Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ministério da Educação Fundação Universidade Federal de Rondônia Núcleo de Ciências Sociais Departamento de Ciências Jurídicas Turma 2020.2 – Exercício FICHAMENTO DE LEITURA e fixação (20 créditos = 8aulas) NOME: SAYONARA DA SILVA CRUZ SOUZA 1 Teorias da cidade de Bárbara Freitag é o resultado das teorias formuladas através dos tempos que procuraram compreender o fenômeno urbano hoje, ontem e para o futuro. Através de uma abordagem interdisciplinar e intertextual da questão urbana: antropológica, econômica, política, cultural, arquitetônica, urbanística, – a autora privilegia a Sociologia Urbana. Na sistematização das teorias da cidade, Freitag usa o critério de “escolas”, no sentido do “conjunto de teóricos que pensa a questão urbana no contexto de sua cultura, de seu tempo, de suas tradições filosóficas e sociológicas”, que tem afinidades de pensamento, expresso em uma teoria mais ou menos coerente e convergente, que possa ser entendida por pensadores de outras escolas. “Escola” ainda pressupõe que haja um corpo de docentes e discentes, um grupo de discípulos que procura se orientar nos trabalhos de seus mestres, aprofundando-os ou reformulando-os, e, finalmente, que tenha seus trabalhos publicados. - Quais são as Escolas que Freitag se embasa para formular as Teorias da Cidade e os pensadores que as formulam? (2créditos). As escolas que Freitag se embasa para formular as Teorias da Cidade são a Escola Alemã – formulada por Marx e Engels, Simmel, Weber, Sombart, Ronald Daus; A Escola Inglesa – formulada por Thomas Morus, Ebenezer Howard, Patrick Geddes, Raymond Unwin e Peter Hall entre outros; A Escola Francesa formulada por Françoise Choay, Le Corbusier, Ebenezer Howard e F. Loyd Wright entre outros; A Escola Americana formulada por Robert Owen, E. Howard e Peter Hall entre outros; A Escola Latino-Americana – formulada por Benício Schmidt, Sérgio Adorno, Roberto Eoceno-León, Salete Machado, Irlys, Barreira, entre outros; A Escola Anglo-saxônica – formulado por Thomas Morus, Ebenezer Howard, Patrick Geddes, Raymond Unwin e Peter Hall. 2 Relacione as características de acordo com as Escolas: A) Escola Francesa; B) Escola Alemã; C) Escola Anglo-saxônica do Reino Unido; E) Escola de Chicago: (2 créditos). (E) os teóricos desta Escola tratam, a partir de uma base empírica, do multiculturalismo que caracteriza a cidade moderna, com as várias etnias que a compõem, com suas tradições, línguas, hábitos e conflitos. Robert Park é o pensador célebre do movimento e defende a tese de que o fenômeno urbano precisa ser abordado com base em uma ecologia social. (A) a autora adverte-nos que não é a nacionalidade dos autores o fator determinante de suas contribuições teóricas, mas a maneira como se aproximaram do seu objeto de análise. Os fundadores dessa Escola enfatizaram mais a dimensão da racionalidade e da utopia. (C) Destacam por seu pragmatismo e utilitarismo". Estudam-se, aqui: o renascentista Thomas Morus (inclusão justificada porque sua utopia da cidade de Amaurorum antecipou ideias que somente anos depois viriam a vingar); Ebenezer Howard, inventor da cidade-jardim; Patrick Geddes e Raymond Unwin. (B) Do pensamento histórico e culturalista, essa Escola não influenciou os estudos das cidades no Brasil, diferentemente da Escola Francesa que exerceu sofre influência. Tem, em sua origem, pioneiros como Marx e Engels, Simmel, Weber e Sombart, os quais influenciaram gerações de sociólogos, filósofos, economistas e antropólogos a tematizar sobre as cidades. 3 Bárbara Freitag teoriza sobre as causas e consequências da megalopolização e o futuro das megalópoles na América Latina. Quais são as cidades que a autora aponta como um novo padrão de urbanização, caracterizado pela "cidade partida". Qual o conceito de megalopolização e o sentido de “cidade partida” discutidos no texto? (1 crédito). Analisando o processo da “megalopolização”, a autora cita quatro cidades latino-americanas na virada do milênio, a saber: Cidade do México, São Paulo, Buenos Aires e Rio de janeiro. Ela chama de megalopolização um padrão específico de urbanização. Trata-se de um processo de transformação rápida e recente de uma cidade ou metrópole em uma megalópole. O critério principal nessa categorização é o crescimento descontrolado, desregrado da população urbana, que faz transbordar os limites naturais e administrativos da cidade, tornando-a insustentável. A megalopolização é acompanhada da poluição do ar, da água (mananciais e lençóis freáticos), do desequilíbrio ecológico e da desorganização social (anemia, violência, tráfico de drogas e armas etc.) A adoção de formas urbanas de viver (baseadas no carro particular, nos condomínios em bairros nobres ou em casas individuais de subúrbio, acrescidas do comércio em supermercados e shoppings) permitiu a recepção e a absorção, no Brasil, do american way of life: e, com ele, de todas as formas de materialização da vida, que Sennett chamou de “pedra” em contraste com a “carne”. Essas formas de vida contrastam, por outro lado, com os 50% de excluídos que vivem em favelas, cortiços ou invasões. Por isso, as cidades brasileiras são, nos termos de Zuenir Ventura (2001), “cidades partidas”. Uma metade segue o modelo americano em tudo, podendo ser considerada uma sociedade informacional. A outra metade mal saiu da escravidão introduzida no período colonial e que, uma vez abolida, deixou contingentes imensos da população sem teto, sem trabalho, sem educação, sem saúde, sem espaço legalizado nos grandes centros urbanos., Desse modo, favelas como a Rocinha, o Vidigal. Na virada do milênio, as taxas de urbanização, que no mundo parecem manter um certo equilíbrio, atingem proporções totalmente distorcidas na América Latina. Em 2006, a taxa de urbanização na Argentina é de 90%; no Brasil, de 83%; e no México, de 76%. Em todos os casos, está acima da média mundial, que ainda gira em torno de 50%, como é o caso de Portugal (55%), China (39%) e Índia (28%). Esse desequilíbrio aconteceu nos últimos 30 ou 40 anos. Trata-se, pois, de um processo bem recente na história do desenvolvimento urbano. Dentro do “novo” (e distorcido) padrão de urbanização (megalopolização), emergiram como megalópoles, segundo dados de 2003, a Cidade ' do México (18,9 milhões de habitantes), São Paulo (17,8 milhões), Buenos Aires (13,1 milhões) e Rio de janeiro (11,2 milhões): Para essa seleção, recorremos (inicialmente) ao critério da população residente: soma de 10 milhões de habitantes. Contudo, outras cidades da região encontram-se em franco processo de megalopolização, como Lima (8 milhões), Bogotá (7,2 milhões), Santiago (5,2 milhões), Salvador (2,6 milhões), Brasília e Belo Horizonte (2,3 milhões cada), Caracas (2 milhões). Trata-se de Cidades que, no século XIX, prometeram vir a ser metrópoles, mas que “descarrilaram”, movimentando-se claramente em direção ao novo padrão de urbanização latino-americano. Recorrendo-se a um segundo critério, as megalópoles latino-americanas caracterizam-se por serem cidades “partidas” (Ventura 2001), em que cerca de 40% ou mais da população urbana vive em áreas irregulares (cortiços, invasões, favelas, barridas). Essa população é também chamada de “marginalizado”, “periférica” ou “excluída”, e vive em habitações improvisadas e, acima de tudo, “ilegais”, ou seja, não registradas pela administração da cidade. Via de regra, não paga luz, água ou imposto predial. Os serviços de água e eletricidade são simplesmente desviados ilegalmente da cidade legal, que paga impostos e reivindica melhorias urbanas como ciclovias, áreas de lazer, pavimentação das ruas etc. 4 Quem foi o idealizador do "falanstério” e como foi proposto para o Brasil? Quais os resultados obtidos? (1 crédito). O socialista utópico Charles Fourier foi o idealizador do “falanstério”. No Brasil,foi feita a tentativa de instalar um falanstério. Com o aval do imperador D. Pedro II, foi autorizada em meados do século XIX a vinda de 200 famílias francesas, por iniciativa de Benoit Mure, para implementar um falanstério em Santa Catarina, Sahy (hoje, Saí). A tentativa fracassou, em razão da hostilidade de médicos alopatas que temiam ter em Mure, homeopata convicto, um rival inaceitável no exercício da medicina popular. 5 O familistério de Guise construído por Jean Baptiste Andre Godin, executor do pensamento previsto por Fourier, foi uma bela contribuição de comunidade autogestora para as cidades. Como foi formulado o modelo do familistério de Guise? (1 crédito). O familistério de Godin mostrou que é possível criar um modelo de cidade/comunidade ao mesmo tempo político e democrática, no qual a autogestão pode ser realizada pelos operários- proprietários, revelando-se uma empresa economicamente viável; o familistério que durou 110 anos mostrou ser possível realizar um modelo econômico competitivo que também traz benefícios aos operários organizados numa espécie de cooperativa; o familistério antecipou preocupações ecológicas, pouco usuais naquele tempo, economizando água e reciclando-a (vide o exemplo da piscina instalada ao lado dos altos fornos) ou do cinturão verde entre a fábrica e o palácio social e suas dependências; no contexto da economia globalizada, contudo, esse modelo não tem fôlego para sobreviver, exigindo novas formas de gerenciamento e de investimento competitivo para transcender as fronteiras do Departamento de Guise, da França e mesmo da Europa. 6 Qual a influência de Le Corbusier e Haussmann para as cidades e para o pensamento e a prática urbana no Brasil? (1 crédito). Administrador e político, Haussmann não pode ser caracterizado nem como teórico da cidade nem como urbanista ou planejador, posto que essa especialização profissional ainda não existia. Mesmo assim, seu nome inaugurou um novo estilo de administrar e embelezar uma cidade; estilo que se tornou referência para outros países durante o século XIX, inspirando reformas urbanas dentro e fora da Europa. Foi graças a Haussmann que Faris adquiriu as feições de hoje: urna grande metrópole, com amplas avenidas, praças e prédios inconfundíveis. As reformas tinham razões claramente politicas: apaziguar Paris, combatendo os revoltosos e glorificando o novo imperador. Falou— se na época em “embelezamento estratégico”, mas as reformas de Haussmann também pretendiam realizar o projeto “urbanístico” do imperador, ou seja, concretizar obras de infraestrutura de base (esgoto, água, gás, luz), facilitando a locomoção pela cidade, sua higienização, seu arejamento, sua modernização. Haussmann mandou traçar linhas retilíneas pela cidade, derrubando velhos prédios históricos que remontavam à Idade Média e tempos posteriores. Bairros inteiros foram derrubados para ganhar espaço, pagando-se altos preços de indenização. No Brasil, teve em Pereira Passos um imitador digno do mestre: “Bota-Abaixo” dos cariocas, que abriu alas para a avenida Central (plantando belas árvores de pau-brasil, hoje desaparecidas), canalizou água, consolidou a costa litorânea, instalou luz e gás nas ruas e saneou o centro da cidade. Le Corbusier nasceu na Suíça, mas viveu a maior parte de sua vida adulta em Paris. É conhecido como autor da “Carta de Atenas”, que resultou de um encontro programático de arquitetos e urbanistas na capital da Grécia em 1933. Nessa ocasião, foram estabelecidos os princípios básicos do morar e viver LeCorbusier moderno da primeira metade do século XX. Dez anos depois, Le Corbusier redige esses princípios em um texto que Ficou conhecido como “Carta de Atenas”. Trata-se de uma espécie de mandamentos do urbanismo moderno. Hoje, essa carta é festejada como o melhor que o planejamento urbano produziu no século passado, ou - aos olhos dos opositores – o pior que pôde acontecer para o planejamento urbano nos últimos séculos (ver Lefebvre). Com isso, fica evidente que Le Corbusier é um nome controvertido entre os especialistas da cidade. A essência desse receituário do urbanismo moderno consiste em distinguir quatro funções básicas, a serem respeitadas na projeção, no planejamento e na reforma urbanos: a função de habitar, a função de trabalhar, a função de circular e a função do lazer. Ao divulgar esses princípios, com os quais se identificava, Le Corbusier pode ser considerado o fundador do moderno urbanismo como disciplina. Num plano de estudos chamado “Manière de penser l'urbanisme”, que consta como anexo do livro de mesmo nome, Le Corbusier sugere organizar o estudo da disciplina em oito seções: I – Ideias gerais e síntese; II – A noção do “saber habitar”, na escola; III – A normalização do espaço construído (estudo dos equipamentos domésticos, da construção do alojamento e da industrialização do alojamento); IV – Estudo da saúde; V – Estudo do trabalho (subdividido em agricultura e indústria); VI – Estudo do folclore; VII – Financiamento e legislação; e VIII – Empresa. Essas seções revelam o núcleo da disciplina e o centro das preocupações urbanísticas que autoridades, professores e alunos devem ter em mente ao institucionalizar um curso para a nova disciplina. Em sua introdução à antologia de textos sobre o urbanismo. No Brasil, Le Corbusier desenvolveu esboços de remodelação para a cidade São Paulo e Rio de Janeiro, propôs pilotis de 30 m de altura, que permetiriam erguer “novas cidades”, sem interferir no tecido urbano das velhas cidades preexistentes. Persistiriam assim, lado a lado, dois organismos urbanos, quase sem interconexão. Em Montevidéu, seriam edifícios que, partindo do centro, seguiriam perpendicular e retilineamente até o mar. Algo semelhante foi proposto para São Paulo. No Rio, fez suas galerias e viadutos acompanharem a orla marítima recortada das praias. 7 Qual o sentido que Barbara Freitag dá para “a cidade policêntrica”, no capítulo que trata sobre “A “megalopolização” das cidades latino-americanas na virada do milênio. (1 crédito). Uma das sugestões que vêm ganhando peso entre teóricos, politicos, urbanistas e ecólogos preocupados com a questão urbana é a transformação da megalópole em cidade palirêntrim. A exemplo da divisão de células-tronco em novas células, a cidade policêntrica cria centros urbanos menores e cada vez mais autônomos, capazes de recuperar os valores das cidades e metrópoles (ainda sustentáveis), em que novas formas de exercício de cidadania e solidariedade tenham espaço. Muitos desses pensadores insinuam que, sem essas conquistas, a sustentabilidade, a democracia e os direitos humanos estariam em risco. 8 A proposta tipológica de Saskia Sassen no âmbito das Teorias da cidade serve-nos para entender sobre a reorientação geográfica dos fluxos de capital financeiro do eixo norte-sul para o leste-oeste, alterando os efeitos sobre a cidade. Como é a proposta tipológica de cidades feita por Sassen? (1 crédito). O “ideal” para a contemporaneidade marcada pela economia global seria a cidade “global”, mas esse ideal não pode ser atingido por todas as cidades, porque nem todas pertencem ao grupo seleto das “escolhidas” para usufruir as riquezas produzidas para uma minoria de extremamente ricos. Também é preciso ressaltar que essa hierarquia não é estática. A dinâmica econômica pode destronar uma cidade das posições mais elevadas, de um dia para o outro, e desterrá-la, desqualificá- la de vencedora para perdedora. Nesse modelo econômico, tudo é possível. Na tipologia Sassen, as cidades globais assumem, por vezes, importância superior à do próprio Estado-Nação, que perde importância. Em Global Networks. Linked cities (2002), Sassen apresenta as idéias de 12 colaboradores, que se debruçaram sobre o tema das cidades acopladas em rede, para atender às exigências da economia mundial.A coletânea está dividida em três partes fundamentais: ' “A arquitetura urbana das redes globais”, dedicada ao estudo das novas tecnologias, formas de comunicação, hierarquias de dominação e redes de serviços; ' “Regiões fronteiriças”, em que ganham atenção duas megacidades latino-americanas (México e São Paulo), uma região islâmica (o corredor de Hormuz, entre o Irã e os Emirados Árabes) e a cidade de Beirute; ' “Nós de redes”, em que ganham espaço as apresentações de autores que discutem conceitos novos, como cidades de intermediação e retransmissão de fluxos de capital e de informação, como Amsterdã, Buenos Aires, Xangai e Hongcong 9 No quinto capítulo da obra Teorias da cidade: a recepção no Brasil, Freitag relaciona a influência das escolas analisadas na produção urbana brasileira, como os casos da Escola Francesa com Haussmann e Le Corbusier. Cite algumas das influências de Haussmann e Le Corbusier para algumas cidades do Brasil. (1 crédito). No que se refere ao grande reformador de Paris, o barão de Haussmann, vimos que o Brasil imitou seus procedimentos de modernização em pelo menos três grandes cidades brasileiras. O Rio de janeiro foi renovado e sanado por Pereira Passos no governo de Rodrigues Alves (1905—1910). O então prefeito do Rio recebeu a alcunha de “Bota—Abaixo”, por ter derrubado boa parte da herança colonial no centro do Rio de janeiro, abrindo a avenida Central, hoje Rio Branco, entre várias outras reforma de iluminação e contenção das faixas litorâneas do centro a zona sul, de Copacabana ao futuro Leblon. Sob a administração do prefeito Carlos Sampaio (1920—1922), houve uma segunda leva de modernização, que resultou no desmonte do morro do Castelo, local de residência de moradores cariocas pobres. O morro foi totalmente arrasado e lentamente urbanizado. Entre 1926 e 1930, a esplanada do Castelo e sua ocupação (agora com terrenos altamente valorizados) recebem atenção especial do Plano Agache (Leme 1999). Também em São Paulo houve, nos anos 1940, uma reforma urbana que acabou com a circulação dos bondes (e trens interurbanos), para abrir largas avenidas, túneis, subterrâneos e elevados, a Em de dar conta do crescente trânsito motorizado da cidade. O auge dessa reforma ocorreu no período do prefeito Prestes Maia, que governou a cidade entre 1938 e 1945. Sem dúvida alguma, Le Corbusier exerceu a maior influência sobre uma jovem geração de urbanistas e arquitetos que estavam se formando na década de 1930. É bom lembrar que ele esteve pela primeira vez no Brasil em 1929, ocasião em que proferiu várias conferências em universidades brasileiras, especialmente cariocas, deixando suas sementes no Rio. Lúcio Costa conheceu—o nessa ocasião. Como diretor da Academia de Belas-Artes, foi encarregado pelo ministro Capanema de reformular os currículos das escolas de arte, arquitetura e urbanismo e estabelecer contatos com Le Corbusier, para desenvolver um projeto para o novo prédio do MEC no Rio. O arquiteto suíço fez vários croquis para reestruturar o Rio de janeiro, desde a orla até o centro da cidade, esboços que não foram aproveitados. No caso do prédio do MEC, Lúcio Costa consultou Le Corbusier, para saber se estava autorizado a aproveitar o primeiro esboço para a construção, mas como o projeto fora elaborado para um terreno muito maior do que o disponível, com vista para o mar, o escritório de Lúcio Costa fez novo projeto, efetivamente concretizado e que constitui um marco da arquitetura moderna brasileira (Costa 1995, p. 14455). Esse modelo de edifício “faria escola” no Brasil e foi aquele utilizado para os prédios que, no futuro, comporiam as superquadras do Plano Piloto de Brasília. Segundo Peter Hall, Brasília pode ser considerada um “quase-projeto" corbusieriano, pois concretiza boa parte dos princípios consubstanciadas na Carta de Atena. 10 Na Escola Anglo-saxônica do Reino Unido, a autora propõe a análise da escola inglesa em três linhas de entendimento: as teorias da cidade utópica, cidade jardim e cidade cultural. De Peter Hall, nome importante para os nossos estudos, põe em evidência as manifestações culturais das cidades. A partir do texto, identifique quais os principais fundamentos para a cidade jardim (cite os teóricos) e cidade cultural (cite os teóricos). (2 créditos) A cidade-jardim é um modelo de cidade concebido por Ebenezer Howard, no final do século XIX, consistindo em uma comunidade autônoma cercada por um cinturão verde num meio-termo entre campo e cidade. A ideia era aproveitar as vantagens do campo eliminando as desvantagens da grande cidade, mas nem sempre pode ser um sinônimo de ecocidade. Howard, Geddes e Unwin são conterrâneos e contemporâneos e pertencem à sociedade industrial, cuja organização, produção e poluição criava problemas urbanos que clamavam por uma solução. Viram na “cidade-jardim” a forma urbana adequada para resolver boa parte desses problemas. As cidades- jardim antecipam uma preocupação ecológica e social, que fez escola na Inglaterra e na Europa. Encontramos nas superquadras de Brasília a incorporação de muitos elementos dessa proposta de bem-viver em cidades modernas. Peter Hall, lembra-nos a dimensão cultural da cidade. Como tenta mostrar em Cities in civilization, são as criações culturais dos homens em sociedade que se cristalizam em suas cidades, tornando-as únicas. Hall procura sintetizar em seu vasto estudo a contribuição cultural de cidades históricas específicas para tornar a humanidade mais rica, mais refinada, mais cintilante. Sua “flânerie cultural” pelas cidades nos leva da filosofia de Atenas à música de Viena, do teatro de Londres a pintura em Paris, do rock-and-roll de Memphis à informática do Silicon Valley. Trata-se de uma bela viagem, da qual retornamos enriquecidos, mais atentos para as belezas que a espécie humana foi capaz de produzir que para as ruínas e destruições das quais Benjamin tentou nos tornar conscientes. 11 Cite algumas das influências de Alan Touraine e Manuel Castells nas temáticas urbanas brasileiras. (1 créditos). Alan Toutaine foi o pensador que introduziu a questão dos movimentos urbanos na discussão brasileira. No Salão do Livro de 1998, em que o Brasil foi o país tema, organizou várias mesas de debates, entre elas, aquela voltada para as questões urbanas brasileiras (coordenada por Ignacy Sachs, excelente conhecedor do Brasil). https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecocidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Campo https://pt.wikipedia.org/wiki/Verde https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunidade https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XIX https://pt.wikipedia.org/wiki/Ebenezer_Howard Para os fins da temática urbana, é mais importante analisar a obra dedicada aos movimentos sociais (da segunda etapa de sua produção). Nesse contexto, é importante analisar os trabalhos Movimentos Sociais de hoje: Atores e Analistas (1990) e Atores sociais e sistemas políticos na América Latina(1989). Foi nesses trabalhos que se inspiraram sociólogos brasileiros, de Fernando Henrique Cardoso a Safira Ammann, Irlys Barreira, Benício Schmidt, entre outros, para estudar os movimentos urbanos e a construção da cidadania nas cidades brasileiras na segunda metade do século XX. Castells, Ainda na Europa, publicou A questão urbana (1970), livro claramente marxista, no qual incorporou boa parte de sua tese de doutorado. Seu estudo dos movimentos urbanos dentro do “modo capitalista de produção” foi o receituário da maior parte dos estudos urbanos no Brasil e marcou a pesquisa empírica nas cidades brasileiras até muito recentemente, identificada com movimentos sociais urbanos, conflitos sociais nas periferias e violência.6 A questão urbana, que tornou Castells famoso, virou um bertseller na época de seu lançamento. Teve 22 edições e traduções parasete idiomas. Com isso, passou a ser uma espécie de “cartilha” para sociólogos, urbanistas (: planejadores urbanos, pelo menos na América Latina. O livro está dividido em quatro partes: 1 —- O processo histórico da urbanização; II —— A ideologia urbana; III — A estrutura urbana; IV — A política urbana. Na conclusão, o autor apresenta “teses exploratórias sobre a questão urbana”. A organização da obra parece dar—lhe unidade e coerência, contudo, as diferentes partes que o compõem, contendo cada uma vários capítulos, são o somatório de conferências e teses (incluindo parte de sua tese de doutorado) soltas, elaboradas para diferentes fins e não como partes de um livro projetado. 12 Freitag faz uma diferenciação teórica entre cidade global, megalópole e metrópole para justificar a sua teoria de megalopolização. Qual o conceito definido pela autora para cidade global? Cite exemplos de cidades globais. (2 créditos). O conceito de cidade global, criado por Sassen (1991), para caracterizar Londres, Nova York e Tóquio na virada do milênio, refere-se a um tipo de cidade grande, sede do capital financeiro: As cidades globais são sítios fundamentais para os meios modernos de serviços e telecomunicações, necessárias para efetivar a gestão das operações econômicas globais. Elas também tendem a concentrar as sedes de firmas, especialmente firmas que operam em mais de um país. (Sassen 1994, p. 19) São cidades equipadas com alta tecnologia para garantir a globalização da economia. Pressupõem a existência de aeroportos e helioportos funcionais, trânsito fluido e fácil, equipamentos de comunicação de última geração (telefone celular, fax, Internet, (e-mails, instalações a cabo com fibra ótica, satélites etc.). Bancos, bolsas, instituições de crédito e seguros, hotéis de luxo destinados a altos funcionários de empresas multinacionais e agentes de governos estão equipados com serviços adequados (mão—de— obra treinada) para garantir a movimentação do capital financeiro, o núcleo duro da economia moderna e da sociedade informacional (Castells 1998—1999) Ao conceito de megalópole contrapõem-se os de metrópole e cidade global, nem sempre utilizados no sentido preciso que aqui proponho (Freitag 2002a). O conceito de metrópole refere-se a uma cidade grande com tradição histórica muitas vezes centenária (Berlim) ou milenar (Lisboa, Roma), cuja população gira em torno de 5 milhões de habitantes Na maioria dos casos, são capitais dos Estados que emergiram no final do século XIX, mas que já existiam como núcleos urbanos (sede do príncipe, cidade portuária ou comercial, cidade de produção e consumo, centro de cultura, entre outras funções) muitas vezes antes da Idade Média (Paris). Em sua maioria, situam-se no hemisfério norte e reúnem enormes riquezas materiais e simbólicas, tornando-se alvos de levas de turistas e centros de preservação de memória material e imaterial. Graças à sua capacidade renovadora (na produção cultural) e tecnológica (nos transportes), democrática (autogestão administrativa) e a uma política imigratória dosada (controles severos para entrada de povos refugiados e migrantes), as metrópoles conseguiram proteger-se das “invasões bárbaras", ou seja, das levas migratórias descontrolada que assolaram as megalópoles nas últimas décadas. Graças a essas políticas de contenção demográfica, as metrópoles foram poupadas da destruição de seu tecido urbano e de suas tradições culturais. 13 Qual a contribuição de Henry Lefebvre para os estudos do Direito à Cidade? Quais os principais fundamentos do seu pensamento para conceituar a cidade? (2 créditos). Nos anos 1970, Henry Lefebvre abordou a questão urbana com base em uma reflexão sobre a ocupação do espaço. Em pelo menos três de suas obras — O direito à cidade, 1968; A revolução urbana, 1970; A produção do espaço, 1974 —, Lefebvre estuda a expansão urbana da sociedade pós- industrial capitalista, que denuncia como uma nova utopia. Faz um balanço negativo dessa urbanização, muitas vezes idealizada como forma de progresso, e mostra suas formas desordenadas, resultantes dos interesses a ela associados. Em sua crítica, Lefebvre ressalta a incapacidade das autoridades públicas de manterem a ordem nos grandes centros urbanos e aponta para as regras que decompõem a “urbanidade”, Tenta opor a essa tendência de interpretação uma reflexão que dê conta do hábitat, da totalidade do fato urbano e da realidade da vida cotidiana? Em O direito à cidade, Lefebvre defende o direito do morador urbano à cidadania. Esse direito é interpretado como um direito complementar ao direito da diferença e ao direito de acesso democrático à informação. 14 Ebenezer Howard foi o inventor da cidade-jardim; Patrick Geddes e Raymond Unwin desenvolveram a ideia da cidade-jardim como forma adequada para resolver boa parte dos problemas urbanos. Como era o modelo de cidade-jardim proposto por esses teóricos? (2 créditos). Patrick Geddes implementou a idéia da cidade-jardim em bairros de Londres (e outras cidades), levando em consideração a população residente, o traçado das ruas etc., sendo mais pragmático que teórico, mais multidisciplinar que os técnicos especialistas. Vale a pena ler o capítulo “City survey for town planning purposes of municipalities and governments” (Geddes 1997). O lema do autor, “pesquisar exaustivamente, antes de planejar”, uma vez seguido, empregaria um batalhão de sociólogos profissionais, hoje desempregados ou empregados fora do campo de sua formação e especialização profissional. Esperemos que, um dia, esse lema se transforme em prática cotidiana nos gabinetes de presidentes, governadores e prefeitos dentro e fora do Brasil. Unwin foi o verdadeiro realizador do modelo das cidades-jardim de Ebenezer Howard, pois fez os planos para o centro urbano de Letchwortb. Unwin foi contratado, em 1903, pelo próprio Howard, para desenvolver os planos e construir a cidade. Howard havia criado uma companhia de sócios, que comprou o terreno nas imediações de Londres para assentar 30 mil moradores e encarregou Unwin e Parker de desenvolver os planos. Apesar de enormes contratempos e dificuldades relatadas em detalhe por Peter Hall em Cirio gf tomorrow, Letchworth foi construída. Unwin O livro mais importante de Unwin intitula—se Town planning in pran'z're. Foi publicado em “1909 e reeditado em edição fac- símile em 1993 pela Princeton University Press. Os desenhos urbanísticos de Unwin contêm ruas curvas, que tentam evitar a superpopulação, prevêem espaços para amplos jardins e espaços abertos, moita área verde, passeios para pedestres. Para que haja interação humana, o discípulo de Howard criou ruas de mão única e jardins quadrangulares (reminiscência, dos conventos), “onde as pessoas, pudessem se encontrar, com centros comunitários, criados para esse fim. Seus planos e realizações revelam forte influência do modelo das cidades medievais, sem negligenciar a tradição humanística, advinda da formação Clássica greco-romana. Seu modelo de cidade distinguia-se, contudo, dessa tradição do passado, privilegiando as classes operárias e valorizando a residência individual do trabalhador.
Compartilhar