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modernismo 2 fase prosa

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Modernismo
Segunda fase
(PROSA)
Profª: Myrian Costa
Contextualizando …
Nossa segunda geração de autores modernistas
escreveu suas obras ao longo do governo de Getúlio
Vargas, que assumiu o poder com a revolução de 1930 e
manteve-se na presidência até 1945.
2
A consolidação de um movimento…
Mesclando arte e engajamento social, os artistas
da segunda fase modernista (1922 – 1930), notadamente
os ficcionistas do chamado romance nordestino,
transformaram milhões de brasileiros esquecidos e
maltratados pela fome, seca e miséria em protagonistas
de seus romances.
Para garantir fidedignidade, esses autores
optaram por investigar sua própria gente, tornando-se
porta-vozes de pessoas antes anônimas. 3
4
A prosa da segunda fase do modernismo: 
retrato crítivo do real
O regionalismo dos modernistas de 1930 busca investigar as
complexas relações entre o homem e sua terra, discutindo os fenômenos
naturais, a memoria individual e coletiva do povo e a persistência e o poder
da tradição.
Essa abordagem privilegia o enfoque nos elementos específicos de
uma região, mas não perde de vista a universalidade do fenômeno
humano, principalmente quando foge aos estereótipos e à mera
exploração dos aspectos ditos exóticos de um povo.
5
No final do século XIX, a proibição do trabalho escravo atingiu a
aristocracia rural da zona cafeeira do Vale do Paraíba, porém abalou mais
fortemente os grandes latifundiários da região açucareira do Nordeste.
A decadência do poderio econômico, os fortes contrastes nas
condições de sobrevivência humana e os problemas das secas periódicas
transformaram-se em focos de discussão dos romancistas nordestinos.
Em lugar de se basearem no modelo de realismo praticado pelos
prosadores do século XIX- geralmente impessoal , distante e de pretensão
científica-, os regionalistas de 30 optaram por adotar uma visão crítica e
analítica das relações sociais.
Graciliano Ramos
A literatura dos excluídos 
1892-1953
7
É possível separar completamente ficção e 
realidade numa obra literária?
Os livros de Graciliano Ramos nos convidam a refletir sobre esses
limites.
Em uma entrevistas o autor afirmou: “ Nunca pude sair de mim
mesmo. Só posso escrever o que sou”.
Ler Graciliano Ramos significa entrar no universo dos excluídos.
Seus personagens são seres à margem, retratados com economia
vocabular, isenção de sentimentalismos, mas, ao mesmo tempo, com uma
intensidade rara.
8
LEIA O PRIMEIRO CAPÍTULO DA OBRA VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS.
Baleia
A CACHORRA Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe em
vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam
e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços
dificultavam-lhe a comida e a bebida.
Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-
lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a
pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os
mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa nas
base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel.
Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a
com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito.
Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que advinhavam
desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta:
- Vão bulir com a Baleia?
Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes a
suspeita de que Baleia corria perigo.
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se
difereciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava
cobrir o chiquiro das cabras.
LEITURA
9
Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas sinhá vitória levou-os para a cama de
varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais
velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos
resistissem, aperreou-se e tratou de subjugá-los, resmungando com energia.
Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de
Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia.
Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as pancadas
surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia.
Os meninos começaram a gritar e a espernear. E como sinhá Vitória tinha relaxado os
músculos, deixou escapar o mais taludo e soltou uma praga:
- Capeta excomungado.
Na luta que travou para segurar de novo o filho rebelde, zangou-se de verdade.
Safadinho. Atirou um cocorote ao crânio enrolado na coberta vermelha e na saia de
ramagens.
Pouco a pouco a cólera diminuiu, e sinhá Vitória, embalando as crianças, enjoou-se da
cadela achacada, gargarejou muxoxos e nomes feios. Bicho nojento,
babão. Inconveniência deixar cachorro doido solto em casa. Mas compreendia que
estava sendo severa demais, achava difícil Baleia endoidecer e lamentava que o marido
não houvesse esperado mais um dia para ver se realmente a execução era
indispensável.
10
Nesse momento Fabiano andava no copiar, batendo castanholas com os dedos. Sinhá Vitória
encolheu o pescoço e tentou encostar os ombros às orelhas. Como isto era impossível,
levantou um pedaço da cabeça.
Fabiano percorreu o alpendre, olhando as barúna e as porteiras, açulando um cão invisível
contra animais invisíveis:
-Ecô! ecô!
Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha.
Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a e esfregar as peladuras no pé de turco, levou a
espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se
desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas
negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da
cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto. Como o
animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao
chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos
de Baleia, que se pôs latir desesperadamente.
Ouvindo o tiro e os latidos, sinhá Vitória pegou-se à Virgem Maria e os meninos rolaram na
caca chorando alto. Fabiano recolheu-se.
E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda, passou
rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco da cerca e ganhou o
pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se
para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí por um instante, meio desorientada, saiu depois
sem destino, aos pulos.
11
Defronte do carro de bois faltou-lhe a perna traseira. E, perdendo muito sangue, andou
como gente em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do corpo.
Quis recuar e esconder-se debaixo do carro, mas teve medo da roda.
Encaminhou-se aos juazeiros. Sob a raiz de um deles havia uma barroca macia e funda.
Gostava de espojar-se ali: cobria-se de poeira, evitava as moscas e os mosquitos,
e quando se levantava, tinha as folhas e gravetos colados às feridas, era um bicho
diferente dos outros. Caiu antes de alcançar essa cova arredada. Tentou erguer-se,
endireitou a cabeça e estirou as pernas dianteira, mas o resto do corpo ficou deitado de
banda. Nesta posição torcida, mexeu-se a custo, ralando as patas, cravando as unhas no
chão, agarrando-se nos seixos miúdos. Afinal esmoreceu e aquietou-se junto às pedras
onde os meninos jogavam cobras mortas. Uma sede horrível queimava-lhe a garganta.
Procurou ver as pernas e não as distinguiu: um nevoeiro impedia-lhe a visão. Pôs-se a latir
e desejou morder Fabiano. Realmente não latina: uivava baixinho, e os uivos iam
diminuindo, tomavam-se quase imperceptíveis.
Como o sol a encandeasse, conseguiu adiantar-se umas polegadas e escondeu-se numa
nesga de sombra que ladeavaa pedra.
Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e
aproximavase.
12
Sentiu o cheiro bom dos preás que desciam do morro, mas o cheiro vinha fraco e havia
nele partículas de outros viventes. Parecia que o morro se tinha distanciado
muito. Arregaçou o focinho, aspirou o ar lentamente, com vontade de subir a ladeira e
perseguir os preás, que pulavam e corriam em liberdade.
Começou a arquejar penosamente, fingindo ladrar. Passou a língua pelos beiços torrados e
não experimentou nenhum prazer. O olfato cada vez mais se embotava: certamente os
preás tinha fugido.
Esqueceu-os e de novo lhe veio o desejo de morder Fabiano, que lhe apareceu diante dos
olhos meio vidrados, com um objeto esquisito na mão. Não conhecia o objeto, mas pôs-se
a tremer, convencida de que ele encerrava surpresas desagradáveis. Fez um esforço para
desviar-se daquilo e encolher o rabo. Cerrou as pálpebras pesadas e julgou que o
rabo estava encolhido. Não poderia morder Fabiano: tinha nascido perto dele, numa
camarinha, sob a cama de varas, e consumira a existência em submissão, ladrando para
juntar o gado quando o vaqueiro batia palmas.
O objeto desconhecido continuava a ameaçá-la. Conteve a respiração, cobriu os dentes,
espiou o inimigo por baixo das pestanas caídas. Ficou assim algum tempo,
depois sossegou. Fabiano e a coisa perigosa tinham-se sumido.
Abriu os olhos a custo. Agora havia uma grande escuridão, com certeza o sol desaparecera.
Os chocalhos das cabras tilintaram para os lados do rio, o fartum do chiqueiro espalhou-se
pela vizinhança.
13
Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era
levantar-se, conduzi-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os meninos.
Estranhou a ausência deles.
Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atribuía a esse
desastre a importância em que se achava nem percebia que estava livre de
responsabilidades.
Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar cabras: àquela hora cheiros
de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os
meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinhá Vitória guardava o cachimbo.
Uma noite de inverno, gelada e nevoenta, cercava a criaturinha. Silêncio completo, nenhum
sinal de vida nos arredores. O galo velho não cantava no poleiro, nem Fabiano roncava na
cama de varas. Estes sons não interessavam Baleia, mas quando o galo batia as asas e
Fabiano se virava, emanações familiares revelavam-lhe a presença deles. Agora parecia que
a fazenda se tinha despovoado.
Baleia respirava depressa, a boca aberta, os queixos desgovernados, a língua pendente e
insensível. Não sabia o que tinha sucedido. O estrondo, a pancada que recebera no quarto e
a viagem difícil no barreiro ao fim do pátio desvaneciam-se no seu espírito.
14
Provavelmente estava no cozinha, entre as pedras que serviam de trempe. Antes de se
deitar, sinhá Vitória retirava dali os carvões e a cinza, varria com um molho
de vassourinha o chão queimado, e aquilo ficava um bom lugar para cachorro
descansar. O calor afugentava as pulgas, a terra se amaciava. E, findos os cochilos,
numerosos preás corriam e saltavam, um formigueiro de preás invadia a cozinha.
A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao peito de Baleia. Do outro peito para
trás era tudo insensibilidade e esquecimento. Mas o resto do corpo se arrepiava,
espinhos de mandacaru penetravam na carne meio comida pela doença.
Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente sinhá
Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo.
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de
Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num
pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos,
enormes.
_______________
Fonte: RAMOS, Graciliano. Vidas secas, 82ªed. Rio de Janeiro: Record. 2001. p. 85-91.
Rachel de Queiroz
Uma voz feminina no regionalismo
1910-2003
16
Rachel nasceu em Fortaleza, mas em virtude da grande seca (1915),
sua família migrou para o Rio de Janeiro, onde mais tarde, esse episódio
serviu de inspiração para seu livro de estreia, O Quinze (1930).
Militante do Partido Comunista, Rachel foi perseguida pela ditadura
e além de ser romancista, também atuou na imprensa , como cronista,
Na década de 30, a escritora lançou quatro livros com temáticas
neorrealistas, marcados pela preocupação social.
Fugindo de uma abordagem descritiva, a autora privilegiou em sua
obra a analise psicológica do sertanejo, submetido à tragedia da seca e da
pobreza. Em sua faceta regionalista, investigou os sentimentos mais íntimos
de personagens que aceitam de maneira fatalista seu destino miserável e
injusto.
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Rachel nasceu em Fortaleza, mas em virtude da grande seca (1915),
sua família migrou para o Rio de Janeiro, onde mais tarde, esse episódio
serviu de inspiração para seu livro de estreia, O Quinze (1930).
Militante do Partido Comunista, Rachel foi perseguida pela ditadura
e além de ser romancista, também atuou na imprensa , como cronista,
Na década de 30, a escritora lançou quatro livros com temáticas
neorrealistas, marcados pela preocupação social.
Fugindo de uma abordagem descritiva, a autora privilegiou em sua
obra a analise psicológica do sertanejo, submetido à tragedia da seca e da
pobreza. Em sua faceta regionalista, investigou os sentimentos mais íntimos
de personagens que aceitam de maneira fatalista seu destino miserável e
injusto.
18
LEIA UMA PARTE DO CAPÍTULO DA OBRA JOÃO MIGUEL, DE RACHEL DE
QUEIROZ
João Miguel sentiu na mão que empunhava a faca a sensação fofa de quem fura um
embrulho. O homem, ferido no ventre, caiu de borco, e de sob ele um sangue grosso
começou a escorrer sem parar, um riacho vermelho e morno, formando poças encarnadas
nas anfractuosidades do ladrilho.
Agora imóvel, João Miguel apertava febrilmente na mão a arma assassina, fitando o seu
crime, aquele corpo que escabujava no chão, que os outros reviravam e despiam, e em
cujos dedos crispados uma mulher tentava introduzir um coto aceso de vela.
Na confusão de imprecações e rezas, e no barulho do próprio sangue que lhe zunia aos
ouvidos, ele apenas pôde distinguir a fala de alguém que lhe pôs no ombro a mão pesada:
— Está preso!
Ele olhou o homem que o prendera, olhou a faca, olhou o ferido.
— Está preso!
LEITURA
https://historiapt.info/antiguas-ciudades-de-siria.html
https://historiapt.info/manifestaces-da-modernidade-no-par-provinciano-a-imprensa-como.html
https://historiapt.info/matrcula-201601022514-professora-adelaide-rezende-de-souza-tur.html
19
Sem o atender, João Miguel fixava agora ansiosamente o moribundo, com uma inconsciente esperança 
de que ele revivesse, de que aquilo não fosse nada, de que ele novamente se erguesse, com o cacete 
na mão, como há pouco, os olhos fuzilantes, a fala desabrida.
Mas, no chão enlameado de vermelho, o homem movia os pés como um animal que morre. Por entre a 
roupa desabotoada, o ventre escuro aparecia, lanhado. E a mulher precisou apertar mais a vela, 
porque os dedos se abriam, moles, enquanto a outra mão raspava fracamente a terra, com as unhas 
negras.
O outro, o que prendia, insistiu:
— Está preso!
Um cabra fardado, seguido de mais dois soldados, pálido da carreira e respirando com força, foi 
entrando e gritou:
— E o criminoso?
O homem que prendera acentuou a pressão no ombro de João Miguel e o apresentou ao cabo:
— Está aqui.
João Miguel ouvia tudo, ainda olhando o morto, entendendo mal.
Criminoso? Quem? Seria ele?
Já os soldados o empurravam para fora.
Criminoso?
O cabo deu voz de prisão:
— Pra cadeia!...
João Miguel deixou que o levassem. Detrás dele, em torno dele, os curiosos e as maldições cresciam.
Ele marchava, arrastado, inconsciente, sempre com o pensamento
https://historiapt.info/seminario-batista-evangelizadora.html
https://historiapt.info/resposta-do-livro-didtico-de-portugus--pginas-60-e-61.htmlhttps://historiapt.info/sfilis-liga-acadmica-de-clnica-mdica-marina-de-lucena-palma.html
https://historiapt.info/duro-de-matar-seguido-de-duro-de-matar-2.html
https://historiapt.info/redalyc-o-inconsciente--do-sentido-do-significante-ao-gozo-da.html
Jorge Amado
Uma literatura popular
1912-2001
21
Filiado ao PCB, foi preso, exilando-se depois em países como
Uruguai, Argentina e França.
Sua literatura, antes política, passou a privilegiar a
sensualidade, o humor, o feminino e o sincretismo religioso.
Nos primeiros romances – como Cacau e Suor-, escritos na
época em que estava filiado ao PCB, é nítido o engajamento político do
autor nas lutas sociais. Grabriela, cravo e canela marca a ruptura de
Jorge Amado com o PCB e o início de uma segunda fase, em que ele dá
maior destaque aos registros de costumes que caracterizam a cultura
brasileira.
22
LEIA UM FRAGMENTO DE CAPITÃES DE AREIA, DE JORGE AMADO.
LEITURA
Os acontecimentos se precipitaram, porque Raul teve que fazer uma viagem ao Rio de Janeiro, a negócios
importantes de advocacia. E o Sem-Pernas achou que não havia melhor ocasião para o assalto.
Na tarde em que se foi, mirou a casa toda, acariciou o gato Berloque, conversou com a criada, olhou os
livros de gravura. Depois foi ao quarto de dona Ester, disse que ia até o Campo Grande passear. Ela então
lhe contou que Raul traria uma bicicleta do Rio para ele e então todas as tardes ele andaria nela pelo
Campo Grande, em vez de passear a pé. O Sem-Pernas baixou os olhos, mas antes de sair veio até dona
Ester e a beijou. Era a primeira vez que a beijava, e ela ficou muito alegre. Ele disse baixinho, arrancando as
palavras de dentro de si:
— A senhora é muito boa. Eu nunca vou esquecer...
Saiu e não voltou. Essa noite dormiu no seu canto no trapiche. Pedro Bala tinha ido com um grupo para a
casa. Os outros tinham rodeado o Sem-Pernas, admirando suas roupas, seu cabelo assentado, o perfume
que evolava do seu corpo. Mas o Sem-Pernas meteu o braço em um, foi resmungando para seu canto. E ali
ficou mordendo as unhas, sem dormir, angustiado, até que Pedro Bala voltou com os outros, trazendo os
resultados do assalto. Comunicou ao Sem-Pernas que fora a coisa mais canja do mundo, que ninguém dera
fé na casa, que todos tinham continuado dormindo. Talvez que nem no dia seguinte descobrissem o roubo.
E mostrava os objetos de ouro e de prata:
— Amanhã Gonzales dá uma dinheirama por isso...
https://historiapt.info/2-bimestre--avaliaco-v3.html
https://historiapt.info/revpsiquiatriamiolo-pmd.html
23
O Sem-Pernas fechava os olhos para não ver. Depois que todos foram dormir, ele se aproximou do
Gato:
— Tu quer fazer um negócio comigo?
— Que é?
— Eu dou essa roupa, tu me dá a sua...O Gato olhou cheio de espanto. A sua roupa era a melhor do
grupo, sem dúvida. Mas era roupa velha, estava muito longe de valer a boa roupa de casimira que o
Sem-Pernas vestia. “Tá doido”, pensou o Gato enquanto respondia:
— Se topo? Nem se pergunta.
Trocaram a roupa. O Sem-Pernas voltou ao seu canto, procurou dormir.
Na rua vinha dr. Raul com dois guardas. Eram os mesmos soldados que o haviam espancado na
cadeia. O Sem-Pernas corria, mas doutor Raul o apontava e os soldados o levavam para a mesma sala.
A cena era a mesma de sempre: os soldados que se divertiam a fazê-lo correr com sua perna
capengando e o espancavam e o homem de colete que ria. Só que na sala estava também dona Ester,
que o olhava com os olhos tristes e dizia que ele não era mais seu filho, era um ladrão. E os olhos de
dona Ester o faziam sofrer mais que as pancadas dos soldados, mais que o riso brutal do homem.
Acordou molhado de suor, fugiu da noite do trapiche, a madrugada o encontrou vagando no areal.
No outro dia, à noite, Pedro Bala viera trazer o dinheiro da sua parte no furto. Mas o Sem-Pernas o
recusou sem dar explicações. Depois Volta Seca chegou com um jornal que trazia notícias de Lampião.
Professor leu a notícia para Volta Seca e ficou vendo as outras coisas que o jornal trazia. Então
chamou:
https://historiapt.info/chespiritoweb.html
24
— Sem-Pernas! Sem-Pernas!
O Sem-Pernas veio. Outros vieram com ele e formaram um círculo. Professor disse:
— Isso aqui é com tu, Sem-Pernas...
E leu uma notícia no jornal:
Ontem desapareceu da casa número... da rua..., Graça, um filho dos donos da casa, chamado Augusto.
Deve ter se perdido na cidade que pouco conhecia. É coxo de uma perna, tem treze anos de idade, é
muito tímido, veste roupa de casimira cinza. A polícia o procura para o entregar aos seus pais aflitos,
mas até agora não o encontrou. A família gratificará bem quem der notícias do pequeno Augusto e o
conduza a sua casa.
O Sem-Pernas ficou calado. Mordia o lábio. Professor disse:
— Ainda não descobriram o furto...
Sem-Pernas fez que sim com a cabeça. Quando descobrissem o furto não o procurariam mais como a
um filho desaparecido. Barandão fez uma cara de riso e gritou:
— Tua família tá te procurando, Sem-Pernas. Tua mamãe tá te procurando pra dar de mamar a tu...
Mas não disse mais nada, porque o Sem-Pernas já estava em cima dele e levantava o punhal. E
esfaquearia sem dúvida o negrinho se João Grande e Volta Seca não o tirassem de cima dele.
Barandão saiu amedrontado. O Sem-Pernas foi indo para o seu canto, um olhar de ódio para todos.
Pedro Bala foi atrás dele, botou a mão em seu ombro:
— São capazes de não descobrir nunca o roubo, Sem-Pernas. Nunca saber de você... Não se importe,
não.
https://historiapt.info/casa-de-abinadabe-x-casa-de-obede-edom.html
25
— Quando doutor Raul chegar vão saber...
E rebentou em soluços, que deixaram os Capitães da Areia estupefatos. Só Pedro Bala e o
Professor compreendiam, e este abanava as mãos porque não podia fazer nada. Pedro Bala
puxava uma conversa comprida sobre um assunto muito diferente. Lá fora o vento corria sobre a
areia e seu ruído era como uma queixa.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 127-130.
(Companhia de Bolso). (Fragmento).
https://historiapt.info/portugus-6-ano-grupo-i-parte-a-l-com-atenco-o-texto-seguinte.html
Erico Verissimo
1905-1975
Uma voz do sul
27
Nasceu em Cruz Alta (RS). A partir de 1930 tornou-se redator
da Revista Globo. Autor de maior destaque no regionalismo do Sul.
Estreou com a coletânea Fantoches (1932) mas só se tornou
popular com os personagens que apareceram pela primeira vez em
Clarissa (1933).
Para criticar o regime militar, o autoritarismo e o
conservadorismo em outro contexto histórico, o da Ditadura no Brasil
de 1964, o escritor gaúcho narra uma estranha historia em que sete
mortos insepultos marcha, para a praça central da fictícia Antares,
revelando sem pudores os segredos da cidade.
28
LEIA UM FRAGMENTO DE “DO DIÁRIO DE SÍLVIA”, DE ERICO VERISSIMO.
LEITURA
19 de novembro
Sou agora uma espécie de confidente do Arão Stein. Está claro que não me custa ouvi-lo. Pelo contrário,
faço isso com interesse. Esse homem tem levado uma vida rica de aventuras e paixão. Ponho paixão no
singular porque ele só tem uma: a causa do comunismo. O diabo é que não consigo apenas escutar. Lá
pelas tantas, entro a sofrer com o meu confidente, a sentir nos nervos e na carne, bem como no espírito,
suas dores e misérias. Minha tendência para querer bem às pessoas (estou aqui modestamente
lembrando a mim mesma como sou boa, generosa e terna) abre muitas frestas no aço ou, melhor, na lata
da armadura de egoísmo com que em geral costumo andar protegida.
Stein apareceu em fins de abril do ano passado. Era a primeira vez que eu via um fantasma ruivo. Em
1937 chegou-nos a notícia de que ele tinha sido morto em combate na Guerra Civil Espanhola. A história
depois foi desmentida, mas no ano seguinte correu como certo que ele havia morrido de gangrena num
campo de concentração. Bom, mas a verdade é que o nosso Stein lá estava à porta do Sobrado, apenas
com a roupa do corpo - velha, sebosa e amassada - e um livro debaixo do braço. Trazia uma carta do
padrinho Rodrigo,contando que tinha tirado aquele “judeu incorrigível” do fundo duma “cadeia infeta” do
Rio, onde ele fora parar depois de repatriado da Espanha. [...] Na sua carta, meu padrinho pedia que
déssemos um jeito de hospedar Stein. Mas Jango disse que não. “A troco de que santo vou abrigar um
inimigo debaixo do meu teto?” Tio Bicho salvou a situação, acolhendo o velho companheiro em sua casa.
Dentro de poucas semanas, com as sopas do Bandeira e os remédios do dr. Camerino, Stein pareceu
ressuscitar. A tosse parou. Suas cores melhoraram.
https://historiapt.info/destaques-da-programaco-eurochannel--novembro-de-2020-destaque.html
https://historiapt.info/daiana-de-paula-feij-34-anos.html
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Quanto às marcas que o sofrimento lhe havia cavado na cara, essas ficaram. Arranjou um emprego de
supervisor numa tipografia, onde lhe pagam um salário de fome. Aos sábados à noite aparece com Tio
Bicho nos serões do Sobrado. A Dinda continua a tratá-lo com a aspereza dos velhos tempos, e com sua
ironia seca e oportuna, mas desconfio que a velha tem pelo “muçulmano” uma secreta ternurinha. Sempre
que o vê, a primeira coisa em que pensa é alimentá-lo com seus doces e queijos. Stein nunca recusa
comida. Parece ter uma fome crônica. O Jango, como eu esperava, trata-o mal, faz-lhe todas as desfeitas
que pode.
Retira-se da sala quando ele entra, não responde aos seus cumprimentos e jamais olha ou solta qualquer
palavra na direção dele.
Foi em algumas dessas noites de sábado do outono e do inverno passados que Arão Stein me contou suas
andanças na Espanha, como legionário da Brigada Internacional. Tomou parte em vários combates. Ferido
gravemente por um estilhaço de granada, esteve à morte num hospital de Barcelona. Depois da derrota
final dos republicanos, fugiu com um punhado de companheiros para a França. Foi internado num campo
de concentração onde passou horrores. Andava coberto de muquiranas, mais de uma vez comeu carne
podre, quase morreu de disenteria e quando o inverno chegou, para abrigar-se do vento gelado que
soprava dos Pireneus, metia-se como uma toupeira num buraco que cavara no chão, e que bem podia ter
sido sua sepultura.
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Finalmente repatriado, ficou no Rio, onde se juntou aos seus camaradas e começou a trabalhar
ativamente pelo Partido. Preso pela polícia quando pichava muros e paredes, escrevendo frases
antifascistas, foi interrogado, espancado e finalmente atirado, com trinta outros presos políticos,
num cárcere que normalmente teria lugar, quando muito, para oito pessoas.
“Queriam que eu denunciasse meus camaradas”, contou-nos Stein uma noite. Estendeu as mãos
trêmulas. “Me meteram agulhas debaixo das unhas. Me queimaram o corpo todo com ferros em
brasa. Me fizeram outras barbaridades que não posso contar na frente de senhoras. Me atiraram
depois, completamente nu, numa cela fria e jogaram água gelada em cima de mim. Mas não me
arrancaram uma palavra. Mordi os beiços e não falei.”
VERISSIMO, Erico. Do diário de Sílvia. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 18-20.
(Fragmento).
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Referência bibliográfica:
WILTON, Ormundo e SINISCALCHI, Cristiane. SE LIGA NA LÍNGUA 3: 
LITERATURA, PRODUÇÃO DE TEXTO, LINGUAGE,- 1ª ED- SÃO PAULO. 
MODERNA, 2016.
https://www.slidescarnival.com/?utm_source=template

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