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Direito Empresarial - Societário - 2-2016 - Notas de Aula - Caio docx

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Direito Empresarial – Parte Geral e Direito Societário
Prof. Miguel Roberto da Silva
Bibliografia
Básica:
● CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito Empresarial Esquematizado. São
Paulo. Saraiva.
● COELHO, Fábio Ulhoa.
o Manual de Direito Comercial. São Paulo. Saraiva.
o Curso de Direito Comercial. Vol.1. São Paulo. Saraiva.
o Curso de Direito Comercial. Vol. 2. São Paulo. Saraiva.
● TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 1. São Paulo. Atlas.
Complementar:
● DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 8. Direito de
Empresa. São Paulo. Saraiva.
● FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. São Paulo. Atlas.
● MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro. Forense.
● NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. Vol. 1. São
Paulo. Saraiva.
● RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São
Paulo. Gen-Método.
● REQUIÃO, Rubens.
o Curso de Direito Comercial. Vol. 1. São Paulo. Saraiva.
o Curso de Direito Comercial. Vol. 2. São Paulo. Saraiva.
Avaliação
Duas provas, somente.
● Datas
o Primeira Prova – 26/09/2016
o Segunda Prova – 21/11/2016
● Tipo de avaliação
o Objetiva com 1 ou 2 questões subjetivas
o Não há consulta
o Se a prova for primariamente subjetiva, será possível utilizar código
Sumário
1. Escolas do pensamento econômico 5
1.1. Capitalismo versus socialismo pelo ponto de vista econômico 5
1.2. Organização econômica das sociedades de consumo 6
1.3. A situação do Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo estatal 6
2. Evolução histórica do comércio 9
2.1. A acepção econômica e a acepção jurídica de comércio 9
2.2. Principais características da atividade comercial 9
2.3. Fases da evolução histórica do Direito Comercial / Empresarial 9
3. Características gerais do Direito Empresarial 15
3.1. O Direito Empresarial como ramo do Direito privado 16
3.2. Diferenças entre Direito Empresarial, o Direito Econômico e o Direito do
Consumidor 16
3.3. Discussão a respeito da autonomia do Direito Empresarial em relação ao Direito
Civil: autonomistas versus antiautonomistas 17
3.3.1. A corrente antiautonomista 17
3.3.2. A corrente autonomista 18
3.4. Fontes do Direito Empresarial 19
3.5. Diferenças entre as normas de comércio internacional e as normas de comércio
exterior do Brasil 20
3.5.1. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) 21
4. Exercício da atividade econômica 23
4.1. Atividade econômica empresarial 24
4.1.1. Exercício individual da atividade econômica empresarial 24
4.1.2. Exercício coletivo da atividade econômica empresarial 26
4.2. Atividade econômica não-empresarial 27
4.2.1. Exercício individual da atividade econômica não-empresarial 28
4.2.2. Exercício coletivo da atividade econômica não-empresarial 28
5. A empresa 32
6. O empresário 33
6.1. O empresário individual 35
6.2. A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) 39
6.3. Regime empresarial 41
6.3.1. O registro das empresas 41
6.3.2. A escrituração contábil 44
6.3.3. A elaboração de demonstrações contábeis periódicas 48
6.4. Auxiliares do empresário 49
7. O estabelecimento 51
7.1. Disposições gerais sobre o estabelecimento 53
7.2. Ponto comercial 56
8. O nome empresarial 58
9. Ciclo de vida da pessoa jurídica 60
10. Introdução ao Direito societário 62
10.1. Personificação das sociedades 62
10.2. Classificações das sociedades 63
10.3. Desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) 66
10.4. Princípio da titularidade negocial 67
10.5. Teoria Ultra Vires (“além dos seus limites de poder”) 68
10.6. Teoria da aparência 69
11. Sociedades não-personificadas 70
11.1. Sociedades em comum (arts. 986 a 990, CC) 70
11.2. Sociedades em conta de participação (SCP - arts. 991 a 996, CC) 72
12. Sociedades personificadas 75
12.1. Sociedades simples 76
12.2. Sociedades em nome coletivo (N/C) 79
12.3. Sociedade Comandita Simples (C/S) 82
12.4. Sociedade Comandita por Ações (C/A) 85
12.5. Sociedade limitada (LTDA) 88
12.5.1. Disposições gerais e das quotas 88
12.5.2. Administração e Conselho fiscal 91
12.5.3. Deliberações dos sócios 95
12.5.4. Aumento e diminuição do capital 98
12.5.5. Resolução da sociedade 98
12.6. Sociedade Anônima (S/A) 107
12.6.1. Valores mobiliários nas empresas de capital aberto 113
12.6.2. Nacionalização e a diferença entre empresa nacional e empresa estrangeira
115
12.6.3. Governança corporativa 116
13. Reestruturação empresarial 120
13.1. Transformação 120
13.2. Concentração 120
13.3. Desconcentração 121
14. Coligação de sociedades 124
15. Grupo de sociedades 125
16. Holding 125
17. Consórcio 126
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------ LIVRO I - TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL ------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Aulas 1 e 2 – 25/07/2016 e 27/07/2016
Programa – Aulas 1 e 2
1. Escolas do pensamento econômico
1.1. Capitalismo versus socialismo pelo ponto de vista econômico
1.2. Organização econômica das sociedades de consumo
1.3. A situação do Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo estatal
1. Escolas do pensamento econômico
1.1. Capitalismo versus socialismo pelo ponto de vista econômico
● Capitalismo: do ponto de vista econômico, o capitalismo é marcado pelo
liberalismo, pensamento econômico alinhado com a intervenção mínima do
Estado na economia e com a valorização do livre mercado. Em geral, é
associado ao pensamento “de direita”, que busca conservar a ordem vigente,
ou, pelo menos, coordenar as mudanças de modo que não ocorram
bruscamente.
o Este pensamento é marcado pela menor intervenção estatal na vida
individual e pelo controle do mercado por uma “mão invisível”, segundo
as teorias de estado mínimo de Adam Smith, o que significa que o
mercado se autorregularia, sem a necessidade da intervenção estatal.
o Um pensamento recorrente no Capitalismo é a ideia de meritocracia.
o A sociedade que o Capitalismo gera é chamada de sociedade de
consumo, pois se baseia nas trocas mercantis e produção de bens
econômicos, voltados para o consumo da população e para a circulação
de riquezas.
o O capitalismo é um sistema que se desequilibra facilmente, seja por
excesso ou falta de intervenção ou regulação estatal, mas, a cada crise
econômica, ele volta mais reestruturado.
▪ A reestruturação mais atual do liberalismo capitalista é chamada
de neoliberalismo, que é uma corrente ainda marcada pela não
intervenção estatal, mas que flexibiliza o pensamento clássico
de Adam Smith ao reconhecer que o Estado é útil como
regulador da economia, dado que, nem sempre, a “mão
invisível” é capaz de coibir abusos e injustiças no âmbito do
mercado.
● Socialismo: do ponto de vista econômico, o socialismo é mercado pelo
intervencionismo estatal, pensamento econômico alinhado com a concepção
de que o Estado deve ser um garantidor dos direitos de 1ª, 2ª e 3ª gerações.
Em geral, é associado ao pensamento “de esquerda”, que busca a inversão da
ordem vigente, com os trabalhadores (proletariado, na visão de Karl Marx)
passando a dominar os meios de produção.
o Este pensamento é marcado pela ideia de que o Estado é o único
capaz de garantir o bem-estar dos indivíduos, sob a tutela da teoria do
estado do bem-estar social (ou Welfare State).
o Para esta linha de pensamento, o mercado, em última análise, não
deve existir.
o Pensamentos recorrentes no Socialismo são as ideias de dirigismo,
coletivismo e controle dos freios de produção pelo Estado, que, na
crítica do Capitalismo, frequentemente descamba para o autoritarismo.
1.2. Organização econômica das sociedades de consumo
● Os agentes econômicos da sociedade deconsumo (sociedade
economicamente estruturada) são:
o Estado: responsável por fazer as leis e recolher os tributos, com vistas
a fornecer, em graus variados, de acordo com a corrente econômica,
acesso à segurança, saúde, educação, previdência e assistência;
o Empresa: responsável pelos modos de produção que abastecem a
sociedade;
o Famílias (indivíduos): responsáveis pelo consumo e manutenção do
funcionamento dos outros dois agentes econômicos.
1.3. A situação do Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo estatal
● A Constituição Federal de 1988, entre seus arts. 170 e 175, aponta alguns
princípios que posicionam o Brasil entre o liberalismo e o intervencionismo
estatal. São eles:
o (1) A valorização do trabalho, a justiça social, a existência digna (as três
mais alinhadas com o pensamento “de esquerda”) e a livre iniciativa
(alinhada com o pensamento “de direita”);
▪ Uma decorrência prática deste pensamento mais alinhado com a
esquerda dentro deste ponto é a previsão do salário mínimo,
que nada mais é do que uma forma de controle estatal que vai
contra a “mão invisível”.
o (2) Propriedade privada (alinhada com o pensamento “de direita”);
o (3) Função social da propriedade (alinhada com o pensamento “de
esquerda”);
o (4) Livre concorrência (alinhada com o pensamento “de direita”), que
garante o livre mercado e visa restringir os monopólios e oligopólios
▪ Uma decorrência prática deste pensamento é a lei 12.529/2011,
a lei de Livre concorrência, que regulamenta o SBDC (Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência) e coloca o CADE
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica), uma autarquia
federal, vinculada ao Ministério da Justiça, como um de seus
órgãos. As atribuições do CADE também estão descritas nesta
lei.
o (5) Defesa do consumidor
▪ Uma decorrência prática deste princípio é a lei 8.078/90,
chamada Código de Defesa do Consumidor (CDC), que institui
os Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas
Especializadas para a solução de litígios de consumo.
● O consumidor, neste caso, é entendido como um ser
hipossuficiente, vulnerável, nas relações de mercado de
consumo, tanto economicamente quanto técnica e
juridicamente.
● Os arts. 12 e 14 do CDC trazem uma importante
inovação a respeito da responsabilidade objetiva dos
fornecedores para com os consumidores, que constitui
uma importante exceção à regra da responsabilidade
subjetiva do Direito Civil.
o (6) Defesa do meio ambiente
▪ Uma decorrência prática deste princípio é a lei 9.605/98,
chamada lei de crimes ambientais, que permitiu que pessoas
jurídicas sejam partes (inclusive réus) em litígios. O Ministério
Público (MP) passou a poder processar a própria pessoa jurídica
e seus diretores.
o (7) Redução das desigualdades religiosas e sociais (alinhada com o
pensamento “de esquerda”);
o (8) Tratamento da diferenciação entre empresa e microempresa
▪ Uma decorrência prática deste tratamento diferenciado é lei
complementar (LCP) 123/2006, chamada Estatuto das micro e
pequenas empresas;
▪ Outra decorrência prática importante é a criação do modelo
tributário do SIMPLES Nacional, que simplifica a carga tributária
e a burocracia requerida de empresas de menor porte e facilita a
vida de quem quer começar um empreendimento.
● De acordo com os arts. 173 e 174, CF/88, o Estado tem duas formas principais
de intervenção na economia:
o Intervenção direta (art. 173, CF): nesta modalidade, o Estado age
como empresário. Ela só é possível quando necessária aos imperativos
da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo.
▪ Exemplo: as sociedades de economia mista (capital social
público e privado) e as empresas públicas (capital somente
público) são exemplos de questões que o Estado pode
considerar de relevante interesse coletivo.
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será
permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em
lei.
o Intervenção indireta (art. 174, CF): nesta modalidade, o Estado pode
atuar como agente normativo e regulador da atividade econômica.
▪ Exemplo: as agências reguladoras de determinados setores da
economia, como a ANATEL, na telefonia, ANEEL, na energia e o
CADE, nas relações comerciais.
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade
econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de
fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para
o setor público e indicativo para o setor privado.
Aula 3 – 01/08/2016
Programa – Aula 3
2. Evolução histórica do comércio
2.1. A acepção econômica e a acepção jurídica de comércio
2.2. Principais características da atividade comercial
2.3. Fases da evolução histórica do Direito Comercial / Empresarial
2. Evolução histórica do comércio
2.1. A acepção econômica e a acepção jurídica de comércio
● Acepção econômica: o comércio é uma atividade de intermediação com o
intuito de lucro.
● Acepção jurídica: o comércio é uma atividade de intermediação com o intuito
de lucro, exercida com habitualidade.
2.2. Principais características da atividade comercial
● As três principais características da atividade comercial, desde seus
primórdios, são:
o Intermediação: a atividade comercial é uma atividade de intermediação
porque há uma interposição de atividades entre produtores e
consumidores. Há uma troca entre aquele que produz e aquele que
consome.
o Habitualidade: a atividade comercial deve ser exercida com
profissionalismo, ou seja, de maneira reiterada.
o Intuito de lucro: a atividade comercial deve ser exercida com o intuito
de lucrar, ou seja, se conta com o aumento de valor das mercadorias
quando da interposição com habitualidade. A mera troca de
mercadorias não constitui comércio.
2.3. Fases da evolução histórica do Direito Comercial / Empresarial
● Primeira fase – Sistema subjetivo corporativista (lex mercatoria)
o Contexto histórico: no fim da Idade Média, por volta dos séculos XI e
XII, coma crise do sistema feudal estamental e a reabertura das vias
comerciais do Norte e do Sul da Europa, ocorre significativa migração
do campo, formando-se cidades (burgos) como centros de consumo, de
troca e de produção industrial.
▪ Esse desenvolvimento da atividade comercial trouxe à tona a
insuficiência do direito civil para disciplinar os novos fatos
jurídicos que se apresentavam.
● A disciplina estatal era baseada na prevalência da
propriedade imobiliária, estática e cheia de obstáculos
para sua circulação. Em função disso, impõe-se o
surgimento de uma nova disciplina especial,
essencialmente baseada em costumes: o direito
comercial, destinado a regular esses novos fatos que se
apresentam.
o Desenvolvimento: a desorganização do Estado medieval fez com que
os comerciantes (burgueses, pois viviam nos burgos) se unissem em
corporações (ou guildas) para exercitarem mais eficazmente a
autodefesa.
▪ O poder econômico e militar de tais corporações era tão grande
que foi capaz de operar a transição do regime feudal para o
regime das monarquias absolutas.
▪ Os grandes comerciantes, organizados em corporações,
passam a constituir a classe econômica e politicamente
dominante.
o O Direito Comercial da época: nesse primeiro momento, o direito
comercial podia ser entendido como o direito dos comerciantes, vale
dizer, o direito comercial disciplinava as relações entre os comerciantes.
Eram, inicialmente, normas costumeiras, aplicadas por um juiz eleito
pelas corporações, o cônsul, e só valiam dentro da própria corporação.
▪ Posteriormente, no seio de tais corporações, surgem também
normas escritas para a disciplina das relações entre
comerciantes. Essas normas escritas, juntamente com os
costumes, formaram os chamados estatutos das corporações,
fonte primordial do direito comercial em sua origem.
▪ Tratava-se, segundo Marlon Tomazette, de “um direito criado
pelos mercadores para regular as suas atividades profissionais e
por eles aplicado”, assim, tratava-se de um direito
eminentementeprofissional e de caráter privado.
● Não há que se falar, neste primeiro momento do direito
comercial, em contribuição doutrinária para a formação
do direito comercial.
● Diz-se sistema subjetivo, pois a concepção passa a ser
centrada em um sujeito, o comerciante, que é aquele
que exerce atividade econômica organizada com o intuito
de lucrar.
● A criação pelos próprios comerciantes e sua aplicação a
eles próprios caracterizaram a chamada lex mercatoria.
Observação: Lex mercatoria. A lex mercatoria foi um sistema jurídico
desenvolvido pelos comerciantes da Europa medieval, que se aplicou aos
comerciantes e marinheiros de todos os países do mundo até o século XVII. Não era
imposta por uma autoridade central, mas evoluiu a partir do uso e do costume, à
medida que os próprios mercadores criavam princípios e regras para regular suas
transações. Este conjunto de regras era comum aos comerciantes europeus, com
algumas diferenças locais. O direito comercial internacional moderno deve alguns de
seus princípios fundamentais à Lex mercatoria desenvolvida na Idade Média, como a
escolha de instituições e procedimentos arbitrais, de árbitros e da lei aplicável e o seu
objetivo de refletir os costumes, uso e boa prática entre as partes. Muitos dos
princípios e regras da Lex mercatoria foram incorporados aos códigos comerciais e
civis a partir do início do século XIX.
Observação: Critérios para aplicação do direito comercial da lex mercatoria.
Sendo o sistema da época um sistema subjetivo, os dois critérios verificados para
aplicação do direito comercial eram (i) o critério corporativo e (ii) a ligação da
atividade com o exercício do comércio. Segundo o critério corporativo, se o sujeito
fosse membro de determinada corporação de ofício (guilda), o direito a ser aplicado
seria o daquela corporação, ou seja, era a matrícula na corporação que atraía o direito
costumeiro e a jurisdição consular.
● Segunda fase – Sistema objetivo dos atos de comércio
o Contexto histórico: na Idade Moderna, houve um movimento de
centralização monárquica, de modo que os comerciantes deixam de
ser os responsáveis pela elaboração do direito comercial. Esta tarefa
passa a ficar nas mãos do próprio Estado. Passa-se, portanto, à
estatização do direito comercial.
o Desenvolvimento:
▪ Os motivos dessa evolução do direito comercial são:
● (i) a necessidade de superar a estrutura corporativa do
direito comercial, como direito ligado às pessoas que
pertenciam a determinada classe; e
● (ii) a necessidade de aplicar as normas mercantis nas
relações entre comerciantes e não comerciantes.
▪ O Código Napoleônico de 1807 marca o início dessa nova fase
do direito comercial, na medida em que acolheu a teoria dos
atos de comércio. Esta teoria era marcada por:
● Estender a jurisdição comercial a quaisquer pessoas
que praticassem atos comerciais, independentemente de
suas qualificações pessoais (ou seja,
independentemente de serem comerciantes ou não)
● Disciplinar uma série de atos da vida econômica e
jurídica, que não eram exclusivos dos comerciantes, mas
que necessitavam das mesmas características do direito
mercantil. Estas características eram:
o Facilidade de prova;
o Prescrição breve;
o Rapidez processual e
o Competência técnica dos juízes.
o O Direito Comercial da época: nesse segundo momento, o direito
comercial passa a ser o direito dos atos de comércio, praticados por
quem quer que seja, independentemente de qualquer qualificação
profissional, ou participação em corporações.
▪ Tenta-se, com ele, atingir a principal aspiração do direito
mercantil, que é a de disciplinar todos os atos constitutivos da
atividade comercial.
▪ No Brasil, a concepção objetiva foi acolhida, com as devidas
adaptações, pelo Código Comercial de 1850. Não havia,
contudo, nenhuma definição do que seriam os atos de comércio,
mas inúmeros dispositivos demonstravam a inspiração deste
Código pelo sistema objetivo.
Observação: Os atos de comércio. Os atos de comércio, por natureza, “são os
negócios jurídicos referentes diretamente ao exercício normal da indústria mercantil”.
São aqueles atos, nos quais pelo menos uma das partes atua como comerciante, no
exercício da profissão. São traços característicos dos atos de comércio por natureza
(ou subjetivos), os já comentados (i) habitualidade; (ii) intuito de lucro e (iii)
intermediação.
● Terceira fase – Sistema subjetivo moderno e a Teoria da Empresa
o Contexto histórico: o sistema objetivo sempre foi objeto de duras
críticas, as quais foram pouco a pouco ganhando força e levaram à sua
substituição. O problema fundamental era de que era impossível, do
ponto de vista conceitual, abarcar (como pretendia o direito objetivo)
numa unidade os atos ocasionais e aqueles que representam uma
atividade profissional e, por isso, exigiriam o tratamento específico.
o Desenvolvimento: mesmo antes de qualquer positivação de um novo
regime, isto é, mesmo na vigência plena do Código Comercial de 1850,
já houve um grande movimento no sentido de uma nova concepção do
direito comercial no Brasil. Esse movimento foi extremamente
influenciado pela nova concepção do direito comercial como direito
das empresas, com a unificação dos Códigos Civil e Comercial
promovida pelo Código Civil italiano de 1942, elaborado durante o
regime fascista de Mussolini.
o O Direito Comercial da época: a crise do sistema objetivo deu origem
aos novos contornos do direito comercial. Desloca-se o centro de cada
ato individual de comércio e passa-se a focar na atividade econômica
como um todo, com base na chamada Teoria da Empresa, ou Teoria
da Firma.
▪ Unem-se, assim, as ideias do ato de comércio e do comerciante
numa realidade mais dinâmica, a da atividade econômica, isto
é, o conjunto de atos destinados a um fim, que era a satisfação
das necessidades do mercado geral de bens e serviços.
▪ Diz-se sistema subjetivo moderno, pois a concepção volta a ser
centrada em um sujeito (como era na primeira fase), mas esse
sujeito já não é mais o comerciante, e sim o empresário, que é
aquele que exerce atividade econômica organizada para a
produção ou circulação de bens ou serviços para o mercado.
● É por isso que hoje já se usa muito menos a expressão
“Direito comercial”, mas sim Direito empresarial, o
direito das empresas.
▪ No Brasil, o Código Civil de 2002 trata, no seu Livro II, Título I,
do "Direito de Empresa". Com isto, desaparece oficialmente,
no país, a figura do comerciante, que dá lugar à figura do
empresário.
● Ao disciplinar o direito de empresa, o direito brasileiro
afasta-se, definitivamente, da ultrapassada teoria dos
atos de comércio, e incorpora a teoria da empresa ao
ordenamento jurídico, adotando o conceito de
empresarialidade para delimitar o âmbito de incidência
do regime jurídico empresarial.
o Conceito de Empresarialidade: é o termo
utilizado para exprimir, em uma ideia geral e
abstrata, tudo aquilo que é próprio da empresa. A
empresarialidade é o limite do âmbito de
incidência do regime jurídico empresarial.
Observação: A Teoria da Empresa ou Teoria da Firma. A Teoria da Empresa não
tem como objetivo definir a empresa do ponto de vista jurídico ou contábil, mas
entende-la como uma unidade técnica de produção, propriedade de indivíduos,
que compram fatores de produção para produção de bens e serviços. Os fatores
de produção, essencialmente, são cinco: (i) o capital; (ii) o trabalho; (iii) os insumos;
(iv) a tecnologia e (v) a gestão.
Os três pilares da Teoria da Empresa (ou Teoria da Firma), que também são
os chamados elementos integrantes da empresarialidade, são:
o Empresário: é aquele que exerce a atividade econômica (empresa). O
empresário tem natureza jurídica de titular de direitos, ou sujeito de
direitos, ou seja, possui personalidade (de pessoa física ou pessoa
jurídica), como disposto no art. 966, CC, e no art. 966, parágrafo único,
CC.
Art. 966. Considera se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se consideraempresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.
o Empresa: é a atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços, como também disposto no at. 966,
caput, CC. A empresa tem natureza jurídica de fato jurídico, ou de
conjunto de atos jurídicos exercidos pelo empresário.
Art. 966. Considera se empresário quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação
de bens ou de serviços.
o Estabelecimento: é o conjunto de bens que o empresário utiliza para
exercer a atividade econômica (empresa), como disposto no art. 1142,
CC. O estabelecimento tem natureza jurídica de objeto do direito.
Art. 1.142. Considera se estabelecimento todo complexo de bens
organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por
sociedade empresária.
● Cada um destes elementos da Teoria da Empresa será discutido
separadamente mais à frente, depois que forem trabalhados os conceitos
basais do Direito Empresarial moderno, bem como as fontes do Direito
Empresarial.
Observação: A localização da legislação comercial brasileira. O atual Código
Civil (CC/2002) não concentra toda a disciplina jurídica comercial brasileira, que está
espalhada por uma série de outras leis ordinárias e complementares, como a LCP
123/2006, chamada Estatuto das micro e pequenas empresas, a lei 8.078/90,
chamada Código de Defesa do Consumidor (CDC), a lei 8.245/91, chamada Lei de
Locações, e a lei 6.404/76, chamada Lei das Sociedades por Ações, dentre diversas
outras.
Aula 4 – 03/08/2016
Programa – Aula 4
3. Características gerais do Direito Empresarial
3.1. O Direito Empresarial como ramo do Direito privado
3.2. Diferenças entre Direito Empresarial, o Direito Econômico e o Direito do
Consumidor
3.3. Discussão a respeito da autonomia do Direito Empresarial em relação ao
Direito Civil: autonomistas versus antiautonomistas
3.3.1. A corrente antiautonomista
3.3.2. A corrente autonomista
3.4. Fontes do Direito Empresarial
3.5. Diferenças entre as normas de comércio internacional e as normas de
comércio exterior do Brasil
3.5.1. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS)
3. Características gerais do Direito Empresarial
● Conceito de Direito Empresarial: é o direito que regula a atividade
empresarial e todos os atos que normalmente são praticados no exercício
dessa atividade (empresa).
o O objeto de estudo do Direito empresarial, portanto, é a atividade
empresarial e todos os atos que normalmente são praticados no
exercício dessa atividade.
● Competência para legislar sobre Direito Empresarial: de acordo com o art.
22, I, CF/88, a competência para legislar sobre Direito Comercial / Empresarial
é privativa da União.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
● Divisão do Direito Empresarial: muitas são as classificações que divide o
Direito Empresarial. Tomazette propõe a seguinte classificação didática:
o (1) Teoria geral do direito empresarial: abrange o estudo dos conceitos
básicos de empresa, empresário, estabelecimento e todos os seus
elementos;
o (2) Direito societário: abrange o estudo das diversas sociedades;
o (3) Direito cambiário: abrange o estudo dos títulos de crédito;
o (4) Direito falimentar: abrange o estudo da falência e dos meios de
recuperação empresarial, além das intervenções e liquidações
extrajudiciais;
o (5) Contratos empresariais: abrange o estudo dos contratos
interempresariais e os contratos voltados para a organização da
atividade empresarial.
Observação: esta disciplina abrange as duas primeiras divisões do Direito
Empresarial, que são a teoria geral e o direito societário.
3.1. O Direito Empresarial como ramo do Direito privado
● Conceito de Direito público: é o direito que regula as relações dos entes
públicos, quando estes atuam em nome do Estado.
● Conceito de Direito privado: é o direito que regula as relações dos
particulares entre si, com base na sua igualdade jurídica e sua
autodeterminação. De maneira mais simples, é todo aquele direito que não é
público.
o Se a relação é estabelecida entre particulares, ou mesmo entre
particulares e entes públicos, mas sem que estes entes públicos
estejam atundo propriamente em nome do chamado poder de império
do Estado, haverá aplicação do direito privado.
o Até a Idade Média, o conceito de Direito privado se confundia com o de
Direito Civil. Até hoje, o Direito Civil é entendido como o Direito privado
comum, ou geral.
o Como visto nas seções anteriores, no entanto, a partir do
desenvolvimento das atividades dos burgueses nas primeiras cidades
da Idade Média, começaram a surgir normas especiais dentro do direito
privado, que formavam o direito comercial (primeira fase do direito
empresarial – sistema subjetivo corporativista). Estas normas
compuseram um direito privado especial, distinto do direito privado geral
(que era o direito civil).
▪ Sendo assim, fica claro que o Direito comercial / empresarial é
ramo do Direito privado.
3.2. Diferenças entre Direito Empresarial, o Direito Econômico e o Direito
do Consumidor
● O Direito Econômico é considerado um ramo autônomo do Direito. Ele tem
como conteúdo normativo específico as atividades econômicas ocorrentes no
mercado, sejam elas provenientes do setor privado ou do setor público.
o Assim, o objeto do Direito Econômico são as atividades econômicas
presentes no mercado, sejam elas do setor público ou privado.
▪ Em razão das diversas espécies de Economia definidas pela
Ciência Econômica, alguns doutrinadores propõem a divisão do
Direito Econômico em um Direito Econômico Privado, ligado à
microeconomia, e um Direito Econômico Público relativo à
macroeconomia.
o O Direito econômico, de forma geral, portanto, fornece o arcabouço
normativo para limitar estas atividades de forma que elas se adequem
aos princípios constitucionais.
● O Direito do Consumidor pode ser definido como o ramo do direito que versa
sobre a defesa e a proteção do consumidor.
o Classicamente, boa parte dos autores situam o direito do Consumidor
na seara privada, por tratar de relações travadas entre particulares
(consumidor e fornecedor).
▪ Contudo, há correntes que argumentam que já não faz mais
sentido situar o Direito do Consumidor em nenhuma das duas
classificações, pois ele possuiria tanto elementos de Direito
Público quanto do Direito Privado.
o O objeto do Direito do Consumidor são as relações e as
responsabilidades dos sujeitos da relação consumerista.
o O Direito do Consumidor, de forma geral, visa à proteção dos
consumidores na solução de lides decorrentes da relação de consumo.
● O Direito Empresarial, por sua vez, como já visto, é ramo do direito privado e
tem como objeto a atividade empresarial e todos os atos que normalmente são
praticados no exercício dessa atividade.
3.3. Discussão a respeito da autonomia do Direito Empresarial em relação
ao Direito Civil: autonomistas versus antiautonomistas
● A fim de definir o âmbito do direito civil, Clóvis Beviláqua afirma que ele é o
“complexo de normas jurídicas relativas às pessoas, na sua constituição geral
e comum, nas suas relações recíprocas de família, em face dos bens
considerados em seu valor de uso”.
o O direito civil disciplina, portanto, a pessoa, na sua existência e
atividade, sua família e seu patrimônio, tendo, portanto, um objeto
vastíssimo.
● Por outro lado, o direito empresarial teria um objeto mais específico e se
voltaria à disciplina das relações jurídicas decorrentes do exercício de uma
atividade econômica com determinadas características, a empresa. Haveria
uma especialidade dentro do direito mercantil, ele se destinaria a disciplinar
relações mais específicas.
o Ele se autonomiza porque pode ser mais rapidamente
transformado e corrigido, atendendo às exigências do tráfego
comercial.● Os autores discordam quanto à existência ou não de uma autonomia entre
Direito Civil e Direito Empresarial. Aqueles que não acreditam que estes ramos
sejam autônomos são os antiautonomistas. Aqueles que acreditam são os
autonomistas.
3.3.1. A corrente antiautonomista
● Para os antiautonomistas, na vida moderna há certa uniformidade nas
obrigações, o que não justificaria dois tratamentos, um pelo Direito civil e outro
pelo Direito comercial.
o Tendo as normas comerciais sido criadas pelos comerciantes para
defesa dos seus próprios interesses, a submissão dos
não-comerciantes ao direito comercial seria injusta, pois as leis
mercantis seriam obra de uma classe infinitamente menor do que a dos
cidadãos em geral e a manutenção da autonomia só se justificaria se o
interesse maior da comunidade fosse a prosperidade dos comerciantes.
● Outro argumento seria a inexistência, no caso do Direito Comercial, de
princípios próprios e diferentes daqueles que regem o Direito privado como um
todo.
o Para esta visão, as normas mercantis seriam parte do sistema geral do
direito privado, caracterizando-se como normas especiais e não como
um ramo autônomo do direito.
o Adicionalmente, as peculiaridades atribuídas ao direito comercial não
lhe seriam privativas, sendo comuns a outros ramos do direito.
3.3.2. A corrente autonomista
● Para os autonomistas, corrente mais correta na opinião do professor, a divisão
do direito privado se deu em virtude da necessidade de uma regulamentação
especial da matéria mercantil, tendo em vista que as características peculiares
ao direito civil não se prestavam a atender os fins ligados especificamente ao
direito comercial.
● Para esta corrente, três motivos surgem como principais para defender que há
sim autonomia entre os Direito Empresarial e Direito Civil:
o Método próprio: ao contrário do direito civil, o direito empresarial usa o
método indutivo, isto é, conclui-se a regra com base nos fatos. Esse
método reforça a ideia da autonomia do direito empresarial, dado que.
se ele não fosse um ramo autônomo do direito privado, ele deveria usar
o método dedutivo do direito civil, que é o direito privado geral.
o Objeto próprio: o direito empresarial tem objeto próprio (e, portanto,
diferente daquele do Direito Civil), que é a atividade empresarial e todos
os atos que normalmente são praticados no exercício dessa atividade,
ou, em outras palavras, a empresa.
o Princípios próprios: o Direito empresarial tem princípios próprios, que
são:
▪ (i) Princípio da simplicidade das formas: a velocidade da
economia moderna impõe uma disciplina mais célere dos
negócios, com a proteção da boa-fé. As formas devem ser mais
simples, de modo a atender às necessidades da atividade
empresarial.
● Dentro desse princípio, destaca-se a representação de
mercadorias por títulos, a negociação simplificada
desses títulos e, por conseguinte, dos bens
representados por esses documentos.
▪ (ii) Princípio da onerosidade: o fim último do direito comercial é o
lucro e esta é a regra que presume nas relações empresariais. O
empresário, via de regra, portanto, age movido pelo
individualismo.
● Modernamente, no entanto, esse individualismo vem
sofrendo atenuações, com a intervenção estatal e a
consagração de uma nova mentalidade: a de que a
empresa deve ser exercida para atender não apenas aos
interesses do controlador, mas também aos dos seus
colaboradores e da comunidade que consome os seus
produtos, que corresponde à chamada função social da
empresa.
▪ (iii) Princípio da proteção ao crédito: o crédito é um elemento
essencial para o exercício da atividade empresarial e como tal
deve ser protegido, de modo que os responsáveis pela
concessão do crédito continuem a concedê-lo, permitindo o
desenvolvimento das atividades empresariais.
▪ (iv) Princípio do cosmopolitismo: o Direito civil representa as
concepções de vida de uma sociedade determinada, estando
sujeito aos influxos históricos de cada nação. Por outro lado, o
direito empresarial se destina a regular relações que não se
prendem a uma nação, pelo contrário, dizem respeito a todo o
mundo, sobretudo, com o crescente movimento de globalização.
3.4. Fontes do Direito Empresarial
● As principais fontes do Direito Empresarial são:
o Âmbito nacional:
▪ Fonte primária:
● (i) Lei: são fontes do direito as leis em sentido material,
que são aquelas proposições jurídicas que disciplinam a
atividade empresarial, e não apenas aquelas em sentido
formal, emanadas dos órgãos legislativos.
▪ Fontes secundárias:
● (ii) Costumes: as leis possuem certa estabilidade,
inerente ao próprio processo de sua elaboração. Tal
estabilidade é muito importante para a própria segurança
jurídica dos cidadãos. Todavia, esta estabilidade toma as
leis, por vezes, insuficientes à disciplina de todos os fatos
que se apresentam. Diante dessas situações, os próprios
envolvidos acabam ajustando e padronizando as
condutas a serem seguidas, as quais, com o passar do
tempo, acabam até adquirindo uma força obrigatória.
Estes são os costumes, ou o direito consuetudinário.
o Na prática, os costumes aparecem na forma de
assentamentos e devem ser registrados nas
Juntas Comerciais dos Estados.
● (iii) Princípios gerais do Direito: os princípios gerais de
direito representam a orientação geral de todo o
ordenamento jurídico. Na condição de bases das normas
positivas, é certo que há uma tendência na positivação
dos princípios gerais, como ocorreu com o princípio da
vedação do enriquecimento ilícito (art. 884, CC).
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de
outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários.
● (iv) Jurisprudência: podem ser fontes do Direito
Empresarial na forma das súmulas vinculantes e das
decisões repetitivas, mesmo que a atividade dos juristas
não tenha, na verdade, por objetivo, a criação de novas
normas jurídicas.
o Âmbito internacional:
▪ Fonte primária:
● (i) Tratados internacionais: são os acordos formais,
concluídos entre sujeitos de direito internacional público,
e destinados a produzir efeitos jurídicos.
▪ Fonte secundária:
● (ii) Costumes: consistem na prática reiterada de
determinados atos pelos Estados que, de tão repetidos,
passam a serem considerados como válidos pela
comunidade internacional.
3.5. Diferenças entre as normas de comércio internacional e as normas de
comércio exterior do Brasil
● Normas de Comércio Internacional: as normas de comércio internacionais,
são as normas que disciplinam as operações de trocas entre países
decorrentes de intercâmbios econômicos.
o Elas são aplicáveis a mercadorias, serviços e mão-de-obra e valem
para mais de um país. Estas normas visam a facilitação dos negócios
internacionais e nada mais são do que reflexos da lex mercatoria.
o Elas são criadas e disciplinadas por tratados internacionais
estabelecidos entre países, ou pela ação de organismos internacionais
como a Organização Mundial do Comércio (OMC) ou a Câmara de
Comércio Internacional (CCI).
● Normas de Comércio Exterior: consistem nos termos, regras e normas
nacionais das transações realizadas no comércio internacional. Estas regras
são normas nacionais, criadas para disciplinar tudo o que diz respeito à
entrada no país de mercadorias procedentes do exterior (importação) e a saída
de mercadorias do território nacional (exportação). Estas regras refletem
diretamente em questões aduaneiras (tributárias, comerciais, financeiras, etc) e
não-aduaneiras (técnicas, fitossanitárias, administrativas, etc).
3.5.1. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS)
● A Câmara de Comércio Internacional (CCI) criou regras para administrar
conflitos oriundos da interpretação de contratos internacionais firmados entre
exportadores e importadores concernentes à transferência de mercadorias, às
despesas decorrentes das transações e à responsabilidade sobre perdas e
danos.
o Estas regras, instituídas em 1936, são os chamados Termos
Internacionais de Comércio, ou INCOTERMS (International CommercialTerms);
o Em 1990, adaptando-se ao intercâmbio informatizado de dados, uma
nova versão dos INCOTERMS foi instituída contendo treze termos.
o Está em vigor desde 1º de janeiro de 2000 o INCOTERMS 2000, que
leva em consideração o recente crescimento das zonas de livre
comércio, o aumento de comunicações eletrônicas em transações
comerciais e mudanças nas práticas relativas ao transporte de
mercadorias.
● O Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) servem para definir,
dentro da estrutura de um contrato de compra e venda internacional, os direitos
e obrigações recíprocos do exportador e do importador, estabelecendo um
conjunto-padrão de definições e determinando regras e práticas neutras, como
por exemplo: onde o exportador deve entregar a mercadoria, quem paga o
frete, quem é o responsável pela contratação do seguro, dentre outras.
● Os INCOTERMS, portanto, tratam-se de regras internacionais, imparciais, de
caráter uniformizador, que constituem toda a base dos negócios internacionais
e objetivam promover sua harmonia.
● Os INCOTERMS, em verdade, não impõem, e sim propõem o entendimento
entre vendedor e comprador quanto às tarefas necessárias para deslocamento
da mercadoria do local onde ela é elaborada até o local de destino final
(também chamado de zona de consumo). Estas tarefas necessárias são:
o Embalagem;
o Transportes internos;
o Licenças de exportação e de importação;
o Movimentação em terminais;
o Transporte e seguro internacionais;
o Dentre outras.
● Um bom domínio dos INCOTERMS é indispensável para que o negociador
possa incluir todos os seus gastos nas transações em Comércio Exterior. Vale
ressaltar que as regras definidas pelos INCOTERMS valem apenas entre os
exportadores e importadores, não produzindo efeitos em relação às demais
partes envolvidas, tais como: despachantes, seguradoras e transportadores.
● Os INCOTERMS são representados por siglas e seguem uma classificação
que obedece a uma ordem crescente nas obrigações do vendedor:
o As vendas na partida, caso dos grupos E, F e C, deixam os riscos do
transporte a cargo do comprador.
o No caso de vendas na chegada, os riscos serão de responsabilidade do
vendedor no caso dos termos do grupo D, exceto o DAF.
▪ No caso do DAF (Delivery at Frontier, ou “Entrega na Fronteira”),
o vendedor assume os riscos até a fronteira citada no contrato e
o comprador, a partir dela.
o Os termos do grupo C merecem atenção para evitar confusões. Por
exemplo, se o contrato de transporte internacional ou o seguro for
contratado pelo vendedor não implica que os riscos totais do transporte
principal caibam a ele.
o A CCI seleciona como próprios ao transporte marítimo, fluvial ou
lacustre, os termos FAS, FOB, CFR, CIF, DES e DEQ.
o Destinam-se a todos os meios de transporte, inclusive multimodal:
EXW, FCA, CPT, CIP, DAF, DDU e DDP.
▪ O DAF é o mais utilizado no transporte terrestre.
Aula 5 – 08/08/2016
Programa – Aula 5
4. Exercício da atividade econômica
4.1. Atividade econômica empresarial
4.1.1. Exercício individual da atividade econômica empresarial
4.1.2. Exercício coletivo da atividade econômica empresarial
4.2. Atividade econômica não-empresarial
4.2.1. Exercício individual da atividade econômica não-empresarial
4.2.2. Exercício coletivo da atividade econômica não-empresarial
4. Exercício da atividade econômica
● O exercício da atividade econômica pode ser (I) empresarial ou (II)
não-empresarial. Quando é empresarial, trata-se de uma empresa (ver seção
5) e pertence, portanto, à esfera de atuação do Direito Empresarial, mas não
pertencerá a esta esfera se for uma atividade econômica não-empresarial.
4.1. Atividade econômica empresarial
● Características gerais:
o Visa ao lucro;
o Constitui uma relação despersonalizada;
o Pode ser exercida individualmente ou coletivamente.
4.1.1. Exercício individual da atividade econômica empresarial
● Quando a atividade empresarial é exercida individualmente, ela pode ser
exercida por: (i) empresários (ou empreendedores) individuais; (ii) empresas
individuais de responsabilidade limitada (EIRELI); ou (iii) empresários rurais.
o (i) Empresário (ou empreendedor) individual (EI): antes da vigência do
CC/2002, era chamado de firma individual.
▪ Características gerais do empresário individual:
● (a) é uma pessoa física;
● (b) exerce pessoalmente a atividade de empresário;
● (c) assume responsabilidade ilimitada, ou seja, em caso
de falência, responde com seus bens pessoais;
● (d) não tem personalidade jurídica, ou seja, mesmo tendo
registro no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica), não é considerado pessoa jurídica, estando
inscrito somente para recolhimento de tributos, de acordo
com as alíquotas asseguradas às pessoas jurídicas,
como incentivo à atividade empresarial.
▪ Classificação do empresário individual quanto à situação
tributária / contábil: os empresários individuais podem ser (1)
microempreendedores individuais (MEI); (2) microempresa (ME);
ou (3) empresa de pequeno porte (EPP).
● (1) Microempreendedor Individual (MEI), também
chamado de Pequeno empresário (art. 68, LCP
nº123/2006 e art. 970, CC): é o empresário individual a
que se refere o art. 966, CC, que tenha auferido receita
bruta ou Faturamento Bruto Anual (FBA), no
ano-calendário anterior, de até R$ 60.000,00 (sessenta
mil reais) e seja optante pelo Simples Nacional, sem
participação em outra empresa como sócio ou titular.
o Entre as vantagens oferecidas por essa lei está o
registro no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas (CNPJ), o que facilitará a abertura de
conta bancária, o pedido de empréstimos e a
emissão de notas fiscais.
o Além disso, o EI do tipo MEI será enquadrado no
SIMPLES Nacional e ficará isento dos tributos
federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e
CSLL).
o O MEI pagará apenas um pequeno valor fixo
mensal, atualizado anualmente, de acordo com o
salário mínimo, estipulado em função da natureza
de sua atividade (comércio e indústria ou
prestação de serviços) que será destinado à
Previdência Social e ao ICMS ou ao ISS.
▪ Com essas contribuições, o EI do tipo MEI
terá acesso a benefícios como auxílio
maternidade, auxílio doença,
aposentadoria, entre outros.
Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de
aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002 (Código Civil), o empresário individual
caracterizado como microempresa na forma desta Lei
Complementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto
no §1º do art. 18-A.
Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e
simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à
inscrição e aos efeitos daí decorrentes.
● (2) Microempresa: de acordo com as características
apresentadas no quadro explicativo do início da seção 4.
● (3) Empresa de pequeno porte (EPP): de acordo com as
características apresentadas no quadro explicativo do
início da seção 4.
o (ii) Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI): A EIRELI
deverá ser constituída por uma única pessoa, que será titular de todo o
capital social, sendo, portanto, uma nova modalidade de pessoa jurídica
de direito privado, nos termos do art. 44, CC.
▪ Neste caso, a pessoa jurídica é a responsável pelas obrigações
assumidas, estando a responsabilidade do titular limitada ao
valor integralizado do capital social, que segundo o art. 980-A do
CC, equivale no mínimo a cem vezes o maior salário mínimo
vigente.
o (iii) Empresários rurais: os empresários rurais, que são pessoas físicas
que praticam atividade rural, têm a faculdade (não a obrigação) de
sujeitar-se ao regime empresarial, bastando para isso requerem o seu
registro de empresa nas Juntas Comerciais. Conforme o art. 971, CC,
não há obrigação de registro empresarial do empreendedor rural.
▪ Depois de inscrito, o empresário rural ficará equiparado, para
todos os efeitos, ao empresário individual sujeito a registro;
▪ Conforme o Enunciado 202 da III Jornada de Direito Civil (CJF),
"O registro do empresário ou da sociedade rural na JuntaComercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o
ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime jurídico
ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção".
4.1.2. Exercício coletivo da atividade econômica empresarial
● As sociedades são definidas sob o pressuposto da pluralidade de sócios,
como: o resultado da união de duas ou mais pessoas, naturais ou jurídicas,
que, voluntariamente, se obrigam a contribuir, de forma recíproca, com bens ou
serviços, para o exercício proficiente de atividade econômica e a partilha, entre
si, dos resultados auferidos nessa exploração.
o Há dois tipos básicos de sociedades: as sociedades simples (que são
um exemplo de exercício coletivo de atividade econômica
não-empresarial e serão apresentadas na seção 4.2.2) e as sociedades
empresárias. Existem, também, as sociedades rurais, que constituem
um caso especial.
● Atividades maiores dificilmente podem ser exercidas individualmente, sendo
frequente e muito útil a formação de sociedades. Depois de formadas, as
sociedades é que assumirão a condição de empresário, na medida em que as
obrigações e o risco da empresa serão da sociedade, e não propriamente de
seus sócios ou administradores da pessoa jurídica.
o Esta pessoa jurídica é um sujeito de direitos autônomo, sendo ela o
empresário;
o As sociedades empresárias exercem atividade própria de empresário,
de acordo com o art. 982, CC.
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera se empresária a
sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
● Quando a atividade empresarial é exercida coletivamente, ela pode ser
exercida por: (i) sociedades empresárias ou (ii) sociedades rurais.
o (i) Sociedades empresárias:
▪ Características gerais da sociedade empresária: é uma
pessoa jurídica que:
● (a) exerce a atividade de empresário por meio de seus
sócios, gerentes e prepostos;
● (b) assume responsabilidade limitada, ou seja, em caso
de falência, responde somente com seu capital social,
preservando os bens dos sócios;
● (c) tem personalidade jurídica, com registro no CNPJ
(Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica).
▪ Classificação da sociedade empresária quanto à situação
tributária / contábil: as sociedades empresárias podem ser (1)
microempresa (ME); ou (2) empresa de pequeno porte (EPP).
● (1) Microempresa: de acordo com as características
apresentadas no quadro explicativo do início da seção 4.
● (2) Empresa de pequeno porte (EPP): de acordo com as
características apresentadas no quadro explicativo do
início da seção 4.
▪ Classificação jurídica da sociedade empresária: esta é a
classificação mais importante. Juridicamente, as sociedades
empresárias podem ser:
● (1) Sociedade Limitada (LTDA);
● (2) Sociedade Anônima (S/A);
● (3) Sociedade em Nome Coletivo (N/C);
● (4) Sociedade em Comandita Simples (SCA); ou
● (5) Sociedade em Comandita por Ações (C/S ou C/A).
o Mais detalhes sobre a sociedades serão
apresentados no LIVRO II – DIREITO
SOCIETÁRIO.
o (ii) Sociedades rurais: as sociedades rurais, que são pessoas jurídicas
que praticam atividade rural, têm a faculdade (não a obrigação) de
sujeitar-se ao regime empresarial, bastando para isso requerem o seu
registro de empresa nas Juntas Comerciais. Conforme o art. 971, CC,
não há obrigação de registro empresarial da sociedade rural.
▪ Depois de inscrita, a sociedade rural ficará equiparada, para
todos os efeitos, à sociedade empresária sujeita a registro;
▪ Conforme Enunciado 202 da III Jornada de Direito Civil (CJF),
"O registro do empresário ou da sociedade rural na Junta
Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o
ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime jurídico
ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção".
4.2. Atividade econômica não-empresarial
● Características gerais:
o Visa aos honorários;
o Constitui uma relação personalíssima, com o chamado intuito
personae;
o Também pode ser exercida individualmente ou coletivamente, mas não
dispõe de uma organização de atos jurídicos para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços e, portanto, não configura atividade
de empresa.
4.2.1. Exercício individual da atividade econômica não-empresarial
● Quando a atividade não-empresarial é exercida individualmente, ela pode ser
exercida por: (i) profissionais liberais; (ii) profissionais autônomos; ou (iii)
sociedades individuais de advocatícias.
o (i) Profissionais liberais: são aqueles que exercem atividades não
empresariais, tais como intelectuais, científicas, literárias ou artísticas,
como disposto no art. 966, parágrafo único, CC.
▪ Exemplos: advogado, médico, dentista, nutricionista, contador,
escritor, pintor, escultor, ator, etc.
Art. 966. (...)
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.
o (ii) Profissionais autônomos: são aqueles que exercem atividades de
natureza técnica e/ou artesanal.
▪ Exemplos: mecânico, eletricista, carpinteiro, mestre de obras,
pescador, agricultor, etc.
o (iii) Sociedade Individual Advocatícia (SIA), também chamada de
Sociedade Unipessoal Advocatícia (SUA): esta modalidade de atividade
não-empresarial foi apenas recentemente incorporada ao ordenamento
jurídico brasileiro. Nela, um único advogado pode constituir uma pessoa
jurídica, de acordo com a Lei 13.247/2016.
4.2.2. Exercício coletivo da atividade econômica não-empresarial
● Quando a atividade não-empresarial é exercida individualmente, ela pode ser
exercida por: (i) sociedades simples; (ii) cooperativas; (iii) associações ou (iv)
fundações privadas.
o (i) Sociedade simples: ocorre quando profissionais liberais se associam
uns aos outros e constituem uma pessoa jurídica com finalidade de
lucro, mas que, apesar disto, não constitui uma atividade empresarial.
o (ii) Cooperativas: são organizações constituídas por membros de
determinado grupo econômico ou social que objetivam desempenhar,
em benefício comum, determinada atividade. São consideradas como
análogas às sociedades simples (art. 982, parágrafo único, CC) e,
portanto, também são consideradas sociedades (junto com as
sociedades empresárias, sociedades simples e sociedades individuais
advocatícias (SIA).
Art. 982 (...)
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto,
considera se empresária a sociedade por ações; e, simples, a
cooperativa.
o (iii) Associações: são organizações resultantes da reunião legal entre
duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, sem fins
lucrativos para a realização de um objetivo comum. Embora não visem
ao lucro, as associações podem exercer atividade econômica e
remunerada (assim como as fundações privadas). Nessa hipótese,
inclusive, são consideradas fornecedoras para fins de aplicação do
CDC. São disciplinadas pelo art. 53, CC. Não são sociedades.
Art. 53. Constituem se as associações pela união de pessoas que
se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e
obrigações recíprocos.
o (iv) Fundações privadas: são constituídas a partir de um patrimônio ou
viabilidade econômica, estabelecendo seu funcionamento e
organização através de um Estatuto, que passa a ser a lei que rege as
relações jurídicas envolvidas. Embora não visem ao lucro, as fundações
privadas podem exercer atividade econômica e remunerada (assim
como as associações). Nessa hipótese, inclusive, são consideradas
fornecedoras para fins de aplicação do CDC. São disciplinadas pelo art.
62, CC. Não são sociedades.
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por
escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres,
especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a
maneira de administrá la.
------------------------ // ------------------------ // ------------------------ // ------------------------Observação: O SIMPLES Nacional. O SIMPLES Nacional é um conjunto de
estímulos governamentais nas três esferas políticas da Administração Pública, para
simplificação das exigências burocráticas, trabalhistas e tributárias (inclusive com
isenção e redução de tributos) para quem se enquadre nos tipos contábeis / tributários
MEI (somente empresários individuais), ME (empresários individuais, EIRELI,
sociedades simples e sociedades empresárias) ou EPP (empresários individuais,
EIRELI, sociedades simples e sociedades empresárias).
Além dos parâmetros objetivos (baseados no faturamento bruto anual, FBA); o MEI,
a ME e a EPP deverão ser regularmente inscritos no Registro de Empresas (Juntas
Comerciais) e serem optantes do SIMPLES Nacional.
O SIMPLES Nacional cria uma série de vantagens para os pequenos
empresários (MEI) e as microempresas ou empresas de pequeno porte (ME e EPP)
que façam a opção de se cadastrar no sistema nessa qualidade, atendidas as
exigências da lei complementar nº 123/2006 (alterada pelas LC 128/2008, LC
139/2011 e LC 147/2014).
As principais vantagens para as empresas que adiram ao SIMPLES
NACIONAL são:
● Isenção ou redução das alíquotas tributárias;
● Cálculo dos tributos com base no lucro presumido;
● Pagamento dos tributos por meio de formulário unificado que aglutina oito
tributos em uma única guia de pagamento;
● Desobrigação da realização de reuniões e assembleias em qualquer das
situações previstas na legislação civil (art. 70, LCP 123/2006);
● Dispensa da obrigação de publicação de qualquer ato societário (art. 71, LCP
123/2006).
Observação: Diferenças entre a abordagem do Direito frente ao agronegócio
(ou agroindústria) e à agricultura familiar. Com respeito à atividade econômica
rural, há uma diferenciação entre aquilo que é entendido como agronegócio e aquilo
que é entendido como agricultura familiar. Somente os agronegócios (ou
agroindústrias) podem ser entendidos como atividades econômicas rurais
empresárias, ou seja, sujeitas a serem enquadradas no art. 971, CC, tanto como
empresários rurais, quanto como sociedades rurais. A agricultura familiar não pode ser
enquadrada como atividade econômica rural empresária.
● O agronegócio (ou agroindústria) tem:
o Especialização de culturas (commodities);
o Grandes áreas de cultivo;
o Emprega tecnologia avançada e mão de obra assalariada;
o Grande importância econômica;
o Inscrevendo-se na Junta Comercial, passa a ser empresário (individual
ou sociedade), sujeitando-se às normas de Direito Empresarial,
incluindo:
▪ Limitação de responsabilidade patrimonial dos sócios; e
▪ Possibilidade de pedir recuperação judicial e falência.
● A agricultura familiar tem:
o Culturas de subsistência ou com pequeno excedente;
o Pequenas áreas de cultivo
o Trabalham o dono da terra, seus familiares e agregados;
o Pequena importância econômica;
o Não se inscreve na Junta Comercial e rege-se pelas normas de D. Civil,
não podendo limitar sua responsabilidade patrimonial individual ou pedir
recuperação judicial e falência.
Observação: O “Sistema S”. Sistema S é o nome pelo qual ficou convencionado
chamar o conjunto de nove instituições privadas de interesse de categorias
profissionais, estabelecidas pela Constituição Brasileira, com base no art. 149, caput,
CF.
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146,
III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, §6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
Estas entidades corporativas são todas voltadas para o treinamento
profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica. Além de
todas terem seu nome iniciado com a letra S, elas todas têm raízes comuns e
características organizacionais similares.
As empresas pagam contribuições às instituições do Sistema S com base em
alíquotas que variam em função do tipo de empresa contribuinte, definido pelo seu
enquadramento no código Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS). Em
geral, as contribuições incidem sobre a folha de salários das empresas pertencentes à
categoria correspondente, sendo descontadas regularmente e repassadas às
instituições. Apesar de receberem contribuições por vias estatais, as instituições do
Sistema S são instituições privadas.
As nove instituições do Sistema S são: Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria
(Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os
seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest).
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Entre as Aulas 6 e 9 serão tratados detalhes a respeito de cada um dos pilares
da Teoria da Empresa: (i) a Empresa; (ii) o Empresário (incluindo o regime empresarial
e os auxiliares do empresário) e (iii) o Estabelecimento. A Aula 10 tratará do nome
empresarial.
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Aula 6 – 10/08/2016
Programa – Aula 6
5. A empresa
5. A empresa
● Conceito de empresa: empresa é a atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços, como também disposto no
at. 966, caput, CC.
Art. 966. Considera se empresário quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação
de bens ou de serviços.
● Elementos característicos da empresa: dentro do conceito de empresa, há
cinco elementos característicos importantes a serem detalhados:
o (1) A empresa como uma atividade: a empresa se trata de uma
atividade, isto é, do conjunto de atos destinados a uma finalidade
comum, que organiza os fatores da produção, para produzir ou fazer
circular bens ou serviços.
▪ Não basta um ato isolado, é necessária uma sequência de atos
dirigidos a uma mesma finalidade, para configurar a empresa.
o (2) A economicidade da empresa: a economicidade da atividade exige
que a mesma seja capaz de criar novas utilidades, novas riquezas,
afastando-se as atividades de mero gozo.
o (3) A organização da empresa: a organização da empresa nada mais é
do que é a colação dos meios necessários, coordenados entre si, para
a realização de determinada finalidade.
o (4) A finalidade da empresa: a empresa deve abranger a produção ou
circulação de bens ou serviços para o mercado.
▪ Na produção, tem-se a transformação de matéria-prima;
▪ Na circulação tem-se a intermediação na negociação de bens
▪ Na prestação de serviços, deve-se abarcar toda atividade em
favor de terceiros apta a satisfazer uma necessidade qualquer,
desde que não consistente na simples troca de bens.
o (5) O fato de que a empresa é dirigida ao mercado: só se deve falar em
empresa quando a organização for dirigida ao mercado, e não para uso
pessoal,34 isto é, deve ser destinada à satisfação de necessidades
alheias, sob pena de não configurar empresa.
● Natureza jurídica da empresa: a empresa tem natureza jurídica de fato
jurídico, ou de conjunto de atos jurídicos exercidos pelo empresário.
o A empresa não possui personalidade jurídica, e nem pode possuí-la e,
consequentemente, não pode ser entendida como sujeito de direito,
pois ela é a atividade econômica que se contrapõe ao titular dela, isto é,
ao exercente daquela atividade, que é o empresário.
o A empresa, como atividade, também não pode ser confundida com o
complexo de bens por meio dos quais se exerce a atividade, o qual é
chamado de estabelecimento. Reforça-se: a empresa não é um local
físico.
Aulas 7 e 8 –15/08/2016 e 17/08/2016
Programa – Aulas 7 e 8
6. O empresário
6.1. O empresário individual
6.2. A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI)
6.3. O regime empresarial6.3.1. O registro das empresas
6.3.1.1. Órgãos do sistema de registro de empresas
6.3.2. A escrituração contábil
6.3.3. A elaboração de demonstrações financeiras periódicas
6.4. Os auxiliares da atividade empresarial
6. O empresário
● Conceito de empresário: o empresário é aquele que exerce a atividade
econômica (empresa), como disposto no art. 966, CC.
● Exclusão do conceito de empresário: como já trabalhado na seção 4, o art.
966, parágrafo único, CC, coloca que não se considera como empresário
aquele que exerce profissão intelectual, ou seja, nenhum profissional liberal
(seção 4.2.1).
o Essa exclusão decorre do papel secundário que a organização assume
nessas atividades e não apenas de um caráter histórico e sociológico.
Nelas o essencial é a atividade pessoal, o que não se coaduna com o
conceito de empresário.
Art. 966. Considera se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.
● Elementos característicos da condição de empresário: dentro do
entendimento da condição de empresário, há cinco elementos característicos
importantes a serem detalhados:
o (1) A economicidade da condição de empresário: o empresário,
enquanto sujeito de direitos que exerce a empresa, desenvolve sempre
atividades econômicas, entendidas aqui como a atividade voltada para
a produção de novas riquezas. Estas podem advir da criação de novos
bens, ou mesmo do aumento do valor dos bens existentes.
o (2) A organização exigida pela condição de empresário: é essencial que
o empresário seja o responsável pela organização dos fatores da
produção para o bom exercício da atividade (empresa). Essa
organização deve ser de fundamental importância, assumindo
prevalência sobre a atividade pessoal do sujeito.
o (3) A profissionalidade exigida pela condição de empresário: só é
empresário quem exerce a empresa de modo profissional, ou seja, com
estabilidade e habitualidade da atividade exercida. O exercício
profissional da empresa tem três características ou peculiaridades:
▪ Deve haver o intuito de lucrar;
▪ A atividade deve se apresentar objetivamente ao mundo exterior
com um caráter estável;
▪ Não se exige o caráter continuado, mas deve haver
habitualidade na atuação do empresário.
o (4) A assunção de risco inerente à condição de empresário: nas
atividades econômicas em geral, todos assumem riscos. O empresário,
é aquele que assume o risco total da empresa. Não há uma prévia
definição dos riscos, eles são incertos e ilimitados. Ademais, para o
empresário, o risco da atividade não é garantido por ninguém.
o (5) O direcionamento ao mercado inerente à condição de empresário: é
essencial na caracterização de um empresário que sua atividade seja
voltada à satisfação de necessidades alheias. O empresário deve
desenvolver atividade de produção ou circulação de bens ou serviços
para o mercado, e não para si próprio.
● Natureza jurídica do empresário: o empresário tem natureza jurídica de titular
de direitos, ou sujeito de direitos, ou seja, possui personalidade (de pessoa
física ou pessoa jurídica).
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Como abordado na seção 4.1, as características gerais da atividade econômica
empresarial são de que (A) ela visa ao lucro; (B) ela constitui uma relação
despersonalizada; e (C) ela pode ser exercida individualmente ou coletivamente.
Quando ela é exercida individualmente, pode ser na forma (i) de empresário (ou
empreendedor) individual; (ii) de empresa individual de responsabilidade limitada
(EIRELI); ou de (iii) empresário rural. Quando ela é exercida coletivamente, pode ser
na forma de (iv) sociedades empresárias ou (v) sociedades rurais.
Tudo que era relevante a respeito dos empresários e sociedades rurais já foi
abordado na seção 4. Quanto às sociedades empresárias, estas serão assunto central
do LIVRO II – DIREITO SOCIETÁRIO e não serão abordadas fortemente abordadas
nesta seção.
Esta seção número 6 abordará com maior detalhamento o empresário individual,
na seção 6.1, e a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), na seção
6.2. Depois, na seção 6.3., será apresentada uma explanação a respeito do regime
empresarial, seguida por uma discussão a respeito dos auxiliares do empresário, na
seção 6.4.
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6.1. O empresário individual
● Conceito de empresário individual: e empresário individual, também
chamado de empreendedor individual (ou firma individual, antes da vigência do
CC/2002), é a pessoa física que exerce a empresa em seu próprio nome,
assumindo todo o risco da atividade. É a própria pessoa física que será o titular
da atividade.
o Ainda que lhe seja atribuído um CNPJ próprio, distinto do seu CPF, não
há distinção entre a pessoa física em si e o empresário individual.
● Características gerais do empresário individual:
o (a) é uma pessoa física;
o (b) exerce pessoalmente a atividade de empresário;
o (c) assume responsabilidade ilimitada, ou seja, em caso de falência,
responde com seus bens pessoais;
o (d) não tem personalidade jurídica, ou seja, mesmo tendo registro no
CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), não é considerado
pessoa jurídica, estando inscrito somente para recolhimento de tributos,
de acordo com as alíquotas asseguradas às pessoas jurídicas, como
incentivo à atividade empresarial.
● Limitação dos riscos do empresário individual: o Brasil ainda não tem
instrumentos de limitação dos riscos da atividade exercida pelo empresário
individual, assim, como abordado nas características gerais, todo o patrimônio
do empresário individual se vincula pelo exercício da atividade.
o O art. 978, CC, já prevê uma certa distinção patrimonial, permitindo que
imóveis ligados ao exercício da empresa sejam alienados sem a
outorga conjugal. Todavia, essa é a única regra que se apresenta nesse
sentido, não havendo ainda instrumentos de destaque patrimonial para
o exercício da atividade pelo empresário individual.
o A atividade empresarial, como se sabe, é uma atividade de risco, à qual
fica sujeito todo o patrimônio do empresário individual, ressalvados os
bens absolutamente impenhoráveis. Havendo insucesso na atividade, o
empresário poderá ser reduzido à insolvência e, eventualmente, ter
sua falência decretada, tutelando-se o crédito.
● Capacidade do empresário individual: para os atos da vida em geral, a
pessoa deve ter capacidade, no sentido jurídico, ou seja, deve ser dotada de
vontade e de discernimento para exercer os atos por si só. Com o empresário
não é diferente. O empresário individual deve exercer a atividade, a princípio,
em seu próprio nome, assumindo obrigações e adquirindo direitos em
decorrência dos atos praticados.
o Se adquire a capacidade empresarial plena aos 18 anos de idade, nos
termos do art. 5º, CC, ou com a emancipação (nos termos do artigo 5º,
parágrafo único, CC).
o Apenas para o início das atividades é essencial a capacidade plena (ou,
ao menos, a idade de 16 anos, no caso da emancipação). Todavia, o
incapaz, menor de 16 anos ou até o interdito, desde que devidamente
representado ou assistido, pode continuar o exercício de atividade que
já vinha sendo exercida por ele, enquanto capaz, ou por seus pais, ou
pelo autor da herança (de acordo com o art. 974, CC).
▪ Esta possibilidade se justifica pelo princípio da preservação da
empresa, tentando evitar a extinção desta, preservando
empregos e interesses do fisco e da comunidade. O fim da
atividade pode ser mais danoso do que a continuação dela,
ainda que com um incapaz.
▪ Nesse caso, a continuação da atividade será necessariamente
precedida de autorização judicial, que analisaráos riscos da
empresa, bem como a conveniência de continuá-la.
▪ Dentro dessa mesma ideia, o mesmo artigo prevê a
possibilidade de nomeação de gerentes em qualquer caso que o
juiz entenda ser conveniente. Ora, permitindo a continuação da
empresa com incapazes, para preservar a empresa e os
interesses que a circundam, devem-se tomar todas as medidas
que se apresentarem convenientes para a melhor condução da
empresa, como a nomeação de gerentes.
● Havendo a nomeação de gerentes, caberá a estes o uso
da firma, nos termos do art. 976, parágrafo único, CC, tal
condição permitirá que o gerente pratique os atos
normalmente, com a celeridade que a atividade
empresarial exige. Para mais informações sobre o
gerente, que é um auxiliar do empresário, ver seção 6.4.
▪ Em termos de limitação da responsabilidade patrimonial, o
Código Civil criou um destaque patrimonial (art. 974, §2º, CC)
para proteger o incapaz que vai à falência em uma atividade
empresarial.
● Nestes casos, os incapazes respondem pelos resultados
da atividade empresarial com aqueles bens ligados a ela,
sendo imunes os bens que o incapaz já possuía ao
tempo da interdição ou da sucessão, desde que
estranhos à empresa.
● Proibições ou restrições à atividade empresarial: podem haver proibições
ou restrições à atividade empresarial., ambas impedindo ou podendo impedir o
exercício da empresa. De acordo com o art. 973, CC, se uma pessoa
legalmente impedida exercer a empresa, ela mesmo assim responderá pelas
obrigações contraídas.
Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade
própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações
contraídas.
o Proibições: decorre, principalmente, da exclusividade e da dedicação
que os cargos públicos exigem.
▪ Servidores públicos federais: não podem ser empresários
individuais, nem exercer cargo de administração em sociedades,
mas podem ser quotistas, acionistas ou comanditários de
sociedades.
● Caso o servidor esteja no gozo de licença para tratar de
interesses particulares, o impedimento não mais
subsiste, ressalvando-se, contudo, a legislação sobre
conflito de interesses.
▪ Magistrados, membros do Ministério Público ou militares da
ativa: não podem ser empresários individuais, nem exercer
cargo de administração em sociedade, mas podem ser quotistas
ou acionistas.
▪ Os falidos: os falidos são impedidos de serem empresários
individuais, não havendo qualquer vedação quanto à condição
de sócios ou acionistas.
● Isto se dá porque os falidos não teriam a idoneidade
necessária para exercer regularmente a atividade
empresarial, sendo a vedação uma proteção para a
comunidade em geral.
▪ Condenados por crimes falimentares: desde que a proibição
conste da sentença de condenação.
o Restrições:
▪ Deputados e senadores: na medida em que a CF lhes proíbe a
condição de proprietários, controladores ou administradores, ou
o exercício de qualquer função remunerada em empresas que
gozem de favor decorrente com pessoa jurídica de direito
público (art. 55, I, CF).
● Requisitos legais mínimos para o exercício da profissão de empresário:
com base no art. 972, CC, os Requisitos legais mínimos para o exercício da
profissão de empresário são:
o (i) Estar em pleno gozo da capacidade civil;
o (ii) Não ser legalmente impedido.
● Dualidade de regimes jurídicos de insolvência: no Brasil, se diz que há uma
dualidade de regimes jurídicos de insolvência, sendo um destinado aos
empresários, chamado de falência, e outro destinado às demais pessoas,
chamado insolvência civil.
o Falência: a falência é o estado em que um devedor possui mais dívidas
do que o montante dos bens que possui, não tendo condições de pagar
todos os seus credores. Se o empresário está insolvente, ele será
submetido ao juízo falimentar, que é da esfera do Direito Empresarial e
é regido pela Lei de falências (Lei nº 11.101/2005).
o Insolvência civil: se uma pessoa não-empresária está insolvente ele
será submetido ao juízo cível. A pessoa está em insolvência quando é
devedora e tem prestações a cumprir de valores superiores aos
rendimentos que recebe.
▪ A apresentação da insolvência civil na legislação é feita no art.
792, IV.
● Aspectos importantes a respeito do empresário individual casado:
o Possibilidade de alienação dos imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou de gravação de ônus real:
▪ De acordo com o art. 1647, I, CC, nenhum dos cônjuges pode,
sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta, alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
▪ Contudo, no caso específico do empresário individual casado,
este poderá, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer
que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o
patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real, de acordo
com o art. 978, CC, que tem uso prioritário com relação ao
empresário em razão do critério da especialidade para solução
do conflito de antinomias.
Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que
integrem o patrimônio da empresa ou gravá los de ônus real.
o Regimes de bens no casamento que vedam aos cônjuges serem sócios
em uma mesma sociedade, entre si ou com terceiros:
▪ Cônjuges podem constituir uma sociedade desde que não sejam
casados (i) no regime de comunhão universal de bens ou (ii) no
regime de separação obrigatória de bens.
● Do ponto de vista patrimonial, ao se casarem com
comunhão universal de bens, o casal passa a ser um
único indivíduo, o que impossibilitaria que os cônjuges
fossem sócios, dado que “são um só”, como um meio de
prevenção a fraudes;
● Em relação à separação obrigatória (legal) de bens
(quando, por exemplo, alguém com mais de 70 anos se
casa com alguém mais novo), a proibição à constituição
de sociedade entre os cônjuges se dá como um meio de
impedir que a sociedade seja utilizada como um meio
para unir os patrimônios em uma situação que a lei
designa que os patrimônios devam ser separados.
Art. 977. Faculta se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou
com terceiros, desde que não tenham casado no regime da
comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.
6.2. A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI)
● Conceito de EIRELI: a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada
(EIRELI) é uma categoria empresarial criada em 2011 que permite a
constituição de uma empresa com apenas um sócio, que é o próprio
empresário, como disposto no art. 980-A, caput, CC.
o A EIRELI permite a separação entre o patrimônio empresarial e privado.
Ou seja, caso o negócio contraia dívidas, apenas o patrimônio social da
empresa será utilizado para quitá-las, exceto em casos de fraude.
▪ Isso é garantido pela exigência de um capital social mínimo de
100 vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no país, no
momento do registro da empresa.
o A EIRELI foi feita para ser uma opção viável para a pessoa física que
queira exercer a atividade empresarial sem comprometer todo o seu
patrimônio pessoal.
Art. 980 A. A empresa individual de responsabilidade limitada será
constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital
social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem)
vezes o maior salário mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei nº
12.441, de 2011)
● Características gerais da EIRELI:
o (a) o empresário, mesmo individual, adquire personalidade jurídica;
o (b) o exercício da atividade empresarial é feito, portanto, por uma
pessoa com responsabilidade limitada (pessoa jurídica), sem
comprometer o patrimônio pessoal do empresário;
o (c) a EIRELI não é uma sociedade, mas um novo ente jurídico
personificado. De acordo com o Enunciado 3 da I Jornada de Direito
Comercial: “A EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente,
distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária”;
o (d) o nome da EIRELI pode ser tanto uma firma social (ou razão social)
quanto uma denominação social (para mais detalhes sobre estes
conceitos, ver seção 7), sempre seguidas da própria expressão

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