqueidade2 da parede à penetração de 
água das chuvas; 
• absorver as deformações naturais , como as de origem té'rmica e as de 
retração por secagem (origem higroscópica) , a quea alvenaria estiver 
sujeita. . · 
Para cumprir essas funções, algumas propriedades tornam-se essenciai s. 
No caso das a rgamassas de assentamento, as principais propriedades 
almejadas são: 
• trabalhabilidade - consistência e plasticidade adeq uadas ao processo 
de execução , além de uma elevada retenção de água; 
• aderência; 
• resistência mecânica; 
• capac idade de absorver deformações. 
A trabalhabilidade, conforme será discutido em detalhes na seção 4, 
é q ue garantirá as condições de execução da parede. Por exemplo, se a 
argamassa não apresentar consis tência adequada, estando muito fluida 
q uando da colocação de um bloco sobre a junta de assentamento que 
ainda está no estado fresco, a argamassa pode ser esmagada em 
dem asia, gerando uma junta de al tura i i1,adequada, o u seja, de espessura 
menor do que a prevista, além de dificultar a execução da parede no 
alinhamento e no prumo. Por outro lado, deve-se aju star a 
trabalhabilidade, principalmente a plasticidade da argamassa, à forma 
de aplic.ação. A argamass~ de assentamento a ser aplicada com bisnaga 
exige uma plasticidade maior do q ue a de uma argamassa que será 
aplicada pelo método mai s traçlicional, ou seja, e mpregando a colher de 
pedreiro au mesmo a palhe ta (Figura 1) . 
. 1 Estanqucidade à água é a propriedade dos materiais, componentes ou elementos da edificação de não permitirem a 
ÍI\IÜtração de água. 
Argnmnssas 
(a) (b) 
Figura 1 • Aplicaçllo de argamassa de asseruamento: (•) b1snuga (foto: PrudSncio Jr.) e 
{b) meio desempenadeira ou poll1eto (foto: ABCP). 
897 
A retenção de água é uma propriedade muito importante para as 
argamassas de assentamento, uma vez que, após a s ua aplicação sobre 
uma fiada de blocos ou tijolos , a argamassa começa a perder água, pela 
s ucção dos componentes de alve naria e pela evaporação. Nesse 
mo mento, a propriedade em questão torna-se importante, regulando a 
perda da água de amassamento durante o processo de secagem. Se 
perder água muito rapidamente, a argamassa ressecará, e não será 
possível o adequado ajuste dos blocos da próxi ma fiada, prejudicando o 
seu nivelamento e o prumo da parede, o que pode levar a uma 
d istribui ção não uniforme das cargas atuantes na parede pela área 
resistente dos blocos. Por o utro lado, caso que ira corrigir esse problema 
co m uma argamassa de baixa retenção ele água, o pedreiro deverá 
reduzir a á rea na qua l espa lhará a argamassa, ·prejudicando a 
produtiv id ade do serviço . Além disso, a re te nção de água influirá na 
aderênc ia, uma vez que·; se a·argamas.sa perder água muito rapidamente 
para o b loco abaixo da junta, poderá fa ltar água (a qual carrega consigo 
aglomerantes) para gara nti r uma adequada ligação da argamassa com o 
bloco s uper ior. A Figura 2 ilus tra a perda de água da argamassa fresca 
em uma junta de assentamento; observe que além da argamassa entrar 
em contato primeiro com o bloco inferior, sofrendo o efeito da sucção 
pelos seus poros, o efei to da força da g ravidade também contribui para 
ocorrer um a ligação mais efetiva entre a junta de assentamento .e o 
bloco inferior. 
898 H. Carasek 
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Argomassa.s 89/J 
A aderência, por sua vez, é uma propriedade essencial no caso das 
argamassas de assentamento, tendo em vista que ela permitirá à parede 
resistir aos esforços de cisalhamento e de tração, além de garantir a 
estanqueidade das juntas, impedindo a penetração da água das chuvas . 
Por fim, com relação à resistência mecânica, principalmente a 
resistência à compressão , sabe-se que a argamassa deve adquiri! 
rapidamente alguma resistência, permitindo o assentamento de várias 
fiadas no mesmo dia, bem como desenvolver resistência adequada ao 
longo do tempo. Apesar disso, nã·o são necessárias resistências altas das 
argamassas para garan tir o bom desempenho das paredes; pelo 
contrário, a resistência da argamassa não eleve nunca ser superior à 
resistência dos blocos. Isso ocorre porque a argamassa exerce pouca 
influência na res istência à compressão da alvenaria, comportamento 
explicado pelo estado multiaxial de tensões ao qual a junta de 
argamassa está submetida. devido à restiição de deformações laterais 
que os blocos impõem à junta. A Figura 3 ilustra o efeito da resistência 
da argamassa na resistência da alvenaria, mostrando que uma 
diminuição de qu ase 90% na resistência à compressão da argamassa 
leva a uma redução inferior a 20% na resistê ncia final da parede, 
quando se considera o emprego de um único tipo de unidade de 
alvenaria. Além disso, é importante destacar-se que as argamassas de 
alta resistência' as quais geralmente possuem um teor elevado de 
cimento, atém de caras , possuem baixa capacidade de absorver 
deformação', outro requisito fundamental da junta de assentamento. 
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a: 
-.ri. 
100 
90 
80 
70 
60 
50 
40 
30 
20: 
1:0:3 1:1/4:3 1:1:6 1:2:9 1:3:12 
Traço da argamassa 
(clmanto:cal:arela -em voluma) 
• Reslsl Argamassa 
• Reslsl Alvenaria 
Figurn 3 ~ l1úluSncia da ~isténcia da argamMsa na resistência dn parede 
(BUILDING RESEARCH STATION, 1965). 
A capacidade de deformação está associada ao módulo de elasticidade da 
argamassa. A argamassa ele assentamento deve poder se deformar sem 
apresentar fissuras prejudiciais, ou seja , ela deve, quando sujeita a 
sofjcitações diversas , apenas apresentnr microfissuras. 
900 H. Carasdc 
2832 Argamassa de revestimento 
.Argamassa de revestimento é utilizada para revestir paredes, muros e tetos, os 
quais, geralmente, recebem acaba,nentos como pintura, revestimentos cerâmicos, 
laminados, etc. 
O revestimento de argamassa pode ser constituído por várias camadas com 
características e funções específicas, conforme cjefi.nido a seguir e ilustrado na 
R~ra~ ·. 
'ntura 
reboco 
(a) (b) 
Europa; 8 •.1~1 
Bfasil: 13 o'30 mm 
(e) 
Figura 4 - Düeren~es aJtcmativas de rcvesri.me,uo de parede: (a) emboço+ reboco+ pin1ur11 (sistema mais antigo, 
atunlmcntc pouco utilizado); (b) camada única+ pintura; (c) revestimento decorativo monocamoda (RDM). 
• Chapisco: camada de preparo da base, aplicada de forma contínua 
ou descontínua, com finalidade de uniformizar a superfície quanto à 
absorção e melhorar a aderência do revestimento. 
• Emboço: camada de revestimento execu tad a para cobrir e 
regularizar a base, propiciando uma superfíc ie que permita receber 
o utra camada, de reboco ou de revestime nto decorativo (por 
exemplo, cerâmica). 
• Reboco: camada de revestimento utilizada para cobrimen_to do 
emboço, propiciando uma superfície que permi ta receber o 
revestimento decorativo (por exemplo , pintura) ou que se constitua 
no acabamento fina l. 
• Camada única : revestimento de\· um único tipo de argamassa 
aplicado à base, sobre o qual é ap'Iicada uma camada decorativa, 
como, por exemplo, a pintura; também chamado popularmente de 
" massa úni_ca" ou " reboco paulista" é atualmente a alternati va mais 
. empregada no Brasil. 
• Revestimento decorativo m.onocamada (ou monocapa) - RDM: 
Trata-se de um revestimen~o aplicado em uma tínica camada, que 
faz. simultanemanete,a fu nção de regularização e decorativa, muito 
Argamassas 901 
utilizado na Europ a. A argamassa de RDM é um produto 
industrializado, ainda não normalizado no Brasil, com composição 
variável de acordo com o fabricante, contendo geralmente: cimento 
branco, cal hidratada, agregados de várias naturezas, pigmentos 
inorgânicos, fungicidas, além de vários aditivos (plastificante, 
retentor de água, incopor,ad·or de ar, etc.). 
As principais funções de um revestimento de argamassa de parede 
são: 
• proteg·er a alvenaria e a est::utura contra a ação do iotem.perismo, no 
caso dos revestimentos externos; 
• integrar o sistema de vedação dos edifícios, contribuindo com 
divêrsas funções, tais como: isolamento térmico (-30%), isolamento 
acústico (-50%) , estanqueidade à água (-70 a 100%) , segurança ao 
fogo e resistência ao desgaste e abalos supe rficiais ; 
• regularizar a superfície dos elementos de vedação e servir como base 
para acabamentos decorativos, contribuindo para a estética da 
edificaçãol. -
Visand o satisfazer às funções c itadas anteriormente, algumas 
propriedades tornam-se essenciais para essas argamassas, a saber: 
• trabalbabilidade, especialmente consistência, plasticidade e adesão 
inicial; 
• retração; 
• aderência; 
• permeabilidade à água; 
• resistência mecânica, principalmente a superficial; 
• capacidade de absorver deformações. 
A trabalhabilidade é a propriedade que garantirá não só condições de 
execução, como também o adequado desempenho do revestimento em 
serviço. Deve-se ajustar a trabalhabilidade da argamassa à sua forma de 
aplicação em obra. Assim, .relat_iyo à aplicação, a cons istência e a 
plasticidade da argamassa deverão S/;!r diferentes se a argamassa for 
aplicada por meio de colher de pedreiro (apl icação manual), ou se for 
projetada mecanicamente , e m equipamento onde a massa é bombeada 
através do mangote e projetada na pistola com aux íl io de ar comprimido. 
No segundo caso, as argamassas devem ter uma consistência mais fluida 
e, principalmente, uma alta p lasticidade, que permitirá o bombeamento 
(Figura 5). Além disso, se a argamassa não possuir a trabalhabilidade 
satisfatória e não garantir a sua correta aplicação, haverá prejuízo ao 
desempenho do revestimento, uma vez que várias propriedades da 
argamassa no estado endurecido serão afetadas pelas condições ele 
aplicação ( estado fresco), como é o caso da aderência . 
3 No caso específico da argamassa de revestimento decorativo monocamnda (ROM), que já se constirui no 
acabamento final, o a.specro decorativo roma.se csscnciaJ · 
902 H. Carasek 
(a) (b) 
Figura 5 - Aplicação da argamassa de revestimento: (a) m:1imal e (b) projetada mccan.icamenle. 
Oritra propriedade essencial, também. associada à _trabalhabilidade, é a 
adesão inicial , ou sej a, a capacidade de união da argam assa no es tado 
fresco ao substrato (parede , por exemplo). Ao ser lançada à parede, a 
argamassa deve se fi xar imediatamente à su perfície, sem escorrer ou 
desprender , permitindo manipulações que visam espalhá-la e acomodá-la 
corretamente, além ele garantir o contato efetivo entre os materiais (o que 
proporcionará a aderência após o seu endurecimento) . Ainda no estado 
fresco , após a aplicação da argamassa , será importan te controlar a retração 
plás tica, propriedade relacionada 11 fissuração do revestime nto. 
No estado endurecido , a propriedade funda mental é a aderência, sern a 
qual o revestime nto de argamassa não ate nderá a nenhuma de suas 
funções. A aderência é a propriedade que permi te ao revestimento de 
argamassa absorver tensões normais ou tangenciai s na superfície de 
interface com o subs trato. Essa propriedade é uma das poucas que possui 
critério de desempenho especificado em norma no B ras il, conforme 
apresentado no Quadro 3 . 
Quadro 3 - L imites de re!-istência de aderência ;\ tração (Ra) pnra revestimentos de argamassa de paredes 
(emboço e camada ún ica,', seguudo o NB R 13749 (ABNT, 1996). 
Local Acabamento Ra {MPa). 
Interna Pintura ou base para reboco > 020 
Cerâmica ou laminado > O 30 
Externa Pintura ou base para reboco >0,30 
Cerâmica >O 30 
Já a pe rmeabilidade à água é a propriedade que eslá relacionada com a-
função de estanque itlade da parede , muito importante quando se trata de 
Argamassas 903 
revestimentos de fachada. Esse atribulo é primordial quando o edifício 
está si_tuadu e1111 egião de alto índice de precipi tação pluviométrica, pois o 
revestimento tem como função proteger o edifíc io da infiltração de água. 
Caso contrário , a umidade infil trada pelas paredes causará problemas que 
compro.metem tanto a higiene e a satíde dos usuários, como a estética do 
edifício , alé m de estar associada às manifestações patológicas como 
eflorescências , descolamentos ,e manch as de bolor e mofo . Essa 
propriedade assume maior i.mpoi·çância no caso dos revestimentos de 
argamassa que não receberão mais ne nhum tipo de acabamento final, 
como a pintura ou o revestimento cerâmi co, caso do revestimento 
decorativo •. monocamada - RDM . No entanto, de nada adianta uma 
argamassa de baixa permeabilidade à água , se o revestimento estiver todo 
fissurado , permitindo a penetração da ágt1a pelas aberturas. Da mesma 
forma, ocorrerá e n.onne prejuízo à es tanqueidade caso o reves ti mento 
esteja descolado. 
O revestime nto de argamassa deve tam bém apresentar capacidade de 
absorver pequenas deformações, para se deformar sem ruptura ou por 
meio de microfissuras, de maneira a não comprometer a sua aderência, 
estanqueidade e durabilidade. Essa complexa propriedàde está associadà 
ao módulo de elas ticidade e à resistê ncia mecânica das argamassas e 
influe nciará tanto na fissuração como na aderência dos revestimentos. A 
resistência mecânica diz respeito à propriedade dos rev'estimcntos de 
possuírem um.,estado de consolidação interna capaz de suportar esforços 
mecânicos das mais diversas origens e que se traduzem , em geral, por 
tensões simultâneas ele tração, compressão e cisalhame nto. Esforços como 
o desgaste superficial , impactos ou movimentação higroscópica são 
exemplos de solicitações que exigem resis tê ncia mecânica dos 
revestimentos , pois geram tensões internas que te nde m a desagregá-los 
(SELMO, 1989). Um cios principais problem as nos revestime ntos, 
associ_ado à resis tênc ia mecânica da argamassa, é a baixa resis tência 
superficial, que se tradu'z na pulvernlência , prejudicando a fixação das 
camadas de acabamento, como a pintura ou , mais grave ainda, as peças 
cerâmicas. 
2833 Resumo das principais propriedades das argamassas associadas às 
suas funções 
Confo1me a fonção da argamassa na constrnção, os requisi tos podem vruiar, 
como mostrado no Quadro 4. 
904 H. Corasek 
Quadro 4 - Principais requisitos e propriedades das argamassas para as diferente, Funções. 
llpo da . 
/ 
Funi;ãq P.rincipais requisitos/ 
arciamassa·· : ... · · oroorledades 
ºUnir as unidade de alvenaria e ºTrabalhablllclade (conslslêncla, 
Argamaasa ajudá-las a resistir aos esforços plastlcldade e relençao de égua) 
de laterais - ºAdorêncla 
assentamen t ·Dfslrlbulr unlformemenle as cargas ·Capacidade de absorver 
o de aluanles na parede por toda a áre a deformações 
alvenaria reslslenle dos blocos · Reslslêncla mecanlca 
(elevação) • Absorver deformações naturais a 
que a alvenaria estiver sujeila 
·Selar as lunlas 
•Garantir aderência entre a base e o • Rugosidade 
Chapisco revestimento de (lrgamassa ºAderência 
•conlribulr com a eslanqueldade da 
vedar-"o 
· Proteger a alvenaria e a estrutura ºTrabalhabllidade (plaslicldade e 
contra a açao do lnlemperlsmo adesao Inicial) . 
Emboço e "lnlegrar o slslema de vedação dos ºBaixa r111ração 
camada edifícios contribuindo com diversas ºAdarênbla .. 
única funções (estanqueidade, ele.) · Baixa permeabilidada à água 
•Regularizara superflcle dos ·Capacidade de absorver 
e lemenlos de vedação e servir deformações 
como base pare acabamentos ·Reslslência mecânica 
decorativos 
Contraplso ·Regularizara superrlcie par, · Aderência 
receber acabamento· lnfsol. . · Resistência mecânica 
Argamassa •"Colar" a peça ceramica ao 
· Trabalhabilidade (plasticidade, 
relençâo de água, tempo em 
colante substralo aberlo, deslizamenlo ~··adesão 
(assenta monto • Absorver deformações nalurals a Inicial) 
de que o sislema de reveslimento • Aderência 
r.evestlmento cerâmico estiver sujeito • Capacidade de absprver 
certlmlco) deformações (flexlbllldade) -
nrlncloalmenle oara fachadas. 
ºVedar as junlas Trebelhabilidade (consistência, 
Argamassa ºPermitir a substituição das peçe, plasticidade e adesão Inicial) 
de cerâmicas Baixa retraçao 
rejuntam ente • Ajuslar os defeitos de alinhamenlo · Aderência 
(das juntas de ºAbsorver pequenas deformaçõe, · Capacidade de absorver 
assentamento do sistema deformações (flexibilidade) -
das peças prlnclpalmenle para fachadas 
certlmicasl 
'Trabalhabilidade 
Argamassa · Reconstituição geométrica de • Aderência ao concreto e 
de reparo de elementos estrutural~ em processo armadura originais 
'1Struturas dJ de recuperação ºBaixa refração 
concreto ·Resistência mecãnica 
ºBaixa permeabilidade e ebsorç~Ó 
de ánua ldurabilldadel 
28.4. Propriedades das argamassas e Jllétodos de ensaio associados 
\ 
Aprese1Jta-se, a seguir, uma discussão das principais propriedades das 
argamassas, tanto no estado fresco, como no endurecido. Neste momento, é 
importante enfatizar-se que as propiiedades das argamassas só podem ser 
avaliadas de forma completa se considerada a sua interação com o mateiial com 
o qual elas estarão em contato, pois as argamassas se comportam diferentemente 
quando aplicadas sobre distint9s materiais porosos (por exemplo, blocos 
Argamassas 905 
cerâmicos ou de concreto). No entanto, tendo em vista o objetivo deste capítulo, 
os aspectos relacionados às características e \Jropriedades dos substratos serão 
iibordados apenas superficialmente e quando extremamente necessátios para a 
discussão da propriedade. 
28.4_] Trabalhabiliclade e aspectos reológicos das argamassas 
Trabalhabilidade é propriedade das argamassas no estado fresco que determina 
a facilidade com que elas podem ser misturad11s, transportadas, aplicadas, 
consolidadas e acabadas, em uma condição homogênea. Como o nome sugere, 
trabalhal:>ilidade se refere à maneira como as argamassas se comportam ou 
"trabalhrun" na prática. Uma argamassa é chamada "trabalhável" quando permite 
que o pedreiro ou o aplicador execute bem o seu trabalho, ou seja, no caso de 
revestimento, por exemplo, que ele possa executar o serviço .com boa 
produtividade, garantindo que o revestimento fique adequadamente aderido à 
base e apresente o acabamento superficial especificado. 
A trabalhabilidáde é uma propriedade complexa, resultante da conjunção de 
diversas outras propriedades, tais como: consistência, plasticidade, retenção de 
água e de consistência, coesão, exsudação, densidade de massa e adesão inicial 
(Quadro 5). Para cada tipo ou função de argamassa, algumas destas propriedades 
podem ser mais importantes do que as outras, como é o caso da retenção de água 
para uma argamassa colante de assentamento de peças cerâmicas. 
Quadro 5 - Propriedades relacionadas com a trabalhabilidade das argamassas. 
Proorledadas Oeflnlcão 
Consistência 
É a maior ou menor facilidade da argamasse deformar-se sob ação de 
camas. 
Plastlcldade É e propriedade pela c(uàl a argamassa fende a conservar-se deformada anós a reHrada das tensões de deformadlo. 
Retenção de.água e É a capacidade de a argamasse fresca manter sua trebalhebllidada 
de conslstllncla ! ouando sulella a sollclter.llAs oue orovocam a oerde de éaua. 
Coesão 
Refere-se às forças flslcas de alraçllo exlslentes entre as partículas 
sólidas da eroamasse e as llaacões nulmJcas da oasla eclomerente. 
É a tendência de separação da égua (pasta) da argamassa, de modo que 
Exsudação 
a égua sobe ·e os agregados descem pelo efello da gravidade. 
Argamassas de conslslêncla fluida apmsenlam · maior tendência à 
exsudaeÃo. 
Densidade de massa Relacllo entre e massa e o volume de malerlal. 
Adesão Inicial União Inicial da aroamassa no estado fresco ao substrato. 
28.4.1.1 Consistência e plasticidade 
Geralmente, o único meio direto do qual o pedreiro dispõe para corriir.r a 
trabalhabilidade da argamassa em obra é alterar a quantidade de água de 
amassamento, uma vez que as proporções dos componentes são pré-fixadas. Esse 
ajuste, pela adição de mais ou menos água, em primeiro lugar, diz respeito à 
consistência ou fluidez da argama~sa, a qual pode ser classificada e!I). seca, 
90ó H. Carasek 
plástica ou fluida, dependendo da quanlidade de pasta aglomerante existente ao 
redor dos agregados (VALDEHITA .ROSELL0,1976), como detalhado no 
Quadro 6. 
e 
o 
Ili 
s 
1 
s 
T 
~ 
N 
e 
A 
Arg.:massa 
Seca 
Argamassa 
Plástica• 
A.-gamassa 
Fluida 
Qundro 6 - Consistência das nrgnmassns. 
A pasta aglomerante somente 
preenche os vazios entre os 
agregados, deixando-os ainda e m 
contato. Existe o atrito entre as 
partlculas que resulta em uma 
massa "spara. 
Uma fina camada· 'de- - ·p!ls ta 
aglomerante •molha" a suporflcle 
dos agregados, dando uma boa 
adesão entre eles com uma 
estruture pseudo-sólida. 
As partlculas de agregado egtão 
Imersas no lnlerior da pasta 
aglome1ante, s·em coesão lnlema e 
com tendência de depositar-se por 
gravidade (segregação). Os grãos 
de areia não oferecem nenhuma 
resistência ao deslizamento, ·mas a 
argamassa é llio llquida que se 
espalha sobre a .:,ase, sem permitir 
a execução adequada do trabalho. 
• Obs.: O termo consistência plástica pode gerar alguma corúrn:ão entre os conceitos dns propriedades coosist!nci:l 
e plasticidade. Poder-se-ia, enll'lo. propor o tcnno consistência adequada para substituir consis1énci.:i plásúc:i. No 
cnlanto, isso não é feito, pois nem sempre a consistência adequada parn uma nrgnmassa é n plástica, como é o caso 
das urgarnnssns de coutrapiso que s!io el.1born<ln~ Cúm uma consistência seca, pnrn permitir a su:1 conipactação. 
Quando ajusta a argamassa parn a sua consistência preferida, o pedreiro pode 
fazer um novo julgamento , expressando isso em palavras como "áspera", "pobre" 
ou "magra" (para as caractc1isticas negativas) e "plástica" ou "macia"-(para as 
características positivas). Nesse momento ele está falando de plasticidade. Essa 
propriedade é influenciada pelos tipos e pelas quantidades de aglomerantes e 
agregados, pelo tempo e pela intensidade de mistura, além de pela presença de 
aditivos (principalmente do aditivo incorporador de ar). O Quadro 7 associa o 
conteúdo de finos da argamassa com a sua plasticidade. 
Argamn.i;sa.r 907 
Quadro 7 - lnflu8ncia do teor de finos (parUculas < 0,075 mm) dn·mistura seca 11n plasticidade das argamassas 
(LUHERTA VAROAS; MONTEVERDB COMBA, 1984 npud CINCOTIO. SILVA. CARASEK, 1995). 
% minlm:i de finos dàá.raomassa 
P la&tlcldado Sem adlllvo olostlllcante Com adlllvo plastificante 
Pobre lásnera maaral < 15 < 10 
Média /olásUca\ 16a26 10a 20 
Rica lnordal > 25 > 20 
A plasticidade adeq uada p ara cada:-.mistura, de acordo com a finahdade 
e forma de aplicação ela arga massa, demanda uma quantidade ó tima de 
água, a qual.significa uma consistência ó tima que , por sua vez é função do 
proporcio name nto e natureza dos mate1:iais. Assim, consistência e 
plasticidade são os. principais fatores condicionantes da prnpriedadc 
"trabalhabilidade" e, por isso , algumas vezes elas são confun didas corno 
sinônimos da trabalhabilidade. 
A trabalhabilidade é alterada quando a argamassa entra em contato com 
o substrato. A qual idade e quantid ade da alteração dependem das 
caracterís ticas da base , cais como: sucção de água, textura superficial e 
características de mo vimentação de água no seu interior, além das 
condições ambientais que vão interferir na evapornção. Essas a lterações 
pode m ser avaliadas indire tamente por me io de cará,cterísticas e 
propriedades como a adesão inicial , a rete nção de água e de consistência, 
a exsudação e ,a coes·ão da argamassa (que são d iscutidas nas p róximas 
alíneas). 
Do po nto de vista do comportamento reológico4 élas argamassas, a 
consistência, que diz respeito à sua maior ou menor fl uidez, está associada 
à capacidade da misttira em resis tir aó escoamento . Portanto, argamassas 
de consis tê ncias mais fluidas representam misturas com meno res valores 
de te nsão de escoamento, sendo verdadeira a recíproca (seja q ual for o 
modelo reológi::o considi;rado para a argamassa em ciuestão). Ainda em 
termos reológicos , a plasticidade está relacionada com a viscosidade da 
argamassa. 
Avaliar, quantifi éar ··e prescrever valores de lrabalhabil idade das 
argamassas por. meio de ensaios não é uma tarefa fácil. uma vez que ela 
depende não some nte das características intrínsecas da mis tura (que por si 
só já são complexas), mas também de várias propriedades do substrato, da 
habilidade do pedreiro que está executai1do o serviço e da técnica de 
aplicação. 
Apesar dessas dificuldades , são vários e consagrados os métodos 
empregados para a medida da consistência, dando; assim, parâmetros para 
a avali ação indire ta cln trabalhnbilidacle e possibilitando princ ip a lmente 
um controle da argamassa no estado fresco. Segundo a RrLEM ( 1982) , 
conceitualmente, os testes que empregam a penetração ele um corpo no 
interior da argamassa avaliam basicame nte a sua consis tê ncia, ou seja, são 
4 Rcologia (rheos = fluir; logos= estudo): é a ci!nci:1 que estuda o fluxo e a defonnaç:io dos materiais, nvaliando as 
relações entre a 1ens3o de cisall1an1e1110 aplicad:1 e a dcfo,mnção em detem1i11ado J>eríodo de lcmpo 
908 H . Carusek 
ensaios que medem principalmente a tensão de escoamento, caso do 
método de penetração do cone (Figura 6), normalizado nos Estados 
Unidos pela ASTM C 780 (ASTM, 2009), ou do ensaio denominado 
dropping bali, prescrito-pela norma inglesa BS 4551 (BSI, 1998). Já os 
métodos que impõem à argamassa uma deformação por meio de vibração 
ou choque medem ao mesmo tempo a consistência e a plasticidade, como 
no caso do ensaio denominado, no Brasil, de avaliação do índice ' de 
cons is tência pelo espa lhamento do tronco de cone na mesa A.BNT 
(também conhecido com o flow table), prescrito pela NBR 7215 (ABNT, 
1997). 
O método do cone, e despeito de todas as suas 
limitações em avaliar/ reologla e trab,ilhabilldade, é 
um instrumento Interessante de controle da 
produção de argamassas. Sua capacidade em se 
mostrar sensível às variações no teor de água das 
argamassas, o que o toma apto a detectar 
alterações de consistência de forma multo mais 
eficiente do que o m~todo da mesa ABNT (llow 
table), e, sobretudo, o tato de ele possuir uma 
aparelhagem simples e factível de ser empregada 
em ob;a, o credenciam como uma ferramenta eficaz 
de controle ln sltu. Esse métÓdo vem sendo 
empregado .há mais de uma década, nas pesquisas 
em laboratório e obra, pelo grupo de pesquisadores 
do NUTEA - Núcleo de Tecnologia da3 Argamassas 
e Revestimentos da Unlversidàde Federal de Goiás. 
Figura 6 - Avaliação em obra da consistência de arga111ass11s pelo niérodo do cone. 
A Figura 7 apresenta correlações encontradas entre a consistê'n~ia pela 
penetração do cone e a relação água/materiais secos para um tipo de 
argamassa industrializada de múltiplo uso, mos trando a sua sensibilidade 
a diferentes consistê ncias da argamassa. Cada ponto no gráfico representa 
a média de três determinações e os diferentes valores para uma mesma 
relação água/ materiais secos foram obtidos com tempos de m.istura 
diferentes da massa no misturador (1,5 m in, 2,5 mine 3,5 min). 
Cabe salientar-se, no e ntanto, que esses métodos discutidos não avaliam 
ou servem para defi nir comp letamente a traballiabilidade . Ou seja, podem-
se ter duas argamassas com resultados· iguais de consis tência, seja pela 
penetração do cone, seja peloflow table: uma pode ser muito boa do ponto 
de vista da trabalhabilidade, e a outra chegar ao ponto de não ser 
aplicável. Isso conduz à çonclusão de que uma abo.rdagem mais completa 
acerca da questão da ·trabalhabilidade não prescinde de estudos mais 
aprofundados do ponto de vista reológ ico .s 
5 Um deJalharnento deste assunto enfocando argamassas pode ser oblido, clenlle outras, nas seguin1es referencias: 
Cardoso, Pileggi e John (2005), Souza (2005) e Qaucr (2005). 
80 -,--------------------~ 
°E 7 0 +---- --------- - __ ..,.7~~~-----1 
.S 60 ··l-- --------"?".qt6<!>.,c.._------j ., 
e 8 50 -l--- ------;;;,J,;.~.-,,:.c..,,..,c.. _____ ___ ---1 
· Argamassas 
+1,5 
mln. 
•2,5 min 
A. 3 ,5 
909 
.g 40 +------:;,,:-':"----::..-"'...,~'--------------l 
o 
·~ 30 +------...-1Õ.---"----------------l .. 
~ 20 +-----.e;_- ------ - ----- ------1 
y = 645x - 52.9 
R'=0.9826 
e ~-
&.10 +------------ -------------1 y=780x-81.1 
R' =0.9966 o +-----,-----,------.-----,-------1 
0.12 0.14 0.16 0.18 
Relação água/materiais secos 
0.2 0.22 y = 835x- 97.2 
R' =0.9679 
Figura 7 - Correlações encontradas entre a consistência pcJa penetração do cone e a relação água/materiais secos 
para umn argamassa industtinfu._ada. (CASCUDO; CARASEK. CARVALHO, 2005). 
Uma proposta mais recente e mais completa que surge no campo de avaliação 
da trabalhabilidade das argamassas é o método do Squeeze-Flow (Figura 8). Este 
método baseia-se na medida do esforço necessário para a compressão uoiax.ial de 
uma amostra cilíndrica do material entre duas placas paralelas, sendo tal esforço 
emprendido normalmente por uma máquina urúversal de ensaios. O ensaio 
permite a vaiiação da taxa de cisalhamento e também da magnitude das 
deformações, sendo, portanto, capaz de detectar pequenas alterações nas 
características reológicas dos materiais e, ao contrário dos ensaios tradicionais, 
fornece não apenas um valor medido, mas um perfil do comportamento reológico 
de acordo com as solicitações impostas (CARDOSO, PILEGGI, JOHN, 2005). O 
método tem como vantagem possibilitar a simulação de diversas situações reais 
de aplicação das argamassas, idendificando com clareza os parâmetros reológicos 
(tensão de escoamento e viscosidade). Np entanto, como limitação, tem-se a 
necessidade de um equipamento relativamente caro, além de se restringir ao uso 
em laboratório. 
O Squeeze-Flow se apresenla como uma 
ferramenta de grande potencial para a 
pes quisa e o d es envolvimento das 
argamassas. Esle método foi proposlo para 
uso em argamassas pelo g rupo de 
pesquisadores que aluam em técnicas de 
caracterização reológica do CPq0CC da 
Escola Politécnica da USP, no êmblto do 
CONSITRA - Consórcio Setorial para Inovação 
Tecnológica em Revestimento de Argamassa. 
Atualmente foi normatizado pela NBR 15839 
(ABNT, 2010). 
Figura 8 - Realização do ensaio Squccze-Flow (CONSffRA, 2005). 
910 H. Carosek 
Outros métodos de teste que se propõem a avaliar a trabalhabilidade das 
argamassas de uma fmma mais ampla são os testes de Vane e o Gtec. O teste de 
Vane, empregado originalmente em mecânica dos solos, vem sendo usado pelo 
gnipo de pesquisa em argamassas do LEM (Laboratório de Ensaio de Materiais) 
da UnB (BAUER, 2005). Especificamente para as argamassas de assentamento 
de alvenaria estrutural em blocos de concreto, o Gtec (Gmpo de Tecnologia de 
Matedais e Componentes à base de Cimento Portland), da UFSC, desenvolveu 
um equipamento que pennite a avaliação e quantificação separadamente ,da 
consistência, da plasticidade e da coesão elas argamassas (PRUDÊNCIO JR., 
OLIVEIRA, BEDIN, 2002). O Quadro 8 apresenta um resumo de alguns desses 
métodos citados iml:eriormente. 
Quadro 8 - M6todos empregados pnra nvnliar a consistência e a plnsticidOOe de argamassas. 
Método Norma 
Mesa de N0R 7215 
consistência NBR 13276 
(f/ow table) 
Penetração do cone ASTM 
c 100 
Vane teste 
Gtec teste 
BS 1377 e 
ASTMO 
4640 
(solos) 
• Cl-'Ss.ificndos de acordo com B:mer (2005). 
. ..... ·-
Esquema Propriedade 
avaliada 
Consistência e 
plasticidade 
Consistência 
Consistência 
éonsistência,plasticidade e 
coesão 
arametro 
reológico que 
controla o 
fenõmeno· 
Viscosidade' 
Tensão de 
escoamento* 
Tensão de 
escoamento' 
Tensão de 
escoarTlenlo e 
viscosidade 
Argamassas 911 
28.4.1.2 Retenção de água 
Retenção de água é uma propriedade que está a~_sociada à capacidade da 
argamassa fresca manter a sua trabalhabilidade qüando sujeita a solicitações 
que provocam perda de água de amassamento, seja por evaporação seja pela 
absorção de água da base. Assim, essa propriedade torna-se mais 
importantes quando a argamassa é aplicada sobre substratos ·com: alta 
sucção de água ou as condições climáticas estão mais desfavoráveis (alta 
temperatura, baixa umidade relativá._e ventos fortes) . 
Esta propriedade além de interferir no comportamento da argamassa no 
estado fresco (como no processo de acabamento e na retração plástica), 
também a.feta as propriedades da argamassa e ndurecida. Após o 
endurecimento, as argamassas dependem, em grande parte, de utna 
adequada retenção de água, para que as reações químicas de endurecimento 
dos aglomerantes , se efetuem de maneira apropriada. Dentre estas 
propriedades podem ser citadas a aderência, a resistência mecânica final e 
a durabilidade do material aplicado. 
A retenção de água pode ser avaliada pelo método NBR 13277 (ABNT, 
2005), que consiste na medida ela massa de água retida pela argamassa após 
a sucção realizada por meio de uma bomba de ·vácuo a baixa pressão, em 
um funil de filtragem (funil de Büclrner modificado), como ilustrado na 
Figura 9. A retenção de água é alterada em função da éomposição da 
argamassa. A Figura 10 ilustra, de forma quaJitativa, o aumento da retenção 
de água para diferentes argamassas. 
Figura 9 - Ensaio de relençilo de 
consisl.Encin pelo m~todo ABNT NBR 
13277:2005. 
Aumento 
· da 
retenção 
de água 
Argamassas mistas de 
· cimento e cal 
Argamassas com aditivo 
incorporador de ar 
Argamassas de cimento 
Figura 10 ~ Variação dn retenção do águ11 
pam diferentes argnmossns. 
912 · H. Carasek 
28.4.1.3 D.ensidade de massa 
Quanto mais leve for a argamassa, mais trabalhável será a longo prazo, 
o que reduz o esforço do operário na sua aplicação, resultando em um 
aumento. de produtividade ao final dn jornada de trabalho. 
A densidade de massa das argamassas, também denominada de mí}ssa . 
esp.ecífica, .v~ria com o teor de ar (princiJ?almente quando incorporado J?Or 
meio de aditivos) e com a massa específica dos maLeriais constituintes da 
argamassa, prioritariamente do agregado. O Quadro 9 apresenta uma 
classificação elas argamassas quanto à densidade. A densidade de massa das 
argamassas no estado fresco é determinada pelo método da NBR 13278 
(ABNT, 2005) e representa a 1:elação entre a massa e o volume do material 
sendo expressa em g/cm>, com duas casas decimais. . ' 
Quadro 9 - Classificação das argamossas quanto à dcnsidudc de massa no cs1ad~ fresco 
Argamassa Densidade de massa Principais agregados Usos/observações 
A (g/cm'I empregados 
Leve < 1,40 Vermlcullts,. per111B, Isolamento térmico e 
arolla exoandida · acústico 
Normal 2,30;: A;: 1,40 Areia de rio (quartzo) Aplicações 
e calcárlo britado convencionais 
Pesada >2,30 Barlta (sulfato de Blindagem de 
bárlol / radiacão 
Diretamente associado à densidade de massa das argamassas com 
agi:egados de massa específica normal, está o t~or de ar, como mostrado na 
Figura 10. O teor de ar das argamassas pode ser determinado tanto pelo 
método gravimétrico (empregando a ·mesma norma NBR 13278), como 
· pelo métod.o pressométrico, empregando normas internacionais específicas 
para argamassas, como a ASTM C 780 (ASTM, 2009) , ou aindaYazendo 
uma adaptação do método para concreto da NBR NM '47 (ABNT, 2002). 
Cabe. ainda destacar-se que a massa específica da argamassa endurecida 
é um pouco menor do que o valor no estado fresco, devido à saída de parte 
da água. Os corpos-de-prova cilíndricos de argamassa endurecida, seca ao 
ar e seca em estufa, reduzem cerca de 7% (3% a 11 %) e 9% (5% a 14%), 
respectivamente, em relação ao valor 'iricial, no estado fresco . .É observada 
uma relação direta entre o teor de á'gua da argamassa e a redução da 
densidade de massa com a secagem. 
Argamn.uas 913 
2500 ..--------------------,--------, 
1000+---------------------------i 
500 ~-------------------------! 
y = -20,414x + 2072,5 
R 2 =0,9353 
o~--~--~------~--~--~------1 
o 5 10 15 20 25 30 35 40 
Teor de ar(%) 
Figura 10 - Relação entre densidade de massn e teor de ar das argamassas no estado fresco. 
28.4.1.4 Adesão inicial 
A adesão inicial, também denominada de "pegajosidade", é a capacidade de 
união inicial da argamassa no estado fresco a uma base. Ela está diretamente 
relacionada com as características reológicas da pasta aglomerante, especificamente 
a sua tensão superficial. A redução da tensão superficial da pasta favorece a 
"molhagem" do substrato, reduzinuo o ângulo de contato entre as superfícies e 
implementando a adesão. Esse fenômeno propicia um maior contato físico da pasta 
com os grãos de agregado e também com a base, melhorando, assim, a adesão. 
A tensão superfiéial da pãsta orr argamassa pode ser modificada pela alteração de 
sua composição, sendo ela função inversa-.do teor de cimento. A adição de cal à 
argamassa de cimento também diminui a sua tensão superficial, contribuindo par~ 
molhar de maneira mais efetiva a·superfície dos agregados e do substrato. Efeitos 
semelhantes propiciam também os aditivos incorporadores de ar e retentores de 
água, como pode ser visto no quadro 10. 
Quadro 10 - Tensão supcrfic[al medida para difcrcnlcs soluções, sendo as medidas realizadas a uma tcmpcralllra ele 
22"C em um tensiõmetro de Nouy. (CARAS&, 1996). 
Solucões Tenslio superficial (ilíliá/cm) 
Acua destilada 711 
Aoua destilada + cal 66 9 
Áaua deslilada + cimento 66 7 
Água destilada + cal + cimento 42,2 
Áaua + aditivo incomorador de ar 39 5 
914 H . Carasek 
No Brasil não existem métodos normalizados -para avttliar a adesão 
inicial. Um método expedilo e qualitativo é proposto pela RILEM - MR-5 
(RILEM,1982), para avaliar a adesividade da argamassa de assentamento 
de alvenaria. Esse método é interessante por levar em conta o tipo de 
componente de alvenaria sobre o qual a argamassa será aplicada. 
28.4.2 Retração 
A retração é resultado de um mecanismo complexo, associado com a 
variação de volume da pasta aglomerante e apresenta papel fundamental no 
desempenho das argamassas aplicadas, espec.ialmente quanto à 
estanqueidade e à durabilidade. 
A pasta, sobretudo se possui alta re lação água/aglomerante, retrai ao 
perder a água em excesso de sua composição .. Parte dessa retração é 
conseqüência das reações qu í,,nicas de hidratação do cimento, mas a 
parcela piincipal é devida à secagem. A retração inicia no estado fresco e 
prossegue após o endurecimento do material. Quando se mis tura areia à 
pasta, ou seja , se prepara uma argamassa, a areia atua como esqueleto 
sólido que evita parte elas variações volumétricas por secagem e o risco da 
fissuração subseqüente (VALDEHITA ROSELLO,1976). 
Se a secagem é lenta, a argamassa tem tempo suficiente para atingir uma 
resistência à tração necessária para suportar as tensões internas que 
surgem. Mas quando o c lima está quente, seco e com ventos fortes, 
acelerando a evaporação , a perda ele água gera fissuras de retração. Efei to 
semelhante é observado quando a argamassa é aplicada sobre uma base 
muito absorvente. No caso de revestimentos, as fissuras de retração da 
argamassa são mapeadas (aproximadamente poliédricas), formando 
ângulos próximos de 90 graus e ntre elas. Sabe-se que, quando duas fissuras 
formàm ângulo muito agudo entre si, pelo menos uma delas não é de 
retração (JOISEL, 1981) . Também no caso de revestimentos, quanto maior 
a espessura, maior a retração esperada. 
Quando retrai, a argamassa da junta de assentamento de alvenaria pode 
che·gar a desprender-se da superfície com a qual tenha a menor aderência 
(geralmentea interface da junta com o bloco superior, conforme j á 
discutido no item 28.3 .1), diminuindo a resistência da parede e 
constituindo-se em um caminho para a entrada da água da chuva. 
A tensão de tração na argamassa oriunda da retração é função direta cio 
seu módulo de elasticidade, de sorte que argamassas muito ricas em 
cimento sofrem notável influência da 1'etração, estando mais sujeitas às 
tensões de tração que causarão fissuras. 
Ainda com relação aos materiais, a granulometria da areia determina o 
volume de vazios a ser preenchido pela pasta aglomerante. Quanto mais 
elevado for esse volume, maior o teor de pasta necessário, elevando-se o 
potencial de retração da argamassa. A Figura 11 ilustra a classificação das 
/\J-gmnnssns 91S 
areias quanto à distribuição granulométrica, ·associando-as com o volume 
de vazios. O Quadro 11 apresenta resultados experimentais de medida ele 
retração de argamassas preparadas com diferentes areias . 
Continua 
· Vv1 
Descontínua --·e@ ~º··-
Uniforme 
Volume de vazios: Vv1 < V v2 < Vva ReLraçãoi contínua < descontinua< unifqrme 
Figuro l 1 - Classificação dn~ nrcias qunnto à di.slribuição granulométricn e sun infiuêncio na retraçüo pln.stica. 
Quadro l l - Influencia da areia no rei.ração da argan1assR 
(RI\GSDALE, RI\YNI-IAM, 1972 npucl CINCOITO, SLLVA , CARASEK, 1995). 
TIDO de areia Retração (¾} 
Areia normalizada ·1es 1200)- Média com dislribuicão continua 0,04 
· Fina com dislribuicão continua ; 0,07 
Grossa com dislribuicão descontínua O 08 
, Fina com distribuição descontinua 0,11 
A retração plásti~a' é influenciada também pelo teor ele matena1s 
pulverulentos (grãos· com · tamanho inferior a· 0,075 mm). De uma forma 
geral, quanto maior o teor de finos, maior a retração, principalmente quando 
os grãos possuem dimensões inferiores a 5µm, chamados de argila. Esses 
finos, .de alto poder plast1ficante, devido à sua alta supeiffcie específica e à 
sua natureza, para urrÍa trabalhabilidade adequada, requerem maior 
quantidade de água de amassamento, gerando maior retração e fissuração, o 
que compromete Íl durabilidade dos revestimentos. Além disso, por 
exigirem mais água, podem inteiierir no endurecimento da argamassa e 
levar a uma redução da resistência mecânica do revestimento, devido à alta 
relação água/aglomerante. Exceção ocorre quando os fi nos são de origem 
da britagem de calcário, que levam a uma ·redução de água, o que resulta em 
uma menor reu·ação pela secagem da argamassa (Figura 12) . 
916 H. Carauk 
1,8 r.:====::-----------------, 
--SABRO Retração após 12 semanas 
--MCAXB10 
1.6 -.-GRANULJl'O 1------~---~-----l 
-+-CAI.CARO 
1,MI 1,011 Argamassa / teor E(%) 
de finos 
Referência 0,094 
Calcário / 40% 0,091 
Granullto / 40% O 132 
Mlc:axisto / 40% 0,123 
1,080 Saibro/ 34% 0,182 
20 24 30 JS 
Teor de fll\os (9/•) 
(a) (b) 
Figura 12 · (a) Gráfico mosmrndo a relação água/cimcmo necessária para cibtençüo de uma Consislência-plásdcn e 
trabalhável para argamassas de revestimento preparadas com finos de diferentes narurczas: argila • saibro; silicosos 
- micujsro e granulilo; e calcário, com um trnço de referência 1: J :6 (cimcnro:cal:arcia, cm volume, fazendo as 
substiJuições de parte da areia pelos finos. (b) Valores de rcJração após 12 semanas de secagem, para as argamassas 
com 1corcs máximos de finos. (ANGELIM, ANGELIM, CA!lf\SEK, 2003) 
Também o teor áe água das argamassas-influéncia na retração, uma vez 
que ao se aumentar a quantidade de água o volµme proporcional de 
agregado será reduzido e, conseqüentemente, o de pasta aumentado, 
crescendo o risco de fissuração6. 
O Quadro 12 apresenta dados de Fiorito (1994), com medida da retração 
livre em barras prismáticas, tanto para uma pasta como para uma argamassa. · 
Nesse quadro pode-se observar que a retração das argamassas é menos da 
metade da medida na pasta e, principalmente, que a retração aos sete dias, 
por secagem ao ar, já é da ordem de 60% a 80% do seu valor aos 28 dias. 
Daí vem a recomendação nos procedimentos para a execução de 
revestimentos em argamassa, quando estes servirão de base para ··outras 
camadas de argamassa ou revestimentos colados (por exemplo, emboço ou 
contrapiso que receberá revestimento cerâmico aplicado com argamassa 
colante), de se aguardarem no rrúnimo 7 dias para a execução das camadas 
ou serviços subseqüentes, sendo mais prudente aguardar ao menos 14 dias 
quando 11 maior parcela de retração já ocorreu. Com isso, garante-se a 
estabilidade dimensional das camadas ·çle argamassa utilizadas como base. 
Tal es tabilidade é necessária para evitarem-se tensões de retração. 
/ 6 Alguns aspectos da fissuração por rclração são complementados no 1cx10 que consJa do CD, sobre pa1ologia dos 
/ revesnmcntos. 
Argamassas 917 
Quadro 12 - RcJraçffo de algumas argamassas e uma pas1a, aos 7 e 28 dias (adaplado de FJORITO, 1994). 
Material Relação Retração aos 28 Reiração aos 7 dias 
a/agi. dias (º/oo) %, º/4 SOS 28 di!IS 
Argamassa l 1:0:3 047 0,607 O 396 65% 
clmento:cal:erela 11 :0:5 O 64 O 649 0379 58¾ 
(volume) l 1:3:12 0,88 0,642 0,489 76% 
Pasta de cimento O 30 1 416 1 018 72¾ 
No Brasil o ensaio utilizado para a avaliação da retração é o preconizado pela 
NBR 8490. (ABNT, 1984), em que se empregam corpos-de-prova prismáticos de 
25 mm x 25 mm x 285 mm, sendo medida a retração livre da argamassa. Em nível 
de pesq1:1isa, destaca-se o trabalho de Bastos (2001), que empregou um método 
do Jnstitut National des Sciences Appliquées (JNSA), em Toulouse, onde as 
condições de ensaio se aproxim_am mais das condições reais de um revestimento, 
com corpos-de-prova em forma de placa, considerando-se o efeito da sucção e da 
restrição produzida pelo substrato. 
28.43 Aderência 
O termo aderência é usado para descrever a resistência e a extensão do contato 
entre a argamassa e uma base. A base, ou subslTato, geralmente é representada não 
só pela alvenaria, a qual pode ser de lijolo.,s ou blocos cerâmicos, blocos de 
concreto blocos de concreto celular autoclavado, blocos sllico-calcários, etc., 
como t~1bém pela estrutura de concreto moldado i11 loco. Assim, não se pode 
falar em aderência de uma argamassa sem especificar em que material ela está 
aplicada, pois a aderência é uma propriedade que depende da interação dos dpis 
materiais. 
Didaticamente , pode-se dizer que a aderência deriva da conjunção de três 
propriedades da interface argamassa-substrato: 
• a resistência de aderência à tração; 
• a resistência de aderência ·ào ·cisalhamento; 
• a extensão de aderência (área de contato efetivo / área total possível 
de ser unida). 
.28.4.3.1 Mecanismo da ligação argamassa-substrnto 
A aderência da argamassa endurecida ao substrato é um fenômeno 
essencialmente mecânico, devido, basicamente, à penetração da pasta 
aglomerante ou da própria argamassa nos poros ou entre as rngosidades da base 
de aplicação?. . 
Quando a argamassa no estado plástico entra em contato com a superfície 
absorvente do substrato, parte da água de amassamento, que contém em 
dissolução ou estado coloidal os componentes do aglomerante, penetra pelos 
poros e pelas cavidades do substrato. No interior dos poros, ocorrem fenômei:i,os 
de precipitação dos produtos de hidratação do cimento e da cal, e, transcomdo 
algum tempo, esses precipitados intracapilares exercem ação de ancoragem da 
7 Oulnl parcela menos significativa que contribui para a edcrfncia das argamassas aos subscratos. são as lig:içõcs 
secundárias, do tipo von der l-\,ba/s).Assim, seja pela penetrução <la pasta e da própria argamassa (fcnõmenos de nível 
micro e macroscópico), seja pelas ro..,,s secundárias (fenômeno cm nlvel de ligação atõmica), quanto melhor for o 
918 H. Carasek 
argamassa à base. Estudos micro·estruturais de Carasek (1996), empregando 
microscópio eletrônico de van edura, confumou que a aderência decorre do 
intertravamento principalmente de etringita (um dos produtos de hidratação do 
cimento) no interior dos poros do substrato. Esse aumento localda concentração 
de etr.ingita·surge quando, ao se misturar o cimento Portland com água, a gipsita 
empregada como reguladorn de pega do cimento clissolve-se e libera íons sulfato 
e cálcio. Esses íons são os prime iros a entrar em solução, seguidos dos íons 
aluminato e cálcio provenientes da dissolução elo C3A do cimento. Devido aó 
efeito de sucção causado pfi la base•:, orosa, tais íons em solução são transportados 
para regiões ma:is internas do substrato formando no interior dos poros o 
lrissulfoaluminato de cálcio hidratado, (etringita). Em viltude do p rocesso mais 
rápido de clissolução dos íons so2-. ,AI0-4 , Ca2+ e de precipitação da etringita, 
esse produto preenche prioritruiamente os poros capilares, o que explica sua 
maior abundância na zona de contato argamassa/substrato e em poros superficiais 
da base (Figura 13). Com menos espaço para a precipitação, outros produtos de 
hidratação do cimento, como o C-S-H, por exemplo, ou mesmo produtos 
posteriores da carbonatação da cal como a calcita, aparecem ern menor 
quantidade na região de interface. 
(a) 
Figura 13 - (a) Superfície de um bloco cerfuuico após n scparnçffo (descolwnento) da cnmado de argamasso de 
revl"-Stimenlo, vista em uma lupa esre,coscópicn (observe-se a pasta ;iglomerante remanescenle sobre o bloco). (b) 
Jm::igem no microscópio clctrõnico , lc v.1CTcdura. oblidu 1>eln ampliação (17 .000 x) de um po1110 da supetffcie _do 
b)('ICO co11te11do pas1a aglontemute, em que se pode ver n ctri.ngitn, principol responsável pelo i111ertravame1110 dn 
argamassa ao bloco (SCARTP.ZINl, 2002) . 
Tendo em vista os mecanismos de ligação , pode-se concluir que quanto melhor 
for o contato entre a ru·gamassa e o substrato maior será a aderência obtida8• Dessa 
fo1ma, a aderência está diretamente relacionada com a traba.lhabilidade (ou 
reologia) da argamassa, com a energia de impacto (processo de execução), além 
das cru·acterísticas e propriedades dos substratos e ele fatores externos. A Figw·a 
14 reúne os principais fatores que exercem influência na aderência. 
8 Amunes (2005) encontrou uma rcloção invcrsamenlc proporcional entre a resis1e.ncia de aderência e a ta1a de 
macrodefeitos na interface. O co11ccito de 1:ucn ele macroclcfcitos nn inlcrface nada majs ~ do que o iJ1verso da extensão 
de aderência. 
CONDIÇÕES 
CLIMÁTICAS 
temperatura, 
URevenlo 
Argamassas 
reologia, adesã o inic ia l, 
ret!!nção de água, ele_ 
SUBSl'RATO 
Sucção de água, 
rugosidade, 
porosidade, etc. 
energia de impaclo (aplicação manual / projeção mecanizada; 
ergonomia), limpeza e preparo da base, cura. etc. 
F.igurn 14 • Fntorcs que exe~m influencia nn nc.lcrência de argamassM sobre b::to;es poro.c;as. 
919 
Percebe-se que os matenrus constituintes das argamassas, tanto a natureza 
como as proporções, exercem grande influência na âderência. Assim, na subseção 
a seguir, será discutida resumidamente a influência, nessa propriedade, do 
cimento, da cal; da a.reia e de suas proporções na nrgamassa9. Também 
relacionados aos materiais, as caractelisticas do substrato (porosidade , absorção 
de água e rugo~idade) ·e o seu preparo (limpeza e n·atamentos superficiais, como 
o chapisco) influenciru·ão grandemente essa propriedade. Pqr outro lado, aspectos 
como a mão-de-obra, as técnicas de execução e as condições climáticas durante 
a aplicação podem ser farnbém ded si vos 110 desempenho da aden'.lncia. Apesar de 
muito imp01tantes, esses últimos aspectos citadós não serão discutidos neste 
capítulo, por se desviru·em do escopo propostoJO. 
28.4.3 .2. Influência dos materiais constituintes das argamassas 
O tipo e as carac;terísticás físicas do cimento podem influenciar os valores de 
aderência. Um dos p_ru-ârnetros mais significativos na resistência é a fumra do 
cimento: quanto mais fino o cimento, maior a resistência de aderência obtida, 
tanto a resistência final (em idades superiores a 6 meses) quanto, principalmente , 
as illiciais·(3 a 14 dias). Assim, maiores valores de resistência de aderência são 
obtidos quando se emprega o CP V -ARl (alta resistência inicial) em comparação· 
co,m os demais cimentos PortJand. No entanto, cuidado especial eleve ser tomado 
com o uso dessa informação, pois , justamente em virtude de sua maior fi.nw-a, 
cimentos de alta resistência itlicial podem levar à retração c fissuração do 
revestimento de modo mais fácil do que com outros c imentos, considerando-se o 
mesmo consumo. 
9 Uma nbordagem mais co01plc1a sobre a. influên·cin desses e de outros mmerinis constituintes da argamassa 
(incluindo aditivos e adições), bem como ela iníluêncin e.lo sul>slrnlo, pode ser vjs1:1 em Carasek. Cascudo e Sc.1rtczini 
(2001). 
IOA esse respeito pode-se sugerir a leilura de algumas referêncins: (a) sobre inJluêncin dos substtato..1:, e o seu preparo 
- Carnsck ( 1996); Candin (1 998), Scartezini (2002). Pacs (2004); (b)"°~obre a energia de impoclo, processo de 
Rplicação (inclusive pro_;,!çiio mccnnizadn) e cura - Pereira (2000), Carvalho (2004); Gonçalves (2004) e Antunes 
(2005). 
920 H. Carasek 
A cal, além de ser um material aglomerante, possui, por sua finura, importantes 
propriedades plastificantes e de retenção de água. Dessa forma, as argamassas 
contendo cal preenchem mais facilmente e de maneira mais completa toda a 
superfície do subslrato, propiciando maior extensão de aderência. Por sua vez, a 
durabilidade da aderência é proporcionada pela habilidade da cal em evitar fissuras 
e preencher vazios, o que é conseguido através da reação de carbonatação qu~ se 
processa ao longo do tempo. Es~e aspecto particular da cal, conhecido como 
restabelecimento ou reconstituição autógena, representa uma das vantagens do uso 
desse aglomerante nas argamassas de revestimento e assentamento. 
Conforme vistó no Capítulo 22, as cales podem ser classificadas, segundo a sua 
composição quúnica, em cálcica, magnesiana e de>loD?ltica. Alguns estudos 
indicam a existênciá de urna relação direta entre a proporção de hidróxido de 
magnésio presente na cal hidratada e a resistênci~ de aderência. Assim, urna 
argamassa preparada com cal dolornfrica apresenta aderência ·superior a urna 
argamassa com mesmo traço preparada com cal cálcica. Tal fato, em parte, pode 
ser atribuído à diferença na retenção de água das argamassas; a argamassa 
constituída de cal dolornftica apresenta retenção superior àquela observada com cal 
cálcica. 
Com relação ao groporcionamento dos matetiai&, a~ l:U'gamassas com elevado 
teor de cimento, em geral, apresentam elevada resistência de aderência, mas 
podem ser menos duráveis, uma vez que possuem maior ..tendênt ia a desenvolver 
fissuras. Por outro lado, argamassas contendo cal possuem alta extensão de 
aderência, ·tan'to em nível maçro como em nível microscópico. Sendo mais 
plásticas, têm maior capacidade de "molhar" a superfície e preencher as cavidades 
do subslrato; microscopicamente levam a uma interface com estrutura mais densa, 
cont~ua e com menor incidência de micro.fissuras, do que a interface da argamassa 
somente de cimento. Assim, as argamassas "ideais" são àquelas que reúnem as 
qualidades dos dois materiais, ou seja, são as argamassas mistas de cimento e cal. 
Melhorias tanto na extensão como no valor da resistência de aderência podem 
ser obtidas pela adição de pequenas porções de cal às argamassas de éimento 
Portlan~. O efeito favorável na aderência propiciado pela adição de pequena 
quantidade de cal hidratada ficou· comprovado no estudo de Carasek (1996), onde 
foram comparadas duas argamassas se1JJelhantes, de traços, em volume, 1:3 
(cimento e areia úmida) e 1:0,25:3 (cimento, cal e areia úmida). A segunda 
argamassa, contendo apenas 6% de cal e'rp. relação à massa dos constituintes secos, 
· resultou, de uma forma geral, em um válor maior de resistência de aderência à 
trl:)ção quando ela foi aplicada sobre diferentes blocos de alvenaria. A contribuição 
da cal foi mais marcante no caso das argamassas aplicadas sobre blocos de 
concreto celular autoclavado, onde foramobservados aumentos supetiores a 70% 
nos valor~ d11 tensão de aderência. Além da ação aglomerante, a cal propiciou um 
acréscimo da capacidade _!iª retenção de ágmi e uma melhoria da trabalhabilidade, 
resultando em um ganho •na extensão de aderência (comprovado alravés de 
observação de amostras na lupa estereoscópica, ilustrada na· Figura 15), o que, por 
sua vez, refletiu na resistência da.ligação. · 
Argamassas 921 
(a) (b) 
Figura 15 - Forografias obtidas na lupa estereoscópico com ampliação de 20 vezes; (a) argamassa 1:3 (cimento e 
areia, em volume) aplicada sobre bloco cerãmico; (b) argamassa 1: 1/4:3 (cimenro, cal e areia, cm volume) aplicada 
sobre o mesmo tipo de bloco cenlmico empregado em (a) (CARASE.K, 1996). 
A capacidade de aderência é dependente também dos teores ·e das 
características da areia empregada na confecção das argamassas. De uma 
forma simplista, com o aumento do teor de areia, há uma redução na 
resistência de aderência; por outro lado é a areia, por constituir-se no 
esqueleto indeformável da massa, que garante a durabilidade da aderência 
pela redução da re tração. 
Areias muito grossas não produzem argamassas com boa capacidade de 
aderir porque prejudicam a sua trabaJhabilidade e, conseqüentemente, a 
sua aplicação ao substrato, reduzindo a extensão de aderência. No entanto, 
no campo das areias que produzem argamassas trabalháveis, uma 
granulometria mais grossa garante melh0.;:;es resultados de resistência de 
aderência. Exemplificando: em estudo com os traços 1:1:6 e 1:2:9 
(cimento, cal e areia, em volume) com duas areias distintas, uma 
classificada como fina (MF = 2 ,32) e a outra como muito fina (MF = 1,75), 
encontraram-se para as argamassas com as duas composições, maiores 
valores de resistência de aderê ncia quando fo i utilizada a areia de 
partículas maiores (ANGELIM, 2000). 
Areias ou composições inertes com altos teores de finos (principalmente 
partículas inferiores a 0,075 mm) podem prejudicar a aderência. Nesse 
caso, podem ser apresentadas duas hipóteses como explicação. A primeira 
refere-se ao fato de que , quando da sucção exercida pelo substrato, os 
grãos muito finos presentes na areia podem penetrar no interior de seus 
poros , tomando o lugar de produtos de hidratação do cimento que se 
formariam na interface e produziriam o travamento da argamassa. A 
segunda hipótese versa sobre a teoria dos poros ativos do substratoll, 
segundo a qual uma areia com grãos muito finos produziria uma argamassa 
com poros de raio médio pequeno; argamassas com poros menores do que 
os poros do substrato dificultam a sucção da pasta aglomerante, uma vez 
que o fluxo hidráulico se dá sempre no sentido dos poros maiores para os 
li Maior delalbamcnro sobre a reoria de poros ativos pode ser visra nos t111balhos de Carasek (1996) e Cara.sele, 
Cascudo, Scartezini (2001 ). 
922 Tf. Cornsek 
menores. Sendo assiin, os poros do substrato seria_m, e1n sua maioria, 
ineficientes para succionar a pasta aglomerante ela argamassa, reduzindo as 
chances de produzir boa aderên.,.·ia12. Angelim (2000) estudou o efeito de 
diversos teores de finos de diferentes naturezas (silicosos, atgilosos e 
calcários) na composição da argamassa de revestimento, subs tituindo parte 
Ja areia por agregado com elevado teor de finos inertes. Ele confirmou as 
hipóteses anteriores, verificando uma redução da resistência de aderência à 
medida que aumentou o teor total de "fi nos das argamassas. 
Para obtenção de bons resultados de aderênc ia, a areia deve possuir uma 
distribuição granulométrica contínua. De uma forma geral, quanto maior o 
módulo de finura das areias, desde que produzam argamassas trabalháveis, 
maior será a resistência de aderência obtida. 
28.4.3.3 Medida ela resistência de aderência 
No caso de revestimentos de argamassa, a aderência assume grande 
importância, pois, se ela falhar, podem ocorrer, em casos extTemos, danos 
às vidas humanas pelo descolamento e pela queda de pedaços de 
revestimento. Assim, a aderência vem se11do amplamente estudada no 
Brasil e no exterior, exis tindo métodos normalizados para sua avaliação . 
No Brasil, a avaliação da resistê ncia de aderência à tração de revestimentos 
de argamassa, também designada de resistência ao arrancamento, está 
prevista na norma NBR 13528 (ABNT, 2010), com metodologia que 
permite a avaliação tanto em laboratório como em obra. O princípio básico 
do ensaio está resumido no Quadro 13. 
Os resultados desse e nsaio apresentam, geralmente, alta dispersão, 
resultando em coeficientes de variação da ordem de 10% a 35%. Isso 
decorre do fato de que a resistência de aderência é influenciada por 
diversos fatores (altamente variáveis), como já resumidos na Figura 14. 
Por outro lado, é importante ressaltar que, no enfoque ele ciência dos 
materiais, está se falando de materiais cerâmicos frágeis, os quais se 
caracterizam por apresentarem alta dispersão de resultados de ruptura. 
Nesses casos, a resistência à fratura é extremamente dependente da 
probabilidade da existência de um defei to que seja capaz de iniciar uma 
fissura, como discutido por Antunes (2005). 
12. I sso foi comprovado uunbém por rnes (2~1) que, cmr,rcg:uu.lo sensores de umidade , estudou o flwco de água de 
argamassas apHcnd:1s n bloco~ cerâmicos e de éonc.rcto e obteve como resultado que a orgnnmssn e.laborada com n 
areia mais fina foi a que nprcscntou maior resistência intcmn no íluxo ele águn no sentido :ugnmassn-substmto, 
pri11cipalmcnte nos prin1eiros 60 mi1111tos. 
Argnmasst1s 923 
Quadro 13 - Etnpa!. <ln renlizaçiio do ensaio úe d-:tenninaçilo da resislênc ia Ue :uleri:nci:1 ~ h :t<;l\'o da revcslime111os 
dt- nrgnrnMs:\, ~egundn n NBR 13528 (ÂBNT. 2010). 
1) Corte do reveslimento perpendicularmente ao seu planó .,; · 
ellmlteção do corpo-de-prova clrcular (de 5 cm de diâmetro). 
mportante: garantir o oorte de toda a camada de 
vestimento, atingindo o substrato. 
) Colagem de um disposilivo para acoplar o equipamento de 
ração (pastllha). 
Importante: colar a pasti/11a no centro do CP delimitado pelo 
orle para evitar a aplicação do esforço de tração excêntrico. 
) Acoplamento do equipamento de tração e execução de 
slorço de traçllo até a ruplura. Obs.: exislem vários 
quipamentos para essa finalidade. 
Importante: verificar a calibração do equipamento; garantir a 
arreia velocidade de carregamento e garantir a perfeita 
erpendlcularidade entre o esforço exercido pelo equipamento 
o revestimento (no artigo de COSTA e CARASêK, 2009 
xiste uma discussão detalhada desses as ectos . 
) Cálculo da resislência de aderência. 
bs. a NBR 13749 estabelece parâmetros para a avaliação 
esta propriedáde (ver Quadro 3). 
) Análise da superflcie de. ruptura após o arrancamento 
Figura 16), anotando~ pérr.Antual de cada tipo de ruptura. 
Importante: Retirar 3 amostras· do revestimento da região que . 
ará ensaiada para determinação da umidade, pois a umidade _ 
xerce influência nos valores obtidos (a este respeito pode ser r . 
ido o erti o de CARASEI<: e ai., 2008. -:~_,,. 
Um aspecto que eleve· ser observado quando da realização do teste de 
arrancamento é que tão importante quru1to os valores de resistência de aderência 
obtidos é a ru1álise do tipo de ruptura. Quando a ruptura é do tipo coesiva, 
oc01Tendo no interior da argamassa ou da base (tipos B e C, da Figura 16), os 
valores são menos preocupantes, ao menos cjue sejam muito baixos. Por ouu·o 
lado, quando· a rnptma é cio tipo ·adesiva (tipo A), ou seja, ocorre na interface 
argamassa/substrato, os valores devem ser mais elevados, pois existe um maior 
potencial para a patologia. A ruptura do tipo D significa que a porção mais fraca 
é a camada superficial do revestimento de argamassa e quando os valores obtidos 
s_ão baixos indica_ resistência superficial inadequada (pulve1ulência). A tuptura do 
tipo E é um defeito de colagem, devendo este ponto de ensaio ser desprezado. 
924 H. Carosek 
j.klM-iJAl§!L
1 
Pasrnha 
w . Cola 
p::.:~ :~~~i." ~-f 1'.~·t~-.. -·;.:~:;~.;~]Argamassa 
Ruptura no substrato 
Ruptura na argamas~a 
l«mi. 
Ruptura na lnterlace 
cola·paslllha 
Figuro 16 • Tipos de ruptura no ensaio de rcsis1encia de aderência à tração de revestimentos de argamassa, 
considerando o n:.vesrimenco apUcado diretamente ao substrato (sem chapisco). 
Ot,1tra norma nacional existente para avaliação da, resistê ncia de ade rência 
à tração de argamassas de revestimento ·é a NBR 15258 (ABNT, 2005). 
E~sa norma apresénta uma metodologia para avaliação em laboratório, 
introduzindo o conceito de resistência potencia.! de aderência, pois 
estabelece um substrato padrão para aplicação das argamassas, além de 
algu ns cuidados adicionais de condições de climatização do laboratório. 
Dessa forma, os resul tados obtidos devem apresentar uma menor 
variabilidade , embora não caracterizem·, necessariame nte, o desempenho 
da argamassa aplicada no sistema construtivo. 
A resis tê ncia ao cisalhamento de revestimentos de argamassa não é 
normalizada, existindo apenas algumas propos tas de métodos de ensaio em 
nível de pesquisa, como os métodos da RILEM (1982), MR-14 p·or.corle e 
MR-20 por torção, e, em nível nacional a proposta de Candia (1998): Todos 
esses métodos são complexos e de difícil execução, principalmente em 
obra . . · · 
Apesar da importância dessa propriedade també m para as argamassas de 
assentamento, ainda não existem métodos normalizados no Brasil para 
avaliação da aderência das juntas de argamassa na a i venaria. Nas propostas 
de teste exis te ntes são geralmenté empregados métodos em que . é medido 
o esforço necessário para separar düas ou mais unidades de alvenaria 
ligadas por argamassa. A Figura 17 · apre.senta algumas propostas de 
métodos internacionais existentes para essa finalidade. 
Argamassas 925 
P/2 P/2 p 
p 
Tração __ _ ___ Tração _ __ ._. 
P/2 
Tra o por Flexão Tração por arrancamento 
Figura 17 - AJgumos propostas de mc!:1odos existcnl"'..!1 para a uvaliuçõo dn rcsislêncin de adcrtncia de j untas de 
assentamento. 
255.Aspectos da dosagem e do prepa ro das argamassas 
Diferentemente do que ocoITe atualmente com o concreto, para o qual existem 
vá.iios métodos racionais de dosagem, para as argamassas ainda não se dispõe, no 
contexto nacional, de métodos totalmente consagrados e difundidos com essa 
finalidade. Nesse sentido, vários esforços vêm sendo empreendidos por grupos de 
pesquisadores para suprir esta necessidade. Dentre eles, destacam-se as 
conlTibuições de Selmo (1989) e diversas outras publicações da autora e do grupo 
de pesquisa do CPqDCC/EPUSP (Sabbatini, Barros, Helene, dentre outros), além 
do trabaU10 de Gomes e Neves (2001), do CETA-BA (Centro Tecnológico da 
Argamassa). Por essa razão, ainda é comum•; para o preparo de argamassas ele 
~ssentamento e revestimento em obra, o emprego de traços pré-fixados, baseados 
em normas e documentos elaborados por instituições técnicas; são as chamadas 
"receitas de bolo": Outro aspecto que contribui com esse contexto é o fato de que, 
devido à "menor responsabilidade aparente" com esse material, comparado com 
o concreto que tem fu nção estrutural , muitas constrntoras não querem investir em 
um estudo de dosagem em laboratório, razão pela qual não se desenvolveram e 
consolidaram muitos métodos de dosagem. 
Na visão desta autora, entende-se que esses traços propostos por conceituadas 
instituições técnicas nacionais e estrangeiras, conforme apresentado no Quadro 
14, podem servir como um ponto de partida para ~ dosagem de argamassas 
adequadas. Esrudos de dosagem ou no mínimo ajustes nos traços pré-fixados são 
necessários, pois os materiais constit11intes da argamassa diferem muito de uma 
926 H. Cnrasek 
região para ouu·a, principalmente a areia (granulomelria; teor de finos , natureza 
mineralógica, etc.) , podendo gerar, quando da adoção direta da proporção 
preestabelecida, nrgamassas de comportamento inadequado. 
Qundro 14 - Traços recomc11dados por oJgumns entidndes 11onnnJjz.ndorns. 
Traço em volume 
Tipo de argamassa cimento cal areia Referências 
Revestimento da paredes Interno o de fachada 1 2 9 a 11 NBR 7200 
/ABNT 19821' 
Assentamento Alvenaria em contato com o solo 1 0-1/4 2,258 3 X 
de slvenaria Alv. suieila a esforcas de flexão 1 "l/2 (volumes ASTMC270 
estrutural 
Uso QBral sem contato com solo 1 1 
de 
cimento+ 
Uso reslrilo, interno/baixa res/si. 1 2 cal\ 
*Norma nntiga: a versão ntual /\BNT NUR 7200: 1998 nilo apresenl~_proposi~ões de traços de aogamassn. 
Pode-se observar, no quadro, que os traços têm em comum uma relação 
aglomerante/areia igual ou próxima de 1:3 (em volume) . O traço 1:1:6, por 
exemplo, representa uma relação (cimento + caJ)/areia igual a 2:6, que 
corresponde a uma relação 1 :3. 
285.1 P,incípios dos métodos de dosagem 
De forma simplificada, o princípio do método de Sei.mo (1 989) é dosar o teor 
ótimo de material plastiGcante (finos provenientes da caJ13 ou de uma adição 
mineral como o saibro, o fil ito ou o pó calcário) em argamassas cujas relações 
(areia+plastificante)/cimenlo , parâmetro "E", sejam preestabelecidas. Tenta-se 
abranger relações (areia+plastificante)/cin1ento desde as mais baixas possíveis 
(traços . mais 1icos) até as mais altas (traços mais pobres). Em cada situação 
encontra-se a mínima quantidade de material fino capaz de plastificar a 
argamassa, além da mínima quantidade de água necessáiia para dar a fluidez 
adequada, garantindo a obtenção de argamassas trabalháveis. Constroem-se, 
assim, os gráficos com as curvas de trabafüabilidade, que re lacionam os valores 
de "E", nas abscissas, com os "finos plasti:ficantes/ci.lnento" ou água/cimento, nas 
ordenadas. Dessas curva~ é possível se extraírem os teores mínimos .de 
plastificante e ele água necessários para cada . relação 
(areia+plastificante)/cin1enlo . Esses teores mudam de acordo com a natm·eza e as 
características do materi;1l empregado como plastificante (cal , argila ou filer 
calcá.do), além das característicns da areia. 
Experimentalmente, a determinação desses teores ótimos de material 
plastificanle e de água é realizada por meio da "sensibilidade" de um pedreiro 
experiente e habilitado. Com as quantidades de areia e cimento previamente 
pesadas, vai-se aclicionanclo o material plastificante e a água até que o pedreiro 
sinta, no manuseio da mistura, ·que a argamassa tornou-se plástica, com a 
trabalhabilidacle ideal para ser aplicada. Esse método, apesar de não ser 
13 É importante lembrar. neste momenro. que a cal não é apenas um material plastificMte pnn1 a argamassa. A cal 
hi<lratnda 6, nntes de mni~ nada, nm 3glomeran1c. 
Argamassas 927 
totalmente quantitativo (usa a intuição do pedreiro), representa um grande avanço 
na dosagem elas argamassas, saindo do campo do empirismo puro. A prova ele sua 
validade são as boas correlações, em 1úvel estaústico, que são obtidas quando da 
elaboração das curvas de trabalhabilidade, as quais mostram tendências 
nitidamente definidas de ili.reta proporcionalidade entre as relações estudadas, 
como ilustrado na Figura 18. 
1.e 
1,4 
t 1.2 
~ 
3 ,--------------~ 
(1) y = 0,19x + 0.079 
2,5 Rl • 1 
2 
o 
ll o.e E ·o 
~ 0.8 
i 0.4 
~ 0.2 
t 1,5 
~ 
~ 
o.s 
o o 
4 6 10 12 14 4 8 8 10 12 14 
E= (arei:a.+cal)./eimanto (kg/kg) E (kg/ko) 
Figura 18 ~ Exemplo de gráficos obtidos e xpcri.mentalmcnlc de determinação do teor de rmos plnstificanles 
necessário (no ... ~o cm que.~tão cal hiclrn1ada) e da tigua. para duas areias di.fcre111es. sendo uma.mnis fum (1) e a 
outra mais grossn (2). ' 
Após a oble~~ão dessas curvas, parte-se para o estud~ dessas argamassas 
aplicadas, como assentamento de alvenaria ou revestimenlo. No caso das 
argamassas de revestimento, segundo Selmo (1989), preparam-se argamassas 
com no mínimo três pontos da curva (diferentes valores de E). Essas são 
aplicadas em paredes avaliando-se a fissuração e a resistência de aderência à 
tração. 
Complemen~annente a9 método exposlo, a pm-tir das curvas de 
trabalhabilidade é do~ diferentes

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