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Aula 19_CH_Atualidades_Política na Rússia

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Política na Rússia
Mateus Godoi
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POLÍTICA NA RÚSSIA
“(...) a Rússia reconhece plenamente a sua responsabilidade pela manutenção de segurança quer global 
quer regionalmente e está preparada para tomar medidas conjuntas com outros Estados no sentido de encontrar 
soluções para problemas comuns. Mas se os nossos parceiros se revelarem mal preparados para desenvolverem 
esforços conjuntos, a Rússia, de modo a proteger os seus interesses nacionais, terá que agir unilateralmente, mas 
sempre tendo como base o direito internacional.”
(Federação Russa, 2008)
Introdução
Em 1991, todo o sistema, a integridade territorial soviética, a sua identidade jurídico-política e as suas 
instituições governamentais foram postos em causa. A desintegração da URSS foi profundamente marcante para a 
população russa. Do desmembramento da União Soviética, as quinze repúblicas tornaram-se independentes.
Desde o colapso da União Soviética, a Rússia enfrentou sérios desafios no seu esforço para criar um sistema 
político, após 75 anos de governo socialista. As principais figuras nos ramos legislativos e executivos defendiam 
visões distintas da direção política da Rússia e dos instrumentos governamentais que deveriam ser utilizados. O 
conflito alcançou o seu auge em setembro de 1993, quando o presidente Boris Ieltsin usou força militar para dis-
solver o parlamento e convocou novas eleições legislativas. Uma nova constituição, criando uma presidência forte, 
foi aprovada em referendo, em dezembro do mesmo ano.
Com uma nova constituição e um novo parlamento multipartidário, a estrutura política russa demonstrou 
sinais de estabilidade. Como o período de transição se estendeu pela primeira metade da década de 1990, a 
centralização do poder, a nível nacional, continuou a declinar, já que as regiões passaram a desfrutar de certa 
autonomia política. Apesar do fim do conflito entre os Poderes Executivo e Legislativo, ambos permaneceram como 
representantes de duas visões distintas sobre o futuro do país.
Vladimir Vladimirovitch Putin tem governado a Rússia desde a renúncia de Boris Iéltsin, em 1999. Seu pri-
meiro governo foi marcado por profundas reformas políticas e econômicas, pelo estadismo, por novas tensões com 
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os Estados Unidos e com Europa ocidental, pela rigidez 
com os rebeldes chechenos e pelo resgate do naciona-
lismo russo, atitudes que lembram em parte o regime 
soviético e o czarismo. Entre os eventos mais notáveis 
de seu governo, estão:
 o decreto que permite a indicação dos governa-
dores dos distritos russos pelo próprio presidente;
 a restauração do controle russo sobre a repúbli-
ca separatista da Chechênia;
 os assassinatos não esclarecidos de seus oposi-
tores políticos – Anna Politkovskaia e Alexander 
Litvinenko;
 o fim do colapso econômico russo;
 a estatização de setores estratégicos, que até 
então estavam nas mãos dos oligarcas russos, e 
as consequentes prisões de muitos deles; e
 vários desacordos diplomáticos com a Otan, 
sendo os mais memoráveis a discussão quanto 
ao estabelecimento de mísseis no leste europeu, 
que levou Putin a criticar publicamente a política 
internacional dos EUA, e o apoio russo aos sepa-
ratistas na Ucrânia, após este país ter se alinha-
do à Aliança Atlântica.
Por dezesseis anos, Putin foi oficial do KGB, o 
serviço secreto da União Soviética, chegando à patente 
de tenente-coronel. Aposentou-se das atividades mili-
tares para ingressar na política, em sua cidade, São Pe-
tersburgo, em 1991. Mudou-se para Moscou, em 1996, 
para fazer parte da administração do então presidente 
Boris Iéltsin, na qual cresceu rapidamente, tornando-se 
presidente interino em 31 de dezembro de 1999, quan-
do o presidente Iéltsin renunciou ao cargo.
Venceu as eleições do ano seguinte, tornando-se, 
de fato, presidente da Rússia, sendo reeleito em 2004. Foi 
impedido de concorrer a um terceiro mandato em 2008, 
já que, na época, a constituição russa só permitia dois 
mandatos consecutivos. Assim sendo, seu aliado Dmitri 
Medvedev seria seu sucessor, o que levaria à escolha 
de Putin como primeiro-ministro do país, cargo que ele 
manteve até o final da presidência de Medvedev. Em se-
tembro de 2011, Putin anunciou que concorreria a um 
terceiro mandato nas eleições do ano seguinte, gerando 
diversos protestos nas principais cidades do país. Como 
esperado, foi reeleito por mais seis anos, em seu terceiro 
mandato, com fim previsto para 2018.
Putin tem sido amplamente responsabilizado 
pelo retorno da estabilidade política e do progres-
so econômico da Rússia, pondo fim à crise dos anos 
1990. Durante sua primeira gestão (1999-2008), o lu-
cro real aumentou e os salários mais que triplicaram, 
o desemprego e a pobreza caíram em mais da metade 
e a satisfação de vida da população russa aumentou 
significativamente. O seu primeiro governo foi marcado 
pelo grande crescimento econômico: a economia russa 
cresceu diretamente em oito anos, observando um au-
mento de 72% no PIB. Essas conquistas foram atribu-
ídas pelos analistas à boa gestão macroeconômica, a 
importantes reformas fiscais, ao aumento do fluxo de 
capitais, ao acesso às finanças externas de baixo custo 
e a um aumento de cinco vezes no preço do petróleo e 
gás, que constituem os principais produtos de exporta-
ção da Rússia.
Como presidente da Rússia, Putin transformou 
em lei um aumento de 13% na taxa proporcional da 
receita, uma taxa reduzida de impostos sobre a recei-
ta e novos códigos legais territoriais. Como primeiro-
-ministro, foi responsável por reformas militar e policial 
de larga escala. Sua política energética afirmou a po-
sição da Rússia como superpotência em energia. Putin 
apoiou indústrias de alta tecnologia, como as nucleares 
e de defesa. Um aumento no investimento de capital 
estrangeiro contribuiu pela explosão em certos setores, 
como na indústria automotiva. Somado a esse desen-
volvimento, inclui-se a construção de oleodutos e ga-
sodutos, a restauração do sistema de navegação por 
satélite Glonass e a construção de infraestrutura para 
eventos internacionais.
Na Rússia, a liderança de Putin goza de conside-
rável popularidade, com altas taxas de aprovação geral. 
Por outro lado, várias de suas ações têm sido caracte-
rizadas pela oposição como antidemocráticas. Obser-
vadores ocidentais e organizações também juntaram 
vozes para criticar o governo de Putin. A classificação 
de 2011 do Índice de Democracia apontou que a Rús-
sia está em ”um longo processo de regressão graças à 
mudança de um governo híbrido para um regime auto-
ritário”. Os cabos diplomáticos vazados pelo WikiLeaks 
alegam que a Rússia se tornou um ”Estado mafioso 
virtual”, devido à corrupção sistemática. Alguns críticos 
o descrevem como ditador – alegações que o próprio 
Putin nega incondicionalmente. Sob Putin, a Rússia mo-
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dificou suas relações com os Estados Unidos e o Reino 
Unido, já que adotou uma postura mais independente, 
caracterizada pela política de não intervenção, contrária 
à dos estadunidenses e britânicos. Putin projeta uma 
imagem pública de aventureiro, homem viril, sempre 
engajado em atividades perigosas e incomuns. Algumas 
destas jogadas publicitárias são criticadas ocasional-
mente. Assíduo praticante de artes marciais, teve ampla 
participação no desenvolvimento do esporte russo, sen-
do o exemplo mais notável a colaboração para fazer da 
cidade de Sochi a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno 
de 2014.
Política interna
A política interna de Putin, principalmente du-
rante seu primeiro mandato, visou a criação de um ”po-
der vertical”. Em 13 de maio de 2000, ele sancionou um 
decreto dividindo as 89 subdivisões da Rússia entre sete 
distritos comandados por representantes nomeados por 
ele mesmo, de forma a facilitar a administração federal. 
Putin também desenvolveu uma política de crescimento 
das subdivisões: o número caiu de 89, em 2000, para 
os atuais 83, apósa fusão dos okrugs com demais sub-
divisões próximas.
Em julho de 2000, de acordo com uma lei propos-
ta por Putin e aprovada pelo Soviete Federal, o presidente 
ganhou o direito de despedir chefes das subdivisões fe-
derais e, no ano de 2004, as eleições para governadores 
por voto direto foi extinta, estratégia essa que foi vista 
como necessária por Putin, para dar um fim às tendên-
cias separatistas e livrar-se daqueles governadores que 
estavam conectados com o crime organizado. A medida, 
de fato, parece ter sido temporária, já que, em 2012, se-
gundo proposta do presidente Dmitri Medvedev, sucessor 
de Putin, as eleições para governadores foram reintrodu-
zidas e, junto delas, as reformas de Medvedev também 
simplificaram o registro de partidos políticos e reduziram 
o número de assinaturas necessárias por candidatos de 
partidos não parlamentares para lançar candidatos inde-
pendentes à presidência, afrouxando a rigidez e restri-
ções impostas pela antiga legislação de Putin. A rígida le-
gislação eleitoral foi outro motivo para a crítica da mídia 
independente russa e de observadores estrangeiros, que 
a chamaram de ”antidemocrática”.
Em seu primeiro mandato, Putin se esforçou para 
inibir as ambições políticas de boa parte dos oligarcas 
russos, resultando no exílio e/ou na prisão de muitos 
deles, como Boris Berezovski e Mikhail Khodorkovski. 
Intimidados, outros oligarcas logo se aproximaram do 
círculo de Putin.
Na política russa, a carga negativa do comunismo 
é mais pesada que seu legado.
Putin governou diante de uma intensa luta com 
o crime organizado e o terrorismo, que resultou em uma 
taxa de assassinatos duas vezes menor em 2011, assim 
como uma redução no número de ações de terroristas 
no final dos anos 2000. Também obteve êxito nos códi-
gos das legislações sobre terra e impostos e promulgou 
novos códigos acerca das legislações trabalhista, admi-
nistrativa, criminal, comercial e civil. Sob a presidência 
de Medvedev, o governo de Putin implementou diversas 
reformas na área da segurança de Estado, além da re-
forma na polícia e no exército.
Política externa
No final de agosto de 2014, Putin afirmou: ”As 
pessoas que têm suas próprias opiniões sobre a história 
e a história do nosso país podem discutir comigo, mas 
me parece que os povos russo e ucraniano são prati-
camente um povo”. Depois de fazer uma declaração 
semelhante no final de dezembro de 2015, Putin disse: 
”(...) a cultura ucraniana, bem como a literatura ucra-
niana, certamente tem uma fonte própria”.
Apesar das tensões existentes ou passadas entre a 
Rússia e a maioria das ex-repúblicas soviéticas, Putin seguiu 
a política de integração euro-asiática, endossando a ideia de 
uma União Eurasiática, em 2011 – o conceito foi proposto 
pelo presidente do Cazaquistão, em 1994. Em 18 de novem-
bro de 2011, os presidentes da Bielorrússia, do Cazaquistão 
e da Rússia assinaram um acordo determinando o objetivo 
de estabelecer a União Eurasiática até 2015.
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Conflito entre a Rússia e a Georgia
Um ponto culminante para a eclosão do foco de tensão entre Rússia e Geórgia foi desencadeado pelo 
interesse dos países citados em anexar o território da República de Ossétia do Sul aos seus domínios. Em 20 de 
setembro de 1990, surgiu a República da Ossétia do Sul. Apesar de estar dentro do território da Geórgia, alcançou 
sua autonomia. No entanto, os líderes da Geórgia não aceitaram o fato, declarando ser inconstitucional.
A partir da autonomia da República da Ossétia do Sul, houve o surgimento de um foco de tensão, uma vez 
que a Geórgia não desistiu de reintegrar a região. A Rússia, por sua vez, apoia a decisão da Ossétia do Sul em 
continuar independente. No dia 8 de agosto, as tropas da Geórgia realizaram uma ofensiva apoderando-se da 
Ossétia do Sul. Segundo o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashuili, a Rússia executou bombardeios em seu 
território, figurando como uma invasão que fere a soberania nacional.
O principal motivo que envolve a Rússia nessa questão é que a Ossétia do Sul pretende ser anexada ao ter-
ritório russo para se juntar ao restante de sua etnia, que se encontra na Ossétia do Norte, localizada em território 
russo, indo totalmente contra os interesses da Geórgia.
O presidente da Geórgia afirmou que a Rússia enviou veículos militares para a Geórgia e a Ossétia do Sul, 
com a finalidade de impedir a entrada das forças militares georgianas. Esses fatos levam a crer que essa divergên-
cia geopolítica pode conduzir a uma guerra, tendo em vista que já ocorreram confrontos armados com vítimas.
Segundo o dirigente da república, Eduard Kokoiti, a Geórgia tem objetivos de realizar uma limpeza étnica 
na Ossétia do Sul, sendo que esse último ataque figura o terceiro genocídio promovido pelas forças militares 
georgianas. Esse conflito está alicerçado na troca de acusações entre Rússia e Geórgia. A Rússia afirma que a 
Geórgia destruiu uma cidade na Ossétia do Sul por meio de ataques aéreos. A Geórgia acusa a Rússia de atacar 
sua base e se defende afirmando às autoridades internacionais que está sendo vítima das forças armadas russas.
De forma genérica, esse é mais um problema geopolítico desenvolvido no leste europeu, quase sempre mo-
tivado pela intolerância étnica, cultural e religiosa. A Ossétia do Sul é um território de mais ou menos 4 mil km2 
localizado a cerca de 100 km ao norte da capital da Geórgia, Tbilisi, na encosta sul das montanhas do Cáucaso. O 
colapso da União Soviética alimentou o nascimento de um movimento separatista na Ossétia do Sul, que sempre 
se sentiu mais próxima da Rússia que da Geórgia. A região livrou-se do controle georgiano durante uma guerra 
travada em 1991 e 1992 e na qual milhares de pessoas morreram. A Ossétia do Sul mantém uma estreita relação 
com a vizinha russa Ossétia do Norte, que fica do lado norte do Cáucaso.
A maior parte de seus quase 70 mil habitantes é etnicamente distinta dos georgianos e fala sua própria 
língua, parecida com o persa. Essas pessoas afirmam terem sido absorvidas à força pela Geórgia, durante o 
regime soviético, e almejavam exercer seu direito à autodeterminação. Cerca de dois terços do orçamento anual 
da região, aproximadamente de US$ 30 milhões, vêm do governo russo. Quase todos os moradores dali exibem 
passaportes russos e usam o rublo russo como moeda. O estado de ”cristalização” do conflito na Ossétia do Sul, 
assim como o da outra região separatista georgiana, a Abkházia, permitiu à Rússia preservar um instrumento vital 
de influência sobre seu vizinho do sul.
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A Rússia e as ex-repúblicas
Após a anexação da península da Crimeia à Federação Russa, observadores se perguntam se o presidente 
Vladimir Putin terá na mira outros países na periferia da Rússia.
 Estônia: cerca de um quarto de seus 1,3 milhão de habitantes é de origem russa. O Estado no extremo 
nordeste da Europa tem muitas florestas, possui mais de 1.500 ilhas e é considerado local promissor para 
empresas de internet.
 Letônia: um pouco maior, era altamente industrializada na época soviética e atraiu muitos imigrantes rus-
sos. Mais de um quarto de seus atuais 2 milhões de habitantes fala russo. A agricultura, a pesca e a silvicul-
tura são os principais pilares da economia local.
 Lituânia: com 3 milhões de habitantes, foi a primeira república a se declarar independente da URSS. No 
entanto, até hoje mantém laços econômicos estreitos com a Rússia, sua principal parceira de negócios, 
para onde vai quase 18% das exportações lituanas. Moscou observa o país com atenção especial, pois ele 
faz fronteira com o enclave russo Caliningrado.
Vizinhos na União Europeia
Mais para o sul, Belarus, Ucrânia e a República da Moldávia formam uma zona-tampão entre a Rússia e a 
UE, que há alguns anos vêm se expandindo em direção a leste. Enquanto Belarus aderiu à União Aduaneira Russa, 
a Ucrânia e a Moldávia são do interesse ativo da UE.
 Belarus: após o colapso da União Soviética,tornou-se independente em 1991. Desde 1994, o presiden-
te Alexander Lukashenko governa o país com punho de ferro. Ele se opõe à privatização das empresas 
estatais – economia privada é praticamente inexistente – e tem grande interesse no estreitamente das 
relações com Moscou. O país depende muito do petróleo russo. Grande parte do transporte do petróleo e 
gás da Rússia para a Europa Ocidental se dá através de Belarus.
 Ucrânia: há bastante tempo, o país está nas manchetes, devido a meses de protestos, deposição do presi-
dente, novo governo interino e o referendo na Crimeia, que definiu a anexação da península pela Rússia. 
A Ucrânia tem uma longa história de submissão a potências estrangeiras: segundo certos estudiosos, seu 
nome significaria ”terra fronteiriça”. No tocante ao idioma, história e política, o país é profundamente 
dividido. Um terço dos habitantes têm o russo como língua materna, e o leste é fundamentalmente pró-
-russo. A Ucrânia é vital para o abastecimento da Rússia com gêneros alimentícios e também um ponto 
nodal para as exportações russas de energia, além de importante fornecedora de água e eletricidade para 
a Crimeia. O país e a UE trabalham em direção a um acordo de associação, que já foi em parte assinado.
 República da Moldávia: até ser anexada pela União Soviética em 1940, pertencia à Romênia. Com 4 
milhões de habitantes, luta contra tendências separatistas internas, sobretudo nas regiões da Transnístria 
e da Gagaúzia. Em seus esforços por um contato mais estreito com a Moldávia, a UE está negociando um 
acordo de associação. Em contrapartida, Moscou tenta forçar a república a aderir a sua união aduaneira, 
por exemplo, boicotando as exportações moldávias de vinho e produtos agrícolas.
Cáucaso
O Cáucaso, na interface entre a Europa e a Ásia, é uma das regiões de maior diversidade linguística e cultural 
do Planeta, mas também é um viveiro de conflitos. Com exceção do Azerbaijão – rico em petróleo –, a maioria dos 
países da região não conseguiu se firmar economicamente na era pós-soviética, o que origina grandes conflitos 
sociais. A influência russa continua sendo enorme. Os principais focos de crise são: Abkházia, Ossétia do Sul, 
Inguchétia, Tchetchênia e Daguestão.
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 Abkházia: em 1999, declarou sua indepen-
dência em relação à Geórgia, que não reco-
nhece a separação. Porém, a economia do 
país de 250 mil habitantes foi prejudicada 
na luta pela autonomia. A Rússia procura 
intensificar sua influência e, recentemente, 
aumentou seus investimentos na Abkházia, 
além de usar o país desde 2010 para esta-
cionar seus mísseis antiaéreos.
 Ossétia do Sul: reconhecida pela Rússia 
como Estado independente depois da guer-
ra na Geórgia, ela é hoje um enclave de 70 
mil habitantes, extremamente dependente 
de verbas russas. Sua cota de desemprego 
é alta, assim como seu custo de vida. Há 
anos, ela se empenha pelo ingresso na Fe-
deração Russa.
 Inguchétia: república autônoma dentro 
da Federação Russa, com 400 mil habitan-
tes, na maioria muçulmanos. As origens 
étnicas são de grande importância em sua 
sociedade.
 Tchetchênia: em 1991, após o fim da 
URSS, declarou sua independência em 
relação à Rússia. Três anos mais tarde, o 
Kremlin enviou tropas para o país para res-
tabelecer sua autoridade, resultando na pri-
meira guerra da Tchetchênia, terminada em 
1996 com a fragorosa derrota da Rússia. 
Em 1999, os militares russos retornaram 
ao país. A taxa de desemprego e a pobreza 
são grandes entre os 1,25 milhão de tche-
tchenos, apesar das injeções financeiras de 
Moscou para a reconstrução.
 Daguestão: assim como a Inguchétia e a 
Tchetchênia, é uma república autônoma 
dentro da Rússia, com quase 3 milhões de 
habitantes e maioria muçulmana. O russo 
é a primeira língua oficial, embora apenas 
3,5% da população seja de etnia russa. A 
extração de petróleo e gás são os setores 
econômicos mais importantes, ao lado da 
pesca. As autoridades do país são avalia-
das como basicamente fiéis a Moscou, mas 
também extremamente corruptas.
As eleições de 2018
Ao longo do último século, apenas um político 
russo permaneceu no poder mais tempo que Vladimir 
Putin: Josef Stalin, que ocupou por 31 anos, entre 1922 
e 1953, o cargo de secretário-geral do Partido Comunis-
ta na extinta União Soviética.
Com a vitória nas eleições de março de 2018, 
Putin será presidente da Rússia, pela quarta vez, até 
2024, quando somará 25 anos no poder – se contados 
os quase cinco anos em que foi primeiro-ministro.
De acordo com os resultados oficiais, ele obte-
ve mais de 76% dos votos. O segundo colocado, Pável 
Grudinin, do Partido Comunista, só alcançou 12% dos 
votos. O resultado não causou surpresa, já que Putin 
liderava as pesquisas com margem ampla. Vale destacar 
que o principal líder da oposição, Alexei Navalny, esta-
va impossibilitado de concorrer por ter sido condenado 
em um caso de desvio de recursos públicos. Navalny 
assegura que a condenação teve motivações políticas, 
gerada por seu protagonismo nas manifestações contra 
Putin nas eleições de 2012.
No Ocidente, o presidente russo é visto por mui-
tos como um autocrata que rejeita valores democráticos 
e direitos humanos. Mas na Rússia, ele tem altos índices 
de popularidade e sua política externa é motivo de or-
gulho para muitos russos.
A queda da União Soviética no final de 1991 
provocou ”confusão e ressentimento” entre os russos. 
A União Soviética, que havia sido uma das maiores po-
tências mundiais, de repente se desmembrava, perdia 
território e renunciava a postulados políticos e ideoló-
gicos para adotar práticas que, durante décadas, havia 
desprezado.
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A maior parte dos russos enxerga ações de for-
ça – por exemplo, a anexação da Crimeia – como o 
retorno da ”Grande Rússia”. Além disso, ao abandonar 
o controle estatal sobre os preços, a sociedade sofreu, 
na época, com a hiperinflação, agravada pela alta dívida 
externa. No entanto, durante os últimos anos, o nacio-
nalismo ressurgiu na Rússia, e muitos especialistas o 
atribuem a Putin e a seu discurso, que evoca a grandeza 
do passado.
Um em cada três russos acredita que seu país 
não integra a cultura europeia nem asiática, sendo uma 
”civilização única”, conforme levantamento feito em 
2014 pela agência russa Romir.
O governo russo ”utiliza a história, elegendo as 
partes do passado que quer ressaltar ou menosprezar”. 
Algo que ajuda a explicar porque, na Rússia de Putin, o 
czar Nicolau II, convertido em santo pela Igreja ortodo-
xa russa, é amplamente admirado, assim como o princi-
pal suspeito de ordenar seu assassinato, Vladimir Lênin, 
o principal líder da Revolução Comunista de 1917.
Putin passou, nos últimos anos, de uma popularidade de 60% para 89%.
O êxito de Putin recai no fato de ter conseguido 
construir uma identidade nacional em uma sociedade 
tão étnica e culturalmente diversa como a Rússia. Para 
unir grupos tão diferentes, como os tártaros e os russos 
da capital, ele não focou em ressaltar o que esses dois 
povos têm em comum, mas sim o que os separam de 
dissidentes. O argumento de Putin é o de que oposito-
res não compartilham ”valores tradicionais russos” de 
patriotismo e moral.
Antes do conflito com a Ucrânia – que resultou 
na anexação da Crimeia pela Rússia –, a popularidade 
de Putin vivia seu ”pior momento”, girando em torno 
de 60%. Um ano depois, disparou para 89%, segundo 
o instituto de pesquisa de opinião russo Centro Levada.
Os atritos atuais com países europeus e a inter-
venção no conflito da Síria (a Rússia é a principal aliada 
do presidente Bashar al-Assad) parecem ter devolvido 
ao país, aos olhos da população local, o lugar de desta-
que em temas geopolíticos que costumava ter na época 
da União Soviética.
Todos esses fatores têm contribuído para restau-
rar o orgulho de um povo que, no começo do milênio, 
sofria uma grave crise de identidade.
A economia e 
o medode reviver os anos 1990
A queda da União Soviética foi um duro golpe 
econômico para a sociedade russa. O produto interno 
bruto (PIB) per capita se reduziu de US$ 3.485,00, em 
1991, para US$ 1.330,00, em 1999, uma queda de 
38%, segundo dados do Banco Mundial estimados em 
função do valor atual do dólar.
No entanto, nos anos 2000, quando a era Putin 
teve início, a economia voltou a crescer. O PIB per capita 
aumentou até alcançar, em 2013, o valor recorde de 
US$ 16 mil (R$ 52 mil, aproximadamente). A proporção 
de russos que vivem na pobreza passou de 33,5%, em 
1992, para 13,4%, em 2016, segundo o Serviço Federal 
Russo de Estatísticas.
Durante o governo de Putin, também surgiram 
os primeiros multimilionários russos. Desde 2013, co-
meçou a haver um retrocesso na expansão e na redução 
da pobreza. No entanto, a sociedade russa ainda asso-
cia a bonança a Putin e não se esqueceu das ”penúrias” 
sofridas na década de 1990.
Valores como democracia e liberdades parecem ocupar o segundo plano, 
atrás de bem-estar econômico, na Rússia.
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Aos seus 66 anos, o presidente russo não hesita 
na hora de tirar a blusa e exibir os músculos. Ele se dei-
xa fotografar enquanto faz exercícios, nada, voa de asa 
delta, pratica caratê, sai para pescar, caçar ou montar a 
cavalo. Essas atividades tradicionalmente associadas à 
força e ao domínio contribuíram para criar uma imagem 
de ”macho alfa”– alguém forte e capaz de governar 
com firmeza, o que inspira a segurança e a confiança 
em muitos russos.
”Sem Putin não há Rússia”, disse, recentemente, o presidente do parla-
mento russo Oleo Sokolov, que integra um grupo jovem de simpatizantes 
de Putin.
Mas nem todos os que votam por Putin simpa-
tizam com suas políticas. Alguns russos simplesmente 
optam por manter o status quo diante do temor de que 
um novo cenário seja pior.
Na Rússia de hoje, o poder e a liderança estão 
centralizados na figura de Putin. A equipe dele se en-
carregou de construir essa dinâmica, como demonstram 
declarações do atual presidente da Duma (parlamento 
russo), Vyacheslav Volodin: ”Na atualidade, sem Putin 
não há Rússia” ou ”Qualquer ataque a Putin é um ata-
que à Rússia”. Alguns russos temem que, sem Putin, a 
Rússia se desmorone.
”Se Putin morresse, ninguém saberia o que acon-
teceria no dia seguinte. Seria como no filme A morte de 
Stalin”, afirmam os editores do serviço russo da BBC, 
em referência ao filme que narra de maneira cômica as 
traições e disputas pelo poder, após a morte do líder 
soviético. Para quem pensa assim, ter Putin novamente 
como presidente seria um mal menor.
A expulsão de diplomatas russos
Até então, 14 países da União Europeia, Ca-
nadá, EUA e Ucrânia se aliaram ao Reino Unido, no 
que diz respeito à acusação contra a Rússia – até 
então sem provas – do envenenamento perto de 
um shopping em Salisbury.
Em especial, a Alemanha mandou embo-
ra quatro diplomatas russos; já a Dinamarca e a 
Ho-landa mandaram de volta para casa dois di-
plomatas russos, cada. Países bálticos, no total, 
mandaram embora cinco diplomatas russos, en-
quanto os governos italiano, romeno, croata, sueco 
e finlandês optaram por expulsar um diplomata 
russo, cada. Além disso, quatro funcionários russos 
desaíram da Polônia, sendo esta quantidade igual 
aos que deixaram a França. Quanto à Ucrânia, o 
governo mandou expulsar treze diplomatas, e no 
caso da República Tcheca são três. Trump, por sua 
vez, ordenou a expulsão de 60 diplomatas, entre 
os quais, 48 trabalhavam na embaixada russa, e 
outros doze na ONU.
No entanto, o embaixador da Rússia nos EUA, 
Anatoly Antonov, frisou que a responsabilidade 
das consequências da fratura das relações russo--
-americanas cabe aos EUA. Antonov acrescentou: 
”(...) por sua vez, expresso protesto rigoroso em 
relação às ações ilegais dos EUA, ressalto que hoje 
em dia não há nenhuma prova sobre a intervenção 
da Federação da Rússia na investigação do caso, 
bem como sobre envolvimento da Rússia na tragé-
dia em Salisbury”.
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A influência de Putin na Venezuela
A Rússia emergiu como um ator influente na crise na Venezuela, quando Washington acusou Moscou de 
convencer o presidente Nicolás Maduro a não fugir para Cuba. Além de ser um dos poucos aliados na América 
latina, Moscou investiu milhões na economia venezuelana.
A tensão na Venezuela foi acentuada desde que Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino em 
janeiro, afirmando que a reeleição de Maduro no ano passado era ilegítima e baseada em três artigos da Constitui-
ção. Mais de 50 países, liderados pelos Estados Unidos, apoiaram o presidente da Assembleia Nacional, enquanto 
China e Rússia deram seu apoio a Maduro.
Atingida pelas sanções ocidentais, a Rússia rapidamente percebeu uma oportunidade, mesmo que isso sig-
nifique abrir um confronto com os Estados Unidos na América latina, tradicional esfera de influência de Washing-
ton. Os laços entre a Rússia e os países ocidentais se deterioram muito desde a anexação da Crimeia, em 2014, 
por parte de Moscou e de seu apoio aos separatistas no leste da Ucrânia e do presidente Bashar al-Assad na Síria.
”A Rússia está fazendo a seguinte jogada em nosso hemisfério, e a Otan está rejeitada”, escreveu no mês 
passado o presidente do Think Tank Atlantic Council, Frederick Kempe.
Rússia e Venezuela mantêm vínculos há algum tempo, e o antecessor de Maduro, Hugo Chávez, era muito 
bem quisto pelo Kremlin. Após a morte de Chávez, em 2013, a relação com o país com as maiores reservas de 
petróleo do mundo continuou a ganhar força.
A Rússia é o segundo credor mais importante em Caracas depois da China, e Moscou investiu pesadamente 
em recursos petrolíferos da Venezuela.
Política na Rússia

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