Buscar

Questão Social e Capitalismo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 1/28
QUESTÃO SOCIAL NO
CONTEXTO BRASILEIRO E
LOCAL
CAPÍTULO 1 - QUAL A RELAÇÃO DO
SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL
COM O CAPITALISMO?
Suziane Hermes de Mendonça Soares
 
INICIAR
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 2/28
Introdução
Caro aluno, seja bem-vindo à disciplina Questão Social no Contexto Brasileiro e
Local. Você conhece o objeto do Serviço Social? Se você pensou na questão social,
acertou. Para refletir sobre a questão social será necessário apreender alguns
conhecimentos sobre as contradições das correntes teóricas do Serviço Social e
estudar a intervenção deste diante de seu objeto, além de explorar o conceito de
questão social com todos os seus desdobramentos ao longo da história do Brasil e
do mundo. Como a questão social vem sendo construída e reconstruída na
sociedade? Qual sua relação com o capitalismo? Por meio de conceituações e
ferramentas trazidas neste capítulo, você terá condições de diferenciar as
concepções históricas acerca da categoria questão social e do contexto da
Revolução Industrial à contemporaneidade. Espero que tudo o que será
apresentado possa proporcionar uma reflexão crítica sobre a questão social e suas
novas demandas na prática contemporânea. Ao final do capítulo, espero ainda
que você seja capaz de identificar características importantes dos fundamentos da
questão social, reconhecendo seu processo e avanço; distinguir as características
principais da era da Revolução Industrial, compreendendo seu desenvolvimento
com as Poor Laws e interpretando o período do Welfare State, culminando nos
dias atuais. Além disso, questionar teorias sobre a questão social conhecendo
fatos importantes da época dos autores citados e compreender as estruturas que
dimensionam os atores sociais e suas relações diante das manifestações de tal
questão.
1.1 Manifestação da questão social e
seus fundamentos socio-históricos,
políticos, econômicos e culturais
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 3/28
A questão social é transformada com a movimentação da sociedade. Para sua
compreensão, vamos estudar a história do século XIX. Antes, porém, lembremos
que o capitalismo surgiu com o fim do feudalismo, nos séculos V a XV, na Europa
(BRAUDEL, 1995). Este se estendeu pela Idade Média, sendo o poder dos senhores
feudais superior ao dos reis. Essa descentralização de poder marca o fim do
período medieval.
Surgem os burgueses, comerciantes da época, que defendiam o mercantilismo.
Junto a isso, a acumulação primitiva ganhou formas, e mudanças nas relações
sobre as terras se acentuaram.
A burguesia, apesar de não deter o poder político — monopolizado pelo clero e
pela nobreza —, ampliou sua influência econômica, aliada à acumulação primitiva
como processo de enriquecimento, entre os séculos XVI e XVIII. Isso foi
determinante para as transformações econômicas da Revolução Industrial.
A partir do exposto, você já consegue imaginar a relação da questão social com o
capitalismo? Como era a economia da época? O que mudou para as pessoas
comuns? Vamos ver as dinâmicas da sociedade que tem como atores os
burgueses, os trabalhadores que perderam suas terras, os artesãos, os
trabalhadores da manufatura e os do início da indústria.
Ao estudar este tópico, você será identificará as características dos fundamentos
da questão social reconhecendo seu processo e avanço. 
1.1.1 O cercamento das terras
Na Inglaterra do século XVI, como parte da tradição econômica de utilização
comunitária da terra que remontava à Idade Média, os camponeses utilizavam as
terras de forma comunal e delas extraíam madeira, caça e outros produtos para a
sobrevivência. A partir desse período, com as Leis de Cercamentos (Enclosure Acts)
editadas por sucessivos monarcas ingleses, viram-se privados dessa fonte de
recursos. O que aconteceu nesse novo cenário? As terras que eram de uso comum
dos camponeses foram cercadas por poderosos senhores feudais numa ação de
privatização dos espaços comuns às populações (POLANYI, 2000).
Vejamos de forma mais detalhada esse processo de privatização da terra. Eram
muito comuns na Inglaterra os campos abertos. Qualquer cidadão poderia manter
seu cultivo sem ser o proprietário das terras. As comunidades primitivas viviam
baseadas no costume e na reciprocidade das pessoas em que todos favoreciam o
bem comum. O processo do cercamento de terras deu lugar à exploração em
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 4/28
campos fechados, e as terras foram cercadas. Apareceram donos para os espaços
que antes eram partilhados com quem podia caçar, extrair madeira ou cultivar.
Com os cercamentos, a terra passa a ser mercadoria. Os proprietários podiam
comprar e vender, enquanto a maioria daqueles que lá viviam eram expulsos já
que não tinham meios para a aquisição de terras. Para aumentar os lucros com a
venda de suas terras, os fazendeiros começaram a devastar as florestas e a drenar
os pântanos localizados em suas propriedades. Com isso, uma verdadeira
revolução agrícola ocorreu. 
VOCÊ SABIA?
A Revolução Agrícola ficou conhecida pela implementação de novas técnicas nas
plantações da Inglaterra, para o aumento da produção, por exemplo: cavalos
puxavam alguns maquinários para agilizar os processos e diminuir a força humana,
ou ainda o plantio da mesma espécie de vegetação para facilitar o manuseio e
garantir um volume maior do mesmo produto (PEREIRA, 2001). 
O cercamento das terras marca a transição do feudalismo para o capitalismo, uma
vez que a propriedade privada é uma instituição primordial deste último. O
trabalhador perde o acesso às terras, restando-lhe a venda da força de trabalho
em troca de salário. Tal contexto promoveu o fortalecimento da burguesia, a
constituição do proletariado e o desenvolvimento da Revolução Industrial.
A expropriação das terras e a apropriação privada de uma minoria, ainda no
século XV, marcam o início da exploração da propriedade privada capitalista, e da
apropriação do trabalho humano por consequência. Trabalho e terra, apesar de
serem considerados mercadorias, não podem ser compreendidos dessa forma,
como afirma Polanyi (2000, p. 89):
A terra era o componente fundamental da ordem feudal, formando-se, pois, a base
do sistema militar, jurídico, administrativo e político. Ademais o status e a função
dessa ordem eram determinados pelas leis e costumes... O mercantilismo, por sua
vez, levava a almejar o desenvolvimento dos recursos nacionais com base nos
negócios e no comércio... Trabalho, terra e dinheiro são elementos essenciais da
indústria e devem assim ser organizados em mercados, o que leva à falsa ideia de
que são mercadorias. Trabalho é a atividade humana produzida não para a venda,
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 5/28
mas para fins diversos e não pode ser armazenada. Terra diz respeito à natureza,
que como sabemos não pode ser produzida pelo homem. Dinheiro é o equivalente
geral dos preços, intermediador das trocas e não algo produzido para a troca.
Portanto, tratar terra, trabalho e dinheiro como mercadorias é uma ficção. 
Para Polanyi (2000), entender o trabalho e a terra como mercadorias é algo
incorreto, ou melhor, fictício. Toda uma dinâmica da sociedade, tanto econômica
quanto social, sofre com tanta mudança. O homem que foi sujeitado a essa
alteração em relação à sua formade sobreviver pode ser considerado abandonado
socialmente.
Toda essa reestruturação da produção de bens, e agora consumo,
favorecidamente realizada pela burguesia, muda o panorama da vida centrada no
bem comum da comunidade entendida como primitiva. O que acontece com essa
população? A sua vida ganha novos rumos e sua força de trabalho, como outras
mercadorias, passa a ser vendida.
O livro "História social e econômica moderna", escrito por Ricardo Selke e Natália Bello, faz um resgate
histórico para o entendimento do mundo moderno por meio das mudanças que ocorreram do fim da
Idade Média até a Idade Moderna, as quais levaram à acumulação de capital. Recomendamos a leitura
das páginas 29 a 36. Elas são referentes ao item que narra a história do sistema feudal até o
capitalismo. 
Neste primeiro momento, podemos analisar de forma histórica as transformações
na vida das pessoas comuns que viviam na Europa, principalmente na Inglaterra,
até o século XVIII (BRAUDEL, 1995). Os interesses sociais foram colocados de lado
em favor dos interesses econômicos, os quais se tornaram o principal motivo da
reorganização social. 
1.1.2 As formas de troca
VOCÊ QUER LER?
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 6/28
Ainda para compreender o surgimento do capitalismo, vamos retornar às
sociedades primitivas que tinham sua vida preservada pelos próprios membros da
comunidade por entenderem que isso era uma obrigação moral. O trabalho
exercido por um indivíduo normalmente era direcionado pelo parentesco, ou
melhor, pela família a que pertencia, algo como uma tradição. 
Prevalecia na vida medieval uma ordem social cujo centro era a família, com
privilégio hereditário que se perpetuava através dos tempos. O exercício da
autoridade passava de pai para filho em obediência à linhagem real ou aristocrática
sacramentada pela tradição. Família e propriedade constituíam, pois, antes da
constituição dos Estados nacionais, a base do poder governamental (PEREIRA, 2003,
p. 64). 
As produções não eram destinadas à compra ou à venda, e sim à troca. Os bens
eram escassos, contudo, era uma escassez provocada pela falta do bem ou
produto e não por uma lógica de mercado que exigia um consumo após uma
compra de mercadoria ou serviço.
Para Polanyi (2000), nas sociedades primitivas e arcaicas, ressaltam-se três
possibilidades de troca: a reciprocidade, a redistribuição e a troca de mercadoria
ou troca relacionada com negociação de mercado.
A reciprocidade, vinculada às sociedades primitivas, é considerada uma
movimentação de produtos que não se assemelha ao comércio, sendo uma forma
de relação social. Esta relação contava com a formação de acordos espontâneos,
sem regras preestabelecidas ou muitas exigências entre as pessoas que
realizariam as trocas. Toda a família teria a responsabilidade de auxiliar a
subsistência de seus parentes. Algumas comunidades tinham até por hábito
ofertar o que de melhor haviam produzido no auxílio à subsistência dos familiares.
Para simplificar o conceito de reciprocidade, podemos dizer que os parentes ou
pessoas da comunidade se presenteavam, apenas pelo fato de ofertar algo por
carinho, sem a expectativa de algum retorno.
CASO
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 7/28
A tribo indígena Kaingang, situada atualmente no Rio Grande do Sul, no
Brasil, anteriormente estava nas regiões que são conhecidas como Paraná
e Santa Catarina, além do Rio Grande do Sul. Apesar de terem sofrido
perdas de território no século XIX, conseguiram retomar alguns espaços
territoriais. Hoje o que restou foi a memória coletiva desse povo que
mantém algumas tradições passadas de geração a geração. A terra,
chamada por eles de Mãe Terra, é a base de suas vidas. Não é considerada
apenas como um meio de produção de subsistência e está relacionada à
sua religião, cultura e vida. “É nesses espaços que exercem atividades de
caça, pesca, coleta e cultivo de produtos, como o milho, abóbora, feijão e
batata-doce” (TOMMASINO, 2004, p. 58-84). Os conhecimentos medicinais,
os animais caçados, as plantas e os cultivos são para o bem comum de
toda a aldeia.
Pelo caso relatado pode-se apreender a força da Terra para um povo, bem
como toda uma organização social, política e econômica voltadas ao bem
comum, que não encontra mais espaço numa realidade marcada pelo
capitalismo regido pela lógica do mercado.
A redistribuição, como possibilidade de troca na sociedade, é de natureza política
— algo muito comum no século XIX. Nessa modalidade de troca, as pessoas pagam
os impostos sem escolher quanto irão pagar e quais serviços irão receber em
contrapartida. Elas não possuem autonomia para decidir qual será o serviço
prestado, pois a autoridade local é quem decide (POLANYI, 2000). A intenção com
tal medida é promover o bem comum, público, baseado em justiça. Sendo assim,
podemos dizer que desse tipo de procedimento não decorre qualquer problema,
certo? A resposta seria positiva se fosse fácil decidir o que é justo. Pessoas
diferentes podem ter entendimentos diferentes sobre o que seria justo ou não.
Dessa forma, as regras precisam ser definidas.
Para ficar mais claro o entendimento, basta pensarmos nos dias atuais, em que o
Estado recebe os valores advindos dos impostos e destina as verbas às políticas
públicas baseadas em regras criadas pelos governantes. A maioria das políticas
públicas é redistributiva.
Por sua vez, a troca de mercadoria encontrada nos dias atuais é uma
movimentação que controla a compra e a venda dos produtos. Para se manterem,
os indivíduos precisam vender produtos ou força de trabalho e, em troca, recebem
dinheiro ou salário. Os acordos envolvidos nesse tipo de troca são espontâneos e
pré-fixados.
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 8/28
Uma observação: essas formas de troca não são exclusivas de uma determinada
época nem mesmo de uma determinada comunidade. Elas podem ocorrer de
forma simultânea. O que é possível observar ao analisar todas essas formas de
troca? Observamos que a reciprocidade é a forma mais genuína de troca, a qual se
dedica ao bem comum sem esperar por recompensas — situação que não ocorre
em uma sociedade capitalista. 
Figura 1 - Formas de troca e organização social. Fonte: Elaborada pela autora, baseado em POLANYI,
2000.
1.2 Evolução histórica da consolidação
da produção mercantil capitalista ao
neoliberalismo contemporâneo
A evolução da produção mercantil capitalista até a implementação do
neoliberalismo torna compreensíveis as mudanças de padrões a que foram
submetidas as pessoas. Suas consequências estão diretamente ligadas ao
Deslize sobre a imagem para Zoom
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559_… 9/28
surgimento da questão social.
A propriedade privada compreende o poder de dispor, desfazer-se ou negociar
algo, respeitando o direito dos demais. Ela é regulada pelo poder público e é parte
do capitalismo.
Após o cercamento das terras e a instituição da propriedade privada ganhando
espaço na Europa, mais precisamente na Inglaterra do século XVIII, nós devemos
nos atentar para as mudanças ocorridas a partir da Revolução Industrial, a qual
podemos vincular ao capitalismo afirmando que ela o consolida (POLANYI, 2000).
Definimos Revolução Industrial como a inserção de máquinas a vapor substituindo
o trabalho humano. Essa alteração de estrutura avançou além das mudanças para
novas tecnologias ou formas de produzir — ela mudou a vida das pessoas comuns.
De que maneira eram tratados os trabalhadores das fábricas?Quais as opções de
assistência que recebiam os pobres?
Ao fim deste tópico, você conhecerá as principais características da era da
Revolução Industrial compreendendo seu desenvolvimento com as Poor Laws  e
interpretando o período do Welfare State, culminando nos dias atuais.
1.2.1 Fases do capitalismo
O capitalismo é nosso foco principal para explorar melhor o conceito de questão
social. Segundo Braudel (1995), o pré-capitalismo — ou mercantilismo, que
ocorreu do século XV ao século XVIII — surge ao fim da Idade Média como uma
iniciativa dos países exploradores da Europa que retiravam as riquezas das novas
terras para fomentar suas relações comerciais. O capitalismo industrial surge
como uma segunda fase, já na Revolução Industrial, principalmente nos séculos
XVIII e XIX. O capitalismo financeiro é encontrado nos dias atuais, a partir do
século XX. O sistema financeiro é o principal agente deste período. Todas as fases
são baseadas na circulação de mercadorias e no lucro. Segundo Pereira (2001), 
Entrando no período histórico conhecido como Mercantilismo, cuja ênfase
econômica incidia sobre a utilização do trabalho como fonte de riqueza ou como
riqueza em si. Em decorrência, seus adeptos acreditavam que a pobreza era
providencial para o acúmulo de riqueza e para a competição vantajosa no comércio
internacional, posto que, com ela, se tinha braços para trabalhar a baixo custo
(PEREIRA, 2001, p. 66). 
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 10/28
A aceleração dos processos produtivos foi intensificada com a mecanização do
maquinário iniciada na Revolução Industrial. As cidades foram crescendo a partir
da abertura de novas fábricas. As condições de vida nas cidades eram precárias e
até mesmo desumanas. 
O romance "Tempos difíceis", de Charles Dickens, é a narrativa da vida complicada da população que
enfrentava a miséria na Inglaterra no decorrer do processo de industrialização. O romance nos faz
conhecer os problemas básicos daquela sociedade e um pouco do cotidiano do século XIX com
consciência social. 
Figura 2 - Fases do capitalismo na história que se renova e se refaz a partir das crises. Fonte:
Elaborada pela autora, baseado em PEREIRA, 2001.
VOCÊ QUER LER?
Deslize sobre a imagem para Zoom
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 11/28
As gerações que se sucederam à fase de industrialização podem ser definidas,
primordialmente, como as duas gerações que viveram a partir da Revolução
Industrial e sofreram profundamente as causas de todas as possibilidades do
rápido crescimento da indústria que estariam por vir. 
1.2.2 Poor Laws
Antes de falarmos sobre a urbanização e a industrialização, vamos retomar o
debate aqui apresentado com um olhar social sobre a população que sofreu para
sobreviver durante a industrialização na Inglaterra. Nem sempre a população
pobre viveu desprotegida. Para amenizar os problemas da miséria foram criadas,
em momentos históricos diferentes, leis de proteção aos pobres, as chamadas
Poor Laws. As Poor Laws estiveram estreitamente ligadas aos primeiros esforços de
construção do Estado na Europa dos séculos XV e XVI (PEREIRA, 2003).
Ainda no século XVI, na Inglaterra, o contingente populacional aumentou
consideravelmente. Muitas famílias se deslocaram do meio rural para o urbano em
busca de trabalho. Diversos problemas sociais decorreram do fato de haver
cidadãos miseráveis andando sem destino pelas cidades. Com o elevado número
dessas pessoas, as pregações da igreja afirmando ser dever do Estado promover
algum tipo de assistência a elas e, principalmente, para controlar a população,
foram criadas as Poor Laws.
A primeira Poor Law foi elaborada para lidar com este problema. A lei procurava
assistir essas pessoas promovendo uma autoproteção à classe menos favorecida
(PEREIRA, 2003).
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 12/28
Você pode imaginar a pior situação, ou a mais inadequada, a que foram
submetidas as pessoas durante essas Poor Laws? Elas tiveram de viver nas
workhouses, umas casas de trabalho que se assemelhavam a prisões
desumanizadas. Viviam nessas casas de trabalho: homens, mulheres, enfermos,
ociosos, criminosos e crianças. O trabalho era forçado, a comida racionada e as
condições de higiene insuportáveis. Alguns pobres preferiam viver nas ruas a ter
que passar pelas casas de trabalho.
A reforma de 1834 tornava o trabalho obrigatório. O auxílio era dado em troca de
uma atividade forçada cujo pagamento era inferior ao que se pagava no mercado
livre de trabalho. Vejamos o que diz Hobsbawm (2003):
[...] a Lei dos Pobres de 1834 foi projetada para tornar a vida tão intolerável para os
pobres do campo que eles se vissem forçados a abandonar a terra em busca de
qualquer emprego que lhes fosse oferecido. E, de fato, logo começaram a fazê-lo. Na
Figura 3 - A proteção aos pobres na legislação. Fonte: Elaborada pela autora, baseado em
HOBSBAWM, 2003.
Deslize sobre a imagem para Zoom
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 13/28
década de 1840, vários condados já estavam à beira de uma perda absoluta de
população, e a partir de 1850 a fuga do campo se tornou generalizada (HOBSBAWM,
2003, p. 172). 
Qual foi o destino dos pobres? Eles foram abandonados, e cessou o direito de
qualquer assistência para que as pessoas aceitassem todas as formas de trabalho.
A reforma de 1834 permitiu o nascimento do mercado de trabalho (HOBSBAWM,
2003). 
1.2.3 Capitalismo e questão social
Os burgueses, donos de fábricas na Inglaterra, procuravam explorar ao máximo
seus trabalhadores. As horas de trabalho geralmente passavam das 18 horas
diárias. Mulheres e crianças desempenhavam a mesma jornada de trabalho apesar
de não receberem o mesmo valor de salário. Mesmo ganhando menos, as
mulheres e as crianças não tinham alternativas, pois precisavam aceitar as
condições de trabalho para aumentar a renda familiar enquanto os burgueses
acreditavam ser interessante contratar crianças e mulheres para baratear a
produção. O ambiente de trabalho era inadequado e insalubre. A prostituição e os
crimes eram comuns nas ruas das cidades, e os burgueses não se preocupavam
com tais questões — o importante para eles era o lucro garantido pelos
trabalhadores.
Face a um cenário de exploração, teve início, na Inglaterra, entre os anos de 1811 e
1812, um movimento social que se colocou contrário aos avanços tecnológicos e
que se voltou contra a substituição da mão de obra humana por máquinas. Esse
movimento recebeu o nome de ludismo, em homenagem a um de seus líderes —
Led Nudd. 
Os trabalhadores acreditavam que as máquinas provocavam as condições ruins de
trabalho. Pensando assim, invadiram diversas fábricas e quebraram máquinas e
outros equipamentos que consideravam responsáveis pelo desemprego e as
péssimas condições de trabalho no período (IGLÉSIAS, 1981).
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 14/28
O que surge com a expansão da indústria e o consequente avanço do capitalismo?
Nesse contexto, irrompe a questão social. Ela nasce como um produto ligado a
essas transformações e suas consequências para a sociedade. Nesse período, as
desigualdades sociais eram naturalizadas, aceitas como consequência do
desenvolvimento. O que podemos afirmar é que a escassez passou a ser produzida
por este mesmo mecanismo que busca o desenvolvimento, assim, o que para
alguns era desenvolvimento,para outros eram prejuízos irreparáveis em sua
condição de vida.
O novo cenário apresentado aqui de transformação econômica, política e social
promoveu as expressões de desigualdade e o anseio por lutas sociais.
Figura 4 - Mobilizações, lutas e reivindicações populares. Fonte: Elaborada pela autora, baseado em
IGLÉSIAS, 1981.
1.3 Abordagens teóricas sobre o
surgimento da questão social
Deslize sobre a imagem para Zoom
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 15/28
A questão social e todas as desigualdades provocadas pelo capitalismo são fatos
inegáveis, independentemente das justificativas. Existem até explicações que
divergem sobre seu surgimento. Mas, afinal, o que é questão social? Devemos
entendê-la como a expressão da desigualdade social proveniente do modo de
produção capitalista. Não podemos tratá-la como algo natural, que faz parte da
sociedade, mesmo que se aborde a transição do feudalismo para o capitalismo.
Devemos nos ater às transformações e suas consequências, sem acreditar que
estas últimas sejam situações inevitáveis.
Como a questão social se expressa? Quais as principais correntes teóricas sobre
ela? Neste tópico, exploraremos o conceito estudando seus processos e
particularidades, além de outros níveis de entendimento acerca de suas
expressões. Veremos como os pensadores marxistas a abordam, uma vez que são
os que mais se aproximam da formação do assistente social. Estudaremos ainda
outros pensadores pela sua importância na discussão do tema, a partir das
perspectivas da sociologia e da história. Todos tratam da questão social partindo
de fundamentações sobre o capitalismo, o mercado de trabalho e as formas de
proteção social. Assim, destacam-se as contradições e explorações provenientes
desse modo de produção. 
1.3.1 Definições
Como podemos entender a questão social? De que forma podemos defini-la?
Entendida como o conjunto das expressões que definem as desigualdades da
sociedade, podemos iniciar a definição da questão social situando seu surgimento
no século XIX, na Europa. Nesse sentido, é a expressão da desigualdade e pobreza
— questões interligadas e indissociáveis do modo de produção capitalista. A
pobreza, de acordo com Marx (1848, p. 25), “[...] por ter causa conhecida poderia
ter uma solução adequada [...]”. Ele complementa: “[...] o desenvolvimento das
forças produtivas operando nos marcos é capaz de reduzir, significativamente, a
dependência e determinação de fatores naturais na produção da escassez”.
A extrema pobreza que já se manifestava antes mesmo do capitalismo era
construída socialmente pela divisão entre classes, mas sua causa principal estaria
relacionada às formas de exploração das forças produtivas. O pauperismo
produzido socialmente não é a única forma de expressão da questão social, esta
pode ainda ter outros desdobramentos sociopolíticos como as lutas de classe nas
relações de antagonismos entre capital versus trabalho.
Segundo Iamamoto (2001, p. 18): 
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 16/28
A pulverização da questão social, típica da ótica liberal, resulta nas várias “questões
sociais” em detrimento da presença de unidade. Impede assim de resgatar a origem
da questão social imanente à organização social capitalista, o que não elide a
necessidade de apreender as múltiplas expressões e formas concretas que assume. 
O entendimento das expressões da questão social é primordial no
desenvolvimento de políticas sociais, e desta maneira, se compreende o objeto do
serviço social. Josiane Soares Santos (2012, p. 18) nos orienta que “O conceito
adquire uma potencialidade totalizadora a ser explorada, especialmente por
designar, de modo articulado, uma série de manifestações encaradas
tradicionalmente de forma isolada, configurando os chamados ‘problemas
sociais’”.
Para Netto (2001), a história registra que a pobreza crescia na razão direta em que
aumentavam a capacidade de produzir, isto é, o nível de desenvolvimento das
forças produtivas materiais e sociais é ligado à escassez gerada. Não é possível
deixar de perceber os aspectos da vida social, principalmente dos trabalhadores
na época do processo de industrialização e urbanização, que já davam sérios
sinais de perversidade nas condições de vida e trabalho ofertados pela burguesia.
Conforme Telles (1996, p. 85):
A questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção,
sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a
exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem
legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramadas
na dinâmica das relações de poder e dominação. 
Castel (2009, p. 76) já definia “[...] a questão social e suas consequências
ideológicas e políticas, são expressões utilizadas aproximadamente a partir de
1830 para designar uma nova dinâmica da pobreza que se generalizava”. O autor
ainda complementa a informação deixando a entender que o pauperismo que
antecede a industrialização não poderia ser considerado expressão da questão
social. Ele vincula a questão social ao pagamento de salário na industrialização e
urbanização, até porque, anteriormente, existiam as leis dos pobres que lhes
davam assistência.
Para Pereira (2001, p. 59):
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 17/28
A questão social é percebida, [...], na existência de relações conflituosas entre
portadores de interesses opostos e antagônicos [...], na qual os atores dominados
conseguem impor-se como forças políticas estratégicas e problematizar
efetivamente necessidades e demandas, obtendo ganhos sociais relativos. Foi com
essa caracterização que a questão social surgiu na Europa no século XIX. [...] Por
isso, a questão social é, de fato, particular e histórica. 
Nos dias atuais, as definições e causas das questões sociais são as mesmas de
períodos passados e a cada dia suas consequências têm se aproximado mais do
período da industrialização. 
1.3.2 Desigualdade social
Como podemos compreender a desigualdade? Podemos entendê-la pela
acumulação e acesso de bens e serviços a determinadas pessoas de forma
indiscriminada, gerando um grupo que não tem ou terá o mesmo acesso. “David
Ricardo e Karl Marx, dois pensadores influentes do século XXI, defendiam a visão
Figura 5 - Caracterização das expressões da questão social no modo de produção capitalista. Fonte:
Elaborada pela autora, baseado em CASTEL, 2013.
Deslize sobre a imagem para Zoom
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 18/28
de que apenas um grupo social — os proprietários da terra, para Ricardo; os
capitalistas industriais, para Marx — se apropriaria de uma parte crescente da
produção e da renda” (PIKETTY, 2014, p. 15).
A maioria dos estudos sobre desigualdade depara com as situações decorrentes
do processo de industrialização, demarcadas por relações distintas, nas quais a
classe burguesa é a favorecida no acesso à propriedade e na compra e venda de
produtos. Por consequência, a desigualdade se torna pertinente quando se busca
a origem nas relações de capital e trabalho.
No Manifesto Comunista de Engels e Marx (1999, p. 14), os autores afirmam que: 
[...] o desenvolvimento da indústria moderna, portanto, enfraquece o próprio
terreno em que a burguesia assentou a produção e a apropriação de seus produtos.
Assim, a burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória
do proletariado são igualmente inevitáveis. 
Partindo dessa perspectiva,a desigualdade na sociedade industrial condiciona e
ressalta um problema muito maior e mais significativo, de diferentes dimensões,
que afeta as possibilidades na vida e na classe das pessoas.
E se a sociedade mudasse a forma de pensar? A redução ou o fim da desigualdade
social estariam garantidos? A resposta é não. Veja que ainda são encontrados nos
dias atuais expressões da questão social muito mais visíveis que a própria questão
social.
Quadro 1 - Análise crítica dos desdobramentos da expressão da questão social no Brasil. Fonte:
Elaborado pela autora, baseado em IBGE, 2010.
Deslize sobre a imagem para Zoom
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 19/28
Geralmente essas expressões são carregadas de lutas dos excluídos, os quais, por
causa da contradição da lógica do capital e da lógica do trabalho, se manifestam e
resistem exigindo direitos políticos, sociais, econômicos e culturais. 
1.4 A sociedade e o Estado nas relações
e reproduções capitalistas
A sociedade e o Estado possuem uma relação conflituosa que, na atualidade,
inclui a atuação de sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais. Pela relação
dialética com a sociedade, o Estado abarca todos os fenômenos da vida social,
todos os indivíduos e classes e declara diferentes responsabilidades, até mesmo
as de responder a demandas e reivindicações contraditórias.
O Estado é aqui entendido como uma organização do poder não mais fundada na
fé, mas na política como atividade humana e, como tal, uma construção mundana
(e não divina) — prevista, primeiramente, por Hobbes (PEREIRA, 2001).
Cada país possui um entendimento do que é dever do Estado, até mesmo em um
único país podem haver variações dessas responsabilidades. Ele pode ser
totalitário e depois democrático, ou o contrário. Podem ocorrer disputas de forças
e o Estado estar democrático por apenas um período curto de tempo.
O Estado sustenta o modelo capitalista ao controlar a sociedade sob suas
instruções. Sendo dotado de poder coercitivo e estando predominantemente a
serviço das elites, pode o Estado proporcionar atividades de proteção visando as
classes até então menos favorecidas? Sim, desde que os resultados dessas
medidas sejam interessantes, ou a pressão social seja tão intensa que ele não
tenha alternativa.
1.4.1 As qualificações do Estado
O Estado pode ser qualificado de várias formas: pode variar conforme uma
corrente teórica e pode ser diferente em sua formação em determinados tempos
— lembremos que o Estado é uma ocorrência histórica em movimento
permanente com ideologias diferentes e constantes relações.
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 20/28
O Estado, para Poulantzas (1977), pode ser definido como uma solidificação de
forças, isto é, uma relação de forças detectada com foco no poder ou como um
conjunto de dominação que predomina por meio de um aparelho institucional
que usa burocracia, judiciário, polícia e ideologia em relação à sociedade, apesar
de dela também sofrer influências. Dessa forma, o poder do Estado simboliza a
força aglomerada e direcionada da sociedade.
A qualificação de Estado direciona ao entendimento do que é sociedade, apesar
de nem sempre essas duas precisões serem consideradas. Alguns autores e
correntes de pensamento definem de maneira diferente. Na relação com o Estado
está a sociedade civil.
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 21/28
Para finalizar, destacamos a definição de Gramsci, na qual sociedade civil é o
conjunto das instituições responsáveis pela representação dos interesses de
diferentes grupos sociais, bem como pela elaboração e/ou difusão de valores
simbólicos, de ideologias, compreendendo o sistema escolar, os partidos políticos,
as igrejas, as instituições de caráter científico e artístico.
Gramsci concebia o Estado como autônomo. Ele estendeu o conceito de Marx no
que podemos chamar de Estado ampliado, estando este acima de outros
elementos da sociedade civil e, por isso, com alguma dominação sobre eles. Há
Quadro 2 - Diferentes concepções de Sociedade Civil. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em
PEREIRA, 2001.
Deslize sobre a imagem para Zoom
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 22/28
diferenças na concepção de Estado entre os dois autores citados. Para Marx, estão
nas suas constituições distintas: instituições privadas com função hegemônica
(ideologias e cultura) e o Estado com suas intenções políticas (restrição e
dominação). O chamado Estado ampliado, devido à inclusão da sociedade em sua
definição, defendido por Gramsci, estende as bases para uma discussão que inclui
questões como: valores, ciência, arte, escolas, igrejas, ideologias e partidos
políticos. 
1.4.2 Momentos do Estado capitalista
Podemos considerar três os momentos do Estado Capitalista: o Estado Liberal, o
Estado de Bem-Estar Social e o Estado Neoliberal.
Para compreendermos melhor o desenvolvimento do capitalismo é importante
entender inicialmente como foi sendo configurado o Estado Moderno. Ele nasceu
absolutista e teve início com a crise da sociedade feudal, a partir do século XIV, na
Europa Ocidental. Nesse modelo, os monarcas concentravam todos os poderes em
suas mãos e o Estado se confundia com a pessoa deles.
Que ação foi tomada pelo rei com a centralização do poder político? Ele passou a
impor barreiras econômicas à burguesia (classe social em franca expansão)
instituindo altos impostos. Esse contexto histórico perdurou até o século XVIII,
conhecido como Século das Luzes, quando se deslocou o eixo do poder divino
soberano para o Estado de Direito, no decurso das revoluções burguesas. Esse
cenário marcado pela Revolução Gloriosa, o Iluminismo e a Revolução Francesa
determinou o declínio do Estado Absolutista e o surgimento do Estado Liberal.
E no Estado Liberal, quem detém o poder? Nesse modelo prevalece o poder da
burguesia. O aparecimento do Estado Liberal foi gradual, opondo-se às
monarquias absolutistas da época e ao seu regime econômico — o mercantilismo
— defendendo a liberdade individual, uma democracia representativa, o direito à
propriedade, à livre iniciativa e à concorrência como garantia de progresso.
Um Estado Liberal não é necessariamente democrático: ao contrário, realiza-se
historicamente em sociedades nas quais a participação no governo é bastante
restrita, limitada às classes possuidoras [...] O Estado Liberal foi posto em crise pelo
progressivo processo de democratização produzido pela gradual ampliação do
sufrágio até o sufrágio universal (BOBBIO, 1994, p. 7). 
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 23/28
Quando surgiu, no século XVIII, foi caracterizado pela ideia de que o indivíduo
possui direitos naturais e inalienáveis, tais como o direito a se expressar
publicamente, o direito à liberdade religiosa e o direito natural, segundo John
Locke, à propriedade, aos bens materiais.
Não demorou muito para o liberalismo ser compreendido como uma exploração
dos pobres. As políticas do laissez-faire (deixar fazer) do liberalismo, após a crise de
1930, são aos poucos trocadas pelo Estado de Bem-Estar Social (Welfare State)
(PEREIRA, 2013).
VOCÊ SABIA?
Com o Estado de Bem-Estar, uma nova relação entre Estado e sociedade foi
formada, sendo alguns princípios priorizados: “o aumento do pleno emprego, o
aumento do acesso de serviços voltados aos direitos sociais e a formalização da
assistênciasocial para garantia de promoção dos mínimos sociais às pessoas que
viviam em condições indignas” (PEREIRA, 2003, p. 125). 
O Estado de Bem-Estar garantiu mais poder ao Estado no controle do mercado,
protegendo os direitos dos proprietários com as instituições estatais que passaram
a garantir os direitos sociais dos trabalhadores. Vejamos o que diz Stein (2000): 
[...] sistema de organização social que procura restringir as livres forças do mercado
em três principais direções: a) garantindo direito e segurança social a grupos
específicos da sociedade, como crianças, idosos e trabalhadores; b) distribuindo de
forma universal serviços sociais como saúde e educação; c) transferindo recursos
monetários para garantir a renda dos mais pobres em certas contingências como a
maternidade, ou em situação de interrupção de ganhos devido a fatores como
doença e desemprego (STEIN, 2000, p. 138). 
O Estado atua ao lado de sindicatos e empresas privadas, atendendo às
características de cada país, com o intuito de garantir serviços públicos e proteção
à população. Os países europeus foram os primeiros e principais incorporadores
do modelo que agradou os defensores da social-democracia. Registram-se
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 24/28
Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca como destaques na aplicação do Estado
de Bem-Estar Social, países que estão no topo do ranking de melhor Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH).
De acordo com Gasparetto Junior (2017, p. 23), 
[...] no Brasil, houve um esboço de implantação do Estado de Bem-Estar Social nas
décadas de 1970 e 1980. Todavia, o modelo não seria aplicado como investimento
produtivo para sociedade, mas de forma assistencialista. Logo, o que se verificou foi
a manutenção da acentuada desigualdade social, os elevados índices de pobreza e
o insucesso no Índice de Desenvolvimento Humano. 
Ainda na análise deste autor o primeiro país a abandonar o modelo foi a Inglaterra,
no governo de Margareth Thatcher. Sob alegação de que o Estado não dispunha
mais de recursos para sustentar o Estado de Bem-Estar Social, os direitos que os
cidadãos haviam conquistado no decorrer das décadas foram retirados. Nasceria,
então, o Estado Neoliberal. Normalmente, entende-se que o Estado de Bem-Estar
Social é sintetizado pelo pressuposto Keynesiano que clamava pelo fim do laissez-
faire e a formação de uma nova possibilidade além do liberal e do socialismo de
Estado. 
John Maynard Keynes — o economista de mais destaque no século XX — intercedeu pela política
econômica de Estado intervencionista, demonstrando profunda oposição ao liberalismo, apesar de
não ser considerado comunista. Os desdobramentos de seus ideais deram origem ao Keynesianismo
(PEREIRA, 2003). 
Você sabe dizer quando o Estado Neoliberal ganhou destaque? Foi com a crise do
petróleo, no início da década de 1970, quando se alegava que o “Estado
Keynesiano” ou o “Estado de Bem-Estar Social” havia se transformado num Estado
estatizante, coletivista e demasiado grande. A redução do tamanho do Estado foi o
VOCÊ O CONHECE?
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 25/28
pressuposto para o novo modelo, de modo que este deveria ter um papel
rigorosamente limitado, diminuindo sua influência na sociedade e na economia.
Esta última deveria funcionar de forma independente, sem a influência de
ninguém, além de ter o consumidor individual como principal ator do livre
mercado.
O Estado deveria ser reorganizado e a diminuição dos tributos e a privatização das
empresas estatais seriam um crescente, enquanto a política do pressuposto
keynesiano voltado ao pleno emprego seria considerada algo que demandaria
muito gasto público e não poderia continuar. A classe trabalhadora perde forças,
principalmente de seus sindicatos.
O filme A dama de ferro, lançado em 2011, conta a história de Margaret Thatcher, a primeira-ministra da
Inglaterra. Desde sua entrada na política, manteve o pulso forte até os últimos dias de vida. Ela
promoveu o fim do Welfare State e implementou o neoliberalismo. 
O neoliberalismo intensificou as desigualdades sociais em todos os lugares em
que foi implantado. Efetivamente, o que é evidente sobre a questão social são
algumas expressões acentuadas pela falta de intervenção estatal e com a
desproteção social recorrente no modelo. 
VOCÊ QUER VER?
Síntese
Concluímos o capítulo. Agora podemos responder qual a relação do surgimento
da questão social com o Capitalismo. Com o crescimento da sociedade de
mercado e a venda da força de trabalho, as famílias comuns foram obrigadas a
vender seu esforço para a burguesia. Esta, por sua vez, explorava ao máximo os
trabalhadores. As desigualdades sociais só aumentaram e a luta de classe era a
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 26/28
única alternativa para a população explorada. As expressões da questão social, ou
as expressões de desigualdade presentes na sociedade surgem com a
industrialização e a urbanização enraizadas na contradição da relação capital
versus trabalho. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
acompanhar as mudanças históricas nas relações de trabalho e no cotidiano
da vida das pessoas, desde o período pré-capitalista até o início do
neoliberalismo;
aprender algumas definições teóricas sobre a questão social;
relacionar questão social e capitalismo ao estudar as desigualdades sociais
crescentes neste modo de produção;
identificar as possíveis qualificações de Estado e sua relação com o conceito
de sociedade civil;
compreender os momentos do Estado desde o liberalismo, passando pelo
Estado de Bem-Estar, até o início do neoliberalismo;
aprender que a desigualdade social tem avançado com o novo liberalismo, o
neoliberalismo.
Referências bibliográficas
BOBBIO, N. Liberalismo e democracia. 6 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Disponível em: <https://mpassosbr.files.wordpress.com/2013/03/bobbio-
norberto-liberalismo-e-democracia.pdf
(https://mpassosbr.files.wordpress.com/2013/03/bobbio-norberto-liberalismo-e-
democracia.pdf)>. Acesso em: 18/12/2017. 
BRAUDEL, F. Civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII: I.
As estruturas do cotidiano. II. Os jogos da troca. III. O tempo do mundo. São Paulo:
Martins Fontes, 1995. 3 v. 
CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. 8. ed. Rio
de Janeiro: Vozes, 2009. 
CASTEL, R.; WANDERLEY, L.E.W.; BELFIORE-WANDERLEY, M. Desigualdade e a
Questão Social. 4. ed. São Paulo: Educ, 2013. 
https://mpassosbr.files.wordpress.com/2013/03/bobbio-norberto-liberalismo-e-democracia.pdf
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 27/28
ENGELS, F.;  MARX, K. Manifesto do Partido Comunista. 9 ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 1999. 
GASPARETTO JUNIOR, A. Estado de Bem-Estar Social. Disponível em:
<https://www.infoescola.com/sociedade/estado-de-bem-estar-social/
(https://www.infoescola.com/sociedade/estado-de-bem-estar-social/)>. Acesso
em: 26/12/2017. 
HOBSBAWM, E.J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 5 ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2003. 
IAMAMOTO, M.V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação
profissional. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001. 
IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.
censo2010.ibge.gov.br (http://www. censo2010.ibge.gov.br)>. Acesso em:
19/12/2017. 
IGLÉSIAS, F. A Revolução Industrial. São Paulo: Brasiliense, 1981. 
A DAMA de Ferro. Produção de Damian Jones. Direção de Phyllida Lloyd. Reino
Unido: Pathé, Film4 Productions, UK FilmCouncil, Goldcrest Films, 2011. 
MARX. K. O capital: crítica da Economia Política. 22 ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2008. 
NETTO, J.P. Cinco notas a propósito da “questão social”. Revista Temporalis –
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, n. 3, jan/jul. 2001.
Brasília: Grafline, 2001. Disponível em:
<http://www.fea.br/Arquivos/Servico_Social/Aulas/Temporalis_n_3_Questao_Soci
al.pdf
(http://www.fea.br/Arquivos/Servico_Social/Aulas/Temporalis_n_3_Questao_Soci
al.pdf)>. Acesso em: 18/12/2017. 
PEREIRA, P.A.P. Perspectivas teóricas sobre a questão social no serviço social.
Revista Temporalis – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço
Social, Porto Alegre, n. 7, p. 112-122, jan/jun. 2003. 
POLANYI, K. A grande transformação: as origens de nossa época. Rio de Janeiro:
Campus, 2000. 
POULANTZAS, N. Poder político e classes sociais. São Paulo: Ed. Martins Fontes,
1977. 
https://www.infoescola.com/sociedade/estado-de-bem-estar-social/
http://www.%20censo2010.ibge.gov.br/
http://www.fea.br/Arquivos/Servico_Social/Aulas/Temporalis_n_3_Questao_Social.pdf
29/11/2021 12:21 Questão Social no Contexto Brasileiro e Local
https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_736559… 28/28
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia.
das Letras, 1995. 
SANTOS, J.S. “Questão social”: particularidades no Brasil. São Paulo: Cortez,
2012. 
STEIN, R.H. A (nova) questão social e as estratégias para seu enfrentamento.
Revista semestral do programa de Pós-Graduação em Política Social do
Departamento de Serviço Social da UNB, Brasília, n. 6, p. 133-168, jan/jun. 2000.
Disponível em:
<http://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/viewFile/235/379
(http://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/viewFile/235/379)>.
Acesso em: 18/12/2017. 
TELLES, V. da S. Questão social: afinal do que se trata? São Paulo em Perspectiva.
vol. 10. Seade, 1996. 
TOMMASINO, K. Os sentidos de Territorialização dos Kaingang nas Cidades. Fórum
de Investigação Jê do Sul, Curitiba, 11 a 15 nov. 2001. 
http://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/viewFile/235/379

Continue navegando