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Crítica a Octave Mannoni e o complexo da dependência

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Nome: Alexandre de Carvalho Valle 
RA: 1678227
Curso: Ciências Sociais 8º Semestre.
Crítica a Octave Mannoni e rasa noção do complexo da dependência
	Neste presente trabalho irei resenhar “Sobre o pretenso complexo de dependência do colonizado”, quarto capítulo da obra “Pele negra, máscaras brancas” do médico, psiquiatra e filosofo Frantz Omar Fanon, nascido na Martinica. Marxista ferrenho Fanon focou suas obras na teoria crítica e nos estudos pós-coloniais. O capítulo que será analisado neste trabalho, o autor faz duras críticas a obra “Psychologie de la colonisation (Psicologia do colonialismo)”, do Psicanalista francês Dominique-Octave Mannoni (1899-1989). Fanon inicia o capítulo mostrando que fará duras críticas a Mannoni, mas evidenciando que as diferença dos trabalhos é teórica e principalmente política.
“Antes de entrar nos detalhes, digamos que o pensamento analítico de Mannoni é honesto. Tendo vivido pessoalmente a ambivalência inerente à situação colonial, chegou a uma compreensão, infelizmente exaustiva demais, dos fenômenos psicológicos que regem as relações nativo-colonizador [...]. Mostraremos que Mannoni, apesar de ter consagrado duzentas e vinte e cinco páginas ao estudo da situação colonial, não conseguiu estabelecer suas verdadeiras coordenadas.” (FANON, 2008, p.83 e 84.).
	Para o autor, Mannoni não conseguiu descrever de forma aprofundada e reflexiva as perversidades das situações coloniais. A questão da subjetividade não pode ser de forma alguma deixada de lado, pois isso afeta diretamente a construção social. “O problema da colonização comporta assim não apenas a intersecção de condições objetivas e histórias, mas também a atitude do homem diante dessas condições” (FANON, 2008, p. 84). Nas primeiras páginas do capítulo, o autor reforça que não existe diferenças entre exploração ou racismo, pois um país não é menos racista que outro, ou uma exploração não é melhor ou menos agressiva que outra. Pois todas as formas de exploração têm um mesmo objeto, o homem. Fica evidente que Mannoni não se apega a esta lógica quando ele afirma que a França é o país menos racista do mundo.
Fazendo o caminho contrário do proposto por Fanon, Mannoni se preocupa em descrever a inferioridade pré-existente nos colonizados, ao invés de descrever a noção de superioridade existente no branco colonizador, ou como analisado na obra, no europeu colonizador. Mannoni entende que a inferioridade é uma exceção a regra, e que o que realmente acontece é que o indivíduo se vê inferiorizado quando se encontra em minoria. 
“Com efeito, um complexo de inferioridade ligado à cor da pele só se observa nos indivíduos que vivem em minoria em um ambiente de outra cor; em uma coletividade bem homogênea como a coletividade malgaxe, onde as estruturas sociais são ainda bem sólidas, só encontramos complexo de inferioridade em casos excepcionais.” (MANNONI, 1950).
	Refutando a afirmação, Fanon lembra que nenhum colonizador se sentiu inferior – muito pelo contrário – mesmo estando sempre em minoria nas colônias. Usa o exemplo o número de negros na África do Sul e Martinica que é extremamente maior em relação aos brancos. “Na África do Sul, devem existir dois milhões de brancos para aproximadamente treze milhões de nativos, e nunca passou pela cabeça de nenhum nativo sentir-se superior a um branco minoritário. Precisamos ter coragem e dizer: é o racista que cria o inferiorizado” (FANON, 2008, p. 90). Aqui Fanon traz a luz as opções duas que Mannoni dá aos povos colonizados, eles podem se ver como dependentes ou inferiorizados. 
“De modo que a conclusão seria a seguinte: na medida em que o verdadeiro “malgaxe-tipo” do autor assume a “conduta dependente”, tudo vai às mil maravilhas. Mas se ele esquece o lugar, se por acaso mete na cabeça que quer igualar-se ao europeu, e neste “caso excepcional” paga com um complexo de inferioridade sua rejeição da dependência.” (FANON, 2008, p. 90)
	Portanto, o malgaxe ou qualquer povo colonizado podem escolher a “paz” pela lógica de dependência em relação ao colonizador ou a “guerra” – que com certeza será perdida pela interpretação e Mannoni – e por consequência o sofrimento optando pela lógica da inferioridade. Assim, a noção de inferioridade e a guerra que se trava a partir dela são casos excepcionais. Essas duas opções reforçam a noção de que existem países mais ou menos racistas, colonização melhores ou piores. Essas duas únicas opções deixam evidentes a destruição cultural, organizacional que a colonização faz. Fanon aponta com muita aversão que os malgaxes não existem mais, ou melhor, é impossível imaginarmos os malgaxes sem o homem branco, então a dinâmica essencial dos malgaxes foi assassinada com a chegada dos europeus. 
“O branco, ao desembarcar em Madagascar, provocou uma ferida absoluta. As conseqüências (sic) dessa irrupção européia (sic) em Madagascar não são apenas psicológicas, pois, todo mundo já o disse, há relações internas entre a consciência e o contexto social.” (FANON, 2008, p. 93)
	O autor relata então que “para o negro a alteridade não é outro negro, é o branco” (FANON, 2008, p. 93). Fanon entende que o malgaxe ao se relacionar com o europeu se entende como humano, mas de certa forma precisa provar para o europeu a sua humanidade, e precisa que o europeu a reconheça. Assim, tecido social criado pela cultura malgaxe e pautado em seus princípios é irrompido pela cultura branca colonizadora europeia. Isso faz com que o próprio malgaxe relativize a sua humanidade. 
“Em outras palavras, começo a sofrer por não ser branco, na medida que o homem branco me impõe uma discriminação, faz de mim um colonizado, me extirpa qualquer valor, qualquer originalidade, pretende que seja um parasita no mundo, que é preciso que eu acompanhe mais rapidamente possível o mundo branco [...]” (FANON, 2008, p. 94).
	Fanon critica duramente Mannoni por uma interpretação branca do sofrimento negro. Mas o ponto não é Mannoni ser branco, mas sim tentar diminuir os sofrimentos, agressões, destruições sofridas pelo povo negro nas mãos dos colonizadores brancos europeus, a partir de noções teóricas. Portanto, Fanon se coloca como oposição teórica, política e epistemológica a Mannoni, pois para ele este autor nunca buscou tratar sobre o verdadeiro motivo do conflito nativo negro escravizado e colonizador branco europeu, ele só buscou validar as colonizações, relativizá-las e de uma forma simplória ordená-las apontando as piores e as melhores. Ironicamente, o seu país de nascimento é o país menos racista da Europa. 
Referências Bibliográficas: 
FANON, Frantz. Sobre o pretenso complexo de dependência do colonizado. In: Pele negra máscaras brancas (Salvador), 2008, p. 83 – 101.
MANNONI, Domique-Octave. Psychologie de la colonisation (Psicologia do colonialismo), 1950.

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