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IN TR O D U ÇÃ O À F IL O SO FI A 2020 - 2022 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 1. Do Mito à Filosofia Conheça as origens da filosofia. Esta subárea é composta pela apostila: 3www.biologiatotal.com.br DO MITO À FILOSOFIA Os mitos são compostos por crenças e histórias antigas, transmitidas de geração em geração, que são aceitas por um determinado povo como explicação da origem do mundo e deles próprios. CONCEITUANDO O MITO Desde o momento em que os seres humanos desenvolveram a comunicação, seja através da fala ou através de desenhos na pedra, foram elaboradas explicações para a origem de tudo. Estas explicações, que passaremos a chamar de mito, eram histórias ocorridas em um tempo longínquo e que envolviam os deuses. Estas histórias não poderiam ser provadas pela experiência e eram fundadas em conjecturas. Uma das maiores referências que possuímos para o conhecimento dos Mitos dos gregos antigos, é a obra Teogonia, escrita pelo poeta Hesíodo (séculos VIII-VII a.C). Nela, o autor expõe a origem dos deuses ao mesmo tempo em que descreve a formação do Universo. Existe uma divisão entre a mitologia, a cosmogonia e a teogonia. A cosmogonia relata a ordenação do cosmo com base a composição de forças divinas, pretendendo justificar assim, a ordem do mundo em pressupostos sobrenaturais, ou seja, é o que tenta explicar as origens, como por exemplo: de onde viemos, do que tudo é formado. A teogonia é uma espécie de genealogia que narra os graus de parentesco entre deuses e as relações que estabelecem entre si, cumprindo, assim, a função de revelar a origem e a geração dos seres, ou seja, explica os fenômenos sociais a partir dos mitos e as relações entre os deuses. Todos os povos antigos do mundo possuem os seus próprios mitos. E isto não é algo que tenha necessariamente desaparecido com o tempo, pois os mitos são transmitidos de geração em geração. O povo brasileiro, por exemplo, possui os seus próprios mitos de fundação, como é o caso da ideia da mistura das 3 raças, que seriam os portugueses, indígenas e africanos. Enquanto mito, esta ideia, que se refere a um tempo longínquo, cumpre a função de explicar a origem e singularidade da população do Brasil, mas ela não resiste à uma análise racional mais rigorosa. No entanto, ela faz parte de uma tradição, muitas vezes religiosa, pois é transmitida às novas gerações. E esta é uma outra característica do pensamento mitológico. Guarde Isso! 4 D o M ito à F ilo so fia A FILOSOFIA ENTRA EM CENA A Escola de Atenas, pintura de Rafael Sanzio. Apesar de algumas controvérsias, tradicionalmente afirma-se que a filosofia nasceu na Grécia com as reflexões dos filósofos pré-socráticos. Trataremos deles mais adiante em outra aula. O que precisamos entender agora é o que diferencia o mito da filosofia. Em primeiro lugar, a palavra filosofia significa amor à sabedoria. Ainda que não explique de fato o que significa a filosofia, nos ajuda a entender que o filósofo é alguém que se dedica a pensar sobre os fundamentos e a essência de todas as coisas. O filósofo não aceita passivamente o que vem da tradição, mas faz o seu próprio percurso de pensamento para chegar a novas conclusões. Por este motivo, toda a história da filosofia no ocidente, é formada por indivíduos que iniciando como discípulos de algum grande filósofo, desenvolveram os seus próprios sistemas filosóficos. Sendo assim, a contestação faz parte da filosofia, e foi assim que surgiram as diferentes tendências dentro da filosofia. E mais, a Filosofia não está calcada em simples conjecturas, mas em observações e análises racionais. Assim, existe na Filosofia um elemento de experiência e um elemento de racionalidade que são fundamentais ao próprio fazer filosófico. Ao longo da História, um ou outro será mais enfatizado dependendo do filósofo. Tome Nota! X MITO: Tradicional Religioso Antigo Conjectura FILOSOFIA: Contestador Racional Inovador Experiência 5www.biologiatotal.com.br D o M ito à F ilo so fiaA IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA HOJE Sem dúvida, a Filosofia é de extrema importância em qualquer sociedade. Principalmente na época em que vivemos, onde a aceita-se qualquer notícia repassada nas redes sociais, sem a devida análise e reflexão Se aceitarmos tudo o que nos é transmitido sem questionar ou se nos basearmos no “achismo” (conjecturas) para nos posicionarmos enquanto cidadãos, estaremos nos comportando como os humanos primitivos que viviam num mundo repleto de mitologias. A Filosofia enquanto atividade de pensamento, é tão importante que podemos afirmar, sem medo de estarmos exagerando, que a ciência deu os seus primeiros passos dentro da Filosofia. Um bom exemplo disso é que a principal obra de Isaac Newton, pai da Física moderna, chamava-se em português Princípios Matemáticos de Filosofia Natural. Evidentemente, a Filosofia e a Ciência estão em campos distintos atualmente. Mas até a Era Moderna não havia uma distinção clara entre as duas. Mas certamente, ainda hoje, a Filosofia está mais próxima da ciência do que do Mito. ANOTAÇÕES http://www.biologiatotal.com.br Através dos cursos FI LO SO FI A A N TI G A 2020 - 2022 FILOSOFIA ANTIGA 1. Os Pré-Socráticos 2. Sócrates e os Sofistas 3. Platão 4. Aristóteles 5. Filosofia Helenística Conheça os clássicos da idade antiga. Esta subárea é composta pelas apostilas: 3www.biologiatotal.com.br OS PRÉ-SOCRÁTICOS ORIGEM DO NOME PRÉ-SOCRÁTICOS Convencionou-se chamar de pré-socráticos a todos os filósofos gregos anteriores a Sócrates. A época em que esses filósofos viveram foi entre os séculos VII e V a.C. Mas além do fato de terem vivido antes de Sócrates, podemos dizer que os filósofos pré- socráticos possuíam características em comum. Basicamente, os pré-socráticos refletiam sobre o princípio originador do Universo. Este princípio, chamado de Arché, em grego, foi primeiramente teorizado por Tales de Mileto a partir das suas observações da própria natureza, chamada em grego de Physis. Esse conceito é conhecido como cosmologia, ou seja, o estudo do cosmo. Além de Tales, que como sabemos, deu contribuições importantes a outros setores do conhecimento, como a Matemática, vide o Teorema de Tales, temos o conhecimento de muitos outros filósofos pré-socráticos e suas ideias. Vejamos abaixo os nomes de alguns deles: f Anaximandro de Mileto f Anaxímenes de Mileto f Xenófanes de Cólofon f Parmênides de Eléia f Heráclito de Éfeso f Demócrito de Abdera f Pitágoras de Samos É interessante notarmos que estes filósofos nasceram em cidades que eram colônias gregas, ou seja, estavam fora do território original que conhecemos hoje como Grécia. Isso pode ter permitido a eles uma liberdade maior para se desapegarem das tradições, fora o contato com outras culturas. E como vimos anteriormente, a filosofia não combina com a tradição. Vamos conhecer agora algumas das ideias dos filósofos pré-socráticos que foram mencionados acima. 4 O s Pr é- So cr át ic os TALES DE MILETO As informações que possuímos sobre Tales vêm através de outras pessoas, como o filósofo Aristóteles. Aliás, é através de Aristóteles que temos a informação de que Tales dizia que todas as coisas vêm da água, e que ele chegou à essa conclusão observando que no mundo os alimentos são úmidos Através dessa simples descrição de Aristóteles, podemos comprovar que a Filosofia nasceu de fato da observação aliada à racionalidade, como foi mencionado em nossa aula anterior. ANAXIMANDRO DE MILETO Este filósofo era discípulo de Tales, e como seu mestre ele também buscou entender qual era a Arché de todas as coisas. Mas em vez de afirmar com Tales que este princípio era a água ou qualquer outro elemento da natureza, Anaximandro o denominou de Ápeiron, que significa “ilimitado”, sem princípio e sem fim. É interessante que esta noção é bastante próxima de alguns conceitos que foram posteriormente absorvidos pelas religiões monoteístas. Basta substituirmos Ápeironpor Deus e comprovaremos isso. ANAXÍMENES DE MILETO Mais um representante de Mileto, mas dessa vez discípulo de Anaximandro. E da mesma forma que Tales, Anaxímenes buscou na própria natureza o elemento originador de todas as coisas. O elemento escolhido por ele foi o ar. Segundo o filósofo, tanto a condensação quanto a rarefação do ar são o mecanismo pelo qual as coisas são originadas. Ao escolher o ar como Arché, Anaxímenes se colocou a meio termo entre a abstração do Ápeiron e a materialidade da Água. XENÓFANES DE CÓLOFON As informações que temos a respeito das ideias de Xenófanes vão um pouco além das suas teorias sobre a Arché e a Physis. Especialmente em relação à ideia de deuses antropomórficos, Xenófanes foi bem crítico. Ele considerava que as pessoas criavam os deuses de acordo com a sua própria im- agem e comportamento. Xenófanes foi um crítico ferrenho daquilo que chamou de comportamento luxurioso e imoral dos deuses da mitologia grega. Ele preferia dizer que “Tudo é o Um e o Um é Deus”. 5www.biologiatotal.com.br O s Pr é- So cr át ic osPARMÊNIDES DE ELÉIA Este filósofo possuía um pensamento bem destacado e é atribuído a ele a fundação da Ontologia (ciência do ser). É atribuído a Parmênides a célebre frase “O ser é e o não-ser não é”. Apesar da aparente simplicidade, as implicações da filosofia de Parmênides têm consequências interessantes. Parmênides foi o primeiro filósofo a distinguir entre verdade (aletheia) e opinião (doxa). Ele acreditava na unidade e imobilidade do Ser (o Ser é), mas ao mesmo tempo considerava o mundo sensível, ou tudo o que muda, como uma ilusão (o não-ser não é). HERÁCLITO DE ÉFESO O pensamento de Heráclito introduziu a noção de devir na filosofia. O devir é a ideia de que tudo flui, tudo é movimento. E mais do que isso, Heráclito acreditava que todo movimento se dava pelo conflito de forças opostas. Mais tarde, estas ideias irão influenciar aquilo que ficou conhecido na Era Contemporânea como Dialética. DEMÓCRITO DE ABDERA O filósofo Demócrito é considerado o pai da teoria atômica. É dele a ideia do átomo, que é uma partícula indivisível que compõe todas as coisas do Universo. Assim como os outros filósofos antes dele e depois, Demócrito teorizou sobre a Arché. Mas para ele os átomos não estavam parados, mas sempre em movimento, colidindo uns com os outros e formando novos tipos de matérias. Dependendo do quanto os átomos estivessem unidos uns aos outros, a matéria poderia adquirir uma natureza sólida, gasosa ou líquida. PITÁGORAS DE SAMOS Finalmente, chegamos à Pitágoras, que foi um dos mais emblemáticos filósofos entre os Pré-Socráticos, fundador da Escola Pitagórica de Filosofia, que mais do que uma escola do pensamento, acabou se tornando um grupo místico e esotérico. Para Pitágoras, a matemática explica o Universo e, por esse motivo, ele dizia que tudo vinha do Um. Outra ideia bem peculiar a Pitágoras é a metempsicose, também chamada de transmigração das almas. http://www.biologiatotal.com.br 6 O s Pr é- So cr át ic os ANOTAÇÕES RELEVÂNCIA ATUAL DOS PRÉ-SOCRÁTICOS O pensamento dos Pré-Socráticos continua relevante, mesmo após mais de 2.500 anos. Várias das suas reflexões e insights mostraram-se verdadeiros e lógicos. Tomemos como exemplo a teoria atomista de Demócrito, que é incrivelmente atual. Por outro lado, as ideias de Heráclito formam a espinha dorsal do pensamento de um dos filósofos mais importantes do século 19: Hegel. E não podemos esquecer Pitágoras, que pode ser considerado o ancestral de vários movimentos new age e sociedades secretas que existem hoje. 1www.biologiatotal.com.br SÓCRATES E OS SOFISTAS Foi a partir de Sócrates que a filosofia ocidental tomou novos rumos. Como foi dito na aula anterior, nós costumamos dividir a história da filosofia no ocidente em antes e depois de Sócrates. Mas antes de explorarmos as ideias deste filósofo, vamos aprender um pouco mais sobre a vida dele. QUEM FOI SÓCRATES? Antes de mais nada, devemos ter em mente que Sócrates não deixou nenhum escrito. As informações que temos a respeito dele e das suas ideias vieram através de dois de seus discípulos Platão e Xenofonte, e através das peças teatrais de Aristófanes, que foi contemporâneo do filósofo. Assim, sabemos que Sócrates nasceu nas imediações de Atenas em torno do ano 469 a.C. Seu pai era escultor e sua mãe uma parteira. A propósito, o ofício da mãe foi responsável por despertar em Sócrates a sua vocação para a filosofia. Conta-se que após testemunhar a mãe realizar um parto, Sócrates realizou que ele também tinha a missão de ajudar as pessoas a trazerem à luz as ideias que já estavam dentro delas. A MAIÊUTICA Em consequência, o seu método de filosofar de Sócrates ficou conhecido pelo nome de maiêutica, que pode ser traduzido do grego como “parteira”. Assim, o filósofo ficou conhecido como “parteiro” das ideias, por dar luz a elas. Não se sabe ao certo qual a foi a sua profissão, o que se sabe é que Sócrates chegou a servir o exército de Atenas em várias batalhas, além de ter aprendido a profissão do pai. A morte de Sócrates, em 399 a.C., foi resultado de um julgamento no qual foi condenado a morrer envenenado. Este caso foi relatado em detalhes no diálogo Apologia de Sócrates, escrito pelo seu discípulo Platão. Escrever em diálogos, foi a forma que Platão transmitiu as ideias do seu mestre Sócrates. Os diálogos condiziam perfeitamente com o método da maiêutica, onde através de uma série de perguntas e questionamentos Sócrates levava seu interlocutor a concluir que de fato nada sabia. Busto de Sócrates 2 Só cr at es e o s So fis ta s Por esse motivo uma das frases mais famosas atribuídas a Sócrates é a seguinte: SÓ SEI QUE NADA SEI E OS SOFISTAS? Para simplificar, podemos dizer que os sofistas representavam tudo aquilo que Sócrates condenava no que diz respeito à educação e à busca do conhecimento. Para começar, os sofistas cobravam para ensinar, o que ia contra os princípios de Sócrates, pois não poderia vender algo que essa pessoa já possuía, neste caso, o conhecimento. Mas afinal, o que de onde vieram os sofistas e o que eles faziam? Os sofistas eram grupos de pessoas que, no período de Sócrates, iam de cidade em cidade realizando discursos públicos com o objetivo de atrair estudantes. Assim, eles ganhavam a vida ensinando sobre diversos assuntos em troca de remuneração. Aos nossos olhos não há nada de mal nisso, pois qualquer professor atualmente é remunerado para ensinar aquilo que sabe. Mas tudo o que sabemos sobre os sofistas nos foi legado pelos seus adversários, como Sócrates e Platão. E para eles, o conhecimento não era exatamente ensinado, e nem poderia ser cobrar. Outra crítica, essa um pouco mais profunda, é que os sofistas não estavam preocupados com a verdade nem com a essência das coisas. Eles lidariam somente com o aspecto externo delas. Dito de forma mais simples, os sofistas eram especializados na arte de fazer valer as suas ideias e opiniões através da construção de belos discursos. Por esse motivo, o estudo da escola sofística é interessante principalmente para aqueles que estudam a oratória e a retórica. Essa característica sofística - de não se interessar por chegar à Verdade última de todas as coisas - está exemplificada no célebre pensamento do sofista Protágoras: O HOMEM É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS Por esse motivo, os sofistas também foram muitas vezes acusados de relativismo, ou seja, acreditar na verdade como aquilo que eles percebiam como verdade, independentemente da opinião e conclusões obtidas por outros estudiosos da época. Busto de Protágoras de Abdera 3www.biologiatotal.com.br Só cr at es e o s So fis ta sE não é difícil chegarmos à essa conclusão, pois da mesma forma que os homens são variados, as ideias também são. Apesar das críticas de Sócrates e Platão, os sofistas são importantes no sentido de que as suas ideias se adaptam perfeitamenteao mundo globalizado e multicultural no qual vivemos. Uma das consequências de um pensamento como o de Platão, que considera existir uma Verdade última para todas as coisas, é desconsiderar a diversidade da experiência humana, o que pode levar a intolerâncias de toda espécie. ANOTAÇÕES http://www.biologiatotal.com.br 1www.biologiatotal.com.brwww.biologiatotal.com.br PLATÃO QUEM FOI PLATÃO? Platão foi um dos mais conhecidos discípulos de Sócrates, e responsável por desenvolver a filosofia socrática numa nova direção. O ateniense Platão viveu num período muito especial da história grega, entre 428 a.C. e 348 a.C. Sua vida coincide com a fase mais emblemática da democracia ateniense, logo após a morte de Péricles e pouco antes das conquistas de Alexandre, o Grande. Não obstante, em sua filosofia Platão não mostra apreço nem pelos políticos da sua época e nem pela democracia. E isto apesar de ele pertencer a uma família que possuía ligações com políticos da época, como era o caso da sua mãe, uma descendente de Sólon. Antes de conhecer Sócrates, Platão já havia sido influenciado, ainda que indiretamente, pela filosofia dos pré-socráticos Parmênides de Eléia e Heráclito de Éfeso. Embora os dois esposassem pensamentos diametralmente opostos (o primeiro defende o imobilismo e o segundo o fluxo), Platão tentou realizar uma síntese entre ambos mais tarde. Estátua de Platão localizada em frente à Universidade de Atenas, Grécia. 2 Pl at ão Daquele que foi considerado “o mais sábio e o mais justo dos homens”, Sócrates, Platão absorveu a sua preocupação em não aceitar as opiniões (doxa) ou as tradições. Assim, Platão interessava-se em buscar o fundamento da realidade. Após a condenação de Sócrates, Platão ficou ainda mais decepcionado com a política e viajou por várias cidades e colônias gregas (Magna Grécia). No sul da Itália teve contato com filósofos pitagóricos e com políticos locais. É nessa época que escreve seu clássico sobre política, A República. Ao mesmo tempo, Platão dedica-se a escrever os Diálogos Socráticos, que retratam o seu antigo mestre em discussões filosóficas sobre a virtude, o belo, a existência da alma etc. Em outros diálogos mais tardios, Platão coloca mais de si e discute temas como a Ética e a Política. MUNDO SENSÍVEL E MUNDO INTELIGÍVEL Talvez este seja um dos aspectos da filosofia platônica que mais chama a atenção. Estas ideias já se encontram plenamente desenvolvidas em sua obra A República, onde Platão descreve uma cidade ideal organizada a partir de princípios filosóficos e governada pelo chamado rei-filósofo. Na República encontramos várias ideias radicais, apesar de fundamentadas racionalmente, das quais encontramos ecos nos sistemas totalitaristas de governo que surgiram milhares de anos após Platão - o fascismo e o comunismo. Mas o que nos interessa aqui nesse momento é compreender o que Platão entendia por mundo sensível e mundo inteligível, e como os dois estavam relacionados. Basicamente, o filósofo fornece dois exemplos, e utilizaremos aqui o mais conhecido de todos, que é a alegoria da caverna, que é descrita no Livro VII da sua obra A República. Observe a imagem abaixo que foi baseada nessa alegoria, também conhecida como mito da caverna. Estátua de Parmênides. Pintura de Heráclito. 3www.biologiatotal.com.brwww.biologiatotal.com.br Pl at ão A imagem é meramente ilustrativa e foi levemente baseada no livro de Platão. Entretanto, podemos utilizá-la para demonstrar o que Platão entendia por mundo sensível e mundo inteligível. O homem que está sentado não faz ideia de que a sombra do pombo refletida na parede da caverna é somente uma sombra de um objeto real. O fato dele estar de costas e virado somente para a parede, o impede de ver que, na realidade, existe um outro homem atrás dele, que segura uma haste com um modelo de pomba na ponta. Segundo Platão, o mundo no qual vivemos é esta caverna. E estamos presos a ele. Isso nos impede de compreendermos que tudo o que vemos e experimentamos com nossos sentidos, e daí vai o conceito mundo sensível, são na verdade sombras de um mundo real que pode ser atingido pelo pensamento, daí o conceito de mundo inteligível, que também é conhecido como mundo das ideias. A partir disso, Platão formulou uma regra geral para diferenciar o verdadeiro conhecimento daquele que era falso. Isso ficou conhecido como Doxa (opinião) e Episteme (ciência). A doxa era como as sombras da caverna e, portanto, era um tipo de conhecimento imperfeito. Já a episteme era o verdadeiro conhecimento, que podemos chamar também de ciência. Mundo Sensível Mundo Inteligível Doxa Conhecimento Imperfeito Episteme Conhecimento Perfeito 4 Pl at ão Ainda de acordo com Platão, a alma humana traria impressa esse conhecimento a respeito do mundo das ideias. Seguindo esse raciocínio, o processo de conhecimento seria na realidade um processo de re-conhecer, ou recuperar a verdade. Esse processo é conhecido na filosofia como reminiscência ou anamnese. ÉTICA E POLÍTICA Um outro aspecto muito importante do pensamento de Platão, são as suas ideias sobre Ética e Política. Evidentemente, tanto a visão ética quanto política do filósofo estava baseada na sua concepção de justiça. Se para os sofistas, os quais Platão por várias vezes criticou em suas obras, a justiça era uma questão de conveniência, no pensamento platônico a justiça é a finalidade da vida, ou sob outra perspectiva, ela é o resumo de todas as virtudes. Desta forma, a ética platônica é fundamentada na ideia de justiça. Além do mais, o filósofo acreditava que as virtudes podiam ser ensinadas. Ao longo de sua obra A República, ele propõe uma série de medidas que um Estado poderia tomar para que tivesse cidadãos virtuosos e, assim, o governo fosse fundamentado na ideia de justiça. Surpreendentemente, em relação à educação, Platão ia na contramão da educação grega, na medida em que era contra os poetas e a obra de Homero. O que Platão reprovava, é que nas obras poéticas como as de Homero, existiam modelos de ação e conduta que eram reprováveis e poderiam influenciar negativamente na educação dos jovens, a exemplo dos deuses que eram ambíguos. Por outro lado, Platão apoiava que certos tipos de música fossem utilizadas na educação, pois poderiam incentivar a coragem e elevar a alma. Voltando à maior das virtudes, Platão dizia que a justiça é dar a cada um o que lhe pertence/o que lhe é devido. E dentro desse pensamento, segundo se depreende da leitura de suas obras, não estava incluído a ideia de fazer mal para os inimigos, pois segundo o filósofo, fazer o mal nunca é compatível com a ideia de justiça. Já em relação à política, Platão via as pessoas e o próprio Estado de forma tripartite. E cada parte da alma possuía relação com uma das principais ocupações na Pólis Ideal de Platão. Divisões da Alma Divisões da Pólis Alma Concupiscível Alma Irascível Alma Racional Produtores Guerreiros Filósofos 5www.biologiatotal.com.brwww.biologiatotal.com.br Pl at ãoEvidentemente, na República de Platão, os filósofos possuem uma posição de destaque. A eles caberiam os magistrados, que eram as funções executivas. O líder da Pólis ficou conhecido como o rei-filósofo, pois Platão havia escrito que para uma sociedade desse tipo existir, “os filósofos deveriam se tornar reis, ou aqueles que são reis deveriam se tornar filósofos”. É importante ressaltar que na concepção platônica, o verdadeiro filósofo, além de amante da sabedoria e do conhecimento, é o único tipo de pessoa que tem acesso ao Mundo das Ideias, e também é uma pessoa que possui desapego em relação mundo sensível, sendo assim alguém que leva uma vida simples. ANOTAÇÕES 1www.biologiatotal.com.brwww.biologiatotal.com.br ARISTÓTELES VIDA E OBRA Discípulo de Platão e nascido em Estagira no ano de 384 a.C., Aristóteles foi juntamente com seu mestre, um dos filósofos mais importantes do mundo antigo. No entanto,a sua influência não se limitou ao mundo antigo, pois as suas ideias também influenciaram bastante a filosofia medieval. Além disso, Aristóteles teve o privilégio de ser o preceptor de um dos maiores conquistadores do mundo antigo - Alexandre, o Grande. Ou talvez seja melhor dizer que Alexandre teve o privilégio de ter Aristóteles como seu preceptor. Coincidentemente, o filósofo faleceria um ano depois de Alexandre (322 a.C.) e, certamente Aristóteles deixou boa impressão sobre o jovem e futuro conquistador. Assim como Platão, Aristóteles procurou achar uma solução para o fato de que apesar das transformações do devir, os seres permaneciam essencialmente os mesmos. Em outras palavras, era uma forma de tentar conciliar Parmênides de Eléia e Heráclito de Éfeso. Estátua de Aristóteles. 2 A ris tó te le s METAFÍSICA E EPISTEMOLOGIA Segundo Aristóteles, a Metafísica era a filosofia primeira, ou seja, que não dependia de nenhuma outra, mas que servia para explicar várias outras partes da filosofia como um todo. Na realidade, a obra aristotélica que conhecemos como Metafísica, são na verdade vários tratados que foram reunidos por um dos seus discípulos sob este nome - Metafísica. Tomando uma direção totalmente oposta à da filosofia platônica, Aristóteles era contra a existência de um mundo das ideias, onde estariam as essências das “coisas” do mundo sensível. Pelo contrário, Aristóteles dizia que a essência, ou ideia, das “coisas” se encontram nelas mesmas. A isto, o filósofo chamou de hilemorfismo, que é a ideia de que toda substância (outro conceito aristotélico) é formada por matéria e forma. Resumindo, hilemorfismo = matéria + forma. Quanto à substância, essa é a maneira pela qual Aristóteles denomina o que normalmente chamamos de “coisas”. Porém, o filósofo não era simplista a esse ponto e explicou de forma detalhada o que era substância e com ela se dividia. Aristóteles distinguiu dois tipos de substância, a primeira e a segunda. E para facilitar nossa compreensão, podemos dizer que as substâncias primeiras correspondem ao que entendemos como espécie, ao passo que as segundas correspondem ao que entendemos como gênero. Isso pode ser entendido mais facilmente através do esquema abaixo: Substância Primeira: indivíduos; Substância Segunda: espécies e gêneros dos indivíduos; Espécies: conjunto de propriedades comuns entre alguns indivíduos; Gênero: conjunto de propriedades comuns entre algumas espécies. Para utilizarmos um exemplo concreto digamos que: Sócrates Indivíduo: Sócrates; Espécie: Homo Sapiens Sapiens; Gênero: Homo. Além disso, Aristóteles reconhecia que os entes (as coisas das quais podemos afirmar algo) possuem 4 causas para sua existência: Causa Material: é aquilo de que a coisa é feita; Causa Formal: é a forma que a coisa possui; 3www.biologiatotal.com.brwww.biologiatotal.com.br A ris tó te le s Causa Eficiente: é a pessoa que fez a coisa; Causa Final: é a finalidade pela qual a coisa existe. Mais uma vez, podemos ilustrar esse conceito, mas dessa vez com o desenho de uma casa: Causa Material: matéria que constitui um ente - tijolos; Causa Eficiente: quem ou o que produz um ente - construtor; Causa Formal: forma de um ente, o que ela é - casa; Causa Final: finalidade de um ente, para que ele existe - abrigo, moradia. Mas Aristóteles não parou por aí. Ele ainda estabeleceu categorias e causas para compreender cada ente. À substância corresponde o sujeito, e às categorias correspondem os predicados. Já as categorias podem ser essenciais (no caso da substância primeira - os indivíduos) ou acidentais (no caso da substância segunda - gênero e espécie). Quanto à conciliação das posições de Parmênides e Heráclito, Aristóteles desenvolve a teoria do ato e da potência. Ele dizia que o movimento não modifica a essência do ser e, ao mesmo tempo, o ser possuía o vir a ser (devir) em potência dentro dele. Um bom exemplo disso é a semente, que possui em si a potência da árvore. ÉTICA E POLÍTICA Assim como Platão, Aristóteles reconhecia a importância da virtude e que ela poderia ser adquirida pelas pessoas. Mas diferente do seu mestre, Aristóteles dizia que a prática constante de ações virtuosas faria com que o autor das ações adquirisse essas mesmas virtudes. 4 A ris tó te le s Mas como saber se um ato era virtuoso ou não? Aristóteles reconhecia que o problema estava nos excessos e nas faltas. Por isso, ele dizia que a virtude estava no equilíbrio, no meio termo, na chamada mediania. Não obstante, o que caracteriza a Ética aristotélica acima de tudo, é a sua ênfase na busca do Sumo Bem, também chamado de felicidade. Sim, Aristóteles dizia que todos os seres humanos agiam em função da busca da felicidade. Isto fica explícito em sua obra “Ética a Nicômaco”, onde ele desenvolve a sua filosofia ética. E a esta busca pela felicidade, o filósofo deu o nome de eudaimonía (literalmente, o estado de ser habitado por um bom gênio). Mas como atingir essa felicidade? Aristóteles não deixou nada sem resposta. Segundo ele, essa felicidade suprema seria fruto de uma conduta moral elevada baseada na moderação, no meio-termo. E como foi dito antes, o filósofo dizia que esta virtude poderia ser praticada, da mesma forma que fazemos com exercícios físicos. Mas neste caso Aristóteles se referia ao exercício do intelecto, ou, segundo suas próprias palavras, a vida contemplativa. E daí chegamos às suas ideias políticas. Diferente de Platão, o Estado era concebido por Aristóteles como uma família. Para o contexto da Grécia Antiga, isso significa muita coisa, pois a unidade familiar era responsabilidade do homem, que exercia seu poder sobre as mulheres, os filhos e as pessoas escravizadas a seu serviço. Além disso, um dos dados mais importantes sobre a política em Aristóteles, é que ele considerava o ser humano um animal político (zoon politikon). Isto significa que os humanos são naturalmente sociáveis e estão destinados a viver em sociedade, além de serem racionais. Some-se a isso a tendência ética dos humanos de sempre buscarem a felicidade (Supremo Bem), e temos aí em resumo a concepção aristotélica de política. ANOTAÇÕES 1www.biologiatotal.com.br LÓGICA FORMAL E INFORMAL LÓGICA FORMAL Você sabia que existe uma forma correta de se pensar? Não, não se trata de julgamento de conduta ou moralidade. Provavelmente você já ouviu alguém que falava, falava e no final não dizia nada. Refrescou a memória? Pois então, quando isso acontece é porque o raciocínio e, consequentemente, a fala da pessoa em questão, carece de lógica. Dito de forma bem simples, a lógica estuda as normas que regem o raciocínio correto. Apesar de Aristóteles ter sido o primeiro a sistematizá-la, muito tempo antes, o pré- socrático Parmênides já havia criado um pensamento filosófico que é recheado de lógica, “o ser é, e o não ser não é”. Parece óbvio, e na verdade é para ser assim. Afinal, quando uma afirmativa ou questão é muito clara e não deixa dúvidas, costumamos dizer, “é lógico que sim”. Princípios da Lógica Para iniciarmos o nosso estudo, vamos aprender sobre os três princípios de lógica que foram derivados a partir do pensamento de Parmênides. Para que fique claro, Parmênides através do seu célebre aforismo (“o ser é, e o não ser não é”), afirmou em outras palavras, que nada pode ser e não ser ao mesmo tempo. Passemos então aos princípios da lógica: f Princípio de identidade: cada coisa tem uma identidade própria pela qual pode ser percebida, pensada e definida. f Princípio de não contradição: uma coisa não pode ao mesmo tempo, existir e ser pensada como o que é e como o contrário de si própria. f Princípio do terceiro excluído: uma coisa será “isso” ou o contrário “disso”, não havendo uma terceira possibilidade. Lógica Aristotélica Vamos agora nos aprofundar um pouco mais sobre a lógica clássica. Chamamos assim a lógica conforme sistematizada por Aristóteles em seus livros reunidos sobreo nome Organon. Como é de se esperar, esta obra possui muitas partes, e vamos ver algumas delas. 2 Ló gi ca Em primeiro lugar, as proposições expressam linguisticamente os juízos do pensamento. Isto quer dizer que, em Lógica, chamamos de proposição tudo o que se afirmar sobre algo. Por sua vez, estas proposições são formadas por sujeito e predicado que são unidos ou separados de acordo com a relação que mantêm com aquilo que eles designam. Essas relações são expressas pelo verbo ser, que é chamado de cópula (é; não é; são; não são). Vejamos o exemplo abaixo: Temos duas proposições acima que podem ser representados graficamente pelo modelo seguinte: Silogismo Sem dúvida, um dos aspectos mais conhecidos da lógica aristotélica é o conceito de silogismo. O silogismo ocorre quando se tem duas proposições, chamadas de premissas que, unidas por um nexo, acabam resultando em uma terceira, chamada de conclusão. O seguinte modelo costuma ser apresentado como exemplo desde os tempos de Aristóteles: Todo homem é mortal. (primeira premissa) 3www.biologiatotal.com.br Ló gi caSócrates é homem. (segunda premissa) Logo, Sócrates é mortal. (conclusão) Graficamente este exemplo pode ser representado assim: Por outro lado, nas relações entre as premissas e conclusões existe toda uma série de regras que devem ser seguidas. Elas encontram-se listadas abaixo: f O silogismo deve possuir exatamente três termos. f O termo médio deve aparecer só nas premissas, nunca na conclusão. f O termo médio deve ser tomado universalmente ao menos em uma das premissas. f A conclusão de duas premissas afirmativas não pode ser negativa. f As premissas não podem ser todas negativas, pois daí nada se conclui. f As premissas não podem ser todas particulares, pois daí nada se conclui. Por fim, a lógica de Aristóteles segue um padrão tão meticuloso, que ele adotou uma extensa classificação para cada tipo de proposição que poderia ser apresentada, segundo a quantidade e a qualidade. Qualidade: f Afirmativas: S é P. f Negativas: S não é P. Quantidade: f Universais: Todo S é um P. / Nenhum S é P. f Particulares: Alguns S são P. / Alguns S não são P. f Singulares: Este S é P. / Este S não é P. http://www.biologiatotal.com.br 4 Ló gi ca LÓGICA INFORMAL Enquanto a lógica formal trata das regras estruturais que permitem a formação de raciocínios que não se contradizem e nem chegam a falsas conclusões, a lógica informal lida com os raciocínios que levam a enganos, por meio da linguagem e da influência psicológica sobre os ouvintes. Certamente, esta é uma das partes mais interessantes, e importantes, do estudo da lógica. Principalmente devido ao fato que vivemos numa época em que todos querem ter opinião e defendem as mesmas com unhas e dentes, mesmo sendo falaciosas. E assim chegamos ao conceito de falácia que, segundo Aristóteles, é qualquer enunciado falso que tenta se passar por verdadeiro. Veja o curioso exemplo abaixo e tente entender como ele é falacioso: Falácias são argumentos que procuram influenciar psicologicamente os ouvintes. Veremos a seguir vários tipos de argumentos falaciosos usados por pessoas, nas mais diferentes situações, que tentam vencer argumentos e influenciar psicologicamente uma audiência. f AD HOMINEM (Contra o homem) Ocorre quando em um debate, alguém ataca a pessoa do oponente e não os argumentos dele. 5www.biologiatotal.com.br Ló gi ca f AD POPULUM (Populismo) É quando se apela para a popularidade de uma opinião ou raciocínio para convencer os ouvintes a adotar o mesmo. “Faça como milhares de eleitores de fulano e vote nele nas próximas eleições” Falácia - A popularidade não demonstra a validade ou a veracidade de algo, tampouco o valor de alguém. f AD VERECUNDIAM (Apelo à autoridade) É quando se tenta convencer, ou obter uma vantagem, apelando para sentimentos de respeito e admiração motivados pela autoridade, celebridade ou posição hierárquica, de um interlocutor ou um membro da família dele. http://www.biologiatotal.com.br 6 Ló gi ca f NON CAUSA PRO CAUSA (Falsa causa) É quando se tenta explicar um acontecimento apelando para uma causa que não existe. Por exemplo, alguém vai mal na prova de Biologia e coloca a culpa no gato preto que passou por ele no dia da prova. f ANFIBOLOGIA (Ambiguidade) São construções linguísticas ambíguas, ou seja, podem ser interpretadas de diferentes maneiras pelos ouvintes. 7www.biologiatotal.com.br Ló gi ca f GENERALIZAÇÃO APRESSADA É quando a partir do comportamento de um indivíduo ou mais, se generaliza uma regra para todo um grupo. Em outras palavras, é querer derivar de um caso particular uma regra generalizada. f AD MISERICORDIAM (Apelo à piedade) Esse não precisa de muita explicação. É a chamada chantagem emocional, ou seja, apelar para os sentimentos do interlocutor para obter alguma vantagem ou convencer de alguma opinião. f AD IGNORANTUM (Apelo à ignorância) É um dos argumentos mais falaciosos que existem. A ideia é que algo é verdadeiro quando não se consegue provar que é falso ou vice-versa. Por exemplo, se ninguém consegue provar que o Professor X é rico ou pobre, pode-se afirmar qualquer coisa sobre o Professor X, que será igualmente válido. Observe a imagem ao lado para ver um exemplo de argumento Ad Ignorantum. http://www.biologiatotal.com.br 8 Ló gi ca Basicamente, a lógica formal e informal, quando devidamente utilizadas, são uma arma poderosa para auxiliar na construção de nossos pensamentos e argumentos. Da mesma forma, o estudo da lógica pode servir como uma proteção contra aqueles que querem nos iludir com palavras, emoções, ou ainda nos convencer com argumentos falaciosos. ANOTAÇÕES 1www.biologiatotal.com.br FILOSOFIA HELENÍSTICA O período helenístico se iniciou após as conquistas de Alexandre, o Grande, no século IV a.C. A sua política de respeito às tradições culturais das populações subjugadas, bem como a unidade de um novo Império que unia a civilização greco-macedônica ao Egito e às regiões há pouco dominadas pelo Império Persa de Dario III, favoreceu o nascimento de uma nova visão de mundo. É dentro desse contexto que surgem as chamadas filosofias helenísticas que, diferente da filosofia clássica e sua preocupação com a pólis, colocavam a ênfase no indivíduo, a sua relação com o mundo e a busca da felicidade. Certamente, havia nisso um reflexo da nova realidade do período, pois os gregos estavam então à frente de um império multiétnico, que era uma realidade bem diferente da cidade-estado clássica. CINISMO A escola cínica deriva seu nome da palavra grega para cão (kynikos, que significa “igual a um cão”). O cinismo foi fundado por um discípulo de Sócrates chamado Antístenes, que pregava uma vida que fosse vivida de acordo com a virtude, mas não em forma teórica, A Escola de Atenas, pintura de Rafael Sanzio feita entre 1509-1510. O artista representou todos os grandes filósofos da Antiguidade Clássica e do Período Helenístico. 2 Fi lo so fia H el en ís tic a mas sim uma forma ativa e prática de virtude. No entanto, os cínicos colocavam a ênfase numa vida simples e natural, longe das necessidades supérfluas e das convenções sociais. Eles costumavam dizer que “os bens aprisionam e as necessidades fúteis enfraquecem”. Diógenes de Sínope foi quem levou esses ideais até as últimas consequências. Ele morava em um barril nas imediações de Atenas, como um mendigo, e conta-se que ele percorria as ruas da cidade com um lampião, dizendo que buscava um homem verdadeiro. Uma de suas histórias mais conhecidas envolve o próprio Alexandre, o Grande, que ao encontrar Diógenes teria lhe dito que ele poderia pedir qualquer coisa que seria dada a ele. Dizem que Diógenes respondeu: CETICISMO O pioneiro desta escola foi Pirro de Élis, que acompanhou Alexandre em suas campanhas no mundo oriental. E foi lá que Pirro tomou contato com movimentos filosóficos e religiososda Índia e da Pérsia. De certa forma, esse contato com outras culturas num curto espaço de tempo tenha motivado Pirro a desenvolver a sua filosofia que, basicamente, afirmava a impossibilidade de se obter um conhecimento seguro da realidade. Em outras palavras, os homens só poderiam afirmar como as coisas lhes parecem, não o que elas são de fato. Certamente, um dos aspectos da filosofia e da religião mais atacados pelo ceticismo foi o dogmatismo, visto por eles como uma doença da mente. Ao admitir a impossibilidade de um conhecimento final sobre as coisas, os céticos mantinham uma atitude aberta, que nem negava e nem confirmava o que quer que fosse. Esta atitude de não julgamento era chamada de epoché. Segundo eles, isto conduziria à paz de espírito, chamada por eles de ataraxia. Diógenes de Sínope, também chamado de Diógenes, o Cão. "Só não me tire o que não pode me dar. Por favor, saia da frente do meu barril, você está tapando o sol" Pirro de Élis 3www.biologiatotal.com.br Fi lo so fia H el en ís tic aEPICURISMO O epicurismo é basicamente uma filosofia que busca encontrar uma maneira do ser humano encontrar a felicidade na vida através de uma vida moderada, onde se evitam as grandes paixões e desejos para se atingir um estado onde o prazer é constante. Levando em consideração que a vida é instável e, portanto, um homem de riquezas pode se ver de repente na pobreza, Epicuro desenvolveu um método para se assegurar a felicidade em vida. Neste sentido, o epicurismo era contra a vida opulenta e luxuosa, pois o homem que está acostumado ao luxo e conforto se, por um acaso ele se vir privado disso, terminará caindo no sofrimento. Consequentemente, a vida simples e frugal era o ideal para o epicurista. Por outro lado, como no ceticismo, o objetivo final é a ataraxia. Mas além disso, Epicuro colocava como objetivo a aponia, que era a ausência de sofrimento corporal. Além de pregar uma vida regrada longe das grandes paixões e desejos, Epicuro também falava muito sobre o medo, pois ele gera sofrimento. Assim, o que fazer para evitar o medo? Neste ponto, o filósofo produziu algumas reflexões interessantes que levaram até mesmo a uma espécie de semi-ateísmo, como por exemplo quando ele questiona o porquê de os homens temerem o julgamento divino, causa de sofrimento e apreensão. Para Epicuro, os deuses não se importavam com o governo do mundo, então não haveria motivo para temê-los. Nesta mesma linha de argumentação, o filósofo não via sentido no temor dos homens pela morte. Como ele entendia a morte como a dissolução do corpo e da alma, consequentemente, não haveria possibilidade de sentir dor depois da morte. Portanto, o medo dela seria infundado porque as pessoas mortas não teriam nenhuma sensação para temer, nem de dor nem de prazer, pois o que é dissolvido não tem sensação, e o que não tem sensação não é nada. ESTOICISMO Fundada por Zenão de Cítio entre os séculos IV e III a.C.,o estoicismo foi uma das escolas filosóficas mais populares no mundo romano. A propósito, um dos seus mais conhecidos representantes foi o imperador romano Marco Aurélio, que deixou um livro de reflexões, as Meditações. Por outro lado, a escola estóica teve em um escravo paralítico, Epicteto, outro grande filósofo. Continuando a tradição das escolas helenística, o estoicismo tem como fim a ataraxia, aquele ideal de vida pacífico longe das perturbações humanas. Este estado seria alcançado pelo cultivo de uma ética onde o homem atravessa com equilíbrio e paciência Epicuro 4 Fi lo so fia H el en ís tic a todas as dificuldades da vida. Além disso, o controle das paixões e emoções permitiria ao filósofo apreender a Razão Universal que determina o curso das coisas (logos). Não obstante as semelhanças com o Epicurismo, os Estóicos vão mais além. Em vez de defenderem uma vida moderada em relação às paixões, como os epicuristas, eles pregam uma total apatia em relação a qualquer desejo ou paixão. Em outras palavras, o segredo está em não querer nada e não sentir nada. Este era o ideal de virtude segundo o estoicismo. A felicidade estava basicamente em se livrar de qualquer receio ou desejo, entregando-se completamente ao destino, identificado pelos estóicos com a Razão Universal (logos). Como escreveu o imperador Marco Aurélio em uma das suas Meditações, “não te entregues aos sonhos de ter aquilo que não tens; e pensa sim nas superiores bênçãos que de fato possuis, e depois lembra-te, com gratidão, de como as desejarias se as não tivesses”. ANOTAÇÕES Epicteto Através dos cursos FI LO SO FI A M ED IE VA L 2020 - 2022 FILOSOFIA MEDIEVAL 1. Filosofia Medieval Conheça a filosofia medieval que ficou marcada pelo pensamento cristão. Esta subárea é composta pela apostila: 3www.biologiatotal.com.br FILOSOFIA MEDIEVAL Apesar do período medieval ter ficado conhecido como a Idade das Trevas, a realidade é que como qualquer outro período, a Idade Média não pode ser tomada de forma homogênea. Especialmente por abranger uma longa faixa de tempo (V-XV) e por ter sido também uma época que nos legou a Universidade, alguns avanços científicos e alguns filósofos importantes. A fonte do preconceito contra a Idade Média advém principalmente de intelectuais modernos, e até mesmo alguns medievais Universidade de Bolonha. Iluminura do século XV como Petrarca, que influenciados pela cultura clássica (greco-romana) viam o período medieval como um momento obscuro da história, especialmente pela ascendência cultural do cristianismo. Porém, a realidade possui mais nuances do que se imagina. A filosofia clássica sempre esteve presente no cristianismo. Os primeiros teólogos cristãos eram treinados dentro da filosofia greco-romana do final do Império Romano. Mesmo um missionário como o Apóstolo Paulo, possuía uma forte influência da filosofia estóica em seus escritos, como demonstram várias pesquisas. Aliás, não é exagero dizer que a filosofia cristã do período antigo e medieval, é uma releitura cristianizada da filosofia clássica, em especial do platonismo e do aristotelismo. Isto ocorreu porque muitos daqueles que se converteram ao cristianismo entre os não- judeus, eram pessoas da elite romana e grega que tinham sido educados nas filosofias grega e romana. Este foi o caso, por exemplo, de Santo Agostinho de Hipona, que era de origem africana e nunca negou a influência da filosofia clássica sobre ele. SANTO AGOSTINHO DE HIPONA Pintura de Santo Agostinho Certamente, Santo Agostinho (354-430) é um dos teólogos e filósofos mais influentes do cristianismo em geral, e da idade média, em particular. Aliás, é importante lembrar que a filosofia medieval é fortemente influenciada pelo pensamento cristão. Mas antes de iniciarmos o estudo de Agostinho, é importante entendermos que a filosofia medieval está dividida em duas fases: f Patrística (séc. I ao séc. VIII) f Escolástica (sec. IX ao séc. XV) 4 Fi lo so fia M ed ie va l Chamamos de Patrística os aos escritos dos primeiros teólogos cristãos, chamados de “Pais da Igreja”, que elaboraram várias obras para fundamentar os dogmas do cristianismo e defender a Igreja dos ataques dos pagãos e de tudo que fosse considerado desvio da ortodoxia. Já a Escolástica, procurou responder a questões como a existência de Deus e as relações do homem com a fé. Santo Agostinho foi o maior representante da tradição patrística. Fortemente influenciado pelo Platonismo, ele buscava uma justificação para a religião que não fosse dependente somente da fé. Mas apesar de reconhecer a importância da razão, Santo Agostinho chegou à conclusão de que no fim das contas, a luz divina é que permitia aos humanos reconhecerem a verdade da religião. Partindo do platonismo para depois negá-lo, Santo Agostinho reconhece a existência de verdades inatas gravadas na alma imortal. Estas verdades são, evidentemente, alicerçadas na religião cristã. Deus, por exemplo, é visto como a garantiada verdade e da possibilidade do conhecimento, pois a sua natureza é eterna e imutável. A verdade não poderia se fundamentar no ser humano, pois este é imutável e imperfeito. Por outro lado, este conhecimento, como já foi dito, necessitava da luz de Deus. Isso ficou conhecido como a Teoria da Iluminação Divina. Entretanto, Agostinho reconhecia que existiam coisas que dependiam somente da fé. Então, na realidade, ele adotou uma postura mediana entre fé e razão. Quanto a outros assuntos, como a existência de Deus, embora tenham sido mais trabalhados pelos filósofos escolásticos, também receberam a atenção de Agostinho, que trouxe explicações fundamentadas na lógica. Segundo ele, antes da criação do mundo não existia um “antes”, pois tudo foi criado por Deus, inclusive o tempo. Mas certamente, uma das maiores contribuições de Agostinho de Hipona foi em relação à explicação para a existência do mal. Segundo ele, Deus, que é infinitamente bom e perfeito, não criou o mal. Na realidade, é o ser humano que, ao usar o seu livre-arbítrio, acaba se afastando do bem, ou dito de outra maneira, se afasta do próprio Deus. O mal é assim, a ausência do bem. SÃO TOMÁS DE AQUINO Assim como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino fazia parte da Igreja Católica. Mas enquanto o primeiro era bispo, o segundo foi um frade dominicano. Outra diferença reside nos modelos filosóficos pagãos utilizados por um e por outro. A forte influência platônica presente em Agostinho, cedeu lugar a uma influência aberta de Aristóteles no caso de Tomás de Aquino. Além de ter sido um grande comentador de Aristóteles, Tomás de Aquino buscou sintetizar a 5www.biologiatotal.com.br Fi lo so fia M ed ie va lfilosofia do estagirita com os dogmas cristãos. Por outro lado, assim como o bispo de Hipona, ele também buscou equilibrar razão e fé. Nisto, ele é especialmente tributário do filósofo islâmico Averróis. Mesmo que ele tenha se colocado na realidade como um opositor das teses do filósofo muçulmano, Tomás de Aquino, assim como ele, admitiu que a razão também poderia conduzir a Deus, só que por um caminho distinto da fé. Neste sentido, são muito conhecidas as suas teses lógicas para a existência de Deus. 1. O movimento do Universo deve ter uma causa. (Conceito de primeiro motor). 2. Todas as coisas são causas e efeitos. 3. O que é contingente precisa de uma causa não contingente para poder existir. – Puro ato. 4. Se há bondade, há um “bem em si” que lhe serve de parâmetro. 5. A regularidade das coisas não é casual: Há uma ordem do Universo. Este primeiro motor, presente na filosofia aristotélica, é identificado por São Tomás de Aquino com Deus, pois assim como o motor imóvel moveu tudo e não foi movido, Deus a tudo criou e não foi criado. Por outro lado, São Tomás de Aquino contribuiu com uma teoria sobre a felicidade, ao afirmar que o ser humano, ser finito, não teria condições de sentir felicidade com nada além das coisas divinas, que são eternas. Portanto, os humanos só superariam a insatisfação por meio da beatitude, ou seja, da vida dedicada a Deus. ANOTAÇÕES http://www.biologiatotal.com.br Através dos cursos FI LO SO FI A M O D ER N A 2020 - 2022 FILOSOFIA MODERNA 1. Francis Bacon 2. René Descartes 3. Locke e Hume 4. Nicolau Maquiavel 5. Thomas Hobbes Conheça a filosofia moderna e os conflito de ideais entre empiristas e racionalistas. Esta subárea é composta pelas apostilas: 6. John Locke 7. Jean-Jacques Rousseau 8. Michael de Montaigne 9. Immanuel Kant: Epistemologia 10. Ética Kantiana X Ética Utilitarista 3www.biologiatotal.com.br FRANCIS BACON VIDA E OBRA Nascido em 1565 numa cidade próxima a Londres, Francis Bacon pertencia a uma família nobre. Depois de estudar Direito em Cambridge, ele ingressou na carreira política, tendo se tornado conselheiro da Coroa por volta de 1584. A partir daí, sua ascensão foi rápida, pois galgou vários cargos importantes e, no ano de 1621 recebeu o título de Visconde. A carreira política de Bacon acabou lhe valendo uma série de acusações de corrupção, o que o levou a alguns dias na prisão e uma multa. Entretanto, ele nunca mais voltou à vida pública, passando depois disso a se dedicar somente à sua obra intelectual. Particularmente, Bacon acreditava no poder da ciência e do conhecimento. Tanto é verdade que a frase “saber é poder”, é de sua autoria. Por outro lado, ele se diferenciava dos filósofos medievais por valorizar a experiência antes do conhecimento teórico ou hipotético. Por esse motivo, Francis Bacon é considerado um dos primeiros representantes do empirismo. Universidade de Cambridge 4 Fi lo so fia M od er na Sendo assim, ele rejeitava o conhecimento baseado na autoridade e na tradição, como era o costume medieval. Portanto, Bacon também foi um dos primeiros filósofos modernos, ao lado de Maquiavel e Descartes. Aliás, Bacon era um grande admirador da obra de Maquiavel, principalmente pelo seu realismo político calcado na experiência. O NOVUM ORGANUM A grande obra de Francis Bacon chama-se Novum Organum, e foi escrita com a pretensão de ser um novo método para a investigação e interpretação da natureza. O título faz referência ao Organon de Aristóteles, que é nome que se dá para o conjunto das obras do estagirita que tratam de lógica. Logo, Bacon oferecia com o Novum Organum um novo paradigma lógico, que é conhecido atualmente como método indutivo de investigação. Uma das suas características é a eliminação do erro. Curiosamente, Bacon chama estes erros de ídolos, e faz uma lista dividindo-os em quatro e explicando cada um deles. f ÍDOLOS DA TRIBO - Estes representam a tendência da tribo humana (seres humanos) a fazerem generalizações empíricas baseadas na sua própria natureza, e não na natureza do Universo que os rodeia. f ÍDOLOS DA CAVERNA - É o ímpeto humano de impor à natureza noções pré- concebidas sem realizar primeiramente um exame. Isto acaba interferindo na forma de ver as coisas concretamente. f ÍDOLOS DO FÓRUM/PRAÇA PÚBLICA/MERCADO - É quando aplicamos à experiência os vícios e erros de linguagem. Como o significado das palavras por si só é vasto, isso afeta o conhecimento das coisas. f ÍDOLOS DO TEATRO - Estes ídolos representam a influência negativa dos dogmas científicos e filosóficos dominantes, o que também prejudica o conhecimento, pois este deveria estar baseado somente na experiência. Capa original do Novum Organum em latim 5www.biologiatotal.com.br Fi lo so fia M od er na ANOTAÇÕES MÉTODO INDUTIVO X MÉTODO DEDUTIVO O que Bacon acabou criando é o método indutivo, que é a maneira pela qual a ciência trabalha atualmente, partindo dos dados observáveis e quantificáveis da experiência para então elaborar uma generalização a posteriori. Já o método dedutivo era o antevisto anteriormente por Aristóteles, no qual partindo-se de proposições gerais e aceitas chegava-se a uma conclusão. Como exemplo do método indutivo, podemos citar que ao observarmos (experiência) que várias baleias lançam leite na água para alimentar seus filhotes, concluímos que todas são mamíferos. Evidentemente, estas observações teriam que ser testadas (experiência) num grande número de vezes e em diferentes espécies de baleias. Por outro lado, o método dedutivo acontece quando partimos de algumas premissas básicas para fazermos uma generalização. Por exemplo, se todo mamífero é um animal e a baleia é um animal, então as baleias sendo mamíferos também são animais. Os dois métodos não são necessariamente excludentes e, na realidade, costumam ser utilizados em combinação. PARA SABER MAIS Bacon. Coleção Os Pensadores. Editora Nova Cultural. 1www.biologiatotal.com.br RENÉ DESCARTES VIDA E OBRA Nascido na França em 1596, René Descartes vinha de uma família nobre. Ainda criança foi matriculado num colégio de jesuítas, e dessa época ele relatou seu desinteresse por tudo que era ensinado, exceto as ciências da matemática. Aliás, foina matemática que Descartes encontrou a certeza de um conhecimento seguro e sólido. Entre 1619 e 1623, ele seguiu carreira militar na Holanda enquanto perseguia seu objetivo pessoal de buscar um conhecimento que não fosse encontrado em nenhum outro lugar além dele mesmo. Este radicalismo cartesiano (ou seja, de Descartes) é o que chamamos de dúvida metódica, ou ainda, dúvida hiperbólica. Depois de 1623, Descartes resolve abandonar a carreira militar para se dedicar somente à filosofia e à ciência. Em 1637, ele lançou sua obra magna, O Discurso sobre o método, onde expõe os princípios do seu pensamento. Dentre suas contribuições para além da filosofia estão a geometria analítica e o método cartesiano. Por fim, Descartes morreu de pneumonia na Suécia em 1650. PAI DO RACIONALISMO MODERNO Descartes não confiava em receber nenhum conhecimento que não pudesse ser verificado da mesma forma que ocorria com a matemática ou a Frontispício de um livro com algumas obras de Descartes René Descartes geometria. Segundo ele, os sentidos enganam. Isto claramente ia de encontro, por exemplo, à perspectiva empirista de Francis Bacon, que aceitava somente o que viesse da experiência como conhecimento. Portanto, dizemos em filosofia que Descartes foi o primeiro racionalista moderno, devido à sua grande ênfase na razão como fonte do conhecimento. É dele a famosa frase “Penso, logo existo”. Ela revela a sua crença de que a única coisa da qual ele poderia ter certeza da existência era o seu próprio pensamento. 2 R en é D es ca rt es Curiosamente, Descartes atinge essa proposição após chegar à conclusão de que não se pode confiar nos sentidos devido à atuação de um Deus enganador ou Gênio maligno cuja função seria confundir os seres humanos. Desta forma, a única certeza que ele poderia ter era de que seu próprio pensamento reflexivo era real. Não obstante, Descartes chega a provar a existência de Deus através do argumento circular. De acordo com ele, a ideia de perfeição e de infinito só é possível pela existência de um ser perfeito e infinito, autor de si mesmo e de todas as coisas. Este ser foi identificado como Deus, também chamado de substância infinita. A ORIGEM DOS NOSSOS ERROS Plano cartesiano Em outras obras, como as Meditações, Descartes aborda a questão da origem dos nossos erros. Para isso, ele distingue duas faculdades na razão humana: a vontade e o entendimento. Ao passo que a vontade é infinita, o entendimento é finito. E ao passo que a vontade está ligada ao poder de conceber, o entendimento liga-se ao poder de julgar. Desta maneira, os erros surgem devido à própria finitude da capacidade da razão de julgar que se choca com a sua capacidade infinita de conceber. DUALISMO MENTE-CORPO Um outro ponto da filosofia cartesiana que é muito conhecido é a questão do dualismo mente-corpo. René Descartes concebia a razão como algo separado do corpo. Assim, ele chamava o ser humano de sujeito pensante (res cogitans), e os objetos exteriores eram a coisa extensa (res extensa). Segundo o filósofo, o fato da res extensa encontrar-se num espaço físico e delimitado, sujeito a medições físicas, fazia com que fosse possível explicar o mundo da mesma Exemplo de cera (res extensa) forma que se fazia com os juízos matemáticos. Por outro lado, Descartes chamava Deus de res divina, cuja característica era eterno, perfeito, infinito e independente. A propósito, para Descartes a única semelhança entre Deus e os homens era o fato de serem seres pensantes, estando as diferenças na finitude, imperfeição e dependência dos seres humanos. Ousadamente, Descartes situou o sujeito pensante à frente da res divina, o que lhe valeu a ira dos filósofos escolásticos e religiosos, mas é este passo que inaugura o pensamento moderno. 1www.biologiatotal.com.br EMPIRISTAS MODERNOS: LOCKE E HUME ORIGEM DO TERMO O conceito de empirismo é originário da palavra grega para experiência (empereia). Portanto, as correntes filosóficas empiristas são aquelas que privilegiam o conhecimento que é adquirido pela experiência e pelos sentidos, e não pela razão ou ideias inatas, como é o caso dos racionalistas. Ecos do empirismo já se encontravam em Aristóteles e Francis Bacon, e é principalmente no Reino Unido que se concentraram todos os outros filósofos que se associaram a esta corrente filosófica, entre eles: Thomas Hobbes, Francis Bacon, John Locke e David Hume e George Berkeley. Não obstante a filiação à filosofia aristotélica e a proeminência dos filósofos britânicos no movimento, alguns sábios muçulmanos do Al Andaluz (territórios islâmicos da Península Ibérica) foram fundamentais. Entre eles, Alhazen, Averróis e Avicena. Igreja de Todos os Santos em Wrington, Somerset, Inglaterra 2 Em pi ris ta s M od er no s: L oc ke e H um e JOHN LOCKE Vamos então estudar as ideias do primeiro grande representante da escola empírica inglesa no século XVII, John Locke. Ele é considerado o pai do pensamento liberal e vamos entender por quê. Não obstante, Locke fez contribuições não somente para o campo da política, mas também para a epistemologia, que é justamente aquela parte da filosofia que trata da forma como nós conhecemos as coisas. Por esse motivo, ela também é conhecida como teoria do conhecimento. As principais obras de Locke são o Ensaio acerca do entendimento humano e o Segundo tratado sobre o governo civil. No primeiro, ele expõe sua teoria do conhecimento, enquanto no segundo ele desenvolve as ideias que darão origem ao liberalismo político. John Locke (1632-1704) Epistemologia Os racionalistas diziam que existiam ideias inatas que já nasceriam com os seres humanos em todos os tempos e culturas, mas evidentemente não havia provas materiais disso. É nesse momento que John Locke entra com sua teoria da tabula rasa. Segundo ela, as crianças vêm ao mundo como uma folha de papel branco. É através das experiências e dos sentidos que as ideias e conceitos vão sendo incutidos na mente do ser humano desde a infância. Objetos Experiência Sensível Qualidades Primárias (objetivas) Secundárias (subjetivas) Ideias Simples Mente Reflexão "Tábula Rasa" Ideias Complexas Existência Casualidade Essência Forma Repousos Movimento Solidez 3www.biologiatotal.com.br Em pi ris ta s M od er no s: L oc ke e H um eA tabela acima dá uma ideia de como Locke via a questão do conhecimento. Basicamente, os objetos chegam até a mente através dos sentidos. Estes organizam as sensações em qualidade primárias (forma, movimento, solidez) e secundárias. Posteriormente, elas são transformadas em ideias simples antes de chegarem à mente. E é na mente que se produz a reflexão que irá transformar essas ideias simples em ideias complexas, como existência, causalidade e essência. Liberalismo John Locke dizia que todos os homens já nascem com direitos naturais, que são: vida, liberdade, igualdade e propriedade. Diferente de Thomas Hobbes, que acreditava que o estado natural dos homens era a guerra de todos contra todos, Locke postulava que na origem os humanos viviam em harmonia, sendo que o Estado surge quando eles, de comum acordo, decidem restringir a sua liberdade natural em favor da maioria. Isto é o que se chama em filosofia, teoria contratualista, e Locke foi um dos primeiros a formulá-la. Entretanto, da mesma forma que o Estado era formado pelo consentimento dos cidadãos, estes tinham o dever de destituir o governante caso ele não cumprisse com o que fosse estipulado no contrato. Evidentemente, Locke foi muito marcado pelo contexto das revoluções inglesas do século XVII, mas as suas ideias foram além e influenciaram principalmente o movimento de independência das colônias inglesas da América do Norte. Aliás, trechos de suas obras estão contidos na Declaração de Independência. David Hume (1711-1776) DAVID HUME Nascido na Escócia em princípios do século XVIII, Hume foi um grande crítico da filosofia racionalistade Descartes. Além de ter sido partidário do empirismo, Hume defendeu também o ceticismo filosófico. Certamente, este ceticismo é uma das principais características que o destacam de outros filósofos da corrente empirista, como Locke. PERCEPÇÕES Impressões Ideias Segundo Hume, as ideias eram meras cópias mentais das impressões. Estas, por sua vez, eram originárias dos nossos sentidos, tanto internos (pensamentos) quanto externos (olfato, audição etc.). Isto difere da perspectiva de Locke, que via na mente um papel ativo na produção de reflexões a partir dos dados dos sentidos. http://www.biologiatotal.com.br 4 Em pi ris ta s M od er no s: L oc ke e H um e Crítica à Indução O método indutivo, desenvolvido por Francis Bacon, sempre foi importante para a escola empirista. No entanto, David Hume tecia algumas críticas ao mesmo. Só para recordarmos, a indução consiste em derivar regras gerais através da observação e análise de experiências. Assim, o fundamento da indução é basicamente informado pela relação de causa e efeito (causalidade) que existe entre os fenômenos observados. Sem isso, não se poderia estabelecer um princípio ou regra geral. Entretanto, David Hume não via motivo para se acreditar na existência de uma necessidade lógica entre causa e efeito. Para ele, existiria primordialmente uma questão de hábito ou até mesmo de crença. Neste sentido, um dos seus exemplos mais conhecidos relacionava-se ao nascer do Sol. Ele dizia que apesar de sabermos que o Sol nasce e se põe todos os dias desde o princípio, nada nos garante que ele continuará nascendo amanhã. Desta forma, Hume demonstrou que não via relação entre causa e efeito. Segundo o filósofo, essa era uma relação aparente derivada do nosso hábito. O que existe antes é uma sucessão de dois fenômenos, um que ocorre antes e outro que acontece depois. E como sempre vemos isso se sucedendo da mesma forma, temos a impressão de ver uma relação lógica de causa e efeito. Por outro lado, não existe a possibilidade de verificar se a mesma experiência continuará se repetindo no futuro. Sendo assim, afirmar que algo continuará se repetindo da mesma forma não pode nem ser um julgamento lógico (devido à inexistência de relação causa e efeito) e nem empírico (pois não podemos saber o futuro). O que resta no final é o hábito como o grande guia da vida. 5www.biologiatotal.com.br Em pi ris ta s M od er no s: L oc ke e H um e O HÁBITO É O GRANDE GUIA DA VIDA Vejo o sol nascer toda manhã Aprimoro isso no julgamento "o sol nasce toda manhã" Adquiro o hábito de esperar o sol nascer toda manhã Esse julgamento não pode ser verdade lógica, pois é concebível que o sol não nasça (ainda que altamente improvável) O julgamento não pode ser empírico porque não posso observar o nascer futuro do sol ANOTAÇÕES http://www.biologiatotal.com.br 1www.biologiatotal.com.br NICOLAU MAQUIAVEL VIDA E OBRA Nascido na Florença em 1469, Maquiavel é por vezes classificado como um filósofo do Renascimento, mas a verdade é que seu pensamento, assim como o de Descartes, abriu a perspectiva moderna no pensamento ocidental. Mas em vez de limitar-se à teoria do conhecimento, as preocupações de Maquiavel giravam em torno da política de sua época. É por esse motivo que o florentino é conhecido como o precursor da escola realista na política e relações internacionais. A principal obra de Maquiavel chama-se O Príncipe, que a priori, assemelha-se a outros livros contemporâneos que continham máximas para os governantes. Estes livros procuravam guiá-los a partir de princípios. Diferentemente, Maquiavel parte da realidade para sugerir ao governante tudo o que ele deveria fazer para chegar ao poder e preservá-lo. O Príncipe, publicado em 1513, fez tanto sucesso que é a obra preferida de várias personalidades até os dias de hoje. Entre elas podemos citar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em um festival literário comparou os presidentes da América Latina aos governantes tiranos que são amados, citados por Maquiavel em seu livro. 2 N ic ol au M aq ui av el A ESTABILIDADE NO PODER Uma das preocupações de Maquiavel ao escrever O Príncipe, foi em saber os elementos que conduzem à estabilidade no poder, ou em outras palavras, como um governante consegue se manter no poder. Segundo o florentino, a estabilidade é a essência da existência de um Estado. A fim de atingir esse intento, Maquiavel analisa uma série de fatos históricos de vários monarcas que tiveram sucesso e fracassaram. A partir disso, ele busca extrair ensinamentos que servirão como um manual para o governante que desejasse se manter no poder e ainda ampliar seus territórios. De acordo com uma passagem do livro: “(...) embora não possa seguir em tudo o caminho dos outros nem igualar a virtú daqueles que imita, um homem prudente deve sempre seguir os caminhos abertos pelos grandes homens e espelhar-se nos que foram excelentes.” Este é basicamente o escopo do Príncipe. MORAL X POLÍTICA Uma das contribuições mais originais de Maquiavel enquanto filósofo, foi ter separado a política da moral. Segundo ele, estes dois são terrenos autônomos, sem dependência em relação ao outro. Neste sentido, para Maquiavel o príncipe não deveria agir guiado pela moral. Ele deve ser livre para ser bondoso quando necessário, e rígido se for preciso. O objetivo do Príncipe deve ser assegurar a própria glória e o sucesso do Estado. Certamente, a preocupação com questões morais colocam um freio em relação a esses objetivos. Por isso, é conhecida a máxima atribuída a Maquiavel segundo a qual “os fins justificam os meios”. “A um príncipe, portanto, não é necessário ter de fato todas as qualidades supracitadas, mas indispensável parecer tê-las. Aliás, ousarei dizer que, se as tiver e utilizar sempre, serão danosas, enquanto, e parecer tê-las, serão úteis. Assim, deves parecer clemente, fiel, humano íntegro, religioso – e sê-lo, mas com a condição de estares com o ânimo disposto a, quando necessário, não o seres, de modo que possas e saibas como tornar-te o contrário. É preciso entender que um príncipe, sobretudo um príncipe novo, não pode observar todas aquelas coisas pelas quais os homens são considerados bons, sendo-lhes frequentemente necessário, para manter o poder, agir contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade e contra a religião. Precisa, portanto, ter o ś preparado para voltar-se para onde lhe ordenarem os ventos da fortuna e as variações das coisas e, como disse acima, não se afastar do bem, mas saber entrar no mal, se necessário”. A Torre de Pisa 3www.biologiatotal.com.br N ic ol au M aq ui av elApesar disso, Maquiavel acreditava que nem todos os meios são justificáveis. Por exemplo, ele achava que o Príncipe deveria evitar tomar atitudes que o fizessem ser odiado, pois isso poderia levar o povo a se revoltar contra seu governo. É interessante notarmos também que a filosofia política de Maquiavel toma pressuposto que as pessoas agem movidas pelo próprio interesse e de acordo com a própria conveniência. E Maquiavel não chega a essa conclusão partindo de uma teoria abstrata, mas analisando a história política do passado, e vendo o que há de comum nas ações humanas ao longo do tempo. ANOTAÇÕES http://www.biologiatotal.com.br 1www.biologiatotal.com.br THOMAS HOBBES VIDA E OBRA Assim como seu contemporâneo Francis Bacon, com quem tinha amizade, Thomas Hobbes era adepto da ciência e do empirismo. Outra semelhança entre ambos é que na época em que viveram, a Inglaterra passou por uma série de revoluções que levaram ao fim do Absolutismo e à consolidação da Monarquia Parlamentarista (Revolução Gloriosa). Certamente, os acontecimentos políticos do seu tempo influenciaram o pensamento de Hobbes, que assim como Maquiavel possuía um certo pessimismo e ceticismo quanto à bondade humana. A título de exemplo, é de Thomas Hobbes o pensamento “O homem é o lobo do homem”.Sua obra mais conhecida é o “Leviatã”, e é nela que Hobbes expõe seu pensamento político, marcadamente influenciado por uma visão mecanicista do mundo, chegando até a tecer comparações entre os seres humanos e as máquinas. O MEDO E O EGOÍSMO Curiosamente, Hobbes faz uso de alguns sentimentos humanos negativos para fundamentar seu pensamento político. Ao contrário de Aristóteles, que havia proclamado 2 Th om as H ob be s a natureza social do Homem, Hobbes afirma que os seres humanos são egoístas por natureza. Já o medo tem para Hobbes a função de nos levar a conversar nossas vidas. Estes sentimentos levam os seres humanos a se colocarem em um estado de natureza, onde todos estão em guerra contra todos. Para Hobbes, a violência permeia as relações humanas quando estes se encontram em liberdade. Como naturalmente esta é uma situação insustentável, o filósofo considerou que os seres humanos que viviam neste estado de natureza precisaram em algum momento renunciar à sua liberdade para conseguirem sobreviver. O SURGIMENTO DO ESTADO Representante da tradição contratualista, que teoriza o surgimento do Estado a partir de um contrato formal ou informal entre diversas pessoas num passado remoto e hipotético, Hobbes credita o surgimento do Estado a uma necessidade dos seres humanos regularem a violência que lhes é inata. “Os homens não podem esperar uma conservação duradoura se continuarem no estado de natureza, ou seja, de guerra, e isso devido à igualdade de poder que entre eles há, e a outras faculdades com que estão dotados. A lei da natureza primeira, e fundamental, é que devemos procurar a paz, quando possa ser encontrada [...].” (HOBBES) E é aí que reside o princípio político do Absolutismo, segundo Hobbes. O filósofo dizia que ao abdicarem da sua liberdade em favor do Estado, o chamado Leviatã, os súditos concedem para ele, direito sobre seus corpos e suas vidas. Para Hobbes, a função do Estado é garantir o cumprimento do pacto social. Ora, no caso hobbesiano, o pacto ou contrato social, consiste na proteção e controle deste sobre os súditos. Assim como Weber anos depois iria afirmar com outras palavras, o Estado Hobbesiano toma para si o exército da violência para manter a ordem e a paz na sociedade. Capa da edição original do Leviatã, de 1651 3www.biologiatotal.com.br Th om as H ob be s Estava dada assim, filosoficamente, a justificativa para o Absolutismo monárquico. Atualmente, alguns intelectuais chamam de Estado Hobbesiano, ou Leviatã, a qualquer espécie de estado autoritário. ANOTAÇÕES http://www.biologiatotal.com.br 1www.biologiatotal.com.br JOHN LOCKE O ESTADO DE NATUREZA Assim como seu contemporâneo Thomas Hobbes, Locke acreditava que a humanidade possuía um estado de natureza. Mas completamente diferente de Hobbes, ele não via o estado de natureza humana como uma guerra de todos contra todos. Antes, para Locke a liberdade é natural ao homem. E não somente ela, mas também a propriedade, a vida e a busca da felicidade. A propósito, estes direitos que para Locke eram naturais a todos os seres humanos, foram transcritos para a Declaração de Independência dos Estados Unidos. VALOR DO TRABALHO E LIMITES À PROPRIEDADE PRIVADA John Locke valorizava muito o trabalho humano, que para ele era uma consequência da liberdade natural do homem. E mais, ele dizia que era através do trabalho que a terra adquiria valor. E essa é, na realidade, a origem da propriedade privada, segundo Locke ESTADO DE NATUREZA: Direitos naturais Vida Liberdade Propriedade Felicidade 2 Jo hn L oc ke Não obstante, ao contrário do que muitos podem imaginar, Locke não conferia um direito irrestrito à liberdade. Um princípio defendido por ele era que a propriedade de um indivíduo não poderia ultrapassar o que ele próprio fosse capaz de usar, e tampouco comprometer a satisfação das necessidades dos outros seres humanos. Este detalhe em especial é muito importante, pois frequentemente atribui-se a Locke uma contradição em relação a defender o direito da propriedade privada e, ao mesmo tempo, a liberdade natural do homem, numa época em que escravidão de africanos e indígenas se consolidava cada vez nas colônias da América. O PROBLEMA DA IRRACIONALIDADE Apesar de possuir uma visão mais otimista do que a de Hobbes, o filósofo John Locke não deixou de procurar uma explicação para o problema da violência e das guerras entre os seres humanos. Mas em vez de atribuir isso a um estado de natureza, Locke coloca a responsabilidade sob os indivíduos irracionais, que são aqueles que são movidos por suas paixões embora sejam de fato racionais. É em decorrência da irracionalidade que surge o problema do mal na sociedade, e é dever dos indivíduos racionais se organizarem para estabelecer punições para que a paz seja mantida na sociedade. E é neste momento que surge a questão do contrato social em Locke com vistas à formação de um Estado. O CONTRATO SOCIAL LOCKEANO Segundo Locke, o Estado surge a partir do acordo entre indivíduos livres que decidem escolher alguém para representá-los. É importante frisar que esta reunião e esta escolha devem ser feitas livremente. O que está implicado nisso não é uma liberdade em oposição à escravidão como praticada nas Américas. Na realidade, o que Locke quer realçar é a necessidade de decisões que não são feitas sob coerção. Em outras palavras, decisões que são a expressão da vontade livre de indivíduos livres. Atualmente, alguns intelectuais chamam de Estado Hobbesiano, ou Leviatã, a qualquer espécie de estado autoritário. 3www.biologiatotal.com.br Jo hn L oc keE justamente, tendo em vista a manutenção dessa liberdade, o Estado de acordo com Locke é mínimo, resolve conflitos parcialmente, garante os direitos individuais e defende o direito natural das pessoas (vida, liberdade e propriedade). O OUTRO LADO DA MOEDA O mais interessante dessa concepção de Estado de Locke, é que como o governo foi criado por indivíduos livres para que fossem garantidos seus direitos naturais de forma imparcial, caso ele falhe em cumprir essa função, os governados têm todo o direito de destituir quem está no governo para então substituir por outras pessoa ou grupo de pessoas. Por esse motivo, John Locke é considerado o pai do liberalismo político, e suas ideias estão no espírito da formação dos Estados Unidos da América e da própria declaração de independência das 13 colônias inglesas na sua revolta contra a metrópole britânica. Outrossim, Locke foi um dos primeiros filósofos a propor que a divisão de poderes em um governo seria muito mais benéfica. Certamente, foi o filósofo francês Montesquieu que levou crédito pela ideia da divisão dos 3 poderes (legislativo, executivo e judiciário). ANOTAÇÕES Declaração de Independência dos Estados Unidos da América 1www.biologiatotal.com.br JEAN-JACQUES ROUSSEAU Certamente, Jean Jacques Rousseau é um dos filósofos mais emblemáticos do movimento iluminista. Diferente de outros filósofos desse movimento, Rousseau atribuía uma importância particular aos sentimentos. É por esse motivo que ele é considerado um dos precursores do movimento romântico, que se desenvolverá melhor ao longo do século XIX (1801-1900). VIDA E OBRA Nascido em Genebra numa família pequeno burguesa (o pai era relojoeiro), Rousseau era órfão de mãe. Muito novo decide abandonar o lar e se aventurar pelo mundo. Entre uma amante rica e outra, Rousseau interessa-se pelas artes e pela filosofia. Antes dos 40 anos já era conhecido em Paris pelas suas ideias. Ele defendia uma religião natural, longe dos dogmas da Igreja, onde Deus poderia ser encontrado dentro de cada um. Por conta de sua postura anticlerical, muitas de suas obras foram condenadas e queimadas. Estátua de Rousseau em Genebra 2 Je an -J ac qu es R ou ss ea u Depois de muito viajar e se aventurar com amantes e salões da nobreza europeia, Rousseau decidiu viver uma vida isolada perto
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