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Filosofia I

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1.1 Do mito ao surgimento da filosofia 
 O mito é um conjunto de narrativas geradas e organizadas por uma comunidade primordial, que tem por objetivo dar uma 
explicação acerca de sua história e de sua realidade. Os primeiros mitos estão relacionados com a origem do homem, da 
agricultura, dos males, da fertilidade, entre muitos outros âmbitos. 
Nos ritos dessa época, baseados nos mitos primordiais, assim denominados os que buscam explicar a origem do mundo, 
homens e mulheres imitavam os deuses, pois se acreditava que esta prática permitiria a fertilidade da terra, a fecundação da 
mulher, o nascimento dos frutos, a sucessão do dia, a noite, entre outros fenômenos. A adesão ao mito é feita pela fé. 
 A palavra mitologia se refere ao estudo dos mitos, a sua origem e significa- do. Ao longo da história da humanidade os mitos 
penetraram na realidade vivida pelos membros das sociedades antigas, ocupando seu imaginário, se reproduzindo em todas as 
atividades, como por exemplo, nas artes, na política, na educação. Assim, o mito pode ser concebido como : 
 Uma visão de mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas de geração a geração por séculos e que transmitiam 
aos jovens a experiência dos anciãos. Como narrativas, os mitos falavam de deuses e heróis de outros tempos e, dessa forma, 
misturavam a sabedoria e os procedimentos práticos do trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas. (Filosofia, 
Ensino Médio 2º Edição, Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná, 2006, Curitiba, Paraná, p.18) 
 No entanto, quando as respostas e explicações vindas dos mitos e das tradições não davam mais conta das perguntas e dos 
problemas derivados da existência humana, o homem começou a refletir sobre as contradições existentes neles, então se inicia o 
esforço pela busca de novas respostas, além do mito. A transição da consciência mítica para a filosofia pode ser concebida como 
o nascimento de uma nova ordem do pensamento. 
 O surgimento da reflexão e da racionalidade é resultado de elaboração de outra cosmologia, de entender a natureza sob 
outras bases, procurando a racionalidade do universo. Assuntos como: como surgiu o cosmo? Qual seria o princípio de todas as 
coisas? São perguntas realizadas pelos primeiros filósofos. Assim, o que marcou o surgimento da filosofia, particularmente da 
ocidental, é a tentativa de uma explicação racional, rigorosa e metódica, condizente com a vida política e social da sociedade 
grega. 
 Na passagem do mito à razão há continuidade no uso comum de certos pensamentos, como a existência de divindades, mas 
por outro lado, existe uma ruptura quanto à atitude das pessoas diante de tal pensamento. O nascimento da reflexão permite 
o questionamento dos mitos e o desenvolvimento da consciência racional. A filosofia ocidental organiza-se em doutrina, busca a 
definição rigorosa e a coerência entre os conceitos. A razão e a consciência resultam da necessidade do ser humano refletir 
sobre a sua realidade. 
 É importante compreender que o mito não é resultado de um delírio, não é uma mentira. O mito proporciona uma visão da 
realidade, explica o que ainda não foi justificado, sendo na maioria das vezes a primeira leitura do mundo, o ponto de partida 
para a compreensão do ser. Em outras palavras, tudo que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da 
imaginação, nos pressupostos míticos que servem de base para todo trabalho posterior da razão. Até hoje, o mito e razão se 
complementam mutuamente. 
 
 Na atualidade, assistimos a outros tipos de mitos, criados em volta do poder, com função ideológica, como por exemplo, os 
“mitos da razão e da raça” propagados durante o Fascismo e o Nazismo. O mesmo sucede com os mitos criados em volta das 
personalidades que os meios de comunicação transformam em exemplos, como os artistas, as modelos, os esportistas, e que no 
imaginário das pessoas representam, sem necessidade de provas, todos os tipos de anseios: sucesso, poder, liderança, 
sexualidade, etc. Assim, na história da humanidade, uma das funções ideológicas dos mitos é mostrar os “modelos exemplares” a 
serem seguidos na conduta e nas atividades humanas significativas. 
 Na sociedade ocidental, a emergência e desenvolvimento da consciência racional são possíveis graças às mudanças 
socioeconômicas, políticas e culturais vividas ao longo de centos de anos, particularmente a escrita, o comércio, a moeda, a lei, 
a polis, as instituições políticas, entre outros, que culminaram no século VI a.C. com o aparecimento do filósofo e da filosofia nas 
colônias Gregas da Magna Grécia e da Jônia. 
 Segundo Chauí ( 2000, p.35 - 37) o que tornou possível o surgimento da Filosofia ocidental foram as condições 
econômicas, sociais, políticas e históricas que a Grécia vivia no final do século VII e no início do século VI antes de Cristo. 
 Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia: 
1. As viagens marítimas: que permitiram descobrir que os locais apontados pelos mitos como habitados por deuses, 
titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos. As viagens produziram o desencantamento ou a 
desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, as quais o mito já não podia 
oferecer; 
 
2. A invenção do calendário: que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos 
importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo 
como algo natural e não como um poder divino incompreensível; 
 
3. A invenção da moeda: que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas, ou dos 
objetos concretos trocados com base em semelhança, mas uma troca abstrata, feita pelo cálculo do valor semelhante 
das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização; 
 
4. O surgimento da vida urbana: com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de 
fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras. Além disso, o 
surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para 
suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias) fez com que se 
procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente 
em que a Filosofia poderia surgir; 
 
5. A invenção da escrita alfabética: revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a 
escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas - como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou 
os ideogramas dos chineses -, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o 
que dela se pensa e se transcreve; 
 
6. A invenção da política: introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia: 1º A ideia da lei como 
expressão da vontade de uma coletividade. O aspecto legislado e regulado da cidade - da polis - servirá de modelo para 
a Filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo marcado pelo racional. 2º 
O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso. 3º 
Agora, com a polis, isto é , a cidade política, surge a palavra como direito d e cada cidadão de emitir em público sua opin
ião, discuti-la com os outros, persuadi-
lo s a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político 
como a palavra compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposi
ção dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa. A ideia de um pensamento que todos podem 
compreender e discutir, que todos podem comunicar e transmitir éfundamental para a Filosofia. 
 É importante mencionar que o pensamento filosófico predominante no Brasil tem como raiz o pensamento grego, o 
pensamento ocidental, a partir do qual foram construídos os princípios para os conceitos de razão, ciência, ética, entre outros. 
Isso não significa que outros povos não possuam sabedoria. 
 Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os 
hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam sabedoria, pois 
possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de 
conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem. Quando se diz que a Filosofia é um fato 
grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os 
pensamentos, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são 
completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas (CHAUÍ, 2000. p.20). 
 A filosofia ocidental surgiu especificamente com os gregos, imprimindo para a grande maioria dos povos da Europa Ocidental 
e do Brasil - por meio da colonização portuguesa - as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, 
ciência, ética, política, técnica, arte, entre outros conceitos. 
Referências: 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora 
Moderna, 1986 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 
FILOSOFIA. Ensino Médio. Secretaria de Estado da Educação. Filosofia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. 
 
1.2 O que é filosofia? 
 A forma mais remota de concepção do mundo, que precedeu diretamente a filosofia ocidental foi a mitologia. Mas a 
concepção do mundo é produto também do pensamento religioso, portanto, a filosofia ocidental nasceu da consciência mítico-
religiosa como uma tentativa de explicar racional- mente o mundo a partir do início da superação dos mitos, abraçando a razão 
e a lógica como pressupostos básicos para a reflexão. 
 No dia a dia, homens e mulheres escolhem seus caminhos, ou seja, decidem sobre o que fazer na vida, pensando, se 
perguntando sobre o que é melhor para eles. Todos no cotidiano somos levados a momentos de reflexão, fazemos uma parada a 
fim de retomar o significado das nossas ações e pensamentos. Nesses momentos quando somos solicitados a analisar, criticar e 
questionar, somos etiquetados de “filósofos”, pois parte da sociedade entende que refletir, analisar e criticar são atitudes 
filosóficas. Mas, será que toda análise ou crítica deriva de um pensamento filosófico ou em uma reflexão e/ou atitude filosófica? 
Vejamos o que nos diz Chauí (2000, p.9-10) a este respeito. 
 A atitude crítica. A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-
conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido. 
 
 A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, 
as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e 
uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações 
fundamentais da atitude filosófica. A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude 
crítica e pensamento crítico. 
 
 A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos 
o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental 
verdade filosófica é dizer: “Sei que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a 
admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto. 
 
 Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-
o como se nunca o tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de 
comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós 
mesmos e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que somos, por 
que somos e como somos”. 
 
 A reflexão filosófica. Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é 
o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo. 
 
A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões: 
 
1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? Isto é, quais os motivos, 
as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos? 
2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando 
agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos? 
3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção ou 
a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos? 
 Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar, falar e agir? E elas pressupõem a seguinte pergunta: Nossas 
crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento? 
 Como vimos, a atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como é? Por que é?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e 
aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação ou a estrutura e 
a origem de todas as coisas. Já a reflexão filosófica indaga: Por quê?, O quê?, Para quê?, dirigindo-se ao pensamento, aos seres 
humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir. 
 
 
Filosofia: um pensamento sistemático 
 
 Essas indagações fundamentais não se realizam ao acaso, segundo preferências e opiniões de cada um de nós. A Filosofia não 
é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de massa. Não é 
pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidores e montar uma propaganda. 
 As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático. Que significa isso? Significa que a Filosofia trabalha com 
enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por 
procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a 
reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si 
mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que ”, mas de poder afirmar “eu penso que”. 
Podemos afirmar que a atitude filosófica inicia questionando o senso comum, isto é as explicações que as pessoas comumente 
dão aos fatos, visando saber se os conhecimentos que sustentam estas explicações são ou não um saber verdadeiro. A atitude 
filosófica nos leva a descobrir os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos e fazer o que fazemos, assim 
como a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos. Podemos dizer que a filosofia esta presente como a 
análise e a reflexão crítica a respeito dos fundamentos do conhecimento e do agir, enxergando seu objeto de estudo na sua 
totalidade. 
 As características das reflexões e das atitudes filosóficas são os pontos de contato entreas diferentes definições de Filosofia. 
Segundo Pitágoras a filosofia é a procura amorosa da verdade, já para o filosofo francês Merlau-Ponty a verdadeira filosofia 
consiste em reaprender a ver o mundo. Para Kant a filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que 
pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana. Para Marx a filosofia é a crítica da ideologia. 
Nesta variedade de definições encontramos similaridades nas características das reflexões e das atitudes filosófica. 
 Segundo Dermeval Saviani, citado por Arranha e Martins (1986, p.47), a reflexão é filosófica, radical, rigorosa e de conjunto. 
Radical: é preciso que se vá até as RAÍZES do problema ou fato em reflexão, até seus fundamentos. 
Rigorosa: a reflexão deve ser crítica, segundo métodos determinados, co- locando-se em questão as generalização que a ciência 
pode ensejar, as verdades populares. 
De conjunto: o problema não pode ser examinado de modo parcial, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-se o 
aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido. É nesse ponto que a filosofia se distingue da 
ciência de um modo mais marcante”. 
 Para a filósofa brasileira Chauí, a Filosofia procura o conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e 
humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio 
pensamento. (2000. p.16). Mas, no cotidiano, a filosofia serve para alguma coisa? Para alguns filósofos, o exercício da filosofia, 
enquanto interrogação sobre as várias instâncias do real, questiona a ordem instituída e, à medida que a analisa e pondera, pode 
transformá-la. 
 
 
Referências: 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda ; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora 
Moderna, 1986 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 
1.3 Para que serve a filosofia? 
 Na sociedade de hoje o pensamento das pessoas está marcado pela busca dos resultados imediatos, inclusive na esfera do 
conhecimento. Julga o útil pelos resultados palpáveis e visíveis das coisas e das ações, a sociedade considera útil o que dá 
prestígio, poder, fama e riqueza. É útil a pesquisa do médico que busca a cura de alguma doença; os conhecimentos que 
permitam aprovar um exame, o conhecimento tecnológico visando interagir com outras pessoas nas redes sociais, etc. Sem 
dúvida estes conhecimentos são importantes e úteis. Mas, a filosofia não atende ao atual conceito social de utilidade, como 
veremos mais adiante. 
 
 A Filosofia tem entre seus objetivos o de nos ajudar a encontrar a verdade. A palavra verdade vem do vocábulo gregro a-
létheia, a-letheúein, que significa desnudar, mostrar o que realmente está por trás das coisas. É por isso que as perguntas, o que 
é? Por que aconteceu? Que está por detrás desses acontecimentos? São perguntas filosóficas por excelência. 
 Para a Filosofia a procura e descoberta da verdade permitem colocar a nu aquilo que estava escondido, possibilita o 
desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo poder, pelo convencional. 
 O conceito de utilidade da filosofia não parte do conceito de utilidade imediata. Para Chauí, a ideia predominante na 
sociedade de que a filosofia não tem utilidade, resumida na pergunta “Para que filosofia?” tem sua razão de ser e pode ser 
explicada. Vejamos como esta autora explica o porquê desta pergunta. 
 Essa pergunta, “Para que filosofia?”, tem a sua razão de ser. Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar 
que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de utilidade imediata. Por isso, 
ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na 
aplicação científica à realidade. [...] 
 Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: não serve para coisa alguma. Parece, porém, que 
o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, 
obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, através de instrumentos e objetos 
técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os. Ora, todas essas pretensões das 
ciências pressupõem que elas acreditam na existência da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na 
tecnologia como aplicação prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e 
aperfeiçoados. 
 Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de 
saberes: tudo isso não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia 
quem as formula e busca respostas para elas. Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, 
mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os cientistas e filósofos sabem disso, o senso comum continua 
afirmando que a Filosofia não serve para nada (CHAUÍ, 2000, p.10) 
 
 A partir do texto anterior podemos afirmar que filosofia e ciência têm campos de estudo diferentes. A filosofia analisa se as 
bases, os “alicerces” a partir dos quais se erguem, constroem determinados conhecimentos, têm fundamento; já a ciência tem 
por objetivo a construção de um conjunto de teorias e hipóteses visando à explicação de determinados fenômenos, usando 
determinado método. A filosofia possibilita que homens e mulheres vão além da dimensão da realidade dada pelo agir imediato, 
no qual o ser humano no seu dia a dia se encontra mergulhado. Esta característica nos permite responder, por exemplo, quais 
são os valores que devem nortear as relações humanas? Qual é a finalidade da educação? Cada época fornece respostas 
diferentes para as questões prementes da existência do ser humano, traz formulações diferentes. 
 Podemos dizer que a reflexão filosófica sobre diferentes assuntos nos fornecerá ferramentas úteis para formular e 
compreender melhor os problemas atuais. Mas filosofar não é um exercício puramente intelectual, filosofar é descobrir a 
verdade visando à mudança, é o saber para poder transformar. Mas, mudar para que? Mudar para viver em liberdade, isto é, 
ter “a possibilidade de escolher entre o sim ou o não, entre o que me convém ou não e decidir. O homem ao ser livre e fazer suas 
escolhas, torna-se responsável por elas. Cada escolha que se faz determina e constrói nossa existência, aproximando- nos ou não da 
própria felicidade” (1986, p.132). 
Referência: 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 
2.1 Grécia antiga até Renascimento 
 Na antiga Grécia (600 a. C. – 428 a. C.), a filosofia se focou na investigação das causas das transformações na Natureza. Para 
Castro (2008, p.11), “As indagações dos filósofos dessa época primeva reapresentam a primeira vontade do ser humano de 
entender os mecanismos reguladores da natureza para além de qualquer explicação mítica...”. Assim, os antigos filósofos gregos, 
tais como Tales, Pitágoras, Heráclito, Anaxágoras, Demócrito e muitos outros, indagaram sobre o surgimento do cosmos e a 
natureza. 
 
 Mais tarde, no século V, após o fracasso da invasão persa, por toda Grécia se estende um forte movimento intelectual que 
favoreceu a democracia. Atenas se converteria no centro da cultura que irradia ciência e filosofia, arte e cultura a toda Grécia. 
Neste período a filosofia sai das escolas para as cidades; os filósofos, no início chamados de sofistas, passam a investigar não 
mais a natureza, mas o habitante do universo: o próprio homem, as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas. 
 Nesta época destaca-se o filosofo Sócrates que propunha em seus ensinamentos aos jovens a melhor formade direcionar sua 
vida para ser satisfatória. Para Sócrates o filósofo devia dedicar-se à investigação de si mesmo. O interesse primordial de Sócrates 
era a moral, se preocupava em indagar: Que é amor? Que é justiça? Que é a bondade? Que é a compaixão? 
 
 Para Sócrates, o ser humano devia refletir sobre sua conduta, se autocriticar e encontrar mediante o diálogo, a verdade de 
cada um, a partir da qual cada um deveria viver. O método utilizado por Sócrates para chegar à verdade é a pergunta, o diálogo, 
a arte de debater por meio de perguntas e respostas, chegando assim à verdade, ou muito próximo dela. 
 Sócrates nasceu em Atenas no ano 470 a.C., aprendeu a ler e escrever, fato pouco comum para aquela época. Foi acusado, 
entre outras coisas, de corromper a juventude, motivo pelo qual foi condenado à morte por envenenamento. Para Castro (2008, 
p. 22), “a morte de Sócrates entra para a Filosofia como um símbolo do poder que as ideias possuem e de como podem ameaçar 
o status quo. Sócrates só pretendia levar os jovens atenienses à descoberta do pensamento autônomo e da reflexão”. 
 Sócrates não deixou nada escrito, mas seu discípulo Platão conservou suas ideias. Ao utilizar o método socrático, Platão 
buscou refletir sobre quatro perguntas, onde o homem pode encontrar a verdade? Qual é a origem e composição do Universo? 
Qual é a finalidade do homem sobre a terra? Qual é a origem da criação do homem? 
 
 Mais tarde, parte das preocupações filosóficas centra-se no estudo do raciocínio, das regras do pensamento correto. No 
contexto desta preocupação Aristóteles pensava que a Filosofia devia ser a demonstração da prova, para ele uma afirmação não 
provada não era verdadeira. Aristóteles escreveu o primeiro texto sobre lógica. 
 
 Aristóteles (384-322 a. de C.) é considerado um dos maiores filósofos gregos. Entre suas preocupações está a ética, a natureza 
da alma, a separação dos ramos do saber de acordo com seu objeto, Aristóteles e seus discípulos contribuíram com os primeiros 
estudos sérios sobre botânica, zoologia, mecânica, física, astronomia, medicina e outras disciplinas humanas. É considerado o 
fundador da lógica, seus escritos sobre lógica estão reunidos no Organon. 
 
 Do final do século IV ao final do século III a.C., chamado de período sistemático, a Filosofia busca mostrar, a partir da 
sistematização de tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia, que tudo pode ser objeto de conhecimento 
filosófico, desde que seguidos os critérios da verdade e da ciência. 
 
 Do século I ao século VII d.C., surge a filosofia patrística, a partir do esforço de conciliar o Cristianismo com o pensamento dos 
gregos e dos romanos, numa tentativa de convencer aos pagãos acerca das novas verdades prega- das pelo cristianismo. A 
filosofia irá girar principalmente em torno das relações entre fé e ciência, a natureza de Deus, da alma, a vida moral. A filosofia 
liga-se a defesa da religião cristã, da evangelização. 
 
 Para impor as ideias cristãs, estas foram transformadas em verdades divinas, isto é, reveladas por Deus. Assim, as verdades 
cristãs, por serem divinas, se converteram em dogmas, isto é, em ideias irrefutáveis e inquestionáveis. A partir deste momento 
surgem diferentes verdades: as verdades reveladas ou da fé e as verdades da razão ou humanas, as primeiras referem-se à 
noção de conhecimento recebido por um superior divino, as segundas referem-se ao simples conhecimento racional. Para 
Aranha e Martins, ( 1986, p.137) nesta época “Mesmo quando se pede ajuda à razão filosofante, é ainda a revelação que surge 
como critério último de verdade na produção do conhecimento”. 
 
 Durante o período medieval, do século VIII ao século XIV, os interesses da Igreja Romana dominam a Europa, nesse período 
surge propriamente a Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia, também conhecida com o nome de escolástica. Nesta época a 
filosofia cristã está interessada em provar de for- ma racional a existência do infinito criador, Deus, e da alma, isto é, o espírito 
humano imortal. 
 
 A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a diferença entre razão e fé (a primeira deve 
subordinar-se à segunda), a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), o Universo como uma hierarquia de 
seres, onde os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a 
subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis os grandes temas da Filosofia 
medieval (2000, p.54). 
 
 A ciência medieval se caracterizou pela dificuldade em incorporar a experimentação e matematização das ciências da 
natureza, o que ocorrera apenas na Idade Moderna. Após longos séculos de adormecimento da ciência e do predomínio dos 
dogmas e verdades divinas, no século XIV ao século XVI assistimos ao renascer da ciência, da cultura e da política. 
 
 Durante o Período chamado Renascimento, século XV e XVI, com as grandes descobertas marítimas, como a descoberta da 
América, a formação das monarquias nacionais, a reforma protestante, o renascimento artístico e a ideia de liberdade política, 
volta ao cenário científico e filosófico a possibilidade do homem conhecer a natureza e agir sobre ela. 
 
 Para concluir esta aula, podemos reafirmar que áreas de interesse da filosofia mudam conforme os diversos momentos 
históricos da nossa sociedade. As preocupações filosóficas da Grécia Antiga até o renascimento nos mostram a necessidade do 
ser humano compreender seu mundo e ao mesmo tempo responder as clássicas perguntas - seja no âmbito da sociedade, da 
natureza ou pensamento - porque e como. 
 
Referências: 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda ; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora 
Moderna, 1986 
CASTRO, Suzana. Introdução à filosofia. Petrópolis, RJ: VOZES, 2008. 
2.2 Idade moderna e Época Contemporânea 
 No final do mundo medieval e início do mundo moderno, encontram-se diversas características que marcam a 
contemporaneidade. Destacam-se, entre elas: a noção de indivíduo que ganha força a partir do século XIV; a formação de 
Estados laicos, que buscam a independência em relação ao poder religioso e, sobretudo, o pensamento que estabelece, já desde 
o século XIII, o revigoramento da filosofia e, portanto, da razão como necessária para reger a vida do homem e a construção da 
ordem social. Durante o século XVII a meados do século XVIII, período denominado de Idade Moderna, a filosofia passou a 
preocupar-se com novos assuntos, como as questões do conhecer. 
 
 Este período é marcado por importantes eventos como o renascimento científico - Galileu, Kepler, Newton -, o 
desenvolvimento do mercantilismo e o absolutismo. Com os pensadores como Galileu, Descartes, Bacon, Hobbes, a filosofia 
passa a ser definida de outra maneira. A filosofia vai ser vista como aquele conhecimento capaz de oferecer a fundamentação do 
conhecimento científico, cujo objetivo é dominar e controlar a natureza. 
 Neste período assistimos também ao Iluminismo (Montesquieu e Kant), ao Enciclopedismo (Voltaire, Diderot, D’Holbach, 
La Mettrie, Rosseau), ao Liberalismo, mais tarde à Revolução Industrial (máquina a vapor), Inconfidência Mineira, 
Independência dos EUA, Revolução Francesa, a conformação política e econômica de um novo sistema de produção: o 
capitalismo. 
 Iluminismo: As teorias políticas e econômicas que ganharam força na Europa Ocidental entre o final do século XVII e o início 
do século XVIII constituíram um movimento cultural denominado Iluminismo, que resgatava os ideais e os valores burgueses do 
Renascimento. Os interesses da burguesia renascentista eram diferentes dos interesses da burguesia iluminista, que 
reivindicava maior participação política, liberdade religiosa e econômica e igualdade social, chocando-se com o poder absoluto 
dos monarcas e com os privilégiosda nobreza e do clero. Esse cenário foi acompanhado pelo desenvolvimento e difusão de 
novas ideias e teorias que criticavam o absolutismo monárquico e o mercantilismo e propunham outras formas de governo e de 
organização econômica, expressando os interesses da burguesia em ascensão. Diversos filósofos iluministas dedicaram-se a 
formular teorias e propostas adequadas a reivindicações burguesas, tais como Locke, Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Diderot, 
D’Alembert. 
 Liberalismo: Doutrina econômica que nasce junto com o avanço do poder político da burguesia, sustenta a necessidade da 
livre concorrência, o livre-cambismo (ausência de impostos sobre os produtos importados) e a não interferência do Estado na 
economia. 
 Revolução industrial: Antes da Revolução Industrial o sistema produtivo era baseado no artesanato doméstico e na 
manufatura. Com a revolução industrial do século XVIII, além de envolver a criação de indústrias e máquinas na Inglaterra, 
constituiu-se um processo complexo de transformações nas relações de trabalho, nas técnicas de produção, nos meios de 
transporte, na propriedade das terras e na atividade comercial. A revolução Industrial consolidou o trabalho assalariado e com 
isto o sistema capitalista. As relações de produção se transformaram e aprofundaram-se as desigualdades sociais. Ao 
proletariado (formado por ex-camponeses desempregados pelos cercamentos e ex-artesãos empobrecidos pelo crescimento 
das manufaturas) restava vender sua força de trabalho à burguesia capitalista, proprietária das fábricas, das matérias-primas, 
das máquinas e da produção. 
 Capitalismo: sistema econômico e político baseado na propriedade privada e na exploração do trabalho assalariado pela 
burguesia. Consolida-se como sistema político após a Revolução Francesa (1789). 
 Com a Idade Moderna vive-se um momento histórico marcado pela ideia da conquista e de apoderação da natureza. A marca 
desta época é a possibilidade do homem - por meio do uso da razão e o conhecimento - dominar a natureza. A filosofia surge 
então como a justificativa teórica e racional de um conhecimento que pretende ser total e dominar a realidade. 
 Embora o método tenha sido sempre objeto de discussão dos filósofos, nunca o foi com a intensidade e prioridade concedidas 
pelos filósofos modernos. Até então a filosofia se preocupava fundamentalmente com o problema do ser, mas na Idade 
Moderna a filosofia centra-se para as questões do conhecer. Daí surge o interesse pela epistemologia. 
 Para Chauí (2000, p. 56), esse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, é marcado por três grandes 
mudanças intelectuais: 
1. Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”, isto é, a Filosofia, em lugar de começar seu 
trabalho conhecendo a Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa indagando qual é a capacidade do 
intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, a Filosofia começa 
pela reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer. 
2. A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. 
Nasce a ideia de experimentação e de tecnologia (conhecimento teórico que orienta as intervenções práticas) e o ideal 
de que o homem poderá dominar tecnicamente a Natureza e a sociedade. Predomina, assim, nesse período, a ideia de 
conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da 
invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas. 
3. Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e 
das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá-las, de sorte que a vida ética 
pode ser plenamente racional. 
 A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a ideia de que a razão é capaz de definir para cada sociedade qual o 
melhor regime político e como mantê-lo racionalmente. 
 
 O século XIX é o século do otimismo científico, filosófico social, artístico, presentes na afirmação de que a razão se 
desenvolvia plenamente para que o conhecimento completo possibilitasse o alcance dos objetivos almejados pela sociedade. Na 
ciência e na arte, esta afirmação se sustenta na confiança do aperfeiçoamento. Com o passar do tempo, na ideia do progresso 
permanente, de que o presente é melhor que o passado, e o futuro será melhor e superior, ao ser comparado ao presente. Neste 
século assistimos a momentos históricos relevantes como o Império de Napoleão, da Rainha Vitória, o Colonialismo, as 
Revoluções liberais, a Comuna de Paris, a Independência do Brasil, entre muitos outros. 
 No entanto, a Filosofia contemporânea, que compreende de meados do século XIX e chega aos nossos dias, questiona este 
otimismo racionalista. O século XIX é o século da descoberta, do ser humano como ser histórico, da História ou da historicidade 
do homem, da sociedade, das ciências e das artes. Na esfera sociopolítica se evidenciava na real possibilidade de construção de 
uma sociedade justa; a Filosofia passou a apostou nas utopias revolucionárias. 
 Para Chauí (2000, p.63), Marx, no final do século XIX, e Freud, no início do século XX, puseram em questão esse otimismo 
racionalista. Marx e Freud, cada qual em seu campo de investigação e cada qual voltado para diferentes aspectos da ação 
humana - Marx, voltado para a economia e a política; Freud, voltado para as perturbações e os sofrimentos psíquicos -, fizeram 
descobertas que, até agora, continuam impondo questões filosóficas. Que descobriram eles? Marx descobriu que temos a ilusão 
de estarmos pensando e agindo com nossa própria cabeça e por nossa própria vontade, racional e livremente, de acordo com 
nosso entendimento e nossa liberdade, porque desconhecemos um poder invisível que nos força a pensar como pensamos e agir 
como agimos. A esse poder - que é social - ele deu o nome de ideologia. 
 Freud, por sua vez, mostrou que os seres humanos têm a ilusão de que tudo quanto pensam, fazem, sentem e desejam, tudo 
quanto dizem ou calam estaria sob o controle de nossa consciência porque desconhecemos a existência de uma força invisível, 
de um poder - que é psíquico e social - que atua sobre nossa consciência sem que ela o saiba. A esse poder que domina e 
controla invisível e profundamente nossa vida consciente, ele deu o nome de inconsciente. 
 As descobertas realizadas por Marx e Freud, obrigaram a Filosofia a retomada da discussão sobre o que é e o que pode a 
razão, sobre o que é e o que pode a consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento, sobre o que são e o que podem as 
aparências e as ilusões. A Filosofia também reabriu discussões éticas e morais: O homem é realmente livre ou é inteiramente 
condicionado pela sua situação psíquica e histórica? Se for inteiramente condicionado, então a História e a cultura são 
causalidades necessárias como a Natureza? Ou seria mais correto indagar: Como os seres humanos conquistam a liberdade em 
meio a todos os condicionamentos psíquicos, históricos, econômicos, culturais em que vivem. 
 No século XX, com o surgimento da Primeira Guerra Mundial (1914 -1918), a Revolução Russa (1917), a quebra da Bolsa de 
Nova York (1929), a ascensão do fascismo na Itália (1922), de nazismo na Alemanha (1933) do stalinismo, da Segunda Guerra 
Mundial (1939 – 1945), a bomba atômica (Hiroshima e Nagasaki – 1945) as ditaduras sangrentas da América Latina, a Filosofia 
também passou a desconfiar do otimismo revolucionário e das utopias e a indagar se os seres humanos, os explorados e 
dominados serão capazes de criar e manter uma sociedade nova, justa e feliz. 
 No século XX, a Filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para 
as investigações, que os resultados podem ser duvidosose precários, e que, frequente- mente, uma ciência desconhece até onde 
pode ir e quando está entrando no campo de investigação de uma outra. 
 Os princípios, os métodos, os conceitos e os resultados de uma ciência podem estar totalmente equivocados ou desprovidos 
de fundamento. (2000, pág. 66) 
 Na Idade Contemporânea a Filosofia se interessa pela teoria do conhecimento, a ética e a epistemologia, pelo conhecimento 
das estruturas e formas de nossa consciência e também pelo seu modo de expressão, isto é, a linguagem. O interesse pela 
consciência reflexiva ou pelo sujeito do conhecimento deu surgimento a uma corrente filosófica conhecida como fenomenologia, 
iniciada pelo filósofo alemão Edmund Husserl. Já o interesse pelas formas e pelos modos de funcionamento da linguagem 
corresponde a uma corrente filosófica conhecida como filosofia analítica cujo início é atribuído ao filósofo austríaco Ludwig 
Wittgenstein. 
 No entanto, a atividade filosófica não se restringiu à teoria do conhecimento, à lógica, à epistemologia e à ética. Desde o 
início do século XX, a História da Filosofia tornou-se uma disciplina de grande prestígio e, com ela, a história das ideias e a 
história das ciências. Desde os anos 70, com a luta pela democracia em países submetidos a regimes autoritários, um grande 
interesse pela filosofia política ressurgiu e, com ele, as críticas de ideologias e uma nova discussão sobre as relações entre a 
ética e a política, além das discussões em torno da filosofia da História. Atualmente, um movimento filosófico conhecido 
como desconstrutivismo ou pós-modernismo, vem ganhando preponderância. Seu alvo principal é a crítica de todos os 
conceitos e valores que, até hoje, sustentaram a Filosofia e o pensamento dito ocidental: razão, saber, sujeito, objeto, História, 
espaço, tempo, liberdade, necessidade, acaso, natureza, homem, etc. 
 Para Chauí (2000), no século XX, os impasses da ciência, das artes, a precariedade das religiões, a ideia de uma revolução 
utópica política de libertação transtornam um mundo que parecia dominado, explicado e controlado. A filosofia se torna a busca 
da origem, causa e forma de todas essas crises no século XX. 
Referência: 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 
 
2.3 Os campos de investigação da filosofia 
Teoria do Conhecimento 
 
 Você já se perguntou se a realidade é de fato aquilo que seus sentidos (tato, visão, audição, olfato, gosto) informam que é? Os 
sentidos são os principais instrumentos de conhecimento, assim como a razão. Mas, até que ponto podemos confiar nos sentidos 
para conhecer as coisas? Quais os campos de atuação da razão? Quais seus limites? Estas perguntas são abordadas precisamente 
pela teoria do conhecimento, que surge no século XVII quando começam as preocupações sobre as fontes do conhecimento e 
as condições em que se dá o conhecimento. 
 Segundo Chauí (2000, p. 67,), a Teoria do conhecimento é o estudo das diferentes modalidades de conhecimento humano: o 
conhecimento sensorial ou sensação e percepção; a memória e a imaginação; o conhecimento intelectual; a ideia de verdade e 
falsidade; a ideia de ilusão e realidade; formas de conhecer o espaço e o tempo; formas de conhecer relações, etc. 
 De acordo com Franklin Leopoldo e Silva (SILVA, 1985), os principais problemas que a teoria do conhecimento deve 
investigar são: 
1. as fontes primeiras de todo conhecimento; 
2. os processos que fazem com que os dados se transformem em juízos ou afirmações acerca de algo; 
3. a forma adequada de descrever a atividade pensante do sujeito frente ao objeto do conhecimento; 
4. O âmbito do que pode ser conhecido segundo as regras de verdade. 
Filosofia da Ciência 
 Na Grécia Antiga a ciência estava vinculada à Filosofia, sua separação ocorre no século XVII, quando Galileu estrutura e 
introduz o método científico, baseado na experimentação e na matematização. 
 No século XIX surge o cientificismo, baseado nas ideias positivistas, o qual crítica o conhecimento mítico, religioso ou 
metafísico, por não se fundamentarem na experiência. No entanto o cientificismo positivista acaba criando o “mito da 
cientificidade”, segundo o qual o único conhecimento perfeito é o científico. Mas será que toda investigação científica é realizada 
de forma adequada, com condições e com técnicas apropriadas, quais são os verdadeiros objetivos, propósitos, fins e 
prioridades da investigação científica? 
 A filosofia da ciência é um campo de investigação da filosofia que tem por objetivo a análise crítica das ciências, tanto as 
ciências exatas ou matemáticas, quanto as naturais e as humanas, avalia os métodos e os resultados das ciências. 
 
 
Lógica 
 A teoria do conhecimento se caracteriza por uma preocupação com a busca de princípios gerais que permitam formular 
crenças verdadeiras sobre a realidade. Essa ideia está presente na obra de Platão e é, em larga medida, o que caracteriza 
também o pensamento de Aristóteles. É com Aristóteles que a filosofia ganha uma consciência mais definida acerca do método 
a ser adotado quando o assunto é o conhecimento e a formalização de regras que pudessem garantir a validade de raciocínios e 
argumentos. Foi então que nasceu a lógica, conjunto de regras formais que servem para ensinar a maneira adequada de se 
produzir argumentos, raciocínios, proposições, frases e juízos. O objeto da lógica é o estudo dos procedimentos corretos que 
devem orientar uma investigação. 
 Para Chauí (2000, p.66), a lógica é o conhecimento das formas gerais e regras gerais do pensamento correto e verdadeiro, 
independentemente dos conteúdos pensados; regras para a demonstração científica verdadeira; regras para pensamentos não 
científicos; regras sobre o modo de expor os conhecimentos; regras para a verificação da verdade ou falsidade de um 
pensamento, etc. 
Ética 
 A ética é o estudo dos fundamentos da ação humana. A ética possibilita a análise crítica para a atribuição de valores, defende 
a existência dos valores morais e do sujeito que age a partir de valores, com consciência, responsabilidade e liberdade, no 
sentido da luta contra toda e qualquer forma de violência. 
 Um dos grandes problemas enfrentados pela ética é o da relação entre o sujeito e a norma de comportamento. Essa relação é 
eminentemente tensa e conflituosa, uma vez que todo estabelecimento de uma norma implica no cerceamento da liberdade. 
 A ética entende que os valores são construídos e, portanto, não há valores e ou modelos pré-definidos, mas sim que ao agir o 
homem tem o poder de estabelecer os valores diante dos quais terá responsabilidade. Partindo de um conceito básico de ética 
como “saber-viver, ou a arte de viver” (SAVATER, 2002), pode-se dizer que os homens tudo fazem para viver e viver bem. 
 A filosofia recentemente se ocupou da reflexão sobre as relações entre as ideias e a história. O tema recebeu o nome de 
“filosofia da história” e foi cunhado pelo filósofo Voltaire. Para Chaui (CHAUÍ, 2000, p. 67), a Filosofia da História é o estudo 
sobre a dimensão temporal da existência humana como existência sociopolítica e cultural; teorias do progresso, da evolução e 
teorias da descontinuidade histórica; significado das diferenças culturais e históricas, suas razões e consequências. 
 Outras áreas de estúdio da Filosofia são: Filosofia política, Filosofia da arte, Filosofia da linguagem e História da 
Filosofia. Vejamos a conceitualização que a filósofa Chauí dá para estas áreas de estudo (CHAUÍ, p.67, 2000). 
Filosofia política: 
 “...é o estudo sobre a natureza do poder e da autoridade; ideia de direito, lei, justiça, dominação, violência; formas dos 
regimes políticos e suas fundamentações; nascimento e formas do Estado; ideias autoritárias, conservadoras, revolucionárias e 
libertárias; teorias da revolução e da reforma; análise e crítica das ideologias”. 
Filosofia da arte ou estética: 
 “... estudo das formas dearte, do trabalho artístico; ideia de obra de arte e de criação; relação entre matéria e forma nas 
artes; relação entre arte e sociedade, arte e política, arte e ética”. 
Filosofia da linguagem: 
 “... a linguagem como manifestação da humanidade do homem; signos, significações; a comunicação; passagem da linguagem 
oral à escrita, da linguagem cotidiana à filosófica, à literária, à científica; diferentes modalidades de linguagem como diferentes 
formas de expressão e de comunicação”. 
História da Filosofia: 
 “... estudo dos diferentes períodos da Filosofia; de grupos de filósofos segundo os temas e problemas que abordam; de 
relações entre o pensamento filosófico e as condições econômicas, políticas, sociais e culturais de uma sociedade”. 
 Ao longo deste livro abordaremos temas de interesse das diversas áreas de estudo da filosofia, tais quais, liberdade, arte, 
política, moral entre outra. 
 
Referências: 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 
SAVATER, F. Ética para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 
SILVA, Franklin Leopoldo. Teoria do Conhecimento, In: CHAUÍ, Marilena et al. Primeira Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1985. 
 
3.1 O capitalismo 
 O capitalismo é um modo de produção, ou seja, é a forma em que a sociedade está organizada visando à produção de bens e 
serviços objetivando sua sobrevivência. Ao longo da historia da humanidade diferentes modos de produção têm predominado, 
entre eles, a sociedade primitiva, o escravismo, o feudalismo, capitalismo, entre outros. Todos os modos de produção possuem 
características próprias, isto é, formas distintas de se organizar para produzir. Mas, quais são as características próprias do 
capitalismo? Como ele surge? 
 
 
 O capitalismo se caracteriza pela produção de bens e serviços (mercadorias) baseada na relação entre trabalhadores e 
burguesia e na propriedade privada dos meios de produção. Neste sistema, diferentemente de todos os sistemas anteriores, a 
produção é realizada por trabalhadores que não possuem nenhuma ferramenta, matéria-prima, e/ou maquinaria para produzir, 
sobrevivendo de sua própria força de trabalho, a qual é vendida a cambio de um salário. Os proprietários dos meios de 
produção são os burgueses, também chamados de capitalistas, que possuem os meios de produção necessários para a produção, 
assim como o capital (dinheiro investido na produção, objetivando a obtenção de lucro, de mais-valia). 
 Como os trabalhadores unicamente possuem sua força de trabalho, ela é vendida para o capitalista, sem a qual não poderia 
produzir, isto é, colocar a funcionar os meios de produção que ele possui. O salário é a quantidade de dinheiro que o trabalhador 
recebe para reproduzir sua força de trabalho. A força de trabalho é a energia e as habilidades que o trabalhador possui para 
produzir, para transformar a matéria-prima em mercadorias. 
 
 Mas porque os trabalhadores, diferentemente dos capitalistas, não possuem meios de produção? Por que a burguesia possui a 
propriedade privada dos meios de produção? Esta pergunta pode ser respondida a partir do conhecimento da História, 
portanto, vamos lembrar um pouco das aulas desta disciplina. 
 Na Inglaterra do século XVII, iniciam-se uma série de transformações que nos explicam o processo de perda dos meios de 
produção dos trabalhadores daquela época, isto é, dos camponeses e dos artesões, entre as que destacam: os cercamentos e 
o crescimento da manufatura. Nos cercamentos as terras do Estado, até então cultivadas coletivamente por camponeses, foram 
cercadas e apropriadas pelos nobres e burgueses. Os novos donos dessas terras utilizaram-nas para a criação de ovelhas, 
visando à geração de lucro por meio da produção de lã para as manufaturas têxteis. Os cercamentos destas terras implicou na 
expulsão violenta dos camponeses que produziam e viviam delas, o desemprego no campo e, como consequência, o 
êxodo rural. Este processo foi apoiado pela então Elizabeth I de Inglaterra. É importante mencionar que o processo de 
expulsão do campo de uma quantia importante de camponeses se repete, por diferentes meios, na história do desenvolvimento 
do capitalismo nos diversos países. No Brasil no século XIX, a Lei de Terras representa a expulsão do campo dos camponeses, a 
apropriação da suas terras por parte dos latifundiários. 
 Paralelamente aos cercamentos, surge a manufatura. No século XVII a maior parte da produção era realizada pelos artesãos. 
Os artesãos, donos das matérias-primas e das ferramentas de trabalho, realizavam todas as etapas da produção. Um tecelão, por 
exemplo, criava e tosquiava suas ovelhas, tecia e tingia a lã, confeccionava mantas e casacos. No entanto, a nascente burguesia 
veio a modificar esta realidade objetivando a obtenção de lucro, para o qual investiu seu dinheiro na produção por meio da 
manufatura. Na manufatura, os artesãos de um mesmo oficio trabalhavam para o patrão, um burguês que ficava com a maior 
parte dos lucros. Cada trabalhador exercia uma tarefa na produção, processo conhecido como divisão do trabalho, produzindo 
uma maior quantidade de mercadorias em menor tempo e preço. 
 A expulsão de uma enorme massa de camponeses do campo, resultado dos cercamentos, assim como o empobrecimento dos 
artesãos que não conseguiam competir com a nascente manufatura, provocaram grande desemprego. Dos ex-artesões 
empobrecidos e dos ex-camponeses desempregados surge o proletariado, isto é, trabalhadores que para sobreviver vendem sua 
força de trabalho à nascente burguesia, proprietária das matérias-primas, das máquinas. Graças a abundante mão de obra 
disponível nas nascentes cidades, a burguesia impôs condições de trabalho desumanas, que geraram seu enriquecimento. 
 A Revolução Industrial consolidou o sistema capitalista. Diversos fatores contribuíram para o pionerismo inglês nesse 
processo, sobretudo a acumulação de capitais ocorrida entre os séculos XVI e XVIII. 
 Naquela época, a Coroa britânica estimulava o ataque de corsários às embarcações espanholas carregadas de metais 
preciosos extraídos da América, que significavam uma importante fonte de riquezas. 
 A assinatura do Ato de Navegação em 1651 representou outro passo importante na acumulação de capitais: os navios 
estrangeiros estavam proibidos de transportar para os portos ingleses quaisquer produtos que não fossem originários de seus 
próprios países. Pelo Ato de Navegação, as embarcações inglesas passavam a monopolizar o transporte das mercadorias vindas 
de suas colônias. Com tais medidas, a Inglaterra conseguia praticamente eliminar a Holanda – sua principal concorrente – do 
comércio internacional da época. 
 A assinatura do Tratado de Methuem (também conhecido por tratado dos Panos e Vinhos) com Portugal em 1703 também 
contribui para a acumulação de capitais por parte da Inglaterra. De acordo com o tratado, os ingleses exportavam tecidos a 
Portugal, que pagava com o ouro extraído de Minas Gerais, prontamente investido na industrialização inglesa. 
 Outros fatores que geraram capitais foram a exploração colonial, a produção de manufaturados e as práticas protecionistas, 
como a cobrança de impostos alfandegários sobre produtos importados (PANAZZO; VAZ, 2009, p.73) 
 Com a Revolução Industrial consolidou-se o trabalho assalariado, surge uma nova categoria de trabalhadores: o proletariado. 
As relações de produção se transformaram e aprofundaram-se as desigualdades sociais. Segundo Panazzo e Alviero ( 2009, p. 
78), “As jornadas variavam entre catorze e dezesseis horas por dia; as instalações das fábricas, mal iluminadas e pouco 
ventiladas, ficavam praticamente ocupadas pelo maquinário. O manuseio das máquinas exigia muita atenção – qualquer 
descuido poderia resultar em graves acidentes, como mãos decepadas nos teares, membros esmagados nas prensas, rostos 
queimados nas fornalhas. Os patrões preferiam empregar mulheres e crianças porque constituíam mão de obrasmais barata do 
que a dos homens, tinham mais facilidade para se movimentar nos poucos espaços livres entre as máquinas e eram mais ágeis 
para operá-las. Nas minas de carvão, os mineiros trabalhavam por longos períodos e recebiam baixos salários, sob risco de 
soterramento, de doenças respiratórias por falta de ventilação e por causa da umidade nas galerias subterrâneas” 
 No capitalismo o processo de trabalho é caracterizado pelo consumo, por parte do capitalista, da força de trabalho, esta 
gerada pelo trabalhador assalariado. Esse processo é marcado por duas peculiaridades. Em primeiro lugar, se efetua para o 
capitalista e sob seu controle. Lembre que o capitalista possui os meios de produção e dispõe, durante o tempo de 
trabalho, livremente da força de trabalho que compra como mercadoria. Em segundo lugar, o produto criado no processo de 
trabalho não pertence a seu produtor direto, o trabalhador assalariado, pertence ao capitalista. 
 Ao comprar os meios de produção e a força de trabalho, o capitalista quer produzir mercadorias, isto é, objetos que 
tenham valor de uso, ou seja, objetos que possuam alguma utilidade para alguém, assim como valor de cambio, ou seja, algo que 
possa ser trocado, vendido e comprado na sociedade capitalista. No processo de produção de uma mercadoria o que importa 
para o capitalista é obter lucro. Mas como é criado o lucro, a mais-valia? 
 Vamos supor que um capitalista produza determinado tipo de máquina, denominada máquina X, e que numa jornada de 8 
horas – num dia - sua empresa fabrique 100 máquinas, para o qual contrata 50 trabalhadores. Para o capitalista poder produzir 
estas máquinas realizará os seguintes gastos (tabela 01) em meios de produção (cálculo por dia): 
Tabela 1 - Gastos por dia com meios de produção visando a produção de 100 máquinas X 
Prédio e instalações (desgaste por dia) R$ 500,00 
Máquinas e outros meios de trabalho (desgaste por dia) R$ 500,00 
Matérias-primas, matérias e combustível (desgaste por dia) R$ 20.000,00 
TOTAL R$ 21.000,00 
 
 
 
 Mas para poder produzir as máquinas x, precisará comprar força de trabalho, pois sem ela as máquinas não poderão 
funcionar impossibilitando, com isso, a transformação da matéria-prima. Se o salário pago por dia a um trabalhador é de R$60, e 
o capitalista precisa de 50 trabalhadores para produzir 100 máquinas X por dia, o capitalista deverá investir R$3.000,00 para o 
pagamento de salários (50 x 60). Assim, o total de gastos por dia necessários para a produção de 100 máquinas será de: 
R$24.000,00, como demonstra a tabela 2, a saber: 
 
 
Tabela 2 - Gastos totais por dia para a produção de 100 máquinas X (inclui pagamento de salários 
 
Prédio e instalações (desgaste por dia) R$ 500,00 
Máquinas e outros meios de trabalho (desgaste por dia) R$ 500,00 
Matérias-primas, matérias e combustível (desgaste por dia) R$ 20.000,00 
Pagamento de salário (por dia) R$ 3.000,00 
TOTAL R$ 24.000,00 
 
 Após verificar todos os gastos que o capitalista terá para produzir as máquinas X, devemos nos perguntar, mas de onde sai o 
lucro do capitalista? Alguns poderão falar que se todos os gastos para produzir as 100 máquinas X somam R$24.000,00, o lucro 
será resultado da venda dessas máquinas por um valor maior do que o gasto do capitalista, isto é, por um valor maior do que 
R$24.000,00. Mas será que é assim mesmo? Vejamos onde está a resposta. 
 
 Durante o processo de produção das máquinas X, os gastos com máquinas, ferramentas, matérias-primas e combustíveis 
necessários à produção são transferidos ao valor do produto que se fabrica. Nas tabelas anteriores os gastos transferidos para o 
valor das máquinas X aparecem em cor de rosa, e correspondem a R$21.000,00. Os gastos com salários também são inclusos no 
valor total das máquinas X. Notem que é exatamente no pagamento de salários para os trabalhadores que está a fonte de lucro 
do capitalista. Vejamos por que. No processo de produção os trabalhadores colocam em ação as máquinas e transformam com 
seu trabalho as matérias-primas, criando novas mercadorias, novos valores de uso e de cambio, neste caso máquinas X. Mas o 
que significa criar novos valores? Vejamos a seguinte explicação. 
 No processo de produção do trabalho cada trabalhador é o único capaz de criar um novo valor, as máquinas e as matérias-
primas não são colocadas em ação nem modificadas sem a ação da força de trabalho. No nosso exemplo, se cada trabalhador cria 
numa hora um valor equivalente a R$15, os 50 trabalhadores criarão durante as 8 horas de trabalho, um valor novo equivalente 
a R$6.000,00 (50x8x15). Assim, o valor total de 100 máquinas X produzidas num dia é o seguinte: 
 
 
Tabela 3 - Componentes do valor total de 100 máquinas X 
Prédio e instalações (desgaste por dia) R$ 500,00 
Máquinas e outros meios de trabalho (desgaste por dia) R$ 500,00 
Matérias-primas, matérias e combustível (desgaste por dia) R$ 20.000,00 
Novo valor criado por 50 trabalhadores durante 08 horas de jornada R$ 6.000,00 
TOTAL R$ 27.000,00 
 
 
Observe cuidadosamente o seguinte: 
 
 Na tabela 02 o capitalista desembolsa para o pagamento de salários de 50 trabalhadores R$3.000,00, no entanto, o valor 
criado por estes trabalhadores durante 08 de trabalho é maior, soma R$6.000,00, como observado na tabela 03. Assim, quando 
o capitalista vende a produção no mercado, neste caso as máquinas X, receberá mais do que o investido em meios de produção e 
no pagamento dos salários, neste caso recebera mais R$3.000,00, vejamos: 
R$27.000,00 – R$24.000,00 = R$3.000,00 
 Isto significa que o capitalista paga aos trabalhadores, na forma de salário, um valor menor ao valor produzido por eles 
durante a jornada de trabalho. O valor dos salários é menor, não corresponde ao valor criado pelo trabalhador durante as 08 
horas de trabalho. Vamos ilustrar esta situação, por meio da distribuição das 08 horas de jornada de trabalho de um 
trabalhador, 
04h - tempo de trabalho NECESSÁRIO = SALÁRIO 
4 horas - tempo de trabalho EXCEDENTE = MAIS-VALIA (LUCRO) 
 Por uma jornada de trabalho de 08 horas, o capitalista paga ao trabalhador em forma de salário unicamente 04 horas, assim, 
o salário é o pagamento em dinheiro do tempo de trabalho necessário da jornada de um trabalhador para comprar os bens e 
serviços indispensável a sua sobrevivência. As 04 horas restantes durante da jornada NÃO SÃO PAGAS AO TRABALHADOR, o 
valor novo criado durante estas horas é apropriado pelo capitalista, é a mais-valia por meio da qual o capitalista se enriquece à 
custa do trabalhador. O valor pago pela força de trabalho e o valor que se cria no processo do consumo desta força são 
magnitudes distintas. 
 Alguns de vocês se perguntarão, mais porque o lucro tem que vir da jornada de trabalho não paga ao trabalhador, durante a 
qual ele cria novos valores, e não de outro componente? A maioria das pessoas acredita que o lucro do capitalista é resultado 
dos investimentos que ele tem, no entanto, os valores gastos com os meios de produção não podem ser aumentados 
artificialmente de forma permanente e contínua, ou seja, o capitalista não obtém seu lucro aumentado os valores que ele gasta 
em meios de produção, pois se esta fosse a fonte de lucro, o valor aumentado por um capitalista seria perdido no momento que 
outro capitalista ao vender suas mercadorias cobrasse um valor a mais, assim, um capitalista tiraria de um enquanto outro 
tiraria do mesmo. Na verdade estes valores, como comentado nos parágrafos anteriores, somente podem ser repassados, 
transferidos com base no valor da mercadoria. O valor do prédio e as instalações, as máquinas, ferramentas, matérias-primas, 
combustível e outros meios de produção necessários à produção de mercadorias todos eles são transferidos ao valor de 
mercadoria produzida e recuperados após a venda das mesmas. 
 Assim, a riqueza do capitalista não pode vir do aumento artificial do valor da mercadoria, a riqueza unicamentepode vir de 
um novo valor criado, e a força de trabalho é a única mercadoria (mercadoria, pois ela é comprada por meio de dinheiro, neste 
caso de salário) que cria valor novo. No capitalismo nenhum empresário investiria na compra de força de trabalho e meios de 
produção se ao final do processo de produção de uma mercadoria não obtivesse mais do que investiu (não investe para obter o 
mesmo que investiu no início), isto é óbvio. O que não é óbvio, é que ele recebe mais do que investiu por que os trabalhadores 
produziram um novo valor e não foram pagos pela produção deste novo valor, foram pagos, unicamente pelo tempo de trabalho 
necessário para se reproduzir como força de trabalho, para existir como ser humano, e não pela produção de novos valores 
produzidos ao longo de 08 horas de trabalho. Nisto consiste a exploração da força de trabalho. 
 Assim, no exemplo citado anteriormente os trabalhadores recebem no salário o valor equivalente a 04 horas, mas 
trabalharam ao longo de toda uma jornada de trabalho que durou 8 horas. Quando o capitalista compra a mercadoria força de 
trabalho, o capitalista adquire o “direito” de utilizar seu valor de uso (capacidade de criar valores novos) durante toda a jornada 
de trabalho e obriga aos trabalha- dores a trabalhar 08 horas, e não 04 horas. Se o capitalista paga pelas 08 horas, não teria 
como se apropriar da mais-valia, popularmente conhecida como lucro, gerada pelo trabalhador. Este processo pode ser 
resumido da seguinte forma: 
 
 O capitalista obtém mais-valia quando investe seu dinheiro (D) na compra de dois tipos de mercadoria (M): força de trabalho 
e meios de produção. A força de trabalho cria novos valores, mercadorias que ao serem vendidas geram mais dinheiro (D’) do 
que o valor inicialmente investido pelo capitalista. 
D - M - D’ 
Veja o diagrama a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Diagrama de movimentação do dinheiro 
Fonte: Banco de imagens DI 
 Podemos definir o capitalismo como o modo de produção baseado na exploração de força de trabalho, com vistas à obtenção 
de mais-valia. Na sociedade atual, na medida em que o trabalhador ganha menos (menos salário), o capitalista ganha mais, se 
apropria de mais mais-valia. É por isso que os trabalhadores e a burguesia possuem interesses de classe antagônicos, ou seja, 
opostos, pois o aumento do lucro do burguês é a perda de uma quantia de salário por parte do trabalhador. A obtenção de mais-
valia é o objetivo único e fundamental da produção capitalista. O lucro está acima da vida. 
 Objetivando a manutenção dos interesses da classe dominante, a burguesia possui duas ferramentas fundamentais: a 
ideologia e o Estado, a serem abordados nas próximas aulas. 
 
Referência: 
PANAZZO, Sílvia; VAZ, Maria Luiza. Navegando pela historia. São Paulo: Quinteto Editorial, 2009. 
 
3.2 Ideologia 
 “Nós vos pedimos com insistência: Nunca digam – Isso é natural! 
Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão, Em que corre o sangue, 
Em que o arbitrário tem força de lei, 
Em que a humanidade se desumaniza ... Não digam nunca: Isso é natural! 
A fim de que nada passe por ser imutável!” 
(Bertolt Brecht) 
Vamos realizar o seguinte questionamento: 
 Na sociedade se reproduz a ideia de que o Estado, por meio do governo, é uma instituição que deve cuidar da mesma forma 
dos interesses de todas as pessoas. Mas se é assim, porque é natural que a grande maioria da população viva em condições de 
pobreza e uma minoria na opulência, isto é na riqueza? Na sociedade circulam como verdadeiros ideais ou explicações que ao 
serem comparadas com a realidade se mostram incoerentes. Qual é a causa da divulgação destas ideias? Quais os objetivos? 
Para dar resposta a estas perguntas é necessário entender o que é ideologia. 
 Segundo Aranha e Martins (MARTINS, 1993 p. 69), “há vários sentidos para a palavra ideologia. Em sentido amplo, é o 
conjunto de ideias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão”. 
Mas, que ideias são estas? 
Vamos exemplificar algumas opiniões ou pensamentos comuns na nossa sociedade, 
 As pessoas são pobres devido a sua natureza: são preguiçosas, incompetentes, não se esforçam e não possuem talento. 
 Um bom empregado é aquele que não discute salário e aceita trabalhar além do horário. 
 A educação é um direito de todos. 
 O que você pensa em relação às opiniões acima citadas? São verdadeiras ou falsas? O que seus companheiros pensam em 
relação a cada uma destas ideias? A seguir faremos uma breve reflexão em relação à frase “Um bom empregado é aquele que 
não discute salário e aceita trabalhar além do horário”. 
 Primeiro, vamos trazer o conceito de ideologia para entender porque na sociedade circulam como verdadeiros ideais ou 
explicações que, ao serem comparadas com a realidade, se mostram falsas. A ideologia é um fenômeno moderno, que vem a 
substituir o papel que antes tinham alguns mitos e teologias. A função principal da ideologia é ocultar os distintos interesses 
existentes na sociedade, por exemplo, entre os trabalhadores e os donos das empresas ou fábricas. Mas, por que é importante 
ocultar os diferentes interesses de classes? 
 Não existe nenhuma pessoa que monte uma empresa sem ter como objetivo o lucro. Como visto anteriormente, para obter 
lucro é necessário explorar a força de trabalho, ou seja, se apropriar de uma parte da riqueza gerada pelo trabalhador, por meio 
do pagamento de salário, que corresponde unicamente ao valor necessário para reproduzir sua força de trabalho e não ao valor 
criado pelo trabalhador na produção de mercadorias. 
Façamos a seguinte pergunta: 
 Será que a exploração dos trabalhadores continuaria a ser exercida de forma pacífica se soubessem que o enriquecimento dos 
proprietários privados dos meios de produção (donos, patrões) é produto da exploração de seu trabalho? Sem dúvida nenhuma 
esta situação seria aceita. Mas, na medida em que a exploração não é compreendida e é dissimulada, na medida em que as 
desigualdades sociais são postas como naturais, os trabalhadores deixam de questionar e lutar pelos seus interesses por 
condições de vida melhores. 
 Na sociedade dividida em classes sociais, em que cada classe tem interesses diferentes e antagônicos, a ideologia permita 
a unificação e a identificação social, a “paz” que permite a continuidade de situações favoráveis a uma classe social. No exemplo 
acima mencionado a ideologia permite a continuidade da exploração. Segundo Aranha e Martins (ARANHA, e MARTINS, 1986 
p.80) a ideologia é apresentada como tendo fundamentalmente as seguintes características: 
 constitui um corpo sistemático de representações que nos "ensinam" a pensar e de normas que nos "ensinam" a agir; 
 tem como função assegurar determinada relação dos homens entre si e com suas condições de existência, adaptando os 
indivíduos às tarefas prefixadas pela sociedade; 
 para tanto, as diferenças de classe e os conflitos sociais são camufla- dos, ora com a descrição da "sociedade una e 
harmônica", ora com a justificação das diferenças existentes; 
 com isso é assegurada a coesão dos homens e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e pouco 
recompensadoras, em nome da "vontade de Deus" ou do "dever moral" ou simplesmente como decorrente da "ordem 
natural das coisas"; em última instância, tem a função de manter a dominação de uma classe sobre outra. 
 Para esta autora, a ideologia se caracteriza pela naturalização das situações que na verdade são produtos da ação humana. 
Não é natural, por exemplo, que uns ordenem e outros obedeçam, independentemente de ser ou não favorável à situação de 
quem obedece. 
 Outra característica da ideologia é a universalização dos valores da classe dominante, 
por meio da qual os valores da classe dominante passam a ser também os valores da classe dominada. A ideologia oculta a 
maneira pela qual a realidade social foi produzida, mostrando-acomo natural e justa. Para os filósofos marxistas a filosofia 
cumpre um importante papel como crítica da ideologia, mostrando, revelando, entre outras processos, as formas de dominação. 
Segundo Chauí (2000, p.539), 
 “Marx afirma que a consciência humana é sempre social e histórica, isto é, determinada pelas condições concretas de nossa 
existência. Isso não significa, porém, que nossas ideias representem a realidade tal como esta é em si mesma. Se assim fosse, 
seria incompreensível que os seres humanos, conhecendo as causas da exploração, da dominação, da miséria e da injustiça 
nada fizessem contra elas. Nossas ideias, histo- ricamente determinadas, têm a peculiaridade de nascer a partir de nossa 
experiência social direta. A marca da experiência social é oferecer-se como uma explicação da aparência das coisas como se esta 
fosse a essência das próprias coisas. Não só isso. As aparências – ou o aparecer social à consciência – são aparências justamente 
porque nos oferecem o mundo de cabeça para baixo: o que é causa parece ser efeito, o que é efeito parece ser causa. Isso não se 
dá apenas no plano da consciência individual, mas sobretudo no da consciência social, isto é, no conjunto de ideias e explicações 
que uma sociedade oferece sobre si mesma. 
 A inversão entre causa e efeito, princípio e consequência, condição e condicionado leva à produção de imagens e ideias que 
pretendem representar a realidade. As imagens formam um imaginário social invertido – um conjunto de representações sobre 
os seres humanos e suas relações, sobre as coisas, sobre o bem e o mal, o justo e o injusto, os bons e os maus costumes, etc. 
Tomadas como ideias, essas imagens ou esse imaginário social constituem a ideologia”. 
 Assim, na sociedade como a nossa - divididas em classes sociais, a ideologia é um instrumento de dominação, que é mantido 
por um conjunto de procedimentos institucionais, jurídicos, políticos, policiais, pedagógicos, morais, psicológicos, culturais, 
religiosos, artísticos, usados para manter a dominação. 
A mídia controla a forma de pensar da sociedade? 
 No início da década de 1970, um pequeno e divertido livrinho publicado no Chile, de inspiração marxista, caiu como uma 
bomba no mundo dos quadrinhos infantis. “Para Ler o Pato Donald”, de Ariel Dofman e Armand Matterlart, foi escrito num 
período em que o governo de Salvdor Allende se debatia para sobreviver a pressões do imperialismo norte-americano. 
 A ideia de Dorfam e Mattelart era justamente denunciar a ideologia imperialista que dominava as aparentemente inocentes 
histórias infantis de Disney. Para os autores, as histórias em quadrinhos de Tio Patinhas e companhia preparavam as crianças 
do terceiro mundo para serem subservientes aos países de primeiro mundo, em especial aos EUA (2011 pág. 32). 
 A ideologia penetra em setores inimagináveis, como por exemplo, na educação familiar e escolar, nas prisões, nas indústrias, 
e em outros de forma claro, como é o caso dos meios de comunicação de massas. Na atualidade os meios de comunicação 
possuem um importante papel na difusão da ideologia dominante por meio da divulgação de supostas “verdades”, manipulando 
a forma de pensar da grande maioria da população. O manipulador, isto é, a classe dominante, trata o manipulado, identificado 
como a população em geral e em particular os trabalhadores, como se fosse uma coisa: amolda as suas crenças, formas de 
pensar, e seus comportamentos, sem contar com o seu consentimento ou sua vontade consciente. 
 A mídia cria, institui e controla a forma de pensar da sociedade, formando assim, nas palavras John Kenneth Galbraith, certas 
“sabedorias convencionais”, entendidas como convenientes, que acabam se tornando uma “verdade”. Normalmente a mídia cria 
essas sabedorias convencionais. O manipulado, por sua vez, ignora ser objeto de manipulação: acredita que adota o 
comportamento que ele mesmo escolher, quando, na realidade, a sua escolha é guiada, de modo oculto, pelo manipulador. Na 
figura 1 uma charge do Montoro, ele faz uma crítica forte quanto aos conceitos de beleza. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Padrão de belo 
Fonte: Acervo 
Segundo Aranha e Martins (1986, p. 99): 
 “A propaganda ideológica, isto é, a que vende ideias e não produtos, é feita de modo muito mais sutil e, por isso, é muito mais 
perigosa. Raramente é identificada como propaganda. "As mensagens apresentam uma versão da realidade a partir da qual se 
propõe a necessidade de manter a sociedade nas condições em que se encontra ou transformá-la em sua estrutura econômica, 
regime político ou sistema cultural." As informações aparecem como se a realidade fosse assim mesmo e houvesse absoluta 
neutralidade na sua apresentação. Isso se dá tanto em obras de ficção como em noticiários, entrevistas e documentários. O que 
na maioria das vezes não percebemos é que há sempre uma seleção prévia de aspectos da realidade que vão ser apresentados e 
uma interpretação dessa realidade a partir de um ponto de vista que serve a determinados interesses. As informações, assim, 
são fragmentadas, re- tiradas do seu contexto histórico e social. Vejamos, por exemplo, como foi apresentada a greve dos 
professores de 1979. Mostraram-se escolas fechadas, passeatas de professores, crianças soltas na rua, sem aula, mães sem saber 
com quem deixar os filhos para irem trabalhar. Foram apresentados todos os aspectos negativos, para a população, da greve dos 
professores. 
 Omitiram-se do noticiário, entretanto, dados fundamentais que os levaram à greve: o cálculo do salário sobre 240 horas-aula 
mensais, sem considerar o trabalho, não remunerado, de preparação de aula e correção de exercícios e provas; o desgaste 
humano e afetivo de se lidar com quarenta ou cinquenta crianças e jovens durante oito horas por dia; a política de 
desvalorização da educação, que recebe verbas cada vez menores; as condições de vida de um professor que, mesmo dando oito 
horas-aula por dia, recebe um salário ainda indigno: a questão das férias de três meses que, ocupadas, em parte, com provas 
finais, conselhos de classe, preenchimento de diários, reuniões de planejamento e trabalhos burocráticos, acabam reduzidas a 
trinta dias. Tudo isso foi omitido, mostrando-se somente o prejuízo imediato das crianças sem aula e divulgando-se a figura do 
professor como "mercenário da educação", que se nega a cumprir a "missão" de educar as crianças para um Brasil melhor. 
 
 A propaganda ideológica elabora as ideias de forma a adaptá-las às condições de entendimento de seus receptores, criando a 
impressão de que atendem a seus interesses. As técnicas usadas são a universalização dos interesses de um pequeno grupo; a 
transferência dos benefícios diretamente para os receptores; a ocultação dos efeitos da exploração; a política de Poliana 
(lembrar os mais desgraçados e dar graças a Deus pelo pouco que tem); e achar o bode expiatório em fatores externos, 
incontroláveis, como crises internacionais, FMI, corrupção de grupos estrangeiros, fatos e pessoas do passado etc. 
 Assim, esse tipo de propaganda difunde apenas o essencial do conteúdo de uma ideologia, selecionando algumas ideias 
fundamentais e transformando-as em poucas fórmulas resumidas e simples, isto é, em palavras de ordem e slogan. 
 Para que o controle ideológico sobre a população seja mantido, é necessário criar alguns mecanismos que impeçam o 
indivíduo de observar com olhos críticos o meio em que vive (o que o levaria à consciência de suas reais condições de vida) e de 
ter informações diferentes das veiculadas pela ideologia dominante. Essa é a função da censura oficial ...” 
 Podemos concluir que a sociedade é condicionada, por meio da ideologia, sobre o quê pensar, antes e durante a formulação 
de opiniões. A filosofia tem por objetivo a crítica da ideologia, revelando o que esta por trás das “sabedorias convencionais” e as 
supostas “verdades”. Assim, é necessário que estejamos

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