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morfossintaxe

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Prévia do material em texto

2a edição | Nead - UPE 2010
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife
 Jaeger, Dirce
 Letras: Morfossintaxe I/Dirce Jaeger. - Recife: UPE/NEAD, 2009. 
56 p.
ISBN 978-85-7856-051-6
 1. Morfologia 2. Sintaxe 3. Formação e Classificação de Palavras 4. Classes
 Gramaticais 5. Educação à Distância I. Universidade de Pernambuco, Núcleo 
 de Educação à Distância II. Título 
 
 
J22l
CDD 415 
Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010
Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664
Reitor
 
Vice-Reitor
 
Pró-Reitor Administrativo
 
Pró-Reitor de Planejamento
 
Pró-Reitor de Graduação
 
Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa 
 
Pró-Reitor de Extensão e Cultura
Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado
Prof. Reginaldo Inojosa Carneiro Campello
Prof. José Thomaz Medeiros Correia
Prof. Béda Barkokébas Jr.
Prof.ª Izabel Cristina de Avelar Silva
Prof.ª Viviane Colares S. de Andrade Amorim 
Prof. Álvaro Antônio Cabral Vieira de Melo
UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo - UPE
NEAD - NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA
Coordenador Geral
 
Coordenador Adjunto
 
Assessora da Coordenação Geral
 
Coordenação de Curso
 
Coordenação Pedagógica
 
Coordenação de Revisão Gramatical
 
Administração do Ambiente
 
Coordenação de Design e Produção
 
Equipe de design 
 
Coordenação de suporte
EDIÇÃo 2010
Prof. Renato Medeiros de Moraes
Prof. Walmir Soares da Silva Júnior
Prof.ª Waldete Arantes
Prof.ª Silvania Núbia Chagas
Prof.ª Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima
Prof.ª Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes
Prof.ª Anahy Samara Zamblano de Oliveira
Prof.ª Angela Maria Borges Cavalcanti
Prof.ª Eveline Mendes Costa Lopes.
José Alexandro Viana Fonseca
Prof. Marcos Leite
 
Anita Sousa
Gabriela Castro
Rodrigo Sotero
Romeu Santos
Adonis Dutra
Afonso Bione
Prof. Jáuvaro Carneiro Leão
5 5
Morfossintaxe
Prof.ª Dirce Jaeger 
Carga Horária | 60 horas 
eMenta
•	 Caracterização	dos	campos	da	Morfologia	e	da	Sintaxe
•	 Princípios	de	análise	mórfica	(sintaxe	da	palavra)
•	 Processos	de	formação	de	palavras:	abordagem	tradicional	e	abordagem	inovadora
•	 Critérios	de	classificação	das	palavras:	morfológicas,	sintáticas	e	semânticas
•	 Classes	gramaticais:	definição	e	funcionamento	textual-discursivo
objetivo Geral
Caracterizar	a	área	e	o	objeto	dos	estudos	morfossintáticos	no	âmbito	das	discipli-
nas	linguísticas	e	possibilitar	a	aprendizagem	crítico-reflexiva	dos	princípios	funda-
mentais	da	análise	mórfica	bem	como	da	estrutura	e	formação	dos	vocábulos	da	
língua	portuguesa.
objetivos específicos
•	 Reconhecer	 a	 importância	 histórica	 e	 as	 implicações	 práticas	 dos	 estudos	
morfossintáticos	para	o	ensino	e	a	aprendizagem	da	língua	portuguesa;
•	 Desenvolver	um	conjunto	de	saberes	úteis	e	necessários	à	análise	sintática	
das	palavras	e	orações	do	português;
•	 Desenvolver	um	olhar	crítico	sobre	os	princípios	apresentados	e	uma	perma-
nente	reflexão	sobre	sua	aplicabilidade	e	relevância	dentro	da	prática	do(a)	
professor(a)	de	língua	portuguesa;
•	 Abrir	(novos)	horizontes	de	pesquisa	sobre	questões	estruturais	da	língua	e	
seu	ensino.
	
7Capítulo 1
a MorfoloGia e seu objeto
princípios da
análise Mórfica
Prof.ª Dirce Jaeger 
Carga Horária | 15 horas 
beM-vind@ a esta nova etapa!!
Desde	já,	saiba	que	é	uma	imensa	alegria	iniciar	esta	nova	jornada	de	estudos	
e	descobertas	com	você.	E	como	sempre	acontece	entre	companheiros	de	via-
gem,	 teremos	 tempo	para	 trocar	 ideias	 e	nos	 conhecermos	melhor.	Também	
não	faltarão	oportunidades	para	contribuir	com	o	processo	de	crescimento	e	
aprendizagem	dos	demais	companheiros	de	estrada.	Tudo	isso	nos	torna,	desde	
já,	parceiros	neste	processo	que	ora	iniciamos:	os	estudos	morfossintáticos.
Para	muitos	de	nós,	as	disciplinas	de	morfologia	e	sintaxe	da	língua	portuguesa	
não	 trazem	as	melhores	 recordações.	 Se	perguntássemos	 a	 alguns	de	 vocês	o	
conteúdo	dessas	lembranças,	muito	provavelmente	não	se	esqueceriam	de	listar	
a	memorização	de	um	sem	fim	de	fenômenos	que	acometem	as	palavras,	suas	
muitas	terminações	e	possibilidades	de	composição	(e	decomposição).	
Sabíamos,	durante	os	anos	de	nossa	vida	escolar,	que	aqueles	conhecimentos	
sobre	flexões,	derivações	e	composição	das	palavras	tinham	por	objetivo	tornar-
nos	“melhores”	usuários	de	nosso	idioma	nacional.	Mas	o	fato	é	que	nem	todos	
nós	chegamos	a	compreender	“como”	isso	se	daria...
O	que	eu	tenho	a	lhe	dizer,	para	início	de	conversa,	é	que	o	desafio	continua!	
Só	que	 agora	 você	 “mudou	de	 lado”.	 Já	não	deve	 considerar-se	 tão	 somente	
aluno(a)	de	língua	portuguesa.	Você	é	também	um(a)	pesquisador(a).	Além	do	
já	conhecido	desafio	de	compreender	alguns	dos	princípios	mais	relevantes	da	
análise	mórfica,	está	convidado(a)	a	dar	um	novo	sentido	a	estes	conhecimen-
tos;	a	torná-los	úteis	e	necessários	a	sua	formação	como	docente	da	língua	por-
tuguesa;	a	descobrir	como,	de	fato,	podem	contribuir	para	a	aprendizagem	do	
português.
Aproveite	muito	bem	todos	os	espaços	de	leitura,	pesquisa,	reflexão	e	exercício	
que	 esta	 disciplina	 lhe	 proporcionará.	As	 lacunas	 que,	 porventura,	 encontre	
nesta	 abordagem,	 deverão	 ser	 tomadas	 como	um	 convite	 extra	 à	 pesquisa,	 à	
produção	de	(novos)	conhecimentos	e	à	discussão	acadêmica	e	científica.
Como	já	manifestamos,	é	uma	enorme	satisfação	iniciar	esta	nova	etapa	com	
você.	Sinta-se	bem	entre	nós!
Saudações	morfológicas	a	tod@s!
8 Capítulo 1
sanduíche),	este	passaria	a	ser	pão + manteiga + queijo 
+ presunto + manteiga + pão.	Muito	provavelmente,	
estes	pesquisadores	se	perguntariam	até	que	ponto	
a	ordem	de	entrada	desses	elementos	poderia	sofrer	
alterações	(sem	deixar	de	ser	um	sanduíche).	Investi-
gariam,	entre	outros	aspectos,	que	resultado	traria	a	
incorporação	de	algum	novo	elemento	(uma	alface,	
mostarda,	um	ovo	frito...)	ou	o	que	aconteceria	se	al-
gum	dos	elementos	fosse	permutado	por	outro	(se,	
por	exemplo,	uma	salsicha	substituísse	o	recheio).	
Outra	abordagem	enfocaria,	ainda,	cada	uma	das	
partes	constitutivas	do	 sanduíche,	buscando	divi-
di-las	 em	partes	 cada	 vez	menores.	 Buscaria,	 por	
exemplo,	 chegar	 à	 composição	 total	 do	 pão.	 En-
contrariam	nele:	trigo,	água,	sal,	fermento,...	.	Bus-
cariam	 identificar	 os	 elementos	 que	 se	 reuniram	
para	constituir	o	queijo,	o	presunto	e	a	manteiga.	
Em	outras	palavras,	 a	 atenção	desses	pesquisado-
res	 estaria	 voltada	para	a	 estrutura interna	do	 san-
duíche,	 sem	nenhum	 interesse	pelos	usuários	ou	
quaisquer	outros	contextos	ou	esferas	de	análise.
	
Você	deve	estar	impressionado(a)	em	ver	como	um	
simples	sanduíche	“dá	tanto	pano	pra	manga”.	Isso	
se	deve	ao	fato	de	que	novos	olhares	sobre	o	objeto	
tendem	a	suscitar	diferentes	pontos	de	vista,	ainda	
que	estejamos	nos	referindo	a	um	mero	sanduíche!	
Mas o que isso pode ter a ver com a morfologia 
que ora se inicia?	Esta	metáfora	nos	faz	ver	que	um	
mesmo	objeto	pode	ser	estudado	sob	vários	aspec-
tos,	 todos	 igualmente	 interessantes	 e	necessários.	
A	linguística	é	a	ciência	que	se	ocupa	em	estudar	
cientificamente	 a	 língua	 sob	perspectivas	 as	mais	
diversas.	 Alguns	 se	 ocupam	 mais	 do	 “uso”;	 dos	
“usuários”	 e	 das	 “condições/contexto”	do	 exercí-
cio	dessa	língua.	Você	já	deve	ter	ouvido	falar	da	
sociolinguística;	da	análise	da	conversação;	da	aná-
lise	do	discurso;	da	pragmática;	entre	outras	áreas	
de	 estudos	 linguísticos.	 Todas	 elas	 se	 interessam	
em	estudar	os	aspectos	sociodiscursivos	e	ideológi-
cos	relacionados	ao(s)	uso(s)	e	usuários	da	língua.	
Outros,	 por	 sua	 vez,	 preferem	 estudar	 “a	 língua	
em	si”	(lembra do sanduíche em si?).	Esta	área	de	
estudos	 corresponde	 ao	 conjunto	 mais	 antigo	 de	
disciplinas	 linguísticas.	São	abordagens	 iniciadas	edesenvolvidas	por	civilizações	muito	antigas:	Índia,	
Grécia	e	Roma.	Nesse	bloco,	encontramos:	fonéti-
ca,	fonologia,	sintaxe	e	morfologia.	São	disciplinas	
preocupadas	 em	 encontrar	 leis	 e	 princípios	 que	
permitam	conferir	regularidade	e	previsibilidade	às	
1. a MorfoloGia e seu objeto 
1.1 MorfoloGia: o Que veM a ser?
As	comparações	nunca	são	perfeitas,	mas,	muitas	vezes,	
ajudam	a	descomplicar	algumas	realidades.	Imaginemos	
a	sugestiva	imagem	de	um	sanduíche.	É	exatamente	isso	
que	você	leu:	um	sanduíche.	E como seria esse sandu-
íche?	Visualize-o	junto	comigo:	primeiro	uma	fatia	de	
pão;	depois	uma	camada	de	manteiga;	então	a	fatia	de	
queijo;	em	seguida,	a	de	presunto;	por	último,	o	contato	
com	a	manteiga	da	outra	fatia	de	pão,	com	a	qual		termi-
namos	a	composição	do	nosso	lanche.	
	
Agora,	afastar-nos-emos	por	alguns	instantes	da	posi-
ção	de	“consumidores”	dessa	delícia	para	transformá-
lo	em	uma	metáfora	útil	à	abertura	de	nosso	estudo	
sobre	morfologia.	Você sabia que esse sanduíche po-
deria servir de objeto para uma série de pesquisas?	
Por	exemplo,	alguns	estudiosos	poderiam	investigar	as	
diferentes	reações	das	pessoas	 frente	a	ele.	Poderiam	
verificar,	 entre	outras	 coisas,	 o	modo	 como	cada	um	
“devora”	seu	sanduíche;	as	expressões	de	agrado/desa-
grado	que	emitem;	a	maneira	como	homens	e	mulhe-
res	o	saboreiam;	as	formas	de	consumi-lo	entre	pessoas	
oriundas	de	diferentes	classes	sociais,	faixas	etárias	ou	
regiões	geográficas	do	Brasil	ou	do	planeta.	Você	deve	
concordar	que	seriam	múltiplas	as	maneiras	de	se	estu-
dar	o	“uso”	e	a	“percepção”	desse	sanduíche	por	parte	
dessas	diferentes	comunidades	de	consumidores.	
Por	 outro	 lado,	 outros	 pesquisadores	 poderiam	
concentrar	 seu	olhar	exclusivamente	sobre	o	“san-
duíche	 em	 si”,	 sem	 levantar	 quaisquer	 questiona-
mentos	 sobre	 as	maneiras	 de	 consumi-lo	 ou	 seus	
efeitos	 sobre	os	eventuais	 “comedores”.	Poderiam,	
por	exemplo,	 interessar-se	por	 identificar	as	partes	
que	 o	 compõem.	Nesse	 caso,	 de	 uma	 unidade	 (o	
Fo
nt
e:
 w
w
w
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ro
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am
am
om
en
to
sc
om
je
su
s.c
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ex
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s
9Capítulo 1
coisas	da	língua	(afinal,	não	podemos	sair	por	aí	cha-
mando	qualquer	coisa	de	sanduíche,	não	é?).	
Dentro	deste	conjunto	de	disciplinas	 linguísticas	
preocupadas	em	conhecer	o	funcionamento	da	es-
trutura	da	língua,	encontram-se	a	morfologia	e	a	
sintaxe,	hoje	tratadas	conjuntamente	por	morfos-
sintaxe.	A	palavra	–	o	“sanduíche”	da	morfologia	
–	tem	hoje	seu	estudo	integrado	ao	contexto.	
Voltando	à	metáfora	com	que	abrimos	essa	discus-
são,	 o	 estudo	da	 “composição	 e	 estrutura	 do	 san-
duíche”	modernamente	 incorpora	 alguns	 elemen-
tos	relativos	ao	contexto	(os	acompanhamentos	do	
sanduíche,	em	que	ocasião	será	saboreado,	etc.),	à	
história	e	às	condições	de	uso/usuários.	Em	outras	
palavras,	a	morfologia	é	uma	dessas	disciplinas	lin-
guísticas	que	estuda	a	“língua	em	si”,	que	se	ocupa	
em	conhecer	as	partes	que	compõem	a	palavra	e	os	
fenômenos	relacionados	à	formação	das	palavras	de	
uma	língua.	A	sintaxe	faz	a	mesma	coisa,	só	que	em	
uma	dimensão	mais	ampliada:	a	frase	e	a	oração.	
	
Portanto,	 a	 visão	 tradicional	 que	 aparentemente	
não	permite	o	diálogo	entre	as	diversas	abordagens	
linguísticas	pouco	a	pouco	vai	dando	lugar	a	uma	
abordagem	mais	interdisciplinar.	Hoje	em	dia,	não	
se	concebe	a	ideia	de	um	estudo	da	“língua	em	si”	
totalmente	desvinculado	de	seu	contexto	social,	his-
tórico	e	político.	Isso	nos	coloca	em	condições	de	
enriquecer	muitíssimo	os	estudos	morfossintáticos	
que	constituem	esta	disciplina.	Não	deixaremos,	ob-
viamente,	de	resgatar	as	 importantes	categorias	de	
estudo	e	classificação	morfêmica,	mas	sem	perder	a	
oportunidade	de	agregar	valor	ao	que	estamos	estu-
dando.	E	isso	deverá	ser	feito,	mesmo	que	os	conte-
údos	de	morfologia	e	sintaxe	lhe	pareçam,	a	princí-
pio,	conhecimentos	inquestionáveis	e	fechados.	
	
Na	grade	curricular	de	seu	curso,	há	duas	discipli-
nas	voltadas	às	teorias	de	análise	morfossintática	
(morfossintaxe	 I	 e	morfossintaxe	 II).	A	primeira	
delas	tratará	mais	de	morfologia,	enquanto	a	sin-
taxe	 será	melhor	 aprofundada	 em	morfossintaxe	
II.	É	hora,	portanto,	de	conhecermos	um	pouco	
mais	sobre	o	percurso	desta	disciplina.
1.2 uM pouco de História...
A	morfologia,	compreendida	como	o	estudo	das	for-
mas	das	palavras	de	uma	língua,	nem	sempre	teve	
este	nome.	Entre	os	gregos	e	latinos,	as	questões	re-
ferentes	à	 forma	das	palavras	de	uma	 língua	eram	
estudadas	em	três	partes:	flexão	(declinatio naturalis),	
derivação	(declinatio voluntaria)	e	sintaxe.
	
Por	 flexão,	 entendemos	as	 variações	acidentais	que	
os	nomes	apresentavam,	por	exemplo,	no	latim.	Ao	
estudar	 língua	 latina	 você	 percebeu	 que	 era	muito	
importante	conhecer	o	que	significavam	as	diferentes	
terminações	que	uma	palavra	recebia.	Era	a	termina-
ção	que	nos	permitia	saber	a	função	sintática	que	esta	
palavra	 exercia	na	oração	 (para	 recordar	o	 assunto,	
rever	os	“casos”	e	declinações	do	latim).	Na	gramática	
latina,	portanto,	era	a	palavra	a	unidade	central	míni-
ma	a	ser	estudada.	Era	ela	também	a	base	da	constru-
ção	sintática	do	enunciado.	Tudo	estava	na	palavra.
	
Somente	no	século	XIX	(aproximadamente	1860)	é	
que	“morfologia”	foi	utilizado	como	termo	linguís-
tico	para	os	estudos	de	flexão	e	derivação	das	pala-
vras.	Sua	origem	está	nos	estudos	evolucionistas	de	
Darwin.	Portanto,	é	na	biologia	que	os	gramáticos	
e	 filólogos1	 	da	época	encontraram	um	nome	que	
pudesse	expressar	sua	intenção:	descobrir	a	origem	
da	 língua(gem)	 através	do	 estudo	da	 evolução	das	
palavras	desde	o	indoeuropeu2		até	seus	dias.
Outro	grande	incentivo	aos	estudos	morfológicos	
da	 época	 foi	 o	 acesso	 à	 gramática	 de	 Panini,	 es-
Fo
nt
e:
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p:
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br
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es
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cl
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si
co
s.j
pg
1Filologia:	“ciência	histórica	que	tem	por	objeto	o	conhecimento	das	civilizações	passadas	através	dos	documentos	escritos	que	elas	nos	deixaram”.	
(DUBOIS	et	all,	Dicionário	de	linguística	–	ver	Referências)
2Línguas	indoeuropeias:	Conjunto	de	línguas	que	teriam	se	originado	de	uma	língua	primitiva	comum,	jamais	conhecida	em	sua	forma	original.	Nesta	
família	linguística,	encontramos	desde	o	antigo	sânscrito	(Índia)	até	as		principais	línguas	europeias.	Daí	porque	se	diz	que	o	português	faz	parte	da	família	
indoeuropeia.
10 Capítulo 1
“entendíamos”,	 se	 você	 olhar	 direitinho,	 ainda	
pode	sofrer	divisões.	É	possível	dividi-lo	em	qua-
tro	partes.	Observe:
entend	–	í	–	a	–	mos
São	estas	partes	mínimas	a	que	uma	palavra	pode	
chegar	que	recebem	o	nome	de	MORFEMAS.	Por-
tanto,	a	palavra	“entendíamos”	está	formada	por	
quatro	morfemas:	“entend	+	í	+	a	+mos”.	Não	se	
preocupe	se	o	modo	como	se	dividiu	esta	palavra	
ainda	lhe	parece	confuso.	Pouco	a	pouco,	iremos	
desvendando	 juntos	os	princípios	de	decomposi-
ção	das	palavras	em	morfemas.
É	interessante	observar	que	esta	oração	poderia	se	
transformar	em	outras,	mediante	a	substituição	de	
qualquer	de	seus	elementos	por	outros.	Em	outras	
palavras,	 cada	 uma	 dessas	 subdivisões	 ou	 unida-
des	 significativas	mínimas	às	quais	 chegamos	no	
exemplo	anterior	poderia	 ser	 substituída	por	ou-
tras.	É	a	propriedade	que	os	gramáticos/linguistas	
chamam	de	eixo paradigmático.	Observe:
“NÓS”	poderia	ser	substituído	por	“eu”,	“tu”,	
vocês”,	...
“MAL”	poderia	ser	substituído	por	“bem”,	“pre-
cariamente”,	“pouco”,	“muito”,	...
“ENTENDÍAMOS”	poderia	ser	substituído	por	
“enxergamos”,	“lemos”,	“falas”,	...
	
Nesse	caso,	formaríamos	enunciados	como	estes:	
“Eu	entendia	mal”;	“Eu	entendia	pouco”;	“Vocês	
enxergam	 mal”;	 “Tu	 falas	 muito”,	 entre	 outras	
tantas	substituições	possíveis.
	
Resumindo,	 o	 eixo paradigmático	 nos	 faz	 ver	 que	
as	possibilidades	de	substituição	das	unidades	sig-
nificativas	dentro	de	nosso	idioma	são	múltiplas.
	
Ainda	dentro	da	primeira	articulação,	percebe-se	
que	há	possibilidades	de	variações	dentro	deoutra	
perspectiva:	o	eixo sintagmático.	Agora,	percebe-se	
que	há,	para	cada	uma	destas	unidades	significati-
vas,	a	possibilidade	de	realizar	diferentes	funções	
sintáticas	dentro	das	orações.	O	“nós”	não	precisa	
ser	sempre	o	sujeito	das	orações	em	que	ele	apare-
ce.	Até	mesmo	a	palavra	“mal”,	que	em	nossa	ora-
ção	cumpre	o	papel	de	advérbio,	poderia	mudar	
de	 função,	 se	ocupasse	outro	 lugar	na	 cadeia	da	
frase.	Quer	ver	como	isso	seria	possível?	Observe	
crita	por	volta	do	 século	V	a.C..	Esta	obra	auxi-
liou	no	 processo	 de	 compreensão	 das	 estruturas	
do	 sânscrito,	 antiga	 língua	hindu,	 supostamente	
apresentada	 como	 “parente	 próximo”	 do	 grego	
e	 do	 latim.	 Ao	 contrário	 da	 tradição	 gramatical	
greco-romana,	a	gramática	de	Panini	reconhecia	a	
estrutura	interna	das	palavras	e	a	ocorrência	de	ra-
ízes	e	afixos.	Desta	forma,	os	estudos	comparativis-
tas	do	final	do	século	XVIII	deram	muita	atenção	
às	estruturas	internas	das	palavras.	Mais	do	que	a	
morfologia,	 foram	os	estudos	 fonológicos	que	 li-
deraram	as	pesquisas	desse	período.	Seu	objetivo	
principal	era	o	de	comprovar,	como	já	foi	dito,	o	
parentesco	entre	o	sânscrito,	–	antiga	 língua	dos	
textos	 sagrados	 da	 cultura	 indiana	 -	 o	 grego	 e	 o	
latim.
	
Nos	Estados	Unidos,	os	estudos	morfológicos	 ti-
veram	seu	apogeu	nas	décadas	de	40	e	50.	Alguns	
dos	principais	nomes	associados	à	morfossintaxe	
são	 Bloomfield	 e	 Chomsky.	 Entre	 os	 brasileiros	
que	mais	destacadamente	se	dedicaram	ao	estudo	
estrutural	da	língua,	encontra-se	Joaquim	Mattoso	
Câmara	 Jr.,	 ao	 qual	 faremos	 referência,	 algumas	
vezes,	ao	longo	dos	capítulos.
2. princípios da análise Mórfica
2.1 a dupla articulação da linGuaGeM
Os	estudiosos	da	língua	concluíram	que	os	enun-
ciados	 encontravam-se	 articulados	 em	 dois	 pla-
nos:	 a primeira e a segunda articulações	 (segundo	
classificação	proposta	por	Martinet).	Para	 enten-
der	 melhor	 essa	 distinção,	 tomemos	 o	 seguinte	
enunciado:
“Nós	entendíamos	mal”
Podemos	analisar	este	enunciado	sob	dois	diferen-
tes	 prismas,	 diriam	 os	 gramáticos.	Um	primeiro	
olhar	 chamaria	 nossa	 atenção	 sobre	 a	 sequência	
de	 palavras	 organizadas	 nesta	 sentença.	 Neste	
primeiro	plano,	ou	primeira articulação,	o	enun-
ciado	aparece	organizado	linearmente	em	uma	se-
quência	de	unidades	 significativas,	 a	 saber,	 “nós	
+	 entendíamos	+	mal”.	Será que conseguiríamos 
dividir ainda mais essas três unidades que identi-
ficamos há pouco?	Na	realidade,	as	palavras	“nós”	
e	 “mal”	 já	 constituem	mínimas	unidades	 signifi-
cativas.	Não	podem	ser	subdivididas.	Mas	o	verbo	
11Capítulo 1
zem	parte	da	primeira	articulação	da	língua(gem).	
A	 unidade	mínima	 de	 análise	 e	 sentido,	 para	 a	
primeira	articulação,	é	o	MORFEMA.
E	de	que	 trata,	 então,	 a	 segunda articulação	 da	
linguagem?	Esta	tem	a	ver	com	os	sons	e	não	mais	
com	 unidades	 significativas.	No	 exemplo	 acima:	
“Nós	 entendíamos	 mal”,	 tomemos	 a	 palavra	
“nós”.	Ela	está	constituída,	dentro	da	segunda	ar-
ticulação,	de	três	fonemas	/n/,	/ó/,	/s/.	Esta	sub-
divisão	já	não	busca	o	sentido	das	partes,	mas	os	
sons.	Aqui	também	se	verifica	a	possibilidade	de	
combinações.	A	substituição	do	primeiro	fonema	
por	/s/	ou	/v/,	por	 exemplo,	 já	produz	mudan-
ças	significativas	na	palavra.	Fazendo	as	substitui-
ções	sugeridas,	formaríamos	estas	novas	palavras:	
“sós”	e	“vós”.	Os	estudos	de	fonética	e	fonologia	
situam-se	no	campo	desta	segunda	articulação	da	
linguagem,	e	sua	unidade	mínima	de	análise	é	o	
FONEMA.	Nesta	disciplina,	não	nos	dedicaremos	
a	 analisar	palavras	 e	 enunciados	 com	base	na	 se-
gunda articulação	da	linguagem.	Isso	foi	assunto	da	
disciplina	de	fonética	e	fonologia.
Vimos,	portanto,	que	os	FONEMAS	são	unidades	
mínimas	sonoras	e	são	abordados	dentro	da	segunda 
articulação,	conforme	sugestão	dos	estudiosos	da	lín-
gua	“em	si”.	Aprendemos,	também,	que	os	enuncia-
dos	podem	ser	analisados	a	partir	de	suas	unidades	
mínimas	 de	 sentido,	 os	MORFEMAS,	 dentro	 da	
chamada	primeira articulação da linguagem.	
A	fim	de	fixarmos	um	pouco	mais	o	que	se	apren-
deu	 sobre	 a	 primeira articulação	 da	 linguagem	
–	 porque	 é	 aqui	 que	 se	 desenvolvem	 os	 estudos	
morfossintáticos	-	que	tal	fazermos	juntos	um	bre-
ve	 exercício	de	 segmentação	 (divisão	 em	partes)?	
Tomemos	o	seguinte	enunciado:
“Ela	escuta	o	som	bem	baixinho”
Considerando	a	primeira articulação	deste	enunciado,	
em	quantas	unidades	significativas,	você	o	dividiria?
Em	seis?	Isso	mesmo:
Ela		+	escuta		+		o		+		som		+		bem		+		baixinho
1									2											3								4											5													6
como	o	“nós”	e	o	“mal”	podem	“jogar	em	várias	
posições”	nos	diferentes	enunciados:
Nós	terminamos	a	tarefa.	(sujeito)
Dirigiu-se	a	nós	ao	término	da	reunião.	(objeto	indireto)
Tu	diriges	mal.	(advérbio)
O	mal	se	espalhou	rapidamente.	(sujeito)
O	 eixo sintagmático3	nos	 recorda	que	as	unidades	
significativas	de	uma	 língua	nem	 sempre	desem-
penham	a	mesma	função	sintática	no	interior	do	
sintagma	;	tudo	depende	da	posição	que	estas	uni-
dades	(palavras)	ocupam	no	enunciado.
Quando	 observamos	 o	 eixo sintagmático,	 toda	 a	
nossa	atenção	se	volta	para	o	plano	horizontal	da	
frase.	Nesse	momento,	você	deve	estar	se	lembran-
do	dos	exercícios	de	análise	sintática	que	realizava	
no	colégio.	E,	de	fato,	tem	tudo	a	ver	com	eles:	o	
eixo sintagmático	refere-se	às	diversas	funções	sintá-
ticas	que	uma	palavra	pode	desempenhar	dentro	
do	conjunto	do	enunciado.	
Portanto,	enquanto	o	eixo paradigmático	se	refere	à	
permanente	possibilidade	de	substituição	das	uni-
dades	significativas	(palavras)	por	outras	unidades	
significativas	dentro	do	amplo	repertório	ofereci-
do	pelo	nosso	idioma;	a	análise	do	eixo sintagmá-
tico (ou	das	relações	sintagmáticas)	nos	revela	que	
as	 palavras	 não	 estão	 “determinadas”	 a	 exercer	
sempre	a	mesma	 função	 sintática	no	 interior	do	
enunciado.	
Isso	nos	faz	lembrar	porque	a	“decoreba”	não	aju-
da	muito	 na	 hora	 de	 compreender	 a	 sintaxe	 da	
língua	portuguesa.	Devemos	desenvolver,	antes	de	
mais	nada,	a	 capacidade	de	“pensar”	os	 fenôme-
nos	da	língua.	
Concluindo,	 a	 primeira articulação	 chama	 nossa	
atenção	para	a	existência	de	 segmentos	 significa-
tivos	mínimos	(morfemas)	nas	palavras	bem	como	
para	 as	 variações	 de	 sentido	 que	 estas	 unidades	
podem	sofrer	dentro	do	plano	do	enunciado.	Em	
outras	 palavras,	 os	 estudos	 de	 morfossintaxe	 fa-
3Por	sintagma,	entende-se	toda	combinação	de	palavras	que	consegue	formar	uma	unidade	dentro	da	estrutura	da	frase.	Por	exemplo,	no	enunciado:	
“A	pobre	menina	espera	a	volta	de	sua	mãe”,	identificam-se	algumas	destas	unidades:	“A	pobre	menina”	(sintagma	que	cumpre	a	função	de	sujeito);	
“espera	a	volta	de	sua	mãe”	(sintagma	que	cumpre	a	função	de	predicado);	“a	volta	de	sua	mãe”	(sintagma	na	função	de	objeto	direto);	“de	sua	mãe”	
(sintagma	na	função	de	complemento).
12 Capítulo 1
Algumas	destas	unidades	se	mostram	indivisíveis.	
Veja:	as	palavras	“o”,	“som”	e	“bem”	já	se	encon-
tram	em	sua	forma	mínima.
E por que se diz que as palavras “ela”, “escuta” e 
“baixinho” não se encontram em sua forma mí-
nima, indivisível?	 Porque	 estas	 ainda	 podem	 ser	
segmentadas.	Observe:
•	 El-a:	o	“el”	funciona	como	base	comum	a	ou-
tras	palavras:
•	 el+e	(ele)
•	 el+as	(elas)
•	 el+es	(eles)
•	 d+el+e	(dele)
•	 escut-a:	o	“escut”	é	a	base	de	formação	de	dife-
rentes	tempos/pessoas	do	verbo	“escutar”:	
•	 escut+o	(escuto)
•	 escut+a+mos(escutamos)
•	 escut+a+rí+a+mos	(escutaríamos)
•	 baix-inh-o:	o	“baix”	pode	formar	outras	pala-
vras,	dependendo	dos	afixos	que	receba:
•	 re+baix+	a+do	(rebaixado)
•	 baix+o	(baixo)
•	 baix+a+s	(baixas)
Esta	decomposição,	 tendo	por	base	a	primeira ar-
ticulação,	 dá	 uma	 ideia	 mínima	 de	 quantos	 ele-
mentos	 (morfemas)	 podem	 compor	 as	 palavras.	
Percebe-se,	sem	muita	reflexão,	que	alguns	destes	
morfemas	identificam	o	gênero,	enquanto	outros	
dão	 a	 ideia	 de	 plural	 ou	mesmo	 de	 grau	 (como	
o	 diminutivo–inho).	 Nos	 verbos,	 os	 morfemas	
podem	 definir	 pessoa,	 número,	 modo	 e	 tempo	
verbal.	São	pequenas	partes	carregadas	de	signifi-
cação.	Daí	porque	se	diz	que	os	morfemas	são	as	
unidades	mínimas	de	análise	das	palavras.
2.2 forMas livres, presas e dependentes
Voltemos,	uma	vez	mais,	ao	esforço	de	encontrar	
as	unidades	 significativas	de	um	enunciado	e	de-
pois	identificar	quais	palavras	já	se	acham	em	sua	
unidade	mínima	(morfema)	e	quais	ainda	compor-
tam	subdivisões.	Para	isso,	analisemos	as	unidades	
que	constituem	o	seguinte	enunciado:
“Distinguia-se	a	voz	inconfundível”
Quais palavras já se acham em sua forma mínima? 
“se”, “a” e “voz”. Concorda?
Por	 outro	 lado,	 “distinguia”	 está	 constituído	 dos	
morfemas	“distin+g+u+i+a”,	porque	podemos,	ao	
substituir	 os	morfemas	 acrescidos	 ao	 radical,	 for-
mar	 outros	 vocábulos:	 distingo,	 distingue,	 distin-
guíamos,	distinto,	distinção...
Quanto à palavra “inconfundível”, o que se sabe 
sobre sua composição?	É	possível	visualizar,	a	par-
tir	de	diferentes	níveis	de	segmentação,	as	seguin-
tes	formas:
in+confundível	
in+confu+nd+ível
Uma	vez	 substituindo	estas	 formas4	 	 e	morfemas	
por	 outros	 (ou	 eliminando	 algum),	 teríamos:	 in-
compatível,	 infeliz,	 confundível,	 confuso,	 confu-
são,	confundir,	confunde,...
E	 agora,	 gostaria	 que	 você	 observasse	 um	pouco	
mais	detidamente	as	formas	e	morfemas	resultan-
tes	do	exercício	recém-realizado:	“se”,	“voz”,	“ível”,	
“in”,	“i”,	“a”,	“confu”,	“confundível”.	Será	que	to-
dos	têm	o	mesmo	comportamento	na	formação	das	
palavras?	Haverá	 formas	mais	 “significativas”	que	
outras?	Ou	mais	 independentes?	Perguntas	como	
estas	 geraram	 algumas	 teorias	 sobre	 as	 formas	 e	
morfemas	 que	 compõem	 as	 palavras.	 Bloomfield	
foi	um	dos	pioneiros	a	falar	de	formas	LIVRES	e	
formas	PRESAS.	Veja	se	você	compreende:
Formas	 livres	 são	aquelas	que	podem,	por	 si	 sós,	
comunicar	 com	 sentido.	 Por	 exemplo,	 a	 forma	
(que	é	também	morfema)	“voz”.	Suponha	que	você	
esteja	 comentando	 a	 performance	 de	 um	 novo	
cantor	de	música	sertaneja	com	seu	melhor	amigo.	
Ele,	inconformado	com	suas	críticas	ao	novo	astro,	
pergunta:	“Mas, me diga, pra você o que é que fal-
ta nele afinal?”	E	você	responde:	“Voz”.	Resposta	
mais	do	que	convincente	e	significativa,	não	acha?	
A	forma	“voz”,	portanto,	é	considerada	uma	forma 
4	“forma”	é	uma	categoria	diferente	da	de	morfema.	A	“forma”,	embora	às	vezes	coincida	com	o	morfema	(por	ex.	sol;	a;	que),	leva	em	consideração	a	
frase	como	um	todo,	coisa	que	uma	análise	mórfica	tradicional	não	precisa	fazer.	Enquanto	isso,	o	“morfema”	sempre	se	refere	à	mínima	unidade	de	
análise	da	palavra.
13Capítulo 1
livre,	porque	não	precisa	andar	junto	a	outras	para	
adquirir	 valor	 semântico	 (significado).	O	mesmo	
ocorre	 com	 a	 forma	 “confundível”	 que	 também	
apareceu	em	nosso	exercício	de	segmentação.	
As	formas presas,	por	sua	vez,	são	aquelas	que	só	
funcionam	 na	medida	 em	 que	 aparecem	 ligadas	
a	outras.	Você é capaz de identificar algumas que 
apareceram em nossa última análise?	 Observe	 o	
“in”	e	o	“ível”.	Adquirem	sentido	quando	se	jun-
tam	com	outros	morfemas	ou	com	outras	formas	
livres:	“infeliz”,	“invencível”,	“comestível”,...	.	Isso	
caracteriza	as	chamadas	formas presas.
Está	explicado	porque	algumas	gramáticas,	ao	se	re-
ferirem	à	formação	das	palavras,	dizem	que	os	vocá-
bulos	simples	de	nossa	língua	podem	ser	constituí-
dos	de	uma	forma	livre	indivisível	(luz,	pó,	voz,...);	
de	duas	ou	mais	 formas	presas	 (im+pre+vis+ível);	
ou	de	uma	forma	livre	e	uma	ou	mais	formas	pre-
sas	(in-feliz,	atual-mente,	in-feliz-mente).
Mas, como classificar o “se” e o “a” que aparecem 
em: “Distinguia-se a voz inconfundível”?	Mattoso	
Câmara	chama	nossa	atenção	para	essas	formas.	Elas,	
segundo	o	autor,	não	podem	ser	consideradas	formas	
livres	nem	presas.	Não	 são	 livres,	porque	 carecem	de	
significação	em	si	mesmas.	Não	é	comum	atribuir-se	ao	
artigo	(ou	à	preposição)	“a”	uma	existência	comunicati-
va	isolada.	O	mesmo	ocorre	ao	pronome	“se”,	tomado	
isoladamente.	Por	isso,	não	são	formas	livres.
Por	outro	lado,	como	já	se	antecipou,	o	“se”	e	o	“a”	tam-
bém	não	são	formas	presas.	A	explicação	é	simples:	as	
duas	formas,	mesmo	que	se	apresentem	ligadas	a	outras	
formas	 livres,	 gozam	de	 relativa	 liberdade.	O	 “se”	 de	
“distinguia-se”	pode	ocupar,	em	outro	momento,	uma	
posição	proclítica5		(se	distinguia).	Assim	como	o	artigo	
“a”	pode	afastar-se	do	termo	que	acompanha,	por	exem-
plo,	quando	introduzimos	novos	elementos	entre	eles:	
“a	doce	e	suave	voz”.	Nesse	caso,	não	se	pode	dizer	que	
o	“a”	esteja	“preso”	ao	substantivo	a	que	se	refere	(voz).
A	partir	dessas	reflexões,	Mattoso	Câmara	propõe	a	ca-
tegoria	de	forma dependente.	As	formas	“a”	e	“se”	não	
seriam	livres	nem	presas,	mas	dependentes.	Nessa	cate-
goria,	Mattoso	inclui	o	artigo,	os	pronomes	enclíticos	e	
proclíticos,	as	preposições,	a	partícula	“que”,	entre	outras.
atividade |	Sempre	é	bom	colocar	em	práti-
ca	o	que	estamos	aprendendo.	
1.	Em	um	primeiro	momento,	divida	este	pre-
cioso	pensamento	de	Cora	Coralina	em	uni-
dades	significativas6	,	sem	se	preocupar	ainda	
em	encontrar	os	morfemas.	Quantos	segmen-
tos	você	achou?
“FELIZ AQUELE QUE TRANSFERE O QUE 
SABE E APRENDE O QUE ENSINA”
2.	Agora,	analise	cada	palavra	separadamente	
e	decida	se	aquele	vocábulo	já	se	encontra	em	
sua	forma	mínima	ou	se	ainda	pode	ser	dividi-
do.	Neste	caso,	faça	a	segmentação	até	conhe-
cer	os	morfemas	que	o	compõem:
FELIZ
AQUELE
QUE
TRANSFERE 
O
QUE
SABE
E
APRENDE
O
QUE
ENSINA
3.	Para	finalizar,	classifique	cada	segmento	mí-
nimo	(morfema)	que	você	encontrou	no	exercí-
cio	2	em	forma	livre,	presa	ou	dependente.
4.	Repita	os	mesmos	procedimentos	com	cada	
um	dos	enunciados	abaixo.	Isso	vai	ajudá-lo(a)	
a	fixar	estas	categorias!!	Talvez	surjam	dificul-
dades	à	hora	de	identificar	alguns	morfemas.	
Afinal,	ainda	temos	“muito	chão”	pela	frente	
até	 conhecermos	bastante	 sobre	 análise	mor-
fológica.	Mesmo	assim,	faça	o	melhor	que	pu-
der!!
“Conta-me	coisas	da	atualidade”
“Mercadorias	importadas	e	nacionais”
5	Próclise	(posição	proclítica):	quando	o	pronome	aparece	antes	do	verbo	(te	amo;	nos	veremos;	se	odiavam).
Ênclise	(posição	enclítica):	quando	o	pronome	vem	depois	do	verbo	(divertir-me;	pedi-lhe;	propõem-se).
6	Fizemos	uma	divisão	em	unidades	significativas	logo	no	início	da	explicação	sobre	a	primeira	articulação.	Se	tiver	dúvidas,	volte	ao	exemplo	dado.
14 Capítulo 1
O CONCRETISMO,	 movimento	 literário	 de	
vanguarda	liderado	por	Décio	Pignatari,	Haroldo	
Campos	e	Augusto	Campos,	na	década	de	50	(séc.
XX),	 supervalorizou	 (e	 subverteu)	 os	 morfemas.	
Era	a	chamada	poesia concreta.	Nela,	aboliam-se	os	
versos	 tradicionais	mediante	 a	 supressão	das	pre-
posições,	conjunções,	pronomes,	etc.	Nascia	uma	
poesia	 objetiva,	 concreta,	 feita	 quase	 que	 exclusi-
vamente	 de	 substantivos	 e	 verbos.	Aboliam-se	 os	
tradicionais	princípios	de	uso	do	espaço	da	folha	
de	papel	e	as	margens	das	palavras,	das	sílabas,	dos	
morfemas...	 Diziam	 seus	 seguidores	 que	 esta	 era	
uma	linguagem	compatível	com	os	novos	tempos	
e	 a	 industrialização	que	 avançava	 rapidamente....	
Veja	 com	 seus	 próprios	 olhos	 (porque	 esta	 era	 a	
proposta	dos	concretistas:	o	poema	objeto-visual!)
terra
(Décio	Pignatari)
ra terra ter
rat erra ter
rate rra ter
rater ra ter
raterr a ter
raterra terr
araterra ter
raraterra te
rraraterra t
erraraterra
terraraterra 
nãoMevendo 
(	Augusto	de	Campos)
Você	está	 convidado(a)	 a	 comentar	esta	proposta	
dos	concretistas	brasileiros.	Informe-se	mais	sobre	
este	 interessante	movimento	 da	 vanguarda	 literá-
ria	brasileira	e,	sobretudo,	descubra a poesia dos 
morfemas de nossa língua portuguesa!!	Sejam	eles	
presos,	livres	ou	dependentes...
Quem	 sabe	 você	 até	 nos	 surpreenda	 com	 alguns	
versos	concretos	de	sua	autoria!?
2.3 MorfeMas lexicais e MorfeMas 
 GraMaticais (ou flexionais)
Depois	de	estudarmos	as	categorias:	 formapresa,	
forma	 livre	e	 forma	dependente,	apercebemo-nos	
que	 sempre	 há	 a	 possibilidade	 de	 se	 lançar	 dife-
rentes	 olhares	 sobre	 a	 estrutura	 das	 palavras	 (os	
concretistas	 que	 o	 digam!!).	 Pode-se	 tão	 somente	
olhar	a	palavra	 isoladamente,	 tentando	descobrir	
em	quantas	e	que	partes	é	possível	dividi-la.	Como	
também	é	possível	levar	em	consideração	a	“vida”	
destes	pedaços	no	universo	da	frase	e,	até	mesmo,	
da	língua.	Daí	porque	se	chegou	à	classificação	das	
formas	livres,	presas	ou	dependentes.
E	agora,	convido	você	a	mais	uma	vez	observar	os	
morfemas	que	se	evidenciam	a	partir	do	processo	
de	segmentação	(divisão	em	partes	buscando	isolar	
as	 unidades	 mínimas).	 Tomemos	 como	 exemplo	
apenas	o	vocábulo:
“bela”
Uma	vez	subdividido	em	morfemas,	muito	provavel-
mente	chegaríamos	todos	à	mesma	conclusão:		“bel	–	
a”	.		Também	não	seria	difícil	formar	outras	palavras	a	
partir	do	mesmo	radical:	“bel”.	Você concorda?
bel-ez-a
em-bel-ez-ar
bel-dade
bel-a-mente
bel-e-zura
SAIBA MAIS!
h t t p : / / e d u c a t e r r a . t e r r
a . c o m . b r / l i t e r a t u r a /
litcont/2003/04/22/001.htm
h t t p : / / e d u c a t e r r a . t e r r
a . c o m . b r / l i t e r a t u r a /
litcont/2003/04/22/001.htm_
poesia.htm
http://www.algumapoesia.com
.br/poesia/poesianet066.
VOCÊ SABIA...
...um dos mais controverti
dos movimentos lite-
rários brasileiros deu um n
ovo sentido aos mor-
femas da língua portugue
sa: viraram poesia!!!
15Capítulo 1
Observe	que	há	uma	parte	invariável	em	todos	os	
paradigmas:	 BEL.	 Os	 morfemas	 que	 se	 unem	 a	
“bel”	acabam	modificando	as	palavras,	mas	“bel”	
nunca	perde	 seu	 significado	essencial.	O	 sentido	
de	“bel”	está	assegurado	pelo	dicionário.	Sempre	
será	o	mesmo:	beleza.	Note	que	todas	as	palavras	
que	têm	por	radical	“bel”	devem	carregar	em	sua	
essência	o	sentido	do	belo	(beleza,	embelezar,	bel-
dade,	belamente,	belezura,	etc).	Logo,	o	radical	é	
considerado	um	morfema	lexical,	porque	se	man-
tém	ligado	a	seu	sentido	dicionarizado.
E o que dizer, então, dos demais morfemas que se 
uniram a “bel”?	Todas	as	partículas	que	se	soma-
ram	a	“bel”,	muito	embora	ajudem	a	conferir	sig-
nificação	às	novas	palavras	que	formam,	não	têm	
seus	significados	dicionarizados.	É	o	caso	de	“eza”,	
“zura”,	 “”mente”,	 “em”,	 “dade”,	 etc.	 Estas	 partí-
culas	 não	moram	no	dicionário,	mas	nas	 gramá-
ticas	da	língua.	Por	esse	motivo,	são	considerados	
morfemas	gramaticais ou flexionais.	 São	aqueles	
que	marcam	os	fatos	gramaticais	da	língua:	plural,	
singular,	masculino,	feminino,	tempos	verbais,	pes-
soas	 dos	 verbos,	 aumentativos,	 diminutivos,	 etc.	
São	formas	presas	que	transformam	as	palavras	(a	
partir	do	seu	radical/morfema	lexical)	em	substan-
tivos	 (beleza),	verbos	 (embelezar),	advérbios	 (bela-
mente)	ou	outras	categorias	gramaticais.	
O	que	você	acha	de	praticar	um	pouco	isso	que	se	
acabou	de	estudar?	Vimos	que,	dentro	das	palavras,	
há	um	radical,	também	chamado	de	morfema	lexi-
cal,	porque	tem	tudo	a	ver	com	o	léxico	da	língua,	
o	qual	 recebe	 a	 adição	de	outros	morfemas	–	os	
gramaticais.	Identifique	o	morfema	lexical	dentro	
de	cada	uma	destas	palavras,	isolando-o,	conforme	
o	exemplo	dado.
Exemplo:	desocupado:	ocup	(é	o	morfema	lexical)
1.	 barriguda:
2.	 retrato:
3.	 descampado:
4.	 sortudo:
5.	 amabilíssimo:
6.	 predisposição:
7.	 impontual:
atividade |	E	agora,	faremos	uma	atividade7	
bastante	desafiadora.	Vamos	conhecer	e	estu-
dar	 uma	 língua	 jamais	 vista.	Uma	 língua	 in-
ventada	 especialmente	 para	 que	 treinemos	 o	
processo	de	segmentação:
Observe	os	dados	da	língua	“A”	e	depois	faça	
os	exercícios	propostos	abaixo:
ikalveve:	casa	grande		 	 	 	
ikalsosol:	casa	velha
ikalcin:	casa	pequena	 	 	 	
petatveve:	capacho	grande
petatsosol:	capacho	velho	 	 	 	
petatcin:	capacho	pequeno
ikalmeh:	casas	 	 	 	 	
petatmeh:	capachos
a)	 Segmente	os	 vocábulos	 (isole	o	morfema	
lexical	dos	morfemas	gramaticais):
b)	 Quais	os	elementos	que	significam	“gran-
de”,	“velho”,	“pequeno”?
c).	 Quais	os	elementos	que	significam	“casa”	
e	“capacho”?
4.	 d)	Qual	o	morfema	indicativo	de	número?
2.3.1 Princípios básicos e auxiliares
 da análise mórfica
Os	 morfemas	 gramaticais	 ou	 flexionais	 às	 vezes	
dão	um	pouco	mais	de	trabalho	à	hora	de	segmen-
tá-los.	 Sabemos	 que	 são	 morfemas	 gramaticais,	
mas	às	vezes	não	temos	muita	certeza	de	“quantos	
diferentes	pedaços”	os	compõem,	não	é	verdade?
Observe	o	verbo:
“jogaríamos”
Não	 é	 difícil	 isolar	 o	 radical	 (morfema	 lexical):	
“jog”.	A	partir	deste	momento,	sabemos	que	o	“arí-
amos”	reúne	os	morfemas	flexionais	(gramaticais)	
que	 se	 somam	 ao	 radical	 “jog”.	Mas como saber 
quantos e quais morfemas flexionais “se escon-
dem” no “aríamos”?
Existirá algum princípio que nos auxilie a separar mais 
facilmente o morfema lexical dos morfemas gramati-
cais ou flexionais e reconhecer as subdivisões destes?
7	Adaptação	do	exercício	proposto	por	Souza	e	Silva	&	Koch	(2009	a,	p.	35)
16 Capítulo 1
Os	gramáticos	falam	de	alguns	princípios	básicos	
para	 se	 proceder	 à	 análise	mórfica	 (subdividir	 as	
palavras	 em	 morfemas	 lexicais	 e	 gramaticais).	 O	
primeiro	deles	vem	a	ser	a	COMUTAÇÃO.	Veja-
mos	no	que	consiste:
Comutar	significa	“trocar	ou	trocar	de	lugar”.	Vol-
temos	ao	verbo	“jogaríamos”.	Este	é	um	verbo	da	
primeira	 conjugação	 (terminado	 em	AR).	Obser-
vemo-lo	agora	junto	aos	verbos	“beber”	e	“pedir”	
(terminados	em	ER	e	IR	respectivamente).
jogaríamos
beberíamos
pediríamos
Em	um	primeiro	momento,	 isolemos	o	morfema	
lexical	de	cada	um	deles.	Teremos	então:
jog-aríamos
beb-eríamos
ped-iríamos
Facilmente	 reconhecemos	 o	 “jog”,	 “beb”	 e	 “ped”	
como	os	morfemas	lexicais	que	receberam	a	adição	
dos	morfemas	flexionais.	Você	consegue	ver	a	vogal	
temática	que	caracteriza	as	três	conjugações	verbais?	
O	“a”	da	primeira	conjugação	(AR);	o	“e”	da	segun-
da	(ER)	e	o	“i”	da	terceira	(IR).	Para	facilitar	a	visua-
lização,	elas	aparecem	em	negrito	e	isoladas	abaixo:
jog-a-ríamos
beb-e-ríamos
ped-i-ríamos
Acabamos	de	 visualizar	um	 importante	morfema	
flexional:	a	vogal	temática.	Nem	sempre	ela	apare-
ce.	Mas	neste	tempo	verbal	(futuro	do	pretérito),	a	
vogal	temática	se	fez	bem	presente.
E o “ríamos”? Será este um morfema flexional úni-
co ou ainda pode ser mais dividido?	Nesta	hora,	
a	COMUTAÇÃO	 também	pode	nos	 ajudar	 bas-
tante.	 Comparemos	 o	 	 “jogaríamos”	 com	 outros	
tempos	verbais	do	mesmo	verbo.
jogaríamos
jogávamos
jogaremos
	
Veja	os	diferentes	morfemas	que	surgiram	na	me-
dida	em	que	fomos	trocando	de	tempo	verbal:
	
jog-a-ría-mos
jog-á-va-mos
jog-a-re-mos
	
Considerando	os	diferentes	tempos	verbais	em	que	se	
encontram,	concluímos	que	o	“ria”	é	a	marca	do	futu-
ro	do	pretérito	em	oposição	a	“va”	do	pretérito	imper-
feito	e	do	“re”	do	futuro	do	presente.	Cada	um	deles,	
portanto,	vem	a	ser	um	morfema	flexional	que	dá	a	
informação	de	tempo	verbal.	Diferentemente,	o	“mos”	
que	aparece	igualmente	nos	três	tempos,	é	o	morfema	
que	traz	a	marca	da	primeira	pessoa	do	plural:	nós.
Foi	a	comutação	que	nos	auxiliou	na	tarefa	de	sepa-
rar	o	morfema	lexical	dos	gramaticais	e	estes	entre	
si.	Primeiro,	comparamos	o	verbo	“jogaríamos”	com	
verbos	de	outras	conjugações	e	assim	isolamos	a	vo-
gal	 temática.	 Posteriormente,	 conseguimos	 visuali-
zar	as	marcas	de	tempo,	modo,	pessoa	e	número,	co-
mutando	com	diferentes	tempos	verbais	do	mesmo	
verbo.	Como	percebemos,	esse	princípio	se	mostra	
especialmente	útil	para	a	segmentação	dos	verbos.
Outro	 princípio	 de	 análise	 mórfica	 vem	 a	 ser	 a	
ALOMORFIA.	 Esta	 nos	 faz	 ver	 que	 há	 certas	
“irregularidades”	 dentro	 da	 realização	 de	 alguns	
morfemas.	Por	exemplo,	dizemos	que	o	plural	das	
palavras	do	português	 se	 faz	 acrescentando	o	 “s”	
às	 formas	dos	nomes	 em	 singular.	 Isso	 é	 só	uma	
meia	verdade.	Esta	“regra”	serve	para	cama/camas;	
livro/livros;	 pé/pés;	 entre	muitas	 outras	 palavras	
do	português.	Mas	não	se	aplica	a	lençol/lençóis;	
voz/vozes;	etc.	Issoquer	dizer	que	os	diversos	mor-
femas	de	uma	língua	não	são	obrigados	a	se	apre-
sentarem	sempre	do	mesmo	modo	(como	um	seg-
mento	fônico	imutável).	Até	mesmo	os	morfemas	
lexicais	 (aqueles	 com	 significado	 dicionarizado)	
podem	apresentar	variantes.	É	o	caso	de	“ordem”	
que,	dependendo	da	palavra,	pode	se	realizar	como	
“orden”	ou	“ordin”.	Quer ver?	
ordem			-			ordenar		-			ordinário
A	 estas	 variações	 possíveis	 para	 a	 realização	 dos	
morfemas	se	dá	o	nome	de	ALOMORFES.	Algu-
mas	alomorfias	acontecem	em	razão	do	“som”	de	
algumas	palavras.	Por	exemplo,	o	prefixo	”in”	vira	
“i”	ou	“im”	em	algumas	palavras.	Temos	“incapaz”	
e	“infeliz”,	mas	temos	também	“imutável”	 (e	não	
inmutável);	“imundo”	(e	não	inmundo).	Da	mesma	
forma,	tampouco	teremos	“inprodutivo”	ou	“inpe-
dimento”.	São	casos	em	que	a	consoante	nasal	“m”	
da	palavra	 seguinte	 inviabiliza	 a	 permanência	 do	
17Capítulo 1
“n”	do	prefixo.	Essa	alomorfia	é	 também	chama-
da	de	mudança morfofonêmica,	porque	ocorre	para	
cumprir	 com	 alguns	 princípios	 fonético-fonológi-
cos	da	nossa	língua.	Usando	de	palavras	mais	sim-
ples,	sabemos	que	antes	de	“p”	teremos	“m”	e	não	
“n”.	As	diferentes	realizações	do	morfema	in/i/im	
são,	portanto,	exemplos	de	alomorfia.
O	desconhecimento	da	existência	destes	alomorfes,	
muitas	vezes,	acaba	gerando	alguns	mal-entendidos	
ou	simplificação	das	descrições	gramaticais	durante	
a	derivação	vocabular,	flexões	nominais	ou	verbais.	
Por	 exemplo,	 algumas	pessoas	não	 conseguem	ver	
que	o	“in”	de	“infeliz”	e	o	“im”	de	“improdutivo”	
são,	em	realidade,	o	mesmo	morfema.	Agora,	não	
só	estamos	em	condições	de	afirmar	isto	como	tam-
bém	sabemos	que	ocorre	aí	um	caso	de	alomorfia	
motivada	 por	 uma	 exigência	 fonético-fonológica:	
antes	de	P	e	B	impõe-se	o	som	/m/	e	não	/n/.
Antes	de	conhecermos	um	novo	aspecto	a	ser	 le-
vado	em	conta	durante	o	processo	de	análise	mór-
fica,	 seria	muito	bom	exercitar	um	pouco	mais	a	
segmentação	de	palavras	e	a	recém-aprendida	no-
ção	de	alomorfia.
atividade8 |	Observe	agora	esta	outra	língua	to-
talmente	desconhecida	e	especialmente	constituída	
para	treinarmos	os	princípios	de	análise	mórfica:
filkas	–	forte	 	 mufilkas	–	fortalecer
kelad	–	fraco		 mekelad	–	enfraquecer
batar	–	surdo		 mebatar	–	ensurdecer
fusat	–	escuro		 mufusat	–	escurecer
pesal	–	velho		 mepesal	–	envelhecer
a)	 Qual	o	afixo	que	aparece	nos	dados?	Ou	seja,	
qual	o	morfema	flexional	que	se	somou	ao	morfe-
ma	lexical?
b)	 Que	ideia	encerra	este	afixo?
c)	 Esse	afixo	apresenta	variantes	alomorfes?
d)	 Dadas	as	palavras	posas	(pobre)	e	fejas	(doido),	
como	 você	 diria	 empobrecer	 e	 endoidecer	 nesta	
nova	língua?
Outro	importante	fenômeno	que	nos	ajuda	a	explicar	
alguns	aspectos	da	análise	mórfica	é	a	NEUTRALIZA-
ÇÃO.	Você	já	deve	ter	percebido	alguns	casos	de	am-
biguidade	entre	algumas	conjugações	verbais	do	portu-
guês.	Veja	este	exemplo:
“Falamos mal de você”
A	partir	desta	oração,	não	é	possível	precisar	o	tempo	
verbal.	Será	que	eles	falaram	mal	de	você	no	passado	
ou	isso	se	refere	a	uma	ação	presente?	Essa	dificulda-
de	de	compreensão	se	deve	ao	fato	de	que,	no	plano	
formal,	verifica-se	uma	neutralização	entre	o	morfe-
ma	“mos”	que	se	refere	à	primeira	pessoa	do	plural	
do	verbo	falar	no	presente	do	indicativo	e	aquele	que	
marca	a	primeira	pessoa	do	plural	do	mesmo	verbo	
no	pretérito.	A	esta	indefinição	do	morfema	dá-se	o	
nome	de	neutralização.	Não	há	como	definir	com	cla-
reza	o	tempo	verbal,	porque,	nestes	exemplos,	não	há	
distinção	(diferença)	entre	os	morfemas	em	questão.	
Neste	caso,	só	o	contexto	dará	pistas	mais	claras	para	
a	compreensão	do	enunciado:
“Falamos	mal	de	você	ontem	à	tarde.”	(pretérito)
“Falamos	mal	de	você	desde	aquele	dia.”	(presente)
O	mesmo	ocorre	com	outros	tempos/pessoas	na	con-
jugação	verbal.	É	o	caso	da	confusão	que	se	gera	entre	a	
primeira	e	a	terceira	pessoa	em:
•	 CANTAVA	(pretérito	imperfeito)	
eu	cantava	(1ª	pessoa	do	sing.)	/	
							ela-ele-você	cantava	(3ª	pessoa	do	sing.)
•	 VIVERIA	(futuro	do	pretérito)	
eu	viveria	(1ª	pessoa	do	sing.)	/	
							ela-ele-você	viveria	(3ª	pessoa	do	sing.)
Essas	noções	de	comutação,	alomorfia	e	neutralização	
são	importantes	auxiliares	no	processo	de	análise	mor-
fológica	das	palavras.	Por	um	lado,	elas	nos	ajudam	a	
segmentar	os	vocábulos	da	língua	e,	por	outra	parte,	não	
nos	deixam	esquecer	que	as	anomalias	e	irregularidades	
fazem	parte	da	realidade	da	língua.	Por	trás	desses	fenô-
menos,	encontra-se	o	processo	histórico	e	evolutivo	que	
acompanha	todos	os	seres	que	você	conhece.	Com	a	lín-
gua	não	poderia	ser	diferente.	A	língua	não	é	só	escrita.	
A	língua	é,	antes	de	mais	nada,	realizada	na	fala.	E	a	
fala	tem	o	poder	de	modificar	a	escrita,	mesmo	que	isso	
demore	muito	tempo	para	aparecer	nas	gramáticas	e	nos	
dicionários.	Muitas	das	“irregularidades”	que	encontra-
remos	na	formação	das	palavras	de	nossa	língua	escrita	
estão	explicadas	pela	história	evolutiva	desta	língua,	pela	
influência	dos	modos	de	falar	(realizações	linguísticas)	
dos	usuários	desta	língua,	entre	outros	motivos	ligados	
às	modificações	que	o	passar	do	tempo	causa	em	todos	
nós.	Caso	contrário,	como	explicar	aquela	novidade	que	
apareceu	logo	no	início	de	nosso	capítulo?	Lembra-se 
do	bem-vind@	com que os saudamos inicialmente? 
8	Adaptação	do	exercício	proposto	por	Souza	e	Silva	&	Koch	(2009	a,	p.	35)
18 Capítulo 1
Ou o tod@s	com que nos despedimos?	Este	é	apenas	
um	exemplo	de	como	o	marcador	de	gênero	o/a,	às	ve-
zes,	sexista	e	excludente,	pode	encontrar	saídas	criativas	
em	alguns	contextos.	Mas	este	será	um	bom	tema	para	
outra	conversa!
O fato é que 11 entre 10 brasileiros sonham com 
uma língua livre de irregularidades, anomalias e as 
tais exceções à regra, não é verdade?	Mas	basta	enxer-
gar	que	as	línguas	assim	como	tudo	o	que	você	conhece	
têm	uma	história	e	uma	vida	evolutiva	que	não	admi-
tem	nem	a	homogeneidade,	nem	a	invariância	nem	a	
eterna	regularidade.	De	vez	em	quando,	no	decorrer	de	
nossa	disciplina,	trataremos	de	refrescar	nossa	memória	
quanto	a	esta	verdade	básica:	tudo,	até	mesmo	a	língua	
portuguesa,	tem	sua	história	marcada	por	mudanças	e	
passos	evolutivos.	E	isso,	acreditem,	pode	ser	muito	sau-
dável	e	estimulante!	
	
Como	já	diria	nosso	pensador	Raul	Seixas:	prefiro ser essa 
metamorfose ambulante...
referÊncias
LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. Manual 
de morfologia do português. São Paulo: Pontes, 
2001.
LYONS, John. Linguagem e linguística: uma in-
trodução. Tradução: Marilda Averburg & Cla-
risse de Souza. Rio de Janeiro: LTC, 1987.
MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura mor-
fo-sintática do português. 4 ed. São Paulo: Pio-
neira, 1982.
MATTOSO CÂMARA JR. Estrutura da língua por-
tuguesa. 40 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1970.
SOUZA E SILVA, Maria Cecília; KOCH, Ingedo-
re. Linguística aplicada ao português: morfolo-
gia. 17 ed. São Paulo: Cortez, 2009.
SOUZA E SILVA, Maria Cecília; KOCH, Ingedo-
re. Linguística aplicada ao português: sintaxe. 
15 ed. São Paulo: Cortez, 2009.
19Capítulo 2 19Capítulo 2
processo de forMação das 
palavras no portuGuÊs
(parte 1)
Prof. Dirce Jaeger 
Carga Horária | 15 horas 
Que boM revÊ-l@s!!
Neste	novo	capítulo,	continuaremos	nossa	 jornada	pelos	bastidores	 (e	palcos!)	
da	língua	portuguesa.	Mais	especificamente,	ampliaremos	nossos	conhecimentos	
sobre	os	processos	que	se	propõem	a	explicar	a	formação	do	léxico	do	português.	
O	primeiro	capítulo	já	trouxe	muitas	novidades.	Imaginem	quantas	descobertas	
nos	reserva	este	novo	material...
Na	primeira	parte,	 tratamos	sobre	a	origem	dos	estudos	morfossintáticos	bem	
como	aprendemos	alguns	conceitos	fundamentais	dentro	dos	estudos	morfológi-
cos.	Lembram ainda dos morfemas e dos alomorfes? Saberiam diferenciar as formas 
livres das formas presas e das dependentes?	Todas	 essas	 categorias	 continuarão	 a	
ser	usadas.	Elas	agora	 fazem	parte	do	“morfologiquês”	que	estamos	 tratando	de	
aprender...
A	partir	deste	 capítulo,	 entraremos	 em	um	 terreno	mais	 familiar:	 a	 formação	
das	palavrasde	nosso	léxico.	É	bem	certo	que	não	esgotaremos	o	assunto	neste	
capítulo,	mas	começaremos,	entre	outras	coisas,	a	ver	o	“trabalho”	dos	prefixos	
e	sufixos	na	formação	das	palavras	do	português.	Também	traremos,	à	discussão,	
algumas	questões	bastante	caras	aos	linguistas.	Referimo-nos	ao	reconhecimento	
da	constante	tensão	entre	a	forma	e	o	uso	das	palavras	no	cotidiano	dos	usuários	
da	língua.	Sabemos	que	a	aplicação	de	regras	e	princípios	gramaticais	não	pode	
se	dar	à	margem	do	uso	vivo	e	dinâmico	da	língua.	Esse	é	um	tipo	de	discussão	
que,	muito	provavelmente,	estava	fora	da	agenda	dos	estudos	morfossintáticos	
de	décadas	passadas.
Bom,	esperamos	que	se	sintam	novamente	“em	casa”	com	esta	disciplina!
Como	já	foi	dito	na	introdução	do	nosso	curso,	aproveitem	todas	as	oportunida-
des	para	enriquecer	seus	estudos.	Mantenham	sempre	uma	postura	de	estudantes	
(e	não	meros	alunos)	e	uma	permanente	ação	de	pesquisa	(e	não	de	simples	leitu-
ra).	Agreguem	valor	a	tudo	o	que	vocês	fizerem!!
Dessa	forma,	TUDO	fica	mais	interessante...
20 Capítulo 2
1. MorfoloGia lexical e 
 MorfoloGia flexional: 
 teoria e uso 
		
A	diferenciação	 entre	morfema	 lexical	 e	 gramatical	
(flexional)	já	foi	alvo	de	nossas	reflexões	no	capítulo	
anterior.	Naquela	 ocasião,	 aprendemos	que	há	um	
morfema	lexical	que	serve	de	base	para	a	formação	
de	outras	palavras.	Usamos	o	exemplo	do	morfema	
lexical	 “bel”	que,	 acrescido	de	outros	“pedacinhos”	
(morfemas	 gramaticais),	 dava	 forma	 a	 palavras	 do	
tipo:	 BELeza,	 emBELezar,	 BELdade,	 emBELezare-
mos,	 BELas,	 etc.	 Entretanto,	 percebe-se	 que	 todos	
eles	giram	em	torno	do	conceito	de	“belo”,	uma	vez	
que	o	morfema	lexical	BEL	traz	em	si	este	significado.	
Os	morfemas	que	se	somam	ao	morfema	lexical,	den-
tro	do	exemplo	dado,	podem	dar	origem	a	diferen-
tes	vocábulos	da	língua	portuguesa	ou	simplesmente	
revelar	número,	 gênero	 e	outras	 informações	 sobre	
tempo	e	modo	verbais.	Alguns	deles	ajudam	a	formar	
verbos	(embelezar);	outros	fazem	nascer	substantivos	
(beleza);	 ou	 adjetivos	 (bela).	Mas,	 não	 se	 esqueçam	
de	 que	 essas	 categorias	 são	 bastante	 flexíveis.	Nem	
sempre	“belo”	funcionará	como	adjetivo.	Isso	acaba	
confundindo	muito	a	cabeça	de	quem	busca	leis	imu-
táveis	para	o	 funcionamento	da	 língua	portuguesa.	
Olhem	para	estes	exemplos:
Compraste	um	belo	vestido!
O	belo	é	para	ser	admirado.
A	palavra	em	destaque	não	poderá	ser	enquadrada	
numa	mesma	categoria	(adjetivo)	nos	dois	casos.	En-
quanto	funciona	como	adjetivo,	qualidade	do	vesti-
do,	no	primeiro	enunciado,	revela-se	um	substantivo	
na	segunda	oração.	 Isso	significa	que,	em	qualquer	
situação	de	análise	dos	vocábulos,	textos	e	enuncia-
dos	da	língua	portuguesa,	não	poderemos	deixar	de	
observar	estes	três	aspectos:	a	forma,	a	função	e	o	uso.
	
Muitas	vezes	nos	apegamos	demasiadamente	à	forma.	
Por exemplo, aprendemos que inho/inha servem 
para formar o diminutivo dos nomes, não é verda-
de? Mas	olha	o	que	acontece	se	vocês,	suponhamos,	
fizessem	uso	dessa	forma	diminutiva	para	se	referirem	
à	baixa	estatura	de	sua	professora:
Aquela mulherzinha é minha professora de inglês.
Todos	concordamos	que	não	é	um	vocábulo	muito	
feliz	para	se	referir	positivamente	a	uma	mulher.	A	
forma	está	correta,	ou	seja,	a	gramática	me	autoriza	a	
usar	o	morfema	INHA	para	expressar	o	diminutivo	
dos	nomes	femininos,	mas	as	regras	de	uso	(aprendi-
das	no	convívio	social)	tornam	a	palavra	em	questão	
inapropriada.	 Dentro	 de	 nossa	 cultura,	 “mulherzi-
nha”	 carrega	 uma	 carga	 semântica	 (de	 significado)	
um	tanto	quanto	pejorativa:	mulher	de	má	reputação	
ou	desprezível.	Este	é	um	exemplo	de	como	a função 
esperada	pela	correta	aplicação	dos	morfemas	da	lín-
gua	portuguesa,	 às	vezes,	 entra	em	conflito	com	as	
“regras”	do	bom	uso	de	nosso	idioma.	Para	comuni-
car	que	a	professora	tem	uma	estatura	baixa,	o	enun-
ciador	teria	que	considerar	outras	alternativas	dentro	
da	língua:
Aquela senhora baixinha é minha professora de inglês.
Ou	até	mesmo:	
Aquela baixinha é minha professora de inglês.
Mas	por	que	incluir	essas	preocupações	com	o	uso	da	
língua	dentro	dos	estudos	morfológicos?	Porque	hoje	
em	dia	entendemos	que	não	basta	a	apropriação	de	
todas	as	possibilidades	de	derivação	e	decomposição	
dos	 vocábulos	de	nossa	 língua	ou	o	 conhecimento	
de	todos	os	fenômenos	morfológicos	que	acometem	
as	palavras,	se	não	soubermos	quando,	onde	e	como	
utilizá-las	eficientemente	no	cotidiano	de	nossa	práti-
ca	discursiva.	Vão	pensando	sobre	isto...	vocês	terão	
oportunidade	de	opinar	sobre	esse	interessante	tema	
em	nossos	fóruns	de	discussão.
Retomemos,	portanto,	as	reflexões	que	abriram	este	
capítulo.	Com	 a	 finalidade	 de	 auxiliar	 na	 compre-
ensão	 do	 funcionamento	 dos	 chamados	morfemas	
gramaticais	 e	 lexicais,	 os	 estudos	morfológicos	 cos-
tumam	organizar-se	dentro	de	um	duplo	enfoque:	a	
morfologia lexical	 e	 a	morfologia flexional	 (gramatical).	
A	partir	deste	capítulo,	conheceremos	uma	série	de	
classes	e	categorias	morfológicas,	todas	elas	propostas	
por	pesquisadores	dos	 fenômenos	morfossintáticos.	
É	claro	que	nem	todos	os	estudiosos	do	assunto	con-
cordam	 integralmente	 com	 as	 tipologias	 propostas	
pelos	 autores.	 Isso	 acontece	 em	 todas	 as	 áreas	 do	
saber:	diferentes	abordagens	podem	produzir	conclu-
sões	e	princípios	não	coincidentes.	É	por	esse	motivo	
que	vocês	são	permanentemente	chamados	a	refletir	
sobre	o	que	está	estudando	e	estimulados	a	produzi-
rem	novos	conhecimentos	(e	não	só	a	reproduzi-los!).
A	morfologia flexional	 estuda	as	diferentes	 formas	
de	uma	mesma	palavra.	Nesse	caso,	não	entram	as	
21Capítulo 2
situações	em	que	os	morfemas	criam	novas	palavras,	
mas	apenas	variações	de	caráter	gramatical,	como	é	o	
caso	das	marcas	de	número,	gênero	ou	modos,	tem-
pos	e	pessoas	verbais.	Observe	o	exemplo:
Antigamente estudávamos muitas horas.
A	morfologia	flexional	analisa	as	marcas	de	plural	
dos	nomes,	dos	adjetivos	e	dos	verbos	não	só	em	
relação	às	palavras	em	si	mas	também	olhando	o	
conjunto	da	frase.	Há	motivos	para	que	o	adjetivo	
“muitas”	apareça	no	plural:	sua	concordância	com	
o	substantivo	“horas”	que	está	no	plural.	Da	mes-
ma	forma,	a	marca	de	gênero	feminino	do	“muitas”	
se	dá	em	função	da	concordância	com	o	“horas”.	
Se	nossa	frase	fosse,	por	exemplo:	“Antigamente	es-
tudávamos	muito	tempo”,	a	concordância	exigiria	
a	presença	da	 forma	masculina	singular	“muito”,	
a	 fim	de	produzir	 a	 concordância	 adjetivo-nome:	
“muito	tempo”.	
Do	mesmo	modo,	a	morfologia	flexional	analisará	
os	 morfemas	 flexionais	 do	 verbo	 “estudávamos”	
não	 só	em	relação	às	marcas	de	pessoa,	número,	
modo	e	tempo	verbal	mas	também	no	que	se	refere	
ao	contexto	da	frase.	Afinal,	foi	a	presença	do	ad-
vérbio	de	tempo	“antigamente”	que	proporcionou	
o	surgimento	do	pretérito	 imperfeito	do	 indicati-
vo.	Outro	tempo	verbal,	como	você	pode	verificar	
nas	simulações	abaixo,	não	combinaria	muito:
antigamente	estudamos...
antigamente	estudaremos...
antigamente	estudássemos...
Talvez	pareça	estranho	o	fato	de	a	morfologia	dita	
flexional	olhar	para	além	da	palavra	em	si,	buscan-
do	 relacionar	as	marcas	de	plural,	de	gênero,	 etc	
às	exigências	de	concordância	que	regem	os	sintag-
mas	e	as	frases	como	um	todo.	Mas	esta	é	a	perspec-
tiva	em	que	trabalha	a	linguística	moderna.	Busca	
relacionar	o	que	acontece	no	particular	da	palavra	
com	o	universo	do	contexto	em	que	este	vocábulo	
está	inserido	e	onde	ele	adquire	função	e	sentido.	
Lembre-se	da	permanente	relação	 forma-função-uso	
da	qual	não	devemos	nos	ausentar	durante	nossos	
estudos	morfossintáticos.
Mas,	e	a	morfologia lexical?	Qual	será	seu	enfoque?	
Esta	olha	mais	de	perto	o	processo	de	formação	(de-
rivação)	das	palavras.	Analisa	as	modificações	de	sen-
tido	que	o	processo	de	derivação	causa.	Por	exemplo,	
as	 palavras	 “jogo”,	 “jogar”	 e	 “jogador”.	 Ainda	 que	
tenham	em	comum	o	mesmo	morfema	lexical	JOG,	
são	palavras	distintas.	Além	do	mais,	mesmo	que	se	
mostrem	idênticasem	sua	forma,	podem	exercer	dife-
rentes	funções	e	sentidos.	Observe	os	exemplos:
O	jogo	será	na	quadra.	(substantivo)
Não	jogo	neste	time.	(verbo)
Queixava-se	do	marido	jogador	e	beberrão.	(adjetivo)
Aos	quinze	minutos	de	partida,	já	tínhamos	um	
jogador	expulso.	(substantivo)
Portanto,	também	a	morfologia	lexical	não	deixa	de	
considerar	o	contexto	em	que	o	vocábulo	se	realiza.	
Já	que	lhe	interessa	as	mudanças	de	função	e	signifi-
cado	que	as	palavras	sofrem	durante	o	processo	de	
derivação,	é	 imprescindível	 identificar	os	efeitos	do	
conjunto	do	enunciado.	Observem	outros	exemplos	
de	 como	 se	 encontram	 comprometidos	 alguns	 sig-
nificados	de	palavras	que,	aparentemente,	deveriam	
compartilhar	o	mesmo	sentido.	Nos	exemplos	abai-
xo,	também	não	encontramos	diferenças	na	forma:
a)	 A	professora	lhes	pediu	uma	redação	de	pelo	me-
nos	20	linhas.
b)	 O	pai	de	Clarinha	deixou	seu	trabalho	na	reda-
ção	do	Folha	da	Manhã.
c)	 Os	corredores	cruzaram	a	linha	de	chegada	na	
maior	euforia.
d)	 Os	meninos	fizeram	a	maior	algazarra	nos	corre-
dores	do	hotel.
Nota-se	que,	apesar	da	identidade	formal,	as	pala-
vras	grifadas	em	a/b;	c/d,	não	 têm	o	mesmo	sig-
nificado.	Isso	não	quer	dizer	que,	em	sua	origem,	
não	se	encontre	uma	raiz	comum.	No	caso	de	“re-
dação”,	por	exemplo,	este	parentesco	fica	bem	cla-
ro.	Tanto	a	redação	escolar	quanto	a	redação	(cor-
po	de	 redatores	 ou	 lugar	para	 redigir	um	 jornal)	
referem-se	ao	ato	de	escrever.
O	 que	 queremos	 enfatizar	 ao	 iniciarmos	 nosso	 es-
tudo	dos	processos	de	derivação	é	que	tanto	a	mor-
fologia	 flexional	 a	 partir	 da	 análise	 dos	 morfemas	
gramaticais	 quanto	 a	morfologia	 lexical	 a	 partir	 da	
consideração	dos	sentidos	não	deixam	de	considerar	
o	que	ocorre	na	totalidade	do	enunciado,	em	uma	
permanente	análise	da	forma,	da	função	e	de	sua	re-
lação	com	seu	uso	dentro	da	comunidade	linguística	
em	que	o	enunciador	está	inserido.
22 Capítulo 2
Os	dois	enfoques	tratam	de	conhecer	como	ocorre	
a	composição	das	palavras	de	nossa	língua.	Os	pró-
ximos	 tópicos	 contemplarão	 algumas	 categorias	
morfêmicas	apresentadas	nas	gramáticas.	Percebe-
remos	que	umas,	mais	do	que	outras,	colaboram	
para	 a	 criação	 de	 novos	 vocábulos	 para	 a	 língua	
portuguesa.	Por	outro	lado,	todas	elas	deverão	ter	
sua	existência	e	seu	funcionamento	analisados	no	
contexto	de	seus	enunciados.
1.1 classificação dos MorfeMas
Aproveitando	o	exemplo	com	que	abrimos	o	primei-
ro	capítulo,	Morfemas	são	as	unidades	que	aparecem	
junto	ao	morfema	“bel”,	às	vezes	marcando	a	diferen-
ça	singular/plural;	masculino/feminino;	outras	vezes,	
promovendo	o	surgimento	de	novas	palavras.	Observe:
belO	–	belA	–	belOS	–	EMbelEZAR	
belEZA	-	belEZURA
	
Algumas	 gramáticas	 mencionam	 quatro	 tipos	 de	
morfemas:	classificatórios, flexionais, relacionais e deriva-
cionais.	Trataremos	de	explicá-los:
1.1.1 Morfemas classificatórios
São	as	vogais	temáticas,	cuja	função	é	a	de	enquadrar	
os	vocábulos	em	classes	de	nomes	ou	verbos.	Para	os	
nomes,	temos	a	–	e	–	o,	ou	seja,	em	nossa	língua,	os	
substantivos	e	adjetivos	tendem	a	terminar	em	uma	
destas	três	vogais.	Observem	os	exemplos:
neve	–	telhado	–	cidade	–	panela	–	urso	–	gata
floresta	–	grande	–	bela	–	livre
Deve	 estar	 se	perguntando	 sobre	outras	 termina-
ções	para	os	adjetivos	e	substantivos	que	vocês	co-
nhecem:	feroz,	papel,	álbum,	fiel,	etc.
Esses	 casos	 são	 tratados	 como	 formas atemáticas 
(sem	a	vogal	temática).	
É	o	que	 acontece	 com	os	nomes	 terminados	 em	
consoante,	como	os	recém	citados.
Mas	os	verbos	também	têm	suas	vogais	temáticas.	
Recordemos	os	exemplos	trabalhados	no	primeiro	
capítulo:
jogaríamos
beberíamos
pediríamos
Quando	 decompomos	 estes	 verbos	 em	 morfemas,	
surgem,	entre	outras	coisas,	as	vogais	temáticas	a	-		e		-	
i,	relativas	aos	verbos	da	1ª	,	2ª	e	3ª	conjugações:
jog	- a	–	ríamos	(1ª	conjugação	–	AR)
beb	–	e	–	ríamos	(2ª	conjugação	–	ER)
ped	-	i	–	ríamos	(3ª	conjugação	–	IR)
É	a	vogal	temática	que	aparece	“colada”	ao	morfema	
lexical	e	recebe	a	anexação	dos	morfemas	flexionais.	
Mas	atenção:	nem	sempre	a	vogal	temática	estará	vi-
sível	no	verbo.
1.1.2 Morfemas flexionais
São	aqueles	que	se	somam	aos	morfemas	lexicais	de	
modo	que	estes	recebam	as	características	gramaticais	
que	 sua	 classe	 permite	 (nos	 substantivos:	 número,	
gênero;	nos	verbos:	modo,tempo,	número	e	pessoa).	
São	cinco	os	morfemas	flexionais	em	português:	adi-
tivos, subtrativos, alternativos, morfema zero e morfema 
latente.	Nomes	um	tanto	quanto	estranhos,	mas	que	
trataremos	de	tornar	mais	familiares	a	partir	das	ex-
plicações	e	exemplos	que	seguem.
Aditivos:	como	o	nome	já	sugere,	resultam	do	“acrés-
cimo”	de	um	ou	mais	morfemas	ao	morfema	lexical.	
Considerem	estes	exemplos:
a)	 rapaz	-	rapazes;	instrutor	–	instrutores
b)	 professor	–	professora;	vendedor	-	vendedora
Nos	exemplos	trazidos	em	“a”,	vemos	que	os	plurais	
de	 rapaz	 e	 instrutor	 são	 obtidos	 mediante	 a	 adição	
(acréscimo)	 do	 morfema	 –es.	 De	 modo	 semelhan-
te,	obtivemos	a	formação	do	feminino	de	professor	e	
vendedor.	Nesses	casos,	foi	a	adição	do	morfema	–a,	
que	permitiu	a	 formação	dos	 femininos	professora	 e	
vendedora.	Isso	explica	por	que	esse	tipo	de	morfema	
flexional	se	chama	aditivo.
Nos	verbos,	é	comum	que	alguns	morfemas	aditivos	
sejam	cumulativos.	O	nome	se	deve	ao	fato	de	que	es-
ses	morfemas	“acumulam”	mais	de	uma	noção	gra-
matical	em	um	único	morfema.	Veja	no	exemplo:
amáramos	=	amá	–	ra		-	mos
bebêramos	=	bebê	-		ra		-	mos
partíramos	=	partí-		ra		-	mos
O	morfema	–ra	acumula	a	noção	de	modo	(indicati-
vo)	e	de	tempo	(mais-que-perfeito),	enquanto	o	mor-
23Capítulo 2
fema	–mos	acumula	as	noções	de	número	(plural)	e	
pessoa	(primeira	do	plural).
Subtrativos:	esses	morfemas	flexionais,	como	o	nome	
já	 sugere,	 agem	pela	 “subtração”	 de	 um	 segmento.	
Acontece	aqui	um	movimento	contrário	ao	anterior,	
em	que	se	processava	uma	adição	(acréscimo).	Vejam	
como	se	constrói	o	feminino	de	“órfão”:
órfão	(masc.)										órfã	(fem.)
A	noção	de	feminino,	em	vez	de	surgir	da	adição	de	
um	morfema,	surgiu	a	partir	da	subtração	deste.
Alternativos:	neste	caso,	não	trataremos	exatamente	
de	morfemas,	mas	de	alternâncias	no	som	(fonemas).	
Todos	já	nos	apercebemos	que,	quando	passamos	a	
palavra	“povo”	ao	plural,	ela	não	só	recebe	a	adição	
do	–s	como	também	sofre	uma	alteração	no	som	do	
“o”.	Fale	em	voz	alta	essas	duas	palavras:	“povo	-	po-
vos”.	Perceberam?	O	/o/	de	algumas	palavras	mascu-
linas	é	pronunciado	de	modo	mais	aberto	no	plural	
(e	no	feminino).	Observem	outros	exemplos:
poço	-	poços
formoso	-	formosos	-	formosa
Alguns	 estudiosos	 consideram	 a	 alternância	 fônica	
nestas	palavras	como	um	traço	secundário,	porque,	
afinal,	as	flexões	de	gênero	e	número	encontram-se	
demarcadas	por	morfemas	específicos	(o	–	a	–	s).	Mas	
o	mesmo	não	se	aplica	ao	par:
avô	-	avó
	
Neste	caso,	não	há	outro	traço	distintivo	que	faça	a	di-
ferença	entre	os	gêneros	masculino	e	feminino.	Não	
há	um	sufixo	marcadamente	feminino	para	caracte-
rizar	o	feminino	de	“avô”.	Se	seguisse	a	lógica,	tería-
mos	“avá”	como	feminino	de	“avô”.	Mas	não	é	o	que	
acontece.	A	marca	de	gênero	é	indicada	unicamente	
pela	alternância	de	som	ó/ô.	Aqui	se	considera	a	al-
ternância	como	traço	primário	e	distintivo.
Morfema-zero (φ):	resulta	da	ausência	de	determina-
do	morfema.	 Foi	 o	 que	 aconteceu	 com	 professor/
professora.	Quando	pensamos	no	acréscimo	do	“a”,	
que	acabou	formando	a	palavra	“professora”,	falou-se	
de	adição.	Mas	agora	estamos	fazendo	um	movimen-
to	contrário.	Como	explicar	a	marca	de	masculino	
que	traz	o	vocábulo	“professor’?	Diz-se	que	a	noção	de	
masculino	desta	palavra	está	expressa	pela	ausência	
do	“a”	de	“professora”.	Essa	ausência	é	representada	
pelo	símbolo	φ	que	significa	“conjunto	vazio”.	
Vejam	como	está	representado:
professor	φ
professora
Nestes	casos,	diz-se	que	há	oposição,	ou	seja,	um	morfe-
ma	lexical	passa	a	significar	em	virtude	da	ausência	do	
morfema	que	expressa	a	significaçãooposta.	Por	esse	
motivo,	pode-se	dizer	que	“professor”	é	masculino,	por-
que	está	ausente	o	morfema	que	marca	o	feminino(a).	
De	modo	semelhante,	diz-se	que	“casa”	está	no	singular,	
porque	está	ausente	o	morfema	que	marca	o	plural	(s)	
presente	em	“casas”,	o	que	estaria	assim	representado:
casa	φ
casas
Só	 se	 fala	 em	 morfema-zero	 (representado	 por	 φ),	
quando	se	reconhece	que,	em	outras	palavras,	para	
aquela	posição,	existe	um	determinado	morfema	que	
marca	o	número	ou	o	gênero.
Morfema latente:	nesse	 caso,	 também	nos	 referire-
mos	à	ausência	de	marcas	de	número	e	gênero,	mas	
com	uma	importante	diferença.	Para	essas	palavras,	
não	 existem	morfemas	próprios	 a	 fim	de	 expressar	
essas	noções	gramaticais.	É	o	caso	de	nomes	como:
lápis	(sem	distinção	singular/plural)
artista	(sem	distinção	masculino/feminino)
	
Referimo-nos	à	existência	de	um	morfema-latente,	
porque	as	marcas	de	gênero	e	número	dessas	pala-
vras	“existem”,	mas	só	no	contexto	do	enunciado.	
Quer	ver?
O	lápis	azul.	(sing.)	/	Os	lápis	azuis.	(plural)
A	artista	se	emocionou.	(fem.)	/	O	artista	se	emocio-
nou.	(masc.)
Só	conseguimos	distinguir	as	“marcas”	de	número	
e	gênero	através	dos	artigos	o/os	(lápis)	e	também	
a/o	(artista).
atividade |	Coloquemos a mão na massa... A	
fim	de	praticar	os	tipos	de	morfemas	gramati-
cais	de	que	 tratamos	há	pouco,	 classifiquem1		
os	morfemas	 flexionais	 encontrados	em	cada	
1	Adaptação	do	exercício	proposto	por	Souza	e	Silva	&	Koch	(2009	a,	p.	35)
24 Capítulo 2
par	de	vocábulos:
a.	 freguês	–	freguesa
b.	 bisavô	–	bisavó
c.	 o	pianista	–	a	pianista
d.	 cirurgião	–	cirurgiã
e.	 sogro	–	sogra
f.	 mão	–	mãos
g.	 o	pires	–	os	pires
h.	 compraremos	-	venderemos
1.2 MorfeMas relacionais
Não	há	muito	o	que	dizer	agora	sobre	esses	mor-
femas.	São	morfemas	com	atuação	mais	marcada	
dentro	 da	 sintaxe.	 Trata-se,	 entre	 outras	 formas,	
dos	pronomes	relativos,	das	preposições	e	conjun-
ções.	Seu	papel	é	o	de	ordenar	e	estabelecer	a	rela-
ção	entre	as	palavras	dentro	de	um	enunciado.	Não	
são	 o	 tipo	 de	morfema	 que	 servirá	 de	 base	 para	
novas	 palavras,	 como	 os	 lexicais,	 nem	 tampouco	
são	morfemas	que	se	juntam	com	os	lexicais	para	
a	 formação	 de	 novos	 vocábulos	 da	 língua,	 como	
o	 fazem	os	 chamados	 derivacionais.	Terão	maior	
destaque,	repetimos,	dentro	das	futuras	análises	e	
estudos	sintáticos.
1.3 MorfeMas derivacionais
Ao	contrário	do	que	ocorre	com	os	morfemas	fle-
xionais,	os	derivacionais	não	se	encontram	ligados	
a	modelos	de	funcionamento	tão	regulados.	Entra-
remos	em	um	terreno	da	morfologia	dos	mais	inte-
ressantes:	o	das	formas	de	derivação	das	palavras	do	
português.	Não	 esgotaremos	o	 assunto	neste	 capí-
tulo,	mas	 teremos	a	oportunidade	de	rever	alguns	
conceitos	já	vivenciados	em	seus	anos	escolares.
	
A	partir	da	aplicação	dos	morfemas	flexionais,	con-
seguimos,	segundo	vimos,	alterar	o	número	e	o	gê-
nero	dos	nomes	e	verbos	bem	como	o	modo,	o	tem-
po	e	a	pessoa	destes	últimos.	Isso	se	dá	mediante	a	
aplicação	dos	morfemas	flexionais	correspondentes	
ou,	até	mesmo,	sua	supressão	ou	ausência	(se	neces-
sário,	rever	os	tipos	de	morfemas	lexicais).	Percebe-
se	que	as	modificações	que	os	morfemas	flexionais	
conseguem	promover	são,	até	certo	ponto,	bastante	
limitadas.	Não	chegam	a	criar	novas	palavras.
A	criação	de	novas	palavras	é	atribuição	dos	morfe-
mas	derivacionais.	É	disso	que	trata,	mais	de	perto,	
a	chamada	morfologia	lexical.	Através	da	ação	dos	
morfemas	 derivacionais,	 vemos	 o	 surgimento	 de	
“famílias”	derivadas	de	um	único	morfema	lexical.	
Vejamos	o	exemplo	de	“LIVR”	(morfema	lexical).	
Observe	o	que	é	possível	formar	a	partir	da	adição	
de	diferentes	morfemas	derivacionais:
livro	–	livraria	–	livreiro	–	livrinho
livresco	–	livreco	–	etc
Uma	consulta	ao	dicionário	ajudará	a	explicar	por	
que	se	diz	que	os	morfemas	derivacionais	têm	essa	
capacidade	 de	 gerar	 novos	 vocábulos	 para	 nosso	
idioma.	 A	 título	 de	 ilustração,	 acompanhem	 al-
guns	verbetes2		do	Dicionário Houaiss	para	algumas	
das	palavras	formadas	sobre	a	base	do	radical	“livr”:
Livraria (s.f.):	estabelecimento	onde	se	vendem	livros.
Livreiro (adj., s.m.):	1.	Que(m)	tem	ou	vende	livros;	
2.	(adj.)	relativo	à	produção	de	livros.
Livreco (s.m.):	 1.	 pequeno	 livro;	 2.	 (pej.)	 livro	 sem	
importância.
Este	breve	exemplo	demonstra	como	a	incorpora-
ção	de	diferentes	morfemas	derivacionais	pode	al-
terar	o	significado	e	a	classe	gramatical	das	palavras	
formadas	a	partir	da	base	comum	“livr”	(morfema	
lexical).	Esta	é	a	principal	característica	da	ação	dos	
morfemas	derivacionais.	
É	 importante	que	vocês	 saibam	que	algumas	gra-
máticas,	 inclusive	vários	livros	didáticos,	colocam	
morfemas	 diminutivos	 e	 aumentativos	 entre	 os	
morfemas	 flexionais.	 Nestes	 capítulos,	 optamos	
por	 deixá-los	 entre	 os	 morfemas	 derivacionais	
por	 entendermos	 que	 eles	 fornecem	muito	mais	
do	que	 “alterações	no	 tamanho”	dos	 seres.	Acre-
ditamos	 que	 a	 carga	 semântica	 deles	 extrapola	 a	
classificação	gramatical.	É	o	que	o	exemplo	acima	
nos	ilustra	com	muita	propriedade.	Revejam	o	sig-
nificado	de	 livreco	e	comparem-no	ao	sentido	que	
damos	a	livrinho:
Livreco (s.m.):	 1.	 pequeno	 livro;	 2.	 (pej.)	 livro	 sem	
importância.
Livrinho (s.m.):	livro	pequeno
	
2	Verbete:	neste	caso,	vem	a	ser	o	conjunto	de	notas	explicativas	sobre	uma	palavra	listada	em	um	dicionário	ou	enciclopédia	(Houaiss)
25Capítulo 2
Muito	embora	“eco”	e	“inho”	sejam	considerados	
morfemas	 responsáveis	 pela	 atribuição	 de	 grau	
diminutivo,	 não	 veiculam	 o	 mesmo	 sentido.	 O	
diminutivo	 “eco”,	 considerando	 o	 exemplo,	 traz	
uma	carga	pejorativa	(pej.)	ausente	em	sua	variante	
“inho”.	Comparem	os	enunciados:
a)	 Comprei	este	livrinho	na	Bienal	deste	ano.	(li-
vro	pequeno)
b)	 Comprei	este	livreco	na	Bienal	deste	ano.	(li-
vro	de	qualidade	duvidosa)
c)	 Quem	escreveu	este	 jornalzinho?	(jornal	peque-
no)
d)	 Quem	escreveu	este	jornaleco?	(jornal	de	qua-
lidade	duvidosa)
Foi	o	uso	no	cotidiano	vivo	da	 língua	que	confe-
riu	diferentes	valores	para	“eco”	e	“inho”.	Assim	
como	foi	o	uso	que	“decretou”	que	o	“inha”,	em	
“mulherzinha”,	também	portaria	uma	carga	pejo-
rativa.	Por	esses	motivos,	os	morfemas	marcadores	
de	grau	aumentativo	e	diminutivo	farão	parte,	nes-
te	material,	dos	morfemas	derivacionais.
2. processos de derivação das 
 palavras do portuGuÊs (1ª parte)
Considerando	 tudo	 o	 que	 já	 foi	 dito	 aqui	 sobre	
morfemas	flexionais	e	lexicais,	trataremos	de	reu-
nir	exemplos	que	mostrem	as	diversas	possibilida-
des	de	combinações	morfológicas	na	formação	das	
palavras.	 Para	 isso,	 partiremos	 dos	modelos	 pro-
postos	por	Souza	e	Silva	&	Koch	(2009,	p.38):
No	 português,	 encontramos	 vocábulos	 constituí-
dos	a	partir	da	soma	dos	seguintes	“pedacinhos”:
3	O	asterístico	(*)	sinaliza	aqueles	itens	que	podem	aparecer	ou	não	naquela	palavra.	
4	O	elemento	de	ligação	pode	ser	uma	vogal	ou	consoante.	Estes	elementos	não	têm	valor	de	morfema,	mas	realizam	a	união	do	morfema	lexical	com	
os	respectivos	morfemas	derivacionais.	Sua	função	é	a	de	facilitar	certas	composições.	É	o	caso	do	chá	(morfema	lexical)	+	eira	(morfema	derivacional)=	
chaleira.	Esta	consoante	“l”	é	apenas	um	termo	de	ligação.	O	mesmo	papel	desempenha	o	“o”	de	gasoduto.
1. Apenas um morfema lexical (formas livres)
Ex.: mar, sol, feliz, azul3.
Ex.: alun-a-s; menin-o-; part-í-sse-mos; not-a-ram.
2. Morfema lexical vogal temática (*) morfemas flexionais
Como os modelos mais detalhadamente apresentados em 3.1; 3.2 e 3.3
 Ex.: in-feliz; des-em-palh-a-r; in-apt-o-s.
3. Morfema lexical morfemas derivacionais morfemas flexionais (*)
3.1. Prefixo(s) morfema lexical morfemas flexionais (*)vogal temática (*)
 Ex.: mur-alh-a; cant-eir-o-s; habitu-al; levanta-ment-o; menina-zinh-a-s.
3.2 Morfema lexical sufixo morfemas flexionais (*)vogal temática (*)
 Ex.: in-feliz-mente; re-prov-a-ção; des-content-a-ment-o-s; para-qued-ista-s.
3.3 Prefixo(s)
morfema 
lexical
sufixo(s)
elementode 
ligação4 (*)
vogal 
temática (*)
morfemas 
flexionais (*)
 É o caso das palavras compostas. Ex.: couv-e_flor; guard-a _ chuv-a; terç-a-s _feir-a-s.
4. Morfema 
lexical
Vogal
Temática (*)
morfema 
lexical
morfemas 
flexionais (*)
vogal 
temática
morfemas 
flexionais (*)
26 Capítulo 2
À	primeira	 vista,	 pode	 parecer	 complicado.	Mas	 o	
que	vemos	acima	nada	mais	é	do	que	um	resumo	das	
estruturas	das	palavras	do	português.	Pensemos	em	
um	vocábulo	qualquer:	
FORNALHAS
Como	você	dividiria	 esta	palavra?	Consegue	distin-
guir	o	morfema	lexical	(radical)?	Identifica	a	presen-
ça	de	algum	morfema	derivacional	ou	flexional?	Ou	
será	esta	palavra	constituída	de	um	único	morfema	
lexical,	como	uma	forma	livre	única?
Analisá-la-emos	conjuntamente:	
FORN-ALH-A-S
FORN	=	morfema	 lexical	 (base	 comum	de:	 forno,	
fornada,..)
ALH=	morfema	derivacional	(sufixo)
A=	vogal	temática
S=	morfema	flexional	de	número
	
Considerando a classificação apresentada no início 
deste subitem, com qual das estruturas apresenta-
das se parece a constituição da palavra “fornalhas”?
morfema lexical + sufixo + vogal temática 
+ morfema flexional
Comparem-na	 às	 demais	 estruturas	 apresentadas	 e	
identifiquem	 o	 número	 correspondente.	 Concor-
dam	que	o	modelo	3.2 é	o	que	mais	se	aproxima	des-
ta	composição?
	
Agora,	 a	 título	 de	 treinamento,	 realizem	o	mesmo	
processo	com	as	palavras	abaixo.	Primeiro,	decompo-
nham	as	palavras.	Em	seguida,	façam	a	classificação	
morfológica	 de	 suas	 partes	 e,	 por	 último,	 identifi-
quem	o	número	correspondente	(segundo	a	proposta	
anteriormente	apresentada):
a.	 Inconscientemente
b.	 conta-gotas
c.	 parachoque
d.	 suburbano	
e.	 gás	
f.	 gasodutos	
2.1 forMas siMples e coMpostas
A	partir	da	observação	das	estruturas	dos	vocábulos	
do	português,	podemos	tirar	algumas	conclusões:
• os vocábulos representados pelas estruturas 1 e 
2 são formas simples e primitivas;
• as palavras formadas a partir da estrutura 3 (3.1; 
3.2; 3.3) são vocábulos simples, mas derivados;
• a situação apresentada na estrutura 4 refere-se 
às palavras compostas de nossa língua, uma vez 
que contêm mais de um morfema lexical.
Portanto,	as	palavras	de	nossa	língua	podem	ser	sim-
ples	ou	compostas.	Tudo	depende	da	existência	de	um	
ou	mais	morfemas	lexicais.	As	formas	simples	podem	
ser	primitivas	ou	derivadas.	As	primitivas	não	se	origi-
nam	de	outras	e	servem	de	base	(radical)	para	a	for-
mação	das	derivadas.
A	maior	parte	das	novas	palavras	que	se	formam	na	
língua	provém	de	derivação	ou	então	de	 composição.	
Na	derivação,	os	morfemas	lexicais	recebem	o	acrés-
cimo	de	afixos	(prefixos,	sufixos	ou	ambos	ao	mesmo	
tempo).	
Mas atenção:	 nem	 sempre	 é	 fácil	 distinguir	uma	
palavra	primitiva	de	uma	derivada.	Muitas	vezes,	o	
morfema	lexical	já	se	tornou	“irreconhecível”	den-
tro	do	português	moderno.	É	o	caso,	por	exemplo,	
das	 palavras	 que	 apresentam	 morfemas	 lexicais	
muito	próximos	de	sua	forma	latina.	Nesses	casos,	
alguns	 estudiosos	 recomendam	 considerar	 estas	
palavras	 como	primitivas	 e	 não	 derivadas	 de	 seu	
radical	latino.	Exemplifiquemos:
•	 demitir	 =	de	+	mitir	 (do	 latim	de	+	mittere:		
deixar	partir,	enviar)
•	 conduzir	=	com	+	duzir	(do	latim	cum	+	ducere:	
conduzir)
São	casos	em	que	o	morfema	lexical	já	não	é	facil-
mente	 reconhecido,	 como,	por	exemplo,	o	“mit”	
(radical	 aportuguesado	 de	 “mitt”	 do	 latim),	 pre-
sente	em	“demitir”.	Em	função	desta	“estranheza”,	
um	falante	do	português	do	séc.	XXI	terá	dificul-
dades	de	reconhecer	este	grupo	de	palavras	como	
derivadas	do	mesmo	morfema	lexical	latino	“mit”,	
que,	 em	 sua	 origem	 latina,	 transmite	 (olha	 aí	 o	
trans	+	mittere!!)	a	ideia	de	enviar,	lançar,	projetar...	
FORN 
morfema 
lexical
ALH
Morfema 
deriv. 
A
vogal 
temática
S
morfema 
flexional
27Capítulo 2
Observe:
•	 Remeter	(remittere:	lançar	para	trás)
•	 Prometer	(promittere:	lançar	para	diante;	com-
prometer-se	com	algo	no	futuro)
•	 Demitir	(demittere:	deixar	partir,	enviar)
•	 Permitir	 (permittere:	 deixar	 ir;	 enviar	 através	
de;	confiar)
Nada	impede	que	vocês	se	decidam	por	estudar,	a	
fundo,	a	origem	latina	(ou	grega)	das	palavras	do	
português	 e	 reconstituam	 essas	 famílias	 de	 pala-
vras	 em	 seu	 estágio	mais	 primitivo.	 Aqueles	 que	
se	dedicam	a	essas	pesquisas	trabalham	dentro	dos	
chamados	estudos	diacrônicos5			da	língua	portu-
guesa.	São	estudiosos	que	buscam	a	etimologia6		dos	
vocábulos	de	nossa	língua.	
	
Mas,	para	este	momento,	 é	 suficiente	que	aceite-
mos	o	fato	de	que	alguns	radicais	(morfemas	lexi-
cais)	da	 língua	portuguesa	 já	 tenham	 sua	origem	
“perdida	no	tempo”	e	que,	por	isso,	certas	palavras	
apareçam	classificadas	como	primitivas	em	vez	de	
derivadas.
2.2 os Quatro processos de derivação
No	português,	reconhecemos	quatro	processos	de	
derivação8	:	PREFIXAL,	SUFIXAL,	PREFIXAL	E	
SUFIXAL,	 PARASSINTÉTICA.	 Estes	 processos	
não	se	aplicam	às	palavras	compostas.	São	fenôme-
nos	que	ampliam	as	palavras	primitivas.
Vejamos	separadamente	cada	um	deles:
Derivação prefixal
	
Aqui	o	que	ocorre	é	que	prefixos	(tipos	de	morfe-
mas	derivacionais	colocados	ANTES	do	morfema	
lexical)	ajudam	a	formar	novas	palavras.	Observem	
os	exemplos	a	seguir.	Neles,	destacamos,	em	letra	
maiúscula,	os	prefixos	e	 sublinhamos	o	morfema	
lexical:
ilegal	=	Ilegal
rever	=	Rever
infeliz	=	INfeliz
Derivação sufixal
Neste	caso,	o	morfema	lexical	recebe	sufixos	(tipos	
de	morfemas	derivacionais	colocados	DEPOIS	do	
morfema	lexical).	Novamente,	apresentamos	exem-
plos.	Agora	são	os	sufixos	que	aparecem	evidencia-
dos	 em	 letra	maiúscula.	Os	morfemas	 lexicais	 se	
apresentam	sublinhados:
saboroso	=	saborOSO
vozinha	=	vozINHA
grandalhão	=	grandALHÃO
É	 interessante	 observar	 que,	 às	 vezes,	 as	 palavras	
que	recebem	os	sufixos	mudam	de	classe	gramati-
cal.	É	o	caso	do	substantivo	que	vira	adjetivo;	do	
verbo	que	passa	a	substantivo	ou	adjetivo,	ou	mes-
mo,	um	adjetivo	que	se	transforma	em	substantivo	
ao	 receber	o	 sufixo.	Os	exemplos	nos	ajudarão	a	
compreender	este	fenômeno.	A	seguir,	seguem	al-
guns	casos	em	que	se	verifica	a	mudança	de	classe	
e	outros	em	que	isso	não	ocorre:
SAIBA MAIS!
Para saber mais sobre
 morfemas lexicais 
latinos e gregos no portu
guês...
Se vocês nunca tivera
m a oportunidade 
de ver a quantidade d
e radicais latinos e 
gregos sobre os quais s
e constroem muitas 
das palavras do nosso 
léxico, vale a pena 
conferir algumas “listas
” pra lá de curiosas. 
Uma boa amostra se enc
ontra na gramática
7 
de Nicola e Infante !!
BÉLIco CRUCIficado 
 FERRugem 
ESTRATOsfera TÉRMico
 CRIMINOlogia 
VITRIficar etc
5	Estudos	voltados	à	compreensão	do	processo	evolutivo	e	das	mudanças	sofridas	por	uma	língua	ao	longo	do	tempo.
6	Estudo	da	origem	e	da	evolução	das	palavras;	2.	Ramo	da	Linguística	que	se	dedica	a	esse	estudo.	(Dicionário	Houaiss)
7	NICOLA,	José	de	&	INFANTE,	Ulisses.	Gramática	contemporânea	da	língua	portuguesa.	15	ed.	São	Paulo:	Scipione,	1998,	p.	90-97.d
8	Vocês	poderão	encontrar	uma	relação	dos	principais	prefixos	e	sufixos	gregos	e	latinos	usados	na	formação	de	nosso	léxico	em	diferentes	gramá-
ticas	e	também	em	alguns	endereços	da	Internet.	Uma	dessas	listas,	bastante	completa,	vocês	também	encontrarão	na	recém-citada	gramática	de	
NICOLA	&	INFANTE,	entre	as	páginas	79-89.	Confira!
28 Capítulo 2
Com mudança de classe
triste	(adjetivo)		+		eza			=	tristeza		(substantivo)
útil	(adjetivo)		+		idade		=		utilidade		(substantivo)
ferro	(substantivo)		+		eo		=	férreo	(adjetivo)
rosa	(substantivo)		+		eo		=	róseo		(adjetivo)
poluir	(verbo)		+		cão	=		poluição		(substantivo)
durar	(verbo)		+		vel		=	durável	(adjetivo)
Sem mudança de classe
papel	(substantivo)		+		aria		=	papelaria	(substantivo)
boi	(substantivo)		+	ada		=		boiada	(substantivo)
positivo	(adjetivo)		+		ista		=		positivista	(adjetivo)
escrever	(verbo)		+	inhar		=	escrevinhar	(verbo)
morder	(verbo)	+	iscar		=	mordiscar	(verbo)
Derivação prefixal e sufixal

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