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70 - As inter-relações turismo meio-ambiente e cultura

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As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 1
Eliane Cristine Raab Pires
As Inter-relações Turismo,
Meio Ambiente
e Cultura
A
SÉRIE
7070
Eliane Cristine Raab Pires
EDIÇÃO DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA
As Inter-relações Turismo,
Meio Ambiente
e Cultura
A
Eliane Cristine Raab Pires4
Título: As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura
Autor: Eliane Cristine Raab Pires
Edição: Instituto Politécnico de Bragança · 2004
Apartado 1038 · 5300-854 Bragança · Portugal
Tel. 273 331 570 · 273 303 200 · Fax 273 325 405 · http://www.ipb.pt
Execução: Serviços de Imagem do Instituto Politécnico de Bragança
(grafismo, Atilano Suarez; paginação, Luís Ribeiro;
montagem e impressão, António Cruz; acabamento, Isaura Magalhães)
Tiragem: 200 exemplares
Depósito legal nº 213477/04
ISBN 972-745-077-6
Aceite para publicação em 2001
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 5
Índice
Introdução ________________________________________ 11
1 · Conceitos básicos do turismo ______________________ 15
2 · Antecedentes históricos ___________________________ 17
2.1 · Dos primórdios ao século XVIII ________________ 17
2.2 · O turismo moderno (século XIX e início do século XX) 20
2.3 · O turismo contemporâneo - século XX (após 1945) _ 22
3 · A procura turística ______________________________ 25
3.1 · Definição e contextualização ___________________ 26
3.2 · Motivação___________________________________ 27
3.3 · Interacções turísticas _________________________ 28
4 · Turismo e meio ambiente _________________________ 31
4.1 · Impactos físicos do turismo ____________________ 32
5 · Turismo e cultura _______________________________ 35
5.1 · Impactos culturais do turismo __________________ 37
6 · Turismo sustentável______________________________ 41
Conclusão ________________________________________ 45
Notas _________________________________________ 49
Referências bibliográficas ___________________________ 51
Eliane Cristine Raab Pires6
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 7
Resumo
SÉRIE
Eliane Cristine Raab Pires
Diante de uma crescente preocupação com os impactos
negativos no meio ambiente e nas comunidades locais, causados tanto
pelo desenvolvimento de forma geral, quanto pela actual dimensão e
características da actividade do turismo de forma particular, mostra-
se mais do que urgente a necessidade de reflexões (e acções) que
viabilizem a superação da actual problemática ambiental, que vem
afectando, sobremaneira, a qualidade de vida humana em seu sentido
mais amplo.
O presente estudo tem por finalidade subsidiar os alunos do
curso de turismo com elementos de referência sobre a estreita ligação
entre turismo, meio ambiente e cultura, favorecendo um melhor
entendimento sobre a complexidade dessas relações estabelecidas e
uma reflexão sobre o desafio contido na recente busca do turismo
sustentável como forma preventiva e, até mesmo, correctiva de
problemas ambientais.
Este trabalho é dividido, por questões didácticas, em três
partes. A primeira parte, de carácter introdutório, tece algumas
considerações sobre a significativa expansão do turismo convencio-
nal ou de massa como actividade de crescente inserção na vida das
sociedades; os conceitos básicos e uma breve história desde os
primórdios do turismo até aos nossos dias, subdividida em três
períodos: das origens até ao século XVIII, o turismo moderno do
século XIX e início do século XX, e o turismo contemporâneo do
século XX (após 1945). A segunda parte descreve o papel que o
turismo assume, especialmente como campo de acções humanas,
oferecendo um rico e complexo locus de relações interpessoais e de
relação das pessoas com lugares e com culturas, enfatizando, por
7070
EDIÇÃO DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA · 2004
As Inter-relações Turismo,
Meio Ambiente
e Cultura
A
Eliane Cristine Raab Pires8
Abstract
conseguinte, a possibilidade do desenvolvimento sustentável a partir
da análise dos efeitos negativos da actividade turística. E, por fim, a
conclusão que precipuamente visa expressar uma opinião pessoal
decorrente de todo o trabalho de pesquisa, neste caso em particular,
também conduz a um prognóstico factível e pragmático para o terceiro
milénio.
In view of a growing concern about the negative
environmental impacts on the ecosystem and on the local communities,
caused by the development of tourism in general sense, and by its
present dimension and characteristics in a particular way, it is necessary
to reflect and take actions enabling people to overcome the
environmental issues that has been affecting, excessively, the quality
of human life in its broader sense.
The purpose of the present study is to provide the students
of the tourism course with references on the inter-relations of tourism
with the environment and culture, a better understanding towards the
complexity of these relationships as well as a reflection on the
challenge in the recent search of a sustainable tourism as a preventive
and, at the same time, corrective measure of the environmental
problems.
This study is divided, for didactic reasons, into three parts.
The first part, of introductory aspect, gives some general remarks on
the significant expansion of the mass tourism as an activity of
increasing insertion in the life of the societies; the basic concepts and
a short history from the beginning of tourism to the present, subdivided
into three periods: from the origins to the 18th century; modern
tourism of the 19th century and the beginning of the 20th century; the
contemporary tourism of the 20th century (after 1945). The second
part focuses on the role of tourism, especially as a field of human
actions, offering a rich and complex locus of interpersonal relations
and the relation between people, places and cultures, emphasizing,
therefore, the possibility of a sustainable development from the
analysis of the negative effects of the tourist activity. And, finally, the
conclusion which essentially aims to express a personal opinion as a
result of the investigation in this particular case, also leads to a feasible
and pragmatic prognostic for the third millennium.
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 9
Résumé
Devant la croissante préoccupation face aux impacts négatifs
dans l’environnement et dans les communautés locales, causés autant
par le développement en général, que par l’actuelle dimension et les
caractéristiques de l’activité du tourisme en particulier, il se montre
plus qu’urgent le besoin de réflexions (et d’actions) qui rendent
possible le dépassement de l’actuelle problématique de
l’environnement, qui affecte, affectant, excessivement, la qualité de
vie humaine dans son sens large.
La présente étude a pour finalité de subventionner les élèves
du cours de tourisme avec des éléments de référence sur l’étroite
liaison entre le tourisme, l’environnement et la culture, en favorisant
une meilleure compréhension de la complexité de ces relations
établies et à une réflexion sur le défi contenu dans la récente recherche
du tourisme soutenable comme une forme préventive et, voir même,
corrective de problèmes d’environnement.
Ce travail est divisé, pour des questions didactiques, en trois
parties. La première partie, à caractère introducteur, tisse quelques
considérations sur la significative expansion du tourisme de masse
comme activité d’insertion croissante dans la vie des sociétés ; les
concepts basiques et une brève histoire depuis les débuts du tourisme
jusqu’à nos jours, qui se divise elle-même en trois périodes: des
origines jusqu’au XVIII siècle; le tourisme moderne du XIX siècle et
le commencement du XX siècle; le tourisme contemporain du XX
siècle (après 1945). La seconde partie décrit le rôle que le tourisme
assume, surtout comme champ d’actions humaines, offrant un riche et
complexe locus de relations inter-personnelles et de relations des
personnes avec des lieus et la culture, en soulignant, par conséquent,
la possibilité du développement soutenable à partir de l’analyse des
effetsnégatifs de l’activité touristique. Et, finalement, la conclusion
qui cherche principalement à exprimer un avis personnel lié à tout le
travail de recherche, dans ce cas particulier, conduit aussi à un
pronostic possible et pragmatique pour le troisième millénaire.
Eliane Cristine Raab Pires10
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 11
Introdução
Turismo – sensação mágica de viajar, de experimentar
“algum lugar diferente do lar”, lazer, conhecer, ver novas culturas,
novas terras, ver o não imaginado, sair do rotineiro, descobrir-se a si
mesmo. Sair do dia a dia é reservar forças, é adquirir novas energias,
é sentir que o mundo é grande, mas as descobertas, a tecnologia o
fizeram pequeno.
A actividade turística, entendida não somente como activi-
dade económica, mas como prática social complexa e multifacetada,
implica essencialmente na deslocação de pessoas e na relação dessas
pessoas entre si, com a comunidade e com o lugar visitado. Neste
sentido, em meio a todos os fluxos de serviços inerentes ao turismo
(viagens, transportes, hospedagem, gastronomia, publicidade etc.),
não podemos desconsiderar a dimensão das relações humanas, que
constituem o fazer turístico.
Parece razoável admitir que a actividade turística está
inserida num universo mais amplo, o do lazer. O turismo, como lazer
propriamente dito, é um fenómeno iniciado a partir da existência de
um “tempo livre”, fruto das reivindicações da classe trabalhadora no
século XIX por redução da jornada de trabalho e de férias remunera-
das (De Masi, 2000: 53-62).
Importa referir que num mundo onde o ambiente virtual se
tem sobreposto à realidade concreta, o turismo, além de representar
Eliane Cristine Raab Pires12
uma significativa expressão de lazer, também é um elemento que
viabiliza a concretização de sonhos e as expectativas do homem
contemporâneo.
O aumento do tempo de lazer, o crescimento das receitas, as
mudanças demográficas, a complexidade das sociedades e o advento
da urbanização levaram à vigorosa procura global pelo turismo.
As inovações tecnológicas alteraram as estruturas económi-
cas, sociais e políticas, mudando igualmente as condições de vida das
pessoas. O desenvolvimento das comunicações e do transporte inter-
nacional, em que este passou a proporcionar viagens aéreas baratas,
coloca todo o planeta ao alcance do turista de hoje.
O intercâmbio entre países, com a tão propalada globalização,
tem sido um incentivo para que o homem viaje por outras terras, como
uma forma de enriquecimento intelectual, na medida em que a união
comercial, o intercâmbio de docentes e estudantes entre universida-
des, e a requisição de técnicos para países menos desenvolvidos
incentivam a aculturação e o acumular de bens culturais. Compreen-
der os habitantes de lugares longínquos, onde os costumes mudam e
a maneira de viver, inclusive a religião, é diversa, faz com que haja
interpretação múltipla do desenvolvimento de um país.
Por representar uma alternativa a outras formas de desen-
volvimento económico: pela geração de empregos, pela capacidade
de gerar divisas e pelo poder de promover o crescimento regional, o
turismo de massa ou convencional tornou-se elemento central na
estratégia de desenvolvimento de muitos países.
Em muitos casos, contudo, o turismo não cumpriu tais
expectativas. Algumas comunidades começaram a sofrer impactos
negativos resultantes do turismo: descaracterização do estilo de vida
local; perda na qualidade de vida de parte importante da população,
com a degradação do ambiente por aumento de poluição; elevação dos
preços locais a par da exportação dos lucros para fora da comunidade.
Actualmente, as questões de conservação estão na vanguar-
da da opinião pública. A deterioração das florestas tropicais, o risco
das espécies em extinção, o aquecimento global e a crescente degra-
dação do meio ambiente estimularam o apoio público à conservação.
Não é fortuito que o interesse pelo turismo sustentável e a sua
expansão tenham coincidido com essa preocupação mundial.
O turismo sustentável não deve ser visto apenas como um
modelo adaptável ao ambiente natural mas, também, aos factores
socioculturais e económicos, proporcionando uma vivência saudável
ao indivíduo ou grupo sem danificar a integridade, a longo prazo, dos
ambientes natural e cultural.
Desse modo, propugna-se o interesse mundial pelo turismo
sustentável, propondo-se minimizar muitos dos problemas da nossa
época, como o dilema entre satisfazer as necessidades humanas, tais
como emprego, renda e desenvolvimento económico e, ao mesmo
tempo, causar menor transtorno ambiental, procurando-se desenvol-
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 13
ver e aprofundar a consciência ecológica por meio do respeito pela
Natureza.
O turismo sustentável é uma estratégia para mapear e
direccionar novas abordagens para a interacção entre a humanidade e
o meio ambiente no século XXI.
Eliane Cristine Raab Pires14
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 15
1 · Conceitos básicos
do turismo
O conceito de turismo é uma matéria bastante controversa
segundo os vários autores que tratam deste assunto. O turismo está
relacionado com viagens, porém não são todas as viagens que são
consideradas como turismo.
Se viagem é deslocamento, torna-se necessário então distin-
guir a viagem turística que não se enquadra no mesmo tipo do
deslocamento primitivo; antigamente o homem deslocava-se à procu-
ra de um melhor local para viver e dos meios básicos de subsistência,
fixando-se para morar. Viagem turística abrange o sentido de ida e
volta, sem ligação com a forma de nomadismo primitivo.
A OMT - Organização Mundial do Turismo – define turis-
mo como “o deslocamento para fora do local de residência por período
superior a 24 horas e inferior a 60 dias motivado por razões não
económicas” (Ignarra, 2000: 23). Para definir a real magnitude do
turismo poder-se-ia conceituá-lo segundo vários autores, dos quais se
destacam Schullard, Bormann e McIntosh.
O primeiro, Herman von Schullard, economista austríaco,
conceituou o turismo como “a soma das operações, especialmente as
de natureza económica, directamente relacionadas com a entrada, a
permanência e o deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora
de um país, cidade ou região” (Ibidem, 2000: 23).
Artur Bormann, economista alemão da Escola de Berlim,
Eliane Cristine Raab Pires16
definiu turismo como “... o conjunto de viagens que tem por objectivo
o prazer ou motivos comerciais, profissionais, ou outros análogos,
durante os quais é temporária a ausência da residência habitual. As
viagens realizadas para se deslocar ao local de trabalho não se
constituem como turismo” (Ibidem, 2000 : 23).
De acordo com Robert McIntosh (1993) “Turismo pode ser
definido como a ciência, a arte e a actividade de atrair e de transportar
visitantes, alojá-los e de modo cortês satisfazer as suas necessidades
e desejos”.
Segundo Barreto (1995: 9) “turismo é o conceito que
compreende todos os processos, especialmente os económicos, que se
manifestam na chegada, permanência e na saída dos turistas de uma
determinada cidade, país ou estado”.
Para Beni (1998: 153) o turismo corresponde a “um conjun-
to de recursos naturais e culturais que, em sua essência, constituem a
matéria-prima da actividade turística porque, na realidade, são esses
recursos que provocam a afluência de turistas. A esse conjunto
agrega-se os serviços produzidos para dar consistência ao seu consu-
mo, os quais compõem os elementos que integram a oferta no seu
sentido amplo, num estrutura de mercado”.
Como se vê pela diversidade das definições, o turismo é um
fenómeno complexo. Quase todas as definições excluem do turismo
as viagens desenvolvidas por motivos de negócios, de lucros. No
entanto, essas viagens são responsáveis por grande parte da ocupação
dos meios de transportes, dos hotéis, da estrutura de entretenimento,
das locadoras de veículos, dos espaços de eventos. Todos esses
elementos são considerados empreendimentos turísticos.
As Inter-relaçõesTurismo, Meio Ambiente e Cultura 17
2 · Antecedentes históricos
2.1 · Dos primórdios ao século XVIII
O turismo, em termos históricos, teve início quando o
homem deixou de ser sedentário e passou a viajar, principalmente pela
necessidade de comércio com outros povos. É aceitável, portanto,
admitir que o turismo de negócios antecedeu o turismo de lazer.
O hábito de viagens para outras localidades por inúmeros
motivos é um fenómeno antigo na história da humanidade. Os
primeiros relatos sobre viagens em massa dão conta do seu surgimento
na Babilónia por volta de 4000 a. C., com a necessidade de expansão
do império babilónico, do Mediterrâneo ao Golfo Pérsico, fomentada
pela criação de estradas para a deslocação de tropas militares (Mill e
Morrison, 1992: 2).
Sabe-se que 3000 a. C., o Egipto já era uma Meca para os
viajantes que para lá afluíam para contemplar as pirâmides e outros
monumentos.
Talvez tenham sido os fenícios aqueles que mais cedo
praticaram o conceito moderno de viagem. Sendo a Fenícia uma
região inóspita para o desenvolvimento da agricultura houve necessi-
dade de se desenvolver o comércio internacional como instrumento de
sobrevivência.
Na Grécia antiga, o hábito de viagens também foi dissemi-
Eliane Cristine Raab Pires18
nado. Existem registos de viagens organizadas para a participação em
jogos olímpicos. Talvez date desta época o Turismo Desportivo. No
século V a.C., Heródoto, um dos primeiros historiadores da humani-
dade, viajou pela Fenícia, Egipto, Grécia e Mar Morto (Ignarra, 2000:
16).
Os romanos terão sido os primeiros a viajar por lazer. O
Império Romano construiu muitas estradas o que foi determinante
para que seus cidadãos viajassem longas distâncias. De Roma saíam
contingentes importantes para o campo, o mar, as águas termais, os
templos e os festivais. Surgia nessa época a hotelaria como elemento
fundamental na viabilização do turismo (Ignarra, 2000: 16).
Nesse período eram usuais viagens dos romanos para as
cidades do litoral, para banhos medicinais. A talassoterapia, portanto,
data de cerca de 500 a. C.. Foram os primeiros SPAS (centros de
tratamentos de saúde) registados na história da humanidade.
Na China antiga também existem relatos de grandes via-
gens, como a de Chang Chien, no ano de 138 a.C., que chegou a visitar
a Pérsia (Irão) e a Síria.
Com o fim do império romano as viagens sofreram um
grande retrocesso. A partir da organização da sociedade em feudos
auto-suficientes, as viagens tornaram-se uma grande aventura.
As excepções, nessa época, eram as cruzadas. Grandes
expedições eram organizadas para visita aos centros religiosos da
Europa e para libertar Jerusalém do domínio dos árabes. Talvez
tenham sido estas viagens as precursoras do turismo de grupos.
Entre os séculos II e IV d.C. houve intensa peregrinação a
Jerusalém, à igreja do Santo Sepulcro, construída em 326, pelo
Imperador Constantino, o Grande. A partir do século VI, aproximada-
mente, registam-se peregrinações de Cristãos (romeiros) para Roma.
As viagens começaram a tornar-se mais seguras e a ampli-
arem-se após o ano 1000. Começaram a aparecer as grandes estradas
por onde circulavam os comerciantes que transportavam suas merca-
dorias em animais de carga, carruagens puxadas a cavalo, peregrinos,
mendigos trovadores, monges errantes e estudantes.
Com o fim da Idade Média e o advento do capitalismo
comercial, verifica-se o incremento das viagens. A necessidade de
ampliação do comércio implicou também a ampliação das rotas dos
comerciantes. As viagens, que inicialmente eram apenas terrestres,
passaram a incluir roteiros marítimos. Datam dessa época as grandes
viagens de Marco Polo (1271), o veneziano que chegou a visitar a
China. Antes de Marco Polo, em 1160, Benjamim de Tudela, um
judeu residente em Zaragoza, viajou através da Europa, da Pérsia e da
Índia (Ibidem, 2000: 18).
Os séculos XV e XVI foram marcados pelas grandes nave-
gações, como a de Fernão de Magalhães, que deu a volta ao mundo.
No século XVII houve uma considerável melhoria nos
transportes. As primeiras linhas regulares de diligências foram de
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 19
Frankfurt a Paris e de Londres a Oxford. Em 1669, uma viagem
Oxford-Londres demorava um dia no verão e dois no inverno, e, no
início do século XIX, uma carruagem podia fazer 200 milhas por dia.
Devido à precariedade dos caminhos, a manutenção era feita, em
alguns países, pelos donos da terra por onde o caminho passava, que
cobravam pedágio. O primeiro destes foi instalado em Hertfordshire
(Inglaterra), em 1663 (Barreto, 1995: 48).
Por volta de 1734, com o advento da Revolução Industrial
e a Reforma Protestante, começa o Capitalismo Organizado. Nesta
nova sociedade, o domínio trocou a força pela diplomacia. As relações
passaram a ser mais humanistas. O turismo passou a ser educativo,
com interesse cultural. É o período do “Turismo Neoclássico”, no qual
a viagem era um aprendizado, complemento indispensável da educa-
ção.
Havia discussões entre os filósofos da época, sobre os
benefícios e os malefícios das viagens de turismo. Mas, no meio deste
debate, Lord Shaftesbury já visualizava o potencial económico do
turismo e dizia que os jovens deviam visitar o continente e a Inglaterra
devia ser visitada pelos povos do continente, pois era um novo tipo de
comércio interessante.
Até então os turistas, quando tinham de “pousar”, faziam-no
em casas particulares ou alugavam refúgio. As pousadas do caminho
serviram para trocar os cavalos e para passar umas horas. Em 1774,
David Low inaugura o primeiro hotel familiar, em Covent Garden,
Inglaterra.
Nos séculos XVII e XVIII, a Grand Tour1 foi muito difun-
dida entre os aristocratas europeus, especialmente os ingleses, que
viajavam pela Europa como finalidade de cultivar o espírito ( Mill e
Morrisson, 1992: 3).
Com o desenvolvimento dos transportes, veio a necessidade
de tornar mais rápido o serviço postal. Em 1784, John Palmer
introduziu a diligência para transporte rápido de correspondência e,
juntamente com o correio, começou o transporte de passageiros e,
consequentemente o turismo.
Na segunda metade do século XVIII, um vasto conjunto de
transformações técnicas e económicas permitiram o arranque da
Revolução Industrial na Inglaterra. A transformação dos modos de
produção foi, de um modo geral, atribuída à invenção da máquina a
vapor e a sua aplicação aos engenhos mecânicos das manufacturas
têxteis e aos transportes. Este processo teve também profundas
implicações sociais, políticas e culturais.
A paisagem também sofreu enormes transformações com o
sistema fabril. As fábricas eram edifícios avantajados com altas
chaminés, donde saía permanentemente fumo negro proveniente da
combustão do carvão. Além disso eram extremamente ruidosas e seus
desperdícios amontoavam-se sem critério – características que infe-
lizmente ainda perduram nos nossos dias. É natural que, nessa altura,
se começasse a falar pela primeira vez em poluição. Com efeito, uma
Eliane Cristine Raab Pires20
Inglaterra verde dava lugar a uma Inglaterra negra (Ibidem, 1992: 5).
Com o movimento do êxodo rural para as cidades e
consequente aumento populacional nos centros urbanos, houve uma
grande mudança na fisionomia das cidades. Os grandes centros
populacionais reflectiam as grandes diferenças sociais. Com efeito,
no seu interior viviam tanto aqueles que prosperavam na indústria e no
comércio, como os que se sujeitavam às piores condições de trabalho.
O dinamismo comercial e financeiro das grandes cidades fomentou o
surgimento de uma classe social mais abastada com tempo e necessi-
dade de “escapar”, mesmo por um breve período, ao stress causado
pela vida na cidade. Os que têm tempo e dinheiro suficientes, vão para
o estrangeiro. Ao princípio viajam em carruagens; por fim, e pelo
menos para percursos importantes, utilizam os caminhos-de-ferro.
Mutação que não deixa de exercer nos costumes uma acção profunda.
2.2 · O turismo moderno (século XIX e início do século XX)
O advento das ferrovias no século XIXpropiciou deslocações
a distâncias maiores em períodos de tempo menores. Com isso o
turismo ganhou grande impulso.
Em 1830, a ferrovia Liverpool-Manchester, na Inglaterra,
foi a primeira a preocupar-se mais com o passageiro do que com a
carga. Começava a era da ferrovia, determinante para o desenvolvi-
mento do turismo.
Em 1841, um pregador e vendedor de Bíblias, Thomas
Cook, andara 15 milhas para um encontro de uma liga contra o
alcoolismo em Leicester. Para um outro encontro, em Loughborough,
alugou um comboio para transportar outros colegas. Juntou 570
pessoas, comprou e revendeu os bilhetes configurando a primeira
viagem agenciada. Em 1846, realizou uma viagem similar de Londres
a Glasgow (Escócia) com 800 pessoas usando os serviços de guias
turísticos, iniciava-se o turismo coletivo, a “excursão organizada” que
hoje leva o nome All Inclusive Tour, package ou pacote turístico
(Ignarra, 2000: 18).
Cook trabalhou como operador, depois como agente de
viagens. A sua verdadeira contribuição foi em oferecer um “pacote”
único de férias, para a famosa Feira Industrial de Londres de 1851 –
trazendo 165 mil excursionistas de Yorkshire e, em 1856, levou um
grupo à Europa Continental.
Em 1865, Cook também fazia reservas de hotéis e editava
um guia denominado: “Conselhos de Cook para excursionistas e
turistas”; em 1866, ele realizou o primeiro tour pelos Estados Unidos;
em 1867 instituiu o voucher (recibo de importância paga) hoteleiro;
em 1869 viajou pela primeira vez, em grupo, ao Egipto e à Terra Santa;
em 1872, deu a volta ao mundo, também em grupo, demorando 222
dias. As ideias e aplicações de Thomas Cook marcaram a entrada do
turismo na era industrial, no âmbito comercial. No campo social,
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 21
contribuiu para que as viagens se tornassem acessíveis para segmen-
tos médios da população.
Os historiadores apontam também Thomas Bennett como
um dos precursores do serviço de agenciamento turístico. Enquanto
ele trabalhava na embaixada da Inglaterra na Noruega, organizou
viagens para os ingleses que visitavam aquele país. Posteriormente,
instalou uma empresa própria especializada em organização de via-
gens (Ibidem, 2000: 19).
As viagens marítimas também se desenvolveram bastante
nesse período. Impulsionada pelo advento dos barcos a vapor, na
segunda metade do século XVIII, a navegação passou a ser mais
segura, mais rápida e com maior capacidade de carga e de passageiros.
Assim, as viagens intercontinentais passaram a ser viáveis comerci-
almente e teve início um grande intercâmbio turístico, principalmente
entre a Europa e os demais continentes.
O final do século XVIII e todo o século XIX foram marca-
dos pelo prazer do descanso e da contemplação das paisagens da
montanha. Este tipo de turismo terá cada vez mais adeptos como
resultado da deterioração da qualidade de vida nos grandes centros
urbano - industriais. No século XVIII, com pacificação da Europa,
com mais segurança, as mulheres começaram então a viajar acompa-
nhando os maridos.
Entre os múltiplos factores que contribuíram para o desen-
volvimento do turismo no século XIX aparecem: segurança, salubri-
dade e alfabetização crescente. A segurança foi propiciada pelo
estabelecimento de polícia regular; a salubridade, pelo tratamento da
água e a instalação de esgotos em várias cidades europeias, diminuin-
do o risco de cólera e tifo.
Grande importância teve também a reivindicação dos traba-
lhadores por mais tempo de lazer, para a auto-realização; lazer este
que normalmente se traduziu em turismo praiano. Este movimento
por recreação racional, na Inglaterra, teve grande apoio por represen-
tar uma alternativa aos pubs e à bebida. Com a mudança paulatina nos
meios de transporte, a vida nas cidades, o trabalho nas fábricas,
substituindo o trabalho doméstico, transformaram o turismo em
fenómeno de massas.
A Primeira Guerra Mundial demonstrou a importância do
automóvel e, como consequência, os anos entre 1920 e 1940 torna-
ram-se a era do automóvel e do transporte terrestre em geral. O
desenvolvimento do automóvel permitiu a liberdade de viajar e levou
ao surgimento do primeiro motel. Atracções e facilidades tornaram-
se mais dispersas na medida em que as pessoas tinham liberdade de
movimento ao usar o transporte público.
No período entre as duas grandes guerras mundiais, assiste-
se à emergência da sociedade que hoje conhecemos por consumista e
à era da recreação em massa. As férias remuneradas passaram a ser
uma realidade para uma grande parte da população europeia, permi-
tindo que outras classes sociais menos favorecidas economicamente
Eliane Cristine Raab Pires22
também começassem a viajar, e aspirassem a uma viagem de férias.
Paralelamente, iniciou-se a implantação do sistema de crédito (Mill e
Morrisson, 1992: 5).
Em 1929, foi instalado o primeiro free shop, no aeroporto de
Amsterdão (Holanda), fornecendo mais um serviço ao turismo, que
começou a comprar mercadorias isentas de impostos, barateando os
preços dos produtos.
O surgimento do turismo moderno não foi um facto isolado;
o turismo sempre esteve ligado ao modo de produção e ao desenvol-
vimento tecnológico. O primeiro, determina quem viaja, e o segundo,
como fazê-lo.
O turismo convencional ou de massa2, como é hoje conhe-
cido, é um fenómeno do pós-guerra.
2.3 · O turismo contemporâneo - século XX (após 1945)
Entre 1939 e 1945, aconteceu a II Guerra Mundial, período
em que o turismo parou. Durante esse conflito foi melhorada a
eficiência do transporte aéreo e a partir de 1945, com a criação do
IATA (International Air of Transport Association), que regulou o
direito aéreo, o turismo então entrou na era do avião. A tecnologia da
aviação é que deu o impulso definitivo para o desenvolvimento do
turismo no que concerne a novas aeronaves, propiciando maior
rapidez, autonomia e conforto ao longo das viagens.
Depois de 1945, a internacionalização da economia no
mundo ocidental, por meio dos investimentos feitos pelos Estados
Unidos da América na Europa arrasada pela guerra - através do Plano
MARSHALL (plano de assistência económica anunciado pelo Secre-
tário de Estado Norte Americano George Marshall, a 5 de Junho de
1947) - trouxe a formação de mercados de consumo de massa globais,
fortalecendo uma série de actividades internacionais, dentre elas o
sistema bancário e o turismo.
Em 1949 foi vendido o primeiro pacote aéreo e a partir de
1957, o turismo aéreo começou a ser preferido ao turismo de cruzeiro
pelo tempo ganho na deslocação e pela introdução de tarifas turísticas
económicas por avião.
A partir de 1960 surgiram as operadoras turísticas, que
ofereciam pacotes partindo do norte da Europa, Escandinávia, Alema-
nha Ocidental e Reino Unido para a Costa Mediterrânica. Na Inglater-
ra, os pacotes também se originaram depois da II Guerra Mundial,
cujos vôos regulares estavam reservados para missões oficiais.
Na segunda metade do século XX, a actividade turística
expandiu-se pelo mundo inteiro. O número de agências de viagem
aumentou em consequência do crescimento das companhias aéreas,
que não tinham capacidade para colocar as suas próprias filiais e
preferiam ceder a venda de passagens a retalhistas.
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 23
A hotelaria passou por uma notável modificação. Antiga-
mente, os melhores hotéis ficavam nos centros das cidades, mas com
o crescimento do turismo automotor, principalmente nos Estados
Unidos da América, onde o turismo interno, sempre foi significativo,
construíram-se hotéis com estacionamentos, a princípio na beira das
estradas. A falta de vagas levou as próprias companhias aéreas a
investirem na área, como a Panam, que adquiriu a Cadeia Interconti-
nental (Hall, 1977: 5).
Os antigos hotéis, ou hospedarias, deixaram de ser atracti-
vos para os turistas. Apareceram as primeiras escolas profissionais de
hotelaria na Suíça e começaram as grandes cadeias de hotéis padroni-
zados, impessoais com origem nos Estados Unidos da América (o
Holiday Inn tem um padrão de mobíliaidêntico em quase todas as
partes do mundo para que o hóspede, esteja onde estiver, saiba que está
num hotel da cadeia). Ao mesmo tempo as pessoas deixaram de
acreditar no poder curativo das águas termais e os SPAS precisaram
mudar a sua natureza, oferecendo outros tipos de tratamento de saúde
(emagrecimento e combate ao stress, entre outros).
Nos anos 70 do século passado começou a preocupação com
o meio ambiente. Os americanos foram práticos: é preciso cuidar dos
recursos naturais para que eles não deixem de dar lucro. Em outras
partes, combateu-se a “poluição do turismo” e hoje, o turismo é uma
das actividades que mais tenta preservar o meio ambiente.
A partir da segunda metade do século, também apareceram
os órgãos de turismo encarregados da infra-estrutura organizacional
e das estruturações legislativa e administrativa.
A satisfação que o novo consumidor busca pertence a um
componente de hedonismo, de novas experiências e de auto-realiza-
ção. A satisfação do consumidor deixou de ser genérica, padronizada
e generalizada e passou a ser específica, segmentada e personalizada
(Kotler, 1999: 186).
A tendência actual é a procura de serviços personalizados,
de excelência, de cortesia e de detalhes. É o retorno ao hotel familiar,
à pousada, em lugares isolados, utilizando antigos fortes, mosteiros e
solares de séculos passados.
O alto grau de exigência é outro aspecto que influencia as
novas satisfações, já que o consumidor está melhor informado, é mais
culto e pode comparar com facilidade.
A sociedade pós-moderna exige, entre outras coisas, quali-
dade nos produtos que consome. O conceito de qualidade para o actual
consumidor, passa pela influência do mundo globalizado, que atingiu
a cultura e a economia entre outros sectores sociais, o que torna difícil
definir “sociedade”. O que se tem na literatura é a chamada sociedade
ocidental, aquela que tem o modelo da “civilização” europeia. Quase
nada se fala das culturas orientais, que não estavam no contexto greco-
romano, excepto o Japão que mesmo com as suas características
próprias é analisado pelos padrões ocidentais.
Eliane Cristine Raab Pires24
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 25
3 · A procura turística
O turismo é um fenómeno da sociedade contemporânea que
apresenta elevadas taxas de crescimento. Muitas são as causas desse
comportamento. Entre elas pode-se citar o aumento da renda per
capita da população dos países desenvolvidos, principalmente no
pós-Segunda Guerra Mundial.
Observando-se quais são os países maiores emissores de
turista do mundo, nota-se que são exactamente as nações mais ricas do
planeta: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Itália,
Espanha e Suíça (Ignarra, 2000: 33).
Outra causa importante desse crescimento relaciona-se com
o desenvolvimento dos transportes, nomeadamente aéreo. Em poucas
décadas o transporte aéreo intercontinental evoluiu dos modelos
Viscount, que carregavam 50 passageiros, para os actuais Airbus mais
velozes, mais económicos e com capacidade para 400 passageiros.
Também a evolução das comunicações tem influência
ponderável na explicação desse fenómeno. A evolução tecnológica
das comunicações tem dupla influência no crescimento da procura
turística. Em primeiro lugar fez com que os consumidores passassem
a tomar conhecimento de outras regiões, países e culturas despertando
assim o desejo de viajar. As comunicações via satélite facilitam a
transmissão destas informações. Com isso as TVs por cabo e a Internet
colocam o mundo dentro da sala dos consumidores.
Outro efeito da evolução das comunicações é a redução dos
Eliane Cristine Raab Pires26
contactos pessoais. Cada vez mais os contactos serão desenvolvidos
via Internet, videoconferência, fazendo que o papel dos escritórios
virtuais cresça. As pessoas passarão a trabalhar em suas residências,
reduzindo o número de contactos pessoais. Evidentemente, essa
situação criará no homem moderno a busca por estes contactos
interpessoais e o turismo se apresenta como grande mecanismo para
satisfazer essa vontade.
Um factor explicativo do desenvolvimento turístico relaci-
ona-se com o intenso processo de urbanização pelo qual passa a
humanidade. O surgimento das grandes cidades, criando metrópoles
com mais de um milhão de habitantes, acarretou um modo de vida
mais estafante. O tempo despendido nos transportes urbanos, a
poluição, a violência urbana levam seus habitantes a buscarem outros
ambientes para a recuperação de suas energias. Este comportamento
explica o desenvolvimento de ampla rede de serviços turísticos
instalados num raio de 100 km em torno dos grandes centros urbanos.
Outro factor relaciona-se com o processo de globalização
que não se restringe só à economia, abrangendo, também, outras
esferas da actividade humana como a informação e a cultura. No que
concerne à cultura, o processo de globalização é fortemente concre-
tizado através do turismo, actividade que está alicerçada na
interdependência da difusão e conservação da identidade dos povos,
e que estará cada vez mais voltado para a compreensão de aspectos
etnológicos, religiosos e a maneira de viver das pessoas.
De todos os factores, talvez o de maior importância seja o
relacionado com o crescimento do tempo livre. Este fenómeno da
sociedade moderna mostra elevadas taxas de crescimento.
Há cem anos a jornada semanal de trabalho era de 98 horas.
De lá para cá ela foi sendo reduzida de forma acelerada. A jornada de
40 horas semanais predomina na maior parte do mundo e em muitos
lugares já se atingiram jornadas de 30 horas semanais (Ibidem, 2000:
36).
Esse processo está longe de se esgotar. O desenvolvimento
da automação, da robótica, da informática tem ampliado cada vez
mais a produtividade e poupado a mão-de-obra. Consequência deste
fenómeno o turismo cresce de forma acelerada.
3.1 · Definição e contextualização
Face aos objectivos pretendidos, faz-se necessária a delimi-
tação do conceito utilizado no escopo deste trabalho. Para tanto será
adoptada a definição de Mathieson e Wall (1982), segundo a qual, “
a procura por turismo é o número total de pessoas que viajam, ou
desejam viajar, para utilizar os equipamentos e serviços turísticos em
locais outros que não o de sua residência ou trabalho”.
No âmbito desta pesquisa, evidenciaram-se características
eminentemente humanistas da actividade turística, como o lazer, a
questão cultural e o contacto com a Natureza. Esta ênfase, no entanto,
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 27
não é casual, pois na medida em que entroniza aspectos subjectivos,
em maior ou menor escala, é possível depreender que há algo em
comum nessas formas de actividade turística: a motivação.
3.2 · Motivação
O modo como se pode identificar formas e estilos particu-
lares de turismo, para posterior classificação, desenvolve-se através
da análise dos factores que motivam os turistas. “ A motivação surge
quando os indivíduos acham que determinadas actividades são possí-
veis produtoras de satisfação. Como as pessoas agem para satisfazer
as suas necessidades, considera-se a motivação a força motriz máxima
que comanda o comportamento do viajante” (Pyo et al., 1989: 277).
A pesquisa sobre a motivação baseia-se nos antigos estudos
de Dann (1981), que identificou os factores “empurrão” (push) e
“puxão” (pull) como sendo fundamentais na motivação dos turistas.
O factor empurrão é de carácter endógeno do indivíduo, enquanto o
factor puxão origina-se a partir do local de destino. O primeiro
estabelece o desejo pela viagem e o segundo justifica a escolha do
destino (Bell e Etzel, 1985: 20-26).
Crompton (1979) aprimorou o modelo de Dann ao estratificar
o carácter subjectivo em desejo do turista por satisfação e o desejo de
quebra de rotina. Ele identificou nove motivos na determinação dos
factores que resultam na viagem do turista: O factor empurrão envolve
motivos relacionados com s condição social e psicológica da pessoa,
enquanto factor puxão, por outro lado, envolve “motivos suscitados
pelo destino e que não emergemexclusivamente a partir do próprio
viajante” (Crompton, 1990: 410).
Ele identificou sete motivos principais relativos ao factor
empurrão e dois relativos ao factor puxão:
Motivos relativos ao factor empurrão:
- fuga do ambiente mundano perceptível;
- investigação e avaliação do Eu;
- relaxamento;
- prestígio;
- regressão;
- intensificação dos relacionamentos afins;
- viabilização da interacção social.
Motivos relacionados ao factor puxão:
- novidade;
- educação.
Crompton concebeu estes motivos como se estivessem
localizados ao longo de uma série contínua de desequilíbrios. Quando
Eliane Cristine Raab Pires28
o desequilíbrio surge devido à sensação de descontentamento com um
ou mais dos factores empurrão, pode ser corrigido com a quebra de
rotina, que restaura a homeóstase (equilíbrio) – isto é, com a viagem.
Para o autor, o local de destino restringe-se a um meio pelo qual os
motivos são satisfeitos.
Os factores empurrão estão bastante relacionados com a
hierarquia de necessidades desenvolvida por Maslow. Para este autor,
a realização é a principal força motriz da personalidade humana, mas,
antes de se efectivar, a personalidade pode ser importunada por
motivações básicas, como a fome ou a necessidade de protecção e
segurança (para citar algumas delas), que devem ser satisfeitas
prioritariamente. Da mesma forma ocorre com as demais necessida-
des, ou seja, à medida que satisfaz um grupo de necessidades é
facultado o surgimento das necessidades do grupo seguinte. Maslow
classificou-as sequencialmente em cinco níveis:
1º fisiológico – fome, sede, protecção, sexo etc.;
2º segurança – protecção contra danos físicos e emocionais;
3º social – afeição, sociabilização, aceitação, amizade.;
4º estima – tanto interna (auto-respeito, autonomia, realiza-
ção), quanto externa (status, reconhecimento, atenção);
5º Realização pessoal (Mill e Morrisson, 1992: 19).
A segmentação da motivação dos turistas é essencial para os
administradores turísticos. O reduzido número de turistas, a probabi-
lidade de impactos reduzidos sobre o meio ambiente e o interesse pela
componente educacional auxiliam a redefinir e a moldar papéis e
regras para o desenvolvimento sustentável, segundo as necessidades
dessa área, resultando em níveis mais elevados de satisfação.
3.3 · Interacções turísticas
As interacções sociais entre turistas podem assumir a forma
de interacção entre turista e respectivo grupo afim, entre turista e
turista ou entre turista e receptor. A primeira dessas interacções, isto
é, turista e grupo afim, tem uma grande influência na escolha do local
de destino. De acordo com Dann e Crompton, os grupos sociais
exercem quatro tipos de influência nessa escolha:
- persuasão directa para visitar determinado destino;
- influência normativa na opinião do viajante sobre o desti-
no;
- socialização de longo prazo, levando a um saber convenci-
onal a respeito do destino;
- membros do grupo social que vivem nas áreas de destino (in
Crompton, 1981).
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 29
A próxima fase importante de interacção social é a que
acontece no próprio local de destino. Para todas as pessoas, a interacção
social é essencial: “ há muito tempo reconheceu-se que a natureza
interactiva dos grupos sociais exerce uma forte influência sobre o
comportamento dos indivíduos” (Crompton, 1981: 551). No caso de
turistas convencionais, a maior parte da interacção social acontece
entre os próprios membros do grupo de turistas. No turismo ecológico,
entretanto – que envolve um grupo reduzido de pessoas e cuja ênfase
recai nos atributos do local de destino -, a interacção dá-se sobretudo
entre esse tipo de turista e a população local.
Eliane Cristine Raab Pires30
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 31
4 · Turismo e meio ambiente
O prefixo eco – da palavra“ecologia”, que é derivado do
grego oikos, significa lar ou hábitat. O meio ambiente que nós
habitamos é, em sua máxima essência, o nosso lar, a nossa morada, o
nosso sustento (Szlak, 2001: xvii).
 Ao contrário da palavra “ecologia”, turismo significa viajar
para longe da nossa origem, dos nossos lares, para moradas que não
são as nossas, mas que foram construídas especificamente para nós,
turistas. O mundo é um palco, e nós implacavelmente procuramos
satisfazer nosso desejo, avançando através do globo para experimen-
tar esses “outros” – culturas, natureza, panoramas, sons e cheiros –,
para ver cenários incomuns, para explorar o desconhecido, o estranho,
o “mágico” – o não aqui” (Ibidem, 2001: xviii).
 O turismo tem vindo a afirmar-se e, actualmente, apresenta
um dos maiores índices de crescimento na economia mundial. Para
melhor compreensão de tal processo de expansão do turismo, particu-
larmente em relação ao meio ambiente3, a autora Ruschmann (2000:
63) destaca quatro fases existentes, ao longo da história. A fase
pioneira ocorreu no século XVII, denominada de fase do “relaciona-
mento” e dos primeiros equipamentos turísticos. Foi caracterizada
pela descoberta da Natureza e de suas comunidades receptoras.
A segunda fase destacou-se pelo “turismo dirigido”, ao
longo do século XIX e início do século XX. Nesse período (Belle
Époque), pouca preocupação existia em relação à preservação
Eliane Cristine Raab Pires32
ambiental, sendo que a intensificação da procura acabou por estimular
as construções e o crescimento imobiliário, os quais, hoje, caracteri-
zam os centros turísticos antigos da Europa.
A partir de 1950 surge a terceira fase – o turismo de massa,
tendo seu apogeu no decorrer das décadas de 1970 e 1980. Em termos
de protecção ambiental foi catastrófico, pois houve um domínio brutal
do turismo sobre a natureza e as comunidades receptoras4.
No entanto, em meados da década de 1970, a qualidade
ambiental começa a constituir um elemento importante e o turismo
passa a considerar os problemas do meio ambiente.
4.1 · Impactos físicos do turismo
Embora a actividade turística passe por uma grande euforia,
frente às possibilidades de grandes lucros, e tenha importantes efeitos
económicos sobre alguns países em todo o mundo, os impactos
negativos da actividade, no que concerne aos efeitos ambientais
parecem prevalecer: impactos económicos, socioculturais e ambientais
indesejáveis são aspectos amplamente discutidos com a finalidade de
não só requisitar técnicos e pesquisadores no sentido de buscar
alternativas para um melhor planeamento e gestão desses fenómenos,
bem como minimizá-los, preveni-los ou mesmo resolvê-los.
É facto que, em relação ao meio ambiente, às culturas e às
economias das áreas receptoras, o turismo tem acarretado benefícios
como: a adopção de infra-estruturas de saneamento ambiental; o
melhoramento das vias de acesso, criando e ampliando as redes de
transportes; a implementação de medidas de conservação dos recur-
sos naturais; o restauro e a reabilitação de edifícios e lugares de valor
histórico e a (re) valorização de costumes e tradições (OMT, 2001). A
geração de emprego e renda, a diversificação da economia regional e
local e as possibilidades de minimização de fluxos migratórios do
campo para a cidade são outros impactos positivos do turismo em
áreas de atractivos naturais.
Por outro lado, também é possível constatar que as áreas
receptoras do turismo de massa vêm sofrendo graves problemas de
ordem socioambiental. Em relação àqueles provocados sobre o meio
ambiente natural, podem-se apontar: a compactação do solo e proces-
sos erosivos diversos; a fuga da fauna silvestre; a exposição das raízes
às pragas; a poluição provocada pelo despejo dos hotéis, pousadas e
embarcações turísticas; os incêndios provocados por fogueiras de
acampamento; a poluição sonora e atmosférica, pela presença de
automóveis; os desvios de cursos dos rios; a introdução de espécies
exógenas; as modificações do relevo local e muitos outros (OMT,
2001).
Ainda, em relação ao meio físico, incidem impactos sobre
sítios arqueológicos, obras de arte e construções históricas. Os resorts5
turísticos produzem poluição arquitectónicae geram impactos estéti-
cos e paisagísticos.
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 33
Nas cidades turísticas pequenas observam-se problemas
decorrentes do uso de automóveis e de autocarros turísticos, degra-
dando as obras arquitectónicas e artísticas, devido ao excesso de
vibrações e poluição, congestionando o trânsito, provocando stress
nos moradores, deteriorando a qualidade dos habitantes e visitantes.
A visão das grandes massas de água, a possibilidade de
banhar-se nessas massas, constitui-se em forte atractivo para os
turistas, que se concentram nas suas margens. O turismo procura
sempre a água, quer seja ela de mar, de rio, de lago, de represa ou de
cachoeira. Assim, há uma tendência de concentração de hotéis, de
residências, de restaurantes, de estruturas náuticas à beira de mar, rios,
lagos ou represas. Essa concentração, além de interferir na paisagem
local, provoca outros impactos tais como a concentração de despejo
de esgotos em determinadas localidades (Ignarra, 2000; 114).
Em algumas localidades turísticas a concentração de servi-
ços turísticos é tão grande que chega a influir no microclima local. Em
muitas cidades turísticas do litoral há um verdadeiro muro de prédios
à beira-mar, interferindo na circulação da brisa marítima e fazendo
sombra na própria praia (Ibidem, 2000: 114).
Também as concentrações turísticas em localidades sem um
saneamento básico adequado provocam problemas na utilização das
praias. O despejo de esgotos no mar ou nos rios faz com que a
qualidade da água se torne inadequada para o banho, podendo provo-
car inúmeras doenças de pele e outras. Evidentemente o prejuízo não
é só para a qualidade do produto turístico6. A falta de saneamento
provocará impactos na fauna local.
A procura por locais de melhor apreciação da paisagem faz
com que o turismo procure implantar estruturas de serviços em locais
de certa fragilidade. Os hotéis e as residências procuram as encostas
dos morros para serem implantados, buscando valorizar a paisagem.
Com isso há um desflorestamento que facilita o desmoronamento
dessas encostas em grandes períodos de chuvas.
A pesca recreativa intensiva e fora dos períodos ideais pode
provocar desequilíbrio na cadeia reprodutiva dos peixes. O excesso de
lixo largado pelos turistas pode provocar poluição das águas e trazer
doenças para os animais.
Estes e outros impactos ambientais do turismo tornaram-se
motivo de preocupação para a pesquisa, o planeamento e a gestão do
turismo, que passaram a defender um modelo de desenvolvimento
turístico sustentável.
O desenvolvimento sustentável7 representa um novo
direccionamento do turismo e, consequentemente, um grande desafio
para os órgãos responsáveis pela preservação ambiental e pelo turis-
mo nos países com recursos naturais consideráveis. A sua ênfase tem
sido maior nos países em desenvolvimento. Nestes, a actividade
turística é intensa e normalmente o turismo possui uma importância
mais representativa para aquelas economias (Szlak, 2001: 213).
O turismo tem nos atractivos o principal componente do
Eliane Cristine Raab Pires34
produto (Kotler, 1999: 187). Assim é de interesse do turismo que esses
atractivos sejam preservados em seu estado natural. Desse ponto de
vista, o turismo sustentável é uma importante alternativa para que as
reservas naturais sejam preservadas.
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 35
5 · Turismo e cultura
Para o enquadramento deste estudo, será adoptada uma das
acepções relativas à relação entre turismo e cultura apresentadas por
Ashworth (1995), que preconiza a percepção do turismo intrinseca-
mente associada ao “sentido do lugar” (atmosfera, gastronomia,
folclore, exotismo, etc.). Trata-se de uma concepção mais abrangente,
na medida em que agrega ao conceito de cultura toda espécie de
manifestações e costumes, assim como reconhece as particularidades
dessas expressões. A partir do exposto, ao se analisar esta relação no
seu limite, é possível inferir que todo turismo é cultura, pois toda
deslocação de pessoas, para um lugar distinto da sua residência,
proporciona o acesso a novas experiências, encontros e conhecimen-
tos. Não obstante a origem do turismo dissociada da cultura, nomea-
damente no que concerne à prática por grupos sociais específicos, é
facto que as interacções entre eles são cada vez mais claras e consis-
tentes. Esta convergência entre turismo e cultura deve-se a
“culturalização da sociedade” e a “culturalização das práticas turísti-
cas”, fenómenos que conjugados deram origem à “cultura do turis-
mo”.
A OMT (1985), ciente da forte interacção entre turismo e
cultura, propõe duas definições, uma mais ampla e outra mais restrita,
sobre o turismo cultural. A mais ampla define turismo cultural como
“...toda a viagem que pela sua natureza satisfaz a necessidade de
diversidade, de ampliação de conhecimento, que todo o ser humano
Eliane Cristine Raab Pires36
traz em si”. A mais restrita compreende a “viagem por motivos
unicamente culturais ou educativos”.
Turismo cultural pode também ser definido como “...o
reencontro entre duas lógicas. Uma que desenvolve as capacidades de
acolhimento e estadia, a outra que valoriza os conteúdos, a aprendiza-
gem do lugar natural, do património e dos homens” (Pelletier, 1991).
Esta concepção é igualmente partilhada por Pedrosa (1997) para quem
o turismo cultural une “...a ideia de viajar e visitar a um acto de
conhecimento que nos é proporcionado pelo encontro directo e
pessoal com diversas expressões de cultura de um povo ou país”.
Craik (1997) reforça a simultaneidade da viagem e da cultura
explicitando que o turismo cultural consiste em “...excursões frequen-
tes a outra culturas e lugares para aprender acerca dos povos, estilos
de vida, património e artes, representantes genuínos dessas cultura e
dos seus contextos históricos”.
O turismo cultural engloba todos os aspectos das viagens
pelos quais o turista conhece a vida e o pensamento da comunidade
receptora ou local. Por isso, o turismo se apresenta como uma
ferramenta importante para promover as relações culturais e a coope-
ração internacional. De outro lado, estimular factores culturais dentro
de uma localidade é um meio de fomentar a atracção de visitantes. O
turismo pode ser estimulado não só como meio de conhecimento, mas
também como forma de transmitir ao visitante uma imagem favorá-
vel.
O turismo cultural compreende uma infinidade de aspectos,
com amplas possibilidades de exploração rentável para a atracção de
visitantes:
a) A arte é um dos elementos que mais atraem os turistas. A
pintura, a escultura, as artes gráficas e a arquitectura são
elementos procurados pelos turistas; deste modo, os mu-
seus constituem-se nos primeiros atractivos a serem procu-
rados pelos visitantes em uma localidade;
b) A música e a dança, são elementos muito valorizados pelos
turistas;
c) A gastronomia típica através de restaurantes representati-
vos da culinária tradicional local;
d) O folclore manifestado através de danças, espectáculos
teatrais, desfiles, etc;
e) O artesanato expresso sob a forma de lembranças típicas
dos locais e produtos diferenciados e exóticos;
f) A arquitectura tradicional local aliada ao conforto necessá-
rio ao turista;
g) O património arquitectónico observado por meio de edifí-
cios históricos, museus, pousadas, centros culturais, cen-
tros de eventos, restaurantes, centros comerciais e outras
construções que mantenham as características originais;
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 37
h) As igrejas, os ritos religiosos, as procissões e as festas
religiosas;
i) A agricultura tradicional da região também pode se trans-
formar em atractivo cultural. A paisagem rural, a forma de
se tratar a terra, o modo de vida rural são fortes atractivos,
nomeadamente para aqueles que vivem em grandes centros
urbanos;
j) O desenvolvimento científico de uma região também pode
se transformar em atractivo cultural. O Centro Espacial do
Cabo Canaveral é um exemplo de centro científico que atrai
fluxos deturistas.
Os aspectos culturais são, portanto, um forte impulso para
o desenvolvimento e manutenção da actividade turística. Contudo, a
forma, os motivos e o destino turístico que se deseja conhecer podem
eventualmente produzir impactos nem sempre desejáveis.
5.1 · Impactos culturais do turismo
O turismo envolve um processo interactivo entre o hospe-
deiro (tanto humano quanto ambiental) e o visitante, e, assim, “...a
cultura da sociedade hospedeira corre tanto risco quanto o ambiente
físico diante das diversas formas de turismo” (Szlak, 2001: 123).
As comunidades locais são significativamente vulneráveis
aos potenciais impactos socioculturais da actividade turística, nome-
adamente no que concerne à assimilação do modo de vida ocidental,
com uma provável e consequente extinção das manifestações cultu-
rais locais.
Em muitos casos, os turistas percebem as culturas indígenas
e as comunidades locais como “produtos” da experiência turística,
que existem para ser “consumidos” juntamente com os demais ele-
mentos da sua viagem. Por isso, as culturas indígenas são largamente
utilizadas para promover locais turísticos em mercados estrangeiros,
não obstante as oportunidades de interacção com essas culturas e seu
estilo de vida sejam restritas.
A partir dessa inter-relação entre a cultura local e o turismo,
foi desenvolvido em muitas comunidades o que parece ser uma
manifestação cultural “autêntica”, mas que, na realidade, é um evento
encenado especialmente para o consumo turístico. Esse fenómeno é
produzido com o objectivo estratégico da satisfação da necessidade do
turista de um lado, enquanto por outro lado permite a manutenção dos
verdadeiros rituais culturais. Esse é o lado positivo (da perspectiva da
cultura indígena) da mercantilização do turismo, já que, em muitos
casos, é o interesse pelas culturas locais que ajuda a sustentar, e até
mesmo recuperar, as práticas culturais tradicionais (Ibidem, 2001:
Eliane Cristine Raab Pires38
123). No entanto, a mercantilização da cultura pode provocar impac-
tos negativos expressivos. Nos últimos 20 anos, por exemplo, grande
parte da cultura indígena sami (Ártico) foi apresentada por quem não
tinha como objectivo a conservação da herança tradicional desse
povo. Isso provocou a manifesta comercialização dessa cultura, com
a promoção de uma “falsa cultura” e o desvio dos benefícios económicos
dos grupos tradicionais sami para os envolvidos na prestação de
serviços (Ibidem, 2001: 124).
 O turismo pode também causar efeitos negativos nas mani-
festações culturais tradicionais como o folclore. O desfile de carnaval
é um exemplo de como a procura pode alterar essas tradições. Em
nome de uma melhor visibilidade, o desfile tem vindo a alterar-se para
ser visto de arquibancadas ou para ficar mais plasticamente apresen-
tável na televisão, com algumas apresentações fora de época, para
atender a procura turística. Assim, o turismo cultural pode incentivar
manifestações culturais que ultrapassam o quotidiano, não se restrin-
gindo à produção turística de manifestações ditas culturais. Há que ter
em consideração que o visitante não quer se limitar ao contacto com
um show folclórico especialmente produzido para ele, buscando
expandir a sua experiência através da convivência do dia a dia do povo
local. Um turista que seja agricultor vai querer conhecer como é a
agricultura local. Um médico vai querer conhecer como são os
hospitais locais, e assim por diante.
Um outro impacto cultural que pode ser observado em
decorrência da ampliação da actividade turística, diz respeito ao
artesanato. Este impacto é também caracterizado pela coexistência de
uma realidade dualista, onde a expansão da procura e consequentemente
dos proveitos, é atendida por meios de produção mais eficientes –
produção em massa. No entanto, a qualidade fundamental do artesa-
nato está exactamente na utilização dos métodos tradicionais de
produção (Ignarra, 2000: 122).
A arquitectura tradicional local também pode se transfor-
mar a partir de uma procura turística, na medida em que este busca se
hospedar em uma edificação típica do local visitado, sem prescindir
do conforto com o qual está habituado em sua casa. Este processo,
entretanto, deve ser orientado para que as características e condições
de conservação histórica sejam privilegiadas, em detrimento da
modernização.
Por fim, o impacto do turismo pode ocorrer no modo de vida
da comunidade receptora ou local, quando o modo de viver vai se
modificando para atender a procura turística. As comunidades do
litoral, antes voltadas para a pesca tradicional com todos os hábitos
culturais derivados deste modo de vida (artesanato de produção de
redes, gastronomia voltada para os peixes, festas religiosas relaciona-
das com os períodos de pesca), com o advento do turismo, substituem
essas actividades tradicionais, para se dedicar a actividades tais como
as de caseiros, de empregadas domésticas, de barqueiros para passeios
turísticos, etc. A procura turística costuma vir acompanhada de uma
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 39
grande especulação imobiliária, que se sobrepõe ao espaço físico da
comunidade receptora. (Ibidem, 2000: 123).
De facto, o turismo não planeado em relação à saúde do
ambiente e à qualidade de vida das populações locais implica em:
• a perda dos costumes, das tradições e da auto-estima dos
moradores locais;
• a prostituição e o consumo de drogas;
• a perda dos atractivos naturais;
• o aumento da pobreza e da criminalidade;
• a deterioração do património histórico-cultural e de locais
de moradia, devido ao encarecimento dos terrenos, entre
outras.
Na actualidade, quando o processo de globalização atinge
todas as actividades humanas, a valorização da cultura típica surge
como uma forma de diferenciação, aspecto este fundamental na
qualidade do produto turístico. Os atractivos turísticos, entendidos
como legados culturais, mantêm os elos de continuidade e identidade
de um povo. Conta parte de sua história, aviva a memória colectiva e
as tradições comuns, condições importantes para a elevação da auto-
estima das comunidades locais e motivo para a conservação do
atractivo para as gerações futuras.
Com o surgimento do turismo sustentável, o relacionamen-
to entre as comunidades locais e o desenvolvimento do turismo tem
apresentado uma grande mudança. Antes do reconhecimento de uma
política sustentável, promovia-se o desenvolvimento sem o planea-
mento e respectivas previsões de impactos ambientais e socioculturais,
pelos órgãos de desenvolvimento. Mesmo agora, contudo, as neces-
sidades e os interesses dos residentes locais com frequência não são
ouvidos, mas por meio do turismo sustentável é possível obter
vantagens económicas e benefícios comuns aos agentes envolvidos -
a população local, o sector privado e o governo.
A interdependência do turismo e do ambiente físico e
cultural é fundamental para o futuro de cada um deles, e é essencial a
busca de um modo de acomodar as necessidades de todas as partes,
sem que o controle seja externo àqueles que sofrem seus efeitos mais
directamente. As características do ambiente natural, cultural e das
comunidades receptoras são os alicerces de uma indústria bem suce-
dida. A negligência, em relação às questões de conservação e quali-
dade de vida, ameaça a própria base das populações locais e a indústria
turística viável e sustentada.
Eliane Cristine Raab Pires40
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 41
6 · Turismo sustentável
O turismo sustentável não deve ser visto como uma estrutu-
ra rígida e limitada ao ambiente. Pelo contrário, deve ser considerado
como um modelo adaptável e global, que inclui também factores
socioculturais e económicos. O planeamento deste tipo de turismo
pode minimizar os efeitos negativos da actividade turística, e dessa
forma pode despertar a intenção por parte dos turistas de retornar ao
centro turístico, o que corresponde a um importante indicador do
sucesso de um destino.
Segundo Sancho (2001), “o desenvolvimento do turismosustentável supre as necessidades dos turistas actuais e as regiões
hospedeiras enquanto protege e eleva as oportunidades para o futuro.
É contemplado como meio de atingir a administração de todos os
recursos de modo que as necessidades económicas, sociais e estéticas
sejam cumpridas, enquanto mantêm integridade cultural, processos
ecológicos essenciais, diversidade biológica e sistemas de apoio à
vida”.
Conforme Rose (2002: 51) “... a sustentabilidade turística
corresponde à conjunção de três factores: a sustentabilidade ecológi-
ca, cujo objectivo é assegurar que o desenvolvimento seja compatível
com a manutenção do processo ecológico; a sustentabilidade
sociocultural, a qual deve assegurar que o desenvolvimento é compa-
tível com a cultura e valores da comunidade; e, por fim, a
sustentabilidade económica, que busca um desenvolvimento econo-
Eliane Cristine Raab Pires42
micamente eficiente e com recursos geridos de maneira que possam
manter gerações futuras”.
Na definição da OMT (Sancho, 2001) o turismo sustentável
corresponde a um modelo de desenvolvimento económico projectado
para melhorar a qualidade de vida da população local, das pessoas que
vivem e trabalham no local turístico, manter a qualidade do meio
ambiente da qual depende a população local e os visitantes, aumentar
os níveis de rentabilidade económica da actividade turística para os
residentes locais, assegurar a obtenção de lucros pelos empresários e
prover experiência de melhor qualidade para o visitante. Mas, para
que este modelo seja desenvolvido com sucesso é necessário que haja
planeamento turístico voltado para melhoria da qualidade de vida dos
residentes e para proteger o entorno local, natural e cultural. No
processo de planeamento, os princípios do desenvolvimento susten-
tável, estabelecidos na Conferência realizada no Canadá em 1990,
podem ser utilizados como suporte ao direccionamento das políticas
locais, tais como:
a) O planeamento do turismo e o seu desenvolvimento devem
ser parte das estratégias do desenvolvimento sustentável de
uma região, estado ou nação. Esse planeamento deve
envolver a população local, o governo, as agências de
turismo, etc. para que consiga os maiores lucros possíveis;
b) Agências, associações, grupos e indivíduos devem seguir
princípios éticos que respeitem a cultura e o meio ambiente
da área, da economia e do modo tradicional de vida, do
comportamento da comunidade e dos princípios políticos;
c) O turismo deve distribuir os lucros de forma equitativa
entre os promotores de turismo e a população local;
d) É essencial ter boa informação, pesquisa e comunicação da
natureza do turismo, especialmente para os moradores do
local, dando prioridade a um desenvolvimento duradouro,
que envolve a realização de uma análise contínua e um
controle de qualidade sobre os efeitos do turismo;
e) A população deve se envolver no planeamento e no desen-
volvimento dos planos locais junto com o governo, os
empresários e outros interessados.
Considerando que o desenvolvimento de qualquer activida-
de turística requer de forma inevitável a utilização de recursos, para
proporcionar o equilíbrio desejado e a sustentabilidade, é preciso o
estabelecimento de limites de utilização, fazendo com que os turistas
e operadores de turismo se comportem dentro de tais limites.
A identificação da capacidade de carga do meio ambiente é
fundamental para o desenvolvimento sustentável. Para Rose (2002:
53) “... a capacidade de carga do meio ambiente refere-se à quantidade
máxima que um determinado atractivo pode suportar (por dia/mês/
ano) sem que ocorram alterações no meio ambiente físico e social,
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 43
tampouco na satisfação do turista”. A capacidade de carga no turismo
engloba outros conceitos, como: “capacidade de carga ecológica, que
se define como o número máximo de visitantes que um lugar pode
receber; a capacidade de carga social, a qual faz referência ao nível
máximo de actividade turística que, se superado, produzirá uma
mudança negativa na população local; capacidade de carga do turista,
entendida como o nível máximo que garante a satisfação do turista; e
capacidade de carga económica, que faz referência ao nível de
actividade económica compatível com o equilíbrio entre os benefícios
económicos que proporciona o turismo e os impactos negativos que
a actividade turística gera sobre as economias locais (inflação, manu-
tenção das estruturas, etc.)” (Grifos do autor) OMT (Sancho, 2001).
No entanto, a delimitação da capacidade de carga local não
é determinação bastante; é preciso também o investimento na adopção
de acções preventivas, através da utilização preferencial de recursos
renováveis, de maneira que se possa reduzir a consumpção dos
recursos não renováveis. O turismo sustentável depende da forma
como os turistas e operadores de turismo realmente se comportam, em
relação à utilização dos recursos naturais.
Eliane Cristine Raab Pires44
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 45
Conclusão
Nos anos de 1990, o turismo de massa tornou-se o primeiro
sector da economia mundial, apesar da profunda transformação
ocorrida nos gostos e hábitos de consumo da população (Rodrigues,
1999: 17). Em geral, o tempo livre cresceu, já que a população ociosa
aumentou significativamente como consequência da maior expecta-
tiva de vida, da redução da idade da reforma e da incorporação mais
tardia dos jovens ao mercado de trabalho, mas também porque cresceu
o número de pessoas dispostas a desfrutar de mais horas livres em
busca de uma melhor qualidade de vida (De Masi, 2001: 114).
As pessoas começaram a perceber porque a adequada
integração entre os momentos de trabalho e lazer virou requisito à
sobrevivência nas cidades. O ritmo de trabalho e a quantidade de
informações multiplicaram-se com as recentes tecnologias, exigindo
adaptações de cunho pessoal aparentemente incompatíveis com o
modo de produção e consumo da sociedade no século XX e neste
início de século XXI.
Diante do contexto acima exposto, anuncia-se o surgimento
de novas exigências, em razão da necessidade de novas satisfações e
de novos produtos de consumo. Os espaços naturais aparecem como
antídoto ao stress causado pela vida na cidade, pois são tidos como
lugares de regeneração física e espiritual. Os produtos turísticos
disponíveis, actualmente, estão relacionados com a realização de
actividades que contrastam com o trabalho diário e com a vida
Eliane Cristine Raab Pires46
quotidiana. São actividades como o contacto com a Natureza, com o
património cultural, a aventura, a descoberta, as relações interpessoais,
o descanso, a leitura, a gastronomia etc.. Além disso, importa referir
que esses produtos passaram a ser concebidos de forma quase perso-
nalizada, adequando-se à procura individual, tomando a forma de
“solução turística” em detrimento ao tradicional produto turístico.
Esse conceito de solução tem a finalidade de reduzir a conotação de
estandardização intrínseca ao termo produto, adaptando-se melhor à
realidade vigente.
Nos dias actuais, os principais fluxos de tráfego internacio-
nal estão altamente concentrados na Europa Ocidental e na América
do Norte. Observa-se, porém, nítida tendência para o deslocamento do
turismo internacional para outras áreas do globo. A saturação do
turismo nas Ilhas Baleares e nas Canárias está acentuando o desloca-
mento de fluxos para os países do norte da África – Marrocos, Argélia,
Tunísia – como extensão do Mediterrâneo europeu (Rodrigues, 1999:
18).
Países em desenvolvimento vêm sendo assediados por
expressivo número de turistas em busca do desfrute de suas paisagens
naturais. As extraordinárias belezas paisagísticas de muitos desses
países, associadas à emergência de um consciência ambiental mundi-
al e ao agravamento da qualidade do ambiente das grandes cidades,
vêm levando as pessoas, na última década, a deslocarem-se para áreas
naturais que possibilitem actividades de carácter diversificado: des-
porto, aventura, contemplação, observação eoutras. Como exemplos:
Brasil (América do Sul), as ilhas do Caribe (Margarita, Aruba e
Curaçao) na América Central, as ilhas exóticas do arquipélago das
Seychelles (Oceano Índico) e o Taiti (Polinésia Francesa) que é uma
ilha de grande beleza do Pacífico Sul. Esses destinos, portanto,
representam um imenso potencial, indo de encontro às políticas de
preservação ecológica, proporcionando novas e ricas experiências
(Ibidem, 1999: 19-24).
O turismo sustentável, por sua vez, é um segmento emer-
gente do turismo que tem se destacado tanto no âmbito da oferta,
através de investimentos por parte dos governos, como no da procura,
por parte dos turistas, reflectindo, assim, o interesse das sociedades
por questões ambientais, em diferentes níveis. O interesse pelo
turismo sustentável coincide com a preocupação mundial em favor da
preservação do ambiente, sem no entanto prescindir do atendimento
à equação de equilíbrio entre a rendibilidade, a satisfação das neces-
sidades do turista, enquanto consumidor, e da própria conservação do
meio ambiente.
Tendo em vista a aproximação humana ao meio ambiente de
inúmeras formas e com os mais variados objectivos, em nenhum outro
momento da história se fez tão importante reflectir e discutir estas
duas instâncias: turismo e ambiente natural (que incorpora também os
aspectos culturais). O turismo depende da qualidade do ambiente
natural, das pessoas e dos recursos, e sem a devida integração desses
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 47
factores interdependentes dificilmente haverá desenvolvimento sus-
tentável.
A possibilidade de uma intensificação da relação do homem
consigo mesmo e com o mundo na vivência do lazer, não aponta,
necessária e essencialmente, para uma finalidade ou devir “positivo”,
“desejável” ou mesmo correcto, segundo esta ou aquela visão do
mundo ou corrente de pensamento. Pode indicar, todavia, pelo menos,
a possibilidade de uma forma diferente de existência, num mundo de
relações heterogéneas. Assim como apontar para um devir criativo ,
no qual o cuidado consigo mesmo e com o mundo seja uma constante,
sobretudo sob a égide das intensidades. E porque não citar Ortega
(1998) “ pensar a intensidade, que é intempestiva, fugaz e provisória,
é pensar o aberto, o acontecimento, esses momentos em que se
interrompe a regularidade e a necessidade, ainda que por um instante”.
Eliane Cristine Raab Pires48
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 49
Notas
1. Grand Tour - começou na França onde o idioma nacional era estudado paralelamente
com a dança, a esgrima, a equitação e o desenho. Jovens aristocratas, nomeadamente
os estudantes, viajavam até a Itália para poder estudar escultura, apreciar música
e a arte. Na volta, vinham pela Alemanha, Suíça, Países Baixos (Holanda, Bélgica
e Luxemburgo). A Grand Tour atingiu o apogeu na década de 1750-1760 e
terminou, repentinamente, durante a Revolução Francesa e as Guerras Napoleónicas.
2. Turismo de massa ou convencional – geralmente, o turismo de massa é considerado
um termo bastante abrangente do turismo empreendido pela maioria dos viajantes.
3. Meio ambiente - o termo meio ambiente está associado, usualmente, à definição
de ecologia. No entanto, o conceito de meio ambiente contempla o meio físico e
o cultural.
4. Comunidade receptora ou local – é aquela que representa o conjunto particularmente
constituído de relacionamentos sociais baseados em algo que os indivíduos
possuem em comum – um senso comum de identidade.
5. Resort – um lugar frequentado por pessoas, normalmente turistas com a finalidade
de passar férias.
6. Produto turístico – “ é constituído por um conjunto enorme de diferentes serviços,
os quais, por sua vez possuem um grande número de fornecedores” (Ignarra, 2000:
100). Os serviços vão desde aquisição de equipamentos até serviços de viagem,
serviços de animação, hospedagem, alimentação e demais serviços correlatos.
7. Desenvolvimento sustentável – é, segundo Szlak (2001: 228), definido pela World
Commission on Environment and Development, em 1987, como “o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do tempo presente sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidade.”
Eliane Cristine Raab Pires50
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 51
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Eliane Cristine Raab Pires54
As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura 55
Títulos publicados:
SÉRIE
1 · A agricultura nos distritos de Bragança e Vila Real
Francisco José Terroso Cepeda – 1985
2 · Política económica francesa
Francisco José Terroso Cepeda – 1985
3 · A educação e o ensino no 1º quartel do século XX
José Rodrigues Monteiro e Maria

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