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47 UNIDADE 3 Nesta unidade, daremos continuidade às te- orias da aprendizagem, com ênfase na teoria cogniti- vista. Faremos um breve estudo sobre os processos de aprendizagem, partindo das principais concep- ções teóricas nesta área. Você poderá compreender de maneira simples a complexidade do conceito de desenvolvimento e aprendizagem do ponto de vista piagetiano e vigotskyano, e refletir como estas con- cepções influenciaram e influenciam, até hoje, as prá- ticas pedagógicas do docente. Teoria Cognitivista da Aprendizagem 49 3. O Processo de Ensino e Aprendizagem: Concepções Teóricas - Teoria Cognitivista da Aprendizagem Os teóricos cognitivistas diferem dos teóri- cos do condicionamento, na medida em que supõem que o comportamento é inteligente e intencional. Comportar-se inteligentemente é agir, procurando realizar alguma coisa. Assim sendo, o comportamen- to segundo esta abordagem, não é controlado por estímulos externos, e sim pelos propósitos da pessoa que se comporta. Nesta perspectiva, acredita-se que a aprendi- zagem depende do desenvolvimento dos processos cognitivos, envolvendo as funções mentais superio- res como, a percepção, raciocínio e memória. Outro ponto relevante desta concepção é a afirmação de que cada pessoa é agente e não reagente de seu pró- prio processo de aprendizagem e destaca a mudança de pensamento do indivíduo de forma qualitativa, ao longo de seu desenvolvimento biológico. A seguir iremos discorrer, rapidamente, so- bre a Teoria Gestáltica, pois acreditamos ser esta uma das pesquisas pioneiras nas questões da aprendiza- gem cognitiva. Posteriormente, iremos aprofundar nossos estudos nas teorias fundamentais da perspec- tiva cognitiva como o Construtivismo em Jean Pia- 50 get, e o Sócio-Interacionismo em Vygotsky. Além destes autores, existem outros teóricos importantes e que tiveram um papel predominante na intencionalidade educacional. Dentre eles, pode- mos destacar: Robert Gagné, Albert Bandura, Jero- me Bruner, David Ausubel, Juan Ignácio Pozo. 3.1 A Aprendizagem na Perspectiva Gestáltica A teoria de Gestalt é uma teoria da Psico- logia, iniciada no final do século XIX, na Áustria e Alemanha, que possibilitou o estudo da percepção, o que influenciou nas pesquisas sobre a aprendizagem, estabelecendo relação às teorias da Psicologia. Os teóricos cognitivistas podem ser genericamente reunidos em dois grupos: os gestaltistas3 e os feno- menologistas. O movimento gestáltico surgiu no período compreendido entre 1930 e 1940 e considera seu grande precursor Von Ehrefelds, porém contou com importantes pesquisadores tais como, podemos des- tacar: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Kôh- ler (1887-1967), Kurt Koffka (1886-1941) e Kurt Goldstein (1878-1965). 3 São adeptos e pesquisadores da Teoria de Gestalt. O termo significa “for- ma” ou “estrutura”. 51 O ponto fundamental desta teoria, é que o que acontece ao todo não pode ser deduzido das par- tes; o que acontece a uma parte do todo é determinado pelas leis da estrutura intrínseca do todo. Num concei- to mais simples, Campos (2010), define a teoria: “(...) “gestalt” quer dizer um padrão organizado ou um todo organizado, em contraste a uma coleção de partes. A “forma” afirma a prioridade do todo em relação às partes, cuja natureza depende de sua função no todo. A maneira de ser cada elemento depende da estrutura do conjunto e das leis que o regem.” (CAM- POS, 2010, p. 211) Partindo desta ideia, o organismo é um con- junto de formas, um conjunto de coisas que se pren- dem, apoiam-se e determinam-se simultaneamente, tendo a percepção como fator predominante no pro- cesso de aprendizagem. A preocupação básica dos gestaltistas refere- -se às condições que possibilitam a descoberta da resposta adequada a um problema proposto. Essa descoberta é sempre feita por meio de insight. Quando o indivíduo depara-se com uma determinada situação-problema, e por meio da per- cepção consegue estruturá-lo, afirma-se que ocor- reu o insight. 52 Para Campos (2010), o termo insight é enten- dido como o simples fato do indivíduo discriminar o resultado obtido, ou seja, por meio de percepção das partes do objeto de aprendizagem consegue-se perceber o todo, ou quando uma pessoa aprende por insight, mediante o movimento do ensaio e erro. A facilidade ou dificuldade de ocorrência de um insight depende em grande parte da forma com que um aprendiz organiza os estímulos da situação- -problema. Ele não os percebe isoladamente, ao con- trário, agrupa-os formando um padrão ou uma gestalt. A organização de percepção dos elementos é feita sempre no sentido de formar uma boa figura. Uma boa figura é um determinado padrão de estí- mulos que tem continuidade, simetria, fechamento e unidade, conforme explica Campos (2010): “A vida mental não consiste numa soma de elementos simples, existe algo mais do que a adição de partes elementares, que é a interpretação da situação, pela percepção das relações dos elementos, os elementos não constituem toda realidade; o todo, o conjunto, a “for- ma” também é real e resulta da descoberta de rela- ções entre as partes, assim, uma pessoa pode ver três pontos em uma folha de papel e percebê-los como um triângulo. Não há nada em cada um dos pontos que sugira isso, apenas as relações entre os mesmos é que determina a configuração. Os objetos não aparecem 53 na percepção tal como existem em si. O sujeito cognos- cente tende a estruturar coisas apenas justapostas, ou levar à perfeição formas apenas esboçadas. Ao invés de interpretar o que ocorre, em termos de mera soma de elementos, o faz em termos de estrutura total orga- nizada, ou Gestalt.” (CAMPOS, 2010, p. 211) Cita-se como exemplo desse processo, quan- do o sujeito visualiza uma figura, (a figura determina os padrões de estímulos), e que por meio de sua per- cepção o sujeito organiza estruturas cognitivas (per- cepção, visão, atenção) a fim de agrupar os estímulos, de forma a construir padrões simétricos equilibrados. O cérebro tem princípios operacionais próprios, com tendências auto-organizacionais dos estímulos rece- bidos pelos sentidos. Sendo assim, os processos perceptuais ocor- rem num organismo que está em atividade. Os estí- mulos não são organizados apenas para ajustarem-se uns aos outros, mas também para satisfazer às exi- gências do indivíduo que percebe. Realizamos um breve estudo da teoria de Gestalt, por considerarmos que os estudos pautados nesta teoria abriram caminhos para as pesquisas so- bre aprendizagem e cognição. Enquanto pesquisa- dores das teorias do condicionamento acreditavam que o aprendiz desenvolvia padrões de aprendizagem 54 mediante um condicionamento, mediante estímulos e respostas pré-determinadas, pesquisadores do gestal- tismo: a aprendizagem consiste em perceber, respon- der e generalizar. 3.2 Os Processos de Aprendizagem na Concepção Teórica de Jean Piaget Acredito ser este tópico de suma importân- cia, pois é nele que iremos deixar claro, os termos conceituais de desenvolvimento e aprendizagem. Apesar de algumas pessoas não fazerem nenhuma distinção entre os termos, é na teoria de Jean Piaget que estas diferenças apresentam-se de forma mais preponderante, embora não deixemos de lembrar que Piaget propõe em sua teoria a relação entre de- senvolvimento e aprendizagem. Para Piaget o desenvolvimento explica a aprendizagem. O desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, ligado ao processo intei- ro da embriogênese. A embriogênese trata do desen- volvimento do organismo, mas também do sistema nervoso e o desenvolvimento das funções mentais. No caso do desenvolvimento do conhecimento da criança, a embriogênese termina somente na idade adulta. É um processo de desenvolvimento total que devemos re-situar em seu contexto geral biológico e 55 psicológico. Em outras palavras, desenvolvimento é um processo que concerne à totalidade das estruturasdo conhecimento. A aprendizagem representa o caso oposto. Em geral, aprendizagem é provocada por situações – provocada por um experimento psicológico; ou por professor com respeito a algum ponto didático; ou por uma situação externa. É provocada, em ge- ral, como oposta ao espontâneo. Além disso, é um processo limitado a um simples problema, ou a uma simples estrutura. Para alguns psicólogos o desenvolvimento é reduzido a uma série de itens específicos aprendidos, e o desenvolvimento é dessa forma, a soma, o acúmulo destas séries de itens específicos. Acho que esta é uma visão atomística que deforma a realidade das coisas. Na realidade, desenvolvimento é o processo essencial e cada elemento da aprendizagem ocorre como uma função do desenvolvimento total, ao contrário do que ser um elemento, que explica o desenvolvimento. Selecionamos dois autores que destacam a abordagem epistemológica, em cuja concepção pro- cura compreender o desenvolvimento do conheci- mento humano em suas investigações: Jean Piaget e Lev Vygotsky. São cientistas que viveram no início dos sé- culos XX e têm influenciado educadores até nos dias atuais. Piaget escreveu mais de 70 livros e 300 artigos 56 sobre Psicologia, Pedagogia e Filosofia. Vygotsky, por ter falecido muito cedo, teve uma produção bi- bliográfica mais limitada. Contudo, a contribuição de ambos tem propiciado a fundamentação de muitos trabalhos acadêmicos, tanto no campo da Psicologia quanto da Educação. Sin Jean William Fritz Piaget: As Influências do Desenvolvimento na Aquisição da Aprendizagem A teoria do conhecimento de Jean Piaget4, não tem intenção pedagógica, porém como já disse- mos, ofereceu aos educadores significantes princí- pios orientativos para a prática pedagógica. Até o início do século XX, acreditava-se que as crianças pensavam e raciocinavam da mesma ma- neira que os adultos, daí o termo de que “crianças eram adultos em miniatura”. A crença da maior parte da sociedade era de que qualquer diferença entre os processos cognitivos entre crianças e adultos era sobre tudo diferenças de grau: os adultos eram superiores mentalmente, do mesmo modo que eram fisicamente maiores, mas os processos básicos eram os mesmos. 4 Jean Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896 na cidade de Neuchâtel, na Suíça e faleceu em 16 de setembro de 1980. Autor da teoria denominada “Epistemologia Genética” realizou seus estudos como objetivo de co- nhecer a evolução do conhecimento na espécie humana, analisando as relações entre o conhecimento e a vida orgânica. 57 Para Piaget a construção do conhecimento dá-se a partir de uma base biológica e das trocas com o meio ambiente. A teoria de Piaget do desenvolvimento cog- nitivo é uma teoria de etapas, uma teoria que pressu- põe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis. Os pressupostos básicos da teoria de Piaget é o interacionismo, a ideia de construtivismo5 sequencial e os fatores que inter- ferem no desenvolvimento. A criança é concebida como ser dinâmico, que a todo o momento, interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas (Antu- nes, 2002, p. 20). Essa interação com o ambiente faz com que a criança construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-la funcionar. O eixo central é a in- teração do organismo com o meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções estas exercidas pelo organismo ao longo da vida. A seguir vamos discorrer sobre os conceitos que Piaget considera fundamentais para o processo do desenvolvimento e consequentemente, segundo o 5 Construtivismo: concepção teórica que parte do princípio de que o de- senvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio. A ideia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio. Ao contrário, responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada. 58 teórico, para a aquisição da aprendizagem. Os Princípios do Desenvolvimento Cognitivo: Assimilação, Acomodação, Adaptação e as Etapas do Desenvolvimento No processo de desenvolvimento, Piaget de- finiu a adaptação como fator indispensável no desen- volvimento da inteligência. Segundo ele, a adaptação só ocorre por meio da assimilação e acomodação. De acordo com Antunes (2002), para Piaget, “a in- teligência e, por conseguinte, a aprendizagem é uma propriedade fundamental do ser humano, válida para qualquer pessoa que se desenvolve através de uma sé- rie de estágios sucessivos, qualitativamente diferentes, através dos quais aprende”. Durante estes estágios, a aprendizagem evolui. Esta evolução manifestar-se-á por meio de dois momentos importantes. O primeiro dá-se por assimilação e o segundo por acomodação. As pesquisas relatam que a assimilação como a incorporação de novos elementos a estruturas já existentes e a acomodação, como sendo toda a mo- dificação dos esquemas de assimilação por influência de situações exteriores. Este jogo entre assimilação e acomodação permite que os organismos mantenham um equilíbrio dinâmico. Antunes (2002) acrescenta que: “A assimilação e a acomodação sempre se ma- nifestam acompanhadas de três princípios herdados, 59 que se inter-relacionam: a organização, a adaptação e o equilíbrio”. E explica este processo, quando cita: “Imagine um bebê diante de seus olhos. Repare que evolui de estados independentes e instintivos – olhar, segurar, sugar – para sua organização em estados co- nectados, em um pensamento único: olha o objeto que segura e leva-o para a boca para sugar. Observan- do esse mesmo bebê, percebe-se que sua adaptação a essa descoberta manifesta-se através de dois processos complementares: assimilação seguida de acomodação.” (ANTUNES, 2002, p. 21) Quando completado este processo ocorre a adaptação que como já vimos, considerada por Piaget, como o próprio desenvolvimento da inteligência. O teórico considera, ainda, que o processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como: ma- turação, exercitação, aprendizagem social e equilibração. A maturação é o crescimento das estruturas biológicas do organismo, a exercitação é o funciona- mento dos esquemas e órgãos que implica na forma- ção de hábitos, aprendizagem social é a aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e so- ciais e a equilibração é o processo de autorregulação interna do organismo, que se constitui na busca suces- siva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido. 60 Neste contexto, tomemos como exemplo, outra citação de Antunes (2002): “O bebê “aprendeu” e, portanto, assimilou a nova experiência e sempre que recebe a mamadeira leva-a à boca, acomodando-a, isto é, incluindo-a em seu reper- tório de saberes. Podemos afirmar que nesse exemplo o bebê “aprendeu” a levar a mamadeira à boca, não mais tentando acertos e erros em suas futuras expe- riências com esse objeto e atingindo o que Piaget cha- mava de equilíbrio.” (ANTUNES, 2002, p. 22) Sendo assim, podemos representar este pro- cesso a partir do esquema abaixo, lembrando que o processo dá-se de baixo para cima, como num movi- mento espiral: 61 Para Piaget, o desenvolvimento é um proces- so que busca atingir formas de equilíbrio cada vez me- lhores. É um processo de equilibração progressiva, o equilíbrio refere-se à forma como o indivíduo lida com a realidade na tentativa de compreendê-la, como or- ganiza seus conhecimentos ou esquemas, em sistemas integrados de ações com o objetivo de adaptar-se. A forma como a pessoa desenvolve-se, con- 6 - Criança em interação com o objeto em conhecimento 5 - Novas experiências - desequilíbrio 4 - Adaptação (Equilíbrio/Aprendizagem/ Experiência) 3 - Acomodação (Desenvolvimento de novas estruturas) 2 - Assimilação(O objeto é transformado e torna-se parte do organismo) 1 - Criança em interação com o objeto de conhecimento Esquema elaborado por mim, pautado na teoria do desenvolvimen- to de Piaget. 62 solida-se por meio de estágios. Podemos dizer que se- gundo o pesquisador, determinadas faixas etárias cor- respondem determinados tipos de aquisições mentais e de organização destas aquisições que condicionam a atuação da criança em seu ambiente. Lembrando que, dependendo da base dos fatores culturais, sociais, biológicos e dos estímulos dispostos à criança, a mesma poderá estar em um de- terminado estágio de desenvolvimento e apresentar alterações devido à influência destes fatores. Em linhas gerais, Piaget esquematiza o desen- volvimento intelectual desta forma: I - Estágio Sensório-Motor (0 a 2 anos de idade). II - Estágio Pré-Operacional (2 a 6 anos de idade). III - Estágio de Operações Concretas (7 a 11 anos de idade). IV - Estágio de Operações Formais (12 anos em diante). Note-se também que em algumas literaturas ou pes- quisas, Piaget fala apenas em três estágios principais, pois considera o estágio pré-operacional como sendo um subestágio do estágio de operações concretas. 63 O primeiro estágio, que Piaget denominou como Sensório-Motor, vai do nascimento até depois dos dezoito meses. A atividade intelectual é de nature- za sensorial e motora, pois o bebê percebe o ambiente e age sobre ele. Sua principal ocupação é a de interação dos sentidos (visão, audição, tato etc.) com o ambiente. Piaget enfatiza a importância da estimulação do am- biente no desenvolvimento. Ângela Biaggio afirma em suas pesquisas, que Piaget subdivide o estágio sensório-motor em seis su- bestágios (2007, p. 63 a 67): 1. Reflexo (o a 1 mês): a limitação da criança pauta- -se no exercitar seu equipamento reflexo, como por exemplo, o reflexo da sucção. A autora ainda cita: “Durante o 2° dia Laurent novamente começa a fazer movimentos de sucção entre as refeições... Seus lábios abrem e fecham como para receber o leite, mas sem ter um objeto. Este comportamento torna-se sub- sequentemente mais repetido.” (BIAGGIO apud PIAGET, 1936a, p. 25-26) Piaget explica que a sucção é um reflexo, e que este, é uma assimilação funcional uma vez que a criança repete o movimento com os lábios pelo pra- zer de exercitar a ação. 64 2. Reação circular primária: esta noção indica que, quando um comportamento da criança, casualmente, leva-a a um resultado interessante, a criança tende a repeti-lo. ‘A autora ressalta este subestágio, no seguin- te exemplo: “(...) se colocarmos a mão do bebê em seu rosto, ele pode aplicar o esquema de orientação utilizado quan- do o bico da mamadeira ou do seio toca seu rosto. Orienta-se em direção a ele, para sugar faz isso com a mão. A experiência é agradável, uma vez que o es- quema de sucção tende a ser exercitado. O bebê, então, acomoda seus movimentos no sentido de repetidamente levar a mão à boca. Este é um exemplo de reação circular primária.” (BIAGGIO, 2007, p. 64) 3. Reação circular secundária: enquanto que na rea- ção circular primária, a criança utiliza o próprio corpo em suas percepções, na reação circular secundária, a criança já manipula objetos externos em suas percep- ções. Esta reação é percebida quando a criança movi- menta um brinquedo que está pendurado em seu ber- ço. Na primeira vez, a criança não tem a intenção de descoberta do objeto, mas tende a repetir o movimen- to só pra ver o objeto mover-se. (Baggio, 2007, p.65). 65 4 Coordenação de esquemas secundários: neste estágio a criança já começa a procurar objetos es- condidos, já há uma intencionalidade na interação com o objeto. 5. Reações circulares terciárias (12 a 19 meses): neste ponto, a criança começa a experimentar ativa- mente novos comportamentos. Por exemplo, joga ati- vamente objetos no chão de várias alturas e observa os resultados. A criança também é capaz de imitar ações inteiramente novas, enquanto que no estágio anterior só era capaz de imitar quanto o comportamento do modelo já existia em seu repertório. 6. Início do simbolismo (18 meses a 2 anos): este subestágio representa uma transição para o estágio pré-operatório, traz grande realização do início da lin- guagem. A pesquisadora explica que se nos estágios anteriores o bebê já chegava ao progresso de inventar novos meios para lidar com o ambiente, porém sem- pre restrito aos dados da experiência, agora começa a usar símbolos mentais e palavras para referir-se aos objetos ausentes e já possui os rudimentos do pensa- mento. (Biaggio, 2007, p. 67) Exemplificando a ação da criança neste su- bestágio, Biaggio cita: 66 “Ponho a corrente na caixa e reduzo a abertura para 3mm. Lucienne não sabe como se faz para abrir e fe- char a caixa e não me viu preparar para o experimen- to. Ela possui apenas dois esquemas precedentes: virar a caixa para deixar cair o que está dentro e enfiar os dedos na abertura da caixa. É este último que ela ten- ta primeiro: Põe os dedos e tenta apanhar a corrente, mas não consegue. Segue-se em pausa, durante a qual Lucienne manifesta uma reação curiosa... E olha a abertura com muita atenção: e então por várias vezes abre e fecha a boca, a princípio um pouquinho e depois cada vez mais. (Então)... Lucienne põe seu dedo na abertura, e ao invés de tentar alcançar a corrente como fizera antes, ela puxa, como se quisesse aumentar a abertura. Ela consegue e apanha a corrente.” (BIA- GGIO, apud Piaget 2007, p. 64) Entende-se que a criança manifestou ações já consolidadas (abrir e fechar a boca) estabelecendo relação a movimentos novos (abrir e fechar a caixa), o que Piaget determina como início do simbolismo, uma vez que ocorre a ação do pensamento. Podemos concluir que o estágio sensório-mo- tor, parte de reflexos neurológicos básicos aonde, gra- dativamente, a criança vai construindo seus esquemas partindo da construção de estruturas anteriores. A inteligência é prática, as noções de tempo e 67 espaço são construídas pela ação. O pensamento de- senvolvido a partir de estruturas cognitivas mais ela- boradas, partindo de experiências anteriores. O segundo estágio denominado por Piaget é o Pré-Operatório. Inicia-se no fim do subestágio 6 (mais ou menos 2 anos de idade) até o início das operações concretas (mais ou menos aos 6 a 7 anos de idade). Fator preponderante neste estágio em rela- ção ao sensório-motor é o desenvolvimento da capa- cidade simbólica da criança. O pensamento da criança não está mais limi- tado ao seu ambiente sensorial imediato, mas começa a usar símbolos mentais, imagens ou palavras, que re- presentam coisas e pessoas que não estão presentes. Nesse período, há um considerável aumento do vocabulário, bem como a habilidade de entender e usar palavras. Antunes (2002) permite-nos entender melhor esse estágio quanto expõe à seguinte ideia: “Representar mentalmente um objeto ou pessoa ausen- te significa, em última análise, “pensar”. Dessa ma- neira, podem pensar e desejar o doce que se lembram de ter visto em um comercial da televisão. Essa capa- cidade explica a característica mais importante nesse estágio, que é a função simbólica da aprendizagem. A criança que vê o brinquedo na televisão não vê o brinquedo concreto; vê um símbolo e associa-o ao pre- 68 sente que deseja. Essa condição permite o uso de novas formulas de pensamento e o surgimento do poder da criatividade.” (ANTUNES, 2002, p. 22) Em conformidade com a ideia do autor, re- portamo-nos à experiência de Piaget com Lucienne no subestágio 6, quando a criança relaciona uma ação já consolidada de abrir e fechar a boca, para por um instante (momento do pensamento simbólico) e rela- ciona o movimento anterior com o novo que é abrir e fechar a caixa. Além do desenvolvimento do simbolismo, Piaget notou nesta fase várias características do pen- samento da criança, tais como: egocentrismo, cen- tralização,animismo, realismo nominal, classificação, inclusão de classes, seriação, conservação de número. Vamos discorrer brevemente sobre cada uma dessas estruturas de pensamento de acordo com os conceitos de Piaget. O egocentrismo trata da incapacidade da criança em colocar-se no lugar do outro. De modo ge- ral, as crianças de 4 e 5 anos são incapazes de aceitar o ponto de vista de outra pessoa, quando este é diferente. Clara Regina Rappaport (1981), em suas pes- quisas sobre o modelo piagetiano, ressalta que: “O egocentrismo caracteriza-se, basicamente, por uma 69 visão da realidade que parte do próprio eu, isto é, a criança não concebe um mundo, uma situação da qual faça parte, confunde-se com objetos e pessoas, no sentido de atribuir a eles seus próprios pensamentos, sentimentos e etc.” (RAPPAPORT, 1981, p. 69) É preciso esclarecer que o egocentrismo a que Piaget faz referência e na dificuldade da criança em compreender a habilidade de dedução, acreditan- do ser ela o centro do universo, isso não significa que a criança é egoísta. Ou seja, a criança não consegue ver o ponto de vista do outro, pois esta é uma ca- pacidade mental que ainda não foi estruturada pela criança desta idade, mas não se aplica à capacidade da criança em reconhecer gestos de gratidão e generosi- dade por parte dos outros. A centralização como próprio nome já diz, a criança consegue perceber apenas um aspecto de um objeto ou acontecimento. Ela não relaciona en- tre si os diferentes aspectos ou dimensões de uma situação. Celso Antunes (2002), explica que a criança tende a centralizar uma situação, pois tem dificulda- des de perceber o todo não refletindo ou percebendo os vários aspectos que envolvem uma determinada situação. Isso acontece pela incapacidade da criança em entender que uma ação ou operação pode tomar ambas as direções, obtendo o mesmo resultado, peso ou medida (Antunes, 2002, p.23). 70 O animismo, a criança atribui vida aos ob- jetos acreditando que estes possuem sentimentos. É comum ao observarmos crianças de 4 e 5 anos brin- cando, percebermos que a criança conversa com suas bonecas ou carrinhos atribuindo-lhes vida, acreditan- do mesmo que a boneca está com frio ou fome, que o carrinho está chateado porque a criança não brincou com ela naquele dia e etc. Quando se fala em realismo nominal, trata-se de um modo característico de a criança pequena pen- sar. A criança pensa que o nome faz parte do objeto, que é uma propriedade do objeto que ela representa. Um exemplo clássico deste pensamento é o fato de que o nome próprio dela deve ser somente dela não aceitando que este possa ser dado à outra criança. Crianças pequenas de 2 e 4 anos, quando dis- posto um grupo de figuras geométricas de plástico e de várias cores, é solicitado que a criança “coloque juntas as coisas que se parecem”, logo se percebe que a criança não irá ter critérios definidos para a realiza- ção desta tarefa. Portanto, seus esquemas de pensa- mento classificatório, ainda estão em construção. A criança pré-operacional embora aos 5 anos já consiga classificar objetos, ainda tem dificul- dade de entender que uma coisa possa pertencer, ao mesmo tempo, a duas classes diferentes. Por exem- plo: para a criança pré-operacional a diferença entre um cachorro poodle e um cachorro dálmata está em 71 sua aparência e não na sua classificação de raças, uma vez que para a criança desta fase, tanto poodle como dálmata são considerados apenas cachorros. De acordo com Piaget, as crianças peque- nas são incapazes de lidar com problemas de orde- nação e seriação. Neste contexto, Biaggio entende e explica que: “Piaget testa essa habilidade na criança com o proble- ma das bonecas e suas sombrinhas, em que são dadas bonecas de várias alturas e sombrinhas (ou varetas), de várias alturas, porém variando menos entre si do que as bonecas. A criança deve pôr as bonecas em ordem de altura e deve dar a cada boneca a sua som- brinha.” (BIAGGIO, 2007, p. 81) E complementa: “(...) em linhas gerais, qualquer problema em que se pede à criança para ordenar objetos, por exem- plo, varinhas de madeira, é um problema de seria- ção. Crianças pré-operacionais já acertam simples problemas de seriação, mas só as concretas acertam problemas de seriação interpolada, isto é, aqueles em que, depois de ordenar uma série de varinhas, a criança deve encaixar ou interpolar outro conjunto de varinhas cuja altura também varia, com valores
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