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DESAFIOS VIVENCIADOS NO COMBATE A VIOLÊNCIA CONTRA A

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340 
DESAFIOS VIVENCIADOS NO COMBATE A VIOLÊNCIA CONTRA A 
MULHER: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CAMPO DE ESTÁGIO. 
 
Talita de Freitas Lima 206 
Maria Mayara Rufino de Souza 207 
Cynthia Studart Albuquerque208 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho trata da vivência no estágio supervisionado do Curso de Serviço Social do 
Instituto Federal do Ceará e traz reflexões acerca desse momento importante na formação do 
graduando. É no estágio supervisionado que ocorre o primeiro contato do graduando com o exercício 
profissional e é essencial para a formação dos futuros profissionais. A experiência de estágio aqui 
apresentada aconteceu no correr do ano de 2019 tendo como lócus o Centro de Referência a Mulher de 
Iguatu – CRMI, que oferta atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica, mas também, 
apresenta uma síntese do Projeto de Intervenção “Violência contra a mulher: a gente mete a colher” 
que objetivou a divulgação do equipamento e o debate sobre os desafios no enfrentamento ao 
problema da violência contra a mulher. 
 
Palavras-chave: Estágio Supervisionado; Serviço Social; Centro de Referência a Mulher. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho trata-se de um relato, a partir da vivência no campo de estágio, no Centro 
de Referência da Mulher de Iguatu - CRMI. Aborda o histórico da Política de Proteção a 
Mulher e o modo como está operacionalizada neste espaço ocupacional, dando destaque a 
características tais como: o modo de inserção do assistente social no ambiente sócio-
ocupacional, a contextualização a partir do processo histórico e posicionamentos que 
originaram a política de enfrentamento a violência contra à mulher e os retrocessos 
contemporâneos na referida política. 
Em conformidade com a Política Nacional de Estágio (PNE), o Estágio 
Supervisionado em Serviço Social é um componente curricular obrigatório que visa 
aproximar o estudante da realidade social, a fim de promover uma articulação entre teoria e 
prática. A PNE foi uma construção coletiva da categoria profissional, juntamente, com a 
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), visando garantir a 
defesa do Projeto Ético Político na formação profissional. A resolução do Conselho Federal 
 
206 Graduanda do Curso de Serviço Social do Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia do Ceará – 
IFCE, talitaafreitas87@gmail.com; 
207 Supervisora de campo, graduada em Serviço Social, especialista em Políticas Sociais e Gestão do SUAS, 
Centro de Referência a Mulher de Iguatu, mmayarars@hotmail.com; 
208 Supervisora acadêmica, graduada em Serviço Social, mestre em Sociologia e doutora em Serviço Social, 
Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia do Ceará – IFCE, cynthiastudart@yahoo.com.br. 
 
 
341 
de Serviço Social Nº 533 de 2008, regulamenta a supervisão direta de estágio em Serviço 
Social, a fim de evitar descumprimento nas normas de estágios e nas diretrizes curriculares. 
Perante esse gigantesco espaço de conhecimento que o discente tem maior 
aproximação com exercício profissional e com a realidade social, por meio da execução das 
políticas sociais em resposta às expressões da “questão social209”, que chegam aos 
equipamentos sociais. O estágio é o momento aonde devem ser realizadas reflexões críticas, 
fazendo-se indispensável compreender as particularidades das demandas locais, 
circunstanciadas pelas determinações estruturais do modo de produção capitalista. 
De acordo com a ABEPSS (2010, p. 12) no curso de Serviço Social, o estágio 
supervisionado precisa “ocorrer em consonância como os princípios ético-políticos, 
explicitados no Código de Ética dos assistentes sociais de 1993, que se constituem como os 
valores norteadores do projeto profissional do Serviço Social brasileiro” 
 
O estágio curricular obrigatório do IFCE é organizado em duas disciplinas 
obrigatórias: Estágio Supervisionado I e Estágio Supervisionado II, realizados no 6º 
e 7º período do curso de Serviço Social, com carga horária dividida de forma 
equitativa em dois semestres, seguindo as recomendações das Diretrizes 
Curriculares. Ressalta-se que para garantir a processualidade e a qualidade do 
aprendizado, os dois estágios devem ser realizados preferencialmente no mesmo 
Campo de Estágio. (SERVIÇO SOCIAL, 2015, p. 4) 
 
Os dados aqui contidos são resultados da observação e atuação tanto da assistente 
social, quanto da autora, na condição de estagiária do Centro de Referência da Mulher de 
Iguatu – CRMI. Este serviço é um espaço de acolhimento e atendimento psicológico, social e 
jurídico que proporciona o amparo necessário à superação da violência sofrida. É um 
equipamento vinculado à Política de Assistência Social, fundamental nas estruturas do 
programa de enfrentamento a violência contra à mulher, pois promove a ruptura da situação 
de violência por meio de ações e atendimentos interdisciplinares. 
Segundo o Manual de Estágio do IFCE, “o processo ensino-aprendizagem será 
desenvolvido por meio da supervisão sistemática, pelo supervisor acadêmico (professor do 
curso de Serviço Social do IFCE) e pelo supervisor de campo (Assistente Social responsável 
pela supervisão na instituição/ campo de estágio), através de atividades conjuntas com os 
estudantes”. 
 
209 Segundo Iamamoto e Carvalho (1995, apud MACHADO, 1999, p. 42), “A questão social não é senão as 
expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político 
da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a 
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir 
outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”. 
 
 
342 
O estágio em Serviço Social acontece em duas etapas, o Estágio Supervisionado I e o 
II. Cada disciplina possui 80h de atividades acadêmicas e 225h de atividades nos campos de 
estágio, em cada semestre, totalizando 450h estágio curricular obrigatório supervisionado. No 
Estágio Supervisionado I, o estagiário deve observar e acompanhar as atividades 
desenvolvidas pela supervisora de campo na realização das suas atividades; colaborar na 
revisão e na construção dos relatórios e acompanhamento domiciliar; analisar como se dão as 
relações sociais no campo de estágio, observar quais as violências e negligências sofridas 
pelas usuárias e as possíveis respostas às demandas destas, a partir da perspectiva da garantia 
de direitos. No Estágio supervisionado II aprofunda-se a problematização, sistematização e 
socialização das experiências. 
Desse modo, no estágio supervisionado, o espaço privilegiado do “ensino da prática”, 
ocorre a articulação entre as três dimensões ético-política, técnico-operativa e teórico-
metodológica da profissão. Além disso, possibilita a materialização a unidade teoria e prática 
e das dimensões investigativa e interventiva da profissão. Com base na análise institucional 
realizada no semestre anterior, elabora-se e executa-se o projeto de intervenção profissional, a 
partir da realidade do campo de estágio. Nesse sentido, o estágio é o primeiro espaço de 
exercício da práxis profissional. 
 
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA MULHER DE 
IGUATU: avanços e retrocessos no enfrentamento à violência de gênero 
 
A política de proteção à mulher em situação de violência se deu com base na 
percepção de como havia a necessidade de se garantir segurança, proteção e direitos a um 
público historicamente vítimadp pelas violências de gênero. No ano de 1979, ocorre a 
Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, 
conhecida como CEDAW (da sigla em inglês) ou Convenção da Mulher. Este foi um tratado 
internacional que buscou garantir os direitos do gênero feminino, através de dois objetivos 
ordenados: a primeira, refere-se à promoção da igualdade de gênero e a segunda, coibirqualquer tipo de discriminação contra as mulheres. Alguns países aderem à referida 
convenção, dentre eles o Brasil, em 1984 por meio do decreto N° 89.460: “Promulga a 
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, 
1979.”. 
No dia 9 de junho de 1994, acontece no estado do Pará, a Convenção Interamericana 
para prevenir e erradicar a violência contra a mulher, que ficou conhecida pela “convenção de 
 
 
343 
Belém do Pará”. O decreto passa a vigorar no Brasil no ano de 1996, e traz o entendimento da 
violência como qualquer ato que ocorra por motivo de gênero, que cause algum tipo de 
sofrimento contra à mulher. 
Em 15 de dezembro de 2005, estabeleceu-se mais uma conquista para o público de 
mulheres que sofrem de violência: a criação da Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, 
através do decreto nº 7.393. O 180 é um contato telefônico gratuito, instituído pela Secretaria 
de Políticas Públicas para as Mulheres (SPM) na gestão do presidente Lula da Silva. O 
contato telefônico permite que mulheres que foram violentadas recebam orientações ou façam 
denúncias sobre as violências de gênero sofridas, em suas múltiplas manifestações. 
A Lei Maria da Penha, nº 11.340, promulgada pelo mesmo presidente em 07 de agosto 
de 2006, é reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), e considerada uma das 
melhores legislações criadas para o enfrentamento das violações praticadas contra à mulher. 
Essa lei, 
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos 
termos do § 8° do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de 
Execução Penal; e dá outras providências. (BRASIL, 2016) 
 
O fortalecimento e a articulação dos serviços voltados ao atendimento das mulheres e 
enfrentamento do fenômeno da violência tem importância fundamental para a concretização 
da Política de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres 
 
Com a criação da Secretaria de Políticas para Mulheres em 2003, as ações para o 
enfrentamento à violência contra as mulheres passam a ter um maior investimento e 
a política é ampliada no sentido de promover a criação de novos serviços (como o 
Centro de Referência de Atendimento às Mulheres, as Defensorias da Mulher, os 45 
serviços de Responsabilização e Educação do Agressor, as Promotorias 
Especializadas) e de propor a construção de Rede de Atendimento às Mulheres em 
situação de violência (SPM, 2015 apud BASTOS, 2019, p. 43-44). 
 
“A rede de atenção à mulher vítima de violência é ampla e necessita de uma 
articulação numa perspectiva intersetorial e integral entre esses serviços” (Bastos, 2019, p 58). 
Os Centros de Referências de Atendimento às Mulheres (CRAMs) estão entre esses serviços. 
Seus princípios e diretrizes para atendimento e acolhimento às mulheres em situação de 
violência doméstica e familiar estão previstos em normas técnicas210 de cada equipamento. 
 
210 Norma Técnica - Documento estabelecido por consenso e aprovado por uma instituição reconhecida que 
fornece para uso comum e repetido, regras, diretrizes ou características para produtos, processos ou métodos de 
produção conexos, cujo cumprimento não é obrigatório. Pode, também, tratar parcial ou exclusivamente de 
 
 
344 
Além disso, o Centro de Referência da Mulher é um espaço de acolhimento e atendimento 
psicológico, social e jurídico que proporciona o amparo necessário à superação da violência 
sofrida. É um equipamento vinculado à política de Assistência Social, é fundamental nas 
estruturas do programa de enfrentamento a violência contra a mulher, ao promover a ruptura 
da situação de violência por meio de ações e atendimentos interdisciplinares. 
 
Centros de Referência de Atendimento à Mulher: Os Centros de Referência são 
espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e 
encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência, que devem 
proporcionar o atendimento e o acolhimento necessários à superação de situação de 
violência, contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania 
(Norma Técnica de Padronização- Centro de Referência de Atendimento à Mulher, 
SPM: 2006). 
 
O Centro de Referência da Mulher de Iguatu - CRMI presta acolhimento em 
momentos de crise, minimizando o efeito traumático da violência; presta aconselhamento e 
acompanhamento jurídico, orientando a mulher quanto aos procedimentos no âmbito do 
sistema judiciário e no que se refere às medidas administrativas no aspecto policial; realiza 
ações socioeducativas, com atividades de prevenção, trabalhos de sensibilização e divulgação 
de dados sobre a violência, focados na desestruturação dos preconceitos que fundamentam a 
discriminação e a violência contra a mulher; oferece palestras socioeducativas, que tem como 
objetivo sensibilizar e prevenir no que diz respeito a violência contra a mulher; garante 
atendimento psicossocial com objetivo de resolver o resgate da autoestima da mulher em 
situação de violência e de sua autonomia, auxiliá-la a buscar e implantar mecanismos de 
proteção e/ou superar o impacto da violência sofrida; oferta trabalhos em grupo que 
favorecem situações de envolvimento, troca, participação, comunicação e criatividade, é 
também um espaço para reflexão sobre as relações e vínculos familiares; conta ainda, com 
brinquedoteca, onde são realizadas atividades preventivas, voltadas para o público infanto-
juvenil, pois são seres em formação e, por isso a importância de se trabalhar com eles na 
perspectiva de conscientização e quebra de paradigmas. 
O CRMI foi inaugurado em 20 de agosto de 2015. O equipamento tem a missão de 
“acolher e oferecer atendimento promovendo a ruptura da situação de violência e a construção 
da cidadania por meio de ações globais e de atendimento interdisciplinar à mulher em 
situação de violência”, seus atendimentos estão baseados nas violações que estão descritas na 
Lei Maria da Penha. 
 
terminologia, símbolos, requisitos de embalagem, marcação ou rotulagem aplicáveis a um produto, processo ou 
método de produção. As normas devem ser baseadas em resultados consolidados da ciência, tecnologia e 
experiência, visando a otimização de benefícios para a comunidade (SPM, 2006). 
 
 
345 
Na implementação, o serviço ficou vinculado à Política de Assistência Social, 
especificamente, à proteção social especial. Na Política Pública de Mulheres não 
necessariamente especifica isso, visto que os CRM podem estar vinculados às políticas de 
direitos humanos de um município ou do Estado; ou até a política de saúde. Destaca-se que o 
importante é que se atenda às mulheres que são vítimas de violência doméstica ou de qualquer 
outro tipo de violência. 
A equipe do CRMI é formada hoje por: 1 Coordenadora, 1 Auxiliar Administrativo, 3 
Orientadoras Sociais, 1 Assistente Social, 1 Psicóloga, 1Ajudante-geral e ainda, 1 motorista. 
Ressaltando que, contradizendo a Norma Técnica, a profissional de Psicologia e a de Serviço 
Social que oferecem o atendimento inicial, são as mesmas que realizam o atendimento social 
e psicológico no equipamento. Destes, apenas a psicóloga é contratada, os demais são 
efetivos. 
O trabalho do CRMI é multidisciplinar e tem como características básicas a 
especificidade das intervenções, pois os atendimentos acontecem de maneira diferente para 
cada pessoa atendida. Os profissionais do equipamento trabalham sem conflito de papéis, o 
que é essencial para que o atendimento seja de fato bem articulado. No entanto, mantém-se o 
cuidado com as diferenças e especificidades de cada profissão e serviço prestado. As 
intervenções dos profissionais,mesmo sendo de diferentes áreas, podem acontecer quase que 
concomitantemente, visto que são ações realizadas para o alcance de resultados simultâneos. 
Os profissionais de Serviço Social no que se refere ao acompanhamento intersetorial 
às mulheres vítimas de violência enfrentam diversos desafios, visto que os equipamentos onde 
se inserem - área da saúde, da segurança pública ou da assistência social - não conseguem 
realizar um atendimento de forma integral e articulada às mulheres vitimadas. 
A assistente social do CRMI atua no enfrentamento à violência doméstica e em favor 
ao empoderamento da mulher, embasada nas três dimensões da profissão de Serviço Social: a 
dimensão ético-política, a dimensão teórico-metodológica e a dimensão técnico-operativa. 
De acordo com Czapski (2014, p. 325) a dimensão ético-política tem norteado a 
profissão a exercer um papel no sentido de orientar as mulheres discutindo com estas podem 
lutar por seus direitos, se posicionando à favor da luta por políticas que venham suprir 
necessidades reais das vítimas dessa violência. Já a dimensão teórico-metodológica objetiva 
aclarar a prática profissional, à medida que dá subsídios ao profissional para a leitura da 
realidade e a criação de estratégias para o enfrentamento das demandas postas. E por fim, a 
dimensão técnico-operativa instrumentaliza o assistente social para a intervenção junto às 
demandas apresentadas. Czapski (2014, p. 325) traz ainda que o conjunto de instrumentais 
 
 
346 
usados pelos profissionais do Serviço Social é variado, “mas para escolher corretamente qual 
instrumental irá auxiliá-lo para a intervenção, o assistente social deve articular sua escolha às 
dimensões teórica e ético-política”. 
No CRMI as atividades desenvolvidas pela Assistente Social estão no conjunto de 
competências e atribuições privativas do Serviço Social regulamentadas pela Lei nº 
8.662/1993, a exemplo das visitas domiciliares e institucionais; atendimento social; 
elaboração de encaminhamentos; abertura e atualização de prontuários; construção de 
relatórios; elaboração de estudo social; parecer e plano de ação; orientação às usuárias e 
familiares sobre seus direitos sociais e atendimentos individualizados. 
Entendendo que “o estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade 
profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para 
a vida cidadã e para o trabalho” (BRASIL, 2008). Pretendeu-se, construir um projeto que 
visasse fortalecer a rede de enfrentamento à violência contra a mulher no município de Iguatu. 
Segundo Couto (2009, p. 03) “é preciso que esse projeto seja um ponto de agregação da 
população demandatária. Ao ser formulado, deve indicar como se coloca ante as demandas da 
população, como pretende atendê-las e como a população pode exercer o controle do trabalho 
a ser executado”. 
 
RELATO DA EXPERIÊNCIA “VIOLÊNCIA CONTRA À MULHER: A GENTE 
METE A COLHER” 
 
Este relato trata do Estágio Supervisionado em Serviço Social que ocorreu no Centro 
de Referência da Mulher de Iguatu no ano de 2019. O CRMI está localizado à Rua Guilhardo 
Gomes, s/n – COHAB II, e funciona de 7h:30 às 11h:30 e de 13h:30 às 17h:30, de segunda a 
sexta. 
Na primeira etapa do estágio, foi possível entender como funciona o equipamento. 
Conhecer os instrumentais usados pela Assistente Social e começar a compreender do que 
trata o Centro de Referência da Mulher. Ao começar o estágio, houve uma dificuldade inicial 
devido à supervisora de campo estar a poucos meses no equipamento, portanto, ainda 
vivenciava o processo de conhecimento da dinâmica que conduz o território e o serviço. Este, 
estava em processo de reorganização do espaço do Serviço Social dentro da instituição, assim, 
a profissional enfrentou o desafio de reorganizar e atualizar os prontuários e atender a grande 
demanda do judiciário reprimida. 
 
 
347 
Durante os atendimentos domiciliares conseguiu-se fazer a relação de forma mais 
clara daquilo que havia sido compreendido em teoria dentro da sala de aula, mas que quando 
posto em prática entende-se melhor. Através dessas experiências pode-se relacionar o 
cotidiano da Assistente Social com a teoria que fundamenta a profissão do Serviço Social. 
Tendo no Estágio Supervisionado II, o mesmo campo de atuação que no estágio I, foi 
possível perceber a necessidade de ações que viessem a fortalecer a rede de enfrentamento à 
violência contra a mulher na cidade. É nesta etapa que o estagiário junto com as supervisoras, 
de campo e a acadêmica, planeja e desenvolve o projeto de intervenção. 
Percebeu-se a necessidade de divulgação do equipamento para que houvesse a 
desmistificação acerca do funcionamento do serviço, já que uma grande parcela da população 
acredita que o CRMI atende apenas mulheres que já sofreram violência. No entanto, os 
Centros de Referência são estruturas que atuam desde a prevenção até o enfrentamento à 
violência contra a mulher, uma vez que visa promover a ruptura da situação de violência e a 
construção da cidadania por meio de ações globais e de enfrentamento interdisciplinar à 
mulher em situação de violência. 
Diante disso, observamos a necessidade de um momento de divulgação sobre o 
equipamento e sobre toda a temática que o envolve, desde os direitos da mulher até a 
abordagem da pauta da violência por questão de gênero, a dinâmica, os tipos e o impacto da 
violência contra a mulher que são elementos basilares para a desestruturação de preconceitos 
que fundamentam a discriminação e a violência contra a mulher. 
O projeto intitulado “Violencia contra a mulher: a gente mete a colher”, objetivou 
divulgar a rede de enfrentamento à violência contra a mulher no município de Iguatu através 
de ação política e a criação de uma rede social através da qual seria possível realizar a 
divulgação do CRMI e socializar as ações desenvolvidas junto aos equipamentos e serviços da 
rede. O público-alvo desta intervenção foram os profissionais que estão inseridos nos 
equipamentos da Rede de Enfrentamento já citada (CRAS, CREAS, Vigilância Social e 
Delegacia da Mulher); assim como os estudantes e demais moradores de Iguatu. 
Para a realização do evento contamos com a colaboração da equipe do campo de 
estágio, de professoras e coordenadoras do curso de Serviço Social do Instituto Federal do 
Ceará Campus Iguatu. Contamos com a parceria do Conselho Municipal dos Direitos da 
Mulher de Iguatu, da Casa dos Conselhos de Iguatu e da Secretaria de Assistência Social do 
município. 
O projeto de intervenção transformou-se em I Simpósio de Prevenção a Violência 
Contra a Mulher do município, teve como objetivo debater sobre os desafios no 
 
 
348 
enfrentamento da violência contra à mulher e expandir a discussão sobre os encaminhamentos 
e ações intersetoriais possíveis no âmbito das atuais políticas públicas brasileiras. Foi 
realizado nos períodos da manhã e da tarde do dia 28 de novembro de 2019. Estiveram 
presentes 83 pessoas pela manhã e 76 à tarde. O evento contou com palestras e mesas 
redondas envolvendo gestores, professores, acadêmicos e sociedade civil, onde se abordou 
temáticas desde a pauta da saúde mental das mulheres, as políticas de proteção, assim como a 
visibilidade das mulheres negras e trans. A avaliação foi de que o projeto alcançou seus 
objetivos. A variedade de assuntos abordados contribuiu para a compreensão do que é a 
violência contra à mulher nas suas várias formas, durante os debates percebeu-se que o 
simpósio foi um instrumento capaz de disparar processos de reflexão nos presentes. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A experiência nqo campo de estágio faz com que o estudante e futuro profissional de 
Serviço Social observe de perto as demandas do equipameneto e como se dá na prática à 
atuação do profissional de Serviço Social. 
Diante do observado, evidencia-se que apesar do equipamento ser de extrema 
importância noque diz respeito ao combate a violência contra a mulher, enfrenta desafios que 
são comuns a muitos espaços sócio-ocupacionais nas políticas públicas: a precarização das 
relações de trabalho e das condições objetivas materiais para desenvolver sua ação, a 
persistente visão clientelista e de favor a respeito das políticas e programas sociais por 
gestores e usuários/as, entre outros. 
São inúmeros os desafios enfrentados pelos profissionais dentro do equipamento, visto 
que há um sucateamento o que dificuldade o atendimento das usuárias. Pude observar isso 
desde o princípio, visto que a primeira questão a qual me deparei foi com a falta de 
privacidade para o atendimento da vítima, pois o CRMI hoje divide o espaço físico com o 
CRAS V e ainda com a Casa dos Conselhos. Além disso, diversas outras características 
mostram claramente a precariedade do equipamento, desde a deficiência nos recursos 
materiais da instituição até o não repasse de verbas das diversas esferas do governo e que vão 
atingir o trabalho do profissional e a qualidade de atendimento. 
Embora haja toda essa precariedade, o Centro de Referência da Mulher de Iguatu é 
uma instituição que procura combater a violência doméstica sofrida por tantas mulheres. É 
certo que, cabe ao Estado a garantia de subsídios materiais, e aos profissionais e ao 
equipamento as contribuições para que juntos possam, como traz Marinho (2017), “tentar 
 
 
349 
garantir todos os serviços que a rede oferece a esta mulher e lutar diariamente contra essa 
cultura machista que permite que várias vítimas continuem vivendo no ciclo de violência”. 
Tendo em vista os aspectos observados vários são as necessidades de intervenção no 
equipamento, como: o resgate de sua história desde seu projeto de criação até hoje; criação de 
grupos de mulheres e/ou oficinas de esclarecimentos e orientações para que se desfaça o 
estigma que circunda o Centro de Referência da Mulher, visto apenas como órgão de cuidados 
a mulheres que já sofreram violência. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BASTOS. Maria Micaelle de Sena. MAIS PONTES MENOS MUROS: uma análise da 
Rede de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica e Familiar no município 
de Iguatu – CE. Maria Micaelle de Sena Bastos – 2019 
 
BRASIL. Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Lei Maria 
da Penha Nº 11.340/2006. Brasília-DF. 2016. (Cartilha) 
 
BRASIL. Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Central de 
Atendimento à Mulher - Ligue 180. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres 
(SPM). Disponível em: https://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/ouvidoria/relatorios-
ligue-180 Acesso em: 01/12/2019. 
 
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. LEI Nº 11.788, DE 25 DE SETEMBRO 
DE 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11788.htm Acesso em: 30/11/2019 
 
BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DO, SECRETARIA ESPECIAL DE 
POLÍTICAS PARA AS MULHERES. Norma Técnica de Uniformização: Centros de 
Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. 2006. 
 
CFESS. Subsídios para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação. Brasília, 
2012. 
 
CFESS. Conselho Federal de Serviço Social. Gestão “Tempo de Luta e Resistência”. 
Cartilha Estágio Supervisionado Meia formação não garante direitos. Disponível em: 
http://www.cfess.org.br/arquivos/BROCHURACFESS_ESTAGIO-SUPERVISIONADO.pdf. 
Acesso em: 01/12/2019. 
 
COUTO, Berenice Rojas. Formulação de projeto de trabalho profissional. CONSELHO 
FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E 
PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. Serviço Social: direitos sociais e competências 
profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, p. 651-663, 2009. 
 
CZAPSKI, Alessandra Ruita Santos. O assistente social no atendimento à violência doméstica 
contra a mulher. Travessias, v. 6, n. 1, 2014. 
 
 
350 
 
MARINHO, Heleysânia Olimpio. A Violência que mata: uma análise da violência contra a 
mulher a partir do centro de referência da mulher de Iguatu / Heleysânia Olimpio 
Marinho - Iguatu, 2017. 
 
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Bacharelado em Serviço Social. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFCE 
campus Iguatu. n. 1 . V.1. Iguatu – CE, 2015.

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