Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA Físico-Química Experimental Cinética da reação-relógio iodeto/iodo tiossulfato I) Objetivos Determinação da lei de velocidade e energia de ativação de uma reação química. II) Introdução O modo como a velocidade de uma reação homogênea (que ocorre numa única fase) e as concentrações de seus reagentes estão relacionadas pode ser expresso sob forma de uma equação, também conhecida como Lei de Velocidade, onde a velocidade da reação é proporcional ao produto das concentrações dos reagentes, estando cada concentração elevada a um expoente (n1 e n2, na equação 2), conhecido como ordem parcial da reação com respeito àquele reagente, o qual deve ser determinado experimentalmente, não tendo relação (exceto no caso de reações elementares), com a estequiometria da reação (n1 e n2 da eq. 2 não são iguais a a e b da eq. 1!). Para uma reação química genérica, descrita pela equação química abaixo: aA + bB → Produtos (1) a Lei de Velocidade pode ser expressa como segue: 21 nn ]B[]A[kv = (2) onde k é uma constante de proporcionalidade denominada Constante de Velocidade da Reação. Esta constante é independente das concentrações dos reagentes, apresentando, no entanto, dependência com respeito a variáveis intensivas, como a temperatura e a pressão. No caso de reações entre espécies iônicas, k apresentará dependência com respeito à força iônica do meio. Reações cujos reagentes possam sofrer protonação/desprotonação, apresentam constantes de velocidade dependentes também do pH do meio. A ordem global da reação é dada pelo somatório das ordens parciais com respeito a cada um dos reagentes. No caso da reação representada pela equação 1, a ordem global n é dada por 21 nnn += (3) A determinação da Lei de Velocidade de uma reação, isto é, de k e das ordens parciais com respeito a cada um dos reagentes, pode ser feita por vários http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA métodos, como o Método do Ajuste Linear de Equações Integradas, com soluções para alguns tipos comuns de reação sumarizados na Tabela I, e o Método das Velocidades Iniciais. Tabela I. Equações Integradas de Velocidade Os resultados apresentados na Tabela I mostram que as equações integradas de velocidade e, consequentemente, o tratamento dos dados cinéticos, tornam-se cada vez mais complexo à medida em que a ordem da reação aumenta. No entanto, se as condições da reação forem acertadas, de forma que as concentrações de todos os reagentes, exceto a de um deles (o do componente A, por exemplo) permaneçam praticamente invariantes no tempo, o que pode ser conseguido se as concentrações destes reagentes estiverem em franco excesso com relação à concentração de A, as concentrações constantes podem ser incluídas, juntamente com a constante de velocidade de reação, em uma única constante, conhecida como constante de velocidade de pseudo ordem (k´), dada pelo produto da constante de velocidade k e das concentrações inicias dos reagentes, elevadas às suas respectivas ordens. No caso da reação representada pela equação 1, 22 n o n ]B[k]B[k´k = (4) http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA onde k´ é a Constante de Pseudo Ordem da Reação e [B]o é a concentração inicial do reagente B, colocado em franco excesso em relação ao reagente A. Se a reação representada pela equação 1 for, por exemplo, de 2ª ordem global e de 1ª ordem com respeito tanto a A quanto a B, k´ será denominada constante de pseudo 1ª ordem. Desta forma, através da análise dos dados experimentais (decaimento de A com o tempo, por exemplo) para uma cinética de 1ª ordem, representando-os segundo a equação integrada abaixo, t´k]Aln[]Aln[ o −= (5) é possível obter a pseudo constante (também chamada constante aparente) k´ e, por intermédio de [B]o, a constante cinética k. Este método, conhecido como Método do Ajuste Linear de Equações Integradas, é tão mais vantajoso quanto mais complexa for a cinética da reação e quanto mais simplificada ela pode ficar pela aplicação do método. Por exemplo, é possível analisar uma reação descrita por uma Lei de Velocidade complexa, de ordem global fracionária, do tipo ]B[kk ]B[]A[k v 32 2/32 1 + = (6) mantendo o reagente B em excesso com respeito a A, o que transforma a reação complexa da equação numa reação de pseudo 2ª ordem 2]A´[kv = com ]B[kk ]B[k ´k 32 2/3 1 + = (7) Outro método bastante útil e facilmente empregado para determinar a constante de velocidade e as ordens parciais de reações com mais de dois reagentes é o Método das Velocidades Iniciais. A velocidade é medida durante os primeiros instantes da reação e, como nestes primeiros instantes as concentrações dos reagentes praticamente não sofreram alterações, podem ser substituídas pelas concentrações iniciais. Uma lei cinética genérica, do tipo 321 nnn ]C[]B[]A[kv = (8) pode ser descrita em termos das velocidades iniciais, vo: 321 n o n o n oo ]C[]B[]A[kv = (9) Por exemplo, mantendo constantes as concentrações de B e C e realizando experimentos onde apenas a concentração de A é variada, é possível determinar as velocidades iniciais de reação para diferentes concentrações iniciais de A e, http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA fazendo um gráfico de vo em função de [A]o, é possível determinar k´= kobs e a ordem parcial n1 com respeito a A, já que 1n oo ]A[́kv = onde 32 n o n o ]C[]B[k´k = (10) e que, portanto, o1o ]Aln[n´klnvln += (11) As ordens parciais com respeito a B (n2) e C (n3) podem ser obtidas da mesma forma como se obteve a ordem com respeito a A. Conhecendo-se n2 e n3 pode-se calcular a constante de velocidade k, já que [B]o e [C]o são conhecidas. Efeito da Temperatura na Constante de Velocidade A equação de Arrhenius é uma equação empírica que mostra como a velocidade de muitas reações químicas varia com a temperatura. RT Ea Aek − = (11) Na equação de Arrhenius, k é a constante de velocidade, A é o fator pré- exponencial, relacionado à probabilidade de uma colisão favorável, Ea é a energia de ativação, R é a constante dos gases (8,314 J/K.mol) e T, a temperatura em Kelvin. Os fatores A e Ea são praticamente independentes da temperatura. A equação de Arrhenius linearizada tem a seguinte forma: T 1 R Ea Alnkln −= (12) Caso não se conheça k de uma reação, mas k´ para esta reação seja conhecido (veja eqs. 10 e 11) à diversas temperaturas, pode-se determinar Ea a partir de um gráfico de ln k´ versus 1/T. T 1 R Ea tetancons´kln −= (13) A constante da equação 13 depende das concentrações iniciais dos reagentes, das respectivas ordens com respeito aos mesmos e do fator pré-exponencial A, e a inclinação igual a -Ea/R. III. Parte Experimental http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA A) Materiais Materiais: Cronômetro, banho de aquecimento (um para cada temperatura), erlenmeyer 250 mL (um para cada ensaio), béquer 50 ou 80 ml, provetas, termômetro, medidor de pH, soluções de 0,050 M KI, 0,050 M de Na2S2O3, tampão (pH 4.7), solução de 0,30 M de ácido acético, solução de 0,30 M de HCl, solução de 0,30 M de NaOH, 0,80 M de H2O2 e soluçãode amido. Procedimento experimental: OBS: Neste experimento cada dupla será responsável por fazer o experimento em uma determinada temperatura, gerando dados que serão analisados em conjunto. 1. Cada dupla deve, para a temperatura de trabalho que escolheu (i.e., cada dupla escolhe uma temperatura de trabalho) (35, 50 ou 65º C), preparar 6 erlenmeyers, numerando-os de 1 a 6 e adicionando os reagentes especificados na tabela 1. 2. Determine o pH das soluções de cada um dos frascos e registre na tabela de resultados. Lembre-se de lavar o eletrodo entre uma medida e outra para evitar contaminações. 3. Os frascos devem ser colocados no banho por 15 min ou até a temperatura entrar em equilíbrio, o que será monitorado pelo termômetro. Certifique-se de que a temperatura entre os frascos se encontra no intervalo de ±0.5º C e as registre na tabela de resultados. 4. Coloque a quantidade indicada de peróxido de hidrogênio medido, utilizando uma proveta exclusiva para medir, podendo colocar com um béquer separado. De uma só vez, adicione esta solução ao frasco reacional correspondente, acionando o cronômetro imediatamente. 5. Registre o tempo necessário, em segundos, para a mudança de coloração e anote na tabela de resultados. Considere como término do tempo de reação o aparecimento de uma coloração escura. 6. Repita os passos 5 e 6 para cada frasco reacional. Faça a medida de um frasco de cada vez, já que as reações são rápidas e é necessário atenção para não perder o tempo final de reação. http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA Tabela1: Volumes iniciais dos reagentes. *ADICIONE H2O2 SOMENTE QUANDO FOR MEDIR O TEMPO DE REAÇÃO. Análise dos dados: 1. Utilize uma planilha para realizar todos os cálculos de forma dinâmica. Essa planilha será necessária para estimar as incertezas e analisar as etapas críticas do experimento. 2. Calcule a concentração de todos os reagentes imediatamente após a adição da solução de peróxido de hidrogênio (volume final de 200 mL). Obtenha a concentração de H+ a partir do valor de pH registrado. 3. Obtenha a velocidade da reação dada por: t OS v = − ][ 2 1 2 32 (eq. 1) Exp volume de H2O (mL) volume de KI 0.050M (mL) volume de Na2S2O3 0.050M (mL) volume de amido (mL) volume de tampão pH 4.7 (mL) volume de ácido ou base (mL) *volume de H2O2 0,80M adicionado ao béquer (mL) 1 125 25,0 5,0 5,0 30,0 0 10,0 2 100 50,0 5,0 5,0 30,0 0 10,0 3 115 25,0 5,0 5,0 30,0 0 20,0 4 100 25,0 5,0 5,0 30,0 25 HOAc 10,0 5 100 25,0 5,0 5,0 30,0 25 HCl 10,0 6 100 25,0 5,0 5,0 30,0 25 NaOH 10,0 http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA 4. Determine a ordem da reação global e em relação a cada um dos reagentes, baseando-se nas mudanças de concentração entre ensaios, considerando a lei cinética da reação como . Para tanto considere que: 2 1 2 1 log log A A v v X = (eq. 2) e da mesma forma para Y, [B] e Z, [C], onde os índices 1 e 2 representam dois ensaios distintos. Os valores devem ser calculados com três algarismos significativos e somente depois arredondados para o valor inteiro mais próximo. 5. Utilizando os valores de velocidade, concentração e ordem de reação obtidos, calcule o valor da constante de velocidade k para todos os ensaios e obtenha a média dos valores para cada temperatura. Se possível faça os cálculos no próprio laboratório, já que essa etapa pode indicar se houve erros nas determinações. 6. De posse dos valores médios de k obtidos para cada temperatura, obtidos pelas demais duplas, faça um gráfico de lnk por 1/T e obtenha o valor de energia de ativação (Ea) e do fator pré-exponencial de Arrhenius (A) para a reação estudada. Orientação para o relatório: 1. Apresente os resultados obtidos por todas as duplas em uma única tabela, contendo, para cada um dos ensaios, todas as informações da tabela 1, o pH, temperatura e tempos de reação medidos, assim como as concentrações, velocidades e constantes de velocidade calculadas. 2. Apresente o gráfico de ln k por 1/T e os parâmetros Ea e A. Compare o valor de Ea com a energia térmica disponível. O que representa o fator A obtido? http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA 3. Escreva todas as equações químicas envolvidas no experimento. 4. Comparando a lei cinética obtida com a equação química, o que podemos afirmar sobre o mecanismo da reação ? 5. Mostre como obter as equações 1 e 2 apresentadas nos itens. Dica para a eq.(2): considere constantes a concentração de dois reagentes e tome logaritmos dos dois lados na expressão da velocidade em função da constante de velocidade e das concentrações elevadas às ordens de reação. 6. Qual é o papel do amido na reação? E quanto ao ácido? Relacione com a ordem de reação encontrada. O que o experimento que utiliza NaOH tenta ilustrar? 7. Explique por que sempre a mesma quantidade de tiossulfato de sódio foi utilizada. 8. Utilize a planilha para discutir a importância da determinação acurada do tempo nas grandezas calculadas. Por exemplo: Qual a importância de uma variação de cinco segundos nas grandezas determinadas ? Todos os ensaios seriam afetados da mesma forma, independentemente das concentrações de reagentes e da temperatura? 9. Proponha uma modificação para aprimorar o experimento. V.Bibliografia 1) Atkins, P.; de Paula, J.. “Físico-Química V. 2”, LTC 2006, p. 216-227 e 188-194. 2) http://ocw.mit.edu/courses/chemistry/5-302-introduction-to-experimental- chemistry-january-iap-2005/labs/ acessado em 11/07/2017. (experimento similar) 3) R. F. Teófilo, P. C. Braathen e M. M. M. Rubinger; “Reação Relógio Iodeto/Iodo com Material Alternativo de Baixo Custo e Fácil Aquisição”, Química Nova na escola, 16, 2002, 36-40. (trata da reação relógio, disponível em http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc16/). http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm http://ocw.mit.edu/courses/chemistry/5-302-introduction-to-experimental-chemistry-january-iap-2005/labs/ http://ocw.mit.edu/courses/chemistry/5-302-introduction-to-experimental-chemistry-january-iap-2005/labs/ UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA UNIDADE CURRICULAR FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL CURSO: BACHARELADO EM QUÍMICA 4) Roteiros de Físico-Química Experimental, Profa Dra. Márcia L.A. Temperine IQUSP, campus São Paulo. http://www.unifesp.br/servicos/sobre.htm
Compartilhar