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Apresentação1 • Módulo 1 SENASP INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE FINANCEIRA SEGEN Apresentação2 • Módulo 1 APRESENTAÇÃO MÓDULO 1 Apresentação3 • Módulo 1 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública Diretoria de Ensino e Pesquisa Coordenação Geral de Ensino Núcleo Pedagógico Coordenação de Ensino a Distância Conteudista George Estefani de Souza do Couto Revisão de Conteúdo Ana Carolina Litran Andrade César Medeiros Cupertino Danielle Garcia Alves Vinicius Teles da Silva Costa Revisão Pedagógica Ardmon dos Santos Barbosa Vânia Cecília de Lima Andrade UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA labSEAD Comitê Gestor Eleonora Milano Falcão Vieira Luciano Patrício Souza de Castro Financeiro Fernando Machado Wolf Consultoria Técnica EaD Giovana Schuelter Coordenação de Produção Francielli Schuelter Coordenação de AVEA Andreia Mara Fiala Design Instrucional Carine Biscaro Danrley Maurício Vieira Marielly Agatha Machado Design Gráfico Aline Lima Ramalho Taylizy Kamila Martim Sonia Trois Victor Liborio Barbosa Linguagem e Memória Cleusa Iracema Pereira Raimundo Victor Rocha Freire Silva Programação Jonas Batista Salésio Eduardo Assi Thiago Assi Audiovisual Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Rafael Poletto Dutra Rodrigo Humaita Witte Todo o conteúdo do Curso Investigação e Análise Financeira, da Secretaria de Gestão de Ensino em Segurança Pública (SEGEN), Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo Federal - 2020, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR BY NC ND Apresentação4 • Módulo 1 Sumário Apresentação ................................................................................................................5 Objetivos do módulo ............................................................................................................................. 5 Estrutura do módulo ............................................................................................................................. 5 Aula 1 – Aspectos Gerais ............................................................................................6 Contextualizando... ............................................................................................................................... 6 Índices ................................................................................................................................................... 6 Ação 11 e sua estrutura........................................................................................................................ 9 Aula 2 – Aspectos Históricos da Lavagem de Dinheiro .........................................14 Contextualizando... ............................................................................................................................. 14 A origem do termo .............................................................................................................................. 14 Órgãos de combate e o entendimento do processo ........................................................................ 16 Aula 3 – O Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU) .........................23 Contextualizando... ............................................................................................................................. 23 Os instrumentos da ONU de combate à lavagem de dinheiro ......................................................... 23 Aula 4 – O GAFI e as 40 Recomendações .................................................................28 Contextualizando... ............................................................................................................................. 28 A estrutura do GAFI e o documento de recomendações ................................................................. 28 Referências ..................................................................................................................33 Apresentação5 • Módulo 1 Apresentação A lavagem de dinheiro foi inicialmente objeto de preocupação da Organização das Nações Unidas (ONU), que entende a necessidade de discussões e atenção especial a esse assunto. Assim sendo, neste módulo, vamos estudar os aspectos gerais do crime de lavagem de dinheiro, bem como seus aspectos históricos e os instrumentos de combate a esse tipo de crime. Esperamos que, ao final do estudo, você possa ter compreendido a importância do tema e do advento de diversos instrumentos de combate, visto que o conhecimento da trajetória histórica do tema contribuirá ainda mais para a sua atuação como investigador. OBJETIVOS DO MÓDULO Conhecer os aspectos gerais dos crimes financeiros cometidos por organizações criminosas; identificar a estrutura de ação da equipe de investigação no combate ao crime; analisar os aspectos históricos do crime de lavagem de dinheiro no país e conhecer a estrutura da ONU, no que diz respeito aos seus instrumentos de combate e prevenção e o documento de quarenta recomendações internacionais do GAFI. ESTRUTURA DO MÓDULO • Aula 1 – Aspectos Gerais. • Aula 2 – Aspectos Históricos da Lavagem de Dinheiro. • Aula 3 – O Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU). • Aula 4 – O GAFI e as 40 Recomendações. Apresentação6 • Módulo 1 Aula 1 – Aspectos Gerais CONTEXTUALIZANDO... Você se lembra de algum evento recente no cenário nacional que envolva delitos econômicos? Qual foi a estratégia utilizada pelo Estado para combater esses delitos? Ao decorrer da aula, conheceremos o cenário das questões acima citadas, conhecendo os índices de crimes registrados no país que foram cometidos por organizações criminosas com intuito de ganho financeiro, mais especificamente, o de lavagem de dinheiro. Trataremos também de ações de planejamento por parte da polícia civil no combate dessa tipologia criminal. ÍNDICES Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2018a), o crescimento acelerado de organização criminosa no Brasil tem incrementado os índices de criminalidade registrados no país de forma epidêmica. Relativo aos anos 2014 e 2017, existem mais de trinta organizações criminosas no país coordenadas do interior de sistema penitenciário, tornando-se um dos principais desafios a serem superados pelas políticas públicas em razão do impacto negativo desse fenômeno, inclusive, no desenvolvimento econômico e social do Estado. De acordo com o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2018b), o Brasil registrou quase 64 mil mortes decorrentes de crimes violentos intencionais entre os anos de 2016 e 2017. Já no ano seguinte, esse número decresceu 10,8%, mas ainda mantém o país em uma situação constrangedora diante da aparente ineficácia das estratégias e políticas públicas voltadas ao controle de criminalidade até então empregadas. Apresentação7 • Módulo 1 Saiba mais Para conhecer mais detalhadamente os dados acima citados do ano de 2018, leia o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019, disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/ uploads/2019/10/Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf Uma equação que aparentemente passa despercebida na implementação de políticas públicas é a relação do crime com o proveito econômico por parte das organizações criminosas. Porém, não são apenas diferenças ideológicas a razão desse número alarmante de crimes registrados no Brasil, mas o uso da violência como forma de assegurar o fluxo de retorno financeiro decorrentes das práticas delituosas. Em um país cujo sistema penitenciário não acompanha o volume de prisões realizadas, novas estratégias, para além de punitivas, são indispensáveis ao enfrentamento da criminalidade. Esse aspecto do sistema traz repercussões prejudiciais para o equilíbriodo próprio sistema de justiça criminal, além de sua estruturação, modernização e humanização. Figura 1: Alto volume de prisões desafia o equilíbrio do sistema de justiça criminal. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Apresentação8 • Módulo 1 Na Prática Também conhecido como persecução penal, trata-se do conjunto de atividades que o Estado desenvolve no contexto da investigação até o processo penal, que resolve a condenação ou absorção. Nesse contexto, a eliminação da capacidade financeira das organizações criminosas surge como uma estratégia de inteligência do Estado para conter as bases de atuação desses grupos, proporcionando maior controle da criminalidade, a redução de indicadores criminais e a prospecção de cenários que permitam o desenvolvimento de políticas públicas mais eficientes no país. Assim, é necessário inserir culturalmente, nas instituições investigativas dessa tipologia criminal, a interrupção do fluxo de capitais ilícitos e lavagem de dinheiro, bem como a especialização dos profissionais com recursos da atividade de inteligência e com o uso massificado de tecnologia para tratamento de grandes volumes de dados. Diante do exposto, vamos refletir um pouco. Por que é necessário que novas estratégias para o enfrentamento da criminalidade sejam urgentemente implementadas como forma de reversão de delito de cunho econômico? Essa necessidade possibilitará a busca dos suspeitos com apuração efetiva da autoria e materialidade do crime. Entretanto, é necessário adotar um modelo de órgãos de persecução criminal, cuja produção probatória seja sistematizada na recuperação de ativos ilícitos, de maneira que a investigação tenha esse foco patrimonial como um de seus vetores permanentes, sem prejuízo da apuração da infração penal antecedente, a fim de que essa estratégia repercuta positivamente no controle das organizações criminosas. Essa perspectiva foi reforçada a partir da alteração promovida pela Lei n.º 12.683/2012 que, dentre outros aspectos, excluiu a lista de crimes antecedentes e ampliou as possibilidades de atuação dos órgãos de persecução Apresentação9 • Módulo 1 criminal na estratégia nacional de recuperação de ativos ilícitos e descapitalização de organizações criminosas. AÇÃO 11 E SUA ESTRUTURA Com efeito, quando tratamos de produção probatória relacionada ao crime de lavagem de dinheiro, seja pela cultura organizacional, seja por ausência de uma orientação estratégica da atuação no campo da recuperação de ativos, a investigação não costuma estar adequadamente estruturada para atacar a capacidade financeira das organizações criminosas e, consequentemente, o Estado perde o controle dessa criminalidade. Uma iniciativa para aperfeiçoar a atuação das polícias civis na investigação do crime de lavagem de dinheiro foi a aprovação de uma ação específica, ocorrida na reunião plenária da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA), em 2017. A primeira fase dessa estratégia, denominada Ação 11, desenvolvida durante os anos de 2018 e 2019, contou com a participação de diversos órgãos e atendeu a um planejamento construído em três eixos. Vamos observar esses pilares na imagem a seguir. Apresentação10 • Módulo 1 EIXOS PLANEJAMENTO AÇÃO 11 Estruturação, com o objetivo de promover o nivelamento em todos os estados e garantir que a polícia civil tenha condições para o desenvolvimento de investigações dos crimes de lavagem de dinheiro. Legislação, com uma regulamentação necessária do comando inserido na Lei n.º 9.613/1998, visando permitir a destinação, feita pelos estados, dos bens, direitos e valores recuperados nas investigações promovidas pela polícia civil. Capacitação, com o desenvolvimento de cursos, em âmbito nacional, para nivelamento técnico dos efetivos policiais e consequente mudança de cultura organizacional da polícia civil no que tange à recuperação de ativos ilícitos. Figura 2: Planejamento Ação 11. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). A Ação 11/2018 acabou sendo fortalecida por uma deliberação do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia Civil (CONCPC), ocorrida em abril de 2018, na cidade de São Paulo. Na ocasião, foi editada a Resolução n.º 01/2018, que apresentou uma série de medidas de estruturação das polícias civis no que diz respeito à repressão qualificada ao crime de lavagem de dinheiro. Vejamos algumas das medidas. • Instalação do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (LAB/LD) nas polícias civis que ainda não o fizeram. • Formatação de convênios com órgãos envolvidos no combate à lavagem de dinheiro. • Nivelamento de tecnologia empregada na investigação. • Adoção de grades curriculares específicas nos cursos de formação. • Formatação de estatísticas para aferição de resultados. • Criação de canais especializados de denúncias, na perspectiva de interação da sociedade com esse processo. Apresentação11 • Módulo 1 Entre os resultados obtidos pela Ação 11 em 2018, foram destaques o diagnóstico da organização das polícias civis quanto à investigação do crime de lavagem de dinheiro, bem como a identificação de estrutura mínima que essas Instituições devem possuir. Vamos identificar, na imagem a seguir, essa estrutura. Ter acesso ao Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias (SIMBA), por meio de acordo de cooperação técnica com o Ministério Público Federal (MPF).1 Dispor de Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro, por meio de acordo de cooperação técnica com Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).2 Ter acesso aos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF), por meio de acordo de cooperação técnica com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). 3 Inserir disciplinas nos cursos de formação e aperfeiçoamento policial voltadas para a investigação desses crimes.4 Manter rotinas periódicas e controle estatístico dos resultados decorrentes das investigações dos crimes de lavagem de dinheiro.5 Ter garantida em seu favor a destinação dos bens, direitos e valores recuperados em investigações policiais de crimes de lavagem de dinheiro cuja perda houver sido declarada pela Justiça, nos termos do §1º, do Art. 7º, da Lei n.º 9.613, de 1998. 6 Promover a cultura organizacional voltada à produção probatória de crimes de lavagem de dinheiro, com ênfase na recuperação de ativos ilícitos, sem prejuízo da investigação da infração penal antecedente. 7 Figura 3: Estrutura mínima da instituição das polícias civis. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Os resultados alcançados pela Ação 11/2018 já alteraram a realidade de repressão à lavagem de dinheiro em diversas polícias civis, bem como qualificaram o órgão como destaque na reunião plenária da ENCCLA, em novembro de 2018. Nessa reunião, também foi aprovada a continuidade da ação estratégica coordenada pelo CONCPC para o ano de 2019. Apresentação12 • Módulo 1 Os RIFs apresentam o resultado das análises de inteligência financeira e indicam a existência de indícios da prática do crime. Futuramente, conheceremos mais sobre esses documentos. Acompanhar junto à SEGEN a situação do EAD; gestão junto ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) quanto ao calendário do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) junto às polícias civis; identificação de outras capacitações que possam ser dirigidas às polícias civis. Capacitação Identificar estados que regulamentaram o Art. 7º, §1º, da Lei n.º 9.613/98; identificar modelos de normas que regulem a gestão do perdimento de bens, direitos e valores decorrentes da LD. Legislação Ainda em 2018, como encaminhamentos da Ação 11, além da prorrogação dos trabalhos para 2019, foram aprovadas as seguintes necessidades estruturantes. • Extensão da possibilidade de recebimento dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) de ofício para todas as polícias civis. • Ampliação de cursos presenciais sobre investigaçãode crimes de lavagem de dinheiro. • Entrega de conteúdo em Educação a Distância (EAD) em condições de ser disponibilizado às polícias civis. • Ampliação do rol de polícias civis que acessam o SIMBA. • Instalação de LAB-LD em todas as polícias civis, preferencialmente em suas unidades de inteligência. Em 2019, a Ação 11 foi reiniciada com novo planejamento, todavia, manteve a sistemática de permanente diagnóstico das polícias civis focado nos três eixos de trabalho anteriormente citados. Perceba a seguir. Apresentação13 • Módulo 1 Estruturação Identificar polícias civis que ainda não dispõem de convênios com LAB/LD, SIMBA e Unidade de Inteligência Financeira (UIF); fomentar o envio de RIFs de ofício aos LABs das polícias civis, identificando as que já possuem essa rotina; fomentar a criação de canais de denúncias nas polícias civis; identificar modelos de extração de estatística das investigações relacionadas à lavagem de dinheiro (Ação 9/2018) e bases de dados e/ou sistemas essenciais para investigação de crimes de LD. Figura 4: Estrutura reiniciada de trabalho das polícias civis. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Note que toda a estrutura da Ação 11 é um instrumento de transformação da cultura organizacional das polícias civis no enfrentamento das organizações criminosas que atuam no nosso país. E entendê-la como investigador facilitará seu desenvolvimento durante o processo de investigação. Este curso de investigação do crime de lavagem de dinheiro, na modalidade de ensino a distância, faz parte dos resultados da primeira fase da Ação 11/2018 ENCCLA e você pode se tornar um instrumento de transformação da cultura organizacional das polícias civis no enfrentamento das organizações criminosas que atuam no nosso país. Apresentação14 • Módulo 1 Também conhecida como criminalidade não convencional, crime do colarinho branco (white collar crime), delinquência dourada ou hipercriminalidade. Possui dois fatores qualificantes: o lucro e a impunidade. É, pois, uma delinquência em bloco, conexa e compacta no sistema social, de modo pouco transparente (como no caso do crime organizado), ou sob o rótulo de atividade econômica lícita, como no caso de crimes do “colarinho branco” (BITENCOURT, 2008). Aula 2 – Aspectos Históricos da Lavagem de Dinheiro CONTEXTUALIZANDO... Você conhece órgãos nacionais e internacionais envolvidos no combate à lavagem de dinheiro? Nesta aula, iremos identificar os aspectos históricos da lavagem de dinheiro até chegarmos à criação de órgãos nacionais e internacionais que são responsáveis por combater e reforçar a ideia do combate do crime de lavagem de dinheiro. Aqui, também iremos compreender um pouco mais a dinâmica estrutural das fases utilizadas por organizações criminosas no processo de lavagem de dinheiro. A ORIGEM DO TERMO A lavagem de dinheiro tem atraído a atenção de diversas jurisdições de organismos internacionais, como reflexo direto da globalização e da consequente intensificação das relações financeiras no mundo. O termo tem se consolidado como uma preocupação mundial, inclusive pela necessidade de controle da macrocriminalidade, de enfrentamento do crime organizado e da prevenção das infrações penais de uma forma geral. A origem da expressão lavagem de dinheiro pelo mundo não é precisa. Todavia, há indicativos de que essa prática surgiu na China, há mais de três mil anos, quando a ocultação bens era adotada por alguns mercadores na tentativa de protegê- los contra quem detinha o poder. Na Bíblia católica, podemos identificar a mesma prática na história de Ananias e de sua esposa Safira (Atos 4:37). Apresentação15 • Módulo 1 Práticas assemelhadas à lavagem de dinheiro também ocorriam na época das pilhagens piratas, envolvendo bens roubados ou subtraídos, que eram trocados por metais para a manutenção dos navios. Os relatos mais atuais indicam que o termo teria surgido em 1928, quando o criminoso conhecido por Al Capone teria comprado uma rede de lavanderias para lavar dinheiro proveniente do tráfico de bebidas, da corrupção e de todos os outros delitos praticados. Figura 5: Práticas de ocultação ao longo da história. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Apresentação16 • Módulo 1 Contudo, apesar da referência ao criminoso Al Capone no ano de 1928, a expressão lavagem de dinheiro já teria sido associada à máfia em 1904, no caso envolvendo o mafioso russo Maier Suchowljansky, posteriormente naturalizado e registrado como cidadão americano com o nome de Meyer Lansky. Nesse caso, identificou-se que ele utilizava a operação de offshores para cometer a prática. O termo, então, consolidou-se na década de 1970, nos Estados Unidos da América, no caso de corrupção de políticos conhecido por Watergate. Na ocasião, teriam sido verificadas remessas de valores relacionados ao narcotráfico para o México. No caso, a agência do Federal Bureau of Investigation (FBI) foi responsável pelas investigações e destacou a importância de se acompanhar a origem dos recursos envolvidos, dando origem à expressão follow the money, ou seja: “siga o dinheiro”. ÓRGÃOS DE COMBATE E O ENTENDIMENTO DO PROCESSO Com o conhecimento da prática surge a necessidade do combate. Assim, com o objetivo de enfrentar a lavagem de dinheiro, diversos compromissos internacionais foram firmados, dando origem a uma complexa estrutura normativa sob o comando do Grupo de Ação Financeira em Lavagem de Dinheiro (GAFI) e de suas projeções regionais. A partir dessa estrutura, originou-se o Regime Internacional do Combate à Lavagem de Dinheiro, formado por uma ampla rede de Figura 6: Lavagem de dinheiro. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Expressão inglesa aplicada para denominar categorias de embarcação marítima e uma técnica de extração de petróleo em águas profundas. No caso das empresas, a expressão inicialmente foi usada apenas para indicar uma sociedade anônima implantada fora do país de origem de seus donos. Com o tempo, a expressão passou a definir uma empresa criada em um paraíso fiscal, de forma apenas cartorial, ou seja, ela está registrada em um país no qual não desenvolve nenhuma atividade. Apresentação17 • Módulo 1 “ relacionamentos institucionais e de documentos, que vão desde tratados até memorandos de entendimento. Nesse contexto, o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que o enfrentamento mais eficaz contra a lavagem de dinheiro exige a mudança de foco para a desestruturação de máfias e de seus mercados, a partir do implemento de medidas mais duras de combate a esse tipo de crime e também à corrupção. Nessa perspectiva, organismos internacionais como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a ONU, o Conselho da Europa, entre outros, foram determinantes para criação do corpo internacional intergovernamental Finacial Action Task Force, ou Grupo de Ação Financeira Internacional (FATF-GAFI), no ano de 1989, e continuam reforçando o combate ao crime, colocando o tema em destaque na agenda internacional. Com efeito, a criação do GAFI configurou o que Nadelmann (1990, apud CORRÊA, 2013) define como regime internacional de proibição, que busca explicar a dinâmica pela qual essas normas proibitivas, tanto no Direito Internacional quanto nas leis penais nacionais dos Estados, surgem, evoluem e se expandem na sociedade internacional. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) definiu a lavagem de dinheiro nos seguintes termos: Um conjunto de operações comerciais ou financeiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita e que se desenvolvem por meio de um processo dinâmico que envolve, teoricamente, fases independentes que, com frequência, ocorrem simultaneamente. (BRASIL, 2020, grifos nossos). “ Apresentação18 • Módulo 1 Podemos, então, entender a lavagem de dinheiro como um processo peloqual se busca a ocultação da origem ilícita de valores obtidos com a prática de crimes, possibilitando a sua utilização sem que sejam despertadas suspeitas. Para facilitar a compreensão, o processo de conversão de um ativo ilegal em lícito costuma ser dividido pela doutrina em algumas fases. A divisão mais conhecida, inclusive utilizada pelo GAFI, aponta três, apresentadas na figura a seguir: Colocação Ocultação Integração Figura 7: Fases de um processo de conversão. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Contudo, é importante destacar que o fenômeno lavagem de dinheiro é dinâmico e, a depender da natureza da operação, essas três fases podem ocorrer simultaneamente. Fernandes (2019) nos mostra que, em relação à indicação das três fases, basta o cometimento de uma das ações para a infração penal de lavagem de dinheiro se consumar, mesmo que ocorra o simples manejo ou depósito em conta em nome próprio do proveito da ilicitude. Agora, vamos entender melhor essas fases. Primeiramente, na fase de colocação, o criminoso busca disfarçar a origem do ativo para integrá-lo ao sistema econômico-financeiro, dando início ao processo de distanciamento de sua origem. Aqui, por se tratar do início do processo de inserção na economia, o ativo está mais próximo de sua origem, o que facilita a sua vinculação com a origem criminosa e a verificação das diversas modalidades de inserção dos valores, incluindo- se transferências bancárias, movimentações de moeda em espécie, operações de câmbio, entre outras. Apresentação19 • Módulo 1 Na segunda etapa, conhecida também por dissimulação, estratificação ou layering, busca-se o afastamento do ativo lavado de sua origem, o que inclui pessoas físicas, pessoas jurídicas interpostas, empresas offshores, paraísos fiscais, uso de uma atividade comercial fictícia com simulação de lucros (empresas de fachada), operações fraudulentas de importação e/ou exportação, entre outras tipologias. Aqui, verifica-se a realização de sucessivas operações financeiras, com a utilização de diversos bancos, contas e variados investimentos. O objetivo principal é afastar o ativo de sua origem ilícita. Quanto maior o número de operações realizadas e a diversificação de naturezas, bem como maior a quantidade de jurisdições internacionais envolvidas, mais difíceis serão a identificação e o rastreamento dos valores transacionados. Nesse sentido, frequentemente, verifica-se a interposição dos conhecidos paraísos fiscais, onde imperam regras mais rígidas de sigilo bancário. Já na última etapa, integração, os recursos retornam com aparência lícita às mãos dos criminosos, assumindo a forma de investimentos ou empréstimos externos, lucros de empresas regulares, aquisição de bens, doações entre outros. Assim, os valores são integrados e ficam à disposição dos criminosos para que deles possam se beneficiar sem despertar suspeitas. Apresentação20 • Módulo 1 O dinheiro sujo é acumulado. O dinheiro sujo é colocado no sistema financeiro. Compra de bens de luxo, investimentos financeiros, comerciais e industriais. Transferência eletrônica Empréstimo à empresa “Y” Pagamentos por “Y” de notas fiscais falsas à empresa “X” COLOCAÇÃO INTEGRAÇÃO Transferência para a conta bancária da empresa “X”. OCULTAÇÃO Figura 8: Mecanismo utilizado na fase de integração. Fonte: labSEAD-UFSC (2020). Também é importante destacarmos a existência de outras classificações do processo de lavagem em fases. Como veremos os modelos a seguir, citados pelo estudioso Anselmo (2013). • Modelo circular, desenvolvido pelo Departamento do Tesouro Americano: explica os ciclos de lavagem de dinheiro com início na produção de riqueza por meio de atividades criminais. • Modelo naturalista, apresentado pelo professor suíço Zund, que comparou o ciclo de lavagem de dinheiro com a circulação natural da água: precipitação, filtração, evaporação e nova precipitação. A fase da precipitação seria a introdução do dinheiro vindo da atividade criminosa. Apresentação21 • Módulo 1 • Modelo teleológico de Ackermann: inspirado nos objetivos de cada etapa da lavagem, principais e secundários. • Modelo das fases de Bernasconi, que divide o fenômeno em duas fases, a lavagem de primeiro e segundo graus (laundering e recycling). O termo money laundering foi utilizado pela primeira vez em 1982 em documentos oficiais no caso United States, na Flórida, em processo judicial de ocultação de bens provenientes do tráfico de cocaína colombiana e foi difundido pela imprensa e pelos meios acadêmicos (STESSENS, 2005). Na Espanha, o termo difundido foi utilizado como blanqueo de capitales e lavado de diñero, na Alemanha, geldwaschen ou geldwäscherei. Na França, adotou-se a expressão blanchiment d’argent e, na Itália, o termo riciclaggiodidenarosporco (MORO, 2007). A partir da década de 1970, com a falência da política de guerras às drogas, o interesse da comunidade internacional passa a ser despertado para que o enfrentamento ao crime altamente lucrativo passe a ter como foco a privação dos recursos auferidos ilicitamente pelos criminosos, inicialmente em relação ao tráfico de drogas, expandindo- se posteriormente para outros crimes graves. Além do interesse das Nações Unidas, especialmente ao encampar os estudos preparatórios da Convenção de Viena (1988), o tema assumiu grande destaque na agenda internacional, desde organizações internacionais a grupos. Saiba mais Apresentação22 • Módulo 1 Na atualidade, é possível apontar diversos organismos internacionais que se ocupam do tema (ANSELMO, 2010, 2013), sendo hoje o de maior proeminência, o já citado, Grupo de Ação Financeira Internacional para a Lavagem de Dinheiro – Financial Action Task Force (FATF-GAFI). Importante ressaltarmos que, por outro lado, a atuação da ONU foi precursora das iniciativas de criminalização da lavagem de dinheiro a partir da Convenção de Viena, assim como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, o Grupo de Egmont, a Organização dos Estados Americanos, a Interpol, o Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), a União Europeia, o Conselho da Europa, entre outros. Apresentação23 • Módulo 1 “ Aula 3 – O Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU) CONTEXTUALIZANDO... O tema da lavagem de dinheiro foi inicialmente objeto de preocupação da Organização das Nações Unidas com a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, ocorrida em Viena no ano de 1988. A partir desse instrumento, entendeu-se que há necessidade de discussões e atenção especial a esse assunto. Assim, surgiram as primeiras regras universais de combate ao crime de lavagem de dinheiro, bem como diversos instrumentos que contribuem para o combate a esse crime. É nesse contexto que iremos desenvolver nossa aula. OS INSTRUMENTOS DA ONU DE COMBATE À LAVAGEM DE DINHEIRO A Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, ocorrida em Viena, em 1988, foi internalizada no Brasil por meio do Decreto n.º 154, de 26 de junho de 1991, que, em seu artigo 3º, aponta: 1 - Cada uma das partes adotará as medidas necessárias para caracterizar como delitos penais em seu direito interno, quando cometidos internacionalmente: [...] b) i) a conversão ou a transferência de bens, com conhecimento de que tais bens são procedentes de algum ou alguns dos delitos estabelecidos no inciso a) deste parágrafo, ou da prática do delito ou delitos em questão, com o objetivo de ocultar ou encobrir a origem ilícita dos bens, ou de ajudar a qualquer pessoa Apresentação24 • Módulo 1 “que participe na prática do delito ou delitos em questão, para fugir das consequências jurídicas de seus atos;ii) a ocultação ou o encobrimento, da natureza, origem, localização, destino, movimentação ou propriedade verdadeira dos bens, sabendo que procedem de algumou alguns dos delitos mencionados no inciso a) deste parágrafo ou de participação no delito ou delitos em questão [...] (BRASIL, 1991). Segundo Caparrós (2006, apud ANSELMO, 2010), esse foi o primeiro documento internacional em que os Estados assumiram a obrigação jurídica vinculante de produzir legislação interna prevendo a imposição de penas a quem buscasse dar aparência lícita a capitais procedentes de atividades ilegais do tráfico de entorpecentes. Nesse contexto, Corrêa (2013) afirma que o documento apresenta as primeiras regras universais relacionadas ao crime de lavagem de dinheiro. A Convenção de Viena, portanto, apesar de não ter feito referência direta ao nome jurídico lavagem de dinheiro, foi um marco na formação do regime internacional de combate a esse crime por ter introduzido a obrigação internacional de que os países criminalizassem o proveito da criminalidade. Além da Convenção de Viena (1988), destacam-se outros três instrumentos da ONU que abordam o tema. Vamos conhecê-los a seguir. Apresentação25 • Módulo 1 Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo (1999) Recomendou a busca de estratégias para evitar o financiamento das organizações terroristas, a fim de enfraquecer ou eliminar suas atividades. Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional (Palermo, 2000) Apresentou medidas específicas sobre lavagem de dinheiro. Marcou a passagem da obrigação internacional, firmada na Convenção de Viena, de criminalizar a lavagem de dinheiro proveniente do crime de tráfico de entorpecentes para todos os crimes graves. Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção (Mérida, 2003) Trouxe um capítulo específico sobre o tema de lavagem de dinheiro, tendo em vista a relação entre o crime de corrupção e o de lavagem de dinheiro. 1 3 2 Figura 9: Instrumentos de abordagem da ONU. Fonte: labSEAD-UFSC (2020). No início dos anos 80, o Comitê de Ministros do Conselho da Europa mostrava preocupação com a prevenção e combate à lavagem de dinheiro, sobretudo pela utilização do sistema financeiro para a ocultação dos capitais envolvidos. Assim, Apresentação26 • Módulo 1 adotou-se uma das medidas consideradas mais antigas na prevenção e combate à lavagem de dinheiro, onde estabeleceu medidas de combate em transações bancárias. Em novembro de 1990, a Convenção do Conselho da Europa, relativa ao branqueamento, detecção, apreensão e perda dos produtos do crime, conhecida como Convenção de Estrasburgo, tratou de um documento firmado no âmbito do Conselho da Europa. Outra importante referência é o Comitê da Basiléia – Basel Commite e on Banking Supervision (BCBS), criado em 1974, pelos presidentes dos bancos centrais dos países do Grupo dos Dez (G-10). O Comitê se reúne no Banco de Compensações Internacionais, na Basileia, Suíça, onde possui sua secretaria permanente. Trata-se de uma organização que estabelece princípios e standards não vinculantes, sem a autoridade de um supervisor bancário transnacional (SHAMS, 2004 apud ANSELMO, 2010). O BCBS tornou-se um fórum de discussão para o estabelecimento de boas práticas de supervisão bancária, tendo como objetivo aperfeiçoar as ferramentas de fiscalização sob a perspectiva internacional. Embora não possua autoridade para fazer cumprir suas recomendações, a maioria dos países, membros ou não do BCBS, tendem a implementar as políticas ditadas pelo comitê. Em dezembro de 1988, foi aprovada a Declaração de Princípios da Basileia sobre prevenção da utilização do sistema bancário para a lavagem de dinheiro de origem criminosa (Prevention of Criminal Use of The Banking System for the Purpose of Money-Laundering), conhecida como Princípios da Basileia de 1988 (Basel Princpicles 1988). É uma organização composta por economias mundiais que estabelecem acordo para a aquisição de empréstimos colaborativos. Apresentação27 • Módulo 1 Segundo Mitsilegas (2003) a Declaração de Princípios da Basileia tinha por base a atuação das instituições financeiras sob três perspectivas. Vejamos na imagem a seguir. Identificar clientes. Prevenir a atuação do banco em transações ilegítimas. Assegurar a cooperação com as autoridades. Figura 10: Bases de atuação da Declaração de Princípios da Basileia. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). A Declaração de Princípios da Basileia assegura os sistemas bancários e entende que sua fragilidade pode influenciar a harmonia do Sistema Financeiro Internacional. Apresentação28 • Módulo 1 Aula 4 – O GAFI e as 40 Recomendações CONTEXTUALIZANDO... Nos anos 1980, com o crescimento do tráfico de drogas e das organizações mafiosas e grupos criminosos organizados, surgiu a preocupação referente ao aumento desse crime e, com ela, a formação do Grupo de Ação Financeira (GAFI), ou Financial Action Task Force (FATF). Nesse período, os fundadores do GAFI concluíram pela necessidade urgente de uma ação decisiva, nos âmbitos nacional e internacional, para conter a produção, consumo e o tráfico de drogas, bem como a lavagem do seu produto (ALEXANDER, 2000). Assim, o grupo desenvolveu um documento internacional com quarenta recomendações para o combate de lavagem de dinheiro. Vamos conhecer mais sobre a estrutura e o conteúdo desse documento no decorrer dessa aula. A ESTRUTURA DO GAFI E O DOCUMENTO DE RECOMENDAÇÕES O Grupo de Ação Financeira foi constituído com o objetivo de impedir a utilização do sistema bancário para a lavagem de dinheiro, adaptar os sistemas legais e regulamentares para prevenção, bem como melhorar a assistência multilateral entre os países. Foi baseado, portanto, em um tripé formado pelos seguintes pilares: regulação do sistema financeiro, harmonização dos sistemas legais e fomento à cooperação. Na estruturação do organismo, foram definidas quatro medidas. Vamos conhecê-las na imagem seguinte. Apresentação29 • Módulo 1 (monitoramento e vigilância) Sobre a adoção e implementação das recomendações do GAFI por todos os membros. Dos esforços para incentivar os não membros a adotarem e implementarem as recomendações. Fórum contínuo de avaliação da evolução das técnicas de lavagem de dinheiro no âmbito interno e mundial e troca de informações sobre técnicas de combate. Com o combate, entre os diferentes países ou territórios, à lavagem de dinheiro. Avaliação mútua Coordenação e supervisão Atuação na elaboração de novas recomendações e avaliações de contramedidas Valorização da cooperação entre as organizações envolvidas Figura 11: Quatro medidas do organismo GAFI. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). A estrutura do GAFI contempla um número reduzido de 36 membros, que representam os mais importantes centros financeiros do mundo, bem como os associatemembers, que funcionam como organismos regionais. Os observadores são entes internacionais cuja atividade se relaciona direta ou indiretamente com a prevenção e combate à lavagem de dinheiro. A maior contribuição do GAFI para o combate à lavagem de dinheiro foi a criação do documento conhecido como “40 Recomendações”, o qual constitui um conjunto básico de medidas a serem adotadas pelos países para que possam dispor de uma estrutura de combate à lavagem de dinheiro. Esse instrumento do grupo foi produzido em 1990 e passou por sucessivas revisões para sua adequação. No ano de 2001, uma dessas revisões resultou na inclusão de recomendações específicas para o financiamento ao terrorismo. O quadro a seguir apresenta a estrutura e resume as alterações na versão atual do documento. Vamos analisar. Apresentação30 • Módulo 1 QUARENTA RECOMENDAÇÕES DO GAFI (VERSÃO 2012) Número Nº anterior 1 - Avaliação de riscos e aplicação de uma abordagem baseada no risco.* 2 R.31 Cooperação e coordenação nacional. A – POLÍTICAS E COORDENAÇÃO ALD/CFT 3 R1 e R.2 Crime de lavagem de dinheiro.* 4 R.3 Confisco e medidas cautelares.* B – LAVAGEM DE DINHEIRO E CONFISCO10 R.5 Devida diligência acerca do cliente.* 11 R.10 Manutenção de registros. Devida diligência acerca do cliente e manutenção de registros 12 R.6 Pessoas expostas politicamente.* 13 R.7 Correspondente bancário.* 14 RE VI Serviços de transferência de dinheiro/valores.* 15 R.8 Novas tecnologias. 16 RE VII Transferências eletrônicas.* Medidas adicionais para clientes e atividades específicos 17 R.9 Recurso a terceiros.* 18 R.15 e R.22 Controles internos e filiais e subsidiárias estrangeiras.* Recurso a terceiros, controles e grupos financeiros 5 RE II Crime de financiamento do terrorismo.* 6 RE III Sanções financeiras específicas relativas ao terrorismo e ao Financiamento do terrorismo. * 7 Sanções financeiras específicas relativas à proliferação.* 8 REV III Organizações sem fins lucrativos.* C – FINANCIAMENTO DO TERRORISMO E FINANCIAMENTO DA PROLIFERAÇÃO 9 R.4 Leis de sigilo bancário. D – MEDIDAS PREVENTIVAS Apresentação31 • Módulo 1 19 R.21 Países de alto risco.* 20 R.13 e RE IV Comunicação de operações suspeitas. 21 R.14 Revelação (tipping-off) e confidencialidade. Comunicação de operações suspeitas 22 R.12 APNFDs: Devida diligência acerca do cliente.* 23 R.16 APNFDs: Outras medidas.* Atividades e profissões não financeiras designadas (APNFDs) 24 R.33 Transparência e propriedade de pessoas jurídicas. 25 R.34 Transparência e propriedade de outras estruturas jurídicas. E – TRANSPARÊNCIA E PROPRIEDADE EFETIVA DE PESSOAS JURÍDICAS E OUTRAS ESTRUTURAS JURÍDICAS F – PODERES E RESPONSABILIDADES DE AUTORIDADES COMPETENTES E OUTRAS MEDIDAS INSTITUCIONAIS COMPETENTES E OUTRAS MEDIDAS INSTITUCIONAIS 26 R.23 Regulação e supervisão de instituições financeiras. * 27 R.29 Poderes dos supervisores. Regulação e supervisão 28 R.24 Regulação e supervisão das APNFDs. 29 R.26 Unidades de inteligência financeira.* 30 R.27 Responsabilidades das autoridades de investigação e de aplicação da lei.* 32 RE IX Transportadores de valores. Autoridades operacionais e de aplicação da lei 31 R.28 Poderes das autoridades de investigação e de aplicação da lei. 33 R.32 Estatísticas. 34 R.25 Orientações e retroalimentação (feedback). Obrigações gerais 35 R.17 Sanções. Sanções 36 R.35 e RE I Instrumentos internacionais. G – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Apresentação32 • Módulo 1 37 R.36 e RE V Assistência jurídica mútua. 38 R.38 Assistência jurídica mútua: congelamento e confisco.* 39 R.39 Extradição. 40 R.40 Outras formas de cooperação internacional.* A coluna “número anterior” se refere à correspondente Recomendação do GAFI da versão de 2003. As recomendações marcadas com um asterisco possuem notas interpretativas, que devem ser lidas em conjunto com a recomendação. Versão adotada em 15 de fevereiro de 2012. Quadro 1: As Quarentas Recomendações do GAFI (2012). Fonte: GAFI (2012), adaptado por labSEAD-UFSC (2020). Nesse contexto, surge a projeção regional do GAFI, o Grupo de Ação Financeira da América Latina contra a Lavagem de Dinheiro (GAFILAT), originariamente criado com o nome de Financial Action Task Force on Money Laundering in South America (GAFISUD). Por fim, vale destacarmos que esse grupo busca desenvolver e implementar uma estratégia global e abrangente no combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, conforme estabelecido no documento com as quarenta recomendações. Apresentação33 • Módulo 1 Referências ALEXANDER, K. The legalization of the international anti- money laundering regime: The role of the Financial Action Task Force. Centre for Business Research, University of Cambridge, 2000. ANSELMO, M. A. Lavagem de dinheiro e cooperação jurídica internacional. São Paulo: Saraiva, 2013. ANSELMO, M. A. O ambiente internacional do combate à lavagem de dinheiro. Revista de Informação Legislativa, Brasília, DF, ano 47, n. 188, p. 357-371, out./dez. 2010. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/47/188/ril_v47_n188_ p357.pdf. Acesso em: 2 abr. 2020. BRASIL. Decreto n.º 154 de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. Brasília, DF: Presidência da República, 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto/1990-1994/d0154.htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683. htm. Acesso em: 6 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Economia. Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Prevenção à lavagem de dinheiro e combate ao financiamento do terrorismo. Brasília, DF, [2019]. Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/assuntos/ prevencao-lavagem-dinheiro. Acesso em: 2 out. 2019. CORRÊA. L. M. P. O Grupo De Ação Financeira Internacional (GAFI): organizações internacionais e crime transnacional. Brasília, DF: FUNAG, 2013. Apresentação34 • Módulo 1 FERNANDES, R. Lavagem de dinheiro: aspectos investigativos, jurídicos, penais e constitucionais, prevenção e repressão do branqueamento de capitais no Direito Brasileiro, Português e Internacional. São Paulo: Quartier Latin, 2019. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2014 a 2017. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2018a. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/ uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_ faccoes_2018.pdf. Acesso em: 6 jan. 2020. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2018b. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/ uploads/2019/03/Anuario-Brasileiro-de-Seguran%C3%A7a- P%C3%BAblica-2018.pdf. Acesso em: 6 jan. 2020. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019. Disponível em: http:// www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/10/ Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf. Acesso em: 3 jan. 2020. GAFI. Padrões internacionais de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo e da proliferação: as recomendações do GAFI. Tradução de Deborah Salles. Revisão de Aline Bispo. [S.I]: COAF, 2012. Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/orgaos/coaf/arquivos/as- recomendacoes-gafi. Acesso em: 2 abr. 2020. MITSILEGAS, V. Money laundering countermeasures in the European Union: a new paradigm of security governance versus fundamental legal principles. The Hague: Kluwer Law International, 2003. Apresentação35 • Módulo 1 MORO, S. F. M. (org). Lavagem de dinheiro: comentários à lei pelos juízes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007. O QUE É? – Empresa Offshore. Desafios do desenvolvimento, Brasília, DF, ano 2, n. 15, 1º out. 2005. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_ content&view=article&id=2080:catid=28&Itemid=23. Acesso em: 3 de jan. 2020. SANCHES, C. A. El delito de blanqueo de capitales. Madri: Marcial Pons, 2000. STESSENS, Guy. Money Laundering: a New International Law Enforcement Model. New York: Cambridge University Press, 2005. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Laboratório da Secretaria de Educação a Distância (labSEAD-UFSC). Florianópolis, 2020. Disponível em: http://lab.sead.ufsc.br/. Acesso em: 10 fev. 2020. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase2 • Módulo 2 INVESTIGAÇÃO COM FOCO PATRIMONIAL E PRIMEIRA FASE MÓDULO 2 Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase3 • Módulo 2 BY NC ND Programação Jonas Batista Salésio Eduardo Assi Thiago Assi Audiovisual Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Rafael Poletto Dutra Rodrigo Humaita Witte PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública Diretoria de Ensino e Pesquisa Coordenação Geral de Ensino Núcleo PedagógicoCoordenação de Ensino a Distância Conteudista George Estefani de Souza do Couto Revisão de Conteúdo Ana Carolina Litran Andrade César Medeiros Cupertino Danielle Garcia Alves Vinicius Teles da Silva Costa Revisão Pedagógica Ardmon dos Santos Barbosa Vânia Cecília de Lima Andrade UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA labSEAD Comitê Gestor Eleonora Milano Falcão Vieira Luciano Patrício Souza de Castro Financeiro Fernando Machado Wolf Consultoria Técnica EaD Giovana Schuelter Coordenação de Produção Francielli Schuelter Coordenação de AVEA Andreia Mara Fiala Design Instrucional Carine Biscaro Danrley Maurício Vieira Marielly Agatha Machado Design Gráfico Aline Lima Ramalho Taylizy Kamila Martim Sonia Trois Victor Liborio Barbosa Linguagem e Memória Cleusa Iracema Pereira Raimundo Victor Rocha Freire Silva Todo o conteúdo do Curso Investigação e Análise Financeira, da Secretaria de Gestão de Ensino em Segurança Pública (SEGEN), Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo Federal - 2020, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase4 • Módulo 2 Sumário Apresentação ................................................................................................................5 Objetivos do módulo ............................................................................................................................. 5 Estrutura do módulo ............................................................................................................................. 5 Aula 1 – Investigação com Foco Patrimonial Relacionada à Lavagem de Dinheiro ..........................................................................................................................6 Contextualizando... ............................................................................................................................... 6 A investigação e o crime de cunho patrimonial .................................................................................. 6 Aula 2 – Investigação – Primeira Fase ....................................................................10 Contextualizando... ............................................................................................................................. 10 Análise preliminar do alvo .................................................................................................................. 10 Indícios do crime antecedente ........................................................................................................... 11 Análise fiscal ....................................................................................................................................... 13 Análise bancária .................................................................................................................................. 16 Análise bursátil .................................................................................................................................... 18 Investigação patrimonial .................................................................................................................... 18 Relatório de Inteligência Financeira ................................................................................................... 21 Pesquisas em sistemas disponíveis ................................................................................................. 23 Pesquisas em sistemas conveniados ............................................................................................... 26 Referências ..................................................................................................................31 Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase5 • Módulo 2 Apresentação A partir de quais elementos é geralmente iniciada uma investigação de crimes de lavagem de dinheiro? A investigação de lavagem de dinheiro, em linhas preliminares e gerais, inicia-se a partir de suspeitas provocadas pelo padrão de vida usual e notoriamente incompatível dos envolvidos. Neste módulo, vamos identificar os aspectos que abrangem o processo de investigação desse crime, especificamente a primeira fase do processo investigativo e a investigação com foco patrimonial relacionada à lavagem de dinheiro. OBJETIVOS DO MÓDULO Conhecer o que envolve a investigação com foco patrimonial relacionada à lavagem de dinheiro, bem como os aspectos que circundam a primeira fase do processo investigativo desse crime. ESTRUTURA DO MÓDULO • Aula 1 – Investigação com Foco Patrimonial Relacionada à Lavagem de Dinheiro. • Aula 2 – Investigação – Primeira Fase. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase6 • Módulo 2 Aula 1 – Investigação com Foco Patrimonial Relacionada à Lavagem de Dinheiro CONTEXTUALIZANDO... A maior parte das infrações penais é de cunho patrimonial com o objetivo de gerar lucros. Esses crimes influenciam na economia e podem ser identificados pela análise de indícios suficientes da infração penal. Nesse contexto, o combate à lavagem de dinheiro surge como ferramenta eficaz no enfrentamento à criminalidade organizada. Nesta aula, vamos conhecer um pouco mais sobre a investigação com foco patrimonial relacionada a esse tipo de crime. A INVESTIGAÇÃO E O CRIME DE CUNHO PATRIMONIAL Para iniciarmos, é importante destacarmos que todo crime de cunho patrimonial, que representa a maior parte das infrações penais, tem como objetivo principal arrecadar lucro. Assim, tais práticas gerarão o incremento e a evolução financeira incompatível por parte dos criminosos. Nesse contexto, o foco de investigação de todas as infrações penais que possibilitem ganhar ativos ilicitamente, até mesmo de um homicídio, por exemplo, quando, mediante pagamento ou recompensa, deve ser o patrimônio e os ativos criminosamente levantados. Além de potencializar a investigação do crime precedente, o foco patrimonial atua como “soldado de reserva”. Mesmo que não ocorra condenação por crime antecedente, será Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase7 • Módulo 2 viável a apuração da lavagem de dinheiro diante de indícios suficientes da infração penal. Figura 1: Apuração investigativas de indícios. Fonte: Pixabay (2020). Ao contrário do senso comum, a responsabilização pela lavagem de dinheiro não requer condenação por crime anterior, tampouco a existência de processo. A simples colocação dos ativos ilícitos no mercado já caracteriza lavagem de dinheiro. O olhar voltado à questão patrimonial também contribuirá na prevenção, desestimulando a continuidade da empreitada criminosa. A retirada do proveito econômico das práticas criminosas tende a torná-las inúteis e, portanto, desinteressantes para os autores. Também deve ser considerada a possibilidade da perda de bens e recursos ganhos pela lavagem de dinheiro em favor da sociedade, inclusive para o fortalecimento de órgãos responsáveis pelo enfrentamento desse tipo de crime, a exemplo das polícias civis. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase8 • Módulo 2 O combate à lavagem de dinheiro surge, então, como ferramenta eficaz no enfrentamento à criminalidade organizada, uma vez que esta depende da lavagem para poder desfrutar dos benefícios financeiros gerados com as ações ilícitas (ANSELMO, 2013). Além disso, ação repressiva à lavagem de dinheiro contribui também para que o Brasil atenda aos standards previstos pelo FATF-GAFI, que leva em consideração as estatísticas de inquéritos, indiciamentos, prisões, bloqueios e perdimentos de bens relacionados à lavagem de dinheiro. Assim, diante da notícia do crime de cunho patrimonial e/ou da incompatibilidade patrimonial suspeita, deve-se apurar se há lavagemde dinheiro. A apuração da lavagem de dinheiro deve valer-se das informações do COAF, sobretudo dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIFS), e também da própria Atividade de Inteligência (AI) desenvolvida pelas polícias judiciárias, a qual podemos considerar como uma atividade de conhecimento sobre fatos e cenários, de forma discreta e sigilosa, sem a percepção daqueles que possuam eventuais interesses contrários. A produção de conhecimento busca subsidiar e assessorar a tomada de decisões, auxiliando a redução de incertezas dos mais variados gestores ou tomadores de decisões nos diversos níveis hierárquicos e esferas da estrutura estatal. A Atividade de Inteligência, com efeito, se desenvolve por meio das fases de obtenção e processamento de dados. Vejamos, na figura a seguir, o que está incluído nesse processo. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase9 • Módulo 2 Figura 2: Obtenção e processamento de dados. Fonte: labSEAD-UFSC (2020). Análise de Dados. Separação dos dados de interesse. Avaliação de dados. Interpretação dos dados com projeção de ações. Vale ressaltar a importância da estratégia de investigação materializada na expressão inglesa “follow the money” (siga o dinheiro), que, além de materializar a existência do crime de lavagem de dinheiro, pode colaborar, mesmo que seja com elementos indiciários, para a prova do crime antecedente. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase10 • Módulo 2 Aula 2 – Investigação – Primeira Fase CONTEXTUALIZANDO... Atitudes suspeitas de um estilo de vida de ostentação podem originar a abertura de um processo investigativo de crime de lavagem de dinheiro. A partir disso, surgem os indícios e com eles se inicia o levantamento de dados para que se encontrem, após uma profunda análise, dados inconsistentes que possam sustentar a continuação do processo de investigação. Agora, vamos conhecer a primeira fase do processo investigativo desse crime em questão. ANÁLISE PRELIMINAR DO ALVO A investigação de lavagem de dinheiro, em linhas preliminares e gerais, inicia-se a partir de suspeitas provocadas pelo padrão de vida usualmente e notoriamente incompatível dos envolvidos. Um modo de vida “ostentador”, bem como o incremento patrimonial aparentemente injustificado e sem lastro, entre outros fatores, podem constituir sinais externos desse tipo de crime. Geralmente, criminosos envolvidos em lavagem de dinheiro fazem publicações em redes sociais com imagens e textos que revelam aquisições de carros de luxo, de viagens, imóveis, entre muitos outros bens ostensivos. A compra de um veículo de luxo, por exemplo, pode resultar numa comunicação de movimentação atípica/suspeita para o COAF e que, por sua vez, pode resultar na geração de um RIF, que, muitas vezes, é a base para a investigação. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase11 • Módulo 2 No caso de agentes públicos, aspectos sobre a renda formal dos envolvidos podem ser verificados em portais de transparência disponíveis na internet. Já para pessoas não vinculadas ao serviço público, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho, disponível na ferramenta SINESP, sob gestão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, oferece informações úteis à investigação. SINESP – Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas é uma plataforma de informações integradas, que possibilita consultas operacionais, investigativas e estratégicas sobre segurança pública, implementado em parceria com os entes federados. Ele foi instituído pela Lei n.º 12.681, de 04 de julho de 2012, passando posteriormente a fazer parte da Lei n.º 13.675, de 11 de junho de 2018. Para acessá-lo, clique no link: https://www.justica.gov.br/sua- seguranca/seguranca-publica/sinesp-1. Os aspectos preliminares da investigação de lavagem de dinheiro envolvem a necessidade de se ampliar o conhecimento sobre os investigados, buscando respostas para perguntas básicas que possam subsidiar a continuidade dos trabalhos. O processo de conhecimento do alvo e de suas relações, entre outras formas, pode ocorrer por meio de pesquisas em sistemas corporativos e também em fontes abertas. INDÍCIOS DO CRIME ANTECEDENTE Na Lei n.º 9.613, de 1998, encontramos a afirmativa de que, para fins de lavagem de dinheiro, a comprovação da existência de um crime antecedente pode acontecer pela mera verificação de elementos indiciários. O termo “indícios” Saiba mais Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase12 • Módulo 2 Nesta fase, é importante que o foco da busca seja em informações sobre patrimônio (em nome próprio ou oculto), a exemplo de imóveis, veículos, participação em pessoas jurídicas, registros de fluxo migratório etc., a depender da natureza da investigação iniciada. O investigador deve sempre ter em mente a importância em se estabelecer o caminho do dinheiro. Para isso, serão necessárias, num segundo momento, medidas cautelares de quebras de sigilo bancário/fiscal e bursátil. A partir do recebimento dessas informações, passa-se à análise dos elementos que elas trazem à investigação. é empregado no dispositivo legal com sentido de carga probatória não categórica ou plena. A prova indiciária do crime antecedente é suficiente para o recebimento de uma denúncia pelo delito de lavagem de dinheiro. A verificação dessa prova pode se dar pela realização de consultas em bases de dados abertas ou de acesso restrito ao registro de antecedentes criminais, sistemas de acompanhamento processual e, sobretudo, pela análise do conjunto dessas informações e das relações delas decorrentes. Figura 3: Consulta a base de dados. Fonte: Shutterstock (2020). Refere-se ao mercado de ações e suas questões de valores mobiliários, bolsa de valores e fundos de investimentos. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase13 • Módulo 2 ANÁLISE FISCAL A análise fiscal consiste na verificação de dados obtidos em declarações e documentos apresentados pelos contribuintes, em geral, aos órgãos responsáveis pela fiscalização e arrecadação de tributos nos âmbitos federal, estadual e municipal. Verifica-se uma gama de informações para realização de uma análise fiscal. Contudo, recomenda-se a concentração, em princípio, sobre as informações na Receita Federal do Brasil (RFB), como: Declarações de Imposto sobre a Renda e o Dossiê Integrado (resumo das tributações na esfera federal) ou equivalente. A extração de dados obtidos na Receita Federal, referentes ao mesmo período das demais quebras de sigilo (bancária e bursátil), com o intuito de possibilitar a análise de dados por intermédio de sistemas informatizados, sempre que possível, deve gerar três modelos de arquivos. Vamos conhecê-los na imagem a seguir. Figura 4: Modelos de arquivos para análise. Fonte: labSEAD-UFSC (2020). Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase14 • Módulo 2 ““ Nessa análise, a coincidência dos períodos tem o objetivo de viabilizar a análise da evolução patrimonial, adotando- se por parâmetro o ano-calendário, iniciando-se em 1º de janeiro de determinado ano e finalizando em 31 de dezembro de determinado ano, compreendendo três a cinco anos de período que circundem o período foco da investigação. A evolução patrimonial e o rastreamento dos valores consistem na análise de dados decorrentes da quebra de sigilo bancário, fiscal e bursátil, em comparação com as informações do RIF, do COAF e de bens móveis e imóveis possuídos. Sobre o compartilhamento de dados, a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA), órgão formado por mais de 90 entidades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em esferas federal, estadual e municipal, além de Ministérios Públicos e associações que atuam na prevenção e combate à corrupção e à lavagem de dinheirono país, trazendo resultados positivos ao logo dos anos, recomenda à Secretaria da Receita Federal do Brasil: A sistematização, operacionalização e padronização do compartilhamento de informações fiscais em meio eletrônico, de forma estruturada, para os órgãos de fiscalização, controle, investigação e persecução penal, preservadas as restrições de sigilo vigentes e a integridade das informações. (BRASIL, 2017). Nesse sentido, têm papel extremamente relevante os Laboratórios de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro (LAB- LD), unidades responsáveis pelo recebimento e análise de dados bancários, fiscais e outros relevantes às investigações de lavagem de dinheiro, bem como pela interlocução com órgãos detentores dos dados (Banco Central, instituições financeiras privadas etc.). Os LAB-LD constituem uma Rede Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase15 • Módulo 2 Nacional de Laboratórios de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (REDE-LAB) destinada ao compartilhamento de técnicas e experiências acerca da prevenção e repressão a lavagem de dinheiro, corrupção e a outros delitos relacionados. Os LAB-LD disponibilizam minutas de representações judiciais para as quebras de dados fiscais e bursátil, a fim de que estas se adequem da melhor maneira possível às especificidades técnicas de cada caso. Vale destacar, no que se refere à quebra de sigilo bancário, a existência do Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias (SIMBA), que é destinado ao recebimento e gestão de dados bancários oriundos de quebras de sigilo bancárias judicialmente decretadas, o qual iremos abordar em outro módulo deste curso. Figura 5: Quebra de sigilo dos dados. Fonte: Shutterstock (2020). A Receita Federal do Brasil (RFB) é o órgão que possui a maior diversidade de dados, sendo responsável por receber declarações fiscais de pessoas físicas e jurídicas. As informações da RFB podem subsidiar a investigação com dados de todo o patrimônio declarado por pessoas e/ou empresas, os quais podemos verificar na imagem a seguir. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase16 • Módulo 2 Conhecer receitas, despesas e patrimônio. Conferir a variação patrimonial e possível divergência entre os rendimentos e o patrimônio adquirido (enriquecimento ilícito). Conferir a renda não declarada (sonegação) ou patrimônio a descoberto (sem lastro – irregularidade na declaração de bens ou omissão de receita). Verificar vínculos com terceiros, possibilitando a comparação com outros elementos obtidos na investigação. Figura 6: Dados para análise obtidos na RFB. Fonte: labSEAD-UFSC (2020). A análise fiscal possibilita, ainda, a descoberta de eventuais interpostas pessoas com patrimônio declarado, mas sem renda que possa justificar a existência do patrimônio verificado, bem como a identificação de investigados com grandes movimentações financeiras, mas sem patrimônio declarado. ANÁLISE BANCÁRIA A análise bancária é o exame de transações bancárias ocorridas em contas de pessoas investigadas. Ela torna-se relevante quando há suspeitas de que bens, direitos e valores ilícitos foram operados por meio de contas bancárias. A fim de viabilizar a análise da evolução patrimonial, adota-se por parâmetro o ano-calendário, iniciando- se em 1º de janeiro de determinado ano e finalizando em 31 de dezembro de determinado ano, geralmente com abrangência de três a cinco anos anteriores aos fatos da investigação. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase17 • Módulo 2 Via de regra, o recebimento de informações bancárias se dá por intermédio da utilização do Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias (SIMBA), mediante prévio cadastramento na plataforma para geração da minuta e do número de caso (protocolo digital) antes do ajuizamento da medida, por meio de arquivos digitais no padrão da extensão .txt que possibilitam a exportação e a geração de relatórios parametrizados pelo próprio sistema, simplificando as análises. Assim verifica-se o caminho do dinheiro e a movimentação por ano e período e cotejam-se essas informações com os dados fiscais e bursáteis, a fim de se estabelecerem a evolução e a (in)compatibilidade patrimonial. O SIMBA é um conjunto de processos, módulos e normas para tráfego de dados bancários entre instituições financeiras e órgãos governamentais. A seguir, vamos identificar na figura o que envolve o sistema. Definição de processo para solicitação normatizada de dados bancários. Utilização de sistema de validação de dados. Utilização de sistema de processamento de dados. Figura 7: Fatores possíveis pela análise de dados. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Esse sistema se trata de uma evolução do modelo adotado originalmente pela Assessoria de Pesquisa e Análise (ASSPA), unidade vinculada ao gabinete do Procurador-Geral da República do Ministério Público Federal. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase18 • Módulo 2 ANÁLISE BURSÁTIL A análise bursátil consiste no exame dos bens, direitos e valores, de ativos em geral, sobretudo na esfera dos valores mobiliários (bolsa de valores), ações e fundos de investimento, em nome das pessoas investigadas ou que as tenham como destinatárias ou beneficiárias, ou seja, os titularizados por terceiros, mas que há contrato de concessão de direitos para o investigado. Essa esfera é supervisionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A análise se torna relevante quando há a suspeita de que bens, direitos e ou valores ilícitos foram operados por meio do mercado de valores mobiliários, prática muito comum, sobretudo para burlar a tradicional investigação que usualmente vinha se atendo apenas às quebras de sigilo bancário e fiscal. A fim de viabilizar a análise da evolução patrimonial, lembramos que deve ser adotado por parâmetro o ano- calendário, iniciando em 1º de janeiro de determinado ano e finalizando em 31 de dezembro de determinado ano, abrangendo entre três a cinco anos de período que circundem o período foco da investigação. INVESTIGAÇÃO PATRIMONIAL A investigação patrimonial consiste no conjunto de medidas que podem ser realizadas, paralela e simultaneamente à investigação, visando identificar direitos, valores e bens, móveis e imóveis, presentes e passados, adquiridos com o produto da prática ilícita, seja por investigados, por seus familiares, intermediários, pessoas jurídicas e sócios “de direito” ou “de fato”, desde que exista indicativo de que os bens sejam instrumentos, proveitos e produtos do crime que se investiga. É importante analisar o patrimônio de acordo com o momento específico atinente aos fatos e períodos autorizados pela justiça. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase19 • Módulo 2 O levantamento patrimonial é importante para aplicação de medidas assecuratórias, com o objetivo de descapitalizar os criminosos e suas organizações, bem como reparar danos causados ao Estado. A realização de uma análise patrimonial requer a obtenção dos dados bancários, fiscais e bursáteis. A partir dos dados fiscais dos investigados, deve-se avançar para o levantamento patrimonial declarado e real. Levantamento patrimonial declarado O levantamento patrimonial declarado corresponde ao levantamento realizado com base em dados obtidos apenas nas declarações e dados fiscais, a exemplo da Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física (como fonte principal), além de outras apresentadas ao fisco como o Dossiê Integrado. Esses dados devem ser confrontados com todas as tributações federais, por exemplo, com aquelas situações declaradas. Figura 8: Comparação dos dados. Fonte: labSEAD-UFSC (2020). Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase20 • Módulo 2 Dessa forma, por exemplo, torna-se possível verificar que a aquisição de um imóvel possa ter ocorrido em momento diferente daquele declarado, uma vez que o tributo correspondente para registro fora recolhido em outra data,o que pode evidenciar tentativa de burla à investigação e lavagem de dinheiro. Além disso, importante perseguir o caminho dos recursos financeiros (“siga o dinheiro”), dos ativos em geral (bens móveis e imóveis, direitos e valores), das despesas, tais como cartões de crédito, viagens (verificar junto à Polícia Federal entradas e saídas do país e destinos) em nome dos investigados, familiares e interpostas pessoas, sobretudo daqueles que figuram em procurações como outorgados ou mesmo outorgantes, a fim de se verificar a tentativa de aquisições ou de ocultações de bens e aquisições desproporcionais com a renda declarada, ou seja, a apresentação da origem sem lastro, tentativa de conversão ao patrimônio do investigado como se fosse algo lícito e decorrente do labor, além da simples utilização ou emprego. É importante também, vale dizer, investigar aquisições e depósitos em conta corrente, mesmo em nome próprio, de valores em que haja indícios suficientes de que sejam provenientes da prática de infração penal, e mais, a evolução patrimonial de todos os investigados e possíveis interpostas pessoas (familiares, funcionários de empresa, pessoas jurídicas constituídas, outorgantes e outorgadas em procurações, entre outros), confrontando-se para o mesmo período de análise os dados bancários, fiscais e bursáteis. Uma vez vencido o levantamento patrimonial declarado, deve ser realizado o levantamento patrimonial real. Levantamento patrimonial real O levantamento patrimonial real comporta toda e qualquer informação obtida no âmbito de uma investigação. Além das informações fiscais, são consideradas informações obtidas a partir de medidas investigativas em geral. Vamos conferir alguns exemplos a seguir. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase21 • Módulo 2 Fontes abertas: redes sociais, dados de pesquisas em sites de buscas etc. Diligências de campo: levantamentos diversos realizados por policiais in loco. Solicitações via ofício: informações de cartórios, prefeituras, juntas comerciais, COAF etc. Informantes: pessoas que colaboram de maneira informal com a polícia. Dados bancários, fiscais e bursáteis: dados obtidos a partir de autorizações judiciais (trazem informações cadastrais, transações bancárias, investimentos, patrimônio declarado etc.). Comunicações: informações relacionadas ao sigilo telefônico (extratos e áudios), dados de e-mails etc. Busca e apreensão: diversas possibilidades de obtenção de dados e informações, tendo em vista que a equipe policial estará dentro do local onde o investigado reside e trabalha. Colaboradores: pessoas que colaboram com as investigações de acordo com legislações específicas. DADOS OBTIDOS POR MEDIDAS INVESTIGATIVAS Figura 9: Exemplos de informações obtidas por medidas investigativas. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Perceba que esse levantamento de dados abrange todas as informações obtidas por medidas investigativas e resume a investigação com uma fonte de dados extensa e exploratória, para que se possa evidenciar o delito com mais precisão. RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA FINANCEIRA O Relatório de Inteligência Financeira (RIF) é um documento produzido pela Unidade de Inteligência Financeira (UIF) – que no Brasil é representada pelo COAF – quando são encontrados indícios de ilicitude em operações financeiras (suspeitas e/ Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase22 • Módulo 2 ou automáticas), ou seja, suspeitas de lavagem de dinheiro levantadas pelo COAF ou por denúncias de terceiros. Pode ser recebido de ofício pelo órgão ou solicitado, desde que haja inquérito policial instaurado e que se faça o upload do arquivo digital da portaria de instauração no Sistema Eletrônico de Intercâmbio do COAF (SEI-C), cuja senha de acesso se obtém com o gestor regional de cada órgão ou com o próprio COAF. A partir do recebimento do RIF, o investigador deve proceder ao seu estudo, organização e coleta inicial de dados. Nesse momento, serão avaliados os principais fatos relacionados, verificando-se possíveis investigações sobre os envolvidos. A análise do RIF também deverá destacar eventuais fatos referenciados pelo COAF como objeto do relatório, atentando-se para indícios de lavagem de dinheiro, se informados no relatório. Após a leitura do RIF, deve-se avançar para a organização das informações em planilhas/anotações e documentos que logo serão utilizados para coleta de dados dos principais envolvidos, conforme abordado. A partir de então, devem ser realizadas consultas nas diversas bases de dados disponíveis e também em fontes abertas, estabelecendo-se uma análise de vínculos entre as informações constantes do documento da UIF e os dados obtidos por meio das pesquisas. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase23 • Módulo 2 Dados obtidos por meio das pesquisas. Informações constantes do documento da UIF.ANÁLISE DE VÍNCULOS Figura 10: Fase de análise de vínculos. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). A partir da análise do RIF, parte-se também para pesquisas diversas de bens móveis e imóveis que estejam em nome das pessoas físicas e jurídicas citadas, capital social no caso de pessoas jurídicas, pesquisas de procurações e possíveis interpostas pessoas, visto que, na lavagem de dinheiro, é comum a presença delas (interpostas pessoas e procurações). Numa analogia com a ciência médica, a análise do RIF serviria como uma espécie de “exame clínico” do problema, para posterior definição de solicitação e embasamento de quebras judiciais de sigilos bancário, fiscal e bursátil, medidas que poderiam ser consideradas “exames invasivos”. PESQUISAS EM SISTEMAS DISPONÍVEIS Antes mesmo da solicitação do intercâmbio eletrônico pelo sistema SEI-C da UIF, usualmente os LAB-LD ou mesmo perante a própria UIF, operando-se o acesso via internet, faz- se conveniente definir o rol de investigados. Para além dos investigados ditos principais, sugere-se a extensão do rol para os familiares – esposa, filhos, mãe, pai, irmãos –, ou seja, pessoas próximas de que se tenha conhecimento e alguns indícios de que possam estar sendo empregados para a prática de lavagem de dinheiro, o que é muito recorrente. Nesse sentido, é importante explorar a rede mundial de computadores. Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase24 • Módulo 2 A internet possibilita, por meio de pesquisas do nome das pessoas entre aspas nos sites de pesquisa, identificar toda e qualquer publicação relacionada. A leitura e a análise criteriosa auxiliam, por exemplo, na identificação da rotina, da conduta social e dos vínculos com outras pessoas, publicação de proclamas de casamento, aprovação em concursos públicos, sanções, processos judiciais, entre outros. Na linha de entendimento dos vínculos, a exploração das redes sociais possibilita, igualmente, identificar a relação com as pessoas e a eventual ostentação de bens e viagens por meio de postagens de fotografias e vídeos. Em geral, os sites de tribunais possibilitam buscas em processos cíveis, trabalhistas, de interesse para a questão da conduta social, de vinculação com pessoas físicas e jurídicas e bens, além dos processos penais, muito úteis para indicar os indícios suficientes da infração penal antecedente que possa ter concedido a incompatibilidade patrimonial e, portanto, a lavagem de dinheiro. As pesquisas em juntas comerciais, algumas vezes disponíveis na internet, são de extrema relevância para se verificar a utilização de pessoas jurídicas, bem como confrontar o capital social delas com a movimentação financeira e os bens possuídos. No caso das pessoas jurídicas, também pode ser bastante útil a análise de contas de água, luz e telefone e o cadastro no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho, ou no CNIS, do INSS, para verificar se há funcionários, se há movimentação em geral dos Investigação com Foco Patrimonial e Primeira Fase25 • Módulo 2 recursos
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