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1 Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe- ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en- contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. multimídia Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. vivenciando Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê- -las com tranquilidade. áreas de conhecimento do Enem Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque- les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza- ção dos estudos e até a resolução dos exercícios. diagrama de ideias Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio- logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. conexão entre disciplinas Herlan Fellini De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. incidência do tema nas principais provas Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. teoria Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta- dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com- preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. aplicação do conteúdo 2 © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados. Autores Alessandra Alves Vinicius Gruppo Hilário Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-00-6 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2020 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 3 SUMÁRIO GEOGRAFIA AGRÁRIA, INDUSTRIALIZAÇÃO E TRANSPORTES REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS Aulas 27 e 28: Agropecuária brasileira 6 Aulas 29 e 30: Tipos de indústria 33 Aulas 31 e 32: Industrialização do Brasil 46 Aulas 33 e 34: Transportes I 58 Aulas 27 e 28: Regiões socioeconômicas mundiais II: América latina 72 Aulas 29 e 30: Regiões socioeconômicas mundiais III: Europa 83 Aulas 31 e 32: Regiões socioeconômicas mundiais IV: Rússia e Ásia central 99 Aulas 33 e 34: Regiões socioeconômicas mundiais V: China 119 4 Competência 1 – Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais. H1 Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações – naturais, inteiros, racionais ou reais. H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem. H3 Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos. H4 Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantitativas. H5 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos. Competência2 – Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela. H6 Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço tridimensional e sua representação no espaço bidimensional. H7 Identificar características de figuras planas ou espaciais. H8 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de espaço e forma. H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano. Competência 3 – Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. H10 Identificar relações entre grandezas e unidades de medida. H11 Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do cotidiano. H12 Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas. H13 Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento consistente. H14 Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos geométricos relacionados a grandezas e medidas. Competência 4 – Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. H15 Identificar a relação de dependência entre grandezas. H16 Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou inversamente proporcionais. H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação. H18 Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas. Competência 5 – Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas. H19 Identificar representações algébricas que expressem a relação entre grandezas. H20 Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas. H21 Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos algébricos. H22 Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a construção de argumentação. H23 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos algébricos. Competência 6 – Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação. H24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências. H25 Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos. H26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos. Competência 7 – Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos ade- quados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em uma distribuição estatística. H27 Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados (não em classes) ou em gráficos. H28 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade. H29 Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação. H30 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade. 5 AGRÁRIA, INDUSTRIALIZAÇÃO E TRANSPORTES: Incidência do tema nas principais provas UFMG A prova sempre traz uma questão relacionada às principais estruturas da questão agrária no Brasil, chamando atenção aos problemas fundiários. A prova da Unifesp não tem Geografia.A prova relaciona as mudanças sociais produzidas no uso de recursos naturais pela política de conservação da biodiversidade no Brasil e no mundo com as transformações da agricultura familiar em processos de reestruturação agrária. Desde o início do vestibular, tivemos apenas uma questão relacionada aos temas deste livro. Contudo, não espere por surpresas e empenhe-se em todos os temas. Temas de Geografia agrária costumam estar ligados a questões de meio ambiente. A prova busca uma postura crítica, tanto da estrutura agrária no Brasil quanto do acelerado processo de industrialização. Estude os principais conceitos, como os tipos de indústria e os sistemas agrários. Um dos temas preferidos do Enem é Geografia agrária. Atente-se principalmente aos conflitos fundiários. O processo de industrialização no Brasil é um tema muito cobrado. Estude as diferentes industrializações no mundo e no Brasil. Fique atento a tudo: produção agrária e indus- trial, conflitos fundiários e desindustrialização. Geografia agrária e indústria são temas recor- rentes. Estude os principais conceitos. O processo de industrialização não foi uniforme em todos os países, tampouco no mesmo momento. Fique atento aos tipos de industrialização e à forma como as empresas se organizam entre si. A prova da CMMG não tem Geografia.É um vestibular que gosta bastante de Geografia agrária, pedindo tudo em sua prova, desde sistemas agrários a conflitos fundiários. Apresenta bastante mapas e gráficos. Os temas deste livro costumam estar relacionados aos temas de urbanização e demografia. 6 AGROPECUÁRIA BRASILEIRAAULAS 27 E 28 “Liberadas da necessidade de autofornecer-se em bens de consumo variados e bens de produção essenciais (força de tração, forragens, adubos, sementes, animais reprodutores, utensílios etc.), os estabelecimentos agrícolas se especiali- zaram. Elas abandonaram a multiprodução vegetal e ani- mal para se dedicar, quase que exclusivamente, a algumas produções destinadas à venda – aquelas que lhes eram mais vantajosas, tendo em vista as condições físicas e eco- nômicas de cada região, e levando em conta também os meios e as condições de produção peculiares a cada esta- belecimento. Assim, foi constituído um vasto sistema agrá- rio multirregional, composto por subsistemas regionais es- pecializados, complementares (regiões de grandes culturas, regiões de pradarias e de criação de gado leiteiro ou de corte, regiões vinícolas, regiões de produção de legumes, regiões frutíferas etc.). Esse sistema se intercalava com um conjunto de indústrias extrativas, mecânicas e químicas si- tuadas a montante da produção agrícola e que lhe fornecia os meios de produção. Havia a jusante também um con- junto de indústrias e de atividades básicas que estocavam, transformavam e comercializavam seus produtos.” MAZOYER, MARCEL; ROUDART, LAURENCE. HISTÓRIAS DAS AGRICULTURAS DO MUNDO. 1. AGRICULTURA A agricultura no Brasil é, historicamente, umas das principais bases da economia do Brasil, desde os primórdios da colo- nização até o século XXI, evoluindo das extensas monocul- turas para a diversificação da produção. A agricultura é uma atividade que faz parte do setor primário em que a terra é cultivada e colhida para subsistência, exportação e comércio. Produtora de cana-de-açúcar, inicialmente, e de café, depois, a agricultura brasileira apresenta-se como uma das maiores exportadoras do mundo, em diversas espécies de cereais, frutas, grãos e outros. Desde o Estado Novo, com Getúlio Vargas, cunhou-se a expressão “Brasil: celeiro do mundo”, acentuando a vocação agrícola do País. Mas a agricultura brasileira apresenta problemas e desafios que vão da refor- ma agrária às queimadas, do êxodo rural ao financiamento da produção, da rede escoadora à viabilização econômica da agricultura familiar, envolvendo, portanto, questões políticas, sociais, ambientais, tecnológicas e econômicas. COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADE: 16 Dos cerca de 31 milhões de brasileiros que vivem na faixa da pobreza, mais da metade está na zona rural. Nos últimos 25 anos do século XX, cerca de 30 milhões de moradores do campo abandonaram ou perderam suas terras. Nesse tempo, a grande maioria dos recursos de financiamento foi dirigida para as oligarquias e grandes proprietários, atendendo ao modelo de exploração intensiva das propriedades,formação de grandes monoculturas e áreas de pastagens que, com o esgotamento da chamada revolução verde, acabou por revelar uma série de problemas, como o uso excessivo de agrotóxicos, a irrigação e o desmatamento descontrolados, a agressão à cultura nativa, dentre outros. Com a redemocratização, o País teve, entre 1985 e 1988, quase nove mil conflitos sociais no meio rural, com o assassi- nato de 1.167 pessoas por questões agrárias. Nesse período, teve início um confronto que gerou, de um lado, os sindica- tos, os movimentos sociais e a Igreja católica (então no País orientada pela chamada “opção preferencial pelos pobres”, com as comissões pastorais) e, de outro, os grandes proprie- tários, reunidos na UDR – União Democrática Ruralista, cujo líder era Ronaldo Caiado. A mais famosa vítima desses con- flitos foi o sindicalista Chico Mendes, no Acre, em 1988. Segundo o pesquisador Bernardo Mançano, da Unesp, os censos rurais realizados desde 1940 apontavam para a con- centração da terra, somente possível de ser revertida com o fim do êxodo rural e assentamento anual de 150 mil famílias. Durante o governo Itamar Franco, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) realizou cerca de cem mil assentamentos anuais; nesta administração, foi instituído o rito sumário de desapropriação, vencendo um dos principais obstáculos para a medida, que era a sua demora. INTEGRANTES DO MOVIMENTO DOS SEM-TERRA (MST), EM PASSEATA NO EIXO MONUMENTAL, BRASÍLIA, DF 7 As grandes transformações na produção em nível mundial, por força dos avanços tecnológicos, apontam para uma demanda cada vez menor de alguns fatores. Na indústria, isto é particularmente evidente quanto às matérias-primas. Com a industrialização cada vez maior da agricultura, tal tendência se estende também ao campo, particularmen- te quanto à terra. Considerando as transformações con- tidas no bojo da agricultura capitalista, um dos aspectos da análise da pequena produção foi o da inserção dessa categoria no contexto das mudanças tecnológicas. Ao pe- queno produtor restou aderir ao pacote técnico, para que pudesse fazer parte do novo modelo de desenvolvimento da agricultura. Este livro faz parte de uma nova produção ge- ográfica que vem procurando servir de instru- mento para a transformação do campo, têm denunciando o grande número de conflitos, em geral sangrentos, que tem ocorrido no campo e os assassinatos de lideranças sindi- cais, religiosas e de advogados. A agricultura camponesa no Brasil – Ariovaldo Umbelino de oliveira multimídia: livros 1.1. Infraestrutura agrícola Dentre os principais itens infraestruturais que demandam atenção pela atividade agrícola, estão o transporte, os estoques reguladores, a política de preço mínimo e a ar- mazenagem. Produção e produtividade Dois termos muitos falados no espaço agrário são pro- dução e produtividade. Embora pareçam sinônimos, suas funções são bem diferentes. A produção tem a ver com o total produzido, sem considerar o rendimento da atividade produzida. Para exemplificar, podemos citar um país que produziu 130 toneladas de algum cereal. Sabemos o tal produzido, mas não sabemos se houve ou não eficiência no processo produtivo. Contudo, quando falamos em produtividade, estamos relacionando o total produzido a algum outro elemen- to para se ter alguma ideia da eficiência, isto é, do rendimento da produção, sendo que o mais comum é a relação entre o total produzido e a área utilizada. Quando um agricultor consegue aumentar a produção sem aumentar a área, significa dizer que, em relação ao fator área, esse produtor obteve um aumento na sua produtividade. Outros elementos também devem ser considerados, como a água consumida na irrigação, os fertilizantes e agrotóxicos aplicados na plantação e a quantidade de energia consumida. 1.1.1. Escoamento da produção TRANSPORTE DE SAFRA POR RODOVIAS: EXEMPLO DE ATRASO NA INFRAESTRUTURA DO BRASIL O transporte das safras é um dos problemas estruturais en- frentados pela agricultura no Brasil. Apesar de ser um dos maiores produtores agrícolas do mundo e um importante exportador de commodities, o Brasil sofre com a falta de qualidade de sua infraestrutura de transportes. Essa ineficiência aumenta os custos da pro- dução rural e reduz sua produtividade, sendo um entrave para o desenvolvimento econômico do País. Estradas não concluídas fazem com que, por exemplo, o transporte de uma tonelada de soja até seu porto de exportação no Brasil seja quase três vezes mais caro que transportar a mesma quantidade do grão por distância se- melhante nos Estados Unidos. Além disso, a falta de infra- estrutura rodoviária impossibilita o escoamento de produ- tos para exportação por portos mais eficientes – em alguns casos, isso onera o produtor em até vinte vezes mais. É o caso do porto de Santarém, que não é utilizado como por- to de descarga por falta de uma boa estrutura rodoviária 8 ligando os municípios produtores à região, apesar de estar mais perto dos mercados consumidores estrangeiros. Por conta disso, o porto de Santos é o mais usado, ainda que seja dezoito vezes mais caro que Santarém. No entanto, uma estrada conectando Cuiabá (MT) a Santarém reduziria custos de transporte em 54%. Com os altos custos em transporte devido à utilização de malha viária inadequada para grandes distâncias e serviços portuários caros e ineficientes, a soja brasileira fica em des- vantagem nas exportações, quando comparada à soja pro- duzida nos outros dois principais países produtores: Argen- tina e Estados Unidos. A Argentina, apesar de ter a rodovia como principal via de transporte, tem menores distâncias a percorrer. Já nos Estados Unidos, assim como o Brasil, onde há grandes extensões a percorrer, a soja é transportada principalmente por hidrovia. O alto custo com transporte li- mita a expansão da agricultura devido ao impacto que tem sobre o custo final de colocação dos produtos agrícolas nos mercados nacional e internacional. Para a soja produzida na região central do Brasil, os custos de transporte entre Campo de Parecis (MT) e o porto de Paranaguá (PR) chega a 30% do preço recebido. Muitas áreas com grande potencial agrícola no Brasil per- manecem impossibilitadas de contribuir produtivamente devido a dificuldades causadas pela falta de uma adequada infraestrutura de transportes. Para atender às necessidades estratégicas da produção agrícola brasileira no que se refere à infraestrutura de transportes, é necessária a criação de uma rede intermodal de transporte, com o objetivo de viabilizar a produção e o escoamento de grãos, integrando racional e competitivamente as áreas de produção e os centros de consumo no País, ou pontos para exportação/importação. Na safra 2008/2009, por exemplo, a Federação da Agricul- tura e Pecuária de Goiás (Faeg) denunciava o estado pre- cário das estradas da região Centro-Oeste, algumas com problemas desde 2005 e, a despeito de solicitações às en- tidades governamentais, nada havia sido feito. A despeito disto, o governo federal elaborou, em 2006, o Plano Nacio- nal de Logística e Transportes, destinado a proporcionar um melhor escoamento da produção. A falta de investimentos no setor, entretanto, continua a ser o principal problema na logística de escoamento. 1.1.2. Armazenagem A armazenagem agrícola é uma das etapas da produção da agricultura do País que apresentam necessidades de investimento e ampliação. Pesquisas recentes levantam o problema do des- compasso entre a produção de grãos no Brasil, de 1994 a 2003, passando de 76 milhões de toneladas para 123 milhões de toneladas, com um crescimento de 62%, enquanto a capacidade de armazenagem avançou apenas 7,4%, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O objetivo do estudo foi identificar as regiões críticas quanto à disponibilidade de espaço para melhor adequação e expansão da armazenagem, principalmente nas propriedades rurais, visando fornecerao produtor condições de reter sua produção para aproveitar as melhores épocas de comercialização, procurando evitar também o congestionamento de armazéns, silos e portos em períodos de safra. É importante salientar que os programas governa- mentais de apoio à pesquisa, como o de moderniza- ção da frota de tratores, colhedoras e implementos agrícolas, vêm contribuindo para o crescimento da produção de grãos, elevando a produtividade, não só nas novas fronteiras da região setentrional, mas também nas zonas tradicionais do Sudeste-Sul, onde ocorrem substituições de atividades, principalmente em razão da elevada remuneração alcançada pela soja nos últimos anos. Estimativas concluem que a capacidade de armazena- gem do Brasil exige elevada soma de investimento de infraestrutura, uma vez que não tem acompanhado, ao longo dos anos, o ritmo de crescimento das sa- fras. Estudos precedentes sobre o tema apontam que nunca houve de fato muita clareza sobre a prioridade para o complexo armazenador brasileiro. Nos últimos anos o explosivo crescimento da soja, co- locou o país como principal exportador mundial com 37 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos com 34 milhões de toneladas, com perspectivas de sucessivos ganhos nas próximas safras. Na década de 1970, foi implantado o Programa Nacional de Armazenagem – Pronazem, que previa a construção de armazenagens em nível de fazenda, intermediária e termi- nal. O programa, à época, financiou a expansão da capa- cidade armazenadora em aproximadamente cinco milhões de toneladas. Com o advento das políticas neoliberais e 9 dos desastres na condução da política econômica brasilei- ra, o setor teve baixo crescimento, motivado, entre outras coisas, pela extinção do Pronazem. Capitaneada pela soja, a expressiva expansão dos grãos dos últimos anos induziu substanciais investimentos para ampliação da capacidade da rede de armazenagem, prin- cipalmente por cooperativas e produtores agrícolas. Mes- mo assim, sabe-se que ainda ocorrem sérios problemas de adequação e localização, com efeitos prejudiciais à com- petitividade do agronegócio nacional. Desde a década de 1990, o poder público tem deixado de atuar diretamente em áreas de infraestrutura, como é o caso da armazena- gem. Como exemplo, pode-se citar a desmobilização pa- trimonial da Conab, com a privatização de 38 armazéns. A demanda de armazenagem é de 155,2 milhões de tone- ladas, sendo 44,7 milhões de toneladas de produtos ensa- cados que necessitam de armazéns convencionais, como é o caso do açúcar, algodão (caroço), amendoim, arroz, café beneficiado, feijão, girassol e mamona. Quanto aos produ- tos a granel, 114,5 milhões de toneladas, demandam silos e graneleiros, como é o caso da aveia, centeio, cevada, mi- lho, soja, sorgo e trigo nacional e importado. As unidades federativas que lideraram a demanda total de armazenagem brasileira em 2003 foram: Paraná (20,3%), São Paulo (15,7%), Rio Grande do Sul (14,8%), Mato Grosso (12,3%), Goiás (7,7%) e Minas Gerais (7,2%), per- fazendo um total de 78%. SILO DE ARMAZENAMENTO DE GRÃOS Por falta de armazéns e silos, a produção precisa ser comer- cializada rapidamente. Segundo dados da Conab, apenas 11% dos armazéns estão nas fazendas (na Argentina, esse total é de 40%, na União Europeia, de 50% e no Canadá chega a 80%). Isto força o agricultor a servir-se de tercei- ros para estocar sua produção. Fatores sazonais, como a quebra de safras e a defasagem cambial, descapitalizam o produtor, que acaba não conseguindo investir na constru- ção de silos. Com estes, poderia negociar sua produção em condições mais favoráveis, e não quando da colheita ape- nas. A situação brasileira permite dizer que os caminhões se transformam em “silos sobre rodas”. O crescimento da exploração agrícola em direção à re- gião Centro-Norte do País exigiu e continua a exigir maci- ços investimentos na rede de armazenagem e nos modos de transporte, ao mesmo tempo em que os problemas de adequação e de localização das unidades existentes precisam ser resolvidos. Outra questão importante é o atendimento da necessidade de infraestrutura adicional para culturas em expansão (sorgo granífero e triticale), cujos produtos demandam silos especí- ficos, bem como dos grãos geneticamente modificados, cuja produção exige igualmente um sistema próprio de guarda. Daí a necessidade de novas pesquisas para um posiciona- mento sobre a situação atual e as perspectivas para a arma- zenagem frente à nova geografia do Brasil rural. 1.1.3. Estoques reguladores e preço mínimo Historicamente, os geradores de estoques reguladores de alimentos eram uma das principais políticas públicas ado- tadas pelas grandes nações do mundo, principalmente por conta das oscilações de preços e do fantasma da fome. Entretanto, houve uma mudança profunda na política de comercialização: o avanço do liberalismo no comércio e a crise fiscal levaram ao desmonte do sistema de garantia de preços mínimos. Desde os últimos anos da década de 1980, com a redução significativa das aplicações públicas fiscais e financeiras no setor agrícola, os principais instru- mentos de política agrícola – crédito rural e preços mínimos – foram severamente sacrificados. A partir de 1995, os me- canismos tradicionais de políticas foram substituídos pelo contrato de opção, no qual o produtor adquire o direito de vender ao governo pelo preço mínimo, e pelo Programa para Escoamento de Produto, adquirido pelo comprador. Esses instrumentos, vigentes até hoje, demandam menos recursos públicos, já que o governo paga apenas a diferen- ça entre o preço mínimo e o preço de mercado. Um bom exemplo da necessidade da formação de esto- ques reguladores está na produção de álcool combustível a partir da cana-de-açúcar. A grande variação de preços ao longo do ano-safra, por razões climáticas e fitossanitárias, justifica a formação de estoques. Os estoques também visam assegurar estabilidade aos rendimentos dos agricultores, além de impedir a flutuação de preços das entressafras. Até a década de 1980, havia no País a implantação da chamada Política de Garantia de Preços Mínimos, que perdeu importância na política agrí- cola a partir dos anos 1990, com a globalização. O principal efeito é a instabilidade de preços dos produtos agrícolas. 1.2. Irrigação Se a história das grandes civilizações pode ser contada se- gundo o desenvolvimento da exploração agrícola e da do- mesticação animal, a irrigação deve ser considerada como a tecnologia que mais proveu prosperidade. A irrigação é o maior uso da água no Brasil e no mundo e tem sido objeto 10 de estudos próprios da ANA (Agencia Nacional de Águas) ou em parceria com a Embrapa. A irrigação no Brasil foi desenvolvida por meio do uso de diferentes modelos. O envolvimento público na irrigação é relativamente novo, enquanto o investimento privado tem sido tradicionalmente responsável pelo desenvolvimento da irrigação. A irrigação privada predomina nas regiões povoadas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde ocorre a maior parte do desenvolvimento industrial e agrícola do País. Na região Nordeste, os investimentos feitos pelo se- tor público buscam estimular o desenvolvimento regional, em uma área propensa a secas e com graves problemas sociais. Essas diferentes abordagens têm resultado em con- sequências diversas: dos 120 milhões de hectares (ha) po- tencialmente disponíveis para a agricultura, somente cerca de 3,5 milhões de hectares estão atualmente irrigados, embora as estimativas mostrem que 29 milhões desses hectares sejam adequados para essa prática. IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO AUTOPROPELIDO Em 1970, havia menos de 800 mil hectares de terras irriga- das, usadas principalmente como arrozais no Estado do Rio Grande do Sul e menos intensivamente em algumas áreas de irrigação pública na região Nordeste. Na verdade, a irriga- ção somente deu certo, desde então, com a implementação de políticas de investimento públicoem infraestrutura de irrigação, transmissão e distribuição de energia, bem como financiamento de equipamentos e de despesas do dia a dia, por meio de programas como o Programa de Irrigação do Nordeste (Proine) e o Programa Nacional de Irrigação (Proni). Conforme o Censo agropecuário, realizado pelo IBGE, em 2017, o uso de irrigação foi ampliado, se comparado ao de 2006, com aumento de 52% tanto em estabelecimentos (502.425) quanto em área (6.903.048 hectares). IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE Como toda tecnologia empregada na produção agrícola, a irrigação pode causar modificações ambientais e impactar os recursos naturais (solo, recursos hídricos, fauna e flora). Esses impactos, no meio ambiente, podem ter tanto uma abrangência local (propriedade agrícola), regional (bacia hidrográfica) ou mesmo nacional (poluição dos mares). As questões que envolvem esses impactos devem ser vistas de forma sistêmica, procurando considerar todas suas dimen- sões relevantes para a produção agrícola (antes, durante e depois) nos diversos compartimentos (água, solo, ar e siste- mas vivos). As ações de captação e de disponibilização da água, a sua distribuição, o seu uso e a sua descarga são di- mensões relevantes para se avaliar os impactos ambientais. Programa Globo Rural FONTE: GLOBO multimídia: vídeo 11 1.3. Gestão territorializada da agricultura Gestão territorializada da agricultura é a proposta de estí- mulo ao ordenamento territorial da agricultura brasileira e o uso eficiente do solo. A maior capacidade de gestão das atividades de agricultura, pecuária e silvicultura é funda- mental para conciliar as exigências de controle e abran- damento dos impactos ambientais, com o atendimento às demandas para produção de alimentos, agroenergia e insumos florestais para a indústria. Ela trata do estabelecimento de uma política que considere nos diferentes potenciais produtivos e sua localização no território, oferecendo instrumentos que permitam monito- rar a situação agrícola por meio de ferramentas geoespa- ciais, considerando assimetrias no uso do solo em termos de produtividade, tecnologias e demandas futuras. Com- binando esses instrumentos a novas propostas no Plana Safra no Programa Agricultura de Baixo Carbono e estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, a oferta de crédito poderá ser guiada à intensifi- cação do uso de determinadas áreas, orientando o produ- tor para a priorização de sistemas sustentáveis. 2. AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL De acordo com a Constituição brasileira, considera-se agri- cultor familiar aquele que desenvolve atividades econômi- cas no meio rural e que atende a alguns requisitos básicos, tais como: não possuir propriedade rural maior que quatro módulos fiscais; utilizar predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas de proprieda- de; e possuir a maior parte da renda familiar proveniente das atividades agropecuárias desenvolvidas no estabeleci- mento rural. No ano de 2006, o IBGE realizou o Censo Agropecuário Brasileiro. Nele, verificou-se a força e a importância da agri- cultura familiar para a produção de alimentos no País. Ela é responsável direta pela produção de grande parte dos produtos agrícolas brasileiros, contribuindo com a produ- ção de 84% da mandioca, 67% do feijão e 49% do milho. Na década de 1990, a agricultura familiar cresceu cerca de 75%, contra apenas 40% da agricultura patronal. Isso se deve, em grande parte, à criação do Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf), que abriu uma linha especial de crédito para o financiamento do setor. Aproximadamente 84,4% dos estabelecimentos agropecu- ários do País são da agricultura familiar. Em termos absolu- tos, são 4,36 milhões de estabelecimentos agropecuários. Entretanto, a área ocupada pela agricultura familiar era de apenas 80,25 milhões de hectares, o que corresponde a 24,3% da área total ocupada por estabelecimentos rurais. Apesar da importância da agricultura familiar para o País, as políticas públicas adotadas ainda privilegiam os latifundiá- rios. Como exemplo, cita-se o plano de safra 2011/2012, em que R$ 107 bilhões foram destinados à agricultura empresa- rial, enquanto que apenas R$ 16 bilhões foram destinados aos produtores familiares. Apesar disso, a agricultura familiar gera, em média, 38% da receita dos estabelecimentos agro- pecuários do País e emprega aproximadamente 74% dos trabalhadores agropecuários brasileiros. O principal programa de incentivo à agricultura familiar é o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricul- tura Familiar), que financia projetos ao pequeno produtor rural, com baixas taxas de juros. Classificação das propriedades rurais Módulo rural: é o imóvel rural que é, direta e pessoalmente, explorado pelo agricultor e sua fa- mília e que absorve toda força de trabalho dessa família, garantindo-lhe a subsistência e o progres- so social e econômico. A área mínima fixada vai depender da região, do tipo de exploração e do número de pessoas da família. É, portanto, a di- mensão mínima, ou seja, é indivisível. Minifúndio: é uma propriedade de terra cujas di- mensões não perfazem o mínimo para configurar um módulo rural. As dimensões são mínimas por vários fatores, mas, principalmente, por causa da situação regional onde os espaços são reduzidos. Está atrelada principalmente à economia de sub- sistência. A atividade econômica nos minifúndios (agricultura familiar) responde por 70% do PIB agrícola do Brasil, dedicando-se, principalmente, à policultura para o mercado interno. Latifúndio por exploração: é o imóvel rural cujas dimensões equivalem a 600 módulos rurais e que seja inexplorado em relação às suas possibi- lidades fiscais, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos. Latifúndio por dimensão: é o imóvel que, ex- plorado racionalmente ou não, possua dimensões superior a 600 módulos rurais da região em que se situa. 12 3. EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO Em função da possibilidade de enormes lucros em alguns ramos da agropecuária, foi inaugurado um agrossistema baseado no alto grau de capitalização e na organização empresarial: o agronegócio. O capital aplicado na agri- cultura pode ser gerenciado por empresas instaladas nas grandes cidades, ou seja, as fazendas funcionam como ver- dadeiras fábricas de alimentos ou matérias-primas. Com altos investimentos em mecanização e biotecnologia, foi possível alcançar uma intensa produtividade. Baseada no tripé indústria de insumos (máquinas agrícolas, agro- tóxicos, sementes e fertilizantes), na agricultura moderna e na agroindústria (transforma os produtos agrícolas em bens e alimentos processados), a expansão do agronegó- cio esteve ligada à modernização da agricultura, que criou o chamado complexo agroindustrial. Como vimos anteriormente, a formação desse com- plexo agroindustrial teve origem na chamada Revo- lução Verde, um conjunto de transformações no setor agropecuário que envolveu a adoção de inovações tecnológicas e a incorporação de mais maquinários no setor, além de mudanças nos padrões tradicionais de socialização (substituição de formas de trabalho camponesa e familiar pelo assalariado). Entretanto, um dos problemas da Revolução Verde é o impacto que a agricultura moderna vem causando nos diversos países do mundo. Entre os problemas mais co- muns estão a contaminação do solo, o desgaste do solo pela opção da monocultura, o desmatamento, a conta- minação de trabalhadores e o esgotamento das reservas de água para irrigação. Diante disso, vem se falando cada vez mais na necessidade de uma Segunda Revolução Verde, para criar mecanismos que minimizem esses pro- blemas e tornem os sistemas agrícolas mais sustentáveis. Durante as décadas de 1980 e 1990, o Brasil assistiu a uma grande evolução na sua produção agrícola: em uma área praticamente igual à do início dos anos 1980, a pro- dução praticamente dobrou no final do séculoXX. COLHEITADEIRA EM PLANTAÇÃO DE SOJA Em 2010, a Organização Mundial do Comércio apontou o Brasil como o terceiro maior exportador agrícola do mun- do, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia. Vários fatores levaram a este resultado, tais como a melho- ria dos insumos utilizados (sementes, adubos, máquinas), as políticas públicas de incentivo à exportação, a diminuição da carga tributária (como a redução do imposto de circulação, em 1996), a taxa de câmbio real, que permitiu estabilidade de preços (a partir de 1999), o aumento da demanda dos países asiáticos, o crescimento da produtividade das lavouras e outros componentes, como a intercessão governamental junto à OMC para derrubar barreiras comerciais existentes contra produtos brasileiros em países importadores. Este progresso do setor permitiu que a agricultura passasse a representar quase um terço do PIB nacional. Esta avalia- ção leva em conta não somente a produção camponesa, mas de toda a cadeia econômica: desde a indústria pro- dutora dos insumos até aquela envolvida no seu beneficia- mento final, transporte etc. Enquanto a agricultura propriamente dita apresentou, no período de 1990 a 2001, uma queda na oferta de empre- gos, o setor do agronegócio praticamente triplicou a oferta de empregos, que saltou de 372 mil para 1,082 milhão. O número de empresas era, em 1994, de 18 mil e, em 2001, saltou para quase 47 mil. Já a relação emprego/produtivi- dade na agricultura apresentou um crescimento expressivo, oposto à diminuição do número de trabalhadores. O setor agrícola brasileiro possui possibilidades de ampliar a produção existente. Para tanto, há que se considerar as áreas em que podem haver expansão da fronteira agríco- la, bem como o incremento daquelas subexploradas. Os fatores que limitam essa expansão são infraestruturais, o surgimento de pragas em virtude das monoculturas, os problemas ambientais gerados por práticas como o des- matamento etc. 3.1. Agronegócio por regiões As regiões do Brasil possuem ampla diversidade climática e, portanto, apresentam vocação agrícola e industrial com problemáticas bastante diferentes, provocando, assim, par- ticipações bem distintas no agronegócio. No ano de 1995, o percentual da participação das regiões brasileiras deu-se da seguinte forma no total do volume do setor: Norte (4,2%), Nordeste (13,6%), Centro-Oeste (10,4%), Sudeste (41,8%) e Sul (30,0%) – dados estes que revelam a concentração nestas duas últimas regiões de mais de 70% de todo o montante do agronegócio brasileiro. Este quadro vem se alterando, com a pequena e gradual amplia- ção da participação das regiões Centro-Oeste e Norte. 13 3.1.1. Região Sul PARREIRAL GAÚCHO Nos Estados do Sul brasileiro (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), houve considerável participação das cooperativas. Os produtos de maior representatividade no PIB agrícola do País são a avicultura e o arroz irrigado – que lideram –, e posições estáveis com o milho e o feijão – já os produtos como soja, trigo, cebola, batata e outros perderam as posições que ocupavam no ranking nacional. O Sul é ainda o maior produtor de tabaco do País, que, por sua vez, é o maior exportador mundial. A vocação agrícola no Sul, incrementada a partir da década de 1930, coincidiu com a integração com os setores indus- triais da região. Enquanto nos demais Estados as indústrias tenderam, na atualidade, à importação dos insumos, Santa Catarina mantém um elevado grau de interdependência do setor industrial com o agrícola. No Rio Grande do Sul, é importante a participação do agro- negócio familiar, derivado, sobretudo, do modelo de coloni- zação ali realizado, com expressiva representatividade no PIB agrícola daquele Estado. Outro fator importante é que este modelo proporciona um elevado grau de fixação do homem no campo, bem como a interação entre os pequenos produ- tores. No ano de 2004, a região respondia por 14,4% da produção frutícola, ocupando o terceiro lugar do País. 3.1.2. Região Sudeste Em 1995, o Sudeste (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janei- ro e Espírito Santo) era responsável pela maior participação no montante do agronegócio do País, mas em tendência de queda face a expansão das fronteiras agrícolas e a ins- talação de indústrias em outras regiões. O Sudeste é o maior produtor nacional de frutas, produzin- do 49,8% do total nacional, segundo os dados de 2004. A região concentra 60% das empresas de software voltadas para o agronegócio, conforme levantamento efetuado pela Embrapa Informática Agropecuária (situada em Campinas, SP). Quanto à exportação, o setor do agronegócio ocupava a segunda posição nacional, no período de 2000 a 2008, ficando atrás da região Sul; o Sudeste representou 36% do montante exportado de 308 bilhões de dólares – os produtos que mais se destacaram no comércio exterior na região foram o açúcar (17,27%), o café (16,25%), papel e celulose (14,89%), carnes (11,71%) e hortifrutícolas, com destaque para o suco de laranja (10,27%). PLANTAÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, EM AVARÉ-SP 3.1.3. Região Nordeste No Nordeste brasileiro, região formada por nove Estados (Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Gran- de do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão), 82,9% da mão de obra do campo equivale à agricultura familiar. PLANTAÇÃO DE PALMA A região é a maior produtora nacional de banana, respon- dendo pelo montante de 34% do total. Lidera, ainda, a produção de mandioca, com 34,7% do total. É a segun- da maior produtora de arroz, com uma safra estimada, em 2008, de um 1,114 milhão de toneladas, em que o Maranhão tem majoritária participação (com 668 mil to- neladas). Também ocupa a segunda posição na produção frutícola, com 27% da produção nacional. Um dos grandes problemas da região Nordeste são as es- tiagens prolongadas, mais fortes nos anos em que ocorre o fenômeno climático do El Niño. As estiagens provocam o êxodo rural, a perda de produção, minimizados seus efeitos por meio de ações governamentais de emergência, através da construção de açudes e outras obras paliativas, como a transposição do rio São Francisco. As piores secas dos últimos anos foram as de 1993 (considerada a pior em 50 anos), 1998 e 1999. O Censo Agro de 2017 indica um que a região Nordeste teve queda tanto no número de estabelecimentos agropecuários (menos 131.565) quanto na área (menos 9.901.808 ha – aproximadamente, o estado de Pernambuco). 14 3.1.4. Região Norte A região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) tem como principal característica a presença do bioma amazônico, em que a floresta tropical é marcante (por sua presença em parte do Maranhão, este é incluído nas ações de governo nesta região). O grande desafio da região é aliar a rentabilidade e produtividade com a preservação da floresta. OFICINA DE HORTICULTURA, EM MANACAPURU-AM A região já foi responsável, por um curto período, pela pro- dução do mais importante produto de exportação brasilei- ro, no final do século XIX e começo do XX, durante o ciclo da borracha, em que o extrativismo da seringueira gerou o avanço das fronteiras nacionais (conquista do Acre), até o contrabando da árvore pela Inglaterra e sua aclimatação em países asiáticos. É a segunda maior produtora nacional de banana, respon- dendo por 26% do total. Também é a segunda na pro- dução de mandioca (com 25,9% do total), ficando atrás somente do Nordeste. A produção de frutas ocupa a penúl- tima posição, respondendo por 6,1% da produção nacio- nal, à frente apenas da região Centro-Oeste. 3.1.5. Região Centro-Oeste ALHO IRRIGADO, EM CATALÃO-GO Há cerca de trinta anos, a região era quase desconhecida em seu potencial econômico. O principal bioma é o cerrado, cuja exploração foi possível graças às pesquisas para adaptação de novos cultivos de vegetais, como algodão, girassol, ceva- da, trigo etc., permitindo que, em 2004, viesse a se tornar a responsável pela produção de 46% da soja, milho, arroz e feijãoproduzidos no País. Essa é a região onde a fronteira agrícola brasileira teve maior expansão. Durante as três últimas décadas do século XX, sua agricultura teve um crescimento de cerca de 1,5 milhão de toneladas de grãos por safra, saltando de uma produção de 4,2 milhões para 49,3 milhões de toneladas, em 2008 – um crescimento superior a 1.100%. A área cultivada na região, que compreende os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal, em 2008, era de 15,1 milhões hectares, tendo avançado nos primeiros anos do século XXI, sobretudo sobre áreas anteriormente dedicadas à pecuária. Dentre os principais fatores que levaram a esse crescimento, con- ta-se a abertura de estradas, que facilitou o escoamento da produção. Na fruticultura, a participação da região, em dados de 2004, aponta o último lugar no País, com 2,7% do total produzido. 3.2. Principais produtos Dada a sua grande variedade climática e extensão territo- rial, o Brasil possui diversas áreas especializadas em deter- minados cultivos – por vezes, dentro de um mesmo Estado da federação –, como na Bahia, em que se tem o cultivo de soja e algodão (na sua região oeste), de cacau (no sul), fru- tas (no médio São Francisco), feijão (em Irecê) etc. Também um produto agrícola encontra-se em áreas distintas no ter- ritório nacional – por exemplo, o arroz, que é plantado no Rio Grande do Sul, no sul do Maranhão e Piauí, em Sergipe e nas regiões Norte e Centro-Oeste. Alguns produtos, como trigo, arroz e feijão, não têm produ- ção suficiente para atender à demanda interna; outros, como a soja, são quase que exclusivamente produzidos para ex- portação (a soja é o principal produto exportado pelo agro- negócio brasileiro). Por ordem alfabética, apresentaremos a seguir os principais produtos agrícolas do Brasil. 3.2.1. Algodão De 1960, quando teve início a mecanização agrícola do País, até o começo do século XXI, a área plantada com algodão decresceu, os preços caíram, mas a produção au- mentou substancialmente. A partir da década de 1990, o polo produtor deslocou-se das regiões Sul e Sudeste para as regiões Centro-Oeste e oeste da Bahia. Desde 2001, a produção deixou de atender apenas à demanda interna e passou-se a exportar o produto. 15 ALGODÃO, PLANTADO NA REGIÃO DE CERRADO DA BAHIA Com o ingresso do Brasil no mercado exportador de al- godão, logo surgiu o embate com os Estados Unidos, que, com os subsídios e taxações às importações do produto, mantinham o preço do algodão artificialmente baixo no mercado internacional. A reivindicação brasileira foi leva- da à OMC (Organização Mundial do Comércio) no ano de 2002 e, com os recursos impetrados pelos estaduniden- ses, as sanções foram finalmente decididas em 2009. Essa ação marcou a história do agronegócio brasileiro, segundo as palavras do ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes: “(...) [a vitória na OMC foi] um dos momentos mais importantes do agronegócio brasileiro. Mostramos ao mundo que, além de competitivos, somos fortes”. No livro publicado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, a entidade privada dos produtores que, junto ao governo do Brasil, ingressou na OMC com o processo contra os subsídios estadunidenses, intitulada A saga do algodão: das primeiras lavouras à ação na OMC. 3.2.2.Arroz De exportador do grão, o Brasil passou, na década de 1980, a importar o produto em pequenas quantidades para atender à demanda interna. Na década de 1990, tornou-se um dos principais importadores, atingindo no período de 1997-1998 a dois milhões de toneladas, equi- valentes a 10% da demanda. Uruguai e Argentina são os principais fornecedores do cereal para o País. CULTIVO DE ARROZ, EM RIO DO SUL, SC Em 1998, foi plantada uma área total de 3,845 milhões de hectares, havendo uma redução, estimada em 2008, para 2,847 milhões de hectares. A produção, entretanto, saltou de 11,582 milhões de toneladas para, estimadas, 12,177 milhões de toneladas, no ano de 2008. 3.2.3. Café CULTIVO DE CAFÉ, EM FAZENDA NO SUL DE MINAS O cultivo do café iniciou-se no Brasil em 1727 e, já em 1731, o País exportava o produto. Sua evolução como item do comércio exterior brasileiro atingiu o ápice em 1929, quando representava 70% de tudo que o Brasil exportava. Embora sua importância como produto de exportação te- nha diminuído consideravelmente com a diversificação da produção, em 2008 o café representou 2,37% das expor- tações do Brasil e 0,5% do PIB. Entre 2006 e 2009, o Brasil exportou uma média de 28,3 milhões de sacas de café ao ano, o que fez do País o maior exportador mundial. Sua produção anual é de cerca de cem milhões de sacas, 25% do que é produzido no Planeta. A produção estimada para 2009 foi de mais de 39 milhões de sacas, sendo o maior produtor o Estado de Minas Gerais (mais da metade do produzido no País). O cultivo ocupa uma área de 2,3 milhões de hectares, com cerca de 6,4 bilhões de pés. O café de melhor qualidade do País é produzido na cidade baiana de Piatã, onde o grão adquire um sabor especial e único – segundo concurso que avalia o café gourmet, em novembro de 2009. As condições de altitude e clima per- mitiram à cidade da Chapada Diamantina ter outros três produtores entre os dez melhores do Brasil. 3.2.4. Cana-de-açúcar CANAVIAL, EM SÃO PAULO 16 A cana-de-açúcar ocupa a terceira posição entre as cultu- ras cultivadas no Brasil quanto à área, ficando atrás da soja e do milho. O País é o maior produtor mundial, tendo colhi- do, na safra 2007/2008, 493,4 milhões de toneladas, dos quais foram produzidos 31 milhões de toneladas de açúcar e 22,5 milhões de metros cúbicos de álcool. Em números, o setor representa 1,5% do PIB; na exportação de etanol, atinge a marca de 5 bilhões de litros e, na de açúcar, desti- na ao comércio externo 20 milhões de toneladas. A área cultivada, entre 1987 e 2008, evoluiu de 4,35 mi- lhões de hectares para 8,92 milhões de hectares; no perí- odo, a produtividade saltou de 62,31 t/ha para 77,52 t/ ha. As principais regiões produtoras são a Centro-Sul e a Norte-Nordeste, que colheram, respectivamente, na safra 2007/2008, 431,225 milhões de toneladas e 57,859 mi- lhões de toneladas. 3.2.5. Feijão O Brasil é o maior produtor mundial de feijão, respondendo por 16,3% do total produzido, que foi de 18,7 milhões de toneladas, no ano de 2005, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Historicamente, o grão é produzido por pequenos agri- cultores, sendo que, nas últimas duas décadas, cresceu o interesse por parte de integrantes do agronegócio, o que gerou o aumento expressivo da produtividade, em alguns casos superando os três mil kg/ha. CULTIVO DE FEIJÃO, EM AVARÉ-SP A área cultivada com feijão sofreu uma redução, no perí- odo de 1984 a 2004, de cerca de 25%. Isto, entretanto, não resultou na diminuição da produção, que teve au- mento de 16% no período. É cultivado em todo o País, havendo, portanto, dadas as diferenças climáticas, safras durante todo o ano. Apesar de sua posição de liderança entre os produtores, com safras equivalendo a três milhões de toneladas ao ano, a produção do feijão não é suficiente para atender à demanda interna. Com isso, o Brasil importa cem mil tone- ladas ao ano do produto. 3.2.6. Milho MILHARAL, EM CAMPINAS-SP A produção brasileira se dá, basicamente, em duas épocas ao ano: a safra, propriamente dita, durante os períodos de chuva; e a chamada “safrinha” – ou “de sequeiro” –, du- rante a estiagem. O primeiro caso ocorre na região Sul, no final de agosto; no Sudeste e Centro-Oeste, em outubro e novembro; e no Nordeste, no início do ano. A segunda safra é feita nos Estados do Paraná, São Paulo e no Cen- tro-Oeste, com o milho cultivado fora do tempo, nos meses de fevereiro e março. No ano de 2006, a área plantada com o seu cultivo no Brasil foi de cerca de treze milhões de hectares, com uma produção superior a 41 milhões de toneladas – produti-vidade considerada aquém da capacidade de produção e das exigências do mercado. O País foi, ainda em 2006, o terceiro maior produtor mun- dial (atrás dos Estados Unidos e da China), sendo respon- sável por 6,1% do milho produzido no Planeta. O Estado que mais produz é o Paraná, com 25,72% do total. 3.2.7. Soja A soja é, no Brasil, um dos principais itens da produção agrícola, sendo o segundo maior produtor mundial e o maior exportador mundial, movimentando sua cadeia pro- dutiva de agronegócio. Nos anos de 2016 e 2017, a cultura ocupou uma área de 33,890 milhões de hectares, o que totalizou uma produção de 113,923 milhões de toneladas, tendo como maiores Estados produtores Mato Grosso, Pa- raná e Rio Grande do Sul. Sua introdução no Brasil se deu no ano de 1882, e no início do século XX a produção destinava-se à forragem animal. A partir de 1941, a produção de grãos superou a forragei- ra, até tornar-se o principal objetivo da cultura, adaptada ao País, principalmente após estudos do Instituto Agronô- mico de Campinas. O desenvolvimento efetivo da soja só ocorreu na década de 1970, impulsionado pela indústria de óleo e pelas ne- cessidades impostas pelo mercado mundial. 17 A produção de soja no Brasil não é tradicionalmente de inte- resse interno, mas uma imposição determinada por grupos externos que ditam o que nós devemos ou não produzir. Até os anos 1980, concentrou-se na região Sul, nos Esta- dos do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Com o desenvolvimento de culturas adaptadas ao solo e aos diferentes climas, a produção estendeu-se ao Centro-O- este, nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. No ano de 2008, as duas maiores regiões produtoras, Centro-Oeste e Sul, foram responsáveis por 83% da produção nacional de soja, com participação de 48% e 35%, respectivamente. No período de 1990 a 2008, a produção no Centro-Oeste avançou cerca de 340%, passando de 6,4 milhões de toneladas para 28,5 milhões de toneladas. A região Sul, por sua vez, teve um acréscimo de aproximadamente 80% da produção no mesmo período, e progrediu de 11,5 milhões de toneladas para 20,4 milhões de toneladas. Ao comparar o tamanho dos estabelecimentos nas duas maiores regiões produtoras, verifica-se que a dimensão média, obtida pela divisão da quantidade de hectares da área colhida pela quantidade total de propriedades, é di- ferente para os dois casos. De acordo com os dados do Censo Agropecuário 2006, enquanto na região Sul os es- tabelecimentos possuem tamanho médio inferior à metade do verificado para o País, no Centro-Oeste o valor é cerca de seis vezes maior que a média brasileira. O Centro-Oeste hoje é o segundo maior produtor de soja do País, ocupando uma condição geopolítica que favorece a produção. A produção de soja tem alcançado, a cada ano, índices de produções cada vez mais elevados, decorrentes da inserção constante de tecnologia que ignora as ques- tões de solo e climas. É inegável que a soja seja geradora de riqueza, mas tais riquezas encontram-se concentradas nas mãos de pou- cos. Deve-se também levar em consideração que esse tipo de produção provoca sérios problemas ambientais, como perda de solos, retirada da vegetação original, poluição dos solos e das águas, extinção das nascentes, morte de animais silvestres que consomem cereais com substâncias químicas, entre outros. 3.2.8. Tabaco O Brasil é segundo maior produtor mundial de tabaco e o maior exportador de fumo desde 1993, com o fatura- mento de cerca de 1,7 bilhão de dólares. O maior produtor voltado para o mercado externo é o Rio Grande do Sul, e a região Sul responde por 95% da produção nacional, que exporta entre 60% e 70% do que produz. 4. AGRICULTURA E IMPACTO AMBIENTAL 4.1. Problemas erosivos Entre os problemas enfrentados pela agricultura brasileira, está a falta de cuidados referentes ao uso do solo e controle da erosão. Uma grande parte das regiões Sudeste e Nordes- te do País é de formações rochosas graníticas e de gnaisse, sobre as quais se assenta uma camada de regolito, bastante suscetível à erosão e formação de voçorocas. Autores como Bertoni e Lombardi Neto apontam essa condição como um dos maiores riscos ambientais do País, ao lado daquelas de- correntes da ação humana que são significativas. VOÇOROCA EM BAURU, SP Em virtude da erosão, há a necessidade da reposição de nutrientes ao solo, em consequência da sua perda. A ero- são provoca ainda a perda da estrutura, textura e diminui- ção das taxas de infiltração e retenção de água. Os procedimentos usados comumente no preparo do plan- tio, como a aração e o uso de herbicidas para o controle das ervas daninhas, acabam por deixar o solo exposto e suscetível à erosão – quer pelo carregamento da camada superficial (e mais rica em nutrientes), quer pela formação das voçorocas. A terra levada pela água provoca o assore- amento de rios e reservatórios, ampliando, deste modo, o impacto negativo no ambiente. Uma das soluções é o cha- mado plantio direto, prática ainda pouco divulgada no País. NO NORTE DE MINAS GERAIS, LEITO DO RIO SÃO FRANCISCO TOMADO PELO ASSOREAMENTO 4.2. Agrotóxicos Existem quatro mil tipos de agrotóxicos que resultam em cerca de quinze mil formulações distintas, dos quais oito 18 mil estão licenciadas no Brasil. São produtos como inseti- cidas, fungicidas, herbicidas, vermífugos e, ainda, solventes e produtos para higienização de instalações rurais, dentre outros. Seu uso indiscriminado provoca o acúmulo dessas substâncias no solo, na água (mananciais, lençóis freáticos, reservatórios) e no ar, afetando negativamente o meio am- biente. No entanto, são largamente utilizadas para manter as lavouras livres de pragas, doenças, espécies invasoras, tornando, assim, a produção mais rentável. O Brasil apresenta uma taxa de 3,2 kg de agrotóxicos por hectare – ocupando a décima posição mundial, para alguns estudos, e a quinta, em outros. O Estado de São Paulo é o maior consumidor no País, sendo também o maior produ- tor (com cerca de 80% da produção nacional). Para o con- trole dos efeitos danosos ao meio ambiente do uso dessas substâncias, é preciso a educação do agricultor, a prática do plantio direto e ainda o esforço de órgãos tecnológicos como a Embrapa, com o desenvolvimento de espécies mais resistentes, de técnicas que minimizem a dependência aos produtos, do controle biológico de pragas, entre outros. AVIÃO APLICA AGROTÓXICO EM LAVOURAS, NO MATO GROSSO No ano de 2007, os produtos que apresentaram maior índi- ce de contaminação por agrotóxicos foram tomate, alface e morango, sendo o agricultor o principal afetado. Isso acontece porque é baixa a conscientização do produtor e poucos são os que cumprem as determinações legais para o uso dessas subs- tâncias, como a de equipamento de proteção individual (EPI). Em 2017, segundo o IBGE, 1.681.001 produtores utilizaram agrotóxicos. Um aumento de 20,4% em relação a 2006. Segundo informações da Anvisa (Agência Nacional de Vigi- lância Sanitária), com base em dados da ONU e do Minis- tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as lavou- ras brasileiras utilizam pelo menos dez tipos de agrotóxicos considerados proibidos em outros mercados, como União Europeia e Estados Unidos. 5. TRANSGÊNICOS NO BRASIL O Brasil ocupa a terceira posição mundial no uso de se- mentes transgênicas. As principais culturas que usam dessa biotecnologia são a soja, o algodão e, desde 2008, o milho. Diversas ONG nacionais e internacionais com filiais no Brasil, como o Greenpeace, movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) ou a Contag (Confede- ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) manifesta- ram-se contrários ao cultivo de plantas geneticamente modi- ficadas no País, expondo argumentos como a desvalorização destes no mercado, a possibilidade de impacto ambiental negativo, a dominação econômica pelos grandes empresá- rios, dentre outros. Entidades ligadas ao agronegócio,en- tretanto, apresentam resultados de estudos efetuados pela Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), nos anos de 2007 e 2008, tendo como resultado “vantagens so- cioambientais observadas nos demais países que adotaram a biotecnologia agrícola há mais tempo”. No País, a Justiça Federal tinha decidido que alimentos que contenham mais de 1% de transgênicos em sua composi- ção devem, nos seus rótulos, expor a informação em desta- que, a fim de informar ao consumidor; em 2015, a medida foi revogada. 19 5. CULTIVO ORGÂNICO CULTIVO DE ALFACE ORGÂNICA, NA FAZENDA MALUNGA, NO DF A chamada agricultura orgânica visa à produção de alimen- tos sem uso de fertilizantes, agrotóxicos, agroquímicos etc. O Censo Agrícola de 2006 do IBGE registrou a existência de 90 mil estabelecimentos do tipo no Brasil, o que perfaz 2% do total; destes, entretanto, apenas 5.106 possuem o certificado de produção orgânica. Os orgânicos estão presentes, sobretudo, nas pequenas e médias propriedades, e a maioria dos produtores está orga- nizada em associações ou cooperativas. O Estado com maior número de produtores é a Bahia (223), seguido por Minas Gerais (192), São Paulo (86), Rio Grande do Sul (83), Paraná (79) e Espírito Santo (64). O programa Organics Brasil, cons- tituído em 2005, visa promover as exportações do setor. 6. QUADRO GERAL DA AGRICULTURA NO BRASIL MT MS SP MG PR Milho safra 2010/2011 Brasil: 57,5 milhões de toneladas Paraná maior estado produtor 12,2 milhões de toneladas Fonte: CONAB Cana safra 2010/2011 Brasil: 624,9 milhões de toneladas São Paulo maior estado produtor 359,2 milhões toneladas Fonte: CONAB Café safra 2011 Brasil: 43,4 milhões da sacas Minas Gerais maior estado produtor 22,1 milhões de sacas Fonte: CONAB Soja safra 2010/2011 74,8 milhões de toneladas Mato Grosso maior estado produtor 20,1 milhões de toneladas Fonte: CONAB Carne bovina safra 2011 Brasil: 21,7 milhões de abates MS (estado com maior número de abate) maior estado produtor 4,3 milhões de abates Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Setor Agropecuário Produção no Brasil entre 2010 e 2011 Em 2004, viviam em áreas rurais não metropolitanas, segundo o IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Pnad 2004), 5,9 milhões de famílias em todo o Brasil. A participação da agricultura para o PIB brasileiro cresceu, no período com- preendido entre 2001 e 2004, passando de 8,4% para 10,1% – crescimento que foi favorecido pelos preços favoráveis de commodities (mercadorias de baixo valor agregado) e do câmbio. Em 2006, foram cultivados 62,3 milhões de hectares do território. Aproximadamente 3,6 milhões de hectares foram irriga- dos, responsáveis por 69% de todo o consumo de água doce no Brasil. A área total oficialmente cadastrada como destinada à agricultura perfaz um total de 360 milhões de hectares, mas que não é toda agricultável. Cerca de 29,5 milhões de hectares estariam aptos ao uso da irrigação. Da área cultivada em 2006, 4,8% foram destinadas à fruticultura, responsável por 16,8% do rendimento da safra daquele ano, e que tem como principais produtos a laranja, a banana e a uva (57% da produção em frutas); outros produtos integram a produção frutífera nacional, com menor expressão, como a manga, a maçã, a mamão e o abacaxi. 20 Principais culturas agrícolas do Brasil 4%4%5% 6% 16% 23% 42% Soja Milho Cana-de-açúcar Feijão Arroz Trigo Outros O eucalipto – árvore introduzida da Austrália e adaptada no Brasil – é o principal item das culturas de florestamento, ocupando uma extensão de três milhões de hectares no País, destinada à produção de celulose e para a metalurgia (ferro-gusa). 6.1. Ranking geral do país Em 2005, a agricultura brasileira ocupava o primeiro lugar na produção e exportação de açúcar (42% da produção mundial), etanol (51%), café (26%), suco de laranja (80%) e tabaco (29%); segundo maior produtor e exportador de soja em grãos (35% da produção mundial) e soja em farelo (25%); no milho era o quarto maior produtor e terceiro maior exportador (com 35% da produção), segundo dados da USDA Foreign Agricultural Service and Global Trade In- formation Services. Segundo relatório da OMC referente a 2010, apesar de 80% da produção de grãos se localizar em áreas tempe- radas, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de exportação em produtos como açúcar, café, suco de la- ranja, tabaco e álcool; e o segundo lugar em soja e milho. Agricultura do Brasil Quota mundial de 2009, % Produção Exportação 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Suco de laranja Açúcar Soja Galinhas Café Carne Porco Milho Algodão ranking mundial 5 4 4 2 4 4 1 2 1 1 1 3 2 2 1 1 1 1 Fonte: United States Department od Agriculture 7. PECUÁRIA VAQUEIRO ACOMPANHA O GADO EM TRAVESSIAS NO PERÍODO DAS CHEIAS, NO PANTANAL MATO-GROSSENSE. 21 Carne (bovina, bubalina, de aves etc.), ovos, leite e mel são os principais produtos alimentares oriundos da atividade pecuária. Couro, lã e seda são exemplos de fibras usadas na indústria de vestimentas e calçados. O couro também é extensivamente usado na indústria de mobiliário e de au- tomóveis. Alguns povos usam a força animal de bovídeos e equídeos para a realização de trabalho. Outros também usam o esterco seco (fezes secas) como combustível para o preparo de alimentos. NO BRASIL, HÁ MAIS DE 700 EMPRESAS LIGADAS À CADEIA DO COURO: FAMILIARES, MÉDIAS E GRANDES CONGLOMERADOS. O Brasil tem um rebanho de aproximadamente 193 milhões de cabeças criadas em 220 milhões de hectares. Especialis- tas afirmam que a pecuária brasileira irá criar 220 milhões de cabeças em 150 milhões de hectares. A lotação média no Brasil é de 0,8 ua/ha (unidade animal por hectare). Ocupação da área de pecuária no Bra- sil em cabeças por hectare FONTE: HISTÓRICO DOS CENSOS – IBGE / ELABORAÇÃO BIGMA CONSULTORIA No Brasil, os pioneiros da pecuária foram os senhores da Casa da Torre de Garcia d’Ávila, utilizando como vaquei- ros, muitas vezes, mão de obra indígena. Entretanto, com uma grande seca no Nordeste e a descoberta de minerais preciosos em Minas Gerais no final do século XVIII, o polo pecuarista no Brasil transferiu-se para as regiões Sudeste e Sul, mais especificamente São Paulo e Rio Grande do Sul. Atualmente, a produção pecuária de bovinos é partilhada, principalmente, pelo Centro-Oeste, Sudeste e Sul, cabendo ao Nordeste o predomínio sobre as criações de caprinos e muares. Os ovinos se concentram no Sul e Nordeste (Rio Grande do Sul, Bahia e Ceará são os principais produtores). Os suínos e as aves se concentram no Sudeste e no Sul. No entanto, o principal centro pecuarista do Brasil é o Estado do Mato Grosso, com o maior rebanho bovino do Brasil. Também o Nordeste necessita ser lembrado, pois a região conta com aquilo que se convencionou chamar de “ilhas de modernidade”. A produção pecuária de caráter capitalista, com emprego da mão de obra assalariada, expansão de pessoal na área administrativa e incorporação do progresso tecnológico, tais como os da biotecnologia, distribui-se e expande-se pelo território segundo diversos estímulos. De um lado, existe a influência do Estado, mediante a criação de po- líticas voltadas para a implantação de polos de desenvol- vimento em áreas específicas do território brasileiro. Para estas áreas, são criadas linhas de crédito especiais e ofe- recidas assistência técnica, infraestrutura de transporte, energia, comunicação, entre outras. Morro velho – Elis Regina multimídia: música 8. ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO BRASIL Embora seja fundamental a compreensão das questões econômicas, técnicas e sociais ligadas à agropecuária, o elemento mais importante e indispensável para a realiza- ção de todas as atividades no campo é a terra. Por esse motivo não é possível realizar um estudo adequado da economia rural de uma região ou país sem mencionar as condições de acesso à terra. Nas sociedades atuais, a terra é regulamentada como pro- priedadeprivada. Entretanto, a propriedade privada sobre a terra é relativamente recente na história humana e prin- cipalmente na história do Brasil. A estrutura fundiária corresponde ao modo como as pro- priedades rurais estão divididas, como estão dispersas no território e seus respectivos tamanhos, facilitando a com- preensão das desigualdades que acontecem no campo. 22 Essa divisão da terra acontece de acordo com o proces- so histórico e a legislação de cada Estado. Há países, por exemplo, em que não há propriedade da terra, como é o caso de Cuba e da China. Em outros países, embora exista a propriedade da terra, podemos verificar que a estrutura fundiária é bem distribuída, como ocorre no Japão, Holan- da, Coreia do Sul e França. Posse e propriedade A posse da terra tem a ver com o direito de uso sobre ela. O reconhecimento desse direito é bastante antigo (direito romano utis possidetis), mas sempre esteve ligado ao uso, ou seja, o direito de posse é garantido a quem usa a terra. A propriedade, por sua vez, independe do uso, isto é, a terra pode ser propriedade de alguém, mesmo nunca tendo sido utilizada. Contudo, em países da América latina e na África, devido às heranças coloniais, é bastante comum encontrarmos o problema da concentração fundiária. A concentração da pro- priedade da terra no Brasil é consequência de um processo histórico que se iniciou com a colonização e a aplicação das sesmarias, a plantation (que exigiram a incorporação de vas- tas áreas de terras para suprir a grande demanda por gêne- ros agrícolas, produzindo formas desiguais de acesso à terra). Contudo, o que marca o grande problema de acesso à terra foi a implantação da Lei de Terras de 1850, que inaugurava a propriedade privada da terra no Brasil, que definiu que as terras ainda não ocupadas passavam a ser propriedade do Estado e só poderiam ser adquiridas por meio de compra mediante pagamento à vista. Escravos, mesmo que liber- tos, não teriam direito de compra. A Constituição Republicana de 1889 foi outro elemento importante na questão do acesso à terra no Brasil. Nesse momento, as terra chamadas devolutas (terras públicas) passaram à responsabilidade dos governos estaduais, mui- tos dos quais passaram a utilizar esse poder em benefício das elites locais, o que corroborou para a formação de inú- meros novos latifúndios no País. A desigualdade da estrutura fundiária brasileira representa um dos principais problemas do meio rural brasileiro por- que interfere diretamente na quantidade de postos de tra- balho, valor de salários e, automaticamente, nas condições de trabalho e de vida dos trabalhadores rurais. No caso específico do Brasil, grande parte das terras do País encontra-se nas mãos de uma parcela mínima da po- pulação, ou seja, dos latifundiários. Já os minifundiários são proprietários de milhares de pequenas propriedades rurais espalhadas pelo País, algumas tão pequenas que, muitas vezes, não conseguem produzir renda e prover a subsis- tência familiar. Distribuição de terras no Brasil, de acordo com a área Estrato de área (ha) Imóveis Área Área média (ha)Número % Número % Menos de 10 1.874.969 34,10 8.834.571,15 1,46 4,7 10 a 100 2.863.773 52,08 95.186.129,26 15,72 33,2 100 a 1.000 978.462 12,34 181.757.801,33 30,02 267,9 1.000 a 10.000 79.228 1,44 194.821.102,90 32,18 2.459,0 10.000 a 100.000 1.878 0,03 43.467.154,54 7,18 23.145,4 Mais de 100.000 225 0,004 81.320.986,88 13,43 361.426,6 Total 5.498.535 605.387.746,06 110,1 FONTE: INCRA. SISTEMA NACIONAL DE CADASTRO RURAL (2012). Diante dos números e das informações, fica evidente que, no Brasil, ocorre uma discrepância em relação à distribui- ção de terras, uma vez que alguns detêm uma elevada quantidade de terras e outros possuem pouca ou nenhu- ma, aspectos esses que caracterizam a concentração fun- diária brasileira. É importante conhecer os números que revelam quantas são as propriedades rurais e suas extensões: há pelo menos 50,5 mil estabelecimentos rurais inferiores a um hectare; juntas, elas ocupam no País uma área de 25,8 mil hectares, há tam- bém propriedades de tamanho superior a 100 mil hectares, que juntas ocupam uma área de 24 milhões de hectares. Outra forma de concentração de terras no Brasil é prove- niente também da expropriação, que significa a venda de pequenas propriedades rurais para grandes latifundiários com intuito de pagar dívidas geralmente geradas em em- préstimos bancários. Como são muito pequenas e o nível tecnológico é restrito, diversas vezes não alcançam uma 23 boa produtividade e os custos são elevados; dessa forma, não conseguem competir no mercado, ou seja, não obtêm lucro. Esse processo favorece o sistema migratório do cam- po para a cidade, denominado êxodo rural. A concentração de terra *Nº de propriedades, % Área ocupada, %47,86 2,36 38,09 19,06 8,21 34,16 0,91 44,42 0 10 20 30 40 50 - 10 ha 10 a 100 ha 100 a 1.000 + de 1.000 ha Fonte: Censo Agropecuário do IBGE 2006, divulgado em 2009 *Não estão contabilizadas as propriedades agropecuárias sem declaração de área (4.93%) A problemática referente à distribuição da terra no Brasil é produto histórico, resultado do modo como, no passado, ocorreu a posse de terras ou como foram concedidas. A distribuição teve início ainda no período colonial com a criação das capitanias hereditárias e sesmarias, carac- terizada pela entrega da terra pelo dono da capitania a quem fosse de seu interesse ou vontade; em suma, como no passado a divisão de terras foi desigual, os reflexos são percebidos na atualidade e é uma questão extremamente polêmica e que divide opiniões. 8.1. O trabalho e a terra no Brasil O subaproveitamento do espaço rural brasileiro é caracteri- zado por uma baixa produtividade em relação aos outros pa- íses que possuem uma agricultura pautada na mecanização. O motivo que faz o Brasil ter uma baixa produtividade está na predominância da prática da agropecuária tradicional. Na maioria dos países desenvolvidos, as atividades agrope- cuárias são desenvolvidas em propriedades rurais menores, de base familiar, altamente produtivas e mecanizadas, vol- tadas para a produção de alimentos e matéria-prima para abastecer o mercado interno do País. Em pleno século XXI, a escravidão é registrada, principal- mente, nos estados do Pará, Mato Grosso e Goiás. A reforma agrária é outro problema muito polêmico no País; contudo, convém explicitar seu significado. Ela tem a finalidade de promover a divisão ou reorganização mais justa da terra. A questão agrária provoca uma grande tensão no campo. Posseiros são trabalhadores rurais que ocupam e/ou cultivam terras devolutas ou não exploradas. Parceria é a junção entre dois trabalhadores ou produtores rurais, de acordo com a qual um possui a propriedade da terra e o outro apenas a força de trabalho, que cultiva a terra e depois divide uma parte da produção com proprietário. Arrendatário é o agricultor que não possui terra, mas tem recursos financeiros para arrendar ou alu- gar a propriedade por um período determinado. Trabalhadores assalariados temporários são trabalhadores rurais que recebem salário, mas que trabalham apenas uma parte do ano, durante as colheitas. Grileiro: quem falsifica documentos para, ilegal- mente, tomar posse de terras. Trabalho escravo no campo é o trabalho sem garantia de direitos trabalhistas, cujo trabalhador não recebe salário, pois tudo que é utilizado é co- brado dele, desde a alimentação até as ferramen- tas de trabalho. Ele se endivida e fica impedido de ir embora. “RESGATADA”, A VÍTIMA DO CRIME DE ESCRAVIDÃO TEM DIREITO A RECEBER SEGURO-DESEMPREGO E PARTICIPA DE PROGRAMAS QUE FAVOREÇAM SUA REINTEGRAÇÃO SOCIAL. A fixação do trabalhador rural no campo depende de vários fatores, pois não basta a simples redistribuição de terras para garantir o sucesso da reforma agrária; é preciso faci- lidade na obtenção e pagamentos de créditos financeiros, garantia de preços, condição de
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