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Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 Revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi Mestre em Engenharia de Produção Professora do curso de Engenharia Civil T673 Topografia e geoprocessamento / Priscila Marques Correa ... [et al.]; [revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi]. – Porto Alegre: SAGAH, 2017. 433 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-270-6 1. Topografia. 2. Sistemas de informação geográfica. 3. Engenharia civil. I. Correa, Priscila Marques. CDU 624 Altimetria: representação altimétrica III Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a representação altimétrica por curvas de nível. Diferenciar as formas de representação do relevo. Identi� car os usos das Modelagens Digitais do Terreno (MDTs). Introdução Neste capítulo, você vai analisar a representação altimétrica por meio de curvas de nível. Essas curvas são as imperfeições do relevo apresentadas em planta, em que as cotas (ou altitudes) de mesmo valor são unidas por um traçado. Veremos com mais detalhes o uso das curvas de nível, ou seja, a representação altimétrica do terreno em planta através de isolinhas (linhas de mesma cota). Planta com curvas de nível Uma curva de nível é uma isolinha, ou seja, uma linha desenhada em planta representando uma sequência de pontos com o mesmo valor altimétrico. Desta forma, é de praxe representá-las com valores inteiros de altimetria. Desta forma, as curvas de nível representam o traçado das extremidades das superfícies horizontais geradas pela interseção de vários planos horizontais paralelos com a massa do terreno, como pode ser observado na Figura 1 (SILVA; SEGANTINE, 2015). Figura 1. Representação de curvas de nível geradas pela interseção de planos horizontais paralelos com o terreno. Fonte: Silva e Segantine (2015). Os mesmos autores ressaltam ainda que é fundamental que a distância vertical que separa dois planos horizontais consecutivos seja constante. São estas que determinam a equidistância das curvas de nível no desenho, sendo que o valor depende das diretrizes do projeto para o qual as curvas estão sendo representadas e da escala do desenho. As curvas de nível são a representação de um lugar geométrico onde todos os pontos têm as mesmas cotas e altitudes. Geralmente, elas são desenhadas em intervalos de 1, 5, 10, 25 e 50 m, com valores das altitudes indicadas a cada quinta curva, apontado no desenho com um traçado mais grosso, ou com diferenciação de cor (TULER; SARAIVA, 2014; SILVA; SEGANTINE, 2015). As imperfeições do relevo são apresentadas em planta, em que as cotas (ou altitudes) de mesmo valor são unidas por um traçado, denominado curva de nível. A distância vertical (ou equidistância vertical – EV) entre as curvas de nível é definida pela escala do desenho e pelo rigor com que pretende-se representar o relevo (TULER; SARAIVA, 2014). Para que a representação gráfica por meio de curvas de nível seja o mais preciso possível, se deve destacar alguns acidentes geográficos do relevo, como talvegues, espigões, divisores de água, pé de talude e a crista de talude (SILVA; SEGANTINE, 2015). Altimetria: representação altimétrica III 216 Talvegue: linha de maior profundidade no leito de um rio, ou linha sinuosa em fundo de vale, resultante da interseção dos planos de duas vertentes e na qual se concentram as águas que delas descem. Espigão: a parte mais elevada de uma serra/relevo, pelo qual correm os divisores de água. Divisores de água: linha imaginária que une os pontos das cristas das elevações do terreno que separam a drenagem da precipitação entre duas bacias hidrográficas próximas. Zona morta: área do terreno onde não é possível representar as curvas de nível (p. ex.: matas fechadas ou áreas construídas). Silva e Segantine (2015) comentam que para as curvas de nível serem corretamente representadas, devem possuir as seguintes características: Toda curva de nível deve ser fechada em si mesma, embora isto, muitas vezes, ocorra fora da planta topográfica em que ela está sendo desenhada. As curvas de nível são perpendiculares à direção de máxima declividade do terreno. As declividades entre duas curvas de nível consecutivas são conside- radas uniforme. A distância horizontal entre as curvas de nível indica a taxa de de- clividade do terreno. Maior espaçamento indica menor declividade e vice-versa. Curvas de nível irregulares indicam terreno rugoso, enquanto que curvas de níveis suaves indicam terreno uniforme. Duas curvas de nível nunca se encontram, exceto em muros de arrimo ou em casos raros de cavidades. Procedimento de campo para a coleta de dados para a representação do relevo em forma de curvas de nível A construção de uma planta com curvas de nível segue, na grande maioria dos casos, de acordo com Tuler e Saraiva (2014), os seguintes processos: 217Altimetria: representação altimétrica III 1. Levantamento de campo dos pontos cotados, ou seja, pontos com co- ordenadas tridimensionais (X, Y e cota). 2. Interpolação manual ou interpolação automatizada (interpoladores). 3. Traçado manual ou automatizado (a partir de modeladores digitais de terrenos [MDTs]). Porém, Silva e Segantine (2015) comentam que existem dois procedimentos de campo para a coleta de dados visando à representação do relevo em forma de curvas de nível: O levantamento dos pontos na forma de uma malha regular: consiste em demarcar sobre o terreno uma área quadriculada, referenciada a algum elemento destacado do levantamento ou do terreno, permitindo definir a malha de pontos sobre o desenho. Em seguida, realiza-se a demarcação dos cruzamentos das quadrículas sobre o terreno, normalmente a cada 20 m. Posteriormente, deve-se realizar o nivelamento. O levantamento dos pontos na forma de uma rede irregular de pontos: visa nivelar pontos distribuídos irregularmente sobre o terreno, devido aos seus acidentes geográficos. Inicialmente, deve-se determinar os pontos notáveis do terreno e realizar seu levantamento altimétrico. Após a construção da interpolação digital, algumas formas de representação do relevo e de seus atributos podem ser apresentadas (TULER; SARAIVA, 2014), como: Planta de cores hipsomé tricas: as alturas dos pontos são representadas por cores diferentes, onde cada cor representa determinada altitude ou cota. Geralmente, as cores mais claras representam as partes mais baixas, e as escuras, as partes mais altas. Vista em perspectiva: um modelo em perspectiva do terreno é gerado por meio do MDT, permitindo preenchimentos, inserção de linhas de fluxo de água. Altimetria: representação altimétrica III 218 Formas de representação do relevo As formas apresentadas pela superfície do terreno podem ser classifi cadas em três grandes categorias: planícies, elevações e depressões. Numa elevação ou numa depressão, um par de faces (encostas, fl ancos, margens) convexas é designado por tergo ou dorso, e um par de encostas côncavas é designado por vale. As arestas dos tergos constituem linhas de separação das águas da chuva e são designadas por linhas de festo ou cumeeiras. Os arestos dos vales são linhas de reunião das águas e são chamadas de talvegues, linhas de córrego ou linha de água (CASACA; MATOS; BAIO, 2017). Assim, as formas elementares do relevo são o tergo e o vale. As águas que caem nas suas encostas correm para os talvegues, onde constituem linhas ou cursos de água. Todas as formas de terreno resultam da combinação de tergos e vales: uma colina resulta da combinação de dois tergos; o colo, portela ou garganta resulta da combinação de dois tergos com dois vales, conforme indicado na Figura 2. Para conhecer melhor as curvas de níveis, assista ao vídeo disponível no link ou código a seguir: https://goo.gl/pWquRz 219Altimetria: representação altimétrica III https://goo.gl/pWquRz Figura 2. As formas elementares do relevo. Fonte: Casaca, Matose Baio (2017). Na representação do relevo, são utilizados três diferentes elementos: pontos altimétricos, curvas de nível (apresentado anteriormente) e cores hipsométricas. Nos pontos altimétricos, de acordo com o IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1989), são utilizados símbolos pontuais, que representam a localização geográfica da qual se conhece a altitude. A altitude, que é o atributo representado do relevo, é indicada por um texto adjacente ao símbolo pontual. Portanto, na representação por pontos altimé- tricos, o relevo é classificado pela variação em altitude, não sendo incluída a declividade. Devido aos pontos altimétricos representarem apenas a altitude, e pela sua indicação ocupar um espaço na carta não relacionado ao ponto representado, este método é indicado para pontos notáveis no terreno, tais como, pontos altos, picos, desfiladeiros, povoados, depressões. As cores hipsométricas são usadas para a representação do relevo por classes de altitudes. Em se tratando de relevo submarino, passam a ser cha- madas cores batimétricas. O problema da representação do relevo através de cores é basicamente a definição número de intervalos de altitude (intervalos de classe) entre as altitudes extremas, que serão representadas pelas cores e Altimetria: representação altimétrica III 220 a escolha das próprias cores que representarão cada intervalo de classe. A representação hipsométrica por cores é uma das possibilidades de representação de uma distribuição contínua de um fenômeno sobre a superfície terrestre. Pode-se de maneira geral representar qualquer ocorrência de distribuição contínua por este processo. Existem duas formas de representação do relevo: qualitativa – em que se busca mais o aspecto artístico (representação visual), devendo ser legível o bastante para ser reconhecida por qualquer usuário; e quantitativa – representação científica, dando preferência ao aspecto precisão, em detrimento muitas vezes da representação visual. Representação numérica do relevo Os modelos numéricos do relevo possibilitaram a automatização de tarefas (CASACA; MATOS; BAIO, 2017), as quais eram anteriormente realizadas por métodos gráfi cos manuais, como: 1. A representação do relevo por curvas de nível, a partir de um conjunto de pontos de coordenadas topográficas conhecidas. 2. A determinação da altitude de um ponto qualquer do terreno. 3. A determinação da linha de maior declive que passa por um ponto qualquer do terreno. 4. O traçado de uma linha com declive constante. 5. O traçado do perfil do terreno segundo uma linha. 6. A determinação da interseção de uma superfície e corte. 7. A determinação dos setores de visibilidade a partir de um ponto. Os modelos numéricos do relevo (MNR) podem ser classificados de acordo com o conjunto amostra em que se baseiam, em: 1. modelos de malha regular com espaçamento fixo, quando os pontos do conjunto amostra se distribuem, de acordo com padrões espaciais 221Altimetria: representação altimétrica III regulares, segundo os vértices de malhas triangulares, quadrangulares, retangulares, hexagonais, entre outros, designadas por grades (Figura 3); 2. modelos de malha regular com espaçamentos variáveis, quando os pontos do conjunto amostra se distribuem como uma grade, cujas di- mensões e densidade podem variar de acordo com a maior ou menor variação altimétrica do terreno; 3. modelos de malha irregular, quando os pontos do conjunto amostra se distribuem irregularmente, de acordo com malhas poligonais sem dimensões fixas; 4. modelos de malha mista, quando o conjunto amostra é constituído por uma grade e por pontos distribuídos irregularmente, ao longo das linhas de descontinuidade do relevo, as linhas de água, por exemplo (CASACA; MATOS; BAIO, 2017). Figura 3. Grades quadrangulares, triangulares e hexagonal. Fonte: Adaptado de Casaca, Matos e Baio, (2017). Para saber mais sobre a representação do relevo, assista o vídeo, disponível em: https://goo.gl/geUNXV Altimetria: representação altimétrica III 222 https://goo.gl/geUNXV Uso de Modelagem Digital do Terreno (MDT) Para estudos que necessitam de alta precisão altimétrica, os quais atingem até 1 m de precisão em suas curvas de nível, tradicionalmente sempre foram utilizados os modelos gerados por aerofotogrametria; porém, com os avanços tecnológicos, já há algum tempo, outra modalidade de dado altimétrico de alta resolução tem sido utilizada: modelos gerados a partir de pares estereoscópicos de imagens de satélite de alta resolução espacial (TOMASIELLO, 2010). A modelagem digital de terrenos iniciou no ano de 1950, como um conjunto de pontos de elevação definindo a superfície da Terra. Além dessa aplicação original, o MDT pode gerar uma superfície representativa da distribuição espacial de uma característica, possibilitando sua análise, manipulação e avaliação (TULER; SARAIVA, 2014). Os modelos digitais de terreno (MDT) representam a forma matricial da área trabalhada, ou seja, dividem a área como uma matriz de dados (X, Y) em que, cada ponto (pixel) desta matriz terá um valor de elevação (Z). Esta modelagem tridimensional também pode ser feita num formato de uma rede irregular de triângulos, comumente conhecida como TIN (Triangular Irregular Network). No entanto, este tipo de formato da representação da elevação possui um processo mais complicado de se trabalhar, e os modelos com representação matricial se tornaram mais difundidos devido à facilidade de se trabalhar, modelar e programar, como uma matriz (ARAÚJO, 2015). As fontes de dados para a geração de um MDT podem ser curvas de nível digitalizadas, levantamentos realizados em campo, métodos fotogramétricos aplicados sobre ima- gens aéreas ou em imagens de satélite e, também, são utilizados dados provenientes de radar e varredura a laser. A partir da representação do relevo, é possível realizar uma análise e modelagem topográfica detalhada, gerar mapas de declividade ou geológicos, extrair perfis do terreno, realizar cálculos para projetos de engenharia e servir como fonte de dados para sistemas de informações geográficas (OLIVEIRA; TOMMASELLI, 2012). 223Altimetria: representação altimétrica III Através do auxílio do MDT, pode-se obter as seguintes informações: forma do terreno, pontos de elevação e inclinação e outras feições geomorfológicas que descrevem o relevo da região; feições terrestres, como hidrografia (rios, lagos, entre outros). Em relação aos usos mais comuns dos MDTs, destacam-se segundo Tuler e Saraiva (2014): armazenamento de dados de altimetria para gerar mapas topográficos; geração de isolinhas (curvas de nível); elaboração de mapas de declividade e exposição para apoio à análise de geomorfologia e erodibilidade; análise de variáveis geofísicas e geoquímicas; mapeamento de atributos. Desta forma, a característica a ser modelada pode ser qualquer grandeza que tenha uma variabilidade espacial contínua, ou seja, não necessariamente apenas informações altimétricas. Os dados de entrada para esses modeladores podem ser alguns pontos amostrais relativos ao fenômeno a ser modelado (p. ex.: pluviosidade, índices de poluição, profundidade do NA [nível de água] entre outros), ou até́ mesmo parâmetros extraídos da análise de um modelo digital de terreno já existente, Tuler e Saraiva (2014). O Quadro 1 apresenta os principais parâmetros e aplicações obtidos com auxílio do MDT. Altimetria: representação altimétrica III 224 Fonte: Tuler e Saraiva (2014). Parâmetro Definição Possíveis aplicações Hipsometria Elevação, curvas de nível Clima, vegetação, energia potencial, entre outros. Declividade Relação entre diferença de nível e distância horizontal Velocidade de fluxos superficiais e subsuperficiais, taxa de escoamento, vegetação, geomorfologia, presença de água no solo, definição de áreas de risco, entre outros. Aspecto Azimute da inclinação das encostas Insolação, evapotranspiração,distribuição da flora e da fauna, análise de estabilidade do talude. Curvatura do perfil Perfil da curvatura do talude Aceleração do fluxo, taxa de erosão/deposição. Plano de curvatura Curvatura da região de contorno Convergência/divergência do fluxo, presença de água no solo. Área de contribuição à montante da encosta Área de contribuição da região de contorno que capta a água que é conduzida ao local de escoamento a jusante Volume de escoamento, taxa de escoamento permanente, características do solo, presença de água no solo, geomorfologia. Área de dispersão do talude Área a jusante da encosta Áreas inundadas, taxa de drenagem do solo. Expressão da trajetória do fluxo Distância máxima do fluxo de água em relação ao local de captação Taxa de erosão, deslocamento de sedimentos, tempo de concentração. Quadro 1. Principais parâmetros e aplicações obtidas a partir do MDT. 225Altimetria: representação altimétrica III Para conhecer melhor a forma como ocorre a mo- delagem digital do terreno (MDT), assista ao vídeo disponível no link ou código a seguir: https://goo.gl/uSHJ1a Altimetria: representação altimétrica III 226 ARAÚJO, P. C. Uso de modelagem digital de terreno e superfície para a estimativa do potencial de verticalização na região do Campo de Marte (SP). 40 f. 2015. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Ciências Humanas, Brasília, DF, 2015. CASACA, J.; MATOS, J.; BAIO, M. Topografia geral. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual técnico de noções básicas de cartografia. Brasília, DF: Fundação IBGE, 1989. OLIVEIRA, R. A.; TOMMASELLI, A. M. G. Geração automática de modelo digital de superfície utilizando múltiplas imagens. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOMÁTICA, 3., 2012, Presidente Prudente, SP. Anais eletrônicos... Disponível em: <http://www2. fct.unesp.br/departamentos/cartografia/eventos/2012_III_SBG/_artigos/A155.pdf>. Acesso em: 17 out. 2017. SILVA, I.; SEGANTINE, P. C. L. Topografia para engenharia: teoria e prática de geomática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. TOMASIELLO, D. B. MDT. 05 ago. 2010. Disponível em: <http://mundogeo.com/ blog/2010/08/05/mdt/>. Acesso em: 26 set. 2017. TULER, M.; SARAIVA, S. Fundamentos de topografia. Porto Alegre: Bookman, 2014. Leitura recomendada MCCORMAC, J. C. Topografia. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007. https://goo.gl/uSHJ1a Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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