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• 1 Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF Processo n. 020.001.941/2010 Interessada: Procuradoria-Geral do Distrito Federal Assunto: aplicação de multas EMENTA FOLHA 3 g6 PA 020 001 D41'Z010, RUB rfiiJ Mfd II5~Z54 DIREITO ADMINISTRATIVO. ATRASO NA ENTREGA DO OBJETO' C DO CONTRATO. APLICAÇÃO DE MULTA. APURAÇÃO DO ELEMENTO SUBJETIVO (CULPA). ATRASO INJUSTIFICADO. ,-- -:----" __ --,LlMITAÇÃO. PRINCíPIO DA RAZOABILIDADE E DA APRC~DO f.;tJio Ex. ma. Sr. PROPORCIONALIDADE. PRECEDENTE 307/200B·PROCAD/PGDF. Procuraccr-Oeru! de DF I - A multa moratória é aquela prevista para .os casos de atraso em,-fj;).!J:1LiJ.ik e pGlo injustificado na entrega do objeto e está prevista nos incisos I e lido Ex.rr(.', Si'. C"'lv~;n:idor do artigo 4° do Decreto n. 26.851/2001 (correspondendo ao item 13.3.1 do DF em,_j I contrato), bem como no artigo 86 da Lei de Licitações. O inciso I do .. , - - 'mencionado decreto se refere às hipóteses em que o atraso se limita a trinta dias e o inciso II quando se ultrapassa esse limite. 11 - Para aplicação da multa moratória não basta o critério objetivo (atraso), sendo também necessário apurar o elemento subjetivo -da conduta do contratado, qual seja, a culpa. Assim, constatado que o atraso ocorreu por negligência, imprudência ou imperícia do contratado, caberá a multa moratória. A conlrariu sensu, demonstrado que o atraso C decorreu de fatos alheios à vontade do contratado e inevitáveis, afasta- se a incidência da multa. IV - Parecer no sentido de que se deverá aferir em primeiro plano a existência do elemento subjetivo (culpa) do contratado. Acaso constatada a presença de tal elemento e mantida a aplicação da multa - decisão a ser tomada de forma fundamentada e com observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório - essa deverá ser aplicada com observância às diretrizes do Parecer n. 307/2008- PROCAD/PGDF, que traz escólios sobre a correta aplicação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade para fins fixação do limite da multa por atraso na entrega do objeto da contratação. EXCELENTíSSIMO PROCURADOR·CHEFE DA PROCAD/PGDF, -:, Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF Penalidade -PGDF - atraso -limite -----~.- - --:":,---,"'"", ..;;;::- "- c c 2 RELATÓRIO Cuida-se de consulta acerca da liquidação da nota de empenho n. 2012NE006, EMITIDA EM 05/01/2012, a favor da Emrpresa Microworld Informática, bem como ai desconsideração da aplicação de multa contratual, prevista na cláusula 13.3, "tendo em vista que o órgão, mesmo após a entrega do produto, em momento algum disponibilizou local adequado para a instalação dos aparelhos, conforme orientação do próprio fabricante", fls. 383. É o relatório. PARECER Colhe-se dos autos que a empresa Microworld Informática LIda. - ME foi contratada pelo Distrito Federal (Procuradoria-Geral do Distrito Federal), sendo o objeto assim descrito no contrato de fls. 345/354, in verbis: "a aquisição e ativação de 2 (duas) fontes de alimentação ininterrupta (non break) para os equipamentos que alimentam toda a solução de Storage e armazenamento de dados instalada na PGDF (...)". O objeto deveria ser entregue "de forma integral em até 30 dias corridos, a contar do recebimento da respectiva Nota de Empenho". O valor do contrato é de R$34.859,00. Às fls. 364, a empresa contratada solicita a quitação da nota de empenho n. 2012NE006, emitida em 05/01/2012, destacando que "fora prejudicada quanto ao prazo de entrega, que se deu somente em 04 de abril de 2012, pela Transportadora TEXE TRANSPORTES ESPECIAIS, conforme comprovante de recebimento assinado pela Sra. Ana Maria de Moura (anexo 4), por se tratar de objeto pesado". Assim, além do pagamento, solicita a desconsideração da multa a ser aplicada, prevista no item 13.3 do contrato, "lendo em vista que o órgão, mesmo após a entrega do produto, em momento algum, disponibilizou local adequado para instalação dos aparelhos, conforme orientação do próprio fabricante do produto. Além disso, a empresa passa por um período finan~\ Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF F O l HA 3 g 7-- Y ~ P A O Z O O O 19 4l I Z O 1 O RUB~AT 1754254 Penalidade - PGDF - atraso -limite , 3 delicado e de reestruturação, e a aplicação da multa poderia decretar uma situação; financeira irreversível". c A ilustre Chefe do Serviço de MateriaIlDAG/PGDF informou que "a firma MICROWORLD INFORMÁTICA LTDA-ME entregou os equipamentos em 04 de abril de 2012, com 56 (cinqüenta e seis) dias de atraso, incorrendo em multa de R$12.883,92 (doze mil oitocentos oitenta e três reais e noventa e dois centavos) equivalente a 0,66% (sessenta e seis centésimos por cento) ao dia, sobre o valor do Empenho, conforme Decreto n. 26.851 de 30 de maio de 2006. (...) Ressalto que o mencionado atraso na entrega não causou prejuízo à Administração, uma vez que até a presente data, os equipamentos encontram-se na garagem aguardando a obra de infra-estrutura para serem instalados". O feito, então, veio à PROCAD para manifestação sobre a quitação da nota de empenho e a aplicação da multa. Em primeiro lugar, é sempre bom relembrar que nenhuma penalidade serà aplicada sem a observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório estabelecidos por meio do devido processo administrativo, conforme se infere dos termos do próprio edital, do contrato, da lei de licitações e da própria Constituição Federal. c A aplicação da mencionada multa requer detida apreciação da autoridade administrativa competente para apreciar as razões de defesa lançadas para decidir se mantém ou não a penalidade e, assim, DE FORMA FUNDAMENTADA (art. 50 da Lei n. 9.784/199, aplicada no Distrito Federal por força da Lei Distrital n. 2834/01) e com base nas prescrições editalícias e contratuais contrapor ou não os argumentos trazidos pela empresa contratada em sua peça de defesa administrativa. Assim, a autoridade administrativa, diante das circunstâncias in concreto, deverá investigar e aferir as alegações de defesa, conforme as prescrições do edital e do ~ Parecer n. 653J2012-PROCAD/PGDF FOLHA :3 '8 'O PA 020 001 941/2010 RUB ~ MAT 1754254 Penalidade - PGDF - atraso -limite - 4 contrato, norteando-se pelos princípios gerais do direito administrativo, destacando-se entre eles: legalidade, proporcionalidade/razoabilidade, ampla defesa e contraditório. c Desta feita, deve a autoridade administrativa debruçar-se sobre os fundamentos de defesa apresentados e até 'mesmo determinar a melhor instrução do feito, se assim decidir, de modo a verificar a ocorrência ou não dos fatos alegados. Tal conduta administrativa decorre do princípio da ampla defesa e do contraditório. Nas palavras de Marçal Justen Filho, "A Constituição Federal assegura, de modo genérico, o direito de petição (art. fl, inc. XXXIV, 'aI como instrumento de defesa dos direitos pessoais, especialmente contra atos administrativos inválidos. Além disso, a Constituição assegura a publicidade dos atos administrativos (art. 37) e o direito ao contraditório e à ampla defesa (art. 5<', inc. LV). A conjugação dessas regras impede que a Administração produza atos ou provas relevantes sem participação do particular. Portanto, não caberá restringir a participação do interessado apenas ao momento posterior à decisão. Não existe apenas o direito de recorrer contra a decisão desfavorável. A intervenção do particular não se faz apenas a posteriori. Sempre que uma futura decisão puder afetar os interesses de um sujeito específico, a Administração deverá previamente ouvi-lo e convidá-lo a participar da colheita de provas. Essa participação não será passiva nem restrita. O particular poderá especificar provas (ainda quando sejam colhidas através da autoridade administrativa), assim como indicar assistentes técnicos, formular quesitos, acompanhar depoimentos etc. "1 c Observa-se, ademais, que a denominada "lei de processo administrativo", ou seja, a lei n. 9.784/99, integralmente adotada no Distrito Federal por meio da lei n. 2.834/2001, estabelece em seu artigo 26,in verbis: •Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo administrativo detenminará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a efetivação de diligências. § 1Q A intimação deverá conter: 1 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentflrios à Lei de Ucitações e Contratos Administrativos. Editora Dialética, Pâg. 64~. ", 7' edição. Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF F Ol HA :3 r!3 ' Penalidade - PGDF - atraso - limite P Â OZ O OO1 94 1 /2 01 O - RUBrMAT 1754254 " 5 (...) VI· indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes". A mesma lei, no seu artigo 3°, também preconiza, in verbis: "Art. 32 O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem prejuizo de outros que lhe sejam assegurados: I - ser tratado com respeito pelas autoridadese servidores, que deverão facilitar o exercíclo de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações; li - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas; 111- formular alegaçõese apresentardocumentosantes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente; IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a representação, por força de lei". c c Aludidos dispositivos legais são corolários do princípio da ampla defesa e do contraditório e do devido processo legal insculpidos no artigo 5°, incisos LlV e LV, da Constituição Federal. Assim, um processo judicial ou administrativo não é um conjunto de trâmites burocráticos artificiais, "mas um rígido sistema de garantias para as partes visando ao asseguramento de justa e imparcial decisão", onde as autoridades devem facilitar aos administrados e contratados o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações, ensina Alexandre de Moraes2• Outra vez citando Alexandre de Moraes, "por ampla defesa entende-se o asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de calar-se, se entender necessário". Assim, "entre as cláusulas que integram a garantia constitucional à ampla defesa encontra-se a necessidade de defesa técnica no processo, a fim de garantir a paridade de armas entre as partes (par conditio) e evitar o desequilíbrio processual, possível gerador de desigualdade e injustiças. Assim, o principio do contraditório exige a igualdade de armas entre as partes do processo, oferecendo oportunidade das mesmas possibilidades, alegações, provas e impugnações". Por fim, observa o professor, in verbis: "dentro da previsão de ampla defesa, igualmente está o direito constitucionalmente garantido de ser informado da "",,"" '''' ,,,' ;"' ,lo '" processo, relacionando todos os fatos considerados '"";8:- 2 DE MORAES, Alexandre, Constituição do Brasil Interpretada. Editora Atlas. 2002. Pág. 361 Parecer n. 653/2012-PROCAID/PGDF Penalidade - PGDF - atraso - limite FOLHA33éJ . ",.,! PA 020 001 941/2010 RUBPMAT 1754254 • __ • o _ ._------ " 6 que se imputam ao acusado, bem como a narrativa detalhada dos fatos concretos praticados' (grifou-se). No caso em tela, às fls. 364, a empresa contratada informa que "fora prejudicada quanto ao prazo de entrega, que se deu somente em 04 de abril de 2012, pela Transportadora TEXE TRANSPORTES ESPECIAIS, conforme comprovante de recebimento assinado pela Sra. Ana Maria de Moura (anexo 4), por se tratar de objeto pesado". Afirma também que "tendo em vista que o órgão, mesmo após a entrega do produto, em momento algum, disponibilizou local adequado para instalação dos aparelhos, conforme orientação do próprio fabricante do produto'. c A douta Chefe do Serviço de Material/DAG/PGDF, por sua vez, contabilizou os dias em atraso sem tecer comentário acerca do que alegou a empresa, mas ressaltou. que o atraso "não causou prejuízo à Administração, uma vez que, até a presente data, os equipamentos encontram-se na garagem aguardando a obra de infra-estrutura para serem instalados', fls. 380. c Nesse contexto e em primeiro lugar, é indispensável que sejam analisados detidamente todos os fundamentos da defesa, uma vez que, conforme disposto no item 13.3.1 do contrato, fls. 348 e no artigo 40 do Decreto n. 26.851/2006, "a multa é sanção pecuniária que será imposta à contratada, pelo ordenador de despesas do órgão contratante, por atraso injustificado na entrega ou execução do contrato, e será aplicada nos seguintes percentuais: (...)". Como se grifou, a aplicação da multa só poderá ocorrer se o órgão consulente entender que não houve justificativa para o atraso e, assim se manifestar de forma cabal e plena, infirmando os fundamentos da defesa quanto a esse aspecto. Nas palavras de Jessé Torres ao enfrentar o tema, in verbis "a multa do art. 86, aplicável tão-somente na hipótese de atraso injustificado na execução do contrato, é tipicamente moratória, porquanto o atraso não impede a execução do pactuado de molde a atender aos fins do credor (a Administração contratante); apenas a retarda (mora Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF ~ fOLHA 3jJ 6-. PA020 001 941/2010 RUB FMAT 1754254 Penalidade - PGDF - atraso - lirnite _ ------' 7. so/vendi, isto é, do devedor quanto ao tempo em que haveria de cumprir-se o acordado). Daí responder o devedor (o particular contratado) pelo atraso, com a reserva de que tal mora 'não resulta apenas da circunstância objetiva do retardamento, mas principalmente do elemento subjetivo da culpa. O devedor poderá sempre alegar e provar a existência de fato ou omissão que lhe não sejam imputáveis' (v. Revista dos Tribunais, 186:723). Demonstrado que o atraso deveu-se a negligência, imprudência ou imperícia do contratado, caberá a multa moratória. Demonstrado que o atraso decorreu de fatos alheios à vontade do contratado e por ele inevitáveis, afasta-se a incidência da multa".3 c Ultrapassada essa fase e adotado o entendimento pela aplicação da multa poratraso injustificado, observa-se que o contrato, o edital e o Decreto n. 26.851/2006 possuem redação quase que idêntica acerca da aplicação de multas. Assim, transcreve- se apenas o trecho do Decreto n. 26.851/2006 que trata das multas contratuais. Decreto n, 26.851/2006: c Art. 4· Amulta é a sanção pecuniáriaque será imposta ao contratado pelo atraso' injustificado na entrega ou execução do contrato, e será aplicada nos seguintes percentuais: I - 0,33% (trinta e três centésimos por cento) por dia de atraso, na entrega de material ou execução de serviços, calculadosobre o valor correspondenteà parte- inadimplente,até o limite de 9,9%, que correspondea até 30 (trinta) dias de atraso. 11 - 0,66 % (sessentae seis centésimospor cento) por dia de atraso, na entrega de' material ou execução de serviços, calculado,desde o primeiro dia de atraso, sobre o valor correspondenteà parte inadimplente,em caráter excepcional,e a critério do órgão contratante,quandoo atraso ultrapassar30 (trinta)dias; 111 - 5% (cinco por cento) sobre o valor total do contrato/nota de empenho, por . descumprimento do prazo de entrega, sem prejuizo da aplicação do disposto nos incisos I e 11 deste artigo; IV - 15% (quinze por cento) em caso de recusa injustificada do adjudicatário em assinar o contrato ou retiraro instrumentoequivalente,dentro do prazo estabelecido pela Administração, recusa parcial ou total na entrega do material, recusa na conclusão do serviço, ou rescisãodo contrato/nota de empenho,calculado sobre a parte inadimplente; V - até 20% (vinte por cento) sobre o valor do contrato, pelo descumprimentodeQ('~ qualquer cláusulado contrato,exceto prazode entrega. ~ 3 PEREIRA JÚNIOR, Jesse. Comentários à Lei das LicftaçlJes e Contratações da Administração Pública. Editora Renovar. 6' Edição. Pág. 791. Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF •Penalidade - PGDF - atraso - limite FOLHA332- PAOZO 001 941/2010 RUB~r1AT 1754254 '; I. c § 1° A multa será formalizada por simples apostilamentocontratual, na forma do art. 65, § 8°, da Lei nO 8.666, de 193 e será executada após regular processo .. administrativo, oferecido ao contratado a oportunidade de defesa prévia, no prazo .• de 05 (cinco) dias úteis, a contar do recebimento da notificação, nos termos do §30 do art. 86 da Lei nO8.666, de 1993, observada a seguinte ordem: I - mediante desconto no valor da garantia depositada do respectivo contrato; 11- mediante desconto no valor das parcelas devidas ao contratado; 111-mediante procedimento administrativo ou judicial de execução. §2° Sempre que a multa ultrapassar os créditos do contratado e/ou garantias, o seu valor será atualizado, a partir da data da aplicação da penalidade, pela variação do fndice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas. § 3° O atraso, para efeito de cálculo de multa, será contado em dias corridos, a partir do dia seguinte ao do vencimento do prazo de entrega ou execução do contrato, se dia de expediente normal na repartição interessada, ou no primeiro dia útil seguinte. §4° Em despacho, com fundamentação sumária, poderá ser relevado: I - o atraso não superior a 5 (cinco) dias; 11- a execução de .rnufa cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança. § 5° A multa poderá ser aplicada cumulativamente com outras sanções, segundo a natureza e a gravidade da falta cometida, consoante o previsto no Parágrafo único do art. 2° e observado o principio da proporcionalidade. § 6° Decorridos 30 (trinta) dias de atraso, a nota de empenho e/ou contrato deverão ser cancelados e/ou rescindidos, exceto se houver justificado interesse da unidade contratante em admitir atraso superior a 30 (trinta) dias, que será penalizado na forma do inciso 11do caput deste artigo. § 7° A sanção pecuniária prevista no inciso IV do caput deste artigo não se aplica nas hipóteses de rescisão contratual que não ensejam penalidades'. c Relendo os termos do artigo 4° do Decreto n: 26.851/2001, observa-se que os incisos I e 11se aplicam para os casos de mora, sendo que, na hipótese do inciso I, a mora é de menos de 30 dias e, no caso do inciso li, a mora é de mais de trinta dias, in verbis: Parecer n. 653/2012-PROCADIPGDF •Art. 40 A multa é a sanção pecuniária que será imposta ao contratado pelo atraso injustificado na entrega ou execução do contrato, e será aplicada nos seguintes percentuais: I - 0,33% (trinta e três centésimos por cento) por dia de atraso, na entrega de "' material ou execução de serviços, calculado sobre o valor correspondente à parte inadimplente, até o limite de 9,9%, que corresponde a até 30 (trinta) dias de atraso. 11- 0,66 % (sessenta e seis centésimos por cento) por dia de atraso, na entrega de material ou execução de serviços, calculado, desde o primeiro dia de atraso, sobre o valor correspondente à parte inadimplente, em caráter excepcional, e a critério do órgão contratante, quando o atraso ultrapassar 30 (trinta) dias' (grifou-se). FOLHA 3§3 ~ P-A OZ O OO1 941 / 2 O 1 O -" RUBPMAT 1154254 " , ,/ f?J'Penalidade - PGDF - atraso - limite 9 Já o inciso 111do mesmo artigo indica a aplicação de multa penal, ou seja, inadimplemento total, o que não é a hipótese dos autos que, como dito, se refere à multa moratória (por atraso), in verbis: "111- 5% (cinco por cento) sobre o valor total do contrato/nota de empenho, por descumprimento do prazo de entrega, sem prejuízo da aplicação do disposto nos incisos I e 11deste artigo' (grifou-se). o caso sub examine trata da multa moratória e está inserido no inciso 11do artigô 4°. Curioso notar que o inciso I prevê multa de 0,33% por dia de atraso, limitado a 9,9% sobre o valor total do contrato. O inciso 11,no entanto, não traz qualquer limitação, o que acaba por gerar situação que fere o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade - ( fundamento principal para a aplicação de penalidades - e está até mesmo previsto no próprio decreto, in verbis: "§ 5° A multa poderá ser aplicadacumulativamentecom outras sanções,segundo a natureza e a gravidade da falta cometida, consoante o previsto no Parágrafoúnico do art. 2° e observado o princípio da proporcionalidade". ( Assim, seguindo interpretação literal do que dispõe o inciso 11do artigo 4° do Decreto 26.851/2011, pode se chegar à mesma conclusão de fls. 380, qual seja, em razão dos 56 (cinquenta e seis) dias de atraso, a multa é de R$12.883,92, "equivalente a.. 0,66% (sessenta e seis centésimos por cento) ao dia, sobre o valor do Empenho, conforme Decreto n. 26.851 de 30 de maio de 2006". Mas essa, salvo melhor juízo, não é a melhor interpretação da lei. A questão envolve a correta aplicação dos princípios da razoabilidade e da, proporcionalidade. Fere o bom senso e, portanto, o razoável, o proporcional, a aplicação de multa no valor de R$12.883,92 por atraso de 56 (cinquenta e seis) dias na entrega do objeto do contrato no valor total de R$34.859,OO. Se fossem mais dias, o valor da multa até mesmo ultrapassaria o valor do contrato, situação também absolutamente desproporcional e, assim,ilegal. Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF FOLHA 3!3/.f PA 020 001 941/Z010 RUB cp; MAT 1754254Penalidade - PGDF - atraso - limite ------- . 10 A questão foi tratada no parecer n. 307/2008-PROCAD/PGDF, da lavra do ilustre Procurador Dr. Alexandre Moraes Pereira, in verbis: ( "2.4 Limite do quantum da multa a título de atraso do fornecimento. A prosseguir no exame da questão transcrita no item acima, passa-se a verificar se há limite para a aplicação dos percentuais de 0,3% e 0,6%, dia após dia, excedendo-se, inclusive, a 100% do valor da contratação. A questão envolve a correta aplicação dos principios da razoabilidade e da proporcionalidade. De inicio, há que se observar que as sanções administrativas hão de ser aplicadas de forma gradativa e proporcional à gravidade do descumprimento contratual. A proporcionalidade há de ser observada tanto na aplicação das diversas espécies gradativas de penalidade estabelecidas no art. 87 da Lei 8.666/93 (advertência, multa, suspensão temporária de participação em licitação! impedimento de contratar com a Administração e declaração de inidoneidade), como na fixação do quantum a ser imposto, por exemplo, a titulo de multa. Embora os percentuais a incidirem sobre os dias de atraso no adimplemento dá obrigação serem prévia e objetivamente estabelecidos em Edital, imperioso perseguir a interpretação que melhor atenda aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. A hipótese de penalidade proposta representa o recebimento, pel? Administração, de bens entregues pelo fornecedor, ainda que em atraso, sem por eles nada pagar, eis que todo o pagamento ficaria retido para saldar a multa imposta. Para piorar o quadro, teria ainda o fomecedor inadimplente que complementar, em favor do erário, o restante da multa que estaria a exceder o aludido pagamento. Entendo que a solução não é razoável, pois representa, em última análise, enriquecimento ilícito da Administração em detrimento da outra parte contratante. A corroborar tal entendimento, basta comparar a situação dos autos com a hipótese de inadimplemento absoluto da obrigação, ou seja, a não entrega do material, descumprimento contratuál que, apesar de mais grave que o atraso, imporia à contratada a multa de 15% sobre o valor do contrato/nota de empenhá (item 14.2, 11do Edital; fi. 60 verso). Verifico que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal já examinou caso semelhante ao que tratado nos autos. Colho da ementa de acórdão proferido na Apelação Cível na 48.087/98, Terceira Turma Cível, ReI. Des. Campos Amaral, DJU 05.08.1998: c 'Direito Civil. 1. Contrato administrativo. Atraso na entrega de material. Aplicação de multa pela apelante. Ação para liberação de multa. Sentença que julga procedente o pedido. Apelação. 2. A multa somente pode ser imposta ou descontada das faturas da fomecedora após processo administrativo específico e não nos próprios autos do processo de licitação. Este é processo prévio que se encerra com a publicaçãodo despacho homologatório. O § 2° do art. 86 da Lei nO8.666/93 exige 'regular processo administrativo' para a aplicação da multa. Observância dos principios P, Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF ~ Penalidade -'PGDF _ atraso _ limite f' OL HA .:3g S •.. " PAOZO 001 941/2010 RUB~ MAT 1754254 11 .' c ampla defesa e do contraditório. 3. A utilidade da prestação c{a contratante, embora tenha ocorrido atraso, não justifica a aplicação da multa de 88,5% sobre o valor do contrato. Multa desproporcional. Apelação desprovida.' Transcrevo esclarecedor trecho do voto do relator: 'Por outro lado, no que pertine ao quantum da multa, é importante salientar que esta deve observar o princípio da proporcionalidade e da legalidade, não sendo possível à Administração aplicar penas pecuniárias excessivas ou não previstas na lei ou no contrato. É o ql{e leciona Hely Lopes Meirelles, na ob. cit., pág. 595, ipsis Iitleris: 'Embora a gradação das sanções administrativas - demissão, multa, embargo de obra, destruição de coisas, interdição de atividade e outras - seja discricionária, não é arbitrária e, por isso, deve guardar correspondência e proporcionalidade com a infração apurada no respectivo processo, além de estar expressamente prevista em norma administrativa, pois não é dado à Administração aplicar penalidade não estabelecida em lei, decreto ou contrato, como não o é sem o devido processo legal, que se erige em garantia individual de n/vel constitucional (art. 5°, LV).' De fato, pela inexecução total ou parcial do contrato por parte da contratada, a Cláusula Décima Primeira (fi. 20), repetindo as disposições do art. 86, do Regulamento de Licitações e Contratações da CAESB (fi. 63), previa as seguintes sanções pecuniárias: 'b) multa de 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor do fornecimento, ao dia, até o 30° (trigésimo) dia de atraso, quando a CONTRA TADA deix?I de cumprir a obrigação assumida, e - c) multa de 20% (vinte por cento) sobre o valor do fornecimento não realizado e cancelamento do contrato, quando decorridos 30 (trinta) dias de atraso na sua entrega. ' Portanto, não poderia a apelante aplicar multa maior que 20% sobre o valor total porque não previsto em lei ou no contrato. Muito embora tenha ocorrido atraso de 177 dias na entrega do material, a multa de 88,5% aplicada é excessiva e não encontra respaldo legal ou contratual. Ademais, não houve o cancelamento do contrato e a utilidade da prestação da apelada é evidente para a apelante, de modo que, sob o ângulo do justo, não se me afigura correta a aplicação da multa de 88,5%sobre o valor do contrato, desde que todas os materiais foram entregues e recebidos. Dessa forma, deve ser matitida a r. sentença que determinou o pagamento dos valores descontados a t/tulo de multa.' (grifamos) Assim, a se dotar o entendimento exarado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal, concluímos que a entrega e recebimento dos materiais, a pressupor a sua utilidade para a Administração, em conjunto com a fixação de multa de 15% sobre o valor do empenho para a hipótese de não fornecimento (inadimplemento completo), implica reconhecer que é excessiva a multa que se propõe seja aplicada a contratada, nos termos do cálculo apresentado em memorial de cálculo juntado aos autos. ~'. Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF ~ Penalidade - PGDF _ arraso _ limite F O L H A- 3~t PA 020 001 941/2010 RUBcPMAT 1754254 , . 12 Assim, não pode a multa em questão exceder o quantutn obtido pela aplicação do percentual estabelecido no art. 14.2, /I do Edital, que é de 15% sobre o valor do contrato/nota de empenho.• Por todo o exposto, em primeiro lugar deve ser feita a análise detida do argumento trazido pela empresa contratada sobre as justificativas para o atraso. Como mencionado por Jessé Torres, não basta "a circunstância objetiva do retardamento, mas principalmente o elemento subjetivo da culpa". Assim, "demonstrado que o atraso deveu-se a negligência, imprudência ou imperícia do contratado, caberá li multa moratória. Demonstrado que o atraso decorreu de fatos alheios à vontade do contratado e por ele inevitáveis, afasta-se a incidência da multa".' ( Acaso mantida a aplicação da multa - decisão a ser tomada de forma fundamentada e com observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório - essa deverá ser aplicada com observância às diretrizes do Parecer n. 307/2008- PROCAD/PGDF acima transcrito. CONCLUSÃO 'Pelo exposto, opina-se no sentido de deverá se aferir em primeiro plano a existência do elemento subjetivo (culpa) da empresa contratada, considerando os termos de sua defesa. Acaso constatada a presença de tal elemento e mantida a aplicação da /'. multa - decisão a ser tomada de forma fundamentada e com observância dos princípios-, da ampla defesa e do contraditório - essa deverá ser aplicada com observância às diretrizes do Parecer n. 307/2008-PROCAD/PGDF acima transcrito. É o parecer sub censura. ,,,,,;!;,.I)F, 12do junho do 2012Ç::Jtls.--, Renata Barbosa Fontes da Franca Subprocuradora-Geral do Distrito Federal Penalidade - PGDF - atraso - limite " FOLHA) .31- PA 020 001 941/2010 aUBJWUMAT 1754254 'Idem 3. Parecer n. 653/2012-PROCAD/PGDF . --- - .----- ------- '. Folha nO.: 338 PI'O<:'>JlieO rl".O?Q Cf) 126 & JébJl;Q ~~'> . MatmJlal?:'~':-~'-""'-- Excelentíssimo Senhor Procurador-Gera , ..' " DISTRITO FEDERAL PROCURADORIA GERAL DO DISTRITO FEDERAL PROCURADORIA ADMINISTRATIVA Processo n": Interessada: Assunto: 020.001.941/2010 Procuradoria-Geral do Distrito Federal Contrato Administrativo. Aplicação de Penalidade. (} Cuida-se de consulta encaminhada pela Diretoria de Administração Geral da Procuradoria-Geral do Distrito Federal, por meio da qual solicita manifestação sobre a pretensão de aplicar penalidade à empresa MICROviORLD INFORMÁTICA LTDA. - ME, em face do atraso na entrega de produtos adquiridos pela Procuradoria, por meio do Contrato n° 006/2012-PGDF, bem como a respeito da possibilidade de liquidação da Nota de Empenho n° 2012NE006. Designada para a emissão de parecer, a 11.Subprocuradora-Geral do Distrito Federal Dra. Renata Barbosa Fontes da Franca concluiu que "deverá se aferir em primeiro plano a existência do elemento subjetivo (culpa) da empresa contratada, considerando os termos de sua defesa. Acaso constatada apresença de tal elemento e mantida a aplicação da multa - decisão a ser tomada de forma fundamentada e com observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório - essa deverá ser aplicada com observância às diretrizes do Parecer n. 307/2008- PROCAD/PGDF acima transcrito ". No caso ora em análise, verifica-se que a multa aplicada pela recusa total da entrega do material foi fixada em R$ 12.883,92, correspondente a 36,96% do valor total do contrato. Assim, esclareço que, caso se entenda cabível a aplicação de multa, deve a autoridade competente, em atenção às diretrizes fixadas no Parecer n? 307/2008 - PROCADIPGDF, limitá-la a 15% (quinze por cento), em atenção ao item 13.3 .I.1V do contrato firmado, que servirá de teto na aplicação do item 13.3.1.11': 1 -----_ ..- ----- I' Fcilla "..: Ô9>9 P11Y'...IlJlSO ""·:OZoº1~$<i I~ DISTRITO FEDERAL fQ~ ~V'A""" PROCURADORIA GERAL DO DISTRITO FI fiEtRl:MJ nO.: ~ PROCURADORIA ADMINISTRATIVA .... Com efeito, no subitem IV, do item 13.3.1,mesmo para a recusa total na entrega dos materiais adquiridos pela Administração, comina-se multa de 15%, de modo que o atraso na entrega dessas mercadorias, sancionado pelo subitem lI, por maior que seja, não pode levar a fixação de multa superior a esse patamar, principalmente em situação que a prestação ainda se mostre útil ao órgão contratante quando da entrega dos bens, como no presente caso, sob pena de afronta ao princípio da razoabilidade. o atraso desmedido na execução da avença deve levar à rescisão contratual. Todavia, entendendo por bem a Administração em manter o contrato, não pode essa atitude implicar em verdadeiro confisco em desfavor do contratado. Por concordar comas conclusões alcançadas pela eminente Parecerista, submeto à apreciação de Vossa Excelência o Parecer n° 653/2012 - PROCADIPGDF, o qual aprovo, por seus próprios e jurídicos fundamentos. EPSlLMOP Bt~25 de~1~;(12. Ferna~ netti Stauber Pr cur dor-Chefe Procu do, a Administrativa '<, _./ À superior consideração. c .;-, 2 020.001.941/2010 Procuradoria-Geral do Distrito Federal Aquisição de material de informática. jrFo-".-.---'1·a;-.-' -1 I p,.~~:s:on"-~~.{)Jj"-1j)J ~<7io/" i:'lI~rica:t!!!!:_,.fat'icuia..pt/JsLf .1-/ ...,--..... - o __ ., APROVO O PARECER N° 0653/2012 PROCADIPGDF, de autoria da ilustre Subprocuradora-Geral do Distrito Federal RENATA BARBOSA FONTES DA FRANCA, com os 'I acréscimos constantes na cota de fls. 398/399, subscrita pelo eminente "Procurador-Chefe da Procuradoria Administrativa PROCAD, .'• PROCESSO N°: INTERESSADO: ASSUNTO: C r _' .. t '" - • ti DISTRITO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL GABINETE DO PROCURADOR-GERAL e;, GDF FERNANDO ZANETTI STAUBER. Restituam-se os autos à Diretoria de Administração Geral - DAG desta Casa Jurídica para conhecimento e adoção das providências pertinentes. ( Em l.(.., 1 0"")- 12012. MARCELO AUGUSTO DA CUNHA CASTELLO BRANCO Procurador-Geral Adjunto do Distrito Federal AAN "Brasllia - Patrimônio Cultural da Humanidade".•.. --------- ----.~' .••.•••••••••••••,.....,.",=
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