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Direito Empresarial – Parte Geral e Direito Societário Prof. Miguel Roberto da Silva Bibliografia Básica: ● CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo. Saraiva. ● COELHO, Fábio Ulhoa. o Manual de Direito Comercial. São Paulo. Saraiva. o Curso de Direito Comercial. Vol.1. São Paulo. Saraiva. o Curso de Direito Comercial. Vol. 2. São Paulo. Saraiva. ● TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 1. São Paulo. Atlas. Complementar: ● DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 8. Direito de Empresa. São Paulo. Saraiva. ● FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. São Paulo. Atlas. ● MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro. Forense. ● NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. Vol. 1. São Paulo. Saraiva. ● RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo. Gen-Método. ● REQUIÃO, Rubens. o Curso de Direito Comercial. Vol. 1. São Paulo. Saraiva. o Curso de Direito Comercial. Vol. 2. São Paulo. Saraiva. Avaliação Duas provas, somente. ● Datas o Primeira Prova – 26/09/2016 o Segunda Prova – 21/11/2016 ● Tipo de avaliação o Objetiva com 1 ou 2 questões subjetivas o Não há consulta o Se a prova for primariamente subjetiva, será possível utilizar código Sumário 1. Escolas do pensamento econômico 5 1.1. Capitalismo versus socialismo pelo ponto de vista econômico 5 1.2. Organização econômica das sociedades de consumo 6 1.3. A situação do Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo estatal 6 2. Evolução histórica do comércio 9 2.1. A acepção econômica e a acepção jurídica de comércio 9 2.2. Principais características da atividade comercial 9 2.3. Fases da evolução histórica do Direito Comercial / Empresarial 9 3. Características gerais do Direito Empresarial 15 3.1. O Direito Empresarial como ramo do Direito privado 16 3.2. Diferenças entre Direito Empresarial, o Direito Econômico e o Direito do Consumidor 16 3.3. Discussão a respeito da autonomia do Direito Empresarial em relação ao Direito Civil: autonomistas versus antiautonomistas 17 3.3.1. A corrente antiautonomista 17 3.3.2. A corrente autonomista 18 3.4. Fontes do Direito Empresarial 19 3.5. Diferenças entre as normas de comércio internacional e as normas de comércio exterior do Brasil 20 3.5.1. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) 21 4. Exercício da atividade econômica 23 4.1. Atividade econômica empresarial 24 4.1.1. Exercício individual da atividade econômica empresarial 24 4.1.2. Exercício coletivo da atividade econômica empresarial 26 4.2. Atividade econômica não-empresarial 27 4.2.1. Exercício individual da atividade econômica não-empresarial 28 4.2.2. Exercício coletivo da atividade econômica não-empresarial 28 5. A empresa 32 6. O empresário 33 6.1. O empresário individual 35 6.2. A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) 39 6.3. Regime empresarial 41 6.3.1. O registro das empresas 41 6.3.2. A escrituração contábil 44 6.3.3. A elaboração de demonstrações contábeis periódicas 48 6.4. Auxiliares do empresário 49 7. O estabelecimento 51 7.1. Disposições gerais sobre o estabelecimento 53 7.2. Ponto comercial 56 8. O nome empresarial 58 9. Ciclo de vida da pessoa jurídica 60 10. Introdução ao Direito societário 62 10.1. Personificação das sociedades 62 10.2. Classificações das sociedades 63 10.3. Desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) 66 10.4. Princípio da titularidade negocial 67 10.5. Teoria Ultra Vires (“além dos seus limites de poder”) 68 10.6. Teoria da aparência 69 11. Sociedades não-personificadas 70 11.1. Sociedades em comum (arts. 986 a 990, CC) 70 11.2. Sociedades em conta de participação (SCP - arts. 991 a 996, CC) 72 12. Sociedades personificadas 75 12.1. Sociedades simples 76 12.2. Sociedades em nome coletivo (N/C) 79 12.3. Sociedade Comandita Simples (C/S) 82 12.4. Sociedade Comandita por Ações (C/A) 85 12.5. Sociedade limitada (LTDA) 88 12.5.1. Disposições gerais e das quotas 88 12.5.2. Administração e Conselho fiscal 91 12.5.3. Deliberações dos sócios 95 12.5.4. Aumento e diminuição do capital 98 12.5.5. Resolução da sociedade 98 12.6. Sociedade Anônima (S/A) 107 12.6.1. Valores mobiliários nas empresas de capital aberto 113 12.6.2. Nacionalização e a diferença entre empresa nacional e empresa estrangeira 115 12.6.3. Governança corporativa 116 13. Reestruturação empresarial 120 13.1. Transformação 120 13.2. Concentração 120 13.3. Desconcentração 121 14. Coligação de sociedades 124 15. Grupo de sociedades 125 16. Holding 125 17. Consórcio 126 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ------------------ LIVRO I - TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL ------------------ ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Aulas 1 e 2 – 25/07/2016 e 27/07/2016 Programa – Aulas 1 e 2 1. Escolas do pensamento econômico 1.1. Capitalismo versus socialismo pelo ponto de vista econômico 1.2. Organização econômica das sociedades de consumo 1.3. A situação do Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo estatal 1. Escolas do pensamento econômico 1.1. Capitalismo versus socialismo pelo ponto de vista econômico ● Capitalismo: do ponto de vista econômico, o capitalismo é marcado pelo liberalismo, pensamento econômico alinhado com a intervenção mínima do Estado na economia e com a valorização do livre mercado. Em geral, é associado ao pensamento “de direita”, que busca conservar a ordem vigente, ou, pelo menos, coordenar as mudanças de modo que não ocorram bruscamente. o Este pensamento é marcado pela menor intervenção estatal na vida individual e pelo controle do mercado por uma “mão invisível”, segundo as teorias de estado mínimo de Adam Smith, o que significa que o mercado se autorregularia, sem a necessidade da intervenção estatal. o Um pensamento recorrente no Capitalismo é a ideia de meritocracia. o A sociedade que o Capitalismo gera é chamada de sociedade de consumo, pois se baseia nas trocas mercantis e produção de bens econômicos, voltados para o consumo da população e para a circulação de riquezas. o O capitalismo é um sistema que se desequilibra facilmente, seja por excesso ou falta de intervenção ou regulação estatal, mas, a cada crise econômica, ele volta mais reestruturado. ▪ A reestruturação mais atual do liberalismo capitalista é chamada de neoliberalismo, que é uma corrente ainda marcada pela não intervenção estatal, mas que flexibiliza o pensamento clássico de Adam Smith ao reconhecer que o Estado é útil como regulador da economia, dado que, nem sempre, a “mão invisível” é capaz de coibir abusos e injustiças no âmbito do mercado. ● Socialismo: do ponto de vista econômico, o socialismo é mercado pelo intervencionismo estatal, pensamento econômico alinhado com a concepção de que o Estado deve ser um garantidor dos direitos de 1ª, 2ª e 3ª gerações. Em geral, é associado ao pensamento “de esquerda”, que busca a inversão da ordem vigente, com os trabalhadores (proletariado, na visão de Karl Marx) passando a dominar os meios de produção. o Este pensamento é marcado pela ideia de que o Estado é o único capaz de garantir o bem-estar dos indivíduos, sob a tutela da teoria do estado do bem-estar social (ou Welfare State). o Para esta linha de pensamento, o mercado, em última análise, não deve existir. o Pensamentos recorrentes no Socialismo são as ideias de dirigismo, coletivismo e controle dos freios de produção pelo Estado, que, na crítica do Capitalismo, frequentemente descamba para o autoritarismo. 1.2. Organização econômica das sociedades de consumo ● Os agentes econômicos da sociedade deconsumo (sociedade economicamente estruturada) são: o Estado: responsável por fazer as leis e recolher os tributos, com vistas a fornecer, em graus variados, de acordo com a corrente econômica, acesso à segurança, saúde, educação, previdência e assistência; o Empresa: responsável pelos modos de produção que abastecem a sociedade; o Famílias (indivíduos): responsáveis pelo consumo e manutenção do funcionamento dos outros dois agentes econômicos. 1.3. A situação do Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo estatal ● A Constituição Federal de 1988, entre seus arts. 170 e 175, aponta alguns princípios que posicionam o Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo estatal. São eles: o (1) A valorização do trabalho, a justiça social, a existência digna (as três mais alinhadas com o pensamento “de esquerda”) e a livre iniciativa (alinhada com o pensamento “de direita”); ▪ Uma decorrência prática deste pensamento mais alinhado com a esquerda dentro deste ponto é a previsão do salário mínimo, que nada mais é do que uma forma de controle estatal que vai contra a “mão invisível”. o (2) Propriedade privada (alinhada com o pensamento “de direita”); o (3) Função social da propriedade (alinhada com o pensamento “de esquerda”); o (4) Livre concorrência (alinhada com o pensamento “de direita”), que garante o livre mercado e visa restringir os monopólios e oligopólios ▪ Uma decorrência prática deste pensamento é a lei 12.529/2011, a lei de Livre concorrência, que regulamenta o SBDC (Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência) e coloca o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, como um de seus órgãos. As atribuições do CADE também estão descritas nesta lei. o (5) Defesa do consumidor ▪ Uma decorrência prática deste princípio é a lei 8.078/90, chamada Código de Defesa do Consumidor (CDC), que institui os Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo. ● O consumidor, neste caso, é entendido como um ser hipossuficiente, vulnerável, nas relações de mercado de consumo, tanto economicamente quanto técnica e juridicamente. ● Os arts. 12 e 14 do CDC trazem uma importante inovação a respeito da responsabilidade objetiva dos fornecedores para com os consumidores, que constitui uma importante exceção à regra da responsabilidade subjetiva do Direito Civil. o (6) Defesa do meio ambiente ▪ Uma decorrência prática deste princípio é a lei 9.605/98, chamada lei de crimes ambientais, que permitiu que pessoas jurídicas sejam partes (inclusive réus) em litígios. O Ministério Público (MP) passou a poder processar a própria pessoa jurídica e seus diretores. o (7) Redução das desigualdades religiosas e sociais (alinhada com o pensamento “de esquerda”); o (8) Tratamento da diferenciação entre empresa e microempresa ▪ Uma decorrência prática deste tratamento diferenciado é lei complementar (LCP) 123/2006, chamada Estatuto das micro e pequenas empresas; ▪ Outra decorrência prática importante é a criação do modelo tributário do SIMPLES Nacional, que simplifica a carga tributária e a burocracia requerida de empresas de menor porte e facilita a vida de quem quer começar um empreendimento. ● De acordo com os arts. 173 e 174, CF/88, o Estado tem duas formas principais de intervenção na economia: o Intervenção direta (art. 173, CF): nesta modalidade, o Estado age como empresário. Ela só é possível quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. ▪ Exemplo: as sociedades de economia mista (capital social público e privado) e as empresas públicas (capital somente público) são exemplos de questões que o Estado pode considerar de relevante interesse coletivo. Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. o Intervenção indireta (art. 174, CF): nesta modalidade, o Estado pode atuar como agente normativo e regulador da atividade econômica. ▪ Exemplo: as agências reguladoras de determinados setores da economia, como a ANATEL, na telefonia, ANEEL, na energia e o CADE, nas relações comerciais. Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Aula 3 – 01/08/2016 Programa – Aula 3 2. Evolução histórica do comércio 2.1. A acepção econômica e a acepção jurídica de comércio 2.2. Principais características da atividade comercial 2.3. Fases da evolução histórica do Direito Comercial / Empresarial 2. Evolução histórica do comércio 2.1. A acepção econômica e a acepção jurídica de comércio ● Acepção econômica: o comércio é uma atividade de intermediação com o intuito de lucro. ● Acepção jurídica: o comércio é uma atividade de intermediação com o intuito de lucro, exercida com habitualidade. 2.2. Principais características da atividade comercial ● As três principais características da atividade comercial, desde seus primórdios, são: o Intermediação: a atividade comercial é uma atividade de intermediação porque há uma interposição de atividades entre produtores e consumidores. Há uma troca entre aquele que produz e aquele que consome. o Habitualidade: a atividade comercial deve ser exercida com profissionalismo, ou seja, de maneira reiterada. o Intuito de lucro: a atividade comercial deve ser exercida com o intuito de lucrar, ou seja, se conta com o aumento de valor das mercadorias quando da interposição com habitualidade. A mera troca de mercadorias não constitui comércio. 2.3. Fases da evolução histórica do Direito Comercial / Empresarial ● Primeira fase – Sistema subjetivo corporativista (lex mercatoria) o Contexto histórico: no fim da Idade Média, por volta dos séculos XI e XII, coma crise do sistema feudal estamental e a reabertura das vias comerciais do Norte e do Sul da Europa, ocorre significativa migração do campo, formando-se cidades (burgos) como centros de consumo, de troca e de produção industrial. ▪ Esse desenvolvimento da atividade comercial trouxe à tona a insuficiência do direito civil para disciplinar os novos fatos jurídicos que se apresentavam. ● A disciplina estatal era baseada na prevalência da propriedade imobiliária, estática e cheia de obstáculos para sua circulação. Em função disso, impõe-se o surgimento de uma nova disciplina especial, essencialmente baseada em costumes: o direito comercial, destinado a regular esses novos fatos que se apresentam. o Desenvolvimento: a desorganização do Estado medieval fez com que os comerciantes (burgueses, pois viviam nos burgos) se unissem em corporações (ou guildas) para exercitarem mais eficazmente a autodefesa. ▪ O poder econômico e militar de tais corporações era tão grande que foi capaz de operar a transição do regime feudal para o regime das monarquias absolutas. ▪ Os grandes comerciantes, organizados em corporações, passam a constituir a classe econômica e politicamente dominante. o O Direito Comercial da época: nesse primeiro momento, o direito comercial podia ser entendido como o direito dos comerciantes, vale dizer, o direito comercial disciplinava as relações entre os comerciantes. Eram, inicialmente, normas costumeiras, aplicadas por um juiz eleito pelas corporações, o cônsul, e só valiam dentro da própria corporação. ▪ Posteriormente, no seio de tais corporações, surgem também normas escritas para a disciplina das relações entre comerciantes. Essas normas escritas, juntamente com os costumes, formaram os chamados estatutos das corporações, fonte primordial do direito comercial em sua origem. ▪ Tratava-se, segundo Marlon Tomazette, de “um direito criado pelos mercadores para regular as suas atividades profissionais e por eles aplicado”, assim, tratava-se de um direito eminentementeprofissional e de caráter privado. ● Não há que se falar, neste primeiro momento do direito comercial, em contribuição doutrinária para a formação do direito comercial. ● Diz-se sistema subjetivo, pois a concepção passa a ser centrada em um sujeito, o comerciante, que é aquele que exerce atividade econômica organizada com o intuito de lucrar. ● A criação pelos próprios comerciantes e sua aplicação a eles próprios caracterizaram a chamada lex mercatoria. Observação: Lex mercatoria. A lex mercatoria foi um sistema jurídico desenvolvido pelos comerciantes da Europa medieval, que se aplicou aos comerciantes e marinheiros de todos os países do mundo até o século XVII. Não era imposta por uma autoridade central, mas evoluiu a partir do uso e do costume, à medida que os próprios mercadores criavam princípios e regras para regular suas transações. Este conjunto de regras era comum aos comerciantes europeus, com algumas diferenças locais. O direito comercial internacional moderno deve alguns de seus princípios fundamentais à Lex mercatoria desenvolvida na Idade Média, como a escolha de instituições e procedimentos arbitrais, de árbitros e da lei aplicável e o seu objetivo de refletir os costumes, uso e boa prática entre as partes. Muitos dos princípios e regras da Lex mercatoria foram incorporados aos códigos comerciais e civis a partir do início do século XIX. Observação: Critérios para aplicação do direito comercial da lex mercatoria. Sendo o sistema da época um sistema subjetivo, os dois critérios verificados para aplicação do direito comercial eram (i) o critério corporativo e (ii) a ligação da atividade com o exercício do comércio. Segundo o critério corporativo, se o sujeito fosse membro de determinada corporação de ofício (guilda), o direito a ser aplicado seria o daquela corporação, ou seja, era a matrícula na corporação que atraía o direito costumeiro e a jurisdição consular. ● Segunda fase – Sistema objetivo dos atos de comércio o Contexto histórico: na Idade Moderna, houve um movimento de centralização monárquica, de modo que os comerciantes deixam de ser os responsáveis pela elaboração do direito comercial. Esta tarefa passa a ficar nas mãos do próprio Estado. Passa-se, portanto, à estatização do direito comercial. o Desenvolvimento: ▪ Os motivos dessa evolução do direito comercial são: ● (i) a necessidade de superar a estrutura corporativa do direito comercial, como direito ligado às pessoas que pertenciam a determinada classe; e ● (ii) a necessidade de aplicar as normas mercantis nas relações entre comerciantes e não comerciantes. ▪ O Código Napoleônico de 1807 marca o início dessa nova fase do direito comercial, na medida em que acolheu a teoria dos atos de comércio. Esta teoria era marcada por: ● Estender a jurisdição comercial a quaisquer pessoas que praticassem atos comerciais, independentemente de suas qualificações pessoais (ou seja, independentemente de serem comerciantes ou não) ● Disciplinar uma série de atos da vida econômica e jurídica, que não eram exclusivos dos comerciantes, mas que necessitavam das mesmas características do direito mercantil. Estas características eram: o Facilidade de prova; o Prescrição breve; o Rapidez processual e o Competência técnica dos juízes. o O Direito Comercial da época: nesse segundo momento, o direito comercial passa a ser o direito dos atos de comércio, praticados por quem quer que seja, independentemente de qualquer qualificação profissional, ou participação em corporações. ▪ Tenta-se, com ele, atingir a principal aspiração do direito mercantil, que é a de disciplinar todos os atos constitutivos da atividade comercial. ▪ No Brasil, a concepção objetiva foi acolhida, com as devidas adaptações, pelo Código Comercial de 1850. Não havia, contudo, nenhuma definição do que seriam os atos de comércio, mas inúmeros dispositivos demonstravam a inspiração deste Código pelo sistema objetivo. Observação: Os atos de comércio. Os atos de comércio, por natureza, “são os negócios jurídicos referentes diretamente ao exercício normal da indústria mercantil”. São aqueles atos, nos quais pelo menos uma das partes atua como comerciante, no exercício da profissão. São traços característicos dos atos de comércio por natureza (ou subjetivos), os já comentados (i) habitualidade; (ii) intuito de lucro e (iii) intermediação. ● Terceira fase – Sistema subjetivo moderno e a Teoria da Empresa o Contexto histórico: o sistema objetivo sempre foi objeto de duras críticas, as quais foram pouco a pouco ganhando força e levaram à sua substituição. O problema fundamental era de que era impossível, do ponto de vista conceitual, abarcar (como pretendia o direito objetivo) numa unidade os atos ocasionais e aqueles que representam uma atividade profissional e, por isso, exigiriam o tratamento específico. o Desenvolvimento: mesmo antes de qualquer positivação de um novo regime, isto é, mesmo na vigência plena do Código Comercial de 1850, já houve um grande movimento no sentido de uma nova concepção do direito comercial no Brasil. Esse movimento foi extremamente influenciado pela nova concepção do direito comercial como direito das empresas, com a unificação dos Códigos Civil e Comercial promovida pelo Código Civil italiano de 1942, elaborado durante o regime fascista de Mussolini. o O Direito Comercial da época: a crise do sistema objetivo deu origem aos novos contornos do direito comercial. Desloca-se o centro de cada ato individual de comércio e passa-se a focar na atividade econômica como um todo, com base na chamada Teoria da Empresa, ou Teoria da Firma. ▪ Unem-se, assim, as ideias do ato de comércio e do comerciante numa realidade mais dinâmica, a da atividade econômica, isto é, o conjunto de atos destinados a um fim, que era a satisfação das necessidades do mercado geral de bens e serviços. ▪ Diz-se sistema subjetivo moderno, pois a concepção volta a ser centrada em um sujeito (como era na primeira fase), mas esse sujeito já não é mais o comerciante, e sim o empresário, que é aquele que exerce atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços para o mercado. ● É por isso que hoje já se usa muito menos a expressão “Direito comercial”, mas sim Direito empresarial, o direito das empresas. ▪ No Brasil, o Código Civil de 2002 trata, no seu Livro II, Título I, do "Direito de Empresa". Com isto, desaparece oficialmente, no país, a figura do comerciante, que dá lugar à figura do empresário. ● Ao disciplinar o direito de empresa, o direito brasileiro afasta-se, definitivamente, da ultrapassada teoria dos atos de comércio, e incorpora a teoria da empresa ao ordenamento jurídico, adotando o conceito de empresarialidade para delimitar o âmbito de incidência do regime jurídico empresarial. o Conceito de Empresarialidade: é o termo utilizado para exprimir, em uma ideia geral e abstrata, tudo aquilo que é próprio da empresa. A empresarialidade é o limite do âmbito de incidência do regime jurídico empresarial. Observação: A Teoria da Empresa ou Teoria da Firma. A Teoria da Empresa não tem como objetivo definir a empresa do ponto de vista jurídico ou contábil, mas entende-la como uma unidade técnica de produção, propriedade de indivíduos, que compram fatores de produção para produção de bens e serviços. Os fatores de produção, essencialmente, são cinco: (i) o capital; (ii) o trabalho; (iii) os insumos; (iv) a tecnologia e (v) a gestão. Os três pilares da Teoria da Empresa (ou Teoria da Firma), que também são os chamados elementos integrantes da empresarialidade, são: o Empresário: é aquele que exerce a atividade econômica (empresa). O empresário tem natureza jurídica de titular de direitos, ou sujeito de direitos, ou seja, possui personalidade (de pessoa física ou pessoa jurídica), como disposto no art. 966, CC, e no art. 966, parágrafo único, CC. Art. 966. Considera se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se consideraempresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. o Empresa: é a atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, como também disposto no at. 966, caput, CC. A empresa tem natureza jurídica de fato jurídico, ou de conjunto de atos jurídicos exercidos pelo empresário. Art. 966. Considera se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. o Estabelecimento: é o conjunto de bens que o empresário utiliza para exercer a atividade econômica (empresa), como disposto no art. 1142, CC. O estabelecimento tem natureza jurídica de objeto do direito. Art. 1.142. Considera se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. ● Cada um destes elementos da Teoria da Empresa será discutido separadamente mais à frente, depois que forem trabalhados os conceitos basais do Direito Empresarial moderno, bem como as fontes do Direito Empresarial. Observação: A localização da legislação comercial brasileira. O atual Código Civil (CC/2002) não concentra toda a disciplina jurídica comercial brasileira, que está espalhada por uma série de outras leis ordinárias e complementares, como a LCP 123/2006, chamada Estatuto das micro e pequenas empresas, a lei 8.078/90, chamada Código de Defesa do Consumidor (CDC), a lei 8.245/91, chamada Lei de Locações, e a lei 6.404/76, chamada Lei das Sociedades por Ações, dentre diversas outras. Aula 4 – 03/08/2016 Programa – Aula 4 3. Características gerais do Direito Empresarial 3.1. O Direito Empresarial como ramo do Direito privado 3.2. Diferenças entre Direito Empresarial, o Direito Econômico e o Direito do Consumidor 3.3. Discussão a respeito da autonomia do Direito Empresarial em relação ao Direito Civil: autonomistas versus antiautonomistas 3.3.1. A corrente antiautonomista 3.3.2. A corrente autonomista 3.4. Fontes do Direito Empresarial 3.5. Diferenças entre as normas de comércio internacional e as normas de comércio exterior do Brasil 3.5.1. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) 3. Características gerais do Direito Empresarial ● Conceito de Direito Empresarial: é o direito que regula a atividade empresarial e todos os atos que normalmente são praticados no exercício dessa atividade (empresa). o O objeto de estudo do Direito empresarial, portanto, é a atividade empresarial e todos os atos que normalmente são praticados no exercício dessa atividade. ● Competência para legislar sobre Direito Empresarial: de acordo com o art. 22, I, CF/88, a competência para legislar sobre Direito Comercial / Empresarial é privativa da União. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; ● Divisão do Direito Empresarial: muitas são as classificações que divide o Direito Empresarial. Tomazette propõe a seguinte classificação didática: o (1) Teoria geral do direito empresarial: abrange o estudo dos conceitos básicos de empresa, empresário, estabelecimento e todos os seus elementos; o (2) Direito societário: abrange o estudo das diversas sociedades; o (3) Direito cambiário: abrange o estudo dos títulos de crédito; o (4) Direito falimentar: abrange o estudo da falência e dos meios de recuperação empresarial, além das intervenções e liquidações extrajudiciais; o (5) Contratos empresariais: abrange o estudo dos contratos interempresariais e os contratos voltados para a organização da atividade empresarial. Observação: esta disciplina abrange as duas primeiras divisões do Direito Empresarial, que são a teoria geral e o direito societário. 3.1. O Direito Empresarial como ramo do Direito privado ● Conceito de Direito público: é o direito que regula as relações dos entes públicos, quando estes atuam em nome do Estado. ● Conceito de Direito privado: é o direito que regula as relações dos particulares entre si, com base na sua igualdade jurídica e sua autodeterminação. De maneira mais simples, é todo aquele direito que não é público. o Se a relação é estabelecida entre particulares, ou mesmo entre particulares e entes públicos, mas sem que estes entes públicos estejam atundo propriamente em nome do chamado poder de império do Estado, haverá aplicação do direito privado. o Até a Idade Média, o conceito de Direito privado se confundia com o de Direito Civil. Até hoje, o Direito Civil é entendido como o Direito privado comum, ou geral. o Como visto nas seções anteriores, no entanto, a partir do desenvolvimento das atividades dos burgueses nas primeiras cidades da Idade Média, começaram a surgir normas especiais dentro do direito privado, que formavam o direito comercial (primeira fase do direito empresarial – sistema subjetivo corporativista). Estas normas compuseram um direito privado especial, distinto do direito privado geral (que era o direito civil). ▪ Sendo assim, fica claro que o Direito comercial / empresarial é ramo do Direito privado. 3.2. Diferenças entre Direito Empresarial, o Direito Econômico e o Direito do Consumidor ● O Direito Econômico é considerado um ramo autônomo do Direito. Ele tem como conteúdo normativo específico as atividades econômicas ocorrentes no mercado, sejam elas provenientes do setor privado ou do setor público. o Assim, o objeto do Direito Econômico são as atividades econômicas presentes no mercado, sejam elas do setor público ou privado. ▪ Em razão das diversas espécies de Economia definidas pela Ciência Econômica, alguns doutrinadores propõem a divisão do Direito Econômico em um Direito Econômico Privado, ligado à microeconomia, e um Direito Econômico Público relativo à macroeconomia. o O Direito econômico, de forma geral, portanto, fornece o arcabouço normativo para limitar estas atividades de forma que elas se adequem aos princípios constitucionais. ● O Direito do Consumidor pode ser definido como o ramo do direito que versa sobre a defesa e a proteção do consumidor. o Classicamente, boa parte dos autores situam o direito do Consumidor na seara privada, por tratar de relações travadas entre particulares (consumidor e fornecedor). ▪ Contudo, há correntes que argumentam que já não faz mais sentido situar o Direito do Consumidor em nenhuma das duas classificações, pois ele possuiria tanto elementos de Direito Público quanto do Direito Privado. o O objeto do Direito do Consumidor são as relações e as responsabilidades dos sujeitos da relação consumerista. o O Direito do Consumidor, de forma geral, visa à proteção dos consumidores na solução de lides decorrentes da relação de consumo. ● O Direito Empresarial, por sua vez, como já visto, é ramo do direito privado e tem como objeto a atividade empresarial e todos os atos que normalmente são praticados no exercício dessa atividade. 3.3. Discussão a respeito da autonomia do Direito Empresarial em relação ao Direito Civil: autonomistas versus antiautonomistas ● A fim de definir o âmbito do direito civil, Clóvis Beviláqua afirma que ele é o “complexo de normas jurídicas relativas às pessoas, na sua constituição geral e comum, nas suas relações recíprocas de família, em face dos bens considerados em seu valor de uso”. o O direito civil disciplina, portanto, a pessoa, na sua existência e atividade, sua família e seu patrimônio, tendo, portanto, um objeto vastíssimo. ● Por outro lado, o direito empresarial teria um objeto mais específico e se voltaria à disciplina das relações jurídicas decorrentes do exercício de uma atividade econômica com determinadas características, a empresa. Haveria uma especialidade dentro do direito mercantil, ele se destinaria a disciplinar relações mais específicas. o Ele se autonomiza porque pode ser mais rapidamente transformado e corrigido, atendendo às exigências do tráfego comercial.● Os autores discordam quanto à existência ou não de uma autonomia entre Direito Civil e Direito Empresarial. Aqueles que não acreditam que estes ramos sejam autônomos são os antiautonomistas. Aqueles que acreditam são os autonomistas. 3.3.1. A corrente antiautonomista ● Para os antiautonomistas, na vida moderna há certa uniformidade nas obrigações, o que não justificaria dois tratamentos, um pelo Direito civil e outro pelo Direito comercial. o Tendo as normas comerciais sido criadas pelos comerciantes para defesa dos seus próprios interesses, a submissão dos não-comerciantes ao direito comercial seria injusta, pois as leis mercantis seriam obra de uma classe infinitamente menor do que a dos cidadãos em geral e a manutenção da autonomia só se justificaria se o interesse maior da comunidade fosse a prosperidade dos comerciantes. ● Outro argumento seria a inexistência, no caso do Direito Comercial, de princípios próprios e diferentes daqueles que regem o Direito privado como um todo. o Para esta visão, as normas mercantis seriam parte do sistema geral do direito privado, caracterizando-se como normas especiais e não como um ramo autônomo do direito. o Adicionalmente, as peculiaridades atribuídas ao direito comercial não lhe seriam privativas, sendo comuns a outros ramos do direito. 3.3.2. A corrente autonomista ● Para os autonomistas, corrente mais correta na opinião do professor, a divisão do direito privado se deu em virtude da necessidade de uma regulamentação especial da matéria mercantil, tendo em vista que as características peculiares ao direito civil não se prestavam a atender os fins ligados especificamente ao direito comercial. ● Para esta corrente, três motivos surgem como principais para defender que há sim autonomia entre os Direito Empresarial e Direito Civil: o Método próprio: ao contrário do direito civil, o direito empresarial usa o método indutivo, isto é, conclui-se a regra com base nos fatos. Esse método reforça a ideia da autonomia do direito empresarial, dado que. se ele não fosse um ramo autônomo do direito privado, ele deveria usar o método dedutivo do direito civil, que é o direito privado geral. o Objeto próprio: o direito empresarial tem objeto próprio (e, portanto, diferente daquele do Direito Civil), que é a atividade empresarial e todos os atos que normalmente são praticados no exercício dessa atividade, ou, em outras palavras, a empresa. o Princípios próprios: o Direito empresarial tem princípios próprios, que são: ▪ (i) Princípio da simplicidade das formas: a velocidade da economia moderna impõe uma disciplina mais célere dos negócios, com a proteção da boa-fé. As formas devem ser mais simples, de modo a atender às necessidades da atividade empresarial. ● Dentro desse princípio, destaca-se a representação de mercadorias por títulos, a negociação simplificada desses títulos e, por conseguinte, dos bens representados por esses documentos. ▪ (ii) Princípio da onerosidade: o fim último do direito comercial é o lucro e esta é a regra que presume nas relações empresariais. O empresário, via de regra, portanto, age movido pelo individualismo. ● Modernamente, no entanto, esse individualismo vem sofrendo atenuações, com a intervenção estatal e a consagração de uma nova mentalidade: a de que a empresa deve ser exercida para atender não apenas aos interesses do controlador, mas também aos dos seus colaboradores e da comunidade que consome os seus produtos, que corresponde à chamada função social da empresa. ▪ (iii) Princípio da proteção ao crédito: o crédito é um elemento essencial para o exercício da atividade empresarial e como tal deve ser protegido, de modo que os responsáveis pela concessão do crédito continuem a concedê-lo, permitindo o desenvolvimento das atividades empresariais. ▪ (iv) Princípio do cosmopolitismo: o Direito civil representa as concepções de vida de uma sociedade determinada, estando sujeito aos influxos históricos de cada nação. Por outro lado, o direito empresarial se destina a regular relações que não se prendem a uma nação, pelo contrário, dizem respeito a todo o mundo, sobretudo, com o crescente movimento de globalização. 3.4. Fontes do Direito Empresarial ● As principais fontes do Direito Empresarial são: o Âmbito nacional: ▪ Fonte primária: ● (i) Lei: são fontes do direito as leis em sentido material, que são aquelas proposições jurídicas que disciplinam a atividade empresarial, e não apenas aquelas em sentido formal, emanadas dos órgãos legislativos. ▪ Fontes secundárias: ● (ii) Costumes: as leis possuem certa estabilidade, inerente ao próprio processo de sua elaboração. Tal estabilidade é muito importante para a própria segurança jurídica dos cidadãos. Todavia, esta estabilidade toma as leis, por vezes, insuficientes à disciplina de todos os fatos que se apresentam. Diante dessas situações, os próprios envolvidos acabam ajustando e padronizando as condutas a serem seguidas, as quais, com o passar do tempo, acabam até adquirindo uma força obrigatória. Estes são os costumes, ou o direito consuetudinário. o Na prática, os costumes aparecem na forma de assentamentos e devem ser registrados nas Juntas Comerciais dos Estados. ● (iii) Princípios gerais do Direito: os princípios gerais de direito representam a orientação geral de todo o ordenamento jurídico. Na condição de bases das normas positivas, é certo que há uma tendência na positivação dos princípios gerais, como ocorreu com o princípio da vedação do enriquecimento ilícito (art. 884, CC). Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. ● (iv) Jurisprudência: podem ser fontes do Direito Empresarial na forma das súmulas vinculantes e das decisões repetitivas, mesmo que a atividade dos juristas não tenha, na verdade, por objetivo, a criação de novas normas jurídicas. o Âmbito internacional: ▪ Fonte primária: ● (i) Tratados internacionais: são os acordos formais, concluídos entre sujeitos de direito internacional público, e destinados a produzir efeitos jurídicos. ▪ Fonte secundária: ● (ii) Costumes: consistem na prática reiterada de determinados atos pelos Estados que, de tão repetidos, passam a serem considerados como válidos pela comunidade internacional. 3.5. Diferenças entre as normas de comércio internacional e as normas de comércio exterior do Brasil ● Normas de Comércio Internacional: as normas de comércio internacionais, são as normas que disciplinam as operações de trocas entre países decorrentes de intercâmbios econômicos. o Elas são aplicáveis a mercadorias, serviços e mão-de-obra e valem para mais de um país. Estas normas visam a facilitação dos negócios internacionais e nada mais são do que reflexos da lex mercatoria. o Elas são criadas e disciplinadas por tratados internacionais estabelecidos entre países, ou pela ação de organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) ou a Câmara de Comércio Internacional (CCI). ● Normas de Comércio Exterior: consistem nos termos, regras e normas nacionais das transações realizadas no comércio internacional. Estas regras são normas nacionais, criadas para disciplinar tudo o que diz respeito à entrada no país de mercadorias procedentes do exterior (importação) e a saída de mercadorias do território nacional (exportação). Estas regras refletem diretamente em questões aduaneiras (tributárias, comerciais, financeiras, etc) e não-aduaneiras (técnicas, fitossanitárias, administrativas, etc). 3.5.1. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) ● A Câmara de Comércio Internacional (CCI) criou regras para administrar conflitos oriundos da interpretação de contratos internacionais firmados entre exportadores e importadores concernentes à transferência de mercadorias, às despesas decorrentes das transações e à responsabilidade sobre perdas e danos. o Estas regras, instituídas em 1936, são os chamados Termos Internacionais de Comércio, ou INCOTERMS (International CommercialTerms); o Em 1990, adaptando-se ao intercâmbio informatizado de dados, uma nova versão dos INCOTERMS foi instituída contendo treze termos. o Está em vigor desde 1º de janeiro de 2000 o INCOTERMS 2000, que leva em consideração o recente crescimento das zonas de livre comércio, o aumento de comunicações eletrônicas em transações comerciais e mudanças nas práticas relativas ao transporte de mercadorias. ● O Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) servem para definir, dentro da estrutura de um contrato de compra e venda internacional, os direitos e obrigações recíprocos do exportador e do importador, estabelecendo um conjunto-padrão de definições e determinando regras e práticas neutras, como por exemplo: onde o exportador deve entregar a mercadoria, quem paga o frete, quem é o responsável pela contratação do seguro, dentre outras. ● Os INCOTERMS, portanto, tratam-se de regras internacionais, imparciais, de caráter uniformizador, que constituem toda a base dos negócios internacionais e objetivam promover sua harmonia. ● Os INCOTERMS, em verdade, não impõem, e sim propõem o entendimento entre vendedor e comprador quanto às tarefas necessárias para deslocamento da mercadoria do local onde ela é elaborada até o local de destino final (também chamado de zona de consumo). Estas tarefas necessárias são: o Embalagem; o Transportes internos; o Licenças de exportação e de importação; o Movimentação em terminais; o Transporte e seguro internacionais; o Dentre outras. ● Um bom domínio dos INCOTERMS é indispensável para que o negociador possa incluir todos os seus gastos nas transações em Comércio Exterior. Vale ressaltar que as regras definidas pelos INCOTERMS valem apenas entre os exportadores e importadores, não produzindo efeitos em relação às demais partes envolvidas, tais como: despachantes, seguradoras e transportadores. ● Os INCOTERMS são representados por siglas e seguem uma classificação que obedece a uma ordem crescente nas obrigações do vendedor: o As vendas na partida, caso dos grupos E, F e C, deixam os riscos do transporte a cargo do comprador. o No caso de vendas na chegada, os riscos serão de responsabilidade do vendedor no caso dos termos do grupo D, exceto o DAF. ▪ No caso do DAF (Delivery at Frontier, ou “Entrega na Fronteira”), o vendedor assume os riscos até a fronteira citada no contrato e o comprador, a partir dela. o Os termos do grupo C merecem atenção para evitar confusões. Por exemplo, se o contrato de transporte internacional ou o seguro for contratado pelo vendedor não implica que os riscos totais do transporte principal caibam a ele. o A CCI seleciona como próprios ao transporte marítimo, fluvial ou lacustre, os termos FAS, FOB, CFR, CIF, DES e DEQ. o Destinam-se a todos os meios de transporte, inclusive multimodal: EXW, FCA, CPT, CIP, DAF, DDU e DDP. ▪ O DAF é o mais utilizado no transporte terrestre. Aula 5 – 08/08/2016 Programa – Aula 5 4. Exercício da atividade econômica 4.1. Atividade econômica empresarial 4.1.1. Exercício individual da atividade econômica empresarial 4.1.2. Exercício coletivo da atividade econômica empresarial 4.2. Atividade econômica não-empresarial 4.2.1. Exercício individual da atividade econômica não-empresarial 4.2.2. Exercício coletivo da atividade econômica não-empresarial 4. Exercício da atividade econômica ● O exercício da atividade econômica pode ser (I) empresarial ou (II) não-empresarial. Quando é empresarial, trata-se de uma empresa (ver seção 5) e pertence, portanto, à esfera de atuação do Direito Empresarial, mas não pertencerá a esta esfera se for uma atividade econômica não-empresarial. 4.1. Atividade econômica empresarial ● Características gerais: o Visa ao lucro; o Constitui uma relação despersonalizada; o Pode ser exercida individualmente ou coletivamente. 4.1.1. Exercício individual da atividade econômica empresarial ● Quando a atividade empresarial é exercida individualmente, ela pode ser exercida por: (i) empresários (ou empreendedores) individuais; (ii) empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI); ou (iii) empresários rurais. o (i) Empresário (ou empreendedor) individual (EI): antes da vigência do CC/2002, era chamado de firma individual. ▪ Características gerais do empresário individual: ● (a) é uma pessoa física; ● (b) exerce pessoalmente a atividade de empresário; ● (c) assume responsabilidade ilimitada, ou seja, em caso de falência, responde com seus bens pessoais; ● (d) não tem personalidade jurídica, ou seja, mesmo tendo registro no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), não é considerado pessoa jurídica, estando inscrito somente para recolhimento de tributos, de acordo com as alíquotas asseguradas às pessoas jurídicas, como incentivo à atividade empresarial. ▪ Classificação do empresário individual quanto à situação tributária / contábil: os empresários individuais podem ser (1) microempreendedores individuais (MEI); (2) microempresa (ME); ou (3) empresa de pequeno porte (EPP). ● (1) Microempreendedor Individual (MEI), também chamado de Pequeno empresário (art. 68, LCP nº123/2006 e art. 970, CC): é o empresário individual a que se refere o art. 966, CC, que tenha auferido receita bruta ou Faturamento Bruto Anual (FBA), no ano-calendário anterior, de até R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) e seja optante pelo Simples Nacional, sem participação em outra empresa como sócio ou titular. o Entre as vantagens oferecidas por essa lei está o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), o que facilitará a abertura de conta bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de notas fiscais. o Além disso, o EI do tipo MEI será enquadrado no SIMPLES Nacional e ficará isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL). o O MEI pagará apenas um pequeno valor fixo mensal, atualizado anualmente, de acordo com o salário mínimo, estipulado em função da natureza de sua atividade (comércio e indústria ou prestação de serviços) que será destinado à Previdência Social e ao ICMS ou ao ISS. ▪ Com essas contribuições, o EI do tipo MEI terá acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, entre outros. Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no §1º do art. 18-A. Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. ● (2) Microempresa: de acordo com as características apresentadas no quadro explicativo do início da seção 4. ● (3) Empresa de pequeno porte (EPP): de acordo com as características apresentadas no quadro explicativo do início da seção 4. o (ii) Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI): A EIRELI deverá ser constituída por uma única pessoa, que será titular de todo o capital social, sendo, portanto, uma nova modalidade de pessoa jurídica de direito privado, nos termos do art. 44, CC. ▪ Neste caso, a pessoa jurídica é a responsável pelas obrigações assumidas, estando a responsabilidade do titular limitada ao valor integralizado do capital social, que segundo o art. 980-A do CC, equivale no mínimo a cem vezes o maior salário mínimo vigente. o (iii) Empresários rurais: os empresários rurais, que são pessoas físicas que praticam atividade rural, têm a faculdade (não a obrigação) de sujeitar-se ao regime empresarial, bastando para isso requerem o seu registro de empresa nas Juntas Comerciais. Conforme o art. 971, CC, não há obrigação de registro empresarial do empreendedor rural. ▪ Depois de inscrito, o empresário rural ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário individual sujeito a registro; ▪ Conforme o Enunciado 202 da III Jornada de Direito Civil (CJF), "O registro do empresário ou da sociedade rural na JuntaComercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime jurídico ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção". 4.1.2. Exercício coletivo da atividade econômica empresarial ● As sociedades são definidas sob o pressuposto da pluralidade de sócios, como: o resultado da união de duas ou mais pessoas, naturais ou jurídicas, que, voluntariamente, se obrigam a contribuir, de forma recíproca, com bens ou serviços, para o exercício proficiente de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados auferidos nessa exploração. o Há dois tipos básicos de sociedades: as sociedades simples (que são um exemplo de exercício coletivo de atividade econômica não-empresarial e serão apresentadas na seção 4.2.2) e as sociedades empresárias. Existem, também, as sociedades rurais, que constituem um caso especial. ● Atividades maiores dificilmente podem ser exercidas individualmente, sendo frequente e muito útil a formação de sociedades. Depois de formadas, as sociedades é que assumirão a condição de empresário, na medida em que as obrigações e o risco da empresa serão da sociedade, e não propriamente de seus sócios ou administradores da pessoa jurídica. o Esta pessoa jurídica é um sujeito de direitos autônomo, sendo ela o empresário; o As sociedades empresárias exercem atividade própria de empresário, de acordo com o art. 982, CC. Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. ● Quando a atividade empresarial é exercida coletivamente, ela pode ser exercida por: (i) sociedades empresárias ou (ii) sociedades rurais. o (i) Sociedades empresárias: ▪ Características gerais da sociedade empresária: é uma pessoa jurídica que: ● (a) exerce a atividade de empresário por meio de seus sócios, gerentes e prepostos; ● (b) assume responsabilidade limitada, ou seja, em caso de falência, responde somente com seu capital social, preservando os bens dos sócios; ● (c) tem personalidade jurídica, com registro no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). ▪ Classificação da sociedade empresária quanto à situação tributária / contábil: as sociedades empresárias podem ser (1) microempresa (ME); ou (2) empresa de pequeno porte (EPP). ● (1) Microempresa: de acordo com as características apresentadas no quadro explicativo do início da seção 4. ● (2) Empresa de pequeno porte (EPP): de acordo com as características apresentadas no quadro explicativo do início da seção 4. ▪ Classificação jurídica da sociedade empresária: esta é a classificação mais importante. Juridicamente, as sociedades empresárias podem ser: ● (1) Sociedade Limitada (LTDA); ● (2) Sociedade Anônima (S/A); ● (3) Sociedade em Nome Coletivo (N/C); ● (4) Sociedade em Comandita Simples (SCA); ou ● (5) Sociedade em Comandita por Ações (C/S ou C/A). o Mais detalhes sobre a sociedades serão apresentados no LIVRO II – DIREITO SOCIETÁRIO. o (ii) Sociedades rurais: as sociedades rurais, que são pessoas jurídicas que praticam atividade rural, têm a faculdade (não a obrigação) de sujeitar-se ao regime empresarial, bastando para isso requerem o seu registro de empresa nas Juntas Comerciais. Conforme o art. 971, CC, não há obrigação de registro empresarial da sociedade rural. ▪ Depois de inscrita, a sociedade rural ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária sujeita a registro; ▪ Conforme Enunciado 202 da III Jornada de Direito Civil (CJF), "O registro do empresário ou da sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime jurídico ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção". 4.2. Atividade econômica não-empresarial ● Características gerais: o Visa aos honorários; o Constitui uma relação personalíssima, com o chamado intuito personae; o Também pode ser exercida individualmente ou coletivamente, mas não dispõe de uma organização de atos jurídicos para a produção ou a circulação de bens ou de serviços e, portanto, não configura atividade de empresa. 4.2.1. Exercício individual da atividade econômica não-empresarial ● Quando a atividade não-empresarial é exercida individualmente, ela pode ser exercida por: (i) profissionais liberais; (ii) profissionais autônomos; ou (iii) sociedades individuais de advocatícias. o (i) Profissionais liberais: são aqueles que exercem atividades não empresariais, tais como intelectuais, científicas, literárias ou artísticas, como disposto no art. 966, parágrafo único, CC. ▪ Exemplos: advogado, médico, dentista, nutricionista, contador, escritor, pintor, escultor, ator, etc. Art. 966. (...) Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. o (ii) Profissionais autônomos: são aqueles que exercem atividades de natureza técnica e/ou artesanal. ▪ Exemplos: mecânico, eletricista, carpinteiro, mestre de obras, pescador, agricultor, etc. o (iii) Sociedade Individual Advocatícia (SIA), também chamada de Sociedade Unipessoal Advocatícia (SUA): esta modalidade de atividade não-empresarial foi apenas recentemente incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro. Nela, um único advogado pode constituir uma pessoa jurídica, de acordo com a Lei 13.247/2016. 4.2.2. Exercício coletivo da atividade econômica não-empresarial ● Quando a atividade não-empresarial é exercida individualmente, ela pode ser exercida por: (i) sociedades simples; (ii) cooperativas; (iii) associações ou (iv) fundações privadas. o (i) Sociedade simples: ocorre quando profissionais liberais se associam uns aos outros e constituem uma pessoa jurídica com finalidade de lucro, mas que, apesar disto, não constitui uma atividade empresarial. o (ii) Cooperativas: são organizações constituídas por membros de determinado grupo econômico ou social que objetivam desempenhar, em benefício comum, determinada atividade. São consideradas como análogas às sociedades simples (art. 982, parágrafo único, CC) e, portanto, também são consideradas sociedades (junto com as sociedades empresárias, sociedades simples e sociedades individuais advocatícias (SIA). Art. 982 (...) Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. o (iii) Associações: são organizações resultantes da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos para a realização de um objetivo comum. Embora não visem ao lucro, as associações podem exercer atividade econômica e remunerada (assim como as fundações privadas). Nessa hipótese, inclusive, são consideradas fornecedoras para fins de aplicação do CDC. São disciplinadas pelo art. 53, CC. Não são sociedades. Art. 53. Constituem se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. o (iv) Fundações privadas: são constituídas a partir de um patrimônio ou viabilidade econômica, estabelecendo seu funcionamento e organização através de um Estatuto, que passa a ser a lei que rege as relações jurídicas envolvidas. Embora não visem ao lucro, as fundações privadas podem exercer atividade econômica e remunerada (assim como as associações). Nessa hipótese, inclusive, são consideradas fornecedoras para fins de aplicação do CDC. São disciplinadas pelo art. 62, CC. Não são sociedades. Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá la. ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ // ------------------------Observação: O SIMPLES Nacional. O SIMPLES Nacional é um conjunto de estímulos governamentais nas três esferas políticas da Administração Pública, para simplificação das exigências burocráticas, trabalhistas e tributárias (inclusive com isenção e redução de tributos) para quem se enquadre nos tipos contábeis / tributários MEI (somente empresários individuais), ME (empresários individuais, EIRELI, sociedades simples e sociedades empresárias) ou EPP (empresários individuais, EIRELI, sociedades simples e sociedades empresárias). Além dos parâmetros objetivos (baseados no faturamento bruto anual, FBA); o MEI, a ME e a EPP deverão ser regularmente inscritos no Registro de Empresas (Juntas Comerciais) e serem optantes do SIMPLES Nacional. O SIMPLES Nacional cria uma série de vantagens para os pequenos empresários (MEI) e as microempresas ou empresas de pequeno porte (ME e EPP) que façam a opção de se cadastrar no sistema nessa qualidade, atendidas as exigências da lei complementar nº 123/2006 (alterada pelas LC 128/2008, LC 139/2011 e LC 147/2014). As principais vantagens para as empresas que adiram ao SIMPLES NACIONAL são: ● Isenção ou redução das alíquotas tributárias; ● Cálculo dos tributos com base no lucro presumido; ● Pagamento dos tributos por meio de formulário unificado que aglutina oito tributos em uma única guia de pagamento; ● Desobrigação da realização de reuniões e assembleias em qualquer das situações previstas na legislação civil (art. 70, LCP 123/2006); ● Dispensa da obrigação de publicação de qualquer ato societário (art. 71, LCP 123/2006). Observação: Diferenças entre a abordagem do Direito frente ao agronegócio (ou agroindústria) e à agricultura familiar. Com respeito à atividade econômica rural, há uma diferenciação entre aquilo que é entendido como agronegócio e aquilo que é entendido como agricultura familiar. Somente os agronegócios (ou agroindústrias) podem ser entendidos como atividades econômicas rurais empresárias, ou seja, sujeitas a serem enquadradas no art. 971, CC, tanto como empresários rurais, quanto como sociedades rurais. A agricultura familiar não pode ser enquadrada como atividade econômica rural empresária. ● O agronegócio (ou agroindústria) tem: o Especialização de culturas (commodities); o Grandes áreas de cultivo; o Emprega tecnologia avançada e mão de obra assalariada; o Grande importância econômica; o Inscrevendo-se na Junta Comercial, passa a ser empresário (individual ou sociedade), sujeitando-se às normas de Direito Empresarial, incluindo: ▪ Limitação de responsabilidade patrimonial dos sócios; e ▪ Possibilidade de pedir recuperação judicial e falência. ● A agricultura familiar tem: o Culturas de subsistência ou com pequeno excedente; o Pequenas áreas de cultivo o Trabalham o dono da terra, seus familiares e agregados; o Pequena importância econômica; o Não se inscreve na Junta Comercial e rege-se pelas normas de D. Civil, não podendo limitar sua responsabilidade patrimonial individual ou pedir recuperação judicial e falência. Observação: O “Sistema S”. Sistema S é o nome pelo qual ficou convencionado chamar o conjunto de nove instituições privadas de interesse de categorias profissionais, estabelecidas pela Constituição Brasileira, com base no art. 149, caput, CF. Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, §6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. Estas entidades corporativas são todas voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica. Além de todas terem seu nome iniciado com a letra S, elas todas têm raízes comuns e características organizacionais similares. As empresas pagam contribuições às instituições do Sistema S com base em alíquotas que variam em função do tipo de empresa contribuinte, definido pelo seu enquadramento no código Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS). Em geral, as contribuições incidem sobre a folha de salários das empresas pertencentes à categoria correspondente, sendo descontadas regularmente e repassadas às instituições. Apesar de receberem contribuições por vias estatais, as instituições do Sistema S são instituições privadas. As nove instituições do Sistema S são: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest). ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ Entre as Aulas 6 e 9 serão tratados detalhes a respeito de cada um dos pilares da Teoria da Empresa: (i) a Empresa; (ii) o Empresário (incluindo o regime empresarial e os auxiliares do empresário) e (iii) o Estabelecimento. A Aula 10 tratará do nome empresarial. ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ Aula 6 – 10/08/2016 Programa – Aula 6 5. A empresa 5. A empresa ● Conceito de empresa: empresa é a atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, como também disposto no at. 966, caput, CC. Art. 966. Considera se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. ● Elementos característicos da empresa: dentro do conceito de empresa, há cinco elementos característicos importantes a serem detalhados: o (1) A empresa como uma atividade: a empresa se trata de uma atividade, isto é, do conjunto de atos destinados a uma finalidade comum, que organiza os fatores da produção, para produzir ou fazer circular bens ou serviços. ▪ Não basta um ato isolado, é necessária uma sequência de atos dirigidos a uma mesma finalidade, para configurar a empresa. o (2) A economicidade da empresa: a economicidade da atividade exige que a mesma seja capaz de criar novas utilidades, novas riquezas, afastando-se as atividades de mero gozo. o (3) A organização da empresa: a organização da empresa nada mais é do que é a colação dos meios necessários, coordenados entre si, para a realização de determinada finalidade. o (4) A finalidade da empresa: a empresa deve abranger a produção ou circulação de bens ou serviços para o mercado. ▪ Na produção, tem-se a transformação de matéria-prima; ▪ Na circulação tem-se a intermediação na negociação de bens ▪ Na prestação de serviços, deve-se abarcar toda atividade em favor de terceiros apta a satisfazer uma necessidade qualquer, desde que não consistente na simples troca de bens. o (5) O fato de que a empresa é dirigida ao mercado: só se deve falar em empresa quando a organização for dirigida ao mercado, e não para uso pessoal,34 isto é, deve ser destinada à satisfação de necessidades alheias, sob pena de não configurar empresa. ● Natureza jurídica da empresa: a empresa tem natureza jurídica de fato jurídico, ou de conjunto de atos jurídicos exercidos pelo empresário. o A empresa não possui personalidade jurídica, e nem pode possuí-la e, consequentemente, não pode ser entendida como sujeito de direito, pois ela é a atividade econômica que se contrapõe ao titular dela, isto é, ao exercente daquela atividade, que é o empresário. o A empresa, como atividade, também não pode ser confundida com o complexo de bens por meio dos quais se exerce a atividade, o qual é chamado de estabelecimento. Reforça-se: a empresa não é um local físico. Aulas 7 e 8 –15/08/2016 e 17/08/2016 Programa – Aulas 7 e 8 6. O empresário 6.1. O empresário individual 6.2. A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) 6.3. O regime empresarial6.3.1. O registro das empresas 6.3.1.1. Órgãos do sistema de registro de empresas 6.3.2. A escrituração contábil 6.3.3. A elaboração de demonstrações financeiras periódicas 6.4. Os auxiliares da atividade empresarial 6. O empresário ● Conceito de empresário: o empresário é aquele que exerce a atividade econômica (empresa), como disposto no art. 966, CC. ● Exclusão do conceito de empresário: como já trabalhado na seção 4, o art. 966, parágrafo único, CC, coloca que não se considera como empresário aquele que exerce profissão intelectual, ou seja, nenhum profissional liberal (seção 4.2.1). o Essa exclusão decorre do papel secundário que a organização assume nessas atividades e não apenas de um caráter histórico e sociológico. Nelas o essencial é a atividade pessoal, o que não se coaduna com o conceito de empresário. Art. 966. Considera se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. ● Elementos característicos da condição de empresário: dentro do entendimento da condição de empresário, há cinco elementos característicos importantes a serem detalhados: o (1) A economicidade da condição de empresário: o empresário, enquanto sujeito de direitos que exerce a empresa, desenvolve sempre atividades econômicas, entendidas aqui como a atividade voltada para a produção de novas riquezas. Estas podem advir da criação de novos bens, ou mesmo do aumento do valor dos bens existentes. o (2) A organização exigida pela condição de empresário: é essencial que o empresário seja o responsável pela organização dos fatores da produção para o bom exercício da atividade (empresa). Essa organização deve ser de fundamental importância, assumindo prevalência sobre a atividade pessoal do sujeito. o (3) A profissionalidade exigida pela condição de empresário: só é empresário quem exerce a empresa de modo profissional, ou seja, com estabilidade e habitualidade da atividade exercida. O exercício profissional da empresa tem três características ou peculiaridades: ▪ Deve haver o intuito de lucrar; ▪ A atividade deve se apresentar objetivamente ao mundo exterior com um caráter estável; ▪ Não se exige o caráter continuado, mas deve haver habitualidade na atuação do empresário. o (4) A assunção de risco inerente à condição de empresário: nas atividades econômicas em geral, todos assumem riscos. O empresário, é aquele que assume o risco total da empresa. Não há uma prévia definição dos riscos, eles são incertos e ilimitados. Ademais, para o empresário, o risco da atividade não é garantido por ninguém. o (5) O direcionamento ao mercado inerente à condição de empresário: é essencial na caracterização de um empresário que sua atividade seja voltada à satisfação de necessidades alheias. O empresário deve desenvolver atividade de produção ou circulação de bens ou serviços para o mercado, e não para si próprio. ● Natureza jurídica do empresário: o empresário tem natureza jurídica de titular de direitos, ou sujeito de direitos, ou seja, possui personalidade (de pessoa física ou pessoa jurídica). ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ Como abordado na seção 4.1, as características gerais da atividade econômica empresarial são de que (A) ela visa ao lucro; (B) ela constitui uma relação despersonalizada; e (C) ela pode ser exercida individualmente ou coletivamente. Quando ela é exercida individualmente, pode ser na forma (i) de empresário (ou empreendedor) individual; (ii) de empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI); ou de (iii) empresário rural. Quando ela é exercida coletivamente, pode ser na forma de (iv) sociedades empresárias ou (v) sociedades rurais. Tudo que era relevante a respeito dos empresários e sociedades rurais já foi abordado na seção 4. Quanto às sociedades empresárias, estas serão assunto central do LIVRO II – DIREITO SOCIETÁRIO e não serão abordadas fortemente abordadas nesta seção. Esta seção número 6 abordará com maior detalhamento o empresário individual, na seção 6.1, e a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), na seção 6.2. Depois, na seção 6.3., será apresentada uma explanação a respeito do regime empresarial, seguida por uma discussão a respeito dos auxiliares do empresário, na seção 6.4. ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ // ------------------------ 6.1. O empresário individual ● Conceito de empresário individual: e empresário individual, também chamado de empreendedor individual (ou firma individual, antes da vigência do CC/2002), é a pessoa física que exerce a empresa em seu próprio nome, assumindo todo o risco da atividade. É a própria pessoa física que será o titular da atividade. o Ainda que lhe seja atribuído um CNPJ próprio, distinto do seu CPF, não há distinção entre a pessoa física em si e o empresário individual. ● Características gerais do empresário individual: o (a) é uma pessoa física; o (b) exerce pessoalmente a atividade de empresário; o (c) assume responsabilidade ilimitada, ou seja, em caso de falência, responde com seus bens pessoais; o (d) não tem personalidade jurídica, ou seja, mesmo tendo registro no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), não é considerado pessoa jurídica, estando inscrito somente para recolhimento de tributos, de acordo com as alíquotas asseguradas às pessoas jurídicas, como incentivo à atividade empresarial. ● Limitação dos riscos do empresário individual: o Brasil ainda não tem instrumentos de limitação dos riscos da atividade exercida pelo empresário individual, assim, como abordado nas características gerais, todo o patrimônio do empresário individual se vincula pelo exercício da atividade. o O art. 978, CC, já prevê uma certa distinção patrimonial, permitindo que imóveis ligados ao exercício da empresa sejam alienados sem a outorga conjugal. Todavia, essa é a única regra que se apresenta nesse sentido, não havendo ainda instrumentos de destaque patrimonial para o exercício da atividade pelo empresário individual. o A atividade empresarial, como se sabe, é uma atividade de risco, à qual fica sujeito todo o patrimônio do empresário individual, ressalvados os bens absolutamente impenhoráveis. Havendo insucesso na atividade, o empresário poderá ser reduzido à insolvência e, eventualmente, ter sua falência decretada, tutelando-se o crédito. ● Capacidade do empresário individual: para os atos da vida em geral, a pessoa deve ter capacidade, no sentido jurídico, ou seja, deve ser dotada de vontade e de discernimento para exercer os atos por si só. Com o empresário não é diferente. O empresário individual deve exercer a atividade, a princípio, em seu próprio nome, assumindo obrigações e adquirindo direitos em decorrência dos atos praticados. o Se adquire a capacidade empresarial plena aos 18 anos de idade, nos termos do art. 5º, CC, ou com a emancipação (nos termos do artigo 5º, parágrafo único, CC). o Apenas para o início das atividades é essencial a capacidade plena (ou, ao menos, a idade de 16 anos, no caso da emancipação). Todavia, o incapaz, menor de 16 anos ou até o interdito, desde que devidamente representado ou assistido, pode continuar o exercício de atividade que já vinha sendo exercida por ele, enquanto capaz, ou por seus pais, ou pelo autor da herança (de acordo com o art. 974, CC). ▪ Esta possibilidade se justifica pelo princípio da preservação da empresa, tentando evitar a extinção desta, preservando empregos e interesses do fisco e da comunidade. O fim da atividade pode ser mais danoso do que a continuação dela, ainda que com um incapaz. ▪ Nesse caso, a continuação da atividade será necessariamente precedida de autorização judicial, que analisaráos riscos da empresa, bem como a conveniência de continuá-la. ▪ Dentro dessa mesma ideia, o mesmo artigo prevê a possibilidade de nomeação de gerentes em qualquer caso que o juiz entenda ser conveniente. Ora, permitindo a continuação da empresa com incapazes, para preservar a empresa e os interesses que a circundam, devem-se tomar todas as medidas que se apresentarem convenientes para a melhor condução da empresa, como a nomeação de gerentes. ● Havendo a nomeação de gerentes, caberá a estes o uso da firma, nos termos do art. 976, parágrafo único, CC, tal condição permitirá que o gerente pratique os atos normalmente, com a celeridade que a atividade empresarial exige. Para mais informações sobre o gerente, que é um auxiliar do empresário, ver seção 6.4. ▪ Em termos de limitação da responsabilidade patrimonial, o Código Civil criou um destaque patrimonial (art. 974, §2º, CC) para proteger o incapaz que vai à falência em uma atividade empresarial. ● Nestes casos, os incapazes respondem pelos resultados da atividade empresarial com aqueles bens ligados a ela, sendo imunes os bens que o incapaz já possuía ao tempo da interdição ou da sucessão, desde que estranhos à empresa. ● Proibições ou restrições à atividade empresarial: podem haver proibições ou restrições à atividade empresarial., ambas impedindo ou podendo impedir o exercício da empresa. De acordo com o art. 973, CC, se uma pessoa legalmente impedida exercer a empresa, ela mesmo assim responderá pelas obrigações contraídas. Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas. o Proibições: decorre, principalmente, da exclusividade e da dedicação que os cargos públicos exigem. ▪ Servidores públicos federais: não podem ser empresários individuais, nem exercer cargo de administração em sociedades, mas podem ser quotistas, acionistas ou comanditários de sociedades. ● Caso o servidor esteja no gozo de licença para tratar de interesses particulares, o impedimento não mais subsiste, ressalvando-se, contudo, a legislação sobre conflito de interesses. ▪ Magistrados, membros do Ministério Público ou militares da ativa: não podem ser empresários individuais, nem exercer cargo de administração em sociedade, mas podem ser quotistas ou acionistas. ▪ Os falidos: os falidos são impedidos de serem empresários individuais, não havendo qualquer vedação quanto à condição de sócios ou acionistas. ● Isto se dá porque os falidos não teriam a idoneidade necessária para exercer regularmente a atividade empresarial, sendo a vedação uma proteção para a comunidade em geral. ▪ Condenados por crimes falimentares: desde que a proibição conste da sentença de condenação. o Restrições: ▪ Deputados e senadores: na medida em que a CF lhes proíbe a condição de proprietários, controladores ou administradores, ou o exercício de qualquer função remunerada em empresas que gozem de favor decorrente com pessoa jurídica de direito público (art. 55, I, CF). ● Requisitos legais mínimos para o exercício da profissão de empresário: com base no art. 972, CC, os Requisitos legais mínimos para o exercício da profissão de empresário são: o (i) Estar em pleno gozo da capacidade civil; o (ii) Não ser legalmente impedido. ● Dualidade de regimes jurídicos de insolvência: no Brasil, se diz que há uma dualidade de regimes jurídicos de insolvência, sendo um destinado aos empresários, chamado de falência, e outro destinado às demais pessoas, chamado insolvência civil. o Falência: a falência é o estado em que um devedor possui mais dívidas do que o montante dos bens que possui, não tendo condições de pagar todos os seus credores. Se o empresário está insolvente, ele será submetido ao juízo falimentar, que é da esfera do Direito Empresarial e é regido pela Lei de falências (Lei nº 11.101/2005). o Insolvência civil: se uma pessoa não-empresária está insolvente ele será submetido ao juízo cível. A pessoa está em insolvência quando é devedora e tem prestações a cumprir de valores superiores aos rendimentos que recebe. ▪ A apresentação da insolvência civil na legislação é feita no art. 792, IV. ● Aspectos importantes a respeito do empresário individual casado: o Possibilidade de alienação dos imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou de gravação de ônus real: ▪ De acordo com o art. 1647, I, CC, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta, alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; ▪ Contudo, no caso específico do empresário individual casado, este poderá, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real, de acordo com o art. 978, CC, que tem uso prioritário com relação ao empresário em razão do critério da especialidade para solução do conflito de antinomias. Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá los de ônus real. o Regimes de bens no casamento que vedam aos cônjuges serem sócios em uma mesma sociedade, entre si ou com terceiros: ▪ Cônjuges podem constituir uma sociedade desde que não sejam casados (i) no regime de comunhão universal de bens ou (ii) no regime de separação obrigatória de bens. ● Do ponto de vista patrimonial, ao se casarem com comunhão universal de bens, o casal passa a ser um único indivíduo, o que impossibilitaria que os cônjuges fossem sócios, dado que “são um só”, como um meio de prevenção a fraudes; ● Em relação à separação obrigatória (legal) de bens (quando, por exemplo, alguém com mais de 70 anos se casa com alguém mais novo), a proibição à constituição de sociedade entre os cônjuges se dá como um meio de impedir que a sociedade seja utilizada como um meio para unir os patrimônios em uma situação que a lei designa que os patrimônios devam ser separados. Art. 977. Faculta se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. 6.2. A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) ● Conceito de EIRELI: a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) é uma categoria empresarial criada em 2011 que permite a constituição de uma empresa com apenas um sócio, que é o próprio empresário, como disposto no art. 980-A, caput, CC. o A EIRELI permite a separação entre o patrimônio empresarial e privado. Ou seja, caso o negócio contraia dívidas, apenas o patrimônio social da empresa será utilizado para quitá-las, exceto em casos de fraude. ▪ Isso é garantido pela exigência de um capital social mínimo de 100 vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no país, no momento do registro da empresa. o A EIRELI foi feita para ser uma opção viável para a pessoa física que queira exercer a atividade empresarial sem comprometer todo o seu patrimônio pessoal. Art. 980 A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) ● Características gerais da EIRELI: o (a) o empresário, mesmo individual, adquire personalidade jurídica; o (b) o exercício da atividade empresarial é feito, portanto, por uma pessoa com responsabilidade limitada (pessoa jurídica), sem comprometer o patrimônio pessoal do empresário; o (c) a EIRELI não é uma sociedade, mas um novo ente jurídico personificado. De acordo com o Enunciado 3 da I Jornada de Direito Comercial: “A EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária”; o (d) o nome da EIRELI pode ser tanto uma firma social (ou razão social) quanto uma denominação social (para mais detalhes sobre estes conceitos, ver seção 7), sempre seguidas da própria expressão
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