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EFÉSIOS
J. W esley Adams 
e D onald C . Stamps (in memoriam)
INTRODUÇÃO
1. Uma Carta Majestosa
Efésios é o nome de uma obra magnífica 
que se projeta tal como um ápice em meio 
às revelações bíblicas — na mesma clas­
se de Romanos, do Quarto Evangelho e 
de Hebreus. Os escritores referem-se a 
ela como a “Suíça do Novo Testamento”. 
“A Rainha das Epístolas” (Barclay) e “O 
Apogeu da Obra de São Paulo” (Robinson). 
João Calvino a considerava sua corres­
pondência favorita, e o grande poeta 
Coleridge considerava Efésios como a “mais 
divina das composições humanas”. Em 
nenhuma outra obra a revelação do Es­
pírito Santo se encontra mais evidente do 
que nesta carta. Com muita propriedade, 
Charles Hodge observa: “Essa Epístola se 
revela tão evidentemente como obra do 
Espírito Santo como as estrelas revelam 
Deus como seu criador” (Hodge, xv).
Efésios, como pedra fundamental da 
compreensão de Paulo sobre a revelação 
do propósito eterno de Deus através de 
Cristo para a Igreja, tem um caráter sin­
gular entre todas as outras cartas escritas 
por Paulo. Existe nela uma manifesta 
ausência de controvérsias teológicas (como 
encontramos em “Gálatas” e em “Roma­
nos”) e também de problemas pastorais 
(como nas cartas aos Tessalonicenses e 
aos Coríntios). Ao contrário, “é uma car­
ta pastoral afetuosa e espiritualmente sensível 
em seus conselhos, tranqüila e profunda­
mente reflexiva em seu tom, e facilmen­
te transbordante em oração e alegre ado­
ração” (Turner, 1222). Sua abrangência 
eterna não deixa de ser empolgante e, ao 
mesmo tempo, maravilhosamente concisa 
em sua apresentação.
Como observei em outros autores (Adams,
4-6), infelizmente na era moderna os eru­
ditos do Novo Testamento focalizaram com 
maior intensidade as questões mais críti­
cas a respeito da origem da obra de Efésios
e da autenticidade da autoria de Paulo, do 
que sua profunda mensagem para a Igre­
ja. Porém, todas as vezes que a revelação 
do plano glorioso de redenção de Deus, 
através de Cristo Jesus, é considerada como 
de importância fundamental, e todas as vezes 
que as implicações práticas da vida “em 
Cristo” para o crente e a Igreja são realçadas, 
Efésios continua sendo um livro muito apre­
ciado, lido e pregado. Essa obra trata de 
questões diretamente relevantes para a 
renovação da Igreja e também de questões 
tão profeticamente importantes e neces­
sárias para levar a Igreja a atingir a matu­
ridade— istoé, “à medida da estatura completa 
de Cristo” (4.13)— que pode ser estabelecida 
como a principal carta do Novo Testamento 
para a Igreja do final dos tempos.
2. Autoria
Como em todas as suas cartas, Paulo cla­
ramente se identifica no início de Efésios. 
“Paulo, apóstolo dejesus Cristo” (1.1). À 
sua maneira característica, também atri­
bui sua autoridade apostólica “à vontade 
de Deus” (1.1; cf. 2 Co 1.1; Gl 1.1; Cl 1.1). 
Como em suas incontestes cartas, o nome 
de Paulo reaparece mais tarde em Efésios: 
“Eu, Paulo, sou o prisioneiro dejesus Cristo 
por vós, os gentios” (3.1; cf. 2 Co 10.1; Gl 
5.2; Cl 1.23; 1 Ts 2.18). Paulo freqüentemente 
usa a primeira pessoa do singular e pede 
aos leitores que orem para que destemi­
damente declare o evangelho como um 
embaixador cativo (6.19-20). Com a mis­
são de levar notícias aos leitores em seu 
nome (6.21-22), Paulo pede a Tíquico que 
seja o portador da carta e seu represen­
tante pessoal.
Apesar dessas provas, nos dias de hoje 
muitas controvérsias têm cercado sua autoria. 
Essa questão foi primeiramente discutida 
em 1792 porEvanson, que não conseguia 
conciliar o título da carta com seu conteúdo. 
Por volta da década de 1820, alguns eru­
ditos alemães discutiram a autoria de Paulo 
apoiados em outros fundamentos. Des­
1189
EFÉSIOS
de então, a autenticidade dessa carta tem 
causado controvérsias entre muitos espe­
cialistas do Novo Testamento (contempo­
râneos notáveis como R. Schnackenburg, 
C. L. Mitton e A. T. Lincoln), baseados em 
seu estilo e vocabulário supostamente “não- 
Paulinos” e em conceitos teológicos e 
eclesiásticos pós-Paulinos (para resumos 
mais detalhados das questões levantadas 
a respeito da autoria e das respostas que 
foram dadas veja Guthrie, 490-508; Foulkes, 
19-49; Caird 11-29).
Enquanto Andrew Lincoln Qxxiii) contesta 
que a autoria “não-Paulina” não diminui 
a validade da carta, não só no que diz respeito 
ao cânon do Novo Testamento, mas também 
à autoridade de sua mensagem, T. K. Abbott 
(xvii-xviii, xxiv) por outro lado, cuidado­
samente assinalou muitos anos antes que 
sua autenticidade é uma questão de suma 
importância. Se outra pessoa que não Paulo 
(ou seu designado amanuense) tivesse 
escrito a obra de Efésios, apesar das ale­
gações explícitas de ter sido escrita por 
ele e as várias referências às suas circuns­
tâncias pessoais como autor, teria sido 
necessária uma falsificação com o propósito 
de enganar os leitores em relação à sua 
origem verdadeira.
F. F. Bruce (1961, 12) focaliza outro 
problema da autoria que levou os erudi­
tos que aceitam a tese do pseudônimo a 
uma confrontação. Afirma que Efésios 
representa um testemunho tão extraordi­
nário da inspiração e da assimilação da 
revelação paulina que, se não tivesse sido 
escrita pelo próprio Paulo, então teria que 
ter sido por alguém que lhe fosse seme­
lhante ou que lhe fosse espiritual e inte­
lectualmente superior. Bruce ainda acres­
centa que não temos conhecimento da 
existência de um segundo Paulo com a 
mesma estatura nos primórdios da cris- 
tandade. Seguindo a mesma linha de ra­
ciocínio, HenryJ. Cadbury, professor emérito 
da Harvard Divinity School, tratou do mesmo 
problema do pseudônimo sob a forma de 
uma pergunta. “O que seria mais prová­
vel — que um imitador de Paulo do pri­
meiro século tivesse escrito noventa ou 
noventa e cinco por cento conservando 
o estilo de Paulo, ou que o próprio Paulo
tivesse escrito uma carta divergindo cin­
co ou dez por cento de seu estilo habitu­
al?” (citado por Brown, 378) O presente 
autor aceita totalmente o indiscutível tes­
temunho da autoria do inspirado texto de 
Efésios e acredita que todas as supostas 
discrepâncias podem ser explicadas ade­
quadamente, com base nas circunstânci­
as em que Paulo escreveu a carta e em 
seu exclusivo conteúdo e propósito.
3. Data e Local das Cartas
A Carta aos Efésios menciona claramen­
te que foi escrita por Paulo como “o pri­
sioneiro dejesus Cristo por vós, os gen­
tios” (3.1), “como o preso do Senhor” (4.1) 
e como um “embaixador em cadeias” (6.20). 
Paulo testemunha em 2 Coríntios 11.23 
que foi feito prisioneiro muitas vezes (55/ 
56 d.C.), mais do que qualquer outro 
apóstolo. Mais tarde, o livro de Atos re­
gistra duas importantes prisões de Pau­
lo: dois anos em Cesaréia (24.1-26.32) e 
dois anos em Roma (28.16-31). As Cartas 
Pastorais de Paulo (sendo a ordem des­
sas cartas 1 Timóteo, Tito, 2 Timóteo) 
registram a atividade missionária de Paulo 
após sua primeira prisão em Roma e ter­
minam durante sua segunda prisão tam­
bém em Roma. Além dessas, existem outras 
três importantes experiências como pri­
sioneiro e alguns escritores ainda propõem 
que tenha havido uma quarta e importante 
prisão ocorrida em Éfeso.
Alguns escritores procuraram levan­
tar uma razão para Paulo ter escrito aos 
Efésios enquanto prisioneiro em Cesaréia, 
ou mesmo durante uma prisão não re­
gistrada em Éfeso. Porém, a visão que 
Paulo descreveu em Efésios, durante sua 
primeira prisão em Roma, (60-62 ou 61- 
63 d.C.), e mencionada em Atos 28, per­
manece intacta entre os eruditos do Novo 
Testamento e é a mais provável. Duran­
te esse período ele escreveu Filemom, 
Colossenses, Efésios e provavelmente 
Filipenses. A melhor hipótese é que a Carta 
aos Efésios tenha sido escrita logo de­
pois de Colossenses (e Filemom) em 62 
d.C., com todas as cartas sendo simulta­
neamente levadas por Tíquico até o seu 
destino (cf. Ef 6.21-22; Cl 4.7).
1190
EFÉSIO S
A CIDADE DE EFESO 
Na época de Paulo
A província da Ásia, com suas muitas e esplêndidas 
cidades, era umadas jóias no cinturão das terras 
romanas que circundavam o Mediterrâneo.
Localizada à beira-mar, e na rota terrestre direta 
para as províncias orientais do império, Éfeso foi um 
entreposto comercial raramente igualado por algum outro 
no resto do mundo. Com toda a certeza, nenhuma cidade da 
Ásia era mais famosa ou mais populosa. Estava classificada 
dentre os principais centros urbanos do império, podendo 
ser igualada a Roma, Corinto, Antioquia e Alexandria.
Situada em uma baía interior (hoje em dia coberta de lodo), 
a cidade se ligava, através de um canal estreito do Rio 
Cayster, ao mar Egeu, a uma distância aproximada de 3 
milhas (4.8 quilômetros). A cidade ostentava impressionan­
tes monumentos cívicos, incluindo-se entre eles o proemi­
nente templo deAríemis (Diana), uma das sete maravilhas 
do mundo antigo. As moedas da cidade orgulhosamente 
exibiam o “slogan” Neokoros, isto é, “guardiã do templo”. 
Paulo pregou a grandes multidões nessa cidade. Os 
artesãos se queixavam de que ele havia influenciado um 
grande número de pessoas em Éfeso e em praticamente
As linhas trace­
jadas representam 
a provável localiza- 
ção dos muros da 
cidade.
.Sifc.
Ruas laterais (linhas 
pontilhadas) refletem apenas 
■ conceito do artista a título de 
ilustração. 
1
toda a província da Ásia (At 19.26). Em um dos eventos 
mais dramáticos registrados no Novo Testamento, o apósto­
lo conseguiu desvencilhar-se de uma grande multidão no 
teatro. Essa estrutura, localizada na ladeira do Monte Pion, 
no final do “Caminho da Arcádia”, podia acomodar 25.000 
pessoas sentadas.
Outros lugares muito familiares ao apóstolo foram, sem 
dúvida, a "Ágora Comercial”, o “Portão Magnesiano”, a 
Prefeitura ou “A Casa do Conselho” e a “Rua Curetes”. A 
localização da sala das conferências ou escola de Tirano, 
onde Paulo ensinava (At 19.9), é desconhecida.
4. Os Destinatários
Ao contrário das outras cartas escritas por 
Paulo, a identidade dos destinatários ori­
ginais dessa carta é incerta. A saudação 
“aos santos que estão em Éfeso” (1 .1) 
poderia esclarecer a questão, exceto por 
duas considerações:
1) As palavras “em Éfeso” não aparecem no texto 
dos prim eiros e m elhores m anuscritos gre­
gos, indicando qu e provavelm ente não es­
tivessem n o original1.
2) N ão ex istem re ferên cias p e sso a is ao s le i­
tores, co m o era característico das cartas de 
P aulo, ou q u alq u er m en çã o d o n o m e de 
um a p essoa , das igrejas q u e fundou ou dos 
lugares onde era b e m conh ecid o. Está claro 
em Atos 19 que era bem conhecido em Éfeso, 
ten d o p assad o q u ase três an o s n e ssa c i­
dade, em um ministério poderoso e espiritual­
m en te u n gido (cf. 2 0 .3 1 ).
Por essas e outras razões, geralmente
se acredita que Paulo tenha escrito a Carta 
aos Efésios para um conjunto maior de 
leitores do que apenas os habitantes lo­
cais . Inicialmente, ela pode ter servido como 
uma carta circular para numerosas igre­
jas na grande e populosa província romana 
da Ásia, onde a cidade de Éfeso estava 
localizada. Originalmente, cada igreja pode 
ter inserido seu próprio nom e em 1.1, 
testemunhando a relevância de sua pro­
funda mensagem para todas as verdadeiras 
igrejas de Jesus Cristo. Por fim, a carta foi 
identificada com o tendo sua origem na 
igreja mãe em Éfeso, a capital e a metró­
pole mais importante da província.
5. O Motivo da Carta
Atos e as cartas que Paulo escreveu na 
prisão contêm dados históricos que podem 
ser agrupados e relacionados com a época 
em que a Carta aos Efésios foi escrita. 
Embora em prisão dom iciliar em Roma,
1191
EFÉSIOS
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Éfeso
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R O D E S
Éfeso era a capital e a cidade mais importante da 
província da Ásia.
aguardando julgamento perante César. 
Paulo tinha permissão para receber um 
contínuo fluxo de visitantes (At 28.16- 
31). Entre esses, encontravam-se repre­
sentantes da Igreja, como Epafras (de 
Colossos) e Tíquico (nativo de Éfeso). 
Esses homens podem ter sido conver­
tidos sob o ministério de Paulo quan­
do “todos os que habitavam na Ásia ou­
viram a palavra do Senhorjesus, tanto 
judeus como gregos. E Deus, pelas mãos 
de Paulo, fazia maravilhas extraordiná­
rias... e o nome do Sen h o rjesu s era 
engrandecido... Assim, a palavra do Senhor 
crescia poderosamente e prevalecia” (At 
19.10-11, 17c, 20).
Os comentários de Paulo a respeito de 
Epafras sugerem que evangelizou o Vale 
de Lico durante seu ministério em Éfeso 
e que ajudou a fundar igrejas em Colossos, 
Hierápolis e Laodicéia. Epafras visitou Paulo 
em Roma, e lhe trouxe informações so­
bre essas igrejas (veja Cl 1.7; 4.12; Fm 23). 
Aparentemente também trouxe notícias 
a respeito de falsas doutrinas em Colossos, 
o que imediatamente levou Paulo a es­
crever aos colossenses.
Enquanto isso, um escravo fugitivo de 
Colossos, chamado Onésimo, entrou em 
contato com Paulo em Roma e foi con­
vertido. Depois de discipulá-lo, Paulo 
decidiu devolvê-lo ao seu dono cristão 
em Colossos, Filemom, para que fosse 
perdoado. Paulo aproveitou essa ocasião 
para enviar uma carta a Filemom, por meio
de Tíquico, e uma carta para toda a Igreja 
em Colossos. Tíquico e Onésimo inici­
almente navegaram até Éfeso e depois 
prosseguiram a pé, através do Vale de Lico, 
até Colossos.
Antes da partida de Tíquico e Onésimo, 
Paulo escreveu ainda uma terceira carta 
aos efésios, a qual pretendia que tivesse 
um cunho mais geral, para ser divulgada 
por Tíquico em Éfeso e outras igrejas nessa 
província da Ásia. A Carta aos Efésios pode 
ter sido “a carta de Laodicéia” menciona­
da em Colossenses 4.16. Essa colocação 
pode muito bem explicar a maior parte 
das características da Carta aos Efésios e 
explica, de forma bastante satisfatória, a 
notável semelhança e grande afinidade 
existentes entre essa carta e a de Colos­
senses (cf. Ef 6.20; Cl 4.7).
As semelhanças literárias que se per­
cebe entre as cartas aos Colossenses e aos 
Efésios são tão nítidas que muitas vezes 
são chamadas de “cartas gêmeas”. Um 
escritor chegou a contar quarenta coin­
cidências de conceito e de linguagem entre 
elas. Ainda assim, estão “tão intimamen­
te interligadas no conteúdo de cada epístola 
que seria impossível terem sido obra de 
qualquer tentativa de imitação ou falsifi­
cação” (W. Martin, 1015). As sem elhan ­
ças poderiam ser razoavelmente explicadas 
se Paulo as tivesse escrito simultaneamente. 
As d iferen ças podem ser devido à sua 
mudança de foco para o assunto da Igre­
ja em Éfeso, longe da controvérsia sobre 
a doutrina herética que é tratada na Car­
ta aos Colossenses.
6. Propósito e Mensagem
Ao escrever aos efésios, o propósito de 
Paulo era muito diferente daquele que tinha 
em mente ao escrever aos colossenses. 
Em Colossenses ele combate e corrige um 
falso ensinamento envolvendo elemen­
tos judeus e pagãos que pretendiam ne­
gar o senhorio de Cristo no universo e a 
perfeição de sua obra redentora na his­
tória. Paulo responde a essa heresia de­
senvolvendo o tema da pessoa e da obra 
de Cristo em relação ao cosmos como um 
todo, incluindo aqueles principados e 
pdtestades com mais proeminência na
1192
EFÉSIOS
heresia. Como F. F. Bruce afirma (1984, 
231) “os efésios acompanhavam a mes­
ma linha de pensamento ao considerar as 
implicações para a Igreja como corpo de 
Cristo”.
Em Efésios, Paulo escreve sobre os 
propósitos eternos de Deus em Cristo a 
fim de criar entre judeus e gentios uma 
nova humanidade através da cruz (2.11-
18) e uma nova comunidade como o corpo 
de Cristo na terra (1.22,23; 2.19-22; 3-6). 
Dessa maneira, Deus decidiu proclamar 
e modelar seu evangelho de reconcilia­
ção para o mundo e até mesmo tornar 
conhecida sua multiforme sabedoria aos 
“principados e potestades nos céus” (3.10).
Embora Paulo estivesse confinado e 
prisioneiro em sua moradia alugada em 
Roma, elevava-se como uma águia nos 
domínios celestes da revelação.Agora 
estava livre para escrever o que J. Armitage 
Robinson (10) chama de “uma suprema 
exposição, indiscutível, positiva e fun­
damental da grande doutrina de sua vida
— aquela doutrina na qual vinha avan­
çando ano após ano sob a disciplina de 
sua circunstância ímpar — a doutrina 
da unidade da humanidade em Cristo e
o propósito de Deus para o mundo através 
da Igreja” tal como a plenitude da pre­
sença de Cristo sobre a terra (1.22,23; 
3 .20,21).
Dessa forma, o propósito de Paulo não 
era simplesmente que seus escritos ser­
vissem como inspiração, mas que também 
fossem práticos.
1) Procurou fortalecer a fé e os fundamen­
tos espirituais das igrejas da Ásia através 
da revelação da plenitude dos propósitos 
eternos de Deus na redenção “em Cristo” 
(1,3-14; 3.10-12)paraalgreja(1.22,25\ 2.11- 
22; 3.20,21; 4.1-16; 5.25-27) ep ara cada 
membro individual de seu corpo (1.15-21;
2.1-10; 3.16-20; 4.1-3,17-32; 5.1— 6.20).
2) Exortava seus leitores a demonstrar clara 
e visivelmente, através da pureza e do amor 
em sua conduta diária, que Cristo Jesus é 
seu “único Senhor” e a Igreja é “seu único 
corpo" e, assim, pela contradição, abrir 
caminho para o propósito de Deus para a 
Igreja e seu testemunho de Cristo para o 
mundo (4.1—6.20).
7. O Ministério do Espírito Santo 
em Efésios
Embora os temas mais importantes em 
Efésios sejam Cristo, a Igreja e o plano eterno 
de Deus para a redenção, é o Espírito Santo 
e o seu papel em relação ao crente e à 
Igreja, como a presença poderosa de Deus, 
que faz de nós o povo de Deus e o corpo 
de Cristo na terra. Em relação à proemi- 
nência do Espírito Santo em Efésios, Gordon 
Fee comenta (732): “Existem raros aspectos 
da vida cristã em que o Espírito Santo não 
assume o papel principal, e são raros os 
aspectos sobre o papel do Espírito que 
não tenham sido mencionados nessa carta”.
Em 1.13, o Espírito Santo é chamado 
(lit.) de “o Espírito Santo da promessa”, 
cuja importante presença na promessa divina 
é um sinal de que os últimos dias já che­
garam Q1 2.28-32; At 2.16-21). Jesus pro­
mete batizar seus discípulos com o (ou 
no) Espírito Santo (At 1.5), assim como 
João Batista havia pregado (Mc 1.8;Jo 1.33) 
e nesse contexto refere-se ao Espírito como 
aquEle que o Pai havia prometido (Lc 24.49; 
At 1.4). Na ocasião do Pentecostes, Pedro 
testemunha que Jesus, tendo sido exal­
tado à mão direita de Deus, recebeu do 
Pai “a promessa do Espírito Santo” e der­
ramou aquilo que a audiência estava vendo 
e ouvindo (At 2.33). Dessa forma, o ba­
tismo com o Espírito está diretamente li­
gado ao “Espírito da promessa” em uma 
experiência não só individual, mas tam­
bém coletiva e importante aos crentes que 
se tornam “o corpo” de Cristo.
Além disso, em Efésios, o Espírito San­
to é descrito como a marca ou o selo da 
propriedade de Deus (1.13), a primeira parte 
da herança do crente através de Cristo (1.14), 
“o Espírito de sabedoria e revelação” (1.17), 
aquEle que capacita o crente a ter intimi­
dade com o Pai (2.18), aquEle pelo qual 
Deus habita na Igreja (2.22), o revelador 
do mistério de Cristo (3-4,5) e a pessoa que 
fortalece os crentes em seu íntimo (3 .1 6 ). 
Na Igreja, os crentes deverão “guardar a 
unidade do Espírito pelo vínculo da paz”
(4.3); “há um só corpo e um só Espírito”
(4.4). O Espírito Santo se entristece pelo 
pecado na vida dos crentes (4.30). São
1193
EFÉSIOS
aconselhados a continuar “cheios do Es­
pírito” (5.18), a se prepararem para a gueixa 
espiritual com “a espada do Espírito, que 
é a palavra de Deus” (6.17) e a “orar no 
Espírito” em todas as ocasiões (6.18).
ESTRUTURA E ESBOÇO
Utilizando os termos mais simples, 
podemos dizer que existem dois temas 
básicos no Novo Testamento:
1) O modo como somos remidos por Deus
— isto é, pela graça através da fé; e
2) Como nós, remidos pelo Senhor, devemos 
viver— isto é, os imperativos éticos da graça. 
De uma maneira abrangente, todos os outros 
temas podem ser agrupados em qualquer 
uma dessas extensas categorias — a teo­
lógica ou a ética.
Efésios naturalmente pertence a estas 
duas categorias distintas, como indica o 
seguinte resumo da carta. Os capítulos
1 a 3 contêm gloriosas declarações teo­
lógicas a respeito da redenção que Deus 
nos concedeu através de Cristo; os ca­
pítulos 4 a 6 consistem, em grande par­
te, de ensinamentos práticos a respeito 
das exigências que a redenção de Deus, 
através de Cristo, nos faz em relação à 
nossa vida individual e em coletividade, 
como corpo de Cristo. Isso não quer dizer 
que Paulo tenha colocado a teologia em 
um escaninho e a ética em outro. As duas 
são partes inseparáveis de um todo e estão, 
muitas vezes, entrelaçadas em um mes­
mo parágrafo. No entanto, para os pro­
pósitos da apresentação e da organiza­
ção, Paulo inclina-se por estabelecer uma, 
em seguida a outra, em seu apelo a uma 
vida cristã completa.
Parte I. G loriosas Declarações 
Teológicas a Respeito da Redenção 
(capítu los 1— 3)
1. Saudação (1.1,2)
2. A P re e m in ê n c ia de C r is to je s u s n a
Redenção (1.3-14)
2.1. A Preeminência de Cristo Jesus no 
Plano Eterno do Pai (1.3-6)
2.1.1. As Bênçãos do Pai em Cristo (1.3)
2.1.2. A Eleição do Pai em Cristo (1.4)
2.1.3. A Predestinação do Pai na Adoção 
em Cristo (1.5,6)
2.2. A Preeminência de Cristo na 
Realização da Redenção (1.7-12)
2.2.1. A Redenção através de seu Sangue 
(1.7-8)
2.2.2. A Redenção sob uma Autoridade
— ou Cabeça (1.9-12)
2.3. A Preeminência de Cristo no Papel 
do Espírito Santo (1.13-14)
2.3.1. O Espírito Santo como o Selo de 
nossa Fé em Cristo (1.13)
2.3.2. O Espírito Santo como a Primeira 
Parte de nossa Herança em Cristo (1.14)
3. A Oração Apostólica pelo
Esclarecimento Espiritual dos 
Crentes (1.15-23)
3.1. O Contexto da Oração Apostólica de 
Paulo (1.15-17a)
3.2. O Foco da Oração Apostólica de 
Paulo (1.17b-19).
3-3. Exaltação, o Senhorio e a Autoridade 
de Cristo como Cabeça, como a Medida 
do Poder de Deus que Está Disponível
(1.20-23)
4. Os Resultados da Redenção em 
Cristojesus (2.1— 3.13)
4.1. Cristo Salva os Pecadores de sua 
Condição Irremediável (2.1-10)
4.1.1. A Condição de Desespero da 
Humanidade sem Cristo (2.1-3)
4.1.2. A Salvação pela Graça, através da 
Fé em Cristo (2.4-10)
4.2. Cristo Reconcilia Grupos de Pessoas 
Mutuamente Hostis a Deus e Entre Si 
Mesmas, como uma Nova Humanidade 
(2.11-18)
4.2.1. A Exclusão dos Gentios da 
Presença de Deus, e o Povo da Aliança 
( 2 .11,12)
4.2.2. A Inclusão dos Gentios na Única e 
Nova Humanidade em Cristo (2.13-18)
4.3. Cristo Une Povos Separados em uma 
Única e Nova Comunidade (2.19-22)
4.3.1. A Analogia com a Cidadania 
(2.19a)
4.3.2. A Analogia com a Família (2.19b)
4.3.3- A Analogia com um Edifício (2.20-22)
4.4. Paulo e a Igreja como o Meio de 
Revelação da Multiforme Sabedoria de Deus 
na Redenção (3.1-13)
1194
EFÉSIOS
4.4.1. Paulo como um Poderoso 
Instrumento de Deus (3-1-9)
4.4.2. A Igreja como um Instrumento 
Coletivo (3-10-13)
5. A Oração Apostólica pelo
Esclarecimento Espiritual dos
Crentes (3.14-21)
5.1. A Fervorosa Súplica de Paulo (3.14-19)
5.2. A Gloriosa Doxologia de Paulo (3.20,21)
Parte II. Instruções Práticas para a Igreja 
e para os Crentes (capítulos 4—6)
6. Implementando o Propósito de 
Deus para a Igreja (4.1-16)
6.1. Preservar a Unidade do Espírito (4.1-6)
6.1.1. A Responsabilidade Individual
(4.1,2)
6.1.2. A Responsabilidade Coletiva (4.3-6)
6.2. Crescer em Direção à Plena 
Maturidade do Coipo de Cristo (4.7-16)
6.2.1. A Provisão de Cristo quanto aos 
Dons da Graça (4.7)
6.2.2. A Posição de Cristo como AquEle 
que Dá os Dons (4.8-10)
6.2.3. O Propósito de Cristo ao Conceder 
os Cinco Tipos de Liderança Ministerial 
(4.11-13)
6.2.4.0 Plano de Cristo para o 
Crescimento da Igreja (4.14-16)
7. Reproduzindo a Vida de Cristo nos
Crentes (4.17—5.21)
7.1. Deixar de Viver de Acordo com a 
Personalidade Anterior (Natureza 
Pecaminosa) (4.17-19)
7.2. Começar a Viver de Acordo com a 
Nova Personalidade em Cristo (4.20-24)
7.3. Viver em Justiça como uma Nova 
Criatura (4.25-32)
7.3.1.Deixar a Mentira e Falar a Verdade
(4.25)
7.3-2. Não Pecar pela Ira (4.26,27)
7.3-3. Abandonar o Roubo e Trabalhar 
Diligentemente (4.28)
7.3.4. Deixar a Linguagem e as Conversas 
Imorais e Falar Palavras Edificantes (4.29,30)
7.3.5. Deixar a Malícia e Perdoar 
(4.31,32)
7.4. Viver em Santidade como Filhos da 
Luz (5.1-14).
7.4.1. Andar em Amor (5.1-7)
7.4.2. Andar na Luz (5.8-14)
7.5. Viver Sabiamente como um Povo 
Cheio do Espírito Santo (5.15-21)
7.5.1. Aproveitar ao Máximo cada 
Oportunidade (5.16)
7.5-2. Compreender a Vontade do Senhor 
(5.17)
7.5.3. Ser Cheio do Espírito Santo 
(5.18-21)
8. Aplicando a Autoridade de Cristo
aos Relacionamentos do Lar (5.22—
6.9)
8.1. Esposos e Esposas (5.22,23)
8.1.1. Esposas, Sujeitai-vos a vosso 
Esposo (5.22-24)
8.1.2. Esposos, Amem a sua Esposa 
(5.25-33)
8.2. Pais e Filhos (6.1-4)
8.2.1. Filhos, Obedeçam a seus Pais (6.1-
3)
8.2.2. Pais, não Provoqueis vossos Filhos 
à Ira (6.4)
8.3. Senhores e Servos (6.5-9)
8.3-1. Servos, Obedeçam a seus Senhores 
Terrenos (6.5-8)
8.3.2. Senhores, Tratem seus Escravos - 
ou Servos - com Justiça (6.9)
9. Estar Capacitado e Equipado para a
Batalha Espiritual (6.10-20)
9.1. Nosso Aliado - Deus (6.10-lla)
9.2. Nosso Inimigo - Satanás e suas 
Forças (6.11b, 12)
9.3. Nossas Armas - Toda a Armadura de 
Deus (6.13-20)
9.3-1- A Armadura (6.13-17)
9.3-2. A Vigilância através da Oração 
(6.18-20)
10. Conclusão (6.21-24)
10.1. Paulo Recomenda Tíquico (6.21,22)
10.2. A Bênção (6.23,24)
COMENTÁRIO
Parte I. Gloriosas Declarações Teo­
lógicas a Respeito da Redenção 
(capítulos 1— 3)
Nos capítulos de 1 a 3, Paulo escreve a 
respeito da gloriosa redenção que Deus 
planejou e realizou através de Cristo para 
os crentes e para a Igreja. Após uma sau­
1195
EFÉSIOS 1
dação, inicia com um magnífico hino à 
redenção (1.3-14), que oferece louvores 
a Deus Pai por nos escolher e nos predestinar 
em Cristo para sermos adotados como seus 
filhos (1.3-6), por nos redimir através do 
sangue de Cristo (1.7-12) e por nos con­
ceder o Espírito Santo como selo e penhor 
de nossa herança (1.13-14). Paulo afirma 
que na redenção, sempre pela graça através 
da fé em Cristo Jesus, Deus está nos re­
conciliando consigo mesmo (2.1-10), está 
derrubando as barreiras que nos separa­
vam de outros que estão sendo salvos (2.11- 
15) e está unindo os judeus aos gentios 
como uma nova humanidade e como uma 
nova comunidade, a Igreja (2.16-22). A 
sabedoria e o propósito de Deus na re­
denção são multiformes, à medida que Ele 
age para “tomar a congregar em Cristo todas 
as coisas... tanto as que estão nos céus como 
as que estão na terra” (1.10).
Por duas vezes nesses capítulos, Pau­
lo mergulha em profundas orações apos­
tólicas, primeiro pelo nosso esclarecimento 
espiritual em relação a essas verdades (1.16- 
23) e segundo pelo cumprimento espiri­
tual destas em nossas vidas (3.14-21).
1. Saudação (1 .1 ,2 )
Paulo começa suas cartas às igrejas com 
uma saudação na qual se identifica como 
um escritor apostólico e se dirige aos lei­
tores utilizando uma forma de saudação 
cristã. Essa saudação tem duas características 
adicionais:
1) É a saudação mais breve dentre todas as 
cartas de Paulo, e
2) De certa forma, a identidade dos destina­
tários não é precisa. Como observamos na 
introdução, as palavras “em Éfeso” (1.1) 
não aparecem em muitos dos mais anti­
gos e confiáveis manuscritos gregos, in­
dicando que provavelmente não faziam parte 
do original. A estrutura gramatical desses 
mesmos manuscritos sugere que as primeiras 
cópias de Efésios levavam em conta uma 
pluralidade de nomes e lugares.
A carta tem em si uma qualidade uni­
versal, como era de se esperar, se origi­
nalmente fosse dirigida a diversas igrejas 
como uma carta circular. Considerando que 
em Éfeso estava uma igreja-mãe e que esta
cidade era a principal da província, loca­
lizada no destino final da circulação da carta, 
é fácil entender como essa carta chegou 
a ser finalmente identificada com a cida­
de de Éfeso em seu título e saudação.
A saudação contém três declarações 
importantes:
1) Paulo se identifica como “apóstolo de je ­
sus Cristo, pela vontade de Deus” (1.1). Aqui 
encontramos sua autoridade para escre­
ver. No Novo Testamento, a palavra “após­
tolo” foi aplicada em primeiro lugar aos 
doze discípulos a quem Cristo designou 
como líderes de sua Igreja. Logo esta se 
tornou a designação oficial de um núme­
ro mais amplo de líderes da Igreja no pri­
meiro século como, por exemplo, Tiago 
(o irmão do Senhor), Paulo, Barnabé e 
provavelmente outros. A palavra “apóstolo” 
significa mensageiro que tem a incumbência 
de representar alguém, e que age através 
da autoridade da pessoa que o incumbiu. 
Paulo recebeu sua convocação e incum­
bência diretamente de “Cristo Jesus”. Per­
tencia a Cristo e o representava. Dessa forma, 
quando Paulo fala ou escreve, o faz como 
um porta-voz autorizado de Cristo, e dei­
xa isso claro em todas as suas cartas. A 
mensagem de Paulo é a própria mensagem 
de Cristo, e Paulo a transmite através da 
revelação e autoridade de Cristo. Atualmente, 
algumas pessoas lêem um trecho ou um 
verso de uma das cartas de Paulo e acham 
que estão em conflito com as suas própri­
as e apreciadas interpretações, e então 
respondem: “Isso é apenas a opinião ou a 
interpretação de Paulo: eu não concordo 
com ele”. No entanto, sabendo que Paulo 
escreve “como apóstolo dejesus Cristo”, 
aqueles que discordam dele discordam 
também de Cristo, a quem representa como 
um porta-voz autorizado.
Paulo acrescenta que é um apóstolo “pela 
vontade de Deus”. Ele não alcançou o 
apostolado por mera aspiração, usurpação 
ou nomeação feita por alguma comissão 
da Igreja. Ao contrário, esse rabino judeu, 
intensamente nacionalista e cruel perse­
guidor da Igreja, tornou-se apóstolo dejesus 
Cristo pela “atividade da soberana vonta­
de de Deus” (Hendriksen,70).
2) A carta é dirigida “aos santos... e fiéis em
1196
EFÉSIOS 1
Cristo Jesus” (1.1b). A palavra “santos” 
(hagioí), muito comumnoNovoTestamento 
para designar os convertidos, significa li­
teralmente “os santos”, aqueles que foram 
separados e consagrados para serem pro­
priedade de Deus. No Novo Testamento 
os verdadeiros fiéis são chamados “santos”, 
e não “pecadores”, isto é, estes últimos são 
aqueles que estão sob a lei do pecado e 
da morte (Rm 8.2), cujas vidas são carac­
terizadas pela prática do pecado (1 Jo 3.8), 
sendo escravos de sua natureza pecami­
nosa. Por outro lado, “santos” são aque­
les que através de Cristo Jesus praticam a 
lei do Espírito Santo em sua vida (Rm 8.2) 
e cujas vidas são caracterizadas pela justi­
ça (Rm6.13,16,19-20,22). Não estão isentos 
do pecado (1 Jo 1.8; 2.1,2), porém, sua ca­
racterística predominante é a justiça (3.7). 
Além disso, Paulo caracteriza os santos como 
“os fiéis em Cristo Jesus”, Literalmente fa­
lando, fiéis (pistoi) significa aqueles que “são 
fidedignos” e essa expressão se refere àqueles 
que colocaram toda a confiança de seu coração 
em Jesus Cristo como Salvador e Senhor, e 
que são constantes em sua devoção a Ele. 
Mantêm a fé, são constantes na fé e perse- 
veram na fé no Senhor Jesus Cristo.
3) Paulo transmite a habitual saudação cris­
tã aos leitores no verso 2: “A vós graça e 
paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do 
Senhorjesus Cristo”. “Graça” (charís), adap­
tada de charein (a saudação grega), é uma 
característica palavra cristã, e “paz” é a forma 
hebraica característica de saudação. Gra­
ça é a amável e bondosa iniciativa de Deus 
de nos redimir através da ação salvadora 
de seu Filho. “Paz” é o primeiro resultado 
da graça salvadora de Deus em nossa vida. 
Derivada do termo hebraico shalom, esta 
transmite a plenitude e a integralidade do 
dom divino da vida, uma sensação de bem- 
estar que abrange o espírito, a alma e o 
corpo, e que flui de nosso ser, que é re­
conciliado com Deus e que vive em co­
munhão com Ele como nosso Criador e 
Redentor. Tanto a “graça” como a “paz” são 
dádivas de Deus e do Senhorjesus Cristo 
como“autores conjuntos” (R. Martin, 133).
2. A Preeminência de Cristo Jesus 
na Redenção (1.3-14)
No texto grego, esses doze versos formam
uma única, íntegra e complexa sentença 
de 202 palavras. Para que seja totalmen­
te apreciada na língua portuguesa, será 
necessário ignorar a divisão 1.3-14 nas sen­
tenças e parágrafos para considerá-la como 
uma série de frases e cláusulas interliga­
das. Em seguida, respirando fundo, deve- 
se procurar lê-la de uma só vez. É real­
mente de tirar o fôlego. Parece até uma 
imensa torrente (como as cataratas do 
Niágara) de inspiração e revelação. Cada 
frase sucessiva, ao fluir da que a antece­
de, dá origem à seguinte, e assim por diante, 
até chegar à sua grande conclusão.
Efésios 1.3-14 é uma das passagens mais 
profundas da Bíblia e, considerada sem 
divisões, provavelmente é a frase mais 
magnífica de toda a literatura. Esse trecho 
representa um hino teológico de louvor à 
gloriosa redenção de Deus, e se apresen­
ta em três estrofes, de tamanhos variados. 
Ao final de cada uma repete-se o refrão 
“para louvor e glória da sua graça” (1.6) 
ou “para louvor da sua glória” (1.12,14).
Existe um aspecto “Trinitário” nesses 
versos imponentes. Cada estrofe realça a 
contribuição de cada membro da Autori­
dade Divina, desde o planejamento até à 
efetivação da redenção. O Pai decidiu redi­
mir as pessoas para si próprio (1.3-6); o 
Filho, pelo preço de sua morte sacrificial, 
também é o Redentor, e aquEle através 
do qual a Igreja é a escolhida (1.7-12) e o 
Espírito Santo aplica a presença viva e a 
obra de Cristo à Igreja e à experiência 
humana (1.13-14). O alcance da reden­
ção fica revelado como originário da eter­
nidade, mesmo antes da criação (1.4), até 
sua futura e completa realização, por ocasião 
do segundo advento de Cristo (1.14).
De acordo com o plano de Deus, Cristo 
é a “pedra angular” da redenção — do 
plano do Pai na eternidade, da obra vi­
sível da redenção na história, e do mi­
nistério do Espírito Santo. A frase “em Cristo” 
(“N ele”, etc) ocorre repetidamente e 
permeia toda essa passagem. O foco do 
louvor está em toda parte, isto é, naqui­
lo que Deus fez por nós “em Cristo”. Esta 
é a frase-chave de toda essa passagem, 
de toda esta carta, de toda a experiência 
de Paulo, da Igreja e da vida cristã. R. C.
1197
EFÉSIOS 1
H. Lenski (350) observa: “Cristo é a cor­
rente cie ouro na qual se prendem todas 
as pérolas dessa cloxologia. Ele é o dia­
mante central em volta do qual todos os 
outros diamantes estão dispostos em forma 
de raios cintilantes: ‘O Amado’ [ou Aquele 
que Ele ama] é a manifestação da desig­
nação divina”. Em 1.3-14, glória resplandece 
sobre glória até que Paulo tenha reuni­
do em uma única sentença a grande e 
quase indescritível riqueza da redenção, 
que Deus nos oferece como herança em 
Cristo Jesus.
2.1. A Preeminência de Cristo 
Jesus no Plano Eterno do 
Pai (1.3-6)
A redenção foi concebida no coração 
de Deus, o Pai, e se centralizou em Deus, 
o Filho. Devido ao propósito do Pai, Paulo 
inicia seu hino com uma explosão de louvor 
“ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” 
(v. 3a). Observe os verbos nos versos 3 a
5, todos focalizando a obra do Pai. Ele “nos 
abençoou” (v.3), “nos elegeu” (v.4) e “nos 
predestinou” (v.5).
2.1.1. As Bênçãos do Pai em Cris­
to (1.3). Esse verso contém três varia­
ções da palavra grega para “abençoou” 
ou “bênção”:
1) A primeira palavra “louvor” corresponde 
à palavra eulogetos, freqüentemente traduzida 
como “abençoado”. Aqui o objeto de nossa 
bênção ou louvor é Deus, que é intrínse­
ca e primariamente digno dEle, pelo seu 
caráter e amor redentor.
2) Deus é aquEle “que nos abençoou 
[eulogesasf, (isto é, derramou bênçãos sobre 
nós).
3) Ele assim o fez dando-nos “todas as bên­
çãos espirituais [eulogia]... em Cristo”. É 
assim que Paulo define e resume o obje­
tivo da redenção. “Bendito o Deus e Pai 
de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos 
abençoou com todas as bênçãos espiritu­
ais”. O objetivo do amor redentor de Deus 
é criar um mundo repleto de bênçãos. O 
objetivo de Satanás é roubar, matar e des­
truir; o objetivo de Deus é que possamos 
gozar todas as bênçãos de uma vida ple­
na “em Cristo” (cf. Jo 10.10).
Cristo é a pedra angulai: Todas as bênçãos 
espirituais de Deus Pai vêm a nós “em Cristo”, 
em sua pessoa e obra. Expressões como 
“em Cristo”, “Nele”, “no Senhor”, “em quem”, 
etc., ocorrem 160 vezes nas cartas de Paulo
— 36 vezes em Efésios e 10 vezes em 1.1- 
13 (1.1, 3, 4, 6 ,7 , 9 ,1 0 ,1 2 ,1 3 ). A experi­
ência da união com Cristo constitui o âmago 
da fé de Paulo. A expressão “em Cristo” 
se refere à esfera na qual nós, como crentes, 
vivemos, nos movemos e temos o nosso 
ser. Vida “em Cristo” representa o opos­
to de nossa corrompida vida anterior “em 
Adão”, caracterizada pela desobediência, 
escravidão à natureza pecaminosa, con­
denação e morte. Nossa nova existência, 
pelo contrário, é caracterizada pela sal­
vação, filiação, graça, justiça, andar no 
Espírito Santo e vida eterna.
As bênçãos “espirituais nos lugares 
celestiais” devem ser diferençadas das 
bênçãos materiais, igualmente concedi­
das por Deus. As bênçãos materiais fo­
ram enfatizadas no Antigo Testamento (por 
exemplo, Dt 28.1-14) enquanto as espi­
rituais são enfatizadas no Novo Testamento. 
Dignas de nota em Efésios 1.3 são as três 
ocorrências da preposição grega en (“em”). 
Deus nos abençoou “em todas as bênçãos 
espirituais nos lugares celestiais em Cris­
to” (tradução literal). J. B. Lightfoot (312) 
faz um resumo dessa ênfase: “Estamos 
unidos a Deus em Cristo; tão unidos que 
habitamos em lugares celestiais; assim 
sendo, como habitantes, somos abenço­
ados em todas as bênçãos espirituais”.
É evidente que as bênçãos espirituais 
são conseqüência de estarmos unidos a 
Cristo e de permanecermos nEle. As bênçãos 
que Paulo tem em mente foram mencio­
nadas nessa longa passagem. Fomos es­
colhidos para sermos santificados e pu­
ros (1.4), predestinados para sermos ado­
tados como filhos (1.5), remidos através 
do sangue de Cristo (1.7), acolhidos nos 
desígnios de sua vontade através da re­
denção (1.8-10), indicados para viver lou­
vando sua glória (1.11-12), recebemos a 
mensagem da verdade (1.13a) e fomos 
selados com o Espírito Santo da promes­
sa (1.13-14).
A frase “nos lugares celestiais” (1.3b) é
1198
EFÉSIOS 1
única nessa carta (também em 1.20; 2.6; 
3.10; 6.12) — é uma frase que se refere ao 
reino espiritual. A passagem em 1.20-22 
refere-se ao reino em que Cristo ressusci­
tado está assentado como Senhor acima 
de toda a autoridade. E, em 2.6, ela se re­
fere à esfera onde os crentes espiriaialmente 
vivos gozam da união e da comunhão com 
Cristo. Em 3-10, ela se refere ao reino dos 
principados e potestades espirituais a quem 
“a multiforme sabedoria de Deus” foi comu­
nicada através da Igreja. Finalmente, em
6.12, ela se refere ao reino cia guerra espi­
ritual onde os crentes lutam contra as for­
ças das trevas e do mal. O “reino celestial” 
não representa apenas o contraste entre 
uma localidade celestial e outra terrena, 
mas aquilo que existe entre a esfera espi­
ritual cie existência e a dimensão material 
da vida. Em 1.3, 20 e 2.6, ela especifica­
mente expressa algo da glória e reverên­
cia que existem na união espiritual do crente 
com Cristo no reino de sua Autoridade.
2.1.2. A Eleição do Pai em Cristo
(1.4). A passagem em 1.4 mostra a ati­
vidade de Deus, desde o verso 3 até seu 
último recurso, a fim de explicar com o a 
eleição foi executada — através da es­
colha eletiva de Deus; “Ele nos escolheu”, 
ou “Ele nos elegeu”. A palavra eleição 
vem do termo (eklego) que significa “es­
colha”: “Deus nos abençoou com todas 
as bênçãos espirituais através de sua escolha 
eletiva” (Summers, 11).
Existe um elemento de mistério na 
doutrina bíblica da eleição que, duran­
te séculos, tem impregnado de perple­
xidade as maiores inteligências da Igre­
ja. Aqueles que, seguros de si, dogmatizam 
e sistematizam essa doutrina sob a for­
ma de umpacote teológico, não compre­
enderam o coração e a mente de Paulo 
a respeito desse assunto. Nesse verso, o 
propósito de Paulo era exaltar a iniciati­
va de Deus, assim como o infinito amor 
de Deus ao conceder-nos, como sua finita 
criação, todas as bênçãos espirituais através 
da obra redentora de seu Filho.
O verso 4 apresenta quatro importan­
tes verdades a respeito do ensino da eleição:
1) A eleição é Cristocêntrica, isto é, centrada
em Cristo. “Ele nos elegeu nele” (1,4 a). O
próprio Cristo é “O Escolhido de Deus por 
excelência" (Bruce, 1984, 254). Cristo foi 
chamado de o Filho que foi escolhido (Lc 
9.35) e de Messias, que é o Escolhido de 
Deus (23-35; Jo 1.34); Deus apresenta seu 
Servo em Isaías 42.1 como “meu eleito”. 
Assim sendo, Cristo é o verdadeiro funda­
mento de nossa eleição. Somente através 
da união com Ele é que participamos como 
eleitos. A vida espiritual é, necessariamente, 
relacionai (Jo 15-1-8); não há ninguém entre 
os eleitos cuja vida esteja fora de uma união 
pela fé com Cristo. É tudo “nele”, desde o 
começo até o fim. Na eternidade, nenhu­
ma pessoa será escolhida ou rejeitada através 
de um decreto contrário à sua própria von­
tade. Cada um de nós toma-se um dos eleitos 
quando, pela fé, a morte redentora de Cristo 
na cruz se torna a base da “remissão das 
ofensas, segundo as riquezas da sua gra­
ça" (1.7).
2) A Eleição em Cristo é essencialmente co­
munitária; isto é, Deus escolheu um povo 
em Cristo (“nós”, a Igreja). Isso também 
era verdade no caso de Israel no Antigo 
Testamento, isto é, sua eleição também foi 
essencialmente comunitária e se aplicava 
individualmente aos israelitas somente 
quando, genuinamente, se identificavam 
com Deus e com a comunidade da alian­
ça divina (cf. Ez 18.5-32). Da mesma for­
ma, em Efésios, o eleito é identificado 
comunitariamente: “a igreja, que é o seu 
corpo” (1.22,23; cf. 2.16), “mas concidadãos 
dos Santos e da família de Deus” (2.19), 
“são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, 
e participantes da promessa em Cristo” (3.6), 
“digo-o, porém, a respeito de Cristo e da 
igreja” (5-32). Dessa forma, a eleição é uma 
questão comunitária para a Igreja e inclui 
individualmente as pessoas somente quando 
se identificam com Cristo e seu corpo na 
terra, formando a nova comunidade da 
aliança divina.
3) A eleição envolve o plano eterno de Deus. 
Esse plano foi elaborado antes mesmo da 
criação do mundo (v. 4b), antes do início 
dos tempos, na eternidade, quando somente 
Deus existia: “Nesta eternidade anterior à 
criação, [Deus Pai] elaborou um propósi­
to em sua mente” (Stott, 36). Ele determi­
nou que todas as pessoas que cressem em
1199
EFÉSIOS 1
seu Filho (pessoas que ainda não existi­
am) se tornariam seus próprios “filhos” através 
da obra redentora de Cristo (que ainda não 
havia ocorrido). A nossa salvação em Cristo 
não é uma reflexão tardia do Pai. Ele não 
esperou que a tragédia do pecado acon­
tecesse para planejar a salvação. Por amor, 
Deus nos criou à sua imagem, portanto, 
com o poder do livre-arbítrio. O livre-ar- 
bítrio permite a rebelião, como aconte­
ceu na queda de Satanás. Dessa forma, 
Deus agiu antes do fato acontecer, atra­
vés de um plano eterno. A salvação, através 
do Filho, é a realização do plano e dos 
propósitos gloriosos que Deus tinha desde 
a eternidade. Através da encarnação de 
Cristo, a eleição foi cumprida e realizada 
na história.
4) Finalmente, a eleição tem como propósi­
to a santificação do povo de Deus — para 
que possam ser “santos e irrepreensíveis 
diante dele” (v. 4c). Em Efésios, Paulo 
repetidamente enfatiza esse propósito 
supremo(2.21;4.1-3,13-32; 5.1-21; cf. também
1 Pe 1.2, 14-16). A realização desse pro­
pósito estará assegurada para o corpo de 
Cristo em um sentido comunitário, como 
Efésios deixa bastante claro em 5.27: “para 
a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem 
mácula, nem ruga, nem coisa semelhan­
te, mas santa e irrepreensível”. A realiza­
ção desse propósito para os indivíduos na 
Igreja está condicionada à sua fé pessoal 
em Cristojesus e a permanecerem fiéis em 
Cristo. Em uma passagem semelhante (Cl
1.22,23) Paulo também deixa isso bastan­
te claro: “para, perante ele, vos apresen­
tar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, 
se, na verdade, permanecerdes fundados 
e firmes na fé e não vos moverdes da es­
perança do evangelho”. Quando biblica- 
mente entendidos e proclamados, os 
ensinamentos de Paulo a respeito da elei­
ção deverão levar os crentes à justiça e não 
ao pecado.
A frase “em amor” ou “em caridade”, 
no final do verso 4, tem deixado os tra­
dutores perplexos. Será que Paulo pre­
tendia que fosse incluída no contexto do 
verso 4 ou será que deveria ser transposta 
para o contexto do verso 5? No caso primeiro 
(como nas versões KJV, NKJV, NRSV) a
frase define adicionalmente a finalida­
de da eleição, isto é, “ser santo e inculpável 
em amor” ou santo e inculpável com amor 
(Bruce, 1984,256). Se “em amor” pertencer 
ao que se segue (como nas versões RSV, 
NASB, NIV) então ela enfatiza o motivo 
de Deus na predestinação. “Com amor”, 
“nos predestinou para filhos de adoção 
por Jesus Cristo” (1.5). Essa última ênfa­
se está, com certeza, mais de acordo com 
o sentido geral dessa passagem; no en­
tanto, a primeira ênfase encontra apoio 
no costume de Paulo de colocar en agape 
(“em amor” ou “com amor”) após a clá­
usula que está qualificando (por exem­
plo: Ef 4 .2 ,1 5 ,1 6 ; 5.2; Cl 2.2; 1 Ts 5.13). 
Dessa forma, o leitor poderá desejar aceitá- 
la como a mensagem de ambos, isto é, 
dos versos 4 e 5, considerando que ló­
gica e teologicamente falando ela se ajusta 
muito bem aos dois.
2.1.3. APredestinaçãodoPainaAdo- 
ção em Cristo (1.5,6). O verso 5 dá pros­
seguimento à revelação de Paulo a res­
peito da importância de Cristo no plano 
de redenção do Pai. Deus nos predestinou 
para sermos adotados através de Cristo. 
Em conjunto com nossas bênçãos e nos­
sa eleição em Cristo, esses três elemen­
tos estão relacionados ao propósito eter­
no do Pai, da redenção, e não podem ser 
separados.
O verbo “predestinar” (proorizo) Ocorre 
seis vezes no Novo Testamento, uma vez 
em Atos (4.28) e nas outras cartas de Paulo 
(Rm 8.29,30;lCo2.7;Ef 1.5,11). Esse verbo 
significa “decidir antecipadamente” e se 
aplica ao propósito de Deus compreen­
dido pela eleição. A eleição é Deus esco­
lhendo “em Cristo” um povo para si mes­
mo, e a predestinação diz respeito ao que 
Deus planejou, antecipadamente, fazer com 
aqueles que foram escolhidos. Dessa forma, 
a questão da predestinação não significa 
Deus decidindo antecipadamente quem 
será salvo ou não, mas decidindo anteci­
padamente o que planeja que os eleitos, 
em Cristo, sejam ou venham a ser. Deus 
predestinou como os eleitos (isto é, aqueles 
que estão sendo salvos em Cristo) deve­
riam ser: em primeiro lugar, conforme a 
semelhança de seu Filho (Rm 8.29) e em
1200
EFÉSIOS 1
seguida serem chamados (8.30), justificados 
(8.30), glorificados (8.30), santos e irre­
preensíveis (Ef 1.4), adotados como seus 
filhos (1.5), redimidos (1.7), para o lou­
vor de sua glória (1.11,12), aqueles que 
receberiam o Espírito Santo (1.13), desti­
natários de uma herança (1.14) e serem 
criados para realizar as boas obras (2.10).
Para ilustrar os ensinamentos de Pau­
lo a respeito da eleição e da predestinação, 
observe a analogia com um grande na­
vio (isto é, a Igreja, o corpo cie Cristo) em 
seu caminho para o céu. O navio foi es­
colhido por Deus para ser sua própria 
embarcação. Cristo é o Capitão e o Pilo­
to desse navio. Todas as pessoas foram 
convidadas para participarem desta via­
gem juntamente com este navio e este 
Capitão que foram eleitos, mas somente 
terão permissão para embarcar aqueles 
que colocarem sua fé e confiança em Cristo 
Jesus. Enquanto permanecerem no navio 
e em companhia de seu Capitão, estarão 
entre os eleitos. Se alguém preferir aban­
donar o navio e seu Capitão, deixará de 
fazer parte dos eleitos. A eleição é sem­
pre um assunto de comunhão com o Capitão 
ede permanecer a bordo de seu navio. A 
predestinação nos fala a respeito de sua 
direção e destino e o que Deus decidiu 
de antemão para aqueles que nEle per­
manecerem.
Deus claramente decidiu de antemão 
que seus eleitos seriam “adotados como 
seus filhos através dejesus Cristo”. A adoção 
na família de Deus se origina do amor, 
da boa vontade do desejo de Deus e do 
desejo de ter muitos filhos e filhas em 
sua família (através da adoção), todos par­
ticipando da semelhança com seu úni­
co Filho (por natureza) (cf. Rm 8.29; Hb 
2.10). Somente Paulo, entre os escrito­
res do Novo Testamento, usa a palavra 
“adoção”, e ele o faz cinco vezes (Rm 8.15, 
23; 9.4; Gl 4.5. Ef 1.5). Em algumas des­
sas referências Paulo parece desenhar um 
paralelo entre o ato de adoção de Deus 
e a prática legal existente em Roma. Através 
da adoção, a filiação tem uma dimensão 
simultaneamente presente e futura e, pro­
vavelmente, um conceito mais amplo do 
que aquele que Paulo usa em relação à
nossa restauração na redenção. F. F. Bruce 
(19ó l, 29) tece alguns comentários a 
respeito da abrangência da adoção.
Essa “adoção” é mais do que um re­
lacionamento com Deus como seus fi­
lhos, que já alcançamos pelo novo nas­
cimento: ela abrange todos os privilégi­
os e responsabilidades que pertencem 
àqueles que Deus reconheceu como seus 
filhos, nascidos livres e conscientes. Éuma 
posição que recebemos de Cristo, nos­
so Redentor, através da fé (Gl 3-36; 4.5); 
da qual nos apropriamos na prática através 
da obediência à orientação do Espírito 
Santo (Rm 8.14 e seguintes; Gl 4.6 e se­
guintes); à qual será concedido total e 
universal reconhecimento por ocasião do 
segundo advento de Cristo, pois o dia 
em que o Filho de Deus for revelado será 
também o dia da revelação dos filhos de 
Deus (Rm 8.19). E quando esse dia ama­
nhecer, Paulo nos assegura que toda a 
criação participará dessa alegria.
Pelo fato da filiação adotiva ser o resul­
tado da vontade benevolente de Deus 
realizada através de Cristo, redundará em 
“louvor e glória da sua graça” (1.6). A res­
peito dessa cláusula, Max Turner (1226) 
afirma com toda sua competência: “E porque 
já somos unidos a Cristo através do Espí­
rito Santo, essa graça, inclusive a filiação, 
já pode ser considerada como livremente 
concedida a nós: desde que isso seja qua­
lificado pela assertiva. ‘Naquele que Ele ama’ 
(isto é, Cristo; cf. Mc 1.11; 9-7; Cl 1.13)”.
2.2 A Preeminência de Cristo 
na Realização da 
Redenção (1.7-12)
Essa segunda estrofe do hino teoló­
gico de Paulo oferece a exaltação que, 
através da vida e morte de seu amado 
Filho, Deus Pai revelou em sua glorio­
sa graça (1.6-8; cf. Jo 1.14, 17), e efe­
tuou em seu propósito de redimir um 
povo para si mesmo (Ef 1.7; cf. 1 Pe 1.18- 
21; 2.9,10). A provisão de Deus para a 
redenção através de Cristo cobre todo 
o espectro das necessidades humanas
1201
EFÉSIOS 1
— perdão, libertação, reconciliação, paz, 
amor, uma nova vida, sabedoria, com­
preensão, participação, aceitação, ordem, 
segurança, esperança e vitória na luta 
contra Satanás e sua forças.
2.2.1. A Redenção através de seu 
Sangue (1.7,8). A palavra “redenção”
Capolytrosis) ocorre três vezes em Efésios 
(1.7,14; 4.30). No grego clássico ela sig­
nifica “libertar mediante resgate e se aplica 
a prisioneiros de guerra, escravos e cri­
minosos condenados à morte” (TDNT, 4.351- 
52). Provavelmente, a libertação de Isra­
el do Egito serviu como protótipo para Paulo 
quando usou essa palavra, com o signifi­
cado de emancipação da escravidão e da 
servidão ao opressor, e da restauração à 
plena liberdade como povo de Deus. Para 
o Israel espiritual (isto é, a Igreja) reden­
ção inclui emancipação da culpa, dos 
castigos e do poder do pecado (Jo 8.34; 
R m 7.l4; 1 Co 7.23; Gl 3.13) e a restaura­
ção à plena liberdade como filhos de Deus 
(Jo 8.36; Gl 5.1) (Hendriksen 83).
Paulo usa a palavra apolytrosis no sentido 
de libeitação com um preço— exorbitante 
nesse caso, isto é, o “sangue” de Cristo 
(uma referência direta à morte sacrificial 
de Cristo na cruz como um Cordeiro 
inocente e imaculado). “Seu sangue” lembra 
o cordeiro pascal do Egito, cujo sangue 
foi espargido nas casas dos hebreus a fim 
de que a morte e o julgamento de Deus 
pudessem poupá-los e que o sangue pu­
desse libertá-los da escravidão.
“A redenção pelo seu sangue” alcan­
ça para nós o perdão de [nossos] peca­
dos (1.7b). A palavra “absolvição” ou “per­
dão” (aphesis) se origina do verbo aphiemi, 
istoé, “mandar embora”. Salmos 103.12 
nos traz uma análise perfeita sobre a 
absolvição: “Quanto está longe o Ori­
ente do Ocidente, assim afasta de nós 
as nossas transgressões”. Deus perdoa 
nossos pecados através de nossa fé em 
Cristo, não porque os considere levia­
namente, mas devido à morte expiatória 
de seu Filho em nosso lugar e a nosso 
favor. Sua absolvição não é, de forma 
alguma, medida com parcimônia; pelo 
contrário, é concedida “segundo as ri­
quezas da sua graça” (Ef 1.7c) — uma
expressão característica de Paulo (cf. Rm 
2.4; 9.23; 11.33; 2 Co 8.9; Cl 1.27; 2.2). 
A graça é infinitamente mais valiosa e 
preciosa do que qualquer riqueza tan­
gível. Em Efésios, Paulo escreve seis vezes 
a respeito das riquezas de Deus, de sua 
graça, misericórdia e glória (1.18; 2.4, 
7; 3.8, 16).
O verso 8 leva essa mensagem ainda 
mais adiante dizendo “que Ele tornou 
abundante para conosco” sua graça para 
nosso perdão. Isso exprime a grandiosa 
generosidade da dádiva de Deus. Ele não 
preserva, nem distribui apenas o mínimo 
necessário; Ele concede com abundân­
cia. O caráter de prodigalidade da graça 
ainda é acompanhado por “toda sabedoria 
e prudência” (1.8b; cf. Is 11.2). Observe 
a oração de Paulo em Colossenses 1.9 para 
que nos tornemos repletos de “toda a 
sabedoria e inteligência espiritual”. Corno 
dádivas concedidas por Deus, “sabedo­
ria e inteligência [ou entendimento]” não 
podem ser atribuídas à inteligência que 
nos é inata ou às conquistas humanas no 
aprendizado. No entanto, elas podem ser 
c a d a vez m ais con qu istadas através da 
oração, da dedicação à leitura da Palavra 
e à comunhão com o Espírito de Deus. 
Robinson (30) faz uma distinção entre 
“sabedoria” e “inteligência [ou entendi­
mento]”. “Sabedoria” vê o âmago da questão 
como ela realmente é; “inteligência [ou 
entendimento]” está relacionada com 
discernimento ou prudência na conduta 
correta, isto é, uma “compreensão que leva 
a agir corretamente”.
2.2.2. A Redenção sob uma Autori­
dade— ouCabeça(1.9-12). Paulo ago­
ra nos apresenta uma nova característica 
da obra amorosa de Deus em relação à nossa 
absolvição e redenção. Ele nos fez conhecer 
“o mistério da sua vontade” (1.9). Assim 
como as características em 1.3-8, o foco está 
na obra do Pai e no que fez em nosso be­
nefício “no amado” (1.6), isto é, Cristo Je ­
sus, que é o supremo objeto de seu amor 
(cf. Mc 1.11; 9.7; Cl 1.13).
A palavra “mistério” (mysterion) ocorre 
periodicamente em Efésios (3; 3, 4, 6, 9; 
5.32; 6.19). Paulo usa essa palavra quan­
do se refere a alguma coisa no propósito
1202
EFÉSIOS 1
de Deus que estava anteriorm ente escon­
dida ou mantida em segredo, “alguma coisa 
impossível de ser descoberta pela mente 
humana” (W. G. M. Martin) e “demasia­
do maravilhosa para ser totalmente en­
tendida” (Max Turner). Mas agora esse 
segredo foi desvendado (cf. Rm 16.25,26). 
Na literatura apocalíptica judaica intertes- 
tamentária e nos escritos de Qumran, a 
palavra “mistério” foi usada para o plano 
secreto de Deus que seria revelado ao final 
da história. Por outro lado, Paulo enfatiza 
que a descoberta do mistério já havia 
ocorrido na revelação de Cristo, portan­
to, não precisamos esperar pelos acon­
tecimentos que irão concluirnossa era para 
conhecer a estratégia da vontade de Deus 
(TDNT, 4.819-22).
Ás vezes, Paulo usa mysterion quan­
do se refere a todo o escopo e a toda a 
esfera do propósito redentor de Deus em 
Cristo (Rm 16.25; 1 Co 2.7; Ef 1.9,10; 6.19; 
Cl 1.26; 1 Tm 3-9, 16); e às vezes ele serefere a um aspecto particular do propó­
sito de Deus, como por exemplo, a inclusão 
dos gentios no plano da redenção (Rm
11.25; Ef 3-3-9), no instante da transfor­
mação física em espiritual dos corpos dos 
crentes ainda vivos por ocasião da Segunda 
Vinda de Cristo (1 Co 15.52) ou ainda a 
união sagrada entre Cristo e a Igreja como 
seu corpo (Ef 5.32).
Para o homem natural, ainda ignoran­
te da revelação de Deus através de Cristo 
e cias Escrituras, os propósitos divinos para 
a história da humanidade ainda perma­
necem um mistério; e a vida é desprovi­
da de sentido. Para aqueles que estão 
“entenebrecidos no entendimento, sepa­
rados da vida de Deus” (Ef 4.18), a vida é 
(como Shakespeare fez com que Macbeth 
a descrevesse) “uma história contada por 
um tolo, cheia de som e movimento, mas 
que não tem qualquer significado” (Macbeth, 
Ato V, Cena V).
Nem mesmo a religião pode ser con­
siderada como a resposta. Falando de um 
modo geral, religião quer dizer pessoas 
tentando encontrar a Deus e estar bem 
com Ele através de seus próprios esfor­
ços. Redenção, por outro lado, é inteira­
mente o resultado da iniciativa de Deus.
Ele decidiu revelar a si próprio e seu supremo 
propósito à sua criação, àqueles que re­
ceberem a revelação de seu Filho. Como
1.9 indica, a obra benevolente da reden­
ção divina na encarnação de Cristo foi o 
resultado da livre determinação de Deus 
e em conformidade com as riquezas de 
sua graça. Usando outras palavras, a re­
denção não foi o resultado de qualquer 
pressão externa, mas a representação 
exterior do próprio “propósito benevo­
lente” de Deus em Cristo (Westcott, 20).
Deus se propôs terminar a redenção 
“na dispensação da plenitude dos tempos”
(1.10). A palavra grega para “tempos” é 
kairos, uma expressão que está relacio­
nada com épocas ou com as grandes eras 
da vida. Markus Barth (1.128) afirma que 
a frase “a plenitude dos tempos” (tradu­
ção literal de Ef 1.10) traz consigo “a idéia 
de períodos consecutivos da história que 
cleverão ser completados e coroados por 
uma era que irá suplantar todos os perí­
odos anteriores". Como Paulo menciona 
em outra passagem, Deus enviou seu Filho 
ao mundo na “plenitude dos tempos” (Gl 
4.4). Da mesma forma, quando o tempo 
tiver alcançado sua plenitude, Deus com­
pletará seu plano de redenção enviando 
seu Filho uma segunda vez.
O objetivo, ou o coroamento do pro­
pósito redentor de Deus em Cristo, será 
“reunir todas as coisas no céu e na terra 
sob uma única autoridade, a de Cristo”. A 
expressão “todas as coisas” inclui tanto a 
criação terrena quanto a celestial. O pro­
pósito de Deus foi colocado em ação quando, 
através de Cristo, “todas as coisas foram 
feitas” (Jo 1.3). Deus não só criou “todas 
as coisas, no céu e na terra”, mas também 
“todas as coisas foram criadas... p a r a Ele” 
(Cl 1.16). Paulo acrescenta que em Cristo, 
a cabeça da Igreja, Deus deu início ao seu 
plano de recuperar o universo para si (Cl 
1.18-20). Na Epístola aos Romanos, Paulo 
também menciona esse tema quando diz 
que, por causa do pecado, toda a criação 
tomou-se sujeita à discórdia e ao sofrimento, 
mas que no dia da consumação da reden­
ção esta “será libertada da servidão da 
coraipção, para a liberdade da glória dos 
filhos cie Deus” (Rm 8.21).
1203
EFÉSIOS 1
A ruptura da união e da harmonia da 
criação, como conseqüência da transgressão 
de Adão, será ao final reparada e harmo­
nizada através de Cristo. Assim, Cristojesus 
não é simplesmente o Messias de Israel, 
nem a designação “Salvador do mundo” 
é o bastante para Ele. “Na plenitude dos 
tempos” Cristo será “o Salvador do uni­
verso” e toda discórdia cessará. A união 
e a conformidade, pelas quais todos os 
seres criados por Deus, no céu e na terra, 
tanto aspiram, finalmente se tornarão 
realidade sob a autoridade do Senhor Jesus 
Cristo. “Cristo já é a cabeça de seu corpo, 
a Igreja, porém um dia ‘todas as coisas’ 
reconhecerão sua autoridade” (Stott, 42).
Essa expectativa gloriosa da redenção 
para todo o universo tem levado muitos 
teólogos a concluírem que a Bíblia ensi­
na o “universalismo”, isto é, a noção de 
que, ao final, tudo e todos serão salvos. 
Consideram que, em algum ponto á a eter­
n idade, todos os impenitentes serão le­
vados à penitência e que até Satanás, com 
todo seu reino demoníaco, será reconci­
liado com Deus, de forma que literalmente 
“todas as coisas" criadas serão redimidas 
e reunidas sob o governo de uma única 
autoridade: Cristo. No entanto, Paulo fala 
sobre “todas as coisas” reunidas sendo 
colocadas sob a autoridade de Cristo, não 
em algum distante ponto da eternidade, 
depois que o lago de fogo tiver termina­
do sua tarefa temporal de alcançar a pe­
nitência universal (como alguns univer- 
salistas acreditam), mas na Segunda Vinda 
de Cristo (“a plenitude dos tempos”) , quando 
o Anticristo e o falso profeta, Satanás e 
seus anjos, e todos os pecadores e iníquos 
não arrependidos serão lançados no lago 
de fogo para sofrerem a separação de Deus 
“para todo o sempre” (Ap 20.10,15; 21.8).
Então, quem é, ou o que são “todas as 
coisas no céu e na terra” que serão reuni­
das sob a autoridade de Cristo no dia fi­
nal da redenção? Com toda eloqüência, 
John Stott (44) responde a essa questão 
da seguinte maneira:
Certamente elas incluem [todos] os 
cristãos vivos e mortos [incluindo os que 
foram remidos do Antigo Testamento],
a Igreja na terra e a Igreja no céu. Isto é, 
todos que estiverem agora “em Cristo” 
(verso 1), e que “em Cristo” receberam 
o perdão (verso 3), a eleição (verso 4), 
a adoção (verso 5), a graça (verso 6), a 
redenção ou o perdão (verso 7) estarão 
um dia perfeitamente reunidos “nEle” 
(verso 10). Sem dúvida, os anjos tam­
bém estão incluídos (cf. 3-10,15). Porém, 
“todas as coisas” (tapanta) normalmente 
significa o universo, que Cristo criou e 
sustém. Portanto, parece que Paulo está 
novamente se referindo à renovação cós­
mica, à regeneração do universo, à li­
bertação da criação sofredora, sobre a 
qual já havia escrito em Romanos. O plano 
de Deus é que “todas das coisas” que 
foram criadas através de Cristo e para 
Cristo e que estão mantidas em Cristo, 
sejam finalmente reunidas sob Cristo e 
submissas à sua autoridade, pois o Novo 
Testamento declara que Ele é “o herdeiro 
de todas as coisas”. Dessa forma, o ver­
so 10 é traduzido na NEB da seguinte 
maneira: “Que o universo possa ser 
conduzido à unidade em Cristo” e que 
J. B. Lightfoot escreve a respeito de “toda 
a harmonia do universo que não mais 
conterá elementos estranhos e discor­
dantes, mas no qual todas as partes 
encontrarão seu centro e vínculo de união 
em Cristo”. Na plenitude dos tempos, 
as duas criações de Deus, todo o seu 
universo e toda a sua Igreja estarão 
unificados sob o Cristo cósmico, que terá 
suprema autoridade sobre ambos.
No entanto, embora em 1.10 Paulo tenha 
subido até as regiões celestiais para ob­
ter uma rápida visão da futura reconcili­
ação cósmica, essa reconciliação que ele 
en fa tiza ao longo de Efésios é aquela em 
que grupos divididos de povos (tais como 
judeus e gentios) serão conjuntamente 
reconciliados através da cruz (por exem­
plo, 2.16) a fim de dar origem a um único 
corpo de Cristo, a Igreja, “como o primeiro 
estágio da unificação de um universo 
dividido” (Bruce, 1984, 26l).
A NIV começa a passagem em 1.11 com 
as palavras “Nele... fomos escolhidos”. O 
termos “escolhidos” traz consigo o signi­
1204
EFÉSIOS 1
ficado de “fomos escolhidos como uma 
porção de Deus” (Robinson, 146) ou como 
a própria herança de Deus (cf. 1.18). Entre 
todas as nações do período do Antigo 
Testamento, Deus considerava Israel como 
sua propriedade ou porção escolhida (Dt
32.8,9). Da mesma forma, sob a nova ali­
ança divina aqueles que estão com Cris­
to se tornaram agora o novo Israel de Deus, 
a “geração eleita, o sacerdócio real, a nação 
santa, o povo adquirido... vós que, em outro 
tempo, não éreis povo, mas, agora, sois 
povo de Deus” (1 Pe 2.9,10; cf. Êx 19.6). 
Tanto Paulo como Pedro sereferem à Igreja, 
inclusive aos gentios convertidos, usan­
do as mesmas palavras com que descre­
veram o especial privilégio de Israel sob 
a antiga aliança.
Paulo vai mais longe ao afirmar três 
verdades importantes a respeito da Igre­
ja como herança de Deus:
1) A herança de Deus não foi um mero aci­
dente da história; ela foi predestinada por 
Deus de acordo com seu plano (1.11b).
2) O que Deus projetou foi a garantia de sua 
realização, “conforme o propósito daquEle 
que faz todas as coisas, segundo o conse­
lho da sua vontade” (1.11c). Aqui, a ênfa­
se na predestinação (e em 1.5) não anula 
“o verdadeiro arbítrio humano e sua res­
ponsabilidade, como fica bem claro nos 
apelos feitos no restante da carta, mas nos 
deixa seguros do envolvente poder sobe­
rano de Deus e de seus propósitos dirigi­
dos à obra no crente” (Turner, 1226).
3) Deus escolheu a Igreja como uma porção 
de si a fim de que pudéssemos existir “para 
louvor da sua glória” (1.12). Esse refrão, 
ao final da segunda estrofe do hino de louvor 
de Paulo (cf. também 1.6,14) enfatiza que 
o propósito, e a mais importante conquista 
do povo remido de Deus, é o “louvor da 
sua glória”. Não apenas nossa adoração 
verbal, mas o próprio testemunho de nossas 
vidas, diante de um mundo descrente, 
manifesta tal louvor (cf. 2 .1-10 , 19-22; 3-9- 
21; 4.1-6.20).
Em 1.12, o pronome “nós” refere-se es­
pecificamente àqueles que foram os pri­
meiros a ter esperança em Cristo. A maio­
ria dos comentadores acredita que essa ex­
pressão denota judeus cristãos, enquanto
“em quem também vós estais” (1.13a) denota 
os gentios convertidos que também vie­
ram se juntar à porção de Deus. Outros 
estudiosos acreditam que a freqüência de 
“nós” em 1.3-11 claramente se refira a to­
dos os crentes (não apenas os judeus), como 
acontece em 1.12. Porém, o entendimen­
to mais natural é que Paulo está aqui reu­
nindo, como um único povo, tanto a si próprio 
como representante dos judeus crentes (1.12) 
como seus leitores representando os gen­
tios convertidos (1.13; cf. 3.1; 4.17). Des­
sa forma, ele introduz pela primeira vez 
um importante tema em Efésios, isto é, que 
tanto os judeus como os gentios foram 
reconciliados em Cristo como “um mes­
mo corpo, e participantes da promessa em 
Cristo pelo evangelho” (3.6; cf. 2.11-22).
2.3- -A Preeminência de Cristo 
no Papel do Espírito Santo
(1 .1 3 ,1 4 )
O verso 13 registra o começo de uma 
transição dupla:
1) Ele indica, no início da terceira e última 
estrofe do hino de louvor de Paulo, a mudança 
de seu foco sobre a obra de Cristo de pro­
mover a redenção para o crente, para a obra 
do Espírito Santo no crente, em nome de 
Cristo. Antes de sua morte, Jesus prome­
teu aos doze discípulos que, quando o Espírito 
Santo chegasse como o Paracleto e o Es­
pírito da Verdade (Jo 14— 16), viria como 
o realizador da herança de Cristo (Jo 16.14,15). 
Paulo assegura aos verdadeiros crentes que 
eles foram “selados com o Espírito Santo 
da promessa” (Ef. 1.13c).
2) Paulo também transfere sua atenção dos 
judeus, que foram os primeiros a ter es­
perança em Cristo (1.12a), aos gentios e 
seu relacionamento com o evangelho 
(1.13a). A forma pela qual os gentios fo­
ram “incluídos em Cristo” e em sua redenção 
é a mesma para os judeus. Há muito sig­
nificado nos três verbos usados por Pau­
lo para descrever as etapas progressivas 
durante as quais foram “incluídos em Cristo”: 
ouvir, crer e ser selado: (a) Eles ouviram 
a palavra da verdade, o Evangelho de sua 
salvação (1.13b). Os gentios, que viviam 
em seu desesperado estado de desobe­
1205
EFÉSIOS 1
diência e pecado (2.1), na escuridão e na 
depravação (4.17-19), como objetos da justa 
ira de Deus (5.5,6,8), ouviram as boas novas 
da salvação divina em Cristo, que Paulo 
e os outros evangelistas haviam anunci­
ado, como uma graça a ser recebida pela 
fé (2.1-10). Esta proclamação era acom­
panhada pela obra do Espírito Santo no 
intuito de convencer os gentios de sua culpa 
em relação ao pecado, à justiça e ao juízo 
(Jo 16.8). (b) Eles creram (1.13c). Tendo 
ouvido a verdade pelo poder do Espírito 
Santo, os gentios colocaram sua fé (1.13b) 
no Senhor Jesus Cristo para serem salvos 
pela graça de Deus (2.5,8). (c) Os genti­
os “foram selados com o prometido Es­
pírito Santo” (1.13c, tradução literal).
2.3.1.0 Espírito Santo como o Selo 
de nossa Fé em Cristo (1.13). Essa é a 
primeira referência que aparece em Efésios 
a respeito do papel do Espírito Santo na 
redenção. Daí em diante, Paulo raramente 
deixa de mencionar os aspectos de sua 
atuação na vida cristã. O crente é marca­
do, ou selado, em Cristo com o selo do 
Espírito Santo da promessa. Aqui encon­
tramos duas questões: o “selo” e o Espí­
rito Santo da “promessa”:
1) Na antigüidade, o selo era um sinal de pro­
priedade ou de posse pessoal. Concedendo 
o Espírito Santo como um selo, Deus nos 
marca em Cristo, como aqueles que auten­
ticamente lhe pertencem (cf. 2 Co 1.22). 
No período do Novo Testamento aplica­
va-se cera quente em cartas, contratos e 
documentos oficiais, onde o signatário 
comprimia sua identificação pessoal. Bruce 
(1984, 2Ó5) afirma que, “por conceder o 
Espírito Santo aos crentes, Deus os assi­
nala ou os ‘sela’ como sua propriedade 
pessoal”. Portanto, temos provas de que 
Deus nos adotou como filhos e que nossa 
redenção será verdadeira quando o Espí­
rito Santo morar em nós como o Espírito 
vivificador de Cristo (Rm 8.9), testemunhar 
que Deus é nosso Pai (8.15) e produzir em 
nós o fruto do verdadeiro relacionamen­
to com Ele (Gl 5.22,23).
2) A designação “prometido”, referindo-se ao 
dom do Espírito, como aparece em Atos
2, está relacionada principalmente à pro­
messa de Joel 2.28,29, tal como foi inter­
pretada e aplicada por Pedro no livro de 
Atos, e no restante do Novo Testamento. 
Quando Paulo empregou essa expressão 
em Efésios, quis dizer que o Espírito San­
to virá para transmitir “sabedoria e reve­
lação”, a fim de podermos conhecer me­
lhor a Deus e sermos informados a respeito 
das implicações de nossa vida “em Cris­
to” (1.17-20), para fortalecer nosso ser interior 
e revelar o amor de Cristo (3.16-19), para 
estabelecer a união entre o povo de Deus 
como o primeiro passo em direção à uni­
dade cósmica (4.2-4), para inspirar uma vida 
santificada (4.30) e cheia de adoração no 
Espírito (5.18-20) e para tomar as orações 
realmente eficazes (6.18-20).
2.3.2.0 Espírito Santo como a Pri- 
meiraParte de nossaHerançaem Cristo
(1.14). O papel do “Espírito Santo da pro­
messa” mencionado acima identifica os 
crentes como o autêntico povo de Deus. 
“Essas atividades do Espírito prenunciam, 
em forma e qualidade, o que Ele irá rea­
lizar mais completamente na nova cria­
ção (isto é, nos tempos vindouros) e as­
sim o Espírito Santo, com o qual Deus nos 
marca com seu selo de propriedade, também 
é muito apropriadamente chamado de ‘de­
pósito’, ‘penhor’, ‘garantia’ e até de ‘pri­
meira parte’ de nossaherança (cf. Rm8.23;
2 Co 1.22; 5.5)” (Turner, 1227). A palavra 
“depósito” (arrabon ) tem origem semítica 
e era usada nas transações comerciais. Ela 
significa um compromisso pelo qual um 
comprador entregava algo de valor ao 
vendedor como um depósito ou pagamento 
inicial para assegurar a transação até que 
o preço de compra fosse totalmente pago. 
O Espírito Santo é o “depósito” que ga­
rante a futura herança “daqueles que são 
propriedade de Deus” (1.14b). Em nossa 
era, o Espírito Santo nos é concedido pelo 
Pai, e acreditamos ser Ele o primeiro 
pagamento daquilo que iremos receber 
em sua total plenitude no dia da reden­
ção final (cf. 4.30).
Em 1.1-14, a palavra “herança” é em­
pregada de duas diferentes maneiras: para 
descrever aquilo que representa a porção 
ou herança de Deus em seu povo remi­
do (1.11; cf. v.18) e a eterna porção que 
Deus reservou para os “fiéis em Cristo Jesus”
1206
EFÉSIOS 1
(1.1,14). A plenitude da redenção e de nossa 
herança, como povo de Deus — da qual 
a presença do Espírito Santo na Igreja e 
no crente será em breveo “depósito” de 
Deus (NIV), o “penhor” (NASB, NRSV), 
“a garantia” (NJKV) ou “o valioso” (KJV)
— espera pela total revelação de Cristo e 
dos filhos de Deus em sua Segunda Vin­
da (Rm 8.23). Nesse dia de redenção fi­
nal, todos os que foram escolhidos e 
adotados como filhos e filhas em Cristo, 
que foram redimidos através de seu san­
gue e marcados com o selo do prometi­
do Espírito Santo, serão verdadeiramen­
te “para o louvor da sua glória” (1.14c).
Esse terceiro coro da doxologia do hino 
relembra o destino para o qual Israel havia 
sido convocado e que não se realizou, isto 
é, “para me serem por povo, e por nome, 
e por louvor, e por glória; mas não de­
ram ouvidos" (Jr 13-11). Esse destino tor­
nar-se á totalmente realidade quando Cristo 
apresentar diante de si mesmo uma “igreja 
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa 
semelhante, mas santa e irrepreensível” 
(Ef 5.27), tendo sido purificada “com a 
lavagem da água, pela palavra” (5.26).
3. A Oração Apostólica pelo Esclare­
cimento Espiritual dos Crentes 
(1.15-23)
3-1. O Contexto da Oração 
Apostólica de Paulo 
(1.15-17a)
Será muito importante observar o re­
lacionamento entre 1.3-14 e 1.15-23. O 
primeiro representa um profundo hino de 
louvor pelas bênçãos redentoras de Deus 
em Cristo; o último é uma o ra çã o d e in­
tercessão para que os olhos espirituais dos 
crentes se abram para, através da experi­
ência, alcançarem a compreensão da ple­
nitude dessas bênçãos. Dessa forma, Paulo 
faz a junção do louvor com a oração, da 
adoração com a intercessão, como dois 
componentes necessários ao verdadeiro 
conhecimento de Deus.
Alguns crentes são dedicados ao lou­
vor, porém são complacentes em relação 
àoração. Eles amam adorar a Deus e afirmam 
que todas as bênçãos espirituais já lhes 
pertencem, porém mostram pequeno anseio 
espiritual em conhecê-lo melhor ou em
0 Teatro, em Éfeso, foi o local da rebelião descrita em Atos 19.23-41. Paulo havia pregado contra a deu­
sa Artemis. Um artesão que trabalhava com prata, receoso de perder seu negócio com a venda das ima­
gens da deusa, convocou os outros artesãos para, em conjunto, deterem a Paulo. Os homens gritavam 
furiosos: “Grande é a Diana dos efésios!” Capturaram os companheiros de viagem de Paulo e dirigiram- 
se rapidamente para o Teatro. Lá chegando, o escrivão da cidade apelou à multidão, dizendo que quais­
quer acusações deveriam ser resolvidas nos tribunais e, em seguida, dispersou a multidão.
1207
EFÉSIOS 1
interceder por uma maior revelação do 
propósito de Deus e de seu poder para a 
Igreja. Outros crentes oram diligentemente 
por maiores bênçãos espirituais, mas 
parecem se esquecer que Deus já os aben­
çoou no reino celestial com todas as bênçãos 
espirituais em Cristo. Com seu exemplo 
pessoal, nessa carta Paulo resiste à tal 
polarização fazendo a junção do louvor 
com a oração. Ele louva profundamente 
a Deus porque, em Cristo, todas as bên­
çãos espirituais já nos foram concedidas, 
mas ao mesmo tempo ora fervorosamente 
para que o Espírito de sabedoria e reve­
lação possa capacitar os crentes e permi­
tir-lhes conhecer a plenitude daquilo que 
lhes pertence em Cristo.
O que fez com que Paulo se transpor­
tasse do louvor a Deus para a oração pelos 
seus leitores? A expressão “Pelo que” (1.15) 
está relacionada a alguma informação que 
havia recebido a respeito deles. Embora 
os versos 1.3-14 tivessem sido escritos com 
termos mais contemplativos, ele agora se 
torna mais pessoal e relacionai com seus 
leitores: “Pelo que, ouvindo eu também 
a fé que entre vós há no Senhor Jesus e a 
vossa caridade para com todos os santos, 
não cesso de dar graças a Deus por vós, 
lembrando-me de vós nas minhas orações” 
(1.15-16). Assim que notícias distantes, a 
respeito de sua fé e amor, chegaram a Paulo, 
ele encheu-se de alegria e gratidão. Mui­
tas vezes, Paulo interliga a fé e o amor em 
sua equação de vida cristã (cf. Gl 5.6).
Foulkes (59) observa dois aspectos 
característicos na vida de oração de Pau­
lo, que ocorrem no verso 16:
1) É persistente: “não cesso de dar graças a 
Deus por vós, lembrando-me de vós nas 
minhas orações”. Paulo praticava o que 
havia pregado quando exortava seus re- 
cém-convertidos de Tessalônica a “orar 
sem cessar” (1 Ts 5.17; cf. Rm 12.12; Ef
6.18; Cl 4.2).
2) É acompanhada pela gratidão (cf. Ef 5.20). 
Em outras partes de suas cartas, Paulo ensinou 
que a gratidão deve ser sempre acompa­
nhada pela intercessão (Fp 4.6; Cl 3.15-17; 
4.2; 1 Ts 5.18). Phillips faz uma paráfrase 
de Paulo: “Continuamente agradeço a Deus 
por vós e nunca deixo de orar por vós”.
Nesse contexto, a frase “lembrando-me 
de vós” significa “pedindo em seu nome”; 
a expressão literal “mencionando-vos” 
sugere que em sua intercessão, Paulo trouxe 
realmente seus leitores à presença de Deus, 
mencionando seus nomes. Com certeza, 
o objetivo de sua oração em 1.17 é o de 
uma séria solicitação, e não uma questão 
de recordação. Quando se considera a res­
ponsabilidade que Paulo carregava em seu 
coração por todas as igrejas, e em alguns 
casos por convertidos que nunca havia 
conhecido, pode-se apenas exclamar com 
Bruce(196l, 38). “Que intercessor ele deve 
ter sido!”
Os fundamentos dafé inabalável de Paulo, 
e de sua confiança na oração, residem na 
expressão: “o Deus de nosso Senhor Je ­
sus Cristo, o Pai da glória” (1.17 a). A pri­
meira frase refere-se à certeza de que: “Se 
Deus é por nós... Aquele que nem mes­
mo a seu próprio Filho poupou, antes, o 
entregou por todos nós, como nos não 
dará também com ele todas as coisas?” (Rm 
8.31,32). A segunda frase (tradução lite­
ral “o Pai da glória”) se refere à perfeição 
da Paternidade de Deus (cf. Ef 3-15). Se 
nós, como pais imperfeitos que somos, 
sabemos como conceder bons presentes 
a nossos filhos, diz Jesus, “quanto mais 
dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles 
que lho pedirem?” (Lc 11.13) Paulo con­
tinua a orar para que seus leitores pos­
sam receber plenamente o ministério da 
revelação do Espírito Santo.
3.2. O Foco da Oração 
Apostólica de Paulo 
(1.17b-19)
A essência da oração apostólica de Paulo 
está personificada na frase duplamente 
repetida “para que saibais” (1.17,18). Saber 
o quê? Conhecer melhor a Deus e sua 
maneira de agir. Embora em outras pas­
sagens as orações de Paulo muitas vezes 
se estendam de forma mais abrangente, 
elas tipicamente incluem o âmago de sua 
petição: “poderdes perfeitamente compre­
ender... qual seja a largura, e o compri­
mento, e a altura, e a profundidade... e 
conhecer...” (3.18,19a); “não cessamos de
1208
EFÉSIOS 1
orar por vós e de pedir que sejais cheios 
do conhecimento da sua vontade, em toda 
a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl
1.9); “que a vossa caridade aumente mais 
e mais em ciência e em todo o conheci­
mento” (Fp 1.9).
O conhecimento pelo qual Paulo ora 
com tanta diligência não é apenas um 
conhecimento intelectual “a respeito de 
Deus”, porém a forma mais vital de todo 
o conhecimento e a forma mais elevada 
de toda a compreensão: conhecer o pró­
prio Deus e compreender sua maneira de 
agir. Mas como poderia um finito ser humano 
conhecer e compreender o infinito? As 
mentes mais brilhantes não conseguem 
conhecer e compreender a Deus. Isso seria 
impossível sem os fatores envolvidos na 
dupla solicitação de Paulo:
1) para que Deus “vos dê em seu conheci­
mento o espírito de sabedoria e de reve­
lação” (1.17), e
2) “tendo iluminados os olhos do vosso en­
tendimento” (1.18).
No verso 17, o “Espírito” (pneum a) não 
temnenhum artigo definido na língua grega. 
Robinson (39) observa: “Com o artigo [“O”] 
a palavra muitas vezes indica pessoalmente 
o Espírito Santo; e, sem ele, pode indi­
car uma manifestação especial ou a con­
cessão do Espírito Santo”. Assim sendo, 
“espírito” não está em letras maiúsculas 
na maioria das traduções (KJV, NKJV, NASB, 
RSV, NRSV). No entanto, como afirma F. 
F. Bruce (1984, 269), “um espírito de sa­
bedoria e de revelação somente pode­
ria ser concedido através dEle, que é pes­
soalmenteo Espírito da sabedoria e da 
revelação”. Dessa forma, a tradução NIV 
está mais de acordo com a intenção de 
Paulo e com a profecia de Isaías: “E re­
pousará sobre ele o Espírito do Senhor, 
e o Espírito de sabedoria e de inteligên­
cia, e o Espírito de conselho e de forta­
leza, e o Espírito de conhecimento e de 
temor do Senhor” (Is 11.2).
Na realidade, Paulo está pedindo que 
o mesmo ministério do Espírito Santo que 
permanece emjesus desça sobre os crentes, 
concedendo “sabedoria e revelação”. O 
Espírito Santo desempenha um papel 
fundamental na resposta da oração de Paulo
a favor dos efésios, por ser o sujeito do 
verbo “dar”, e irá capacitar os crentes a 
conhecer “melhor” a Deus e a seu Filho. 
Observe que a finalidade da oração não 
é fazer com que os pecadores conheçam 
a Deus in icialm en te (na salvação), mas 
que os santos conheçam a Deus in tim a­
m ente (na revelação).
E quem teria chegado a tal ápice de 
sua peregrinação espiritual que não ne­
cessitasse conhecer melhor a Deus? Não 
os convertidos de Paulo. E até o próprio 
Paulo, apesar de suas inúmeras revela­
ções de Cristo (At 22.14,17-21; 23.11; G1 
1.12), jamais alcançou este ponto em sua 
própria vida. Vinte e cinco anos ou mais 
haviam se passado desde a sua revela­
ção inicial, e do encontro com o Cristo 
ressuscitado na estrada de Damasco, que 
mudou sua vida, e Paulo ainda ansiava 
por mais: “para conhecê-lo, e a virtude 
da sua ressurreição, e a comunicação de 
suas aflições, sendo feito conforme a sua 
morte” (Fp 3-10).
A “sabedoria” (sop h ia , 1.17) não está 
relacionada ao talento ou à inteligência, 
mas é um dom concedido por Deus. É uma 
visão divina sobre a verdadeira natureza 
das coisas. Paulo a contrasta com a sabe­
doria do mundo (1 Co 1.19,20). Cristo é a 
“sabedoria de Deus” (1.24, 30), e à medi­
da que temos parte com Ele através do 
Espírito Santo, tomamo-nos espiritualmente 
sábios. “Encontram-se à nossa volta ho­
mens que sabem muitas coisas; porém 
homens com sabedoria espiritual são tão 
raros que valem muito mais do que seu 
peso em ouro” (Bruce, 1961, 39). A “re­
velação” (apokalypsis) é a manifestação 
do próprio Deus, ou de alguma realida­
de espiritual para nós, através do Espíri­
to Santo”. Paulo descreve essa atividade 
do Espírito Santo em 1 Coríntios 2.10,11:
Mas Deus no-las revelou pelo seu Es­
pírito; porque o Espírito penetra todas 
as coisas, ainda as profundezas de Deus. 
Porque qual dos homens sabe as coi­
sas do homem, senão o espírito do homem, 
que nele está? Assim também ninguém 
sabe as coisas de Deus, senão o Espíri­
to de Deus.
1209
EFÉSIOS 1
Ao nos transmitir a sabedoria e a re­
velação, o propósito de Deus era que 
pudéssemos “conhecê-lo melhor”. Existem 
duas palavras gregas para conhecimento: 
gnosis, que se refere ao conhecimento 
abstrato ou aos fatos objetivos a respeito 
de Deus; e epignosis, que se refere ao 
conhecimento do próprio Deus, expe­
rimentalmente e intimamente. Aqui, Paulo 
está usando essa última definição. “Se 
a teologia, isto é, o conhecimento a respeito 
de Deus, será impossível sem a revela­
ção divina, quanto mais o relacionamento 
com o próprio Deus, aquele epignosis, 
ao qual o apóstolo se refere aqui!” (Bruce, 
1961, 39)
O segundo fator na dupla petição de 
Paulo é “tendo iluminados os olhos do vosso 
entendimento” (Ef 1.18). Aqui, a palavra 
“entendimento” ou “coração” é, em par­
te, o sinônimo da mente, das emoções e 
da vontade e até mesmo do “espírito da 
mente”. Nossa visão interior tem neces­
sidade de ser iluminada pelo Espírito Santo 
com a compreensão espiritual, se quisermos 
conhecer a maneira de Deus agir e seu 
propósito eterno.
Paulo menciona três áreas específicas 
em sua oração apostólica onde o escla­
recimento espiritual se faz necessário:
1) Ele ora para ser esclarecido a respeito 
“da esperança da sua vocação” (1.18b). 
Esta esperança e esta chamada têm uma 
dimensão passada, presente e futura e 
está centrada em Cristo, “a esperança da 
glória”. A chamada começou com a ini­
ciativa de Deus na eleição, adoção, re­
denção e concessão do Espírito Santo (1.3- 
14). A dimensão presente da esperança 
e da chamada inclui o convite de Deus 
para ser conforme a imagem de seu Fi­
lho (Rm 8.29), “para que fôssemos san­
tos e irrepreensíveis diante dele” (Ef 1.4), 
para nos reunirmos aos outros membros 
de seu corpo em paz, para vivermos em 
harmoniosa comunhão e unidade (2.11- 
18; 4.2,3), para que andemos “como é digno 
da vocação com que fostes chamados”
(4.1) e para compartilharmos de seus 
sofrimentos e de sua glória (Rm 8.17; Fp
1.29). A futura realização da esperança 
será nossa participação na gloriosa res­
surreição de Cristo Jesus, quando o ve­
remos face a face, perfeitamente trans­
formados à sua imagem e para sempre 
glorificados com Ele. Nessa carta, Paulo 
descreve essa realização da esperança em 
termos comunitários (Ef 5.27).
2) Paulo ora para que possamos conhecer “as 
riquezas da glória da sua herança nos santos” 
(1.18c). Será que isso está se referindo à 
nossa herança, ou à herança de Deus? Seria 
a herança que Deus concederá aos santos 
nos tempos vindouros (como em 1.14)? Ou 
seria a herança que o próprio Deus rece­
be através dos santos (como foi mencio­
nado em 1.11)? Alguns intérpretes prefe­
rem acreditar na primeira hipótese, porém, 
a preposição “nos”, e o contexto de Efésios 
em geral indicam a última, isto é, os san­
tos constituem a herança de Deus. No Antigo 
Testamento, Israel era a porção de Deus; 
no Novo Testamento, Cristo e seu corpo 
(abrangendo os judeus e os gentios) re­
presentam a totalidade da herança de Deus: 
“É através dessa herança que Ele mostra­
rá a todo o universo as riquezas incalcu­
láveis de sua glória [cf. 3.10; também 1.20- 
23; 3-21]. Quase nada podemos entender 
do que deve representar para Deus ver seu 
propósito realizado, ver criaturas de sua 
propriedade, isto é, pecadores redimidos 
pela sua graça refletindo sua própria gló­
ria” (Bruce, 1961,40). Certamente nossos 
olhos espirituais necessitam de esclareci­
mento para compreender o valor inesti­
mável que Deus colocou nas pessoas re­
dimidas por Cristo como sua própria he­
rança.
3) A oração de Paulo é para que possamos 
conhecer, pela revelação e através da ex­
periência, a “sobreexcelente grandeza do 
seu poder sobre nós, os que cremos” 
(1.19a). “Sobreexcelente” ou “incompa­
rável” (hyperballon) é uma palavra que 
somente Paulo usou no Novo Testamento 
(cf. 2.7; 3-19) e reflete seu desejo, quase 
irrealizado, de manifestar através das 
palavras a inexprimível grandeza do poder 
de Deus. Por causa deste poder extre­
mo, e da limitação da linguagem huma­
na, não conseguimos perceber a plena 
revelação daquilo que Paulo procura 
transmitir a respeito do poder de Deus,
1210
EFÉSIOS 1
a não ser que nosso entendimento seja 
iluminado pelo Espírito Santo.
Em 1.19, Paulo acentua as limitações 
da linguagem humana para transmitir um 
pouco da magnitude do poder de Deus: 
“segundo a operação da força do seu poder”. 
Ele usa quatro palavras-chave para des­
crever o poder de Deus.
1) “Poder” (clynamis) é a palavra grega da qual 
se originou “dinâmico” ou “dínamo”; isso 
indica algo do sentido de impulsão da palavra: 
“Dynamis”representa o potencial do po­
der de Deus que, quando direcionado aos 
crentes, se assemelha ao “trabalho” da 
poderosa força de Deus.
2) “Trabalho” (energeia) é o termo do qual 
se originou a nossa expressão “energia” e 
significa um poder “energético” em ope­
ração.
3) Apalavra“poderosa”(totos)querdizer“poder 
como força magistral, poder demonstrado 
em ação” (Salmond, 276), poder que ven­
ce a resistência (como nos milagres de Cristo).
4) “Força” (ischys) se refere ao “poder ine­
rente”, tal como o poder do braço de um 
homem forte; poder que está disponível 
sempre que for necessário. Paulo acumu­
la sinônimo sobre sinônimo para indicar 
a plenitude do poder de Deus e a forma 
infinitamente real como esse poder foi 
colocado à nossa disposição, pois fazemos 
parte daqueles quecrêem. O restante da 
oração de Paulo está diretamente relacio­
nado a esse reino do “incomparavelmen­
te grande” poder de Deus.
3-3- A Exaltação, o Senhorio e a 
Autoridade de Cristo como 
Cabeça, como a Medida 
do Poder de Deus que Estã 
Disponível (1 .2 0 -2 3 )
Em 1.20-23, Paulo faz referência à três 
realidades em Cristo que demonstram, com 
maior evidência, a magnitude do grande 
poder de Deus: a ressurreição e ascensão 
de Cristo (1.20); a entronização de Cristo 
como Senhor “acima de todo principado, 
e poder, e potestade, e domínio” (1.21); 
e a nomeação de Cristo como a autorida­
de suprema para a Igreja (1.22,23).
1) Deus demonstrou seu dinâmico poder e
sua poderosa energia quando o ressusci­
tou “dos mortos” e o colocou à “sua direi­
ta nos céus” (1.20). Quando o Novo Tes­
tamento deseja enfatizara plenitude do amor 
de Deus por nós, indica a morte de Cristo 
(por exemplo, em Rm 5.8). Porém, quan­
do deseja demonstrar a realidade do po­
der de Deus indica a ressurreição de Cris­
to. Esse acontecimento não só confere aos 
crentes a esperança da ressurreição na vida 
futura (1 Co 15.20, 23) como também, em 
Cristo, leva-os a experimentar agora, através 
da fé, o poder do Deus que os eleva da 
morte espiritual para a novidade de vida 
(cf. Ef 2.4-5). Além disso, como Cristo foi 
elevado e assentou-se à mão direita de Deus, 
em um lugar de honra e de autoridade, o 
poder de Deus também “nos ressuscitou 
juntamente com ele, e nos fez assentar nos 
lugares celestiais, em Cristojesus” (2.6). 
Dessa forma, a “ressurreição e ascensão 
de Cristo expressam a medida do poder e 
da autoridade do Pai que foram colocados 
à nossa disposição” (Foulkes, 63).
2) Deus, o Pai, também demonstrou seu po­
der através do lugar para onde elevou Cristo
— para o trono, o lugar de maior honra e 
autoridade “acima de todo principado, e 
poder, e potestade, e domínio, e de todo 
nome que se nomeia” (1.21). Na adminis­
tração divina do universo existem diferentes 
níveis de autoridade, seja ela humana ou 
angelical. Quaisquer que sejam as formas 
de autoridade e de poderes governantes 
existentes no universo, através do poder 
de Deus Cristo foi entronizadcTcomo Se­
nhor dos reinos celestiais, muito acima de 
todos “não só neste século, mas também 
no vindouro” (1.21).
A exaltação de Cristo faz ecoar a promessa 
messiânica contida em Salmos 110.1, “Disse
o Senhor ao meu Senhor. Assenta-te à minha 
mão direita, até que ponha os teus inimi­
gos por escabelo dos teus pés”. Aqui se 
notam claramente as referências às fra­
ses de Salmos 110.1, como, por exemplo, 
a “mão direita” de Deus, Cristo ascendendo 
ao céu para “sentar-se” e Deus sujeitan­
do “todas as coisas a seus pés” (1.22), o 
que corresponde à expressão “por escabelo 
dos teus pés”. Dessa forma os “principa­
dos”, as “potestades”, os “príncipes das
1211
EFÉSIOS 2
trevas deste século”, as “hostes espiritu­
ais da maldade”, que mais tarde Paulo 
convoca os fiéis a enfrentar (6.10-12) estão 
“sob os pés de Cristo” (1.22) e também 
sob os nossos se estivermos assentados 
“nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” 
(2.6). Embora Satanás e seu exército de­
moníaco ainda não tivessem reconheci­
do a vitória de Cristo, sua exaltação como 
Senhor é a prova de que Ele reina com 
absoluta supremacia. Embora ainda não 
vejamos todas as coisas subjugadas a Ele, 
ainda assim vemos a Jesus “coroado de 
glória e de honra” (Hb 2.8,9). Sua auto­
ridade e poder serão totalmente mani­
festados no futuro (Sl 8.6; 1 Co 15.25-27; 
Hb 2.6-8).
3) O terceiro reino no qual o poder de Deus 
se apresenta como disponível ao seu povo 
está na autoridade de Cristo (1.22,23). Cristo 
foi nomeado como o soberano acima de 
todas as coisas, isto é, o chefe supremo 
da criação, a manifestação final do que 
nos espera no futuro (cf. 1.10). Ele é, atu­
almente, a “cabeça da igreja, que é o seu 
corpo”. Esse conceito da Igreja como o 
“corpo de Cristo” é exclusivo das cartas 
de Paulo, entre os demais escritos do Novo 
Testamento. Essa revelação teve início na 
vida de Paulo por ocasião de seu encon­
tro com Cristo ressuscitado na estrada de 
Damasco. “Eu sou Jesus, a quem tu per- 
segues” (At 9.5). Paulo estava perseguindo 
a Igreja, porém persegui-la era o mesmo 
que perseguir a Jesus, pois o corpo e a 
cabeça estão inseparavelmente unidos em 
um único ser.
Aqui Paulo não fala somente da Igreja 
como o corpo de Cristo (Ef 1.23; 4.4; cf.
1 Co 6.15; 12.12-21; Rm 12.4,5), mas tam­
bém a respeito de Cristo como cabeça 
da Igreja (o que está implícito em 1.10 
e explícito em 1.22,23; 4.15,16; 5.23; e 
também em Cl 1.18): “A relação orgâ­
nica entre a cabeça e o corpo sugere uma 
união vital entre Cristo e a Igreja, que 
participa de uma vida comum, que é a 
sua própria vida ressurreta comunicada 
a seu povo: “A igreja aqui mencionada 
é a Igreja universal e completa — ma­
nifestada visivelmente... nas congregações 
locais” (Bruce, 1984, 275).
A Igreja universal, isto é, o corpo de 
Cristo constituído por todos os verdadeiros 
crentes, é “a plenitude daquele que cumpre 
tudo em todos” (1.23). Não se consegue 
perceber aquilo que Paulo tinha em mente 
quando fez essa surpreendente afirma­
ção. A questão está centrada nas pala­
vras “a plenitude [pleroma] daquele que 
cumpre”. Gramaticalmente, várias pos­
sibilidades se apresentam como legítimas2. 
Será que p lero m a se refere à Igreja ou a 
Cristo? E quem é que “cumpre tudo”? Em 
certo sentido, a Igreja representa o total 
complemento de Cristo, assim como o 
corpo é o necessário complemento da 
cabeça na constituição de uma pessoa 
completa. A Igreja, seu corpo, representa 
o total complemento de Cristo que, sendo 
a divindade, “cumpre tudo” — isto é, o 
universo inteiro. E o próprio Cristo tam­
bém representa a “plenitude”; de acor­
do com Colossenses 2.9, a “plenitude” 
(p le ro m a ) da divindade reside em Cris­
to. Aqui, contudo, a plenitude de Cristo 
reside na Igreja. Assim como o p lerom a 
da divindade reside em Cristo sob a for­
ma de um corpo, da mesma maneira o 
p lero m a de Cristo reside na Igreja como 
seu corpo. Portanto, a Igreja é “um par­
ticipante de tudo que Ele possui e exis­
te para o propósito da continuação de 
sua obra” (Hanson, 126).
4. Os Resultados da Redenção em 
Cristo Jesus (2 .1 — 3.13)
Em 1.3-14, Paulo revela sua adoração e 
louvor pelo plano mestre de Deus sobre 
a redenção, tal como foi formulado pelo 
Pai na eternidade, tornado possível na 
história pelo Filho e aplicado pelo Espí­
rito Santo na vida dos crentes. Em 1.15- 
23, ele ora para que os crentes possam 
conhecer melhor a Deus, e para que te­
nham seus olhos espirituais iluminados 
para melhor entender o poder salvador 
de Deus, através de Cristo, que trabalha 
em sua vida e na Igreja. No capítulo 2, 
Paulo começa a desvendar os verdadei­
ros resultados da redenção e do poder 
da graça salvadora de Deus, através de 
Cristo, tanto para os judeus como para 
os gentios.
1212
EFÉSIOS 2
4 .1 . Cristo S a lv a os P e c a d o r e s 
d e s u a C o n d iç ã o 
I r r e m e d iá v e l (2 .1 -1 0 )
Como em 1.3-14 e em 1.15-23, o tre­
cho 2.1-10 se apresenta como uma única 
sentença no texto grego. Paulo inicia 
descrevendo o primitivo estado pecador 
dos gentios (2.1,2) e o dilema de toda a 
humanidade, inclusive dos judeus (2.3), 
em relação ao seu passado irrecuperável. 
Em seguida, mostra o enorme contraste 
com a graça salvadora de Deus, em Cris­
to Jesus, e a nova vida redimida que os 
crentes receberam de Cristo (2.4-10).
4.1.1. A Condição de Desespero da 
Humanidade Sem Cristo (2.1-3). Pau­
lo menciona cinco fatos trágicos que ca­
racterizam os seres humanos sem Cristo.
1) Sua vida está caracterizada pela morte es­
piritual (2.1). A morte espiritual é um es­
tado de separação de Deus, criado pelas 
“ofensas e pecados”. Com a frase “estan­
do vós”, (2.1) Paulo está se referindo aos 
leitores gentios, enquanto “todos nós” (2.3) 
inclui o próprio Paulo e todos os judeus. 
Em 2.1, o texto grego começa com uma 
frase no particípiopresente, “estando vós 
mortos”, que se completa com uma frase 
semelhante em 2.5 “estando nós ainda mor­
tos”, antecipando o sujeito e o verbo principais 
que ocorrem nos versos 4 e 5, “Deus... nos 
vivificou”. O tempo presente de “estando 
mortos” expressa um estado contínuo da 
existência antes de termos nos tomado vivos 
com Cristo. Uma existência longe de Cris­
to representa uma vida nos reinos do pe­
cado e da morte. Observe cuidadosamente 
que Paulo não está dizendo que a huma­
nidade sem Cristo irá morrer um dia, mas 
que já está morta, mesmo estando fisica­
mente viva (cf. 1 Tm 5.6). É uma existên­
cia vazia de vida espiritual e eterna, um 
reino dominado pelo espírito da morte e 
da sempre presente expectativa de uma 
morte eterna (cf. Ap 20.14,15).
As palavras “ofensas e pecados” (2.1) des­
crevem o horizonte da morte para o pe­
cador. A palavra “ofensas” (paraptomata) 
refere-se a tropeçar no pecado, o que é uni­
versalmente verdadeiro para toda a huma­
nidade pelo fato de ser descendente de Adão.
“Pecados” (hamartiai) é uma palavra mais 
comum no Novo Testamento e está rela­
cionada a “pecar como um hábito” ou ao 
“pecado como um poder”. De acordo com 
Eadie (119), “paraptomata, sob a imagem 
de ‘queda’, pode levar consigo uma alu­
são aos desejos da carne... enquanto 
hamartiai, sob a imagem de ‘errar o alvo’, 
pode designar mais os desejos da mente, 
os pecados de pensamentos e de idéias, 
de propósitos e inclinações”. É a partir desse 
pântano de pecado e de morte que Deus 
dá início à redenção, como obra de sua graça.
2) Aqueles que estão longe de Cristo seguem
“o curso deste mundo” (2.2). Essa frase se 
refere à maneira, caráter e influência de 
uma humanidade não regenerada duran­
te a presente era de pecado (cf. Gl 1.4; 1 
Jo 2.15-17). Se não agirmos de acordo com 
Cristo, estamos agindo de acordo com o 
mundo, e acompanhando o caráter que 
prevalece em nossa geração e a direção 
da maré do pecado que nos rodeia.
3) A humanidade não regenerada está sob o 
domínio do “príncipe das potestades do 
ar” (2.2b). Essa é uma referência óbvia a 
Satanás, que através da usurpação, reina 
como o deus de sua era. Em 2 Coríntios
4.4, Paulo afirma que Satanás como “deus 
deste século cegou os entendimentos dos 
incrédulos, para que não lhes resplande­
ça a luz do evangelho”. Assim sendo, os 
pecadores se encontram completamente 
embaraçados e cegos. Em Efésios 6.12 há 
referência a uma rede de maus espíritos 
imbuídos de autoridade e sob o controle 
de Satanás como seu soberano; sua esfe­
ra de atuação está descrita como “nos lu­
gares celestiais” (isto é, no reino espiritu­
al), o equivalente ao “reino do ar”. A esfe­
ra de atuação de Satanás está limitada, em 
contraste com a soberania universal de Deus. 
Embora essa esfera do reino e da autori­
dade de Satanás seja limitada e temporal, 
não deixa de ser também real e poderosa. 
O verso 2 descreve melhor Satanás como 
o “espírito que opera nos filhos da deso­
bediência” (a tradução literal, “filhos íhuioi] 
da desobediência”). Cada pessoa se encontra 
relacionada com Deus e fortalecida pelo 
seu poder (1.20), ou relacionada com o reino 
de Satanás e “energizada” por este (“ope­
1213
EFÉSIOS 2
ra” é a tradução da palavra grega energeo, 
que literalmente significa “com energia”). 
Em outras palavras, se Deus não é nosso 
Pai e não somos seus filhos e filhas por meio 
da adoção, então Satanás é nosso pai es­
piritual e somos os seus filhos por meio 
da rebelião. Satanás transmite energia às 
pessoas com propósitos pecadores porque 
“a desobediência, a resistência conscien­
te à vontade de Deus, deixa os homens 
expostos à ação de Satanás e de seu exér­
cito” (Westcott, 30).
4) Pessoas sem Cristo (judeus e também gentios) 
têm uma propensão a andar nos desejos 
da carne, fazendo a vontade da carne e dos 
pensamentos (2.3). Paulo confessa, e nis­
so inclui a si próprio, que a humanidade 
isenta da graça de Deus, em Cristo, sente- 
se inclinada a ceder à luxúria e aos dese­
jos de “nossa natureza pecadora” [no gre­
go, sarx, ou carne], de uma forma ou de 
outra. Em outra passagem, Paulo admite 
que a forma de sua própria indulgência antes 
da conversão estava ligada a,“toda a con- 
cupiscência” (Rm 7.8). A palavra sarx de­
nota a natureza humana, que tem sido 
universalmente corrompida pelo pecado; 
a vontade da carne e dos pensamentos”
(2.3) produz, inevitavelmente, caso não seja 
contida, pecados como “as obras da car­
ne” (Gl 5.19,20; cf. 1 Jo 2.16).
5) Todas as pessoas sem Cristo são “por na­
tureza, filhos da ira” (2.3d). Esse estado de 
coisas existe porque através de Adão “o 
pecado veio ao mundo” (Rm 5.12) e to­
dos os descendentes de Adão (judeus e 
também gentios) herdaram, em conseqü­
ência, essa natureza pecadora, com uma 
propensão ao pecado e a transformar-se 
em transgressores (3.9,10,23). É principal­
mente esse último fato que Paulo está 
analisando aqui. Ele se refere à ira de Deus, 
não porque desde nosso nascimento es­
tejamos sob essa condição, como descen­
dentes de Adão, mas porque “todos pe­
caram” (Rm 3-23). Assim, em Efésios 2.3, 
a expressão “filhos da ira” representa uma 
idéia paralela ao conceito de transgressores
(2.1) e de “filhos da desobediência” (2.2) 
(cf. Robinson, 49-51).
O ponto principal da exposição de Paulo,
em Romanos 1— 3, é que os judeus “reli­
giosos” estavam de tal forma sob a sen­
tença de pecado e da ira de Deus quanto 
os gentios pagãos. Tal é a devastação 
universal do pecado e da condição irre­
mediável da raça humana para a qual Cristo 
veio como Redentor. Nas palavras profé­
ticas de Isaías: “Eis que as trevas cobri­
ram a terra, e a escuridão, os povos” (Is 
60.2). Porém, contra essa situação a luz 
já se manifestou” (60.1,3).
4.1.2. A Salvação pela Graça, através 
da Fé em Cristo (2.4-10). A ação reden­
tora e cheia de amor de Deus é apresenta­
da nesta seção com forte contraste emrelação 
ao destino desesperado da humanidade 
pecadora sob a ira do mesmo Deus em 2.1-
3. Em termos empolgantes e impetuosos, 
Paulo faz o contraste da situação em que 
seus leitores estavam “antes” (2.3), sem Cristo, 
e aquela em que estão agora, em Cristo; 
aquilo que “todos nós” (2.3a) somos “por 
natureza” (2.3d) e aquilo que somos “pela 
graça” (2.5,8); a razão da ira de Deus (2.3) 
e a iniciativa do amor de Deus (2.4); a re­
alidade espiritual de que “estávamos mortos”
(2.1), mas que Deus “nos vivificou junta­
mente com Cristo” (2.5); o fato de estar­
mos irremediavelmente atolados na lama 
do pecado, como escravos de Satanás (2.2,3), 
mas que Deus “nos ressuscitou juntamente 
com ele, e nos fez assentar nos lugares 
celestiais, em Cristo Jesus” (2.6) em uma 
posição de honra e poder. Esses contras­
tes irão trazer glória a Deus “nos séculos 
vindouros” (2.7).
O verso 4 revela o grande valor que 
Deus atribui à humanidade pecadora. 
Estando nós ainda mortos em nossas trans­
gressões e pecados, Deus ainda assim nos 
amava e nos vivificou juntamente com 
Cristo. Ele nos observava em nossa morte 
(pessoas mortas não podem se levantar); 
por ser “riquíssimo em misericórdia” (2.4; 
cf. Êx 34.6; SI 103.8; Jn 4.2; Mq 7.18) e 
pelo seu muito (pollen ) amor com que 
nos amou (2.4). Ele “nos vivificou jun­
tamente com Cristo” (2.5). O adjetivo grego 
p o llen significa “muito” e não “grande”; 
e se refere à infinita abundância do amor 
de Deus, e não ao seu tamanho (cf. 3-17-
19). Dessa forma, Paulo corajosamente 
afirma nos versos 5 e 8 que “pela graça
1214
EFÉSIOS 2
sois salvos”. Nenhuma pessoa poderia, 
por esforço próprio, ou por seu mérito 
ou boas obras, esperar escapar da mor­
te do pecado (2.1), da armadilha do mundo, 
do Diabo, da carne (2.2,3), ou da ira de 
Deus (2.3). Ao contrário, somos salvos 
pela iniciativa de Deus, que na riqueza 
de sua misericórdia e na abundância de 
seu amor escolheu justificar-nos “gratui­
tamente pela sua graça, pela redenção 
que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24).
Em 2.4-7, três verbos formam o predicado 
composto dessa longa sentença: “nos 
vivificou” (2.5),“nos ressuscitou” (2.6) e 
“nos fez assentar” (2.6). O sujeito desses 
verbos é Deus; suas ações descrevem aquilo 
que Ele já fez, e o objeto direto de todos 
esses três verbos é o pronome plural “nós”. 
Aqui Paulo faz a ligação de nossa salva­
ção diretamente com o que Deus fez his­
toricamente através de Cristo. Os três verbos 
mencionados acima se referem, suces­
sivamente, a três eventos históricos da 
vida dejesus após sua morte na cruz: res­
surreição, ascensão e assentar-se à mão 
direita do Pai. Esses eventos da salvação 
representam o ponto central do evangelho.
Paulo adiciona o prefixo syn (signifi­
cando “em conjunto”) a esses três verbos, 
e dessa forma nos une a Cristo nesses 
eventos. Assim sendo, por causa da gra­
ça de Deus, participamos com Cristo desses 
momentos de triunfo sobre a morte e sobre 
todo o mal. O fato de que estando mor­
tos em pecados, e tendo sido por nature­
za filhos da ira de Deus, podermos ser 
vivificados ju n tam en te com Cristo, res­
suscitados juntam ente com Cristo e assen­
tados ao lado d e Cristo no reino celestial 
representa certamente uma inimaginável 
demonstração da misericórdia, do amor 
e da graça de Deus. A salvação aqui, como 
no capítulo 1, está na união com Cristo 
Jesus. Deus nos abençoou como seu povo 
redimido em Cristo (1.3) e “nos fez assentar 
nos lugares celestiais, em Cristojesus” (2.6). 
Como John Stott (81) observa: “Se estamos 
assentados com Cristo no céu, não pode 
existir qualquer dúvida de que estamos 
assentados sobre tronos”.
Isso não é somente um mero misticis­
mo: “Na verdade, em termos temporais,
vivemos na terra enquanto permanece­
mos em nossos corpos; porém, “em Cris­
to Jesus, estamos assentados com Cristo 
onde Ele está” (Bruce, 1961, 50). Essa lin­
guagem a respeito do reino espiritual testifica 
de “uma experiência viva, qüe Cristo nos 
concede: porumlado, uma nova vida (com 
um reconhecimento sensível da realida­
de de Deus e de seu amor por seu povo), 
e por outro, uma nova vitória (com o maligno 
cada vez mais subjugado sob nossos pés)” 
(Stott, 81). Estávamos mortos, mas agora 
nos tornamos vivos em Cristo; estávamos 
sob o domínio tenebroso da autoridade 
de Satanás, mas agora, em Cristo, fomos 
elevados triunfantes sobre o pecado e a 
morte; éramos escravos no cativeiro, mas 
agora fomos entronizados por Cristo no 
reino do céu. Em Cristo, a herança futura 
já começou no presente, como uma rea­
lidade gloriosa e segura, tornada possí­
vel pela presença do Espírito Santo, que 
habita dentro de cada um de nós (1.13,14).
O que levou Deus a proporcionar uma 
salvação tão grande aos pecadores? Pau­
lo utiliza quatro palavras (nessa ordem em 
grego): “misericórdia” de Deus (2.4), “amor”
(2.4), “graça” (2.5,8) e “benignidade” (2.7). 
Paulo atinge o clímax da compreensão 
reveladora quando acrescenta que Deus 
nos redimiu em Cristo “para mostrar nos 
séculos vindouros as abundantes rique­
zas da sua graça” (2.7) a todo o universo, 
e por toda a eternidade. Ao ressuscitar a 
Cristo dos mortos e ao exaltá-lo à sua mão 
direita, Deus Pai demonstrou a “sobreex­
celente [jhyperballori\ grandeza de seu poder” 
(1.19,20); ao nos elevar da morte espiri­
tual para compartilharmos o lugar de 
exaltação de Cristo no céu, Deus está 
mostrando as “abundantes [hyperbalton] 
riquezas da sua graça” (2.7) e continua­
rá a fazê-lo através de todas as eras na 
eternidade.
Em 2.8-10, um dos grandes resumos 
evangélicos do Novo Testamento, Paulo 
expressa o âmago de sua mensagem so­
bre a “graça”; a redenção, através da união 
com Cristo, nos liberta de uma vida de 
pecado e de morte, e nos permite parti­
cipar da vida de Cristo ressuscitado, que 
representa a graça de Deus precisamen­
1215
EFÉSIOS 2
te porque se origina totalmente dEle — 
de sua iniciativa, misericórdia, amor, bon­
dade e intervenção. Existem três palavras 
fundamentais no evangelho— “salvação”, 
“graça” e “fé”.
1) Salvação (do grego soteria) significa “li­
bertação”, e é uma palavra bastante abran­
gente, que envolve mais do que absol­
vição ou perdão. Aqui, Paulo usa essa 
palavra para se referir à libertação da morte 
pelo pecado (2.1), pelo curso deste mundo
(2.2), pelo domínio de Satanás (2.2) e pela 
ira de Deus (2.3). Positivamente, ela in­
clui “a totalidade de nossa nova vida em 
Cristo, em conjunto com aquEle que “nos 
vivificou, nos ressuscitou e nos fez as­
sentar nos lugares celestiais, em Cristo 
Jesus” (2.4-7) (Stott, 83). O Novo Testa­
mento ensina que a completa salvação 
tem três estágios: o passado , que está fun­
damentado na obra consumada com a 
morte de Cristo na cniz; a realidade presente 
para aqueles que estão unidos pela fé a 
Cristo Jesus e são habitados pelo Espíri­
to Santo; e o estágio futuro, que ocorre­
rá por ocasião da segunda vinda (parousia) 
de Cristo, inclusive com a ressurreição 
de nossos corpos.
2) Graça (cbaris) representa a iniciativa mi­
sericordiosa e cheia de amor que Deus nos 
oferece para proporcionar a salvação através 
de Cristo, como uma dádiva gratuita. Nesse 
aspecto, Bruce (1961, 51) fez uma perspi­
caz observação a respeito da graça: “Se a 
ressurreição de Cristo dentre os mortos, 
para assentá-lo à direita de seu Pai repre­
senta a suprema demonstração do poder 
de Deus [1.19-21], a elevação do povo de 
Cristo da morte espiritual para comparti­
lhar o lugar de exaltação de Cristo é a suprema 
demonstração de sua graça" (itálicos do 
autor).
3) Fé (pistis) representa nossa resposta à graça 
de Deus, uma resposta que foi possível pela 
graça, através da qual recebemos a dádi­
va gratuita de Deus, que é a salvação em 
Cristo. Fé significa crer firmemente e con­
fiar humildemente em Cristo como nosso 
Redentor e Libertador. A fé verdadeira inclui 
os frutos do arrependimento e se manifesta 
visivelmente em uma vida de obediência 
a Cristo Jesus como Senhor.
Em seguida, Paulo enfatiza que somos 
salvos pela graça de Deus, através da fé 
em Cristo, e acrescenta duas negativas e 
duas afirmações:
Negativa 1: “E isso não vem de vós” 
(tradução literal) (2.8c)
Afirmativa 1: “É dom de Deus” (2.8d) 
Negativa 2: “Não vem das obras, para que 
ninguém se glorie” (2.9)
Afirmativa 2: “Somos feitura sua” [de Deus] 
(2.10a)
Alguns acreditam que o termo “isso” 
da primeira negativa se refere à fé — isto 
é, que mesmo a fé pela qual somos sal­
vos é uma dádiva de Deus (por exemplo, 
Agostinho, C. Hodge, E. K. Simpson). Essa 
interpretação pode ser teologicamente 
verdadeira, porém, não é a questão que 
Paulo expõe aqui: “Isso” em grego (touto) 
é uma palavra neutra, enquanto “fé” é um 
substantivo feminino. Portanto, a palavra 
que antecede o termo “isso” não é “fé”; 
pelo contrário, todo o evento e toda a 
experiência de sermos salvos pela graça, 
através da fé, não é uma obra nossa, porém 
a dádiva gratuita de Deus para conosco. 
Stott (83) faz uma paráfrase do pensamento 
de Paulo da seguinte maneira: “A salva­
ção não é uma conquista sua (não é uma 
obra sua), nem uma recompensa por 
qualquer de seus feitos religiosos ou fi­
lantrópicos (“Não vem das obras”). Por­
tanto, não existe lugar para o mérito hu­
mano, e também nenhuma razão para que 
alguém se vanglorie”.
A essência da religião legalista é a crença 
de que a salvação é alcançada pelas obras, 
isto é, ela é o resultado de alguma coisa 
que a pessoa faz. Será impossível ser salvo 
de outra forma que não seja pela graça 
de Deus. Todos aqueles que ainda não 
foram salvos estão espiritualmente mortos
(2.1) e sob o domínio de Satanás (2.2); 
são escravos do pecado (2.3) e estão sob 
a ira de Deus (2.3). Para que as pessoas 
possam ser salvas, Deus deve tomar a ini­
ciativa de agir a favor do pecador, o que 
Ele fez através de Cristo (2.4,5). Por causa 
do que Ele fez, e não do que nós faze­
mos, os crentes se tornam espiritualmente
1216
EFÉSIOS 2
vivos em Cristo (2.5; Cl 1.13), libertos do 
poder de Satanás e do pecado (Ef 2.5,6; 
Cl 1.13); tornam-se novas criaturas (Ef 
2.10;2C o5.17)e recebem o Espírito Santo 
(Ef 1.13,14; cf. Jo 20.22).Nenhuma medida de esforço próprio 
ou de devoção religiosa pode realizar o 
que está descrito acima. Pelo contrário, 
“pela graça sois salvos por meio da fé — 
e isso não vem de vós; é dom de Deus”
(2.8). A ação da graça de Deus está centrada 
em seu Filho — sua morte, ressurreição 
e entronização no céu como Senhor. Em 
relação à demonstração de sua graça, 
primeiramente vem o chamado ao arre­
pendimento e à fé (At 2.38). Através des­
sa convocação, o Espírito Santo toma a 
pessoa capaz de responder à graça de Deus 
através da fé. Aqueles que por meio da 
fé respondem ao Senhor Jesus Cristo “são 
vivificados juntamente com Cristo” (2.5). 
São regenerados ou nascidos de novo por 
obra do Espírito Santo (Jo 3-3-8). São res­
suscitados e assentados com Cristo no reino 
celestial e continuam a receber a graça por 
sua união com Ele, que é a fonte do po­
der. Isso os toma capazes de resistir ao 
pecado e de viver de acordo com o Espí­
rito Santo (Rm 8.13,14). Os crentes, en­
tão, passam a servir a Deus e a praticar 
“boas obras” (Ef 2.10; cf. 2 Co 9-8) por causa 
da graça que opera em cada um (1 Co 15-10). 
A graça de Deus opera no povo de Cristo 
“tanto o querer como o efetuar, segundo 
a sua boa vontade” (Fp 2.13). Do início 
ao fim, então, a salvação é alcançada através 
da graça de Deus que opera nos crentes 
através de sua fé.
O verso 10 enfatiza que estamos em 
Cristo, em contraste com o fato de an­
teriormente estarmos em p ec a d o (2.1-3). 
Somos agora a “obra de Deus” (poiem a), 
“sua obra de arte, sua obra-prima” (Bruce, 
1961, 52). A palavra p o iem a aparece no­
vamente apenas em Romanos 1.20, onde 
se refere ao “que foi feito” por Deus, na 
ocasião da criação original. Aqui, Paulo 
se refere à nova criação em Cristo (cf. 2 
Co 5.17); somos “criados [ktisthentes] em 
Cristo Jesus” para fazer boas obras. Essas 
duas palavras gregas estão relacionadas 
à criação: “Salvação é criação, recriação,
e nova criação” (Stott, 84) — que somen­
te Deus pode fazer. Nunca poderemos ser 
salvos apenas por nossas “boas obras”, 
assim como não podemos recriar a nós 
mesmos. Porém, fomos salvos p a r a “boas 
obras” e até “recriados” em Cristo com esse 
propósito. A única esperança para os mortos 
é a ressurreição, e Jesus Cristo é “a res­
surreição e a vida” (Jo 11.25). Ele é tam­
bém o Criador: “Porque nele foram cria­
das todas as coisas” (Cl 1.16). Tanto a 
atividade da ressurreição como a da cri­
ação apontam para a indispensabilidade 
da iniciativa de Deus e de sua graça.
A salvação, porém, solagratia, so la fide 
(somente pela graça, somente pela fé) pode 
ser mal interpretada (cf. Rm 6.1). Estare­
mos interpretando mal a Paulo se uma vida 
de virtudes tiver sido esquecida e a graça 
se tomar uma desculpa para pecar, segundo 
a falsa concepção de que se os cristãos 
descuidadamente pecarem, sua falta so­
mente dará maior oportunidade para que 
a graça de Deus se manifeste. A resposta 
de Paulo a essa interpretação da graça foi: 
“De modo nenhum!” (Rm 6.2) F. F. Bruce 
afirma que “Aqueles que continuam a ‘andar’ 
em transgressões e pecados, que carac­
terizam um estado de ausência de rege­
neração, mostram que não são obra de 
Deus, quaisquer que sejam as declarações 
que possam fazer” (1961, 52).
Dessa forma, em Efésios 2.10, Paulo se 
refere às boas obras como indispensáveis 
à salvação — “não como sua razão ou seus 
meios, no entanto, mas como sua [neces­
sária] conseqüência e evidência” (Stott, 84- 
85). Tito 2.14 apresenta o melhor comen­
tário: Cristo “se deu a si mesmo por nós, para 
nos remir de toda iniqüidade e purificar para 
si um povo seu especial, zeloso de boas obras”. 
Assim como em Cristo fomos predestina­
dos à adoção (1.4), também em Cristo fo­
mos predestinados a fazer boas obras.
Em Efésios 2.1-10, o texto grego termi­
na com a frase “para que andássemos ne­
las” (NASB; NIV, “para fazer”). Esse pará­
grafo começa com as pessoas “andando” 
(peripateo) na morte das transgressões e do 
pecado (2.1-2) e estas terminam “andan­
do” (peripateo) nas boas obras que, ante­
cipadamente, Deus planejou para todos os
12 17
EFÉSIOS 2
que foram redimidos em Cristo. Assim o forte 
contraste entre uma vida sem Cristo e uma 
vida em Cristo está completo. É um con­
traste entre as duas formas devida (no pecado 
ou pela graça), e entre dois senhores (Sa­
tanás ou Deus). Stott (85) acrescenta: “O 
que poderia ter realizado tamanha mudança? 
Apenas isso: uma nova criação pela graça 
e pelo poder de Deus. As expressões-cha- 
ve desse parágrafo são certamente mas Deus 
(verso 4) e p ela g raça (versos 5, 8)”.
4.2. Cristo Reconcilia Grupos 
de Pessoas Mutuamente 
Hostis a Deus e Entre Si 
Mesmas, como uma Nova 
Humanidade (2.11-18)
A obra de Efésios 2 está dividida em 
duas partes. A primeira (2.1-10) revela 
que, pela riqueza da graça de Deus, Ele 
está salvando cada um dos pecadores em 
Cristo e modelando-os como troféus de 
sua obra e de sua graça; a segunda (2.11-
22) vai além, e revela a natureza da gra­
ça salvadora de Deus e de sua ação, em 
termos de associação, isto é, a forma como 
gentios e judeus (que são dois grupos mu­
tuamente hostis), que receberam a be­
nevolente salvação de Deus em Cristo, 
estão sendo moldados em conjunto, em 
um único corpo de Cristo, como a obra- 
prima de Deus que é a redenção. Fazendo 
isso, Deus está criando, em Cristo, uma 
“nova humanidade” (2.11-18) euma “nova 
comunidade” (2.19-22).
4.2.1. AExclusão dos Gentios daPre- 
sença de Deus, e o Povo da Aliança
(2 .11 ,12). O início dos versos 11 e 12 é 
muito parecido com o dos versos 2.1,2, 
no sentido de que ambos revelam o destino 
sem esperança dos gentios, ou do mun­
do pagão, que estão fora de Cristo. Em
2.1,2, eles são retratados como “mortos 
em ofensas e pecados”; e, em 2.11,12 são 
descritos como alienados de Deus e de 
seu povo da promessa divina, isto é, Is­
rael. Em 2.1,2, “mortos” é a palavra-cha- 
ve, enquanto “separados” é a palavra prin­
cipal em 2.11,12 (ap a llo tr ioo ; NIV, “ex­
cluídos”). No grego, este verbo signifi­
ca “distanciar, alienar, excluir”. Ocorre
apenas três vezes no Novo Testamento, 
duas vezes em Efésios e uma vez em uma 
passagem paralela em Colossenses.
A separação causada pelo pecado é dupla: 
separação de Deus, nosso Criador (4.18; 
cf. Cl 1.20,21), e separação de nossos 
companheiros, os demais seres humanos 
(Ef 2.12). A separação de Deus, ao lado 
de sua substituição vertical pela reconci­
liação em Cristo, é encontrada em 2.1-10, 
enquanto que a separação de outras pessoas, 
compensada pela reconciliação no sen­
tido horizontal, através da ação da cruz, 
está enfatizada em 2.11-22.
No verso 11, Paulo lembra aos seus leitores 
gentios a condição desvantajosa de seu 
estado anterior ao evangelho. Gênesis 1—
2 revela a unidade fundamental da raça 
humana em seu início. Após a queda (Gn
3) e o grande dilúvio (Gn 6— 8), ocorreu 
a desintegração e a humanidade foi divi­
dida em diferentes gaipos étnicos (Gn 11). 
Entre as diferentes nações, Deus escolheu 
Abraão e seus descendentes judeus para 
serem o povo do pacto divino (Gn 12—
50). A circuncisão dos homens judeus tor- 
nou-se um sinal exterior para lembrá-los 
de sua identidade e das responsabilida­
des que tinham neste pacto.
Porém, o propósito de Deus, ao esco­
lher Israel para ser a luz dos gentios, per­
deu-se ao final, tanto na segregação étni­
ca como no exclusivismo. Nos dias de Paulo, 
os judeus arrogantemente desprezavam 
os gentios pagãos como cães e, desdenho­
samente os consideravam como os “incir- 
cuncisos”. Paulo não apóia esse título 
aviltante, simplesmente anota sua utilização 
na época como uma forma de apresentar 
o grande cisma religioso e cultural exis­
tente entre os judeus e os gentios, antes 
de ter sido abolido em Cristo. No verso 12, 
Paulo continua a lembrar aos gentios que, 
antes de Cristo, eles haviam experimen­
tado cinco formas trágicas de privação:
1) Estavam “separados de Cristo” e de todas 
as bênçãos de Deus, nEle (cf. 1.3; 2.6). Como 
gentios não regenerados,não haviam ainda 
recebido a promessa da vinda do Messi­
as, não havendo ninguém que iluminasse 
sua escuridão trazendo-lhes a esperança 
para o futuro.
1218
EFÉSIOS 2
2) “Haviam sido excluídos da cidadania Ipoliteia] 
em Israel” por razões ligadas a seu nasci­
mento. Politeia é uma palavra derivada de 
polites (“cidadão”) que, por sua vez, deri­
va de polis (“cidade” ou “estado cidade”). 
Em Israel, ser excluído da cidadania sig­
nificava que os gentios eram política e 
religiosamente estranhos à comunidade da 
revelação de Deus. Em outras palavras, 
estavam separados do povo da promessa 
divina, que constituía uma teocracia viva 
e conhecia o único Deus verdadeiro.
3) Os gentios eram “estranhos aos pactos da 
promessa”, isto é, estavam eliminados de 
toda história espiritual e de todas as pro­
messas de uma salvação messiânica con­
tidas nos pactos feitos com Abrão, Moisés 
e Davi. Como Paulo observa em Romanos, 
os judeus haviam recebido o compromis­
so de serem os verdadeiros oráculos de Deus 
(Rm 3.2). Seus privilégios espirituais eram 
muitos: “Dos quais é a adoção de filhos, e 
a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, 
e as promessas; dos quais são os pais, e 
dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual 
é sobre todos, Deus bendito eternamen­
te. Amém!” (9-4,5) Os gentios haviam sido 
excluídos desse caudal divino de revela­
ções e de redenção.
4) e 5) As duas últimas privações estão cru­
amente estabelecidas: “sem esperança e 
sem Deus nesse mundo”. Em um mundo 
de degradação, com todos os seus peca­
dos, sofrimentos e morte, a humanidade 
precisa de uma esperança infinita que so­
mente a fé em Cristo pode proporcionar. 
De outra forma, a vida é uma escuridão 
tenebrosa, desesperançada e aflita. Os gentios 
não tinham a esperança de Israel, nem a 
revelação do Deus de Israel. Não estavam 
sem “deuses” (tinham muitos), mas seus 
deuses haviam se mostrado vazios e cru­
éis . Estavam sem o verdadeiro conhecimento 
de Deus, tal como havia sido revelado a 
Israel.
4.2.2. ALticlusão dos Gentios naúnica 
e Nova Humanidade em Cristo (2.13- 
18). Paulo continua a descrever como 
a obra da redenção torna as pessoas um 
só povo em Cristo. O verso 13 começa 
com duas frases importantes: “Mas, agora” 
que aparece em contraste com “antes”
(v. 11) e “naquele tempo” (v. 12); e “em 
C ristojesus”, que aparece em contras­
te com “sem Cristo” (v. 12). Essas duas 
expressões enfatizam como a situação 
dos gentios seria drasticamente modi­
ficada, de estarem “longe” para chega­
rem “perto”. Essa nova aproximação de 
Deus é tanto “em Cristojesus” como “pelo 
sangue de Cristo”. Essa última se refere 
ao evento histórico da morte de Jesus 
na cruz; e a primeira está relacionada à 
conversão dos infiéis e sua presente união 
com Cristo. Os cinco versos seguintes 
explicam o que foi alcançado pela morte 
redentora de Cristo na cruz.
Os versos 14-18 revelam o âmago da 
mensagem de reconciliação de Paulo, e 
como Deus deu início ao seu eterno pla­
no de reconciliação cósmica (embora não 
universal) (1.10). A palavra principal nessa 
passagem ép az , e ela aparece quatro vezes 
(w . 14,15, e duas vezes no verso 17).
O verso 14 começa com uma declara­
ção enfática: “Porque ele [Cristo] é a nos­
sa paz”. Cristo, e somente Cristo, nos deu 
a solução para esse problema que infes­
ta a raça humana, isto é, a separação de 
Deus e de outras pessoas. Ele é a Recon­
ciliação do povo com Deus e a Reconci­
liação das pessoas, umas com as outras. 
Assim, o evangelho torna-se uma men­
sagem de reconciliação (2 Co 5.17-21). Por 
causa de seu sangue redentor (2.14), nesse 
ponto de Efésios Paulo anuncia, em dois 
sentidos, o próprio Cristojesus como sendo 
a “nossa paz”:
1) Como pecadores, Ele nos reconcilia com
Deus pela cruz (v. 16) e
2) Reconcilia gaipos mutuamente hostis entre
si (tais como judeus e gentios) e “de am­
bos os povos faz um” (v. 14b; também w.
15,16, 17 e 18).
A reconciliação é o tema central desta 
passagem. Nada, a não ser o evangelho, 
poderá nos oferecer, genuinamente, a paz 
com Deus (Rm 5.1), “e nada, a não ser o 
evangelho, poderá remover as barreiras 
que dividem a humanidade em gaipos hostis 
em sua própria época” (Bruce, 1961, 54). 
A paz entre judeus e gentios exigia a 
destruição da “parede de separação que 
estava no meio” (v. 14c). Nenhuma dis­
1219
EFÉSIO S 2
t in ç ã o p o r c o r , c o n f l i to é t n ic o , s e p a r a ç ã o 
p o r c la s s e s o u d iv is ã o p o lí t ic a e r a m a is 
ab so lu ta q u e a barreira e n tre ju d eu s e gen tio s 
n o p r im e ir o s é c u lo d .C . B r u c e a c r e s c e n ­
ta ( ib .) . “O m a io r tr iu n fo d o e v a n g e lh o n a 
e ra a p o stó lic a fo i q u e e le v e n c e u e ssa an tig a 
e lo n g a d e s a v e n ç a e p e r m it iu q u e ju d e u s 
e g e n t io s s e to r n a s s e m v e r d a d e ir a m e n te 
u m ú n ic o p o v o e m C r is to ”.
Q u a n d o P a u lo e s c r e v e u e s s a s p a la v ra s 
e m E fé s io s , “a p a r e d e d e s e p a r a ç ã o ” a in ­
d a e r a u m a c a r a c te r ís t ic a p r o e m in e n te n o 
te m p lo ju d e u d e J e r u s a lé m . S to tt ( 9 1 - 9 2 ) 
d e s c r e v e g r a f ic a m e n te e s s a p r e o c u p a n te 
d is t in ç ã o .
O edifício do tem plo estava construído 
so b re um a p latafo rm a e lev ad a. A o seu 
red o r estav a o P átio d os S a c erd o tes . A 
le ste estav a o P átio de Is ra e l e a inda 
m ais a leste, o Pátio das m ulheres. E sses 
três p á tio s— para o s sacerd o tes, os h o ­
m ens leigos e as m ulheres leigas de Israel, 
re sp e c tiv a m e n te — estav am to d o s n o 
m esm o n ív el d o p ró p rio tem p lo . D e s­
se patam ar, c in c o d egrau s d esc ia m até 
um a p la ta fo rm a m urad a e , e n tã o , do 
ou tro lad o d o m uro , q u ato rze d egrau s 
lev av am até ou tro m uro , a lém d o qu al 
estava o pátio ex tern o ou Pátio dos G en ­
tios. E sse p á tio era e s p a ç o s o e se e s ­
tendia ao redor do tem plo e de seus pátios 
in tern o s . D e q u a lq u e r lu gar o s g en ti­
o s p o d iam o lh ar e o b serv a r o tem p lo , 
p o rém n ão tin h am p erm issã o d e a p ro ­
x im ar-se d ele . Estavam im p edidos p elo 
m uro q u e o c ircu n d av a, u m a b a rrica ­
da d e um m etro e m e io d e p ed ra s o ­
b re a q u al estav am c o lo c a d o s , em s e ­
guidos intervalos, avisos em grego e latim.
Na v erd ad e , esse s av iso s n ã o diziam : 
“O s in tru so s se rã o p ro c e ss a d o s” e sim 
“O s in tru sos serã o e x e c u ta d o s ”.
O p ró p rio P a u lo q u a s e fo i m o rto , trê s o u 
q u a tr o a n o s a n te s , p o r u m a m u ltid ã o irad a 
d e ju d e u s e m je r u s a lé m , q u e a c re d ita v a n o 
b o a to d e q u e h a v ia le v a d o u m g e n tio d e 
É fe s o , c h a m a d o T ró fim o , p a ra d e n tro d o 
te m p lo (A t 2 1 .2 7 - 3 2 ) . N a é p o c a e m q u e 
e sc re v e u essa carta, P a u lo estav a litera lm ente 
p r is io n e iro “p o r v ó s , o s g e n t io s ” ( E f 3 .1 ) .
E m b o ra o m u ro d iv iso r e o te m p lo tiv e s ­
s e m p e r m a n e c id o a té a d e s tru iç ã o d e J e r u ­
s a lé m p e lo s r o m a n o s n o a n o 7 0 d .C ., P a u ­
lo co ra jo sa m e n te d eclaro u q u e Cristo já havia 
d estru íd o e s s e m u ro q u a n d o m o rreu n a cru z 
(aproxim ad am en te n o an o 3 0 d.C.). “O sím bolo 
a in d a p e r m a n e c ia ; m a s o q u e e le s ig n if ic a ­
v a e s ta v a d e s tru íd o ” (R o b in s o n , 6 0 ) . A tra ­
v é s d e C risto , ta n to o s ju d e u s c o m o o s g e n ­
tio s a g o r a tê m “a c e s s o a o P a i [no te m p lo 
d o céu ] e m u m m e s m o E sp ír ito ” (2 .1 8 ) .
A p a z e a u n id a d e e n tr e ju d e u s e g e n ­
t io s ta m b é m e x ig ia “n a s u a ca r n e [is to é , 
n a m o r te f ís ic a d e je s u s n a c ru z ], d e s fe z a 
in im iz a d e , is to é , a le i d o s m a n d a m e n to s , 
q u e c o n s is t ia e m o r d e n a n ç a s ” ( 2 .1 5 ; c f. 
Cl 1 .2 2 ; 2 .1 1 ,1 2 ) . P a u lo , a q u i , n ã o s e r e ­
f e r e à le i c o m o u m a r e v e la ç ã o d o c a r á te r 
m o r a l e d a v o n ta d e d e D e u s , q u e fo i e l i ­
m in a d a p e la m o r te d e C r is to . A tra v é s d a 
p re se n ç a p o d e ro sa e cap acitad o ra d o Espírito 
d e C risto , s o b o n o v o p a c to , a re tid ã o m o ra l 
e x ig id a p o r D e u s n a le i e s tá m a is n it id a ­
m e n te e n ten d id a , ta n to p a ra o s ju d eu s c o m o 
p a r a o s g e n t io s , d o q u e e r a p o s s ív e l s o b 
a an tig a a lia n ç a (c f. R m 3 .3 1 ) . P o ré m , C risto 
a b o l iu a le i , q u e tra z ia u m c ó d ig o e s c r i to 
d e reg u lam en to s so b re sacrifício s d e an im ais, 
q u e s t õ e s a l im e n ta r e s , r e g r a s s o b r e a l im ­
p e z a e im p u r e z a , e tc . — q u e c r ia v a u m a 
s é r ia b a r r e ir a e n tr e ju d e u s e g e n t io s e q u e 
re s u lta v a e m u m p a r t ic u la r is m o ju d e u e 
e m u m a e x c lu s ã o d o s g e n t io s .
C o m o M a x T u r n e r o b s e r v a ( 1 2 3 1 ) , “o 
b o m p ro p ó s ito , a q u e a le i d e M o is é s serv ia 
[s o b o a n t ig o p a c to ] , p a r a p r e s e iv a r Is r a ­
e l d a in f lu ê n c ia p a g ã d e o u tr a s n a ç õ e s , 
a b r iu c a m in h o p a r a u m p r o p ó s i to a in d a 
m a is e le v a d o [d e D e u s ]”, is to é , “p a r a c r i ­
a r e m si m e s m o d o s d o is u m n o v o h o m e m ”
(2 .1 5 ). “O n o v o h o m e m ” n ã o será n e m ju d eu 
n e m g e n t io , m a s s e r á fo r m a d o p e la s d u a s 
p a r te s c o m o u m a n o v a c r ia ç ã o e m C r is ­
to . A v a r ie d a d e d e d is t in ç õ e s q u e p r e v i­
a m e n te h a v ia c a u s a d o a s p r in c ip a is d iv i­
s õ e s e b a r r e ir a s n a fa m ília h u m a n a n ã o 
s e r á m a is p e r m it id a “e m C r is to ”. S o m o s 
to d o s u m s ó n E le , e , ig u a lm e n te h e r d e i­
r o s d a g r a ç a d e D e u s (c f . G l 3 - 2 8 ,2 9 ) .
A p a z e a u n id a d e e n tr e ju d e u s e g e n ­
t io s e x ig ia q u e a m b o s f o s s e m r e c o n c il ia ­
d o s “p e la c r u z ... c o m D e u s e m u m c o r p o ”
1220
EFÉSIO S 2
O Templo de Herodes
O templo, construído em Jerusalém pelo Rei 
Herodes, foi o terceiro templo a ser construído 
sobre o mesmo monte, chamado Moriá. O Rei 
Herodes, sendo um idumeu, construiu esse 
extravagante templo como uma forma de obter o 
favor dos judeus. Sua construção se iniciou no 
ano 19 a.C. e ainda não havia sido concluída até 
o ano 64 d.C.
P átio d os G entios
Herodes mandou nivelar a superfície do monte e, 
em seguida, construiu um forte muro de contenção 
em volta de seu perímetro com blocos de pedra 
maciça, com facetas lisas, empilhadas sem o uso 
de argamassa. Ainda hoje, são visíveis o canto 
sudeste e uma seção do Muro Ocidental, também 
chamada Muro das Lamentações. Essa 
“plataforma", cobrindo uma área aproximada de 
450 metros de norte a sul e 300 metros de leste a 
oeste, é chamada de Monte do Templo.
O templo que havia sido anteriormente construído 
pelos exilados da Babilônia fora derrubado e 
substituído pelo templo de Herodes.
O templo e seus átrios, ou pátios, foram 
construídos sobre uma plataforma elevada. O 
templo de Herodes tinha colunas de mármore 
branco, com portões de ouro e prata. Uma cortina 
separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo.
Um pórtico de colunas circundava todo o Monte do 
Templo. A seção correspondente à extremidade sul 
tinha quatro fileiras de colunas; os demais pórticos 
tinham duas. Na extremidade noroeste do Monte do 
Templo situava-se a Fortaleza Antônia. Embora os 
gentios pudessem entrar no pátio que circundava o
templo, havia avisos impedindo-os de entrar nos 
três pátios centrais, que eram de uso restrito dos 
sacerdotes e dos homens e mulheres judeus. O 
castigo pela infração era a morte.
O templo e os muros que o circundavam foram 
destruídos pelos romanos no ano 70 d.C.
Muro
Ocidental
1221
EFÉSIO S 2
( 2 .1 6 ) . I s s o p r e s s u p õ e q u e ta n to ju d e u s 
c o m o g e n t io s e r a m p e c a d o r e s s e p a r a d o s 
d e D e u s ( 2 .3 ) e n e c e s s i ta v a m d a m o r te 
e x p ia tó r ia d e C ris to a f im d e s e r e m r e c o n ­
c i l ia d o s c o m D e u s ( 2 .1 7 ,1 8 ) . S u a “in im i­
z a d e ” ( 2 . 1 6 ) , q u e fo i c o n d e n a d a à m o rte 
n a c ru z , e r a ta n to h o r iz o n ta l c o m o v e r t i ­
c a l — is to é , u m a h o s t i l id a d e e n tr e p o v o s 
n ã o r e g e n e r a d o s e D e u s (R m 5 -1 0 ) , e e n tre 
g r u p o s h o s t is , ta is c o m o ju d e u s e g e n t i­
o s . O m ila g re d a r e c o n c il ia ç ã o re s u lto u e m 
u m a n o v a e n tid a d e esp iritu a l c h a m a d a “u m 
c o r p o ” d e C ris to ( 2 .1 6 ) . E s s e a s s u n to to r ­
n a -s e o f o c o d e P a u lo e m 2 .1 9 - 2 2 .
E m g r e g o , o v e r s o 1 7 c o m e ç a c o m a 
c o n ju n ç ã o “e ” ( n ã o tra d u z id a n a N IV ) e 
fa z a l ig a ç ã o c o m o v e r s o 1 4 . C r is to n ã o é 
s o m e n t e a “n o s s a p a z ” ( 2 .1 4 ) , m a s ta m ­
b é m “e v a n g e liz o u a p a z ” (2 .1 7 ; cf. Is 5 7 .1 9 ) . 
A m e n s a g e m d e p a z fo i p r im e ir a m e n te 
a n u n c ia d a p e lo s a n jo s p o r o c a s i ã o d o 
n a s c im e n to d e je s u s (L c 2 .1 4 ) ; fo i a lc a n ç a d a 
p o r je s u s n a c ru z ( E f 2 .1 3 - 1 6 ) e p r o c la ­
m a d a p o r J e s u s a o s d is c íp u lo s a p ó s s u a 
r e s s u r r e iç ã o ( J o 2 0 .1 9 - 2 1 ) .
P o ré m , C risto p re g o u a p az d e u m a form a 
m ais a b r a n g e n te — p a z p a ra “v ó s, q u e a n te s 
e s tá v e is lo n g e ” ( is to é , p a ra o s g e n t io s q u e 
e s ta v a m s e m e s p e r a n ç a e s e m D e u s — 
2 .1 2 ,1 3 ) , e p a z p a r a a q u e le s q u e c h e g a ­
ra m “p e r to ” ( is to é , o s ju d e u s q u e t in h a m 
o s “c o n c e r to s d a p ro m e s s a ”,2 .1 2 ) — atrav és 
d a p re g a ç ã o d o e v a n g e lh o p o r P ed ro , P a u lo 
e o u tr o s e v a n g e lis ta s d o p r im e ir o s é c u ­
lo . O b s e r v e q u e o s g e n t io s e s ta v a m in c a ­
p a c i ta d o s d e v ir a C r is to ; E le t in h a q u e ir 
a té e le s a tra v é s d e se u s m e n s a g e ir o s . A lé m 
d is s o , o s ju d e u s ta m b é m p r e c is a v a m q u e 
o E v a n g e lh o lh e s fo s s e p r e g a d o . E m q u a l­
q u e r lu g a r e m q u e a m e n s a g e m d e p a z e 
d e r e c o n c i l i a ç ã o ( s o m e n te to r n a d a p o s ­
s ív e l a tr a v é s d a c r u z ) s e ja p r o c la m a d a n o 
m u n d o d e h o je , “é C r is to q u e a p r o c la m a 
a tr a v é s d e n ó s ” (S to t t , 1 0 3 ) .
L o g o a p ó s a m o rte e re ssu rre içã o d e je s u s 
“p o r e le , a m b o s [c r e n te s ju d e u s e g e n tio s ] 
te m o s a c e s s o a o P a i e m u m m e s m o E s p í­
r ito ” ( 2 .1 8 ) . A p a la v ra a c e s s o (prosagoge) 
p o d e s ig n if ic a r “a p r e s e n ta ç ã o ” n o s e n t id o 
d e s e r m o s , a tra v é s d e C ris to , in tro d u z id o s 
à p r e s e n ç a d e D e u s , c o m o n o s s o P a i. P o ­
ré m , é m a is p r o v á v e l q u e e s s a p a la v ra tra ­
g a à m e n te a c e n ad e u m a c o r te re a l, e m 
u m a n t ig o r e in o d o O r ie n te M é d io , o n d e 
u m o f ic ia l d e s ig n a d o c o m o prosagogeus 
facilita a ad m issão à p resen ça d o rei. O Espírito 
San to facilita o a ce s so a u m a íntim a co m u n h ã o 
c o m o P a i, q u e s e to rn o u p o s s ív e l p e la “r e ­
d e n ç ã o p e lo s e u s a n g u e ” ( 1 .7 ) . E s s e s ig ­
n if ic a d o é o m e s m o e m 3 .1 2 e n o s e n s in a ­
m e n to s p a r a le lo s e m H e b r e u s 1 0 .1 9 -2 2 . 
T e m o s o d ir e ito d e , c o m c o n f ia n ç a , n o s 
a p r o x im a r m o s d e n o s s o P a i c e le s t ia l, s a ­
b e n d o q u e se re m o s a c e ito s , a m a d o s e b e m - 
v in d o s p o r c a u s a d e C ris to .
P o d e m o s fa z e r a in d a m a is d u a s im p o r­
ta n te s o b s e r v a ç õ e s a r e s p e ito d o v e r s o 18 .
1) E xiste n e le u m claro a sp e cto da Trindade, 
p o is tem o s livre a ce sso ao Pai, p o r cau sa 
do san gu e d o Filho, co m a a juda d o Espí­
rito Santo. Isso co rresp o n d e à d eclaração 
q u e P au lo faz n e sta carta a re s p e ito da 
red en çã o , em 1.3-14.
2) A fra se “Ambos te m o s a c e s s o ao P a i” r e ­
a firm a o te m a d e P a u lo s o b r e a u n id a ­
d e d e n tro da Ig re ja , q u e o E sp ír ito S a n ­
to a ju d a a to rn a r p o ss ív e l. O único p o v o 
de D eu s (o s d ois torn aram -se a p en as um , 
um c o rp o , um n o v o h o m e m ) tem a c e s ­
so “p o r m eio d e um E sp ír ito ” ao um D eu s 
e P a i (c f . 4 .3 -6 ) .
4.3■ Cristo Une Povos 
Separados em uma Única 
e Nova Comunidade 
(2 .1 9 -2 2 )
O te r m o “c o n s e q ü e n t e m e n t e ” in d ic a 
q u e 2 .1 9 - 2 2 é a c o n c lu s ã o ló g ic a im e d i­
a ta d o q u e h a v ia s id o p r e v ia m e n te d ito 
e m 2 .1 1 - 1 8 . E m u m s e n t id o m a is a m p lo , 
e s ta p a s s a g e m r e p r e s e n ta o fru to d e tu d o 
q u e P a u lo já h a v ia e s c r i to a té e s s e m o ­
m e n to n o l iv ro d e E fé s io s a r e s p e i to d a 
r e d e n ç ã o e m C r is to . O o b je t iv o p la n e ja ­
d o p e lo P a i, e c o n q u is ta d o p o r C ris to c o m 
s u a m o r te , r e s s u r r e iç ã o e a s c e n s ã o , e r a 
cr ia r , a t r a v é s d a r e d e n ç ã o , a lg o in te ir a ­
m e n te n o v o — a lg o q u e r e s u lta r ia “e m 
lo u v o r à s u a g ló r ia ” ( 1 .6 ,1 2 ,1 4 ) e r e v e la ­
r ia à s g e r a ç õ e s fu tu r a s “a s a b u n d a n t e s 
r iq u e z a s d a s u a g r a ç a ” ( 2 .7 ) . E s s e a lg o 
in te ir a m e n te n o v o e r a u m p o v o r e d im id o 
p e la g ra ç a d e D e u s , c o m o “fe itu ra ” d e D e u s
1222
EFÉSIO S 2
( 2 .1 0 ) , q u e s e t o m a r ia u m a n o v a c r ia ç ã o 
e u m a n o v a h u m a n id a d e .
E m C r is to , D e u s r e fe z o u r e c r io u u m a 
p a r te d a a n t ig a h u m a n id a d e ( ju d e u s e 
g e n t io s ) e , v e n c e n d o o s p o d e r e s d a d iv i­
s ã o , “d e a m b o s o s p o v o s fe z u m ” (2.14), 
e d e s s a fo rm a c r io u “e m si m e s m o d o s d o is 
u m n o v o h o m e m ” (2.15); “e m u m c o r p o ”
(2 .1 6 ) “p e la c ru z ”, r e c o n c ilio u “a m b o s c o m 
D e u s ” e o s d o is p o v o s e n tr e s i (2.16). U m 
im p o r ta n te o b je t iv o d a r e d e n ç ã o e r a u n ir 
p o v o s d iv id id o s e m u m a ú n ic a c o m u n i­
d a d e (2.19). P a u lo e m p r e g a t r ê s a n a lo g i­
a s p a r a d e s c r e v e r a n a tu r e z a c o r p o r a tiv a 
d a r e d e n ç ã o ( c id a d a n ia , f a m íl ia e u m 
e d if íc io ) , c a d a u m a d e la s e n fa t iz a n d o q u e 
o lu g a r d o s g e n t io s c r is tã o s n a n o v a c o ­
m u n id a d e n ã o é a b s o lu ta m e n te in fe r io r 
a o d o s ju d e u s c r is tã o s .
4.3.1. A Analogia com a Cidadania 
(2.19a). “A ssim q u e já n ã o so is estra n g e iro s 
n e m fo ra s te iro s [c o m o a n te r io rm e n te , a n te s 
d a fé e m Cristo, cf. 2 .11-13], m a s c o n c id a d ã o s 
d o s S a n to s e d a fa m ília d e D e u s ” (c f . 2 .1 9 ) . 
S e a Ig r e ja fo r c o n s id e r a d a c o m o o r e in o 
d e D e u s , o u c o m o u m a “n a ç ã o s a n ta ” (1 
P e 2 .9 ) , o s c r e n te s g e n t io s s ã o c id a d ã o s 
p le n o s e n ã o m o r a d o r e s e s tr a n g e ir o s . E m 
C r is to , r e c e b e r a m to d o s o s d ir e ito s e p r i­
v ilé g io s d o s q u a is e s ta v a m e x c lu íd o s a n te ­
r io r m e n te ( 2 .1 2 ) . O te r m o “e s t r a n g e ir o s ” 
(paroikoi) r e f e r e - s e a m o r a d o r e s e s t r a n ­
g e ir o s q u e s e f ix a r a m o f ic ia lm e n te e m u m 
p a ís e s t r a n g e ir o , m a s q u e n ã o g o z a m d e 
s e u s d ir e ito s in t r ín s e c o s . O te r m o “f o r a s ­
te iro s” {xenoi) sig n ifica v isitan tes c o m b re v e 
e s ta d ia e m u m p a ís . S o b o a n t ig o p a c to , 
e s s a e r a a s i t u a ç ã o d o s g e n t io s q u e s e 
c o n v e r te r a m à f é ju d a ic a . A g o r a , p o r é m , 
p o r c a u s a d e C r is to , o s g e n t io s c o n v e r t i ­
d o s p a s s a r a m a g o z a r d e p le n a c id a d a n ia 
e d e t o d o s o s d ir e ito s c o r r e s p o n d e n te s . 
S ã o “c o n c id a d ã o s ” d a q u e le s “q u e p rim e iro ” 
e sp e ra ra m “e m C risto” (1 .1 2 ). T e n d o o u v id o 
a p a la v r a , c r e r a m e m C r is to e fo r a m s e la ­
d o s c o m o E spírito San to (1 .1 3 ). D e ssa form a, 
s ã o h e r d e ir o s le g ít im o s d a g r a ç a d iv in a e 
d a h e r a n ç a q u e D e u s g u a r d o u p a r a s e u 
p o v o r e d im id o , d a m e s m a m a n e ir a q u e 
o s c r e n te s ju d e u s ( 1 .1 4 ) .
4.3.2. A Analogia com a Família 
(2.19b). U tiliz a n d o a a n a lo g ia c o m a Ig re ja ,
c o m o s e n d o a fa m íl ia d e D e u s , P a u lo 
a ss e g u ra a o s s e u s le ito re s g e n tio s q u e se rã o 
“c o n c id a d ã o s d o s S a n to s e d a fa m ília d e 
D e u s ” . N ã o s e r ã o c id a d ã o s d e s e g u n d a 
c la s s e o u s e r v o s d o la r ; g o z a r ã o d e to d o s 
o s p r iv i lé g io s d e q u e g o z a m o s f ilh o s e 
a s f i lh a s e , e m C r is to , t e r ã o to d o o d ir e ito 
à s b ê n ç ã o s e à h e r a n ç a d o P a i ( c f . 1 .1 3 ,1 4 ) . 
A tra v é s d a Ig r e ja , o m e s m o P a i to r n a ju ­
d e u s e g e n t io s e m ir m ã o s e irm ã s , m e m ­
b r o s d e u m a ú n ic a fa m ília . E s s a a n a lo g ia 
s u g e r e u m a r e la ç ã o ín tim a e a m o r o s a c o m 
D e u s e c o m o p r ó x im o .
4.3.3. A Analogia com um Edifício 
(2 .2 0 -2 2 ) . “E s s e n c ia lm e n te , a ig r e ja r e ­
p r e s e n ta u m a c o m u n id a d e d e p e s s o a s . N o 
e n ta n to , e m m u ito s a s p e c t o s p o d e s e r 
c o m p a r a d a a u m e d if íc io e , e s p e c ia lm e n te , 
a u m te m p lo ” (Stott, 1 0 6 ). A fra s e “ed ifica d o s 
s o b r e o f u n d a m e n to ” é a t r a n s iç ã o p a ra 
e s s a a n a lo g ia d a Ig r e ja c o m o u m e d if íc io 
e m p r o c e s s o d e c o n s t r u ç ã o . E m 2 .2 0 - 2 2 , 
P a u lo n o v a m e n te a ss e g u ra a o s g e n tio s q u e 
fo r m a r ã o p a r te in te g ra l d a Ig re ja q u e D e u s 
e s tá c o n s tr u in d o .
N e s s e t r e c h o s ã o e n fa t iz a d o s q u a tr o 
a s p e c to s d e s s e e d if íc io e m c o n s t r uç ã o :
1) O prim eiro trata d o ‘fundamento” (2 .2 0 ). 
Nada é m ais b á s ic o para q u e um a estru tu­
ra se ja segu ra d o q u e um só lid o a licerce . 
Na parábola so b re o s dois constru tores, n o 
final do Serm ão do M onte J e s u s enfatizou 
a im p ortância de um a licerce só lid o . Afi­
nal de contas, som ente um a casa constm ída 
so b re um a licerce só lid o , em ro ch as, p o ­
d erá p erm an ecer. Na p aráb o la de Je su s , 
e sse só lid o alicerce , o u fu n d am ento , nada 
m ais é do qu e E le p róp rio e su as palavras 
(M t 7 .2 4 -2 7 ).
M as o q u e q u er d izer essa ro ch a so b re a 
qu al a Igre ja está ed ificada? P au lo asseg u ­
rou aos gentios qu e a Igreja seria ed ificada 
“so b re o fu n d am ento d os ap ó sto lo s e dos 
p ro fe tas” (2 .2 0 ). Essa frase p o d e ser inter­
pretada de três form as diferentes: (a ) O fun­
dam ento é constituído pelos próprios ap ó s­
to los e p ro fetas; (b ) O fu n d am ento se re ­
fere àq u ilo so b re o q u e o s p róp rio s a p ó s­
to lo s e p ro fetas foram ed ificad o s (is to é, 
Cristo) ou (c ) O fundam ento se refere àquilo 
qu e foi estab elec id o p elo s ap ó sto los e pro­
fetas . A resposta a essa questão vai depender,
1223
EFÉSIO S 2
em parte, da identidade dos “p rofetas” aqui 
m en cio n ad o s. L enski (4 5 2 -5 3 ) afirm a qu e 
estes são os profetas do Antigo Testam ento. 
E le argu m enta qu e, p o r existir a p en as um 
artigo d efin id o an tes d e “ap ó sto lo s e p ro ­
fetas”, Paulo considera essas duas categorias 
com o uma única classe. Os profetas do Antigo 
T estam en to , assim co m o os a p ó sto los do 
Novo Testamento, compartilham uma mesma 
responsabilidade de serem os primeiros vasos 
da rev e la çã o divina, co n fo rm e registrado 
nas Escrituras sob as duas alianças. D e acordo 
co m esta v isão , “o fu n d am en to" so b re o 
qu al a Igre ja é ed ificada é o testem u nh o 
de a p ó sto los e p ro fetas , investid o em au ­
torid ade, tal co m o en co n tram o s n o A nti­
g o e n o N ovo T estam en to .
Seria, contudo, improvável qu e esse aspecto 
rep resen tasse a in tenção de Paulo, p o rqu e
(a) a palavra de ordem é “os ap óstolos e os 
p ro fetas” e não “os p rofetas e os ap ó sto ­
lo s”; e (b ) em Efésios, as duas ocorrências 
on d e ap ó sto los e p rofetas foram m en cio ­
nad os em co n ju n to (3 .5 ; 4 .1 1 ), a referên­
cia é claram ente aos p rofetas cristãos co m o 
líderes da Igreja. O s ap ó sto los e o s profe­
tas do Novo T estam ento constituem os dois 
ministérios fundamentais da Igreja, não apenas 
em 2 .20 e 3-5, m as tam bém em 1 Coríntios 
12 .28; “E a uns p ô s D eu s na igreja, prim ei­
ra m en te , a p ó sto lo s , em se g u n d o lugar, 
p ro fetas ...” Em E fésios 3 .5 ,6 , Paulo afirma 
claram ente qu e o m istério de Cristo, qu e 
havia p erm an ecid o d esco n h e cid o das an­
tigas g e ra çõ e s , “n o u tros sécu lo s , não foi 
m anifestado aos filhos dos hom ens, com o, 
agora, tem sido revelad o p elo Espírito aos 
seus santos ap ósto los e profetas, a saber, 
qu e os gentios são co-h erd eiros, e de um 
m esm o corp o , e participantes da p rom es­
sa em Cristo p elo ev an g e lh o ”. Essa revela­
ção crucial foi feita primeiramente aos “santos 
ap ó sto los e p ro fetas” n o prim eiro século. 
D essa form a, a Igre ja é “ed ificad a” so b re 
a rev elação original e infalível de Cristo aos 
prim eiros ap ó sto lo s e profetas. N o en tan ­
to , d ev e-se acre scen ta r q u e líd eres v is io ­
nários e santos, p e sso a s ch e ia s da Palavra 
e do “esp írito de sabedoria e de rev e lação ”
(1 .1 7 ), co n tin u am a ser n e cessárias para 
lid erar a Igre ja “até q u e to d o s ch eg u em o s 
à unidade da fé è ao co n h ecim en to do Filho
de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura 
co m p leta d e C risto” (4 .1 3 ).
2) A Igreja qu e D eus está ed ificand o tem um a 
“pedra da esquina” (o u pedra angular) que 
é o próprio Sen h orjesu s Cristo (2 .20b). Qual 
é a im p o rtância desta ped ra angular? Esta 
palavra, tan to aq u i co m o em 1 P ed ro 2.6 , 
fo i extraíd a de Isaías 2 8 .1 6 , “P ortan to , as­
sim diz o Se n h o r Je o v á . Eis q u e eu a sse n ­
tei em Sião um a pedra, um a pedra já p ro ­
vada, pedra p recio sa de esq u in a , q u e está 
b e m firm e e fu n d ad a...” Essa ped ra é “um a 
parte essen cia l da fu n d a çã o ” (Stott, 107) 
e serve p ara m anter tod a a estrutura u n i­
da (2 .2 1 a ). A partir daí, tod o o restante da 
fu n d ação será c o lo ca d o a o lo n g o da linha 
dos m uros futuros; e a partir d ela , co m o 
u m p o n to fix o de re ferên cia , os m u ro s se 
levantarão em linha reta, co m o ângulo e x ­
terior da fundação assegurando que os demais 
âng u los se jam verd adeiros.
A p ed ra de esq u in a o c u p a um lu g ar p ro ­
em inente em toda a estm tura. Antigam ente, 
m uitas v e z e s o n o m e d o rei era inscrito 
nesta. A Igreja, co m o tem p lo d e D eu s, está 
se n d o co m p le ta m e n te ed ificad a a partir 
d a re v e la çã o de C risto , e la b o ra d a e c o ­
m u n icad a atrav és d o m in istério d e a p ó s­
to lo s e p ro fetas .
3 ) U m terceiro aspecto do edifício corresponde 
à cada uma das pedras individualmente 
e q u e , c o le t iv a m e n te , fo rm a m “to d o o 
ed ifíc io ”. Em Cristo, cad a pedra é in co r­
p orad a ao co n ju n to p ara qu e este cresça 
torn an d o -se um tem p lo san to n o Sen h o r
(2 .21). A passagem em 1 Pedro 2.5 expressa 
o m esm o pensam ento: “V ós tam bém , com o 
p ed ras vivas, so is ed ificad o s casa esp iri­
tual”. A frase “tod o o ed ifíc io ” se re fere à 
Igre ja universal, e n ão a um a co n g reg a çã o 
lo ca l (B ru ce , 198 4 , 3 0 7 ). Ser incorp o rada 
a o co n ju n to (2 .2 1 ) d escrev e um “p ro ce s ­
so co m p licad o de alvenaria p e lo qu al as 
pedras são ajustadas um as às outras” (W ood, 
4 2 ). N o grego , as frases “estar sen d o in ­
co rp orad o ao co n ju n to ” e “ser e lev ad o” (li­
tera lm en te , “c re sce r”, lem b ran d o -n o s qu e 
a Igre ja é um organ ism o v iv o) p erten cem 
ao tem p o p re sen te ; esse tem p o ind ica um 
p ro ce sso co n tín u o de co n stru ção e c re s­
c im ento (cf. 2 .22 , “tam bém vós juntam ente 
so is ed ificad o s”).
1224
EFÉSIO S 2
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As ruínas das colunas 
que contornavam a 
Rua Curetes, em 
Éfeso, dão uma 
indicação da grandeza 
dessa cidade que 
estava localizada em 
uma das principais 
rotas comerciais. À 
esquerda, outra 
imagem mostra a 
extensão da Rua 
Harbor, que dava 
acesso à cidade. Paulo 
retornou a Éfeso ao 
final de sua segunda 
viagem missionária.
1MI— I M K M 
........ ...
« v - b í : ■
A ex p ressã o “to rn a r-se” está n o p assivo e 
ind ica o p ap el d e D eu s a o fazer co m qu e 
cada parte se ajuste a o todo: “T am b ém v ó s” 
(2 .22a) se refere à inclusão dos crentes gentios 
n o “tem p lo san to n o Senh or” (2 .2 1 b ). Aqui, 
a palavra grega para “tem p lo” nã o é hieron, 
que é usada para os limites do templo, porém 
naos, q u e se re fere ao san tu ário in terior 
que inclui o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo 
(R o b in son , 7 1 ).
4 ) Paulo co n clu i co m o pro p ósito para o qual 
o tem plo está sen d o construído, o qual já 
fo i su gerido qu an d o u sou o term o g reg o 
naos, isto é, “morada de Deus no Espírito”
(2 .2 2 ). Na antiga alian ça, o tabern ácu lo e o 
tem plo eram a h ab itação d o D eu s d e Isra­
el. No Novo Testamento, Paulo anteriormente 
cham ou cada u m dos crentes d e “tem plo 
de D eu s” e m orada do Espírito Santo (1 Co 
3 .16 ). Agora, porém , e em um sentido m ais 
amplo, P au lo se refere aos crentes co leti­
vam ente, tanto judeus co m o gentios, com o 
o tem plo e a m orada de D eus na terra (2 .22). 
E n tr e ta n to , D e u s n ã o e s tá e s p e r a n d o 
a té q u e a Ig r e ja s e ja u m e d if íc io t e r m in a ­
d o p a r a v iv e r nele-, e s tá r e s id in d o d e n tr o 
d e ca d a cr is tã o e m c a d a p a s s o d o p r o c e s s o . 
O b se rv e q u e e m 2 .2 2 te m o s ou tra d as m u itas 
r e f e r ê n c ia s in d ir e ta s à T r in d a d e q u e a p a ­
r e c e m e m E f é s io s : a I g r e ja e s t á s e n d o 
e d if ic a d a em Cristo, c o m o a m o r a d a d e 
Deus ( o P a i) no Espírito.
1225
EFÉSIO S 3
4.4. Paulo e a Igreja como o 
Meio de Revelação da 
Multiforme Sabedoria de 
Deus na Redenção 
(3-1-13)
O c a p ítu lo 3 c o m e ç a c o m P a u lo o r a n ­
d o a fa v o r d a c o m p le ta r e a l iz a ç ã o d a o b r a 
d e C r is to n a Ig r e ja e n o s c r e n te s . S u a fra ­
s e d e a b e r tu r a : “P o r e s ta c a u s a ”, r e p e tid a 
e m 3 .1 4 , v o lta a s e r e f e r i r ã o g r a tu ito p la ­
n o d e D e u s da red en çã o , q u e inclu i o s gen tios 
( e s p e c ia lm e n t e 2 .1 3 - 2 2 , o n d e o s g e n t io s 
r e d im id o s s ã o , a o la d o d o s ju d e u s , ig u a l­
m e n te m e m b r o s d o c o r p o ú n ic o d e C r is ­
t o ) . P o r e m , e n tr e a s o c o r r ê n c ia s d e s s a s 
f r a s e s , n o s v e r s o s 1 e 1 4 , P a u lo a fa s ta -s e 
d o te m a p r in c ip a l c o m o e m u m a in s p ir a ­
d a e x c u r s ã o , p a r a b r e v e m e n t e e x p a n d ir 
o t e m a c e n tr a l d e E fé s io s — is to é , s o b r e 
a c o n ju n ç ã o d e to d a s a s c o is a s s o b u m a 
ú n ic a c a b e ç a : C r is to ( 1 .9 ,1 0 ) — e a in c u m ­
b ê n c ia q u e r e c e b e u d e D e u s p a ra s e r o 
a p ó s t o lo p a r a o s g e n t io s .
A p ó s e s s a b r e v e , p o r é m im p o r ta n te 
o b s e r v a ç ã o , P a u lo p r o f e r e s u a s e g u n d a 
m a is im p o r ta n te o r a ç ã o n e s s a c a r ta , u m a 
o r a ç ã o a p o s t ó l ic a a fa v o r d a p le n i tu d e 
e s p ir itu a l d o s c r e n te s ( 3 .1 4 - 2 1 ) , a f im d e 
q u e D e u s p o s s a s e r g lo r i f ic a d o n a Ig r e ja 
( q u e é o c o r p o d e C r is to ) , a s s im c o m o o 
é e m C r is to J e s u s .
4.4.1. Paulo como um Poderoso Ins­
trumento de Deus (3.1-9). A n tes d e in iciar 
s u a s e g u n d a o r a ç ã o a p o s t ó l ic a , P a u lo 
rep en tin a m en te faz u m a p au sa. T alv ez te n d o 
a lc a n ç a d o “u m lu g a r d e r e p o u s o e m s e u s 
p e n s a m e n t o s . . . e le s e le m b r e o n d e e s tá 
e p o r q u e ” ( R o b in s o n , 7 4 ) . À m e d id a q u e 
r e f le te s o b r e s u a p r e s e n t e c ir c u n s tâ n c ia 
c o m o u m p r is io n e ir o d e C r is to , p o r a m o r 
a o s g e n t i o s , d e l i b e r a d a m e n t e p a s s a a 
d is c o r r e r s o b r e o m is té r io d o e v a n g e lh o 
n o q u e d iz re s p e ito a e s s e p o v o . E m R o m a , 
P a u lo e r a u m p r is io n e ir o d o im p e r a d o r 
r o m a n o N e r o , m a s fa la d e s i m e s m o c o m o 
“p r is io n e ir o d e je s u s C r is to ”. R e c u s a c o n ­
s id e ra r-se u m a v ítim a d a in ju s tiça n a s m ã o s 
d o s ju d e u s o u d o s r o m a n o s .
A cred ita n d o n a so b e ra n ia d e C risto so b re 
s u a v id a , d e c la r a s e r u m “p r is io n e ir o d e 
J e s u s C is to ” ( c f . 4 .1 ; 6 .2 0 ) “p o r v ó s , o s
g e n t io s ”. E s s a a f ir m a ç ã o d e m o n s tr a u m 
fa to v e r d a d e ir o , c u ja s c ir c u n s tâ n c ia s h is ­
tó r ic a s e s tã o r e g is tr a d a s e m A to s 2 1 .1 7 —
2 2 .2 1 . O e n c o n tr o d e P a u lo c o m ju d e u s 
h o s t is e m Je r u s a lé m , q u e q u a s e c u s to u - 
lh e a v id a e r e s u lto u e m q u a tr o a n o s s u b ­
s e q ü e n te s d e p r is ã o e m C e s a r é ia e R o m a , 
“o r ig in o u -s e d ir e ta m e n te d e s e u m in is té rio 
a o s g e n t io s ” ( B r u c e , 1 9 8 4 , 3 0 9 - 1 0 ) . P o r ­
ta n to , n o m e io d e u m a s e n t e n ç a , o c o r r e 
a P au lo a n e ce ss id a d e d e ex p lica r u m a sp e cto 
d o m is té r io d e D e u s , a n te s q u e s e u s l e i ­
to r e s g e n t io s e s t e ja m to ta lm e n te p r e p a ­
ra d o s p a r a d iz e r “a m é m ” à s u a o r a ç ã o a 
f a v o r d e le s .
O s v e r s o s 2 -6 m o s tr a m a c h a m a d a d e 
P a u lo , r e c e b id a d o p r ó p r io S e n h o r J e s u s 
C risto , p a ra s e r v ir a o s g e n t io s (c f. A t 2 2 .1 4 , 
2 1 ; 2 6 .1 5 -1 8 ; G l 1 .1 5 ,1 6 ; 2 .7 -9 ) . E le c o m e ç a 
le m b r a n d o s e u s le i to r e s d a “d is p e n s a ç â o 
d a g r a ç a d e D e u s , q u e p a r a c o n v o s c o m e 
fo i d a d a ” (3 .2 ) . A g ra ça a q u e P a u lo s e re fe re 
a q u i n ã o é a “g r a ç a s a lv a d o r a ” ( c o m o e m 
2 . 5 , 8 ) , p o r é m a m e n s a g e m d a r e v e la ç ã o 
e o d iv in o e n c a r g o q u e e s ta v a m e n v o lv i­
d o s e m s u a id a a o s g e n t io s (c f . 3 .7 ,8 ) . “A 
g ra ç a im p lic a ‘e n tr e g a ’ e P a u lo re ssa lta e s s e 
f a to r ” (W o o d , 4 5 ) n o s e n t id o d e q u e e s ta 
lh e f o i c o n c e d i d a s o b a f o r m a d e u m 
b e n e f í c io a o s g e n t io s .
A p a la v r a g r e g a p a r a “d is p e n s a ç â o ” 
íoikonomia) s ig n if ic a , l i te r a lm e n te , “a d ­
m in is tr a d o r d a c a s a ”, o u c u r a d o r -c h e fe . 
P a u lo e r a o a d m in is t r a d o r -c h e fe d a c a s a 
d e D e u s d o p r im e ir o s é c u lo , p a r a s e r o 
d is p e n s e ir o d a g r a ç a d e D e u s a o s g e n t i ­
o s (c f . 1 C o 9 -1 7 ; C l 1 .2 5 ) . E le fo i e n c a r r e ­
g a d o p o r C r is to d e le v a r o c o n h e c im e n to 
d o e v a n g e lh o a o s g e n t io s , a s s im c o m o as 
im p l ic a ç õ e s d a m e n s a g e m p a r a a in c lu ­
s ã o d o s g e n t io s n a Ig r e ja c o m o m e m b r o s 
p le n o s d e s s e c o r p o b a s e a d o n a g r a ç a e 
n ã o n a le i.
A a d m in is t r a ç ã o d a g r a ç a d e D e u s a o s 
g e n t io s e n v o lv ia ta n to a s a b e d o r ia c o m o 
a r e v e la ç ã o (v . 3 ) : sabedoria p a ra e d if ic a r 
c o r r e ta m e n te a Ig r e ja d e D e u s (1 C o 3 -1 0 ) 
e r e v e l a ç ã o a r e s p e i t o d o “m i s t é r io ” 
( mysterion) d o e v a n g e lh o ( 3 - 3 ,4 ,6 ,9 ; so b re 
e s s a p a la v ra , v e ja o s c o m e n tá r io s e m 1 .9 ) . 
P a u lo m e n c io n a c in c o c a r a c te r ís t ic a s r e ­
la c io n a d a s a o “m is té r io ”.
1226
EFÉSIO S 3
1) O m istério torn o u -se co n h e c id o “p ela re ­
v e la ç ã o ” (3 .3 ; cf. v. 5). Em outras p assa ­
gens, Paulo enfatiza o caráter rev elad or de 
sua cham ada, d eleg ação e m ensagem (p or 
ex e m p lo , 1 C o 15-8; G l 1 .1 2 ,1 5 ,1 6 ). N ão 
co n ce b e u e sse p lan o rad ical d o e v a n g e­
lh o p o r sua p rópria iniciativa, e n ão for­
m ulou um a nova doutrina através d e sua 
própria insp iração . P e lo co ntrário , o m is­
tério lhe v eio d iretam ente d e D eu s. A lém 
d isso, a ad m inistração da graça de D eu s 
lhe foi dada a fim de que pudesse “demonstrar 
a tod o s qu al se ja a d isp en sação do m isté­
rio, qu e, d esd e o s sécu lo s, estev e ocu lto 
em D eu s, que tudo crio u ” (3-9). Isto é, o 
m istério n ão se torn ou a p en as co n h e c id o 
a P au lo através da rev e lação ; tinha tam ­
b é m a responsabilidad e de tom á-lo co n h e ­
cid o aos outros.
2) P aulo identifica o n ú cleo d o m istério co m o 
sen d o o “m istério de C risto” (3 .4 ) n o se n ­
tido d e q u e E le é a o m esm o tem p o a fo n te 
e a essên cia (H en d rik sen , 153). O próp rio 
Cristo é ch am ad o de “m istério d e D e u s” 
(Cl 2 .2 ; cf. 1 .2 6 ,2 7 ) p o rq u e nE le “o D eu s 
invisível fo i to ta lm en te rev e lad o ; ‘o m is­
tério de C risto’ p o d e ser m elh or co m p re­
en d id o co m o o m istério q u e co n siste em 
C risto ... [e] q u e é d e sco b e rto n e le ” (B ru ce , 
1984, 3 1 3 ). O ev an g e lh o q u e P au lo p re­
gava era “p ela rev e lação d e Je s u s C risto” 
(G l 1 .1 2 ) — qu e os gen tios p od eriam ser 
salvos p e la graça através da fé em Cristo, 
sem que precisassem observar as ordenanças 
da le i ju d aica (G l 2 .1 5 -2 1 ; 3 .1 0 -1 4 ,1 7 -2 5 ) . 
Precisamente por ser, de acordo com o sentido 
acim a, um ev an ge lh o in d ep en d en te da lei,
“Era aplicável tanto aos gentios com o 
ao s ju d eu s (se n d o a le i u m a b arre ira 
qu e an terio rm ente os havia m antido se ­
p arad o s). A in co rp o ra çã o d os g en tio s 
(e m b a s e s ig u ais) ju n ta m en te co m os 
ju d eu s ao n o v o p o v o d e D e u s ... e s ta ­
va im p líc ita n e sse e v a n g e lh o . E ssa in ­
c o rp o r a ç ã o re p re se n ta o a s p e c to d o 
‘m istério cie Cristo’ qu e estava agora sendo 
en fa tiz a d o ” (B ru c e , 1984 , 313 ).
3 ) O fa to de D eu s p re te n d e r q u e as b ê n ç ã o s 
d e A b ra ã o e as p ro m e ssa s da sa lv a çã o 
m e ssiâ n ica , a trav és da te o c r a c ia ju d a ica ,
in clu íssem o s g en tio s , não estavam an ­
terio rm en te o cu ltas (v . 5 ). E las foram c la ­
ra m en te rev e lad as n o s livros d o A ntigo 
Testam ento da Lei, dos Profetas e dos Escritos 
(p o r e x e m p lo , em G n 1 2 .1 -3 ; D t 3 2 .4 3 ; SI 
18 .49 ; 117.1 ; Is 11 .10). O q u e estava ocu lto 
nas antigas gerações e não havia sido previsto 
n e m m e sm o p e lo s p ro fe ta s d o A n tig o 
Testam ento era o seguinte: o p lano de Deus 
p ara a re d e n ç ã o em C risto (o M essias) 
en v olv ia a d estru ição da antiga linha de 
dem arcação qu e separava judeus de gentios
(2 .1 4 ,1 5 ) . O a n tig o p a c to d as p ro m e ssa s 
divinas, a teo cracia nac io n a l jud aica , devia 
se r su b stitu íd o p o r um a n o v a ra ça e s p i­
ritual (o s c r is tã o s ) , e p o r um a n o v a c o ­
m unidade internacional (a Igreja) nas quais, 
e m C risto , ju d e u s e g e n tio s se r ia m a d ­
m itid o s em b a s e s igu ais, sem n e n h u m a 
d is tin ç ã o .
E sse p lan o e tern o do Pai (1 .4 ) d e criar em 
Cristo “dos d ois um n o v o h o m em ” (2 .1 5 ), 
e de unir ju d eu s e gen tio s co m o “um co r­
p o” (2 .16), anteriormente desconhecido “nou­
tros sécu los” (3 .5 ), “esteve oculto em D eu s” 
(3 -9 ) co m o o “m istério de C risto” (3 .4 ) . A 
rev e la çã o d esse m istério foi confiad a por 
C risto a P aulo , p ara q u e o fizesse c o n h e ­
cid o aos gentios.
4 ) A lém d isso , e sse era o m istério agora “re ­
velado pelo Espírito aos seus santos apóstolos 
e p ro fe tas” (3 -5 ) co m o o a licerce so b re o 
qu al a Igreja seria ed ificada (2 .2 0 -2 2 ).
5 ) No verso 6, Paulo continua a descrever esse 
m istério, utilizando um a tríade d e palavras 
co m p o stas, cad a um a d elas co m o prefi­
x o g reg o syn (sig n ifican d o “em co n ju n to 
c o m ”). O s g en tios n ão serão salvos atra­
vés d e um a sa lv ação p ro jetad a e sp e c ia l­
m ente para eles com o exilados (com o gentios 
c o n v e rtid o s ao ju d a ísm o ). A ntes, se rã o 
“herdeirosjuntamente com" os ju d eu s das 
b ê n ç ã o s pro m etidas a A braão e seu s d es­
c e n d e n te s — “h e rd e iro s d e D eu s e co - 
h erd eiro s de C risto” (R m 8 .1 7 ).
O s g e n t io s e r a m t a m b é m “membros 
em conjunto" c o m o s ju d e u s d o c o r p o 
ú n ic o d e C risto . A p a la v ra g re g a (synsoma) 
q u e fo i u s a d a n e s s e m o m e n t o n ã o o c o r ­
re n o s e s c r i to s c lá s s ic o s g r e g o s , a p e n a s 
a q u i n o N o v o T e s t a m e n t o . E m o u t r a s 
p a la v ra s , P a u lo c ria u m a n o v a p a la v ra p a ra
1227
EFÉSIO S 3
e n fa tiz a r q u e , c o m o p a rtic ip a n te s d o c o r p o 
d e C r is to , o s g e n t io s tê m d ir e ito s ig u a is 
a o s d o s ju d e u s .
F in a lm e n te , o s g e n t io s “participam em 
conjunto” c o m o s ju d e u s d e to d o s o s p a c to s 
h is tó r ic o s d a s p r o m e s s a s d iv in a s q u e f o ­
ra m c o n c e d id a s a Is r a e l e a g o r a r e a l iz a ­
d a s e m C r is to J e s u s . J u d e u s e g e n t io s 
p a r t ic ip a m ig u a lm e n te d a v id a e d a s a l ­
v a ç ã o q u e e x is t e m e m C r is to , a tr a v é s d o 
e v a n g e lh o (c f . G 1 3 .6 - 2 9 ) . C o m o P a u lo já 
o b s e r v a r a a n te r io r m e n te , “N is to n ã o h á 
ju d e u n e m g r e g o ; n ã o h á s e r v o n e m li­
v r e ; n ã o h á m a c h o n e m fê m e a ; p o r q u e 
t o d o s v ó s s o is u m e m C r is to J e s u s . E , s e 
s o is d e C r is to , e n tã o , s o is d e s c e n d ê n c ia 
d e A b r a ã o e h e r d e ir o s c o n f o r m e a p r o ­
m e s s a " (G1 3 .2 8 ,2 9 ) .
P a u lo d e c la r a q u e fo i c h a m a d o p a ra se r 
u m s e r v o d e s s e “e v a n g e lh o ” (3 -6 ,7 ) e d esta 
“g r a ç a ” ( 3 .8 ) . Q u a n d o P a u lo fa la d e s s e 
“e v a n g e lh o ” e s tá s e r e fe r in d o à r e v e la ç ã o 
d e J e s u s C r is to e ta m b é m a tu d o a q u i lo 
q u e fo i e n c a r r e g a d o d e a n u n c ia r e m C risto ; 
“e s ta g r a ç a ” r e p r e s e n ta s u a m is s ã o e s p e ­
c íf ic a d e to r n a r c o n h e c id a s “a s r iq u e z a s 
in co m p reen sív eis d e Cristo” (3 .8 ) a o s gentios.
P a u lo c o n t in u a a e x p l ic a r q u e s e to r ­
n o u u m s e r v o ( diakonos) o u u m “m in is ­
t r o ” (N A S B , N K JV ) d e s s e e v a n g e lh o “p e lo 
d o m d a g r a ç a d e D e u s , q u e m e fo i d a d o 
s e g u n d o a o p e r a ç ã o d o s e u p o d e r ” (3 -7 ) . 
P a u lo n ã o d e c id iu s e r u m m in is t r o d o 
e v a n g e lh o s e g u n d o u m a s im p le s e s c o lh a 
v o c a c io n a l . A v o c a ç ã o q u e e s c o lh e r a e r a 
s e r u m r a b in o ju d e u . D e u s , a o c o n tr á r io , 
to m o u a in ic ia t iv a , s u r p r e e n d e n d o P a u ­
lo n a e s tr a d a d e D a m a s c o , e s c o lh e n d o - o 
p a r a r e c e b e r a r e v e la ç ã o d e s e u F i lh o e 
c o n v o c a n d o - o p a ra o s e r v iç o c o m o u m 
a p ó s t o lo d o s g e n t io s — tu d o is s o c o m o 
u m a d á d iv a d a g r a ç a .
O s u b s e q ü e n t e m in is t é r io d e P a u lo 
ta m b é m n ã o fo i s im p le s m e n t e o u s o e f i ­
c i e n t e d e s u a s h a b i l id a d e s n a tu r a is . A n ­
te s , fo i o re s u lta d o d ire to d o p o d e r d e D e u s 
tra b a lh a n d o a trav és d ele . A s p alav ras u sad as 
a q u i p a ra “t r a b a lh a n d o ” ( energeia) e “p o ­
d e r ” ( dynamis) s ã o ig u a is à q u e la s u s a ­
d a s e m 1 .1 9 ,2 0 p a r a d e s c r e v e r o p o d e r 
d e D e u s d e r e s s u s c i ta r a C r is to d o s m o r ­
to s . “E fo i e x a t a m e n t e a s s im : e s s e p o d e r
de r e s s u s c ita r , o p e r a n d o e m P a u lo , p e r ­
m it iu - lh e f a z e r c o m q u e o b o n d o s o p r o ­
p ó s i to d e D e u s f r u t i f ic a s s e e n tr e o s g e n ­
t io s ” ( B r u c e , 1 9 6 1 , 6 3 ) .
A f im d e n ã o s e c o n s id e r a r d e m a s i ­
a d a m e n te im p o r ta n te , p o r t e r s id o c o n ­
v o c a d o c o m o u m in s tr u m e n to s o b e r a n a ­
m e n t e e s c o lh id o , c o n f e s s a s in c e r a m e n ­
te : “A m im o mínimo [o m enor dos me­
nores] d e to d o s o s s a n to s ” (3 -8 ) . O a p ó s to lo 
cria u m a e x p r e s s ã o e s p e c ia l p a ra d e sc re v e r 
a r e a l id a d e d e s u a s i t u a ç ã o . E s s e d im i- 
n u tiv o d u p lo n ã o é u m a a f ir m a ç ã o d e e x a ­
g e r a d a h u m ild a d e . E x p r e s s a s u a p e r f e i ­
ta c o n s c iê n c i a d e q u e , c o m o u m a n t ig o 
in im ig o d e C r is to e v io le n to p e r s e g u id o r 
d a I g r e ja , e r a o m a is in d ig n o d e t o d o s 
o s m in is tro s d o e v a n g e lh o (c f. 1 C o 1 5 .9 ,1 0 ;
1 T m 1 .1 2 - 1 7 ) .
N o e n ta n to , d e v e m o s n o s le m b r a r d e 
q u e , n o in íc io d e s s a c a r ta ( 1 .1 ) , P a u lo fa la 
d e s u a a u to r id a d e c o m o a d e u m a p ó s t o ­
lo — p o r c a u s a d a m a r a v ilh o s a g r a ç a d e 
D e u s , d e s u a p r ó p r ia e s c o lh a e c o m is s io ­
n a m e n to e d o p o d e r in c o m p a r a v e lm e n ­
te g r a n d e d e D e u s o p e r a n d o n e le p a ra 
“a n u n c ia r e n tr e o s g e n t io s ” ( 3 8 ) . A p a la ­
v ra “a n u n c ia r ” o u “p r e g a r ” ( euangelizo) 
s ig n if ic a “a n u n c ia r a s b o a s n o v a s ”, a s b o a s 
n o v a s d a s “r iq u e z a s in c o m p r e e n s ív e is d e 
C r is to ” ( 3 .8 ) . P a u lo já h a v ia d e s c r i to a l­
g u m a s d e s s a s r iq u e z a s n o s d o is p r im e i­
ro s c a p ítu lo s d e E fé s io s .
A p a la v r a “in c o m p r e e n s ív e l” o u “in e s - 
c r u tá v e l” ( anexichniastos) s ig n if ic a , l ite ­
r a lm e n te , “im p o s s ív e l d e s e r d e s c o b e r ­
t o ” . N a v e r s ã o d a S e p tu a g in ta , n o liv ro 
d e J ó , e s s a p a la v r a é u s a d a e m c o n e x ã o 
c o m a c r ia ç ã o d e D e u s e o s p ro c e d im e n to s 
d a p r o v id ê n c ia , a s s u n to s q u e e s t ã o a lé m 
d e n o s s a lim itad a c o m p r e e n s ã o . P a u lo u so u 
e s s a p a la v r a e m R o m a n o s 1 1 .3 3 q u a n d o 
s e r e fe r iu a o s p r o c e d im e n to s d e D e u s e m 
r e la ç ã o a o s ju d e u s e a o s g e n t io s n a h is ­
tó r ia d a s a lv a ç ã o . O s t r a d u to r e s t ê m s e 
e m p e n h a d o p a r a e n c o n tr a r u m e q u iv a ­
le n te e m in g lê s p a ra e s s a p a la v ra d e in e x ­
p r im ív e l a b u n d â n c ia . In c lu íd a s n o c o m is ­
s io n a m e n t o d e P a u lo , p a r a p r e g a r a o s 
g e n tio s , e s tã o a s “in c o m p r e e n s ív e is ” (N IV , 
N K JV ), “im p e n e t r á v e is ” (N A S B ), “i lim i­
ta d a s” (N R SV ), “in ca lcu lá v e is” (J. B . Phillip s),
1228
EFÉSIO S 3
“in s o n d á v e is ” (N T e n f á t i c o ) e “in f in i ta s ” 
( B íb l ia d e je r u s a l é m ) r iq u e z a s d e C r is to , 
e a re sp o n sa b ilid a d e d e “d e m o n stra ra to d o s 
q u a l s e ja a d is p e n s a ç ã o d o m is té r io ” (3 .9 ) . 
P a u lo e s c r e v e o s c a p ítu lo s 1 a 3 d a C a r ta 
a o s E fé s io s t e n d o , e m p a r te , e s s e m e s ­
m o p r o p ó s i to n a m e n t e e n o c o r a ç ã o .
4.4.2. Algrejacomoumlnstrumento 
Coletivo (3.10-13). A re v e la ç ã o d e P a u lo 
s o b r e o “m is té r io ” d o e v a n g e lh o , ta l c o m o 
fo i fe ita e m E fé s io s , c o n t in u a a s e e x p a n ­
d ir : c o m e ç a n d o n a e te r n id a d e , o n d e fo i 
c o n c e b id o n o c o r a ç ã o d o P a i ( 1 .4 ; 3 -1 1 ) , 
s e g u e -s e a e n c a r n a ç ã o d e C r is to , c o m o 
b a s e p a ra su a r e a liz a ç ã o h is tó rica (1 .7 ; 3 .1 1 ; 
c f . J o 1 .1 4 ) , a c o m u n ic a ç ã o d a r e v e la ç ã o 
a P a u lo e o u tro s a p ó s to lo s e p ro fe ta s c o m o 
in s tr u m e n to s h u m a n o s d e e n te n d im e n ­
to e d iv u lg a ç ã o ( 3 - 3 ,5 ) , a d e m o n s t r a ç ã o 
p ú b l ic a d o m is té r io e m u m a n o v a h u m a ­
n id a d e r e d im id a ( 2 .1 - 1 0 ) a u m a n o v a e 
a b r a n g e n te c o m u n id a d e d e re d im id o s (a 
I g r e ja ) c o m o a fa m ília d e D e u s e o c o r p o 
d e C r is to s o b r e a te rra ( 2 .1 1 - 2 2 ; 3 -6 ).
F m 3 .1 0 , P a u lo d á m ais u m p a ss o à fren te. 
D e u s p r e te n d e “a g o r a , p e la ig r e ja ” q u e “a 
m u ltiform e sab ed o ria d e D e u s se ja co n h e c id a 
d o s p r in c ip a d o s e p o te s ta d e s n o s c é u s ”. 
“A g ora” in d ica u m a n o v a p len itu d e d e te m p o 
e cie p ro p ó s ito n o p la n o d e D e u s (W estco tt, 
4 8 ) . “M u lt i fo r m e ” s ig n if ic a m u lt ic o lo r id a 
o u m u ltiv a r ia d a . E s s a p a la v ra e r a u s a d a 
p a r a d e s c r e v e r a v a r ie d a d e d e c o r e s n a s 
f lo re s , n o s b o rd a d o s d o s te c id o s e n a s b e la s 
ta p e ç a r ia s . A “m u lt i fo r m e s a b e d o r ia ” d e 
D e u s e s tá e x p o s ta n a c r ia ç ã o , e m s e u F i­
lh o c o m o e n c a r n a ç ã o d e s s a s a b e d o r ia , e 
a g o r a ta m b é m n a Ig r e ja . C e r ta m e n te , a 
m u ltiform e sa b ed o ria d e D e u s é re c o n h e c id a 
n a s c o is a s c r ia d a s s e n d o p e r s o n if ic a d a e m 
C r is to c o m o a lg o “m u ito e s p le n d o r o s o , 
ir id escen te , q u e co n tin u a m e n te se d esd o b ra 
e m b e le z a s ” (W o o d , 4 8 ) .
M as , e a r e s p e i to d a Ig re ja ? C e r ta m e n ­
te q u e , d e n tro d o p ro p ó s ito e te rn o d e D e u s, 
a Ig r e ja n ã o fo i c o n c e b id a c o m o s e n d o 
u m a o r g a n iz a ç ã o h o m o g ê n e a e m o n ó to n a , 
o u m e s m o u m c o n g lo m e r a d o d e in s titu i­
ç õ e s e c le s iá s t ic a s fra g m e n ta d a s . P e lo c o n ­
trá r io , o “c o r p o ú n i c o ” d e C r is to , s e n d o a 
e x p o s iç ã o d a “m u lt ifo r m e s a b e d o r ia d e 
D e u s ”, te m o p r o p ó s ito d e p a r e c e r -s e c o m
u m a lin d a ta p e ç a r ia e m s u a d iv e r s id a d e 
( c o m m ú ltip la s e tn ia s e c u ltu r a s ) e e m su a 
h a r m o n ia (u m s ó c o r p o e u m s ó E s p ír i ­
to .. . u m s ó S e n h o r , u m a s ó fé , u m s ó b a ­
t is m o ; u m s ó D e u s e P a i d e t o d o s ; c f . 4 .4 -
6 ) . N ã o e x is te n e n h u m a o u tra c o m u n id a d e 
n o m u n d o q u e p o s s a s e ig u a la r à v e r d a ­
d e ir a Ig r e ja d e je s u s C ris to .
D a m e s m a fo r m a q u e P a u lo s e t r a n s ­
fo r m o u n o in s tr u m e n to c o n d u to r d a r e ­
v e la ç ã o a o s g e n t io s , n o q u e s e r e f e r e à 
“m u ltifo rm e sa b e d o ria d e D e u s ” (3 -8 ), assim 
ta m b é m a Ig r e ja s e r á u m c o n d u to r d a r e ­
v e la ç ã o n o s re in o s ce lestia is n o q u e s e re fere 
à “m u lt ifo r m e s a b e d o r ia cie D e u s ” ( 3 .1 0 ) . 
A r e v e la ç ã o a o s p r in c ip a d o s e p o te s ta d e s 
c e le s t ia is n ã o r e p r e s e n ta u m a p r o c la m a ­
ç ã o r e d e n to r a d a g r aç a d e D e u s e m C ris ­
to , m a s u m a e x p o s iç ã o r e d e n to r a d a s a ­
b e d o r ia d e D e u s a tra v é s d a Ig re ja .
M as q u e m s ã o e s te s p r in c ip a d o s e p o te s ­
ta d es? A lg u n s s u g e r e m q u e “r e p r e s e n ta m ” 
e stru tu ra s p o lít ic a s , s o c ia is , e c o n ô m ic a s , 
religiosas e culturais q u e D eu s esp era m odificar 
n o m u n d o a tra v é s d a Ig re ja (Caird., 6 6 -6 7 ; 
B a r th , 1 .3 6 5 ) . E n tr e ta n to , a m a io r ia d o s 
e s tu d io s o s e v a n g é lic o s e p e n te c o s ta is c o n ­
c o rd a q u e a e x p r e s s ã o s e r e fe re “a o s r e i­
n o s c e le s t ia is ”. O s te r m o s p r in c ip a d o s e 
p o testad es p o d e m estar se referin d o a o s an jo s 
b o n s (c f . C l 1 .1 6) q u e a n s e ia m p o r c o n h e ­
c e r a s a b e d o r ia d e D e u s n a r e d e n ç ã o (1 P e 
1 .1 2 ) . O u p o d e s e r e fe r ir a g o v e r n a n te s 
d e m o n ía c o s (c f . E f 6 .1 2 -1 8 ; c f. D n 9 .2 -2 3 ; 
1 0 .1 2 ,1 3 ; 2 C o 1 0 .4 ,5 ) , q u e h á m u ito te m ­
p o s e o p õ e m a o “e te m o p ro p ó s ito ” d e D e u s 
e m C ris to ( E f 3 -1 1 ). O u , c o m o p a r e c e s e r 
m ais p ro v áv el, p o d e a b ra n g e r tan to o s a n jo s 
d e D e u s c o m o a s fo rç a s d e S a ta n á s , q u e 
te s te m u n h a m c o m o e s p e c ta d o r e s a d e fe ­
sa d a s a b e d o r ia d e D e u s , ta l c o m o fo i d e ­
m o n stra d a n a cru z (1 C o 1 .2 3 ,2 4 ,3 0 ; C l 2 .1 5 ) 
e m a n ife s ta d a a tra v é s d a Ig re ja .
N a e f e t iv a ç ã o e x t e r io r d o e te r n o p r o ­
p ó s i to d e D e u s e m C r is to , a Ig r e ja o c u p a 
u m lu g a r c e n tr a l p o r c a u s a d e s u a u n iã o 
c o m C r is to , q u e é a c a b e ç a . A u n iã o d e 
ju d e u s e g e n t io s r e d im id o s , q u e p a s s a m 
a c o n s t i tu ir u m ú n ic o p o v o , e m u m ú n i­
c o c o r p o , fo r m a u m a p a r te in te g ra l e u m a 
q u e s tã o c e n tr a l n o e te r n o p r o p ó s i to d e 
D e u s . N a ú lt im a o r a ç ã o d e je s u s a n te s d a
1229
EFÉSIO S 3
c ru c ific a ç ã o ( Jo 1 7 ), E le p e d e p a ra q u e se u s 
d is c íp u lo s e a Ig r e ja “s e ja m p e r fe i to s e m 
u n id a d e ” ( 1 7 .2 3 ) , n o a m o r , c o m o t e s t e ­
m u n h a o c u la r d o a m o r e d a u n id a d e q u e 
e x is te m e n tr e o P a i e o F i lh o ( 1 7 .2 0 - 2 6 ) .
A fim d e q u e is s o s e t o m e u m a r e a lid a ­
d e , o p o v o d e D e u s , e m u n iã o c o m C risto , 
d e v e s e r c a p a z d e s e a p ro x im a r d o P a i “e m 
u m m e s m o E s p ír ito ” ( E f 2 .1 8 ) c o m “o u s a ­
d ia e a c e s s o c o m c o n fia n ç a ” (3 -1 2 ). E m Cristo 
n ã o m a is e x is te a “p a r e d e d e s e p a r a ç ã o ”
( 2 .1 4 ) q u e , s o b o a n t ig o p a c to , m a n tin h a 
o s g e n t io s d is ta n te s d e D e u s e o s s e p a r a ­
v a d o s ju d e u s . T a m b é m n ã o m a is e x is te o 
v é u q u e m a n tin h a o s a d o r a d o r e s s e p a r a ­
d o s d a p re se n ç a d e D e u s n o Lugar Santíssim o. 
A “c o n f ia n ç a ” o u a “l ib e r d a d e ” à q u a l P a u lo 
s e r e fe r e e m 3 -1 2 é a m e s m a q u e a p a r e c e 
e m H e b r e u s q u a n d o o s c r e n te s s ã o e n c o ­
r a ja d o s a c h e g a r “c o m c o n f ia n ç a a o t r o n o 
d a g r a ç a ” (H b 4 .1 6 ) e “o u s a d ia p a ra e n tra r 
n o San tu ário , p e lo sa n g u e d e je s u s ” (1 0 .1 9 ).
P a u lo c o n c lu i e s s a s e ç ã o ( in ic ia d a e m
3 .2 ) r e f e r i n d o - s e n o v a m e n t e a o s s e u s 
s o fr im e n to s p e lo s g e n t io s (v . 1 3 ; c f. v . 1 ). 
D e s s a v e z , n o e n ta n to , o s e x o r ta a n ã o se 
s e n t ir e m d e s e n c o r a ja d o s p e la s u a p r is ã o ; 
c o m o s e u d e fe n s o r , e in c lu i o s te m a s d o s 
“s o f r im e n to s ” e d a “g ló r ia ” ( p r e v a le c e n - 
t e s e m to d o o N o v o T e s ta m e n to ) .
A p e r s p e c t i v a d e P a u lo s o b r e s e u s 
s o f r im e n to s e s tá c la r a m e n t e m a n i fe s t a ­
d a e m u m a p a s s a g e m s e m e l h a n t e e m 
C o lo s s e n s e s .
R ego zijo -m e, agora, n o q u e p a d eço 
por vós [gentios] e na minha carne cumpro 
o resto das a fliçõ es de Cristo, p e lo seu 
co rp o , q u e é a igreja; da qu al eu estou 
fe ito m in istro [servo] se g u n d o a dis- 
p e n sa çã o d e D eu s, qu e m e fo i c o n c e ­
dida para convosco, para cumprir a palavra 
d e D eu s (Cl 1.24,25).
P a u lo s a b ia q u e s e u s s o fr im e n to s p o r 
C r is to e s ta v a m a c u m u la n d o p a r a e le “u m 
p e s o e t e r n o d e g ló r ia ” (2 C o 4 .1 7 ) , e e s ­
tav am , ig u a lm e n te , p re p a ra n d o -o p a ra p a r­
tic ip ar d a g lória d e C risto (R m 8 .1 7 ) . T a m b é m 
s a b ia q u e e s s a g ló r ia “s e r ia ta m b é m p a r ­
tilhada c o m a q u eles e m cu jo n o m e a p re sen te 
a f l iç ã o e r a s u p o r ta d a ” ( B r u c e , 1 9 8 4 ,3 2 3 ) .
5. A Oração Apostólica pelo
Esclarecimento Espiritual dos
Crentes (3 .1 4 -2 1 )
N o c a p ítu lo 1 , o in s p ir a d o h in o d e P a u ­
lo , e m lo u v o r a o g lo r io s o p la n o d e D e u s 
d a r e d e n ç ã o e m C r is to ( 1 .3 - 1 4 ) , é a c o m ­
p a n h a d o p o r u m a a rd e n te in te rc e s sã o p e lo s 
s a n to s p a r a q u e c o n h e ç a m m e lh o r a s e u 
D e u s , p o r m e io d a e x p e r iê n c ia e d a c o m ­
p r e e n s ã o d a r e v e la ç ã o ( 1 .1 7 - 2 3 ) . N o s 
c a p ítu lo s 2— 3 , a in s p ir a d a e x p o s iç ã o d e 
P a u lo a re s p e ito d a g ra ç a p o d e ro s a d e D e u s 
n a r e d e n ç ã o d e c a d a u m d o s p e c a d o r e s 
(2 .1 -1 0 ) e d a c o m u n id a d e d o c o rp o d e Cristo 
( 2 .1 1 — 3 .1 3 ) e s tá a c o m p a n h a d a d e u m a 
fe r v o r o s a in te r c e s s ã o p e la p le n i tu d e e s ­
p ir itu a l d e tu d o q u e D e u s p la n e jo u p a r a 
se u p o v o . E m r e la ç ã o a e s s e m o d e lo , o n d e 
a re v e la çã o é a co m p a n h a d a p e la in tercessão , 
J o h n Sto tt (1 3 2 ) ob se rv a : “A ssim c o m o Je s u s 
m o lh o u c o m s u a o r a ç ã o a s s e m e n te s d o s 
e n s i n a m e n t o s q u e h a v ia p l a n t a d o n o 
c e n á c u lo 0 o 13— 1 7 ), P a u lo ta m b é m a c o m ­
p a n h a s e u s e n s in a m e n to s c o m u m a o r a ­
ç ã o f e r v o r o s a . . .”
5.1. A Fervorosa Súplica de 
Paulo (3-14-19)
A o r a ç ã o d e P a u lo in ic ia c o m a f r a s e 
“P o r c a u s a d is s o ” (3 -1 4 ) , q u e a p a r e c e p e la 
p r im e ir a v e z e m 3 .1 , e q u e v o lta a m e n c i ­
o n a r a re v e la ç ã o d a m is e r ic ó rd ia e d a g ra ç a 
d e D e u s in c lu in d o o s g e n t io s , e m b a s e s 
ig u a is , e a t r a v é s d a fé e m C r is to , e m s e u 
c o r p o ú n ic o ( 2 .1 3 - 2 2 ; 3 .2 - 1 3 ) . D e s s a fo r ­
m a , v o lta a u m a o r a ç ã o q u e h a v ia q u a s e 
in ic ia d o , p o r é m p o s te r g a d o e m 3-1 .
A f r a s e “m e p o n h o d e jo e l h o s ” ( 3 - 1 4 ) 
s ig n if ic a , l i t e r a lm e n te , “d o b r o m e u s jo ­
e l h o s ” . A p o s tu r a n o r m a l d o s ju d e u s a o 
o r a r e r a e m p é c o m o s b r a ç o s e s t e n d i ­
d o s e m d i r e ç ã o a o c é u ( c f . M t 6 .5 ; L c
1 8.1 1 ,1 8 ) . O f a to d e P a u lo d o b r a r o s jo ­
e l h o s , s e m d e ix á - l o s n e m m e s m o e m 
p o s iç ã o e r e t a e r a , p e lo c o n t r á r io , u m a 
p o s i ç ã o d e p r o s t r a ç ã o , c o m a c a b e ç a 
t o c a n d o o s o lo ( d e m o n s t r a n d o “h u m il­
d a d e ”, “s o le n id a d e ” e “a d o r a ç ã o ” [H e n - 
d r ik s e n , 1 6 6 ] ) . B a r c la y ( 1 5 0 ) c o m p le t a : 
“A o r a ç ã o d e P a u lo p e la I g r e ja é t ã o in ­
1230
EFÉSIO S 3
t e n s a q u e e le s e p r o s t r a p e r a n te D e u s n a 
a g o n ia d e u m a s ú p l ic a ”.
A fr a s e “P e r a n te o P a i” r e p r e s e n ta u m 
a ce s so fren te a fren te c o m E le , q u e foi to m a d o 
p o s s ív e l p o r c a u s a d o s a n g u e r e d e n to r d e 
C r is to e p e lo E s p ír ito S a n to ( 2 .1 8 ; 3 .1 2 ) . 
E m b o ra P a u lo s e a p r o x im e d e D e u s c o m o 
s e n d o s e u “P a i” is s o n ã o tra d u z s o m e n te 
u m a in tim id ad e fam iliar, m a s ta m b é m h o n ra , 
r e s p e i to e r e v e r ê n c ia . C o m o M a x T u r n e r 
n o s le m b r a ( 1 2 3 5 ) “n o o r ie n te o p a i é o 
d ir ig e n te d a fa m ília , a q u e le p a r a o q u a l 
t o d a s a s q u e s t õ e s d e im p o r t â n c ia s ã o 
c o m u n ic a d a s , e a q u e m o s f i lh o s ( in d e ­
p e n d e n te d e s u a id a d e ) d e v e m s u b m e ­
te r -s e e m o b e d i ê n c i a ”.
E sse se n tid o d o p a p e l p a triarca l d e D e u s 
e s tá a c e n tu a d o p e la fr a s e s e g u in te : “d o 
q u a l to d a a fa m ília [pasapatria] n o s c é u s 
e n a te rra to m a o n o m e ”. E x is te m trê s tr a ­
d u ç õ e s p o ss ív e is d a fra se pasapatria: “ca d a 
fa m íl ia ” (R S V , N E B , N A S B , N R S V ), “to d a 
a f a m íl ia ” (K JV , N K JV , N IV ) o u “to d a a 
p a te rn id a d e ” (JBP, N IV m arg em , F. F. B ru ce ). 
A p rim eira v e rs ã o p o d e s e r e n te n d id a c o m o 
s e r e fe r in d o à fa m ília d o s a n jo s c e le s t e s 
e à s fa m íl ia s re d im id a s d a te r r a ( ta n to d e 
ju d e u s c o m o d e g e n t io s ) q u e c o n s t i tu e m 
a fa m ília ú n ic a d e D e u s . A s e g u n d a v e r ­
s ã o m a n té m a ê n fa s e d e P a u lo , p r e s e n te 
e m to d o o livro d e E fésio s, so b re o s red im idos 
c o m o u m a ú n ic a fa m ília e s o b r e a u n id a ­
d e d o s c r e n te s c o m o u m a n o v a h u m a n i­
d a d e e u m ú n ic o c o r p o d e C risto . D e a c o rd o 
c o m e s s a o p in iã o a s p a la v r a s “n o s c é u s e 
n a te r r a ” s e r e f e r e m à Ig r e ja tr iu n fa n te n o 
c é u e à Ig r e ja m il i ta n te n a te rra . A t e r c e i ­
ra v e rs ã o en fa tiz a u m jo g o d e palav ras e n tre 
pater ( “P a i”, 3 -1 4 ) apatria ( “p a te r n id a d e ”, 
3 .1 5 ) . B r u c e ( 1 9 6 1 , 6 7 ) d e fe n d e e s s a ú lt i­
m a v is ã o t r a d u z in d o e in te r p r e ta n d o a s 
p a la v r a s d e P a u lo cia s e g u in te m a n e ir a :
“M e p o n h o de jo e lh o s p eran te o Pai 
d e n o sso Se n h o r Je s u s Cristo, d o qual 
toda a fam ília n o s céu s e na terra tom a 
o n o m e ”. Isto q u er dizer, tod as as e sp é ­
c ies de p atern id ad e n o un iverso se d e­
rivam d o a rq u étip o orig inal da Paterni­
d ade d e D eu s, p o is E le é o Ú n ico Pai 
q u e n ão d e scen d e de n enh u m outro. E 
quanto mais qualquer paternidade, natural
ou esp iritual, se ap ro x im ar em caráter 
da p erfeita P atern id ad e d e D eu s, m ais 
se m anifestará a v erd ad eira p atern id a­
de q u e está d e aco rd o co m a v o n tad e e 
p ro p ósito d e D eus.
A o r a ç ã o d e P a u lo q u e s e s e g u e é c o m ­
p o s ta p o r trê s g r a n d e s s ú p lic a s ( 3 .1 6 ,1 7 a ; 
3 .1 7 b -1 9 a ; 3 -1 9 b ) . C a d a s ú p lic a in c lu i u m a 
c lá u s u la g r e g a d e p r o p ó s i to , hina, c u ja 
t r a d u ç ã o l ite r a l é “a f im d e q u e ” ( 3 .1 6 ,1 8 , 
1 9 b ) . E s s a c lá u s u la hina a c e n tu a m a is 
d is t in ta m e n te a s trê s q u e s t õ e s e m g r e g o , 
d o q u e e m in g lê s o u p o r tu g u ê s :
1) A prim eira sú p lica (3 .1 6 ,1 7 a ) está dirigida 
a um p ed id o co m um sen tid o d up lo e cu ja 
d u p licid ade p o d e ser a riqu eza a bu n d an ­
te da glória d e D eu s (N A SB, NKJV, NRSV) 
ou talvez a ab u n d ân cia da g lorio sa riq u e­
za d e D eu s (N IV). C o m o D eu s é e tern o e 
infinito , assim tam b ém é a m edida d e sua 
generosidade ao responder às orações. Paulo 
p ed e (a) a presença poderosa e capacitadora 
d e D eu s a trav és d o E sp ír ito San to para 
“fo rta lecer” (a m esm a palavra em 1 .1 9 ) os 
cren tes em seu “h o m em in terior” (3 .1 6 ), e 
(b ) p ela p re sen ça in terior de Cristo para 
que, pela fé, habite no “co ração” dos crentes 
(3 .1 7 a ).
P a ra in té rp re te s q u e tê m u m a d ic o to m ia 
d e e n te n d im e n to s o b r e a p e r s o n a l id a d e 
h u m a n a ( in te r io r e e x t e r io r ) , o “h o m e m 
in te r io r ” e o “c o r a ç ã o ” s ã o m e tá fo r a s s i ­
n ô n im a s d o ú n ic o “v e r d a d e ir o e p e r m a ­
n e n te s e r ” ( B r u c e , 1 9 6 1 ,6 7 ) , q u e p o d e s e r 
d ia r ia m e n te r e n o v a d o , m e s m o q u a n d o a 
p e rso n a lid a d e e x te r io r e s tá se c o n s u m in d o 
(2 C o 4 .1 6 ) . D a m e s m a fo r m a , o E s p ír ito 
S a n to e o E s p ír ito d e C r is to s ã o c o n s id e ­
r a d o s c o m o te r m o s in te r c a m b iá v e is ( c f . 
R m 8 .9 -1 1 ). “O fa to d e te m io s Cristo m o ra n d o 
e m n ó s o u d e t e r m o s o E s p ír i to S a n to 
m o ra n d o e m n ó s , rep re se n ta a m e sm a co isa . 
N a v e rd a d e , é p r e c is a m e n te p e la p r e s e n ç a 
d o E sp írito S a n to q u e C risto re s id e e m n o s s o 
c o r a ç ã o ” (S to tt , 1 3 5 ) .
A q u e le s q u e v ê e m a p e r s o n a l id a d e 
h u m a n a c o m o u m a tr ic o to m ia ( e s p ír ito , 
a lm a e c o r p o ; c f . 1 T s 5 .2 3 ; H b 4 .1 2 ) c o n ­
s id e ra m a s in te n ç õ e s d e P a u lo c o m o se n d o 
a s m a is c la r a m e n te d e fin id a s . E le o r a p a ra 
q u e o s c r e n te s s e ja m fo r ta le c id o s e r e n o -
1231
EFÉSIO S 3
v a c lo s p e lo E s p ír ito e m s e u “h o m e m in ­
te rio r” (e sp ír ito h u m a n o ) a fim d e q u e C risto 
p o s s a r e s id ir c o m o S e n h o r e m s e u s c o r a ­
ç õ e s ( is to é , “a lm a ”, q u e in c lu i a m e n te 
o u o p e n s a m e n to , a s e m o ç õ e s e a v o n ta ­
d e ) a t r a v é s d a fé . D e a c o r d o c o m e s s a 
in terp retação , Cristo h ab ita a tiv am en te c o m o 
S e n h o r d o c o r a ç ã o o u d a s e d e d a p e r s o ­
nalid ad e d o cre n te e d e su a ativ id ade volitiva, 
à m e d id a q u e s o m o s f o r t a le c id o s p e lo 
p o d e r o s o E s p ír ito d e D e u s n o m a is ín ti­
m o d e n o s s o ser. O te m p o a o r is to d o v e r b o 
“r e s id ir ” ( 3 . 1 7 a ) tra z c o n s ig o o s e n t id o d e 
“e s t a b e l e c e r s u a p e r m a n ê n c i a ” o u d e 
“e s ta b e le c e r su a r e s id ê n c ia ” c o m o S e n h o r 
“a tra v é s d e [u m a vid a] d e f é ”. B r u c e a c r e s ­
c e n ta q u e “o a to in ic ia l d a fé , p e lo q u a l o 
c r e n te s e u n e a C r is to , é s e g u id o p o r u m a 
v id a d e fé d u r a n te a qu a l e s ta u n iã o s e r á 
m a n t id a ” ( 1 9 8 4 , 3 2 7 ) . H . C . G . M o u le s e 
a lo n g a n a s im p lic a ç õ e s :
A p alav ra q u e [Paulo] e sc o lh e u 
(katoikein) é um a palavra com posta para 
exp ressam en te d en otar resid ência , em 
contraste a um sim ples a lo jam ento, isto 
é , a resid ência d e um sen h o r dentro de 
sua p rópria casa, e não a co n d içã o de 
sim ples p ernoite de um viajante tem p o­
rário qu e terá partido n o dia segu inte...
Ela é a residência permanente de seu Mestre 
e Senhor, no co ração , q u e d eve reinar 
on d e reside; q u e entra n ão ap en as para 
alegrar e confortar, m as p ara reinar so ­
bre todas as coisas (Citado p or Stott, 136).
N o v a m e n te d e v e m o s o b s e r v a r a t r in ­
d a d e n o c o n te ú d o d o p e n s a m e n to d e P a u lo 
e m 3 - l4 - 1 7 a . E le o r a a o Pai ( v .1 4 ) p a ra 
q u e fo r ta le ç a o s c r e n t e s a tr a v é s d o Espí­
rito, p a r a q u e Cristo p o s s a m o r a r e m s e u s 
c o r a ç õ e s c o m o S e n h o r .
2) A segunda m aior súplica (3 .17b-19a) é para 
q u e o s cren tes se jam cap acitad o s a abra­
çar o am or de Cristo. Crentes em cujo coração 
C risto resid a c o m o Senh or, e q u e se jam 
“arraigad os e fun dad os em am o r” (3 .1 7 b ). 
“Estar anaigado” no am or é com o um a árvore 
ou p lanta cu jas raízes se ap ro fu nd am n o 
so lo ; “estar fu n d ad o ” so b re o am or se as­
sem elh a a um ed ifício co m p o d ero so s ali­
ce rce s e sta b e lec id o s so b re só lid as rochas,
Segu nd o Stott (1 3 6 ), am bas as m etáforas 
“enfatizam a pro fun d id ad e em o p o siçã o 
à su p erfic ia lid ad e”. D en otam um re la c io ­
nam ento crescen te e seguro co m Cristo que 
frutificará e será p erm an en te . A lém disso, 
as d uas m etáforas são p articíp io s d o tem ­
p o perfeito grego e, portanto, d enotam um 
re la c io n a m e n to e sta b e le c id o co m Cristo
— n ã o no sen tid o está tico , m as, p e lo c o n ­
trário, envolvendo o crescim ento nEle. Dessa 
form a, as m etáforas transm item u m re la ­
c io n a m en to só lid o , a q u e le q u e cre sce em 
frutos e vida.
T e n d o p e d id o a o P a i a p r e s e n ç a p o d e ­
ro sa d o E sp írito a fim d e fo rta le ce r o s c re n te s 
p a ra q u e C ris to p o s s a h a b ita r n e le s c o m o 
S e n h o r d e su a s v id a s , e t e n d o o b s e r v a d o 
as r a íz e s e o s a l ic e r c e s n o a m o r d e D e u s , 
P a u lo a g o r a p a s s a a o r a r p a r a q u e o E s p í­
rito c o n c e d a a o s se u s le ito re s g e n tio s “c o m 
to d o s o s s a n to s ” ( e m h a r m o n ia c o m s e u 
te m a d a u n id a d e ) a p o s s e d a r e v e la ç ã o d o 
a m o r d e Cristo, q u e p o d e se r v isto e m q u a tro 
d im en sõ es : “P o ssu ir” significa “m a n ter c o m o 
p r o p r ie d a d e s u a ” s u a re a lid a d e a tra v é s d o 
c o n h e c im e n to p e s s o a l . “P o s s u ir e s s a r e ­
v e la ç ã o e m s u a to ta lid a d e n ã o é u m a r e a ­
liz a ç ã o m o m e n tâ n e a ” ( B r u c e , 1 9 8 4 , 3 2 8 ) , 
c o m o o p r ó p r io P a u lo t e s t e m u n h a e m 
F ilip e n s e s 3 -1 2 -1 6 . E ssa e ra a a m b iç ã o d e 
su a v id a : e le a g o r a e x p r e s s a e s s e f e r v o r o ­
s o d e s e jo e m r e la ç ã o a to d o s o s c r e n te s .
C o n h e c e r a la r g u r a , e o c o m p r im e n ­
to , e a a l tu r a , e a p r o f u n d id a d e d o a m o r 
d e C r is to é c o n h e c e r a lg o “q u e e x c e d e 
to d o e n te n d im e n to ” (3- 1 9 a ) . O te x to g re g o 
n ã o é b a s ta n t e c la r o s o b r e a q u e s e r e f e ­
re e s s a lin g u a g e m c o m q u a tr o d im e n s õ e s , 
e p o r e s t a r a z ã o t e m s id o te m a d e in ú ­
m e ra s d is c u s s õ e s 3. A lg u n s in té rp r e te s a fir­
m a m q u e e s s a l in g u a g e m é m e r a m e n t e 
u m a h ip é r b o le p o é t ic a p a ra o a b r a n g e n te 
a m o r d e C r is to ; p o r t a n t o , a s q u a tr o d i­
m e n s õ e s n ã o tê m u m a im p o r tâ n c ia e s ­
p e c íf ic a e m s e p a r a d o o u in d iv id u a lm e n te . 
E n t r e ta n to , e x i s t e u m a p r o c e d ê n c ia b í ­
b l ic a p a ra a im p o rtâ n c ia d o e m p r e g o d e ssa 
l in g u a g e m c o m q u a tr o s ig n i f ic a d o s in ­
d iv id u a is d a s d im e n s õ e s ( n ã o a p e n a s c u ­
m u la t iv o ) . O b s e r v e o d is c u r s o d e Z o fa r 
a r e s p e i to d o s m is té r io s d a s a b e d o r ia d e 
D e u s e m J ó 1 1 .8 ,9 .
1232
EFÉSIO S 3
“É c o m o as a ltu ra s d o s cé u s — 
q u e p o d erás tu fazer?
M ais profund a é ela do q u e o in ferno 
(S h e o l)— qu e poderás tu saber? 
M ais co m p rid a é a su a m edida do q u e 
a terra; e m ais larga d o qu e o m ar”
U m d o s in té r p r e te s c h e g o u a e n c o n ­
tra r u m p a r a le lo c o m R o m a n o s 8 .3 7 -3 9 - 
“P o d e m o s c a m in h a r e m f r e n te o u r e t r o ­
c e d e r , s u b ir a té a s a ltu r a s o u d e s c e r à s 
p r o fu n d e z a s ; n a d a n o s s e p a r a r á d o a m o r 
d e C r is to ” (M itto n , 1 3 4 ) .
N o c o n t e x t o d e E fé s io s , o n d e o m is té ­
r io d o a m o r d e C r is to p e lo s g e n t io s é in - 
c o m e n su rá v e l e e x c e d e to d o e n te n d im e n to , 
P a u lo a c e n tu a q u e : E le é s u f ic ie n te m e n ­
te a b r a n g e n te p a ra a lc a n ç a r a to d o o m u n d o 
e a in d a m a is d o q u e is to ( 1 .9 ,1 0 ,2 0 ) . É 
s u fic ie n te m e n te lo n g o p a ra s e e s te n d e r d e 
e te r n id a d e a e te r n id a d e ( 1 .4 - 6 ,1 8 ; 3 -9 ) . É 
s u f ic ie n te m e n te a lto p a r a e le v a r , ta n to o s 
g e n tio s c o m o o s ju d eu s, ao s lu g ares ce lestia is 
e m C r is to J e s u s ( 1 .1 3 ; 2 .6 ) . É s u f ic ie n te ­
m e n te p r o fu n d o p a r a r e s g a ta r a s p e s s o ­
as d a d e g r a d a ç ã o d o p e c a d o e a té d as garras 
d o p ró p rio Sa ta n á s (2 .1 -5 ; 6 .1 1 ,1 2 ) . O a m o r 
d e C r is to é o a m o r q u e E le te m p e la Ig r e ­
ja c o m o u m c o r p o ú n ic o ( 5 .2 5 , 2 9 ,3 0 ) e 
p o r a q u e le s q u e in d iv id u a lm e n te c o n f i ­
a m n E le ( 3 -1 7 ) (W o o d , 5 2 ) .
C o n h e c e r e x p e r im e n ta lm e n te o a m o r 
d e C ris to é “c o n h e c e r o p r ó p r io C ris to , e m 
u m a e x p e r iê n c ia ca d a v e z m a is a b ra n g e n te , 
e te r s e u p e r m a n e n t e e a b n e g a d o a m o r 
re p ro d u z id o e m n ó s m e s m o s ” (B ru c e , 1 9 8 4 , 
3 2 9 ) . P a u lo e s tá s e r e fe r in d o a u m e n t e n ­
d im e n to e x p e r im e n ta l d o a m o r d e C r is ­
to , c o n f o r m e s e to r n a a p a r e n te e m 3 -1 9 a , 
o n d e a f ir m a q u e e s s e a m o r “e x c e d e to d o 
e n te n d im e n to ”. A lé m d is so , in d e p e n d e n te 
d e tu d o q u e p o s s a m o s c o n h e c e r a r e s p e ito 
d o a m o r d e C r is to , s e m p r e e x is t ir á m u ito 
m a is p a r a c o n h e c e r p o r q u e e le é in f in ito 
e in e x a u r ív e l .
3 ) A ssim c o m o as d uas a n terio res , su a ú lti­
m a súplica (3 .19b ) é introduzida por "bina ”, 
(lite ra lm e n te , “p ara q u e ”). E ssa sú p lica 
re p resen ta o c lím ax da p ro g re ssã o d e sua 
oração ap ostó lica : “para q u e Cristo habite, 
p e la fé , n o v o sso c o r a ç ã o ” c o m o S e n h o r
(3 .1 7 ) a fim d e p od erm o s “c o m p re e n d e r”
as q u atro d im e n sõ e s d e seu am or (3 -1 8 ) 
e estarm os c h e io s de tod a a p len itu d e de 
D e u s” (3 .1 9 ).
O te m a d a “p le n itu d e ” (pleroma) o c o rr e 
e m C o lo s s e n s e s e e m E fé s io s . E m C o lo s ­
s e n s e s , e s tá s e r e fe r in d o à p le n itu d e d e 
C r is to J e s u s c o m o a e n c a r n a ç ã o d e D e u s 
(C l 1 .1 9 ; 2 .9 ) e f o n te d e n o s s a p r ó p r ia 
p le n i tu d e (C l 2 .1 0 ) . E m E fé s io s , o f o c o é 
a p le n itu d e d a Ig re ja c o m o c o r p o d e C risto 
( 1 .2 3 ; 4 .1 3 ) e a p a r t ic ip a ç ã o d o s c r e n te s 
n e s s a p le n itu d e (3 -1 9 ; 5 .1 8 ) . N a fra s e “p a ra 
q u e s e ja is c h e io s d e to d a a p le n i tu d e ”, a 
p re p o s iç ã o “p a ra ” (d o g re g o , eis) q u e r d iz er 
q u e o s c re n te s d e v e m s e r p ro g re ss iv a m e n te 
c h e io s c o m a m e d id a d a p le n itu d e d e D e u s , 
a ss im c o m o a Ig re ja d e v e p ro g re ss iv a m e n te 
“c r e s c e r e m [C ris to ]” ( 4 .1 5 ) a té q u e p o s ­
s a m o s a lc a n ç a r a “m e d id a d a e sta tu ra c o m ­
p le ta d e C r is to ” ( 4 .1 3 ) .
P o r é m , c o m o o f in i to p o d e r á a l c a n ­
ç a r a p le n i t u d e d o in f in ito ? P o d e r á a h u ­
m a n id a d e s e to r n a r D e u s ? O b v ia m e n t e 
e s s e t ip o d e r a c io c ín io e s tá lo n g e d o a r­
g u m e n t o q u e P a u lo e s tá d e fe n d e n d o . A 
p le n i tu d e q u e D e u s p r e te n d e , in d iv id u ­
a lm e n t e , p a r a c a d a c r e n t e e p a r a a I g r e ­
ja , é a p l e n i t u d e d e C r is to e m q u e m , 
exclusivamente, r e s id e to d a a p le n i tu d e 
d e D e u s e m s u a fo r m a c o r p ó r e a . A s s im 
s e n d o , e m C o lo s s e n s e s 2 .1 0 , P a u lo a c r e s ­
c e n ta : “E e s ta is p e r fe i t o s n e l e ” . P e lo fa to 
d e c o n h e c e r m o s a C r is to a t r a v é s d a fé 
c o m o u m S e n h o r q u e r e s id e e m n ó s , e 
p o r n o s d e d ic a r m o s a c o n h e c e r p r o g r e s ­
s iv a m e n t e o s e u a m o r a t r a v é s d e s u a 
r e v e la ç ã o , p o d e r e m o s a o f in a l s e r in t e ­
g r a d o s e m to d a a p le n i t u d e d e D e u s e m 
C risto . C e r ta m e n te a in te rc e s s ã o a p o s tó lic a 
n ã o p o d e r ia ir m a is lo n g e d o q u e is s o .
5.2. A Gloriosa Doxologia de 
Paulo (3-20,21)
E s s a d o x o lo g ia n ã o r e p r e s e n ta a p e n a s 
a co n c lu s ã o d a o ra çã o d e P au lo , m a s ta m b é m 
o c l ím a x d a p r im e ir a p a r te d e E fé s io s , e 
u m a t r a n s iç ã o p a r a a s e g u n d a . E la p o d e 
s e r c o n s id e r a d a o a p o g e u d e to d a a c a r ­
ta , c o m o s c a p ítu lo s 1— 3 a s c e n d e n d o a té 
o “á p ic e e s p ir itu a l” d a d o x o lo g ia , e c o m 
o s c a p ítu lo s 4— 6 d e s c e n d o p a r a fo c a l i ­
1233
EFÉSIO S 3
z a r im p o r ta n te s a s p e c to s d a r e d e n ç ã o d a 
Ig re ja e d e ca d a u m d o s cre n tes . N o v am e n te , 
a d o x o lo g ia le m b r a a o s le i to r e s d e P a u lo 
a s o b r e e x c e le n t e g r a n d e z a d o p o d e r d e 
D e u s e as a b u n d a n te s riq u e z a s d a su a g ra ça 
q u e o p e r a n e le s ( 1 .1 9 — 2 . 7 ) — “n ã o p a r a 
e n c o r a ja r p e d id o s e g o ís ta s , m a s p a ra p r o ­
m o v e r u m a c o n f ia n te e s p e r a n ç a e m su a 
n o v a cr ia ç ã o , e sú p lic a s q u e c o rre s p o n d a m 
a o p ro p ó s ito d e D e u s p a ra a Ig re ja e m n o ss a 
e r a p r e s e n t e ” (T u rn e r , 1 2 3 6 ) .
P a ra q u e s e u s le ito r e s n ã o p e n s e m q u e 
e x a g e r o u e m su a in te rc e s sã o , P a u lo d e c la ra 
q u e D e u s é c a p a z d e fa z e r “m u ito m a is 
a b u n d a n te m e n te a lé m d a q u ilo q u e p e d i­
m o s o u p e n s a m o s ” (v . 2 0 ) . C o m o B r u c e 
o b s e r v a ( 1 9 8 4 , 3 3 0 ) , “É im p o s s ív e l p e d ir 
d e m a is a D e u s , p o is su a c a p a c id a d e d e d ar 
e x c e d e e m m u ito a n o s s a c a p a c id a d e d e 
p e d ir — o u m e s m o d e im a g in a r ”. P a u lo 
e s c r e v e “m u ito m a is a b u n d a n t e m e n t e ” 
(hyperekperissou) , u m d o s in ú m e ro s su p e r­
la tiv o s q u e c r io u e q u e o c o r r e s o m e n te aq u i 
e e m 1 T e s s a lo n ic e n s e s 3 -1 0 ; 5 .1 3 . Hypert 
o e q u iv a le n te d e “s u p e r ’* e m la tim , ek s ig ­
n if ic a “a p a rtir d e ” e perissos s ig n if ic a “m a is 
d o q u e s u f ic ie n te , a lé m d e , a b u n d a n t e ” 
(A b b o tt , 3 5 7 ) . A ss im , hyperekperissou e x ­
p r e s s a a s u p e r a b u n d â n c ia d a c a p a c id a d e 
d e D e u s e m r e s p o n d e r à s o r a ç õ e s , a c im a 
e a lé m d e n o s s a s m a is n o b r e s a s p ir a ç õ e s .
P a u lo fa z c in c o e n é r g ic a s a f ir m a ç õ e s 
a r e s p e i to d a c a p a c id a d e q u e D e u s te m 
d e r e s p o n d e r à s o r a ç õ e s :
1) E le é capaz de fazer o q u e p ed im os p or­
qu e, co m o D eu s, tem o p o d er de resp o n ­
der.
2) E le é cap az de fazer o que pedimos porque, 
através de Cristo e p e lo Espírito, tem os li­
vre a ce sso a E le co m o n o sso Pai.
3 ) E le é cap az d e fazer tudo q u e p ed im o s ou 
p en sa m o s p o rq u e co n h e c e n o sso s p en sa ­
m entos e é infinitamente sábio sobre quando 
e co m o resp on der.
4 ) E le é capaz de fazer mais do qiie tudo aquilo 
que pedimos p o rq u e seu s p lan o s sã o m ai­
ores q u e os n ossos.
5) E le é ca p a z d e fa z e r infinitamente m ais 
d o q u e tud o a q u ilo q u e p ed im o s ou p e n ­
sam os po rqu e, co m o D eu s, E le dá de aco r­
d o c o m as a b u n d a n te s riq u e z a s da sua 
g raça .
A c a p a c id a d e infin ita d e D e u s re s p o n d e r 
à s o r a ç õ e s , a lé m d e n o s s a l im ita d a c a ­
p a c id a d e d e p e d ir , e s tá “s e g u n d o o p o ­
d e r [dynamis] q u e e m n ó s o p e r a ” (3 -2 0 b ) . 
E m 1 .1 9 -2 1 , P a u lo d e s c r e v e e s s e dynamis 
c o m o o p o d e r q u e r e s s u s c i to u a C r is to 
J e s u s d o s m o r to s e o e n tr o n iz o u c o m o 
S e n h o r d e to d a s as c o is a s n o re in o ce le stia l, 
e q u e ta m b é m n o s r e s s u s c i to u d a m o r te 
e s p ir itu a l e n o s f e z a s s e n t a r a o s e u la d o 
n e s s e m e s m o r e in o . E sse p o d e r n ã o é m e n o r 
d o q u e a q u e le q u e o p e r a in d iv id u a lm e n te 
d e n tr o d e n ó s ( q u e s o m o s h a b ita d o s p o r 
s u a p o d e r o s a p r e s e n ç a ) e e m n ó s c o r p o - 
r e a m e n te ( q u e é o lu g a r d a m o r a d a d e 
D e u s , p e l o s e u E s p ír i to ) . O b s e r v e q u e a 
v id a c r is tã , a r e s p e i t o d a q u a l P a u lo e l e ­
v a s u a o r a ç ã o , a b r a n g e ta n t o a t r a n s c e n ­
d ê n c ia d e D e u s , q u e e s tá acima de nós 
c o m o n o s s o P a i c e le s t ia l ( 3 .1 4 ,1 5 ) c o m o 
a im a n ê n c ia d e D e u s , q u e o p e r a p o d e ­
r o s a e g lo r io s a m e n te dentro de nós c o m o 
s e u p o v o r e d im id o ( 3 - 2 0 ,2 1 ) .
Q u a n d o , d e jo e lh o s p e r a n te o P a i (v . 
2 1 ) , P a u lo c o n c lu i s u a in s p ir a d a o r a ç ã o , 
r e p e n t in a m e n t e p r o f e r e u m a p od e r o s a 
e x c la m a ç ã o : “a e s s e g ló r ia ” ( t r a d u ç ã o li­
t e r a l) . C o m o o p o d e r v e m d e D e u s ( 3 -2 0 ) 
a g ló r ia d e v e v o lta r a E le ( 3 -2 1 ) . S u a g ló ­
r ia é a s o m a d e t o d o s o s s e u s a tr ib u to s , e 
é m a is c la r a m e n te r e c o n h e c id a n a Ig r e ja 
e e m C r is to J e s u s . D e u s d e v e s e r g lo í i f i - 
c a d o n a Ig r e ja p o r q u e e la , q u e a b r a n g e 
ju d e u s e g e n t io s , é a o b r a -p r im a d a g r a ­
ç a ” ( B r u c e , 1 9 8 4 , 3 3 1 ) .
A tra v é s d e Ig r e ja , D e u s d e c id iu to r n a r 
c o n h e c id a s u a s a b e d o r ia a o s p r in c ip a d o s 
e p o te s ta d e s n a s r e g iõ e s c e le s t ia is . E m ­
b o r a o s c é u s p r o c la m e m a g ló r ia d e D e u s , 
u m a glória a in d a m a io r é re c o n h e c id a através 
d a o b r a d e s u a g r a ç a e d a r e c o n c i l ia ç ã o 
d a Ig r e ja . A lé m d is s o , p e lo fa to d e a I g r e ­
ja s e r c o n s t i tu íd a p o r a q u e le s q u e e s tã o 
u n id o s e m C r is to c o m o m e m b r o s d e s e u 
co rp o , e e m q u e m Cristo resid e c o m o Senh or, 
a g ló r ia d e D e u s “n a ig r e ja ” n ã o p o d e s e r 
sep a ra d a d a g lória d e D e u s “e m C r is to je s u s ” 
(B ru c e , 1 9 8 4 ,3 3 1 ) . C o m o sa b ia m e n te afirm a 
F o u lk e s ( 1 0 7 ) : “A g ló r ia d e D e u s é m a is 
g lo r io s a m e n te v ista p o r su a g ra ç a , n a u n iã o 
d e s u a s c r ia tu r a s p e c a d o r a s [re d im id a s] a 
s e u e t e r n o e im p e c á v e l F i lh o ”.
1234
EFÉSIO S 4
O e lo d a r e d e n ç ã o , p r e c io s a m e n te e la ­
b o r a d o , q u e c o n g r e g a a Ig r e ja d e C ris to 
a tr a v é s d e s e u r e la c io n a m e n t o , d e v e s e r 
“p a ra lo u v o r d a su a g ló r ia ” ( 1 .6 ,1 2 ,1 4 ) “e m 
to d a s a s g e r a ç õ e s [n a h is tó r ia ] , p a r a to d o 
o s e m p r e [n a e te r n id a d e ] . A m é m ! [is to é , 
‘a s s im s e ja ’]” ( 3 .2 1 ) . A p r im e ir a p a r te d a 
c a r ta d e P a u lo s e e n c e r r a n e s s e á p ic e d a 
m o n ta n h a d a in s p ir a ç ã o e d a r e v e la ç ã o . 
A g o ra , P a u lo está p ro n to p ara an alisar a lgu n s 
a s s u n to s p r á t ic o s , n e c e s s á r io s p a r a q u e 
a m a n i f e s t a ç ã o d a g ló r ia d e D e u s s e ja 
r e c o n h e c id a n o s s a n to s .
Parte II. Instruções Práticas para 
a Igreja e para os Crentes 
(capítulos 4—6)
N o s c a p ítu lo s 1— 3 d e E fé s io s , P a u lo e s ­
c r e v e u a r e s p e i to d o p r o p ó s i to e t e r n o d a 
r e d e n ç ã o d e D e u s , e m C risto , e d e su a o b ra 
n a h is tó r ia . D e s c r e v e u c o m o D e u s e s tá 
c r ia n d o u m a n o v a h u m a n id a d e e u m a n o v a 
c o m u n id a d e (a I g r e ja ) s o b r e a te rra . N o s 
cap ítu lo s 4— 6, P au lo analisa d e fo n n a prática 
a o b r a e x t e r n a d a s a lv a ç ã o n a v id a d iá r ia 
d o p o v o r e d im id o d e D e u s , ta n to e m n í­
v e l p e s s o a l c o m o n o c o r p o d e C r is to . E m 
e s p e c ia l , a b o r d a q u e s t õ e s q u e e n v o lv e m 
a u n id a d e d a Ig r e ja c o m o o “c o r p o ú n i­
c o ”, e a p u r e z a d a Ig r e ja c o m o o t e m p lo 
s a n to d e D e u s , e a n o iv a s a n ta d e C ris to .
P a u lo in s tr u iu e o r o u p o r s e u s le i to r e s 
n a p r im e ir a m e ta d e d a c a r ta ; a g o r a , p a s ­
sa a e x o r tá - lo s . In s tr u ç ã o , in te r c e s s ã o e 
e x o r t a ç ã o r e p r e s e n ta m s e u “fo r m id á v e l 
t r io ” (S to t t , 1 4 6 ) e m E fé s io s . E m o u tr a s 
p a la v ra s , P a u lo a b a n d o n a a s u a “te o lo g ia 
m e n ta lm e n te e s t r e s s a n te ” ( ib . ) d o s c a p í­
tu lo s 1— 3, a r e s p e ito d o q u e D e u s já h a v ia 
f e i to e m C r is to ( is to é , o in d ic a t iv o ) p a r a 
fo c a l iz a r a q u i lo q u e o s c r e n te s d e v e m s e r 
e f a z e r c o m o c o n s e q ü ê n c i a ( i s t o é , o 
im p e r a t iv o ; s ã o f o r n e c id a s tr in ta e c in c o 
d ir e tr iz e s r e la c io n a d a s a o m o d o d e v id a 
d o s r e d im id o s ) . E s ta d iv is ã o , n o e n ta n to , 
n ã o d e v e se r co n sid era d a c o m o a b ra n g e n d o 
s o m e n t e a s d ir e tr iz e s , p o r q u e a te o lo g ia 
c o n t in u a a e s ta r e n tr e la ç a d a c o m e x o r t a ­
ç õ e s p r á t ic a s .
O v e rso 1 introduz n ã o a p e n a s as q u estõ es 
a n a lisa d a s n o c a p ítu lo 4 , m a s ta m b é m to d a 
a s e g u n d a d iv is ã o d a c a r ta . E le c o m e ç a
c o m u m a e x o r t a ç ã o “R o g o - v o s ” [ im p lo ­
ro (K JV , N K JV ), v o s s u p l ic o (N R S V )] q u e 
a n d e is c o m o é d ig n o d a v o c a ç ã o c o m q u e 
fo s te s c h a m a d o s ”. O v e rb o “v iv er” e m g re g o 
é “a n d a r” (peripateo) q u e a p a re c e o ito v e z e s 
e m E fé s io s ( c in c o v e z e s n o s c a p ítu lo s 4—
5 ) . C o m o u m a m e tá fo r a , e le s e r e f e r e a o 
c o m p o r ta m e n to o u à c o n d u ta . O s c r e n ­
te s d e v e m “a n d a r c o m o é d ig n o ” ( 4 .1 ) e 
n ã o m a is “c o m o a n d a m ta m b é m o s o u ­
tro s g e n t io s ” ( 4 .1 7 ) , “a n d a r e m a m o r ” (5 .2 ) , 
“a n d a r c o m o f i lh o s d a lu z ” ( 5 .8 ) e c a m i­
n h a r s á b ia e p r u d e n t e m é n te T 5 .1 5 ) . E s s e 
v e r b o r e v e la u m a d ife r e n te fo r m a d e v i­
v e r q u e d e v e r ia c a r a c te r iz a r o s c r e n te s , 
p o r c a u s a d e s u a n o v a v id a e m C r is to , e 
e m todos o s r e la c io n a m e n t o s — p a r t ic u ­
la r e s , p ú b l ic o s e d o m é s t ic o s .
O v e r b o “a n d a r” ta m b é m c o n té m a id é ia 
d e p ro g re d ir , m o v im e n ta r - s e e m d ir e ç ã o 
a o o b je tiv o d a p le n a m a tu rid a d e e m C risto . 
E m 4 .1 , o s c r e n te s s ã o e x o r t a d o s a a n d a r 
o u v iv e r d e m o d o d ig n o d a v o c a ç ã o c o m 
q u e fo r a m c h a m a d o s . “D i g n o ” ( axios') 
s ig n if ic a l ite r a lm e n te “e le v a r o o u tr o la d o 
d a b a la n ç a ” ( TDNT.\ 1 .3 7 9 ) ■ P a u lo e stá ass im 
d e c la r a n d o q u e d e v e h a v e r u m e q u ilíb r io 
e n tr e a q u ilo q u e o s c re n te s p ro fe s s a m p e la 
fé , e a fé q u e p ra tic a m . A “c h a m a d a ” c o m ­
p r e e n d e a in ic ia t iv a e a in t e n ç ã o d e D e u s 
e m su a c o n v e r sã o (cf. F p 3 .1 4 ) ; “a n d a r c o m o 
é d ig n o ” é a s u a r e s p o n s a b il id a d e n a v id a 
d iá r ia ( c f . F p 1 .2 7 ) . A q u e le s q u e c o m p a r ­
t ilh a m a c h a m a d a d iv in a s ã o “o s c h a m a ­
d o s ” ( ekklesia, a Ig r e ja ) .
6. Implementando o Propósito de 
Deus para a Igreja (4.1-16)
N e s sa p a s s a g e m , P a u lo c o n v o c a o s cre n te s 
a s e r e m f ié is a o s e u d e s t in o e à s u a c h a ­
m a d a c o m o o c o r p o d e C r is to . P o r d e f i­
n iç ã o , o c o r p o r e p r e s e n ta u m a u n id a d e 
q u e r e q u e r s in g u la r id a d e ( 4 .2 - 6 ) . A Ig r e ­
ja , p o r é m , te m ta m b é m a m u ltip l ic id a d e 
e a d iv e r s id a d e c o m o p a r te s in te g r a n te s 
d e s u a u n id a d e ; “a c a d a u m ” C r is to d is ­
tr ib u iu a gr a ç a e o s d o n s c o m o p a r te s d e 
u m to d o ( 4 .7 ) . A lé m d is so , c o n c e d e u d o n s 
d e l id e r a n ç a p a r a a ju d a r a Ig r e ja a c r e s ­
c e r c o m o u m t o d o e a p r o g r e d ir e m d ir e ­
ç ã o à v e r d a d e ir a m a tu r id a d e e s p ir itu a l, e 
à m e d id a d a p le n i tu d e d e C r is to ( 4 .8 - 1 6 ) .
1235
EFÉSIO S 4
6.1. Preservara Unidade do 
Espírito (4.1-6)
O N o v o T e s ta m e n to te m d u a s p a s s a ­
g e n s c lá s s ic a s s o b r e o t e m a d a u n id a d e 
c r is tã . E fé s io s 4 .1 - 1 6 e J o ã o 1 7 . E m J o ã o 
1 7 , J e s u s r o g a a o P a i a r e s p e i to d e s u a 
in ic ia t iv a e fu n ç ã o p a ra q u e a Ig r e ja s e ja 
u m s ó c o r p o . E m E fé s io s 4 , P a u lo e x o r ta 
o s c r e n te s a r e s p e i to d e s u a r e s p o n s a b i ­
l id a d e d e p r o te g e r e c u id a r d a u n id a d e 
d o E s p ír ito q u e D e u s lh e s c o n c e d e u , e d e 
d i l ig e n te m e n te p r o c u r a r e m a m e d id a d a 
p le n itu d e d a v o n ta d e d e D e u s . A r e s p o n ­
s a b ilid a d e d o s c r e n t e s é a o m e s m o t e m ­
p o in d iv id u a l e c o le t iv a .
6.1.1. AResponsabilidade Individual
(4.1,2). A p r in c ip a l fo r m a d e n ó s , c r e n ­
tes, an d arm os d ig n am en te , c o n fo n n e a n o ssa 
v o c a ç ã o , é n o s r e la c io n a r m o s a d e q u a d a ­
m e n te u n s c o m o s o u tr o s c o m o m e m b r o s 
d o c o r p o d e C r is to — c o m to d a a h u m il­
d a d e e m a n s id ã o , c o m lo n g a n im id a d e , 
s u p o r ta n d o -n o s u n s a o s o u tr o s e m a m o r. 
“C o m to d a a h u m ild a d e e m a n s id ã o ” (v .
2 ) é u m a e x p r e s s ã o c o m p o s ta q u e s ig n i­
f ic a “h u m ild a d e d e m e n t e ”, o u o h u m il­
d e r e c o n h e c im e n to d a d ig n id a d e e d o v a lo r 
d a s o u tr a s p e s s o a s , ta l q u a l a m e n t e h u ­
m ild e q u e e x is t ia e m C r is to e q u e o le v o u 
a s e e s v a z ia r e s e to r n a r u m s e r v o ” (S to tt ,
1 4 8 ) . P o r trá s d e to d a a d is c ó r d ia e x is te o 
orgu lho ; p o r trás d e to d a h arm o n ia e u n idad e, 
e x is t e a h u m ild a d e . E la é e s s e n c ia l à u n i­
d a d e e à p a z d a Ig re ja c o m o c o ip o d e Cristo.
“B o n d a d e ” ta m b é m p o d e s e r tra d u z id a 
c o m o “m a n s id ã o ”. A m a n s id ã o n ã o é fra ­
qu eza , m as sim u m a força reprim ida. A palavra 
g r e g a tra z à m e n te a im a g e m d e u m c a v a ­
lo p u r o -s a n g u e , fo r te e f o g o s o , q u e q u a n ­
d o d o m esticad o o b e d e c e à m ã o co ntro lad ora 
d e s e u m e s tr e . C o m o u m a v ir tu d e cr is tã , 
e la s im b o liz a u m a f o r ç a b o n d o s a e q u e 
e s tá s o b c o n t r o le , a q u e le q u e é “s e n h o r 
d e s i m e s m o e s e r v o d o s o u t r o s ” (S to tt ,
1 4 9 ) . C o m o a c o n t e c ia n o m u n d o d e l ín ­
g u a g r e g a d a é p o c a d e P a u lo , ta m b é m e m 
n o s s o s d ia s “h u m ild a d e ” e “m a n s id ã o ” s ã o 
e m g e r a l q u a l id a d e s c o n s id e r a d a s c o m o 
r e p u g n a n te s n o m u n d o s e c u la r . P o r é m 
a m b a s r e f le te m o c a r á te r d e je s u s , e s ã o 
e s s e n c ia is à h a r m o n ia n a Ig r e ja .
“L o n g a n im id a d e ” e “to le r â n c ia m ú tu a ” 
s ã o v ir tu d e s e s s e n c ia is p a r a s u p o r ta r e r ­
ro s , f r a q u e z a s e p r o v o c a ç õ e s m ú tu a s , e 
c u ja a u s ê n c ia im p e d e q u e q u a lq u e r c o ­
m u n id a d e v iv a p a c i f ic a m e n te .
“A m o r ” (agape) é a ú lt im a q u a l id a d e 
m e n c io n a d a e a b r a n g e a s q u a tr o v ir tu ­
d e s p r e c e d e n t e s ; n a v e r d a d e , e s t e é “a 
c o r o a e a s o m a d e to d a s a s v irtu d es [cristãs]” 
(S to t t , 1 4 9 ) . P e lo f a to d e o a m o r p r o c u ­
ra r o b e m - e s t a r d o s o u t r o s e o b e m d o 
c o r p o d e C ris to , P a u lo o re c o m e n d a c o m o 
a v ir tu d e q u e “é o v ín c u lo d a p e r f e i ç ã o ” 
(C l 3 - 1 4 ) . E m e s s ê n c ia , P a u lo e s tá e x o r ­
ta n d o o s c r e n t e s a c u lt iv a r e m o fr u to d o 
E s p í r i t o e m s u a v id a ( c f . G l 5 . 2 2 , 2 3 ) , 
e s p e c ia lm e n t e a q u e le s a s p e c t o s q u e s e 
a p l i c a m à p r e s e r v a ç ã o d a u n id a d e d o 
E s p ír ito n o c o r p o d e C r is to . E m E fé s io s
4 ,2 , a a u s ê n c ia d e s ta s c i n c o q u a l id a d e s 
c o m p r o m e te r á e s s a u n id a d e .
6.1.2. A Responsabilidade Coletiva 
(4.3-6). O v e r s o 3 a p r e s e n ta d u a s im p o r ­
ta n te s q u e s t õ e s a r e s p e i to d a u n id a d e e 
d a c o m u n h ã o n a Ig r e ja :
1) O s cre n tes n ão são resp o n sáv eis p o r a l­
can çar essa u n idad e, co m o se esta fo sse 
um p rodu to hu m ano; an tes, ela já ex iste 
co m o um a c o n c e s sã o do Espírito à Igreja. 
C o m o o E spírito q u e resid e no co ra çã o de 
cad a cre n te é “um só E sp írito ”, da m esm a 
form a sua p re sen ça torn a tod os os seres 
hu m an o s em q u e hab ita um único povo 
em Cristo. Em bora estejam os divididos por 
grandes d iferenças— de cultura, etnia, sexo, 
idade, p o siçã o so c ia l, e d u ca ça o , tem p e­
ram en to e g eo g ra fia — se to d o s so m o s 
habitados pelo único Espírito de Cristo, som os 
to d o s u m só p o v o e p erten cem o s à m es­
m a Igreja . Essa “un idad e d o E spírito” é um 
d om so brenatu ral de D eu s.
2) Porém , P aulo co n tin u a d izen d o q u e ex is ­
te uma responsabilidade hum ana que acom ­
p a n h a e s s e d om d o E sp ír ito . D e v e m o s 
“p ro cu rar” ou fazer to d o s o s esfo rço s para 
m antê-lo , cu idar d ele e pro tegê-lo . M arkus 
B arth (2 .4 2 8 ) ch am a a a te n çã o para o tom 
de u rgência p o r P aulo em p reg ar o v erb o 
g reg o spoudazo nesta p assagem . E le e x ­
clu i tod as as atitudes d e passiv id ade e de 
“esp erar para v er”. C om resolu ta d eterm i­
n a çã o e d iligência , os cre n tes d ev em to ­
1236
EFÉSIO S 4
m ar a in iciativa de p reservar a u n idad e do 
Espírito. “O v íncu lo da p az” d escrev e a paz 
de D eu s o p eran d o co m o um a cad eia qu e 
un e o p o v o de D eu s e q u e p reserva sua 
un idad e ou singularidade.
O d o m d a u n id a d e , d a d o à Ig r e ja p e lo 
E s p ír ito S a n to , é m a is d e ta lh a d a m e n t e 
d e f in id o e m 4 .4 - 6 , e m s e t e a f ir m a ç õ e s ; e 
s o b a fo r m a d o e n u n c ia d o d e u m a d e c la ­
r a ç ã o s o le n e , e s t ã o a g r u p a d o s e m to r n o 
d a s trê s P e s s o a s d a T r in d a d e : “u m E s p ír i­
t o ” (v . 4 ) , “u m S e n h o r ” (v . 5 ) e “u m D e u s 
e P a i” (v . 6 ) . A r e p e t iç ã o d a p a la v r a “u m ” 
o c o rre se te v e z e s n e sse s v erso s , su b lin h an d o 
o t e m a d a u n id a d e .
N e s sa p rim e ira tr ía d e d e n ú m e ro s “u m ”, 
e x is te “u m c o r p o ”, is to é , a Ig r e ja , c o n s ­
titu íd a p o r to d o s o s q u e fo r a m re d im id o s . 
Q u a lq u e r u m q u e te n h a s id o r e d im id o 
a tr a v é s d a fé e m C r is to p e r te n c e a e s s e 
c o r p o . N ó s e a s d e m a is p e s s o a s fo r m a ­
m o s u m a s ó p e s s o a , p o r q u e e x is te a p e ­
n a s “u m E s p ír ito ”,a q u e m t o d o s n ó s d e ­
v e m o s n o s s a v id a e n o s s a e x is t ê n c ia e s ­
p iritu al: “A ssim c o m o o c o r p o h u m a n o te m 
o e s p ír i to a n im a d o r q u e lh e d á v id a , a s ­
s im ta m b é m e s s e c o r p o ú n ic o te m o E s ­
p ír i to S a n t o q u e lh e d á â n im o e v id a ” 
(S u m m e r s , 7 6 ) .
O E s p ír ito S a n to , c o m o o p o d e r q u e 
c o n c e d e e m a n té m a v id a e a e n e rg ia d e s s e 
ú n ic o c o r p o , t r a n s m ite à I g r e ja “u m a e s ­
p e r a n ç a ” ( is to é , “a e s p e r a n ç a d o e v a n ­
g e l h o ” c o m s u a m e n s a g e m s a lv a d o r a , Cl 
1 .2 3 ) , e c o n d u z a Ig r e ja e m d ir e ç ã o a o 
o b je t iv o d a “e s p e r a n ç a d a g ló r ia ” (C l 1 .2 7 ) 
q u e c o n te m p la a c o n s u m a ç ã o d e to d a a 
re d e n ç ã o n a v ind a futura d e Cristo. O E spírito 
S a n to é o p e n h o r e a g a r a n tia d e s s a e s ­
p e r a n ç a ( 1 .1 3 ,1 4 ) .
A s e g u n d a tr ía d e fa la d e “u m S e n h o r ” 
(v . 5 ) e m c o n tr a s te c o m o p o li t e ís m o d o 
m u n d o p a g ã o , a o q u a l o s r e c é m - c o n v e r - 
t id o s r e n u n c ia r a m (c f . 1 C o 8 .6 ; 1 2 .3 ,5 ) . 
E s s e S e n h o r é o S e n h o r J e s u s C r is to , q u e 
é a c a b e ç a d e s e u ú n ic o c o r p o , a Ig r e ja : 
“N in g u é m p o d e s e r v ir a d o is s e n h o r e s ” 
(M t 6 .2 4 ) . O p r ó p r io S e n h o r J e s u s C r is to 
é o s a n to f o c o d a “ú n ic a f é ”, a tr a v é s d a 
q u a l to d a s a p e s s o a s s ã o s a lv a s e r e c o n ­
c i l ia d a s c o m D e u s , q u e r s e ja m ju d e u s o u 
g e n t io s .
O s c r e n te s d ã o u m t e s te m u n h o p ú b l i ­
c o d e su a ú n ic a f é , e m u m s ó Se n h o r, a trav és 
d e u m “ú n ic o b a t i s m o ” — o b a t is m o “e m 
n o m e d o S e n h o r J e s u s ” (A t 8 .1 6 ; 1 9 -5 ; c f.
1 C o 1 .1 3 - 1 5 ) . O b a t is m o d o s p r im e ir o s 
c r is tã o s e n v o lv ia a im e r s ã o e m á g u a c o m o 
u m a fig u ra d a id e n tif ic a ç ã o c o m C ris to e m 
s u a m o r te , s e p u lta m e n to e r e s s u r r e iç ã o 
(R m 6 .3 - 5 ) , e m a r c a v a a o c a s iã o p a r a a 
in c o r p o r a ç ã o d e n o v o s c r e n te s a o c o r p o 
d e C r is to . O b a t is m o n o , o u c o m o E s p í­
r ito , g e r a lm e n te a c o m p a n h a v a o b a t is m o 
n a s á g u a s (A t 2 .3 8 ; 8 .1 4 - 1 7 ; 1 9 -5 ,6 ; e m ­
b o r a p e lo m e n o s u m a v e z o t e n h a p r e c e ­
d id o , 1 0 .4 4 - 4 8 ) , e e s ta v a m a is d ir e ta m e n te 
r e la c io n a d o à c a p a c i t a ç ã o p e lo E s p ír ito 
S a n to , a t e s te m u n h a r e m in is tra r .
S e rá q u e o “ú n ic o b a tism o ” a q u i s e re fe re 
a o b a t is m o e m á g u a s o u a o b a t is m o n o 
E sp ír ito ? B r u c e ( 1 9 8 4 , 3 3 7 ) a f ir m a q u e se 
tra ta d o b a t is m o c r is tã o ( e s p e c ia lm e n t e 
e m á g u a s , p o r é m e s tá b a s ta n t e a s s o c ia ­
d o à d á d iv a d o E sp ír ito ; c f . A t 2 .3 8 ) . W o o d 
( 5 6 ) fa z u m a ú til o b s e r v a ç ã o : “F a z e n d o 
p arte d a seg u n d a tríade (re la c io n a d a a Cristo) 
e n ã o d a p r im e ir a ( r e la c io n a d a a o E s p ír i ­
t o ) , e s s a r e f e r ê n c ia e m 4 .5 p a r e c e in d ic a r 
b a t is m o e m á g u a s e n ã o , e m p r in c íp io , o 
b a t is m o n o E s p ír ito ” .
A ú ltim a p e s s o a d e s s a p a s s a g e m s o b r e 
a T r in d a d e é D e u s : “u m s ó D e u s e P a i d e 
to d o s , o q u a l é s o b r e to d o s , e p o r to d o s , 
e e m t o d o s ” . D e u s é o P a i d e t o d o s o s 
r e d im id o s e m C ris to . A q u i, P a u lo n ã o e s tá 
p e n s a n d o n a p a te r n id a d e h u m a n a e u n i­
v e rs a l d e D e u s c o m o C riad or. A n te s , e x is te 
u m c o n te x to e sp e c íf ic o . T o d o s o s red im id o s 
e m C risto s ã o m e m b r o s d e u m ú n ic o c o r p o 
e s u b m is s o s a o ú n ic o S e n h o r e , p e la v ir­
tu d e d e u m r e la c io n a m e n to s a lv a d o r c o m 
o F i lh o , t ê m D e u s c o m o s e u P a i a d o t iv o . 
“U m s ó ” D e u s en fatiza a u n id a d e m o n o te ís ta 
d e D e u s , ta l c o m o n o A n tig o T e s ta m e n to 
(c f . D t 6 .6 ) , p o r é m P a u lo a in d a a c r e s c e n ta 
a c o n f is s ã o d o N o v o T e s ta m e n to , “e P a i”.
A d e s ig n a ç ã o tr ip la , e m c o n e x ã o c o m 
o P a i, é d ife re n te d a q u e la q u e o c o r r e u c o m 
o ú n ic o E s p ír ito e o ú n ic o S e n h o r , e n ã o 
é fá c i l d e s e r in te r p r e ta d a . A s t r ê s f r a s e s 
a c o m p a n h a d a s d e p r e p o s iç ã o p o d e m se 
r e fe r ir à t r a n s c e n d ê n c ia d e D e u s ( a c im a 
d e tu d o ) , su a im a n ê n c ia (a tr a v é s d e tu d o )
1237
OS DONS MINISTERIAIS DO ESPIRITO SANTO
Dons Definição Referências Gerais Exemplos Específicos
Apóstolos
(Específicos)
Aqueles que foram especificamente in­
cumbidos pelo Senhor ressuscitado, de 
estabelecera Igreja e a mensagem origi­
nal do evangelho.
At 4.33-37; 5.12; 18-42: 6.6; 8.14,18; 
9.27; 11.1; 15.1-6, 22,23; 16.4; 1 Co 
9.5; 12.28,29; Gl 1.17; Ef 2.20; 4.11; 
Jd 17
Os 12apóstolos: Mt 10.2; Mc 3.14;
Le 6 .13;At 1.15-26; Ap 21.14 
Paulo: Rm 1.1; 11.13; 1 Co 1.1; 9.1,5;
15.9,10; 2 Co 1.1; Gl 1.1; 1 Tm 2.7 
Petíro: 1 Pe 1.1; 2 Pe :1.1
Apóstolos
(Gerais)
Qualquer mensageiro comissionado para 
ser missionário ou desempenhar outras 
responsabilidades especiais.
At 13.1-3; 1 Co 12.28,29; Ef 4.11 Barnabé: At 14.4,14 
Andrônicoe Júnia: Rm 16.7 
Tito e outros: 2 Co 8.23 
Epafrodito: Fp2.25 
Tiago, irmão de Jesus: Gl 1.19
Profetas Aqueles que falavam sob a inspiração do 
Espírito Santo transmitindo a mensagem 
de Deus à Igreja, cuja principal motivação 
e preocupação estavam voltadas à vida 
espiritual e á pureza desta.
Rm 12.6; 1 Co.12.1G; 14.1-33; Ef 4.11; 
1 Ts 5.20,21:1 Tm 1.18; 1 Pe 4.11; 
1J0 4.1-3
Pedro; A t 2.14-40; 3.12-26; At 4.8- 
12; 10.34-44 
Paulo: At 13.1,16-41 
Várias pessoas: At 13.1 
Judas e Silas: At 5 ;32 
João: Ap 1.1, 3; 10.8-11; 11.18
Evangelistas Aqueles que são capacitados por Deus para 
proclamar o evangelho aos não-salvos.
Ef4.11 Filipe: At 8.5-8; 26-40; 21.8 
Paulo: At 26.16-18
Pastores 
(Presbíteros 
ou Anciãos)
Aqueles que são escolhidos e capacitados 
para supervisionara igreja e cuidar de suas 
necessidades espirituais.
At 14.23; 15.1-6,22,23; 16.4; 20.17-38; 
Rm 12.8; Ef 4.11-12; Fp 1.1;
1 T m 3.1 -7 ;5 .17-20; Tt 1.5-9;
Hb 13.17; 1 Pe 5.1-5
Timóteo: 1 Tm 1.1-4; 4.12-16;
; 2 Tm 1.1-6; 4.2,5
Tito: Tt 1.4,5
Pedro: 1 Pe 5.1
João; 1 Jo 2.1,12-14
Gaio: 3 Jo 1-7
Diáconos
Aqueles que são escolhidos e capacitados 
para prestar assistência prática aos mem­
bros da igreja.
At 6.1-6; Rm 12.7; Fp 1.1; 1 Tm 3.8-13; 
1 Pe 4.11
Os sete diáconos: At 6.5 
Febe: Rm 16,1,2
EFÉSIO
S 
4
OS DONS MINISTERIAIS DO ESPÍRITO SANTO (cont)
Dons Definição Referências Gerais Exemplos Específicos
Professores 
(Mestres ou 
Ensinadores)
Aqueles que são capacitados a esclarecer 
e explicar a Palavra de Deus a fim de 
edificara Igreja.
Rm 12 7, Ef 4.11,12; Cl 3.-16; 
1 Tm 3 .2;5 17 2 Tm 2 2,3
Pau Io: At 15,35; 20.20; 28.31; Rm 12.19-21; 
13.8-10; iC o 4 . 17; 1 Tm 1.5;4.16;
2Tm 1.11 
Barnabé; At 15.35 
Apoio: At 18.25-28
Timóteo:1 Co4.17; 1Tm 1,3-5;4.11-13; 6.2;
2 Tm 4.2 
Tito: Tt 2.1-3,9.10
Ajudantes Aqueles que são çâpacitados para o de­
sempenho de várias atividades auxiliares.
At 13.1-3; 1 Co12,28,29; Ef 4.11 Paulo: At 20.35 
Lídia: At 16.14,15 
Gaio: 3 Jo 5-8
Administradores Aqueles que são capacitados a orientar e 
supervisionar as várias atividades da 
igreja.
Rm 12.8; 1 Co 14.3; 1 Ts 5.11,14- 
22; Hb 10.24,25
Barnabé: At 1.23,24; 14.22
Paulo: At 14.22; 16.40; 20.1; Rm 8.26-39;
Rm 12.1,2; 2 Co 6.14— 7 1; Gl 5.16-26 
Judas e Silas: A t 15.32; 16.40 
Timóteo: 1 T s3 .2 ;2T m 4.2 
Tito: T t2.6,13 ..
Pedro: 1 Pe 5.1,2 
João: 1 Jo 2 15-17 3 1-3
Doadores Aqueles que são capacitados para livre­
mente doar seus recursos para suprir as 
necessidades do povo de Deus.
At 2.44,45; 4.34,35; 11,29,30; 
1 Co 16.1-4; 2 Co 8,9; Ef 4.28; 
1 Tm 6.17-19; Hb 13.16;
1Jo 3.16-18
Barnabé:At 4.36,37 '
Os cristãos na Macedônia: Rm 15.26,27;
2 Co 8.1-5
Os cristãos na Acaia: Rm 15.26,27; 2 Co 9.2
Consoladores Aqueles que são capacitados a oferecer 
conforto, através de seus atos de miseri­
córdia, àqueles que se encontram em 
situações de desespero.
Rm 12.8; 2 Co 1.3-7
Paulo: 2 Co 1.4 
Os cristãos hebreus; Hb 10.34 
Vários cristãos: Cl 4.10.11 
Dorcas: A t 9.36-39
EFÉSIO
S 
4
EFÉSIO S 4
e à p r e s e n ç a d o E s p ír ito h a b ita n d o n o s 
cre n tes (e m to d o s). Ralp h M artin (1 5 4 ) su g ere 
q u e e la c o n té m u m a a lu s ã o típ ic a d a T r in ­
d a d e a o único Deus “q u e s e fa z c o n h e c i ­
d o e m su a p ró p ria re v e la çã o c o m o P ai ‘a cim a 
d e tu d o ’, c o m o F ilh o ‘a tr a v é s d e tu d o ’ ( o 
u s o d a p r e p o s iç ã o a q u i c o r r e s p o n d e à 
m e s m a id é ia d a m e d ia ç ã o e m 2 .1 8 ) e c o m o
o E s p ír ito q u e e s tá ‘e m t o d o s ’ o s m e m ­
b r o s d a fa m ília d e D e u s ” .
F inalm en te, p o d e -se im ag in aru m a o rd em 
r e v e r s a d a q u e la e m q u e o s m e m b r o s d a 
T r in d a d e s ã o m e n c io n a d o s a q u i: “u m s ó 
E s p ír ito .. . u m s ó S e n h o r . . . u m s ó D e u s e 
P a i d e t o d o s ”. A r a z ã o d is s o e s tá r e la c io ­
n a d a a o te m a g e r a l d a p a s s a g e m , is to é , 
“a u n id a d e d o E s p ír ito ” n o c o r p o d e C risto . 
A u n id a d e a q u e P a u lo s e r e f e r e e s tá r e ­
la c io n a d a tan to às c o n g re g a ç õ e s lo ca is c o m o 
à Ig r e ja u n iv e r s a l . R a y S u m m e r s ( 7 9 - 8 0 ) , 
c o m e lo q ü ê n c ia , c o n c lu i :
F icam os em reverente adm iração p e ­
ran te a idéia d essa u n idad e — u m co r­
p o , um E sp ír ito , um a e sp e ra n ç a , um 
Senh or, um a fé, um batism o , u m Pai. 
Q u an tas a firm açõ es ex istem aq u i para 
unir to d o s o s cren tes em ... um a única 
singu laridade! A o m esm o tem p o , cur­
v am o s n o ssa c a b e ç a em v e rg o n h o sa 
confissão p elo fracasso d o p o v o de D eus 
em lev ar avan te a ex o rta çã o d e Paulo: 
“P rocu ran d o guardar a u n id ad e d o Es­
p írito p e lo v ín cu lo da p az” (E f 4 .3 ).
6.2. Crescer em Direção à 
Plena Maturidade do 
Corpo de Cristo (4.7-16)
E n q u a n t o e m 4 .1 - 6 P a u lo f o c a l iz a a 
u n id a d e d a Ig r e ja c o m o u m ú n ic o c o r p o , 
n e s s a s e ç ã o v o lta su a a te n ç ã o p a ra a q u e stã o 
d o c r e s c im e n to d e s s e c o r p o a té q u e a tin ja 
a p le n a m a tu r id a d e .
6.2.1. A Provisão de Cristo Quan­
to aos Dons da Graça (4.7). N o v e r s o
7 , n o t a - s e u m a im p r e s s io n a n t e m u d a n ­
ç a d e f o c o . E m 4 .6 , P a u lo e n fa t iz o u a 
u n id a d e d a f a m íl ia d e D e u s a f ir m a n d o 
q u e D e u s é P a i d e todos nós. N o e n t a n ­
to , a g o r a m u d a e s s e e n fo q u e p a ra : “a g ra ç a 
fo i d a d a a cada um de nós". D e s s a f o r ­
m a, P a u lo s e tra n sp o rta d o te m a d a u n id a d e 
p a r a o c o n c e i t o d a d iv e r s id a d e q u e e x is te 
d e n t r o d e s s a u n id a d e . A “g r a ç a ” d e q u e 
fa la a q u i n ã o é a g r a ç a s a lv a d o r a d e 2 .8 , 
p o r é m a g r a ç a p a r a u m m in is t é r io d e 
a c o i 'd o c o m c a d a p o r ç ã o in d iv id u a l d o 
d o m d e C r is to . N in g u é m , n o c o r p o d e 
C risto , p o s s u i a p le n itu d e d o d o m d e C risto , 
o u s u a t o ta l u n ç ã o , p o is C r is to r e p a r t iu 
a p e n a s u m a f r a ç ã o d e s s e d o m a c a d a 
m e m b r o d e s e u c o r p o . E m b o r a P a u lo n ã o 
e m p r e g u e a p a la v ra cbarismata ( “d ád iv as, 
o u d o n s d a g r a ç a ”) , c o rn o fa z e m R o m a n o s 
1 2 .6 e e m 1 C o rín tio s 1 2 .4 (c f. 1 P e 4 .1 0 ,1 1 ) , 
c la r a m e n te te m e m m e n te e s s e s m e s m o s 
d o n s q u e f o r a m c o n c e d i d o s a o s m e m ­
b r o s d o c o r p o d e C r is to ( c f . R m 1 2 .7 ,8 ;
1 C o 1 2 .8 - 1 0 ) .
6.2.2. A Posição de Cristo como 
AquEle que Dá os Dons (4.8-10). C ris­
to c o n c e d e o s d o n s d a g r a ç a e m s u a c o n ­
d iç ã o d e S e n h o r J e s u s C r is to , e x a l ta d o e 
ressu sc ita d o , a q u E le q u e a s c e n d e u a o s c é u s 
(c f . A t 2 .3 3 - 3 6 ) . C o n s id e r a n d o q u e é E le 
q u e m b a tiz a s e u p o v o c o m o E sp ír ito S a n to , 
s e g u e -s e q u e E le c o n c e d e a o s e u p o v o 
o s d o n s d o E sp írito . N o v e rs o 8 , P a u lo ilustra 
e ss e p e n sa m e n to q u a n d o se re fere a o e v e n to 
r e la ta d o e m S a lm o s 6 8 .1 8 , o n d e u m re i 
t e o c r á t ic o a s c e n d e a o t r o n o e r e c e b e u m a 
m u ltid ã o d e p r is io n e ir o s ( “p r is io n e ir o s d e 
g u erra”) c o m o p rov a d e su a vitória, e ta m b é m 
o s d e s p o jo s o u a s p r e s a s d e g u e r r a q u e 
d is tr ib u i e n tr e s e u s h o m e n s . P a u lo d e s ­
c r e v e a q u i o C r is to v e n c e d o r , a s c e n d e n ­
d o a s e u t r o n o c o m s e u s p r is io n e ir o s ( n o 
s e n t id o d e C l 2 .1 5 ) e d is tr ib u in d o d o n s 
d e g r a ç a a o s e u p o v o p o r t e r d e s e m p e ­
n h a d o o m in is té r io d e s e u r e in o .
P a u lo c o n tin u a e s s e te x to a c re s c e n ta n d o 
u m a d e n d o ( e n t r e p a r ê n t e s i s ) , o n d e a 
a s c e n s ã o d e C ris to ta m b é m e n v o lv e u u m a 
d e s c id a “à s p a r te s m a is b a ix a s d a te r r a ” 
(4 .9 ; l ite ra lm e n te , “à s m a is in fe r io re s p a rte s 
d a te r r a ”) . E s s a e x p r e s s ã o fo r a d o c o m u m 
te m p r o v o c a d o u m a v a r ie d a d e d e in te r ­
p r e ta ç õ e s , d a s q u a is a s p r ó x im a s q u a tr o 
s ã o a s m a is im p o r ta n te s :
1) C om o m ostrad o n o E v an g elh o de Jo ã o , a 
a sce n sã o d e je s u s da terra d e volta ao céu 
(p o r ex e m p lo , J o 1 3 .1 ,3 ; 1 4 .2 -4 ) fo i p re ­
ced id a p o r sua vinda d o céu à terra. D es­
1240
EFÉSIO S 4
sa form a, a ex p ressã o “às partes m ais b a i­
xas da terra” significa sim plesm ente “a terra 
qu e estava e m b a ix o ” (B ru ce , 1 9 8 4 ,3 4 3 ) e 
se refere à descida de Cristo na en carn ação 
e à sua h u m ilh ação na cruz.
2) A frase: “As partes m ais b a ix a s da terra” 
re fere -se à sep ultu ra. Je su s n ão só d esceu 
do céu à terra co m o tam b ém , co m o parte 
de sua m orte exp iatória p e lo p eca d o , foi 
co lo ca d o n o in terior da p rópria terra, da 
qual ressu scitou .
3 ) A fra se : “As p a rte s m ais b a ix a s da te r ­
ra ” r e fe r e -s e a o H a d e s , o u à re g iã o d o s 
e s p ír ito s q u e p artiram p a ra a lé m da s e ­
p u ltu ra .
4) G. B . Caird (7 3 -7 4 ) p ro p ô s um a in terpre­
tação com p letam en te nova. P elo fato deste 
co n tex to estar re lacion ad o à c o n ce s sã o de 
d ons à Igreja , p o r Cristo, ap ó s sua a sce n ­
são , acred ita q u e a d escid a m en cio n ad a 
n o v erso 9, ap ó s sua asce n sã o , se refira ao 
re torn o de Cristo à terra p e lo Espírito , por 
o ca siã o d o P en teco stes , trazen d o m uitos 
d ons à sua Igre ja . D essa form a, a se q ü ê n ­
cia seria prim eiram ente a ascensão , seguida 
p ela d escid a n o P en teco stes , para a d is­
trib u ição d e d on s4.
E m b o r a a in te r p r e ta ç ã o d e C a ird n ã o 
s e ja d e to d o im p o s s ív e l , o v e r s o 1 0 a to r ­
n a p o u c o p r o v á v e l , p o is C r is to é d e s c r i ­
to c o m o t e n d o s u b id o a c im a d e to d o s o s 
c é u s “p a r a c u m p r ir to d a s a s c o is a s ”, a o 
in v é s d e d e s c e r d e le p a r a d is tr ib u ir d o n s . 
E m b o r a a lg u n s d o s a n t ig o s p a tr ia r c a s d a 
Ig re ja a d o ta sse m a terce ira o p in iã o , a g ra n d e 
m a io r ia d o s e s tu d io s o s d a B íb l ia , d e s d e 
a R e fo r m a , s u s te n to u a p r im e ir a p o s iç ã o 
q u e s e a s s e m e lh a a o p e n s a m e n to d e P a u lo 
n a p a s s a g e m kenosis(F p 2 .6 -9 ) , e s e a ju s ta 
m u ito b e m a o c o n c e i t o g e ra l e x is te n te e m 
E fé s io s .
6.2.3.0 Propósito de Cristo ao Con­
ceder os Cinco Tipos de Liderança 
Ministerial (4.11-13). E m s e u lu g a r d e 
e x a l ta ç ã o c o m o S e n h o r e C ris to (A t 2 .3 6 ) , 
J e s u s e n c o n tr a -s e e n tr o n iz a d o s o b r e to d o 
o u n iv e r s o ( E f 1 .1 0 , 2 0 - 3 0 ) . “E e le m e s m o 
[autos, u m p r o n o m e en fá tico ] d e u u n s p a ra 
a p ó s to lo s , e o u tr o s p a r a p r o fe ta s , e o u ­
tr o s p a r a e v a n g e lis ta s , e o u tr o s p a ra p a s ­
to re s e d o u to re s” c o m o líd e res c o m p e te n te s 
p a r a s u a Ig r e ja ( 4 .1 0 ) . P a u lo fa z a q u i u m a
d is tin ç ã o ( e ta m b é m e m o u tra s p a s s a g e n s ) 
e n tr e os dons da graça c o n c e d id o s p e lo 
E sp ír ito a o s c re n te s in d iv id u a lm e n te (4 .7 ,8 ; 
c f . 1 C o 1 2 .4 - 1 1 ) e a q u e la s c in c o c a t e g o ­
rias d e pessoas competentes e s c o lh id a s p e lo 
p r ó p r io S e n h o r “p a ra p r o c la m a r a P a la ­
v ra e lid e r a r ” (L in c o ln , 2 4 9 ) s u a Ig r e ja u n i­
v e r s a lm e n te ( E f 4 .1 1 ; c f . 1 C o 1 2 .2 8 ) .
R e s u m id a m e n te , a p a la v r a “a p ó s t o lo s ” 
(lite ra lm e n te , “e n v ia d o s ”) re fe re -s e à q u e le s 
in d iv íd u o s e s p e c i f i c a m e n t e c h a m a d o s , 
c o m is s io n a d o s e a u to r iz a d o s p e lo p ró p r io 
S e n h o r J e s u s C r is to p a r a s e r e m s e u s r e ­
p re se n ta n te s n a p ro c la m a ç ã o d o e v a n g e lh o 
e n o e s t a b e le c im e n t o d a Ig r e ja ( c f . 2 .2 0 ; 
3 .5 ) . O s “p r o f e ta s ” d o N o v o T e s ta m e n to 
e r a m a q u e le s in d iv íd u o s e s p e c ia lm e n t e 
d o ta d o s e m r e c e b e r e m e d ia r d ir e ta m e n ­
te a re v e la ç ã o re c e b id a d e D e u s. E m E fés io s , 
o s p r o fe ta s s ã o m e n c io n a d o s trê s v e z e s , 
ju n ta m e n te c o m o s a p ó s t o lo s ( 2 .2 0 ; 3 .5 ; 
4 .1 1 ) . N a é p o c a d o N o v o te s ta m e n to , o s 
“e v a n g e li s t a s ” e r a m a q u e le s in d iv íd u o s 
( c o m o F e l ip e e m A to s 8 ) e s p e c ia lm e n t e 
u n g id o s p a ra p re g a r a s b o a s n o v a s d e C risto 
e d e s e u r e in o à s p e s s o a s e à s c id a d e s , a 
f im d e d e s p e r ta r a fé . A p a la v r a , “p a s t o ­
r e s ” d e n o ta a q u e le s in d iv íd u o s e s c o lh i ­
d o s p o r D e u s c u jo s d o n s esp iritu ais lev aram - 
n o s a d ed icarem -se a o p asto re io e a o cu id ad o 
d o r e b a n h o d e D e u s . “P r o f e s s o r e s ” o u 
“d o u to r e s ”, e r a m a q u e le s in d iv íd u o s e s ­
p e c ia lm e n t e c a p a c i ta d o s p a r a a e x p o s i ­
ç ã o d a P a la v r a d e D e u s c o m e f ic iê n c ia e 
p o d e r. (P a ra u m a d is c u ss à o m a is d e ta lh a d a 
s o b r e c a d a u m d o s c in c o m in is té r io s a c i ­
m a, v e ja o e x c e le n te artigo escrito p o r D o n a ld 
S ta m p s , “ TheMinistry Gifts ofthe Ch u rch ”, 
q u e p o d e r ia s e r tra d u z id o c o m o “O s D o n s 
d o M in is té r io d a I g r e ja ”) [N a TheNIVFull 
Life Study Bible, 1 8 3 0 -3 2 ] ,
D o is tó p ic o s d e e sp e c ia l in te re sse p o d e m 
se r p e r c e b id o s e m c o n e x ã o c o m o v e rs o 11:
1) Em re la çã o à estrutura da frase (e sp e c ia l­
m en te clara na v ersão greg a), ap ó sto los , 
pro fetas e ev an gelistas são m en cion ad o s 
sep a ra d a m en te (p re ce d id o s p e lo artigo 
d efin id o), en q u an to p asto res e p ro fesso ­
res (o u d o u to re s) sã o m e n c io n a d o s em 
co n ju n to . K. H. R eng storf afirm a q u e , de 
a co rd o co m o p en sa m en to d e P au lo , es­
tes d o is ú ltim o s e s tã o tã o in tim a m en te
1241
EFÉSIO S 4
re lacio n ad o s q u e seria im p o ssív el sep arã- 
los no m inistério responsável po ru m a igreja 
local (TDNT, 2 1 5 8 ) . A queles qu e pastoreiam 
o re b a n h o ta m b é m e s tã o e n s in a n d o , e 
aq u eles qu e en sinam tam bém estão p asto­
rean d o . L incoln (2 5 0 ), p o r ou tro lado, ar­
gu m enta q u e a o m issão d o artigo d efin i­
do, an tes da palavra p ro fesso res (ou d ou ­
tores), n ão significa n ecessa ria m en te qu e 
pastores e professores estejam sem pre unidos 
na m esm a p esso a . Afirm a: “É m ais prová­
v el q u e se jam fu n çõ e s so b rep ostas, p o is 
e m b o ra q u a se to d o s o s p a s to re s se jam 
ensinadores, nem todos os ensinadores são 
tam b ém p a sto res”.
Em 1 C orín tios 1 2 .28 , n o ta -se q u e os p ro ­
fessores form avam um a categoria separada 
de m inistério nos prim órdios da Igreja, pois 
fo i d ito qu e D eu s n o m eo u p ara sua Igreja 
“primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, 
p ro fetas, em terce iro , d ou to res”. U m a d is­
tin çã o b astan te útil d o N ovo T estam ento , 
q u e se d eve ter em m ente, é a d iferen ça 
entre “o p ap el de en sinar”, qu e geralm ente 
ca ra c te r iz a v a to d o s o s m in istro s c o m o 
d ivulgadores da Palavra, e “p ro fesso res” 
o u “d o u to res”, um term o q u e e sp e c ifica ­
m en te se referia a um a das c in c o co n v o ­
ca çõ e s e un ções q u e Cristo co n ced eu à sua 
Ig re ja 5.
2) Q u al seria a im p o rtância de ap ó sto lo s e 
p ro fetas atualm ente? D e form a q u ase u n i­
versal, com entaristas têm co n co rd ad o qu e 
ap ó sto lo s e p ro fetas eram m in istérios e s ­
p eciais do prim eiro século, qu e su bseqü en­
tem en te foram extintos e substituídos pelas 
palavras apostólicas e proféticas do cân on e 
do N ovo T estam en to . T em sid o tam b ém 
a ssu m id o q u e e v a n g e lis ta s , p a s to re s e 
p ro fesso res co ntin u am a ser líderes n e c e s ­
sários da Igre ja em tod as as g eraçõ es. E sse 
co n c e ito am p lam en te d ifundido fo i a n a ­
lisado e co n sid erad o fa lh o p o r Ja c k D eere 
em seu in teressan te livro Surprised by the 
Power of the Spirit (2 4 1 -5 1 ). A ssim co m o 
D eu s restau rou u n iversa lm ente, n o sé c u ­
lo X X , a co m p reen sã o prática do batism o 
n o E spírito San to e dos d on s carism áticos 
para a Igreja, será que estaria além dos limites 
do p o ssív el que D eu s tam b ém tivesse re s­
taurado o m in istério d os ap ó sto lo s e p ro ­
fetas, n ão para assentar n o v am ente os fu n­
d am en tos da Igreja ou para escrev er as E s­
crituras (um a vez qu e o cân o n e já está co n ­
clu íd o), m as p ara levar a Igre ja à p len itu ­
de de sua m atu ridade — a p rin cip al ê n fa ­
se de P aulo em 4 .11-13? C om um p en sa ­
m ento extrem am ente aberto, D eere explora 
só lid a s ra z õ e s b íb lic a s e te o ló g ic a s na 
reav a liação d essa possib ilid ad e.
N o s v e r s o s 1 2 e 1 3 , P a u lo a f ir m a ta n to 
o p r o p ó s i to c o m o a d u r a ç ã o d o m in is té ­
r io q u ín tu p lo , d e n tr o d e s s e c o n t e x t o d e 
le v a r a ig r e ja à s u a p le n a m a tu r id a d e . E m 
r e la ç ã o a o propósito, e le d e s c r e v e a I g r e ­
ja c o m o u m o r g a n is m o v iv o ( o c o r p o d e 
C r is to ) q u e d e v e c r e s c e r a té a lc a n ç a r a 
estatu ra p la n e ja d a p o r D e u s . A n terio rm en te , 
e le h a v ia s e r e fe r id o à Ig r e ja c o m o u m a 
n o v a h u m a n id a d e q u e D e u s e s tá c r ia n ­
d o ( is to é , d e a m b o s o s p o v o s fe z u m ; u m 
n o v o h o m e m , 2 .1 5 ) . S to tt ( 1 7 0 ) d e s c r e v e 
a p r o g r e s s ã o d o p e n s a m e n t o d e P a u lo . 
“N a s in g u la r id a d e e n o v id a d e d e s s e n o v o 
‘h o m e m ’, e le a g o r a e s tá a c r e s c e n ta n d o a 
m a tu r id a d e . O novo homem, q u e é ú n i­
c o , d e v e a lc a n ç a r u m a maturidade, q u e 
n ã o s e r á m e n o r q u e a medida da estatu­
ra da plenitude de Cristo, a p le n itu d e q u e 
o p r ó p r io C ris to p o s s u i e c o n c e d e ”. O fa to 
d e 4 .1 1 - 1 6 e s ta r e x p r e s s o e m u m a ú n ic a 
fra se e m g r e g o re a lç a o p ro p ó s ito e o p a p e l 
d o m in is té r io q u ín tu p lo d o s l íd e r e s a ju ­
d a n d o o c o r p o d e C r is to a c r e s c e r a té su a 
p le n a m a tu r id a d e .
A tra v é s d o m in is té r io d a P a la v r a ( r e ­
v e la n d o , d e c la r a n d o e e n s in a n d o o e v a n ­
g e lh o ) , e d e a c o r d o c o m s e u s d o n s e s p e ­
c ia is , o s a p ó s to lo s , p r o fe ta s , e v a n g e lis ta s , 
p a s to r e s e p r o f e s s o r e s p r e p a r a m o p o v o 
d e D e u s “p a r a a o b r a d o m in is té r io , p a ra 
e d if ic a ç ã o d o c o r p o d e C r is to ”. E s s e v e r ­
s o e x p r e s s a trê s p r o p ó s ito s c o o r d e n a d o s : 
c a p a c i ta r o s s a n to s , s e r v ir à s n e c e s s id a ­
d e s d a Ig r e ja e e d if ic a r o c o r p o d e C ris to . 
G e r a lm e n t e o s in t é r p r e te s e n te n d e m a 
fu n ç ã o d o s c in c o l íd e r e s c o m o p e r s o n i ­
ficad a n a p rim eira c lá u su la — isto é , a fu n çã o 
d e p r e p a r a r o u e q u ip a r o p o v o d e D e u s
— e n q u a n to o s s a n to s s ã o a s e g u ir p r e ­
p a r a d o s p a r a fa z e r a o b r a d o m in is té r io , 
p a r a e d if i c a ç ã o d a Ig r e ja 6.
N o a m p lo s e n tid o d o N o v o T e s ta m e n to , 
p a r e c e s e r u m a a p l ic a ç ã o ó b v ia q u e o s
1242
EFÉSIO S 4
s a n to s a s s im p r e p a r a d o s d e v a m s e to r n a r 
m in is tro s , p a ra q u e to d o s o s m e m b r o s d o 
c o r p o fu n c io n e m d e a c o r d o c o m se u s d o n s 
e m b e n e f í c io d o b e m c o m u m (R m 1 2 .4 - 
8 ; 1 C o 1 2 .4 - 3 1 ) . E n tr e ta n to , n o c o n t e x t o 
d e s s a p a s s a g e m , p a r e c e q u e o m in is té r io 
d o s c in c o l íd e r e s a in d a e s tá p r e s e n t e e m 
to d o o v e r s o 1 2 , p o is e m v ir tu d e d e s e ­
re m sa n to s e líd eres (cf. 1 C o 1 2 .2 8 ), e q u ip a m 
o s sa n to s , s e r v e m à s n e c e s s id a d e s da ig re ja 
e a ju d a m a e d if ic a r o c o r p o d e C r is to . P o r 
o u tr o la d o , u m m in is té r io d e s e m p e n h a ­
d o a p e n a s p o r s e u s m in is tro s o f ic ia is , q u e 
e x c lu i o m in is té r io le ig o , é e m si c o n t r á ­
r io a o q u e P a u lo e n s in a e m 4 .7 ,1 6 , o n d e 
to d o s o s m e m b r o s d o c o r p o p a r t ic ip a m 
a tiv a m en te , d e a lg u m a fo rm a , n a e d if ic a ç ã o 
d o c o r p o d e C ris to .
A c o n ju n ç ã o “a té ” (4 .1 3 ) tran sm ite a id éia 
da duração do tempo q u e D e u s c o n c e ­
d e u a o q u ín tu p lo m in is té r io . J a c k D e e r e 
(2 4 8 ) ob se rv a : “S e co n s id e ra d o litera lm en te , 
is so s ig n ifica ria q u e a Ig re ja te rá a p r e s e n ç a 
d e a p ó s t o lo s [e p r o fe ta s ] a té a lc a n ç a r a 
m a tu r id a d e d e s c r ita n o v e r s o 13- A tu a l­
m e n te , é d if íc il c o n s id e r a r a Ig r e ja c o m o 
t e n d o a lc a n ç a d o o n ív e l d e m a tu r id a d e 
d e s c r ita n o v e r s o 1 3 ”.
O p r o p ó s i to m a is e le v a d o q u e C r is to 
d e u a o s l íd e r e s d o q u ín tu p lo m in is té r io , 
e m r e la ç ã o à Ig r e ja , fo i o d e le v a r o c o r ­
p o d e C r is to a a lc a n ç a r a p le n a m a tu r id a ­
d e , q u e está d efin id a d e três m a n eira s (4 .1 3 ):
1) Q u e tod os os crentes possam alcan çar n ão 
ap en as a fé em Cristo, m as “a un idad e da 
fé ”;
2) Q u e e les p o ssam n ã o a p en as ter um c o ­
n h ecim en to a resp e ito d e Cristo, m as ter 
“o co n h e c im e n to [epignosis, ou total c o ­
nh ecim en to] do F ilh o de D e u s”; e
3) Q u e p o ssam n ão a p en as c o n h e c e r a Cris­
to, mas chegar “à medida da estatura completa 
d e C ris to ”. S o m e n te e n tã o se “torn a rã o 
m ad u ros” (literalm ente , “se torn arão p e s ­
soas perfeitas e totalm ente am adurecidas”). 
O u tro s trê s a s s u n to s d ig n o s d e n o ta d e ­
v e m s e r o b s e r v a d o s n o v e r s o 1 3 ;
1) A frase “até qu e todos" se re fere claram ente 
a toda a Igreja , n o sen tid o co letiv o , e n ão 
sim plesm ente a todos nós, individualmente.
2 ) E nq u anto P aulo exo rta o s cren tes a guar­
d a rem cu id a d o sa m e n te “a u n id a d e d o
E spírito" (4 .3 ) , aqu i e le afirm a q u e a “uni­
d ade da fé ” rep resen ta um o b je tiv o a ser 
a lca n ça d o (W ood, 59). A rea lização d esta 
unidade se tom ará verdadeira porque a Igreja 
a lcan çará um a total co m p reen sã o e x p e ri­
m ental d e Cristo c o m o F ilh o d e D eus.
3) Paulo descreve a plena m aturidade da Igreja 
co m o , literalm ente, a “m edida da estatura 
com pleta de Cristo”. O corpo de Cristo, com o 
um tod o, d everá a lcan çar a p len a estatura 
da p esso a de Cristo (q u e é a c a b e ç a d este 
co rp o ).
L u c a s m e n c io n a e s s e o b je t iv o n o liv ro 
d e A to s . E m A to s 1 .1 , e le a f ir m a q u e s e u 
p rim eiro livro (o E v a n g e lh o d e L u cas) registra 
“tu d o q u e J e s u s começou, n ã o s ó a fa z e r , 
m a s a e n s in a r”. C o m e fe ito , o se g u n d o liv ro 
e s c r i to p o r L u c a s , A to s , r e g is tr a tu d o q u e 
Je s u s continuou a fa z e r e p ro c la m a r atrav és 
d a Ig r e ja e p e lo p o d e r d o E s p ír ito S a n to , 
a p ó s a s u a a s c e n s ã o . O fa to d e o E s p ír ito 
S a n to r e p r o d u z ir a v id a e o m in is té r io d e 
Je s u s a tra v é s d a Ig re ja re p re s e n ta , e m A to s, 
u m a d a s p r in c ip a is id é ia s b á s ic a s d a t e o ­
lo g ia . A Ig r e ja d e v e r á p r o c la m a r om e s ­
m o e v a n g e lh o q u e Je s u s p ro c la m o u ; d ev erá 
ta m b é m r e a liz a r o s m e s m o s m ila g r e s q u e 
Je s u s rea lizo u , e m in istrar a trav és d o m e s m o 
p o d e r d o E s p ír ito , p e lo q u a l J e s u s e x e r ­
c e u o s e u m in is té r io .
P a u lo já e m p r e g o u a p a la v ra “p le n itu ­
d e ” (pleroma) e m 1 .2 3 , e m re la ç ã o à Ig re ja . 
A Ig r e ja d e v e r á c r e s c e r d e a c o r d o c o m a 
m e d id a -p a d r à o d a p le n itu d e d e C risto , e m 
to d o s o s a s p e c to s cia v icia e d o m in is té ­
r io . B r u c e ( 1 9 6 1 , 8 8 ) e s c r e v e : “Q u a n d o o 
o b je tiv o fo r fin a lm e n te a lc a n ç a d o , e o c o ip o 
d e C r is to t iv e r c r e s c id o o s u f ic ie n te p a ra 
s e ig u a la rá p ró p ria C a b e ç a , e n tã o se r á v isto 
o H o m e m p le n a m e n te a m a d u r e c id o , q u e 
é C r is to ju n to c o m t o d o s o s s e u s m e m ­
b r o s ”. E m b o ra e s s a u n iã o n ã o s e c o m p le te 
a té q u e a c o n t e ç a o m o m e n t o e m q u e a 
Ig re ja será glorificada ju n ta m en te c o m Cristo, 
e s s a e s p e r a n ç a fu tu ra d e v e r á a g ir a g o r a 
c o m o u m p o d e r o s o in c e n t iv o p a ra o c r e s ­
c im e n t o d a Ig r e ja , a té q u e e s ta a t in ja su a 
c o m p le ta m a tu r id a d e .
6.2.4.0 Plano de Cristo para o Cres­
cimento da Igreja (4.14-16). O s v e r s o s 
1 4 -1 6 a in d a fa z e m p a rte d a ú n ic a s e n te n ç a 
g r e g a q u e s e in ic io u e m 4 .1 1 . A o in ic ia r o
1243
EFÉSIO S 4
v e r s o 1 4 c o m o u m n o v o p a r á g r a fo , u ti l i­
z a n d o a s p a lav ras “p a ra q u e n ã o ” (n o g re g o , 
hina; l i te r a lm e n te , “a f im d e q u e ”) , a N IV 
to r n a d e c e r ta fo r m a c o n f u s o o v e r d a d e i­
r o r e la c io n a m e n t o c o m a l in h a d e p e n s a ­
m e n to p r e c e d e n te . O C r is to r e s s u r r e c to 
q u e s u b iu a o c é u c o n c e d e u o q u ín tu p lo 
m in is té rio à Ig re ja c o m o p ro p ó s ito d e g u iá - 
la e m d ire çã o a o se u fu tu ro d e stin o d e p le n a 
m a tu r id a d e . C o n c e d e u - lh e e s t e m in is té ­
r io “a f im d e q u e ” n ã o f ic á s s e m o s p r e s o s 
n a “im a tu r id a d e d a in fâ n c ia ( c o m o p r e ­
s a s d e to d a s a s a f l i ç õ e s ) , m a s c o m e ç á s ­
s e m o s a c r e s c e r e m d ir e ç ã o à e s p e r a d a 
m atu rid ad e, is to é , à v erd a d e ira se m e lh a n ç a 
c o m C r is to ” (T u m e r , 1 2 3 9 ) .
P a u lo m e n c io n a , e m p rim e iro lugar, q u e 
q u a n d o a I g r e ja a m a d u r e c e d e s u a in fâ n ­
c ia e s p ir itu a l, d e ix a p a ra trá s a s u a c o r ­
r e s p o n d e n te in s ta b ilid a d e (v . 1 4 ) . P e r m a ­
n e c e r c o m o m e n in o s e s p ir itu a is ( c f . 1 P e
2 .2 , o n d e a p a la v ra ‘m e n in o s ’ r e fe r e -s e a o s 
r e c é m - c o n v e r t id o s ) d e p o is q u e o t e m p o 
s u f ic ie n te a o a m a d u r e c im e n to já te n h a s e 
e s g o ta d o (1 C o 3 .1 ,2 ; H b 5 .1 3 ) , é o m e s ­
m o q u e s e r e s p ir i t u a lm e n t e in s tá v e l e 
v u ln e r á v e l à s d e c e p ç õ e s : “A s c r ia n ç a s s ã o 
in d e fe s a s , in c a p a z e s d e s e p r o te g e r ; n a 
v id a e s p ir itu a l s e to m a m p r e s a s fá c e is d o s 
fa ls o s e n s in a d o r e s e d o s d e m a is q u e g o s ­
ta r ia m d e d e s v iá - la s d o v e r d a d e ir o c a m i­
n h o ” ( B r u c e , 1 9 8 4 , 3 5 1 ) .
P a u lo re p ro d u z g r a f ic a m e n te o q u a d r o 
d a in s ta b ilid a d e d o s c r e n te s im a tu ro s . S ã o 
c o m o p e q u e n o s b a r c o s e m u m m a r te m ­
p e s tu o s o , to ta lm e n te v u ln e rá v e is a o s p e ­
r ig o s d o v e n to e d a s o n d a s . S ã o in e v ita v e l­
m e n te “le v a d o s e m ro d a p o r to d o v e n to 
d e d o u tr in a ”. S ã o c a rr e g a d o s p o r q u a lq u e r 
n o v o v e n d a v a l d e e n s in o q u e p o s s a p a r e ­
c e r e s ta r s o p r a n d o c o m o m a io r in te n s id a ­
d e n a q u e le m o m e n to . S ã o fa c i lm e n te “le ­
v a d o s e m r o d a p o r to d o v e n to d e d o u tr i­
na, p e lo en g a n o d os h o m e n s qu e, c o m astúcia, 
en g a n a m fraudulosam ente”. Crentes im aturos, 
d e s p r o v id o s d a s b a s e s d e u m e v a n g e lh o 
ap o stó lico (2 .2 0 ) sã o ingên u os: “Suas op in iões 
t e n d e m a s e r a q u e la s q u e o u v ira m d o ú l­
t im o p re g a d o r , o u d o ú lt im o liv ro q u e le - 
ram , e se to rn a m p re s a s fá c e is d e ca d a n o v a 
m a n ia te o ló g ic a ” (S to tt , 1 7 0 ) . T a l im a tu ri­
d a d e s e to r n a r á c a d a v e z m a is p e r ig o s a à
m e d id a q u e fa ls o s c r is to s , fa ls o s p ro fe ta s 
e fa ls o s e n s in a d o r e s s e m u ltip lic a re m “n o s 
ú lt im o s d ia s ” (c f . M t 2 4 .4 - 1 4 ,2 3 -2 5 ) .
A s r o c h a s s ó l id a s d a s e g u r a n ç a e d a 
in te g r id a d e d o e v a n g e lh o e s t ã o e m f o r ­
te c o n t r a s t e c o m a in s ta b il id a d e d a im a ­
tu r id a d e e s p ir itu a l , e c o m a d u p l ic id a d e 
d a s fa ls a s d o u tr in a s ( 4 .1 5 ) . O e v a n g e lh o 
a p o s t ó l ic o é c a r a c te r iz a d o p e la verdade 
e p e l o amor. F a la r a v e r d a d e “e m c a r i ­
d a d e ” o u c o m “a m o r ”, s ig n if ic a “v iv e r a 
v e r d a d e e m a m o r ” (W e s tc o t t , 6 4 ) , e n ã o 
a p e n a s p ro fe rir su tile z a s v e rb a is . Is to in c lu i 
a v e rd a d e m o ra lm e n te e x p re ss a p e lo cará ter 
e p e la s a ç õ e s : “A q u e le s q u e c e g a m e n t e 
s e g u e m o s c a m in h o s d o e r r o c h e g a m a o 
d e s a s t r e e s p ir itu a l ; a q u e le s q u e a c e i t a m 
a v e r d a d e to r n a m - s e h o m e n s d a v e r d a ­
d e ” ( B r u c e , 1 9 6 1 , 8 8 - 8 9 ) .
A v e r d a d e , d e a c o r d o c o m a r e v e la ç ã o 
d o N o v o T e s ta m e n to , e s tá se m p re in se p a ra - 
v e lm e n te lig a d a a o a m o r. N ã o e x is te u m a 
s i tu a ç ã o e m q u e s e t e n h a “to d a a v e r d a ­
d e e n e n h u m a m o r ”, a s s im c o m o ta m b é m 
n ã o s e p o d e te r “to d o o a m o r, p o r é m s e m 
n e n h u m a v e r d a d e ” . O e q u ilíb r io é im p o r ­
ta n te , c o m o S to tt ( 1 7 2 ) o b s e r v a : “A v e r ­
d a d e s e to r n a s e v e r a s e n ã o fo r a b r a n d a ­
d a p e lo a m o r ; e o a m o r, p o r s u a v e z , to r ­
n a - s e e x c e s s iv a m e n t e b r a n d o s e n ã o fo r 
fo rta lecid o p ela v e rd a d e ”. Q u a n d o a v e rd a d e 
d o e v a n g e lh o é m a n tid a e m a m o r, a p r e ­
s e n ta d a e m a m o r , e q u a n d o s e lu ta p o r 
e s ta c o m u m e s p ír i to a m o r o s o , o c o r p o 
d e C r is to c r e s c e “e m tu d o n a q u e le q u e é 
a c a b e ç a , C r is to ”. N a f ir m e p r o g r e s s ã o d a 
in fâ n c ia à m a tu r id a d e , a Ig r e ja s e to r n a 
m a is e m a is c o n f o r m e à s u a C a b e ç a , q u e 
é o p r ó p r io C ris to .
E m ú lt im a a n á l is e , t o d o c r e s c im e n t o 
o c o r r id o n o c o r p o d e C r is to e s tá r e la c i ­
o n a d o à C a b e ç a ( 4 .1 5 ,1 6 ) . P o r é m , r e la ­
c io n a m e n t o s s a u d á v e ise n tr e m e m b r o s 
d e u m m e s m o c o r p o sã o ta m b é m e ss e n c ia is 
p a r a q u e e s t e s e ja s a u d á v e l e d e v o ta d o 
e m s u a fa s e d e c r e s c im e n t o . D o is p a r t i - 
c íp io s c o m p o s t o s , fo r m a d o s p e lo p r e f i ­
x o syn ( “c o m ” o u “ju n to ”) d e s c re v e m c o m o 
o “c o r p o in te ir o ” e c a d a u m a d e su a s p a rtes 
in te r-re la c io n a d a s s e e n c o n tr a m in teg ra d a s 
a o c o n ju n to . O p r im e iro fo i u s a d o n o v e rs o 
2 .2 1 r e f e r in d o - s e à I g r e ja , o n d e e la é u m
1244
EFÉSIO S 4
t e m p lo q u e e s tá “b e m a ju s ta d o ” (N IV ) , 
o u “e n c a ix a d o ” (N A S B ). O s e g u n d o v e rb o , 
t r a d u z id o c o m o “m a n t id o ju n t o ” (N IV ) , 
o u “ju n ta m e n te e n tre la ç a d o ” (N KJV, N RSV ), 
e s tá re la c io n a d o a o p a p e l d o s “lig a m e n to s 
d e s u p o r t e ”. S a lm o n d ( 3 3 7 ) fa z u m r e ­
s u m o b a s ta n te p r o v e ito s o d o p e n s a m e n to 
d e P a u lo n e s t e v e r s o .
T od o o co rp o , b e m a ju stad o e liga­
do p e lo au xílio de tod as as ju n tas [liga­
m entos], cad a um d estes em seu p ró ­
p rio lugar e d esem p en h a d o a sua p ró ­
pria fu n ção , são os p o n to s de co n e x ã o 
en tre m em b ro e m em b ro , e o s p on tos 
de com unicação entre as diferentes partes 
e o su p rim ento q u e v em da ca b e ça .
R . M a rtin ( 1 5 8 - 5 9 ) a c r e d ita q u e o s l i ­
g a m e n to s d e su p o rte s e r e fe re m a u m v e rs o 
p r e c e d e n te ( 4 .1 1 ) e , d e s s a fo r m a , c o m ­
p a r a -o s à d á d iv a d e C r is to d o q u ín tu p lo 
m in is té r io .
A través dessa reação em cad eia, em 
Cristo, seu s m inistros e seu p ovo, isto é, 
todo o corpo, passa aser edificado à medida 
que o amor se torna a “atm osfera” na qual 
esse p ro cesso de m útuo en cora jam ento 
e responsabilidade é exercitado, com cada 
parte da Igreja d esem p enh and o o p ap el 
qu e lhe foi determ inado. Cristo, qu e é a 
ca b eça , transm ite sua vida ressurreta, e 
co n ced e os seus dons m inisteriais atra­
vés do Espírito. Seus m inistros cum prem 
a m issão de preparar os santos (v. 12) e 
d e ser os ligam entos da co e sã o da Igreja 
para Cristo e en tre si. O p o v o de Cristo 
dá a sua contribu ição ... n ecessária para 
qu e os d esígnios de Cristo sejam reali­
zados na ed ificação do co rp o , e em seu 
crescim en to para Ele.
7. Reproduzindo a Vida de Cristo
nos Crentes (4.17—5.21)
A m e n sa g e m d e P a u lo a o s g en tio s e m E fésios 
1— 3 fo c a l iz a o p la n o d e D e u s p a ra a r e ­
d e n ç ã o , q u e é c o n c e d id a c o m o u m d o m 
a tra v é s d a fé e m C r is to , e n ã o c o m o r e ­
s u lta d o d e m é r ito s o u e s f o r ç o s p r ó p r io s . 
N o s c a p ítu lo s 4— 6 e le r e f o r ç a e s s a s p a ­
la v ra s d iz e n d o q u e a m e n s a g e m d a g r a ­
ç a tra z c o n s ig o c o n s e q ü ê n c ia s m o r a is e 
é t ic a s , à s q u a is s e r e fe r e d e v á r ia s fo r m a s 
c o m o f r u to s d a lu z ( 5 .8 ,9 ) , “f r u to s d e ju s ­
t i ç a ” (F p 1 .1 1 ; c f . H b 1 2 .1 1 ) , e “fr u to d o 
E s p ír ito ” (G l 5 .2 2 ,2 3 ) . A q u i, ( c o m o e m G l 
5 — 6 ) P a u lo e n fa t iz a q u e o e v a n g e lh o d a 
g r a ç a q u e p r e g a n ã o s ó l ib e r ta d a s le is 
ju d a ic a s c o m o ta m b é m d a a n t ig a v id a d e 
p e c a d o e d e a to s d e n a tu r e z a p e c a m in o ­
sa . D e s s a fo r m a , P a u lo c o m e ç a a s e g u n ­
d a m e ta d e d a c a r ta e x o r t a n d o s e u s le i to ­
r e s g e n t io s a “a n d a r c o m o é d ig n o ” ( 4 .1 ; 
v e ja co m e n tá r io s) d e su a ch a m a d a e m Cristo.
N a s e ç ã o q u e e s ta m o s c o n s id e r a n d o 
( 4 .1 7 — 5 .2 1 ) , P a u lo a d o ta a m e tá fo r a “a n ­
d a r ” (peripateo) c o n s id e r a n d o -a c o m o e s ­
s e n c ia l à u m a v id a cris tã . E le e m p r e g a e s s a 
p a la v ra d e fo r m a n e g a t iv a e m 4 .1 7 (d u a s 
v e z e s ) — “n ã o a n d e is m a is c o m o a n d a m 
ta m b é m o s o u tro s g e n t io s ” e , e m se g u id a , 
d e fo rm a p o s itiv a (trê s v e z e s ) — “a n d a i e m 
a m o r” (5 .2 ) , “a n d a i c o m o filh o s d a lu z ” (5 .8 ) 
e “a n d a r c o m o s á b io s ” ( 5 .1 5 ) . P a u lo ta m ­
b é m a d o ta o c o n tr a s te e n tr e “e n tã o e a g o ­
r a ” d e 2 .1 -2 2 , is to é , e n tr e o q u e o s g e n t io s 
e r a m e c o m o v iv ia m a n te s d a c o n v e r s ã o , 
e m c o n tr a s te c o m su a fo rm a d e v id a to ta l­
m e n te n o v a , e m C ris to , a p ó s a c o n v e r s ã o .
E s s e c o n t r a s te e n tr e “a n te s e d e p o is ” 
à s v e z e s s e s o b r e p õ e , m a s é a m p la m e n ­
te d e s c r i to d e q u a tr o m a n e ir a s : v iv e r n o 
e n g a n o v e r s u s v iv e r d e a c o r d o c o m a 
“v e r d a d e q u e e s tá e m J e s u s ” ( 4 .2 1 ; is to é ,
4 .1 7 - 1 9 ,2 1 - 2 5 , 2 8 ) ; v iv e r u m e s t i lo d e v id a 
p e c a m in o s o v e r s u s te r u m a n o v a h u m a ­
n id a d e c r ia d a à s e m e lh a n ç a d e D e u s e m 
ju s t iç a e s a n t id a d e ( 4 .2 0 — 5 .7 ) ; c a m in h a r 
n a e s c u r id ã o m o r a l e e s p ir itu a l d o m a n ­
d o a o s e u r e d o r v e r s u s v iv e r c o m o f ilh o s 
d a lu z (5 .8 -1 4 ) ; e f in a lm en te , v iv er d e a c o rd o 
c o m a in s e n s a te z d o m u n d o o u v iv e r d e 
a c o r d o c o m o s c a m in h o s d a s a b e d o r ia d e 
D e u s ( 5 .1 5 - 2 1 ) .
7.1. Deixar de Viver de Acordo 
com a Personalidade 
Anterior (Natureza 
Pecaminosa) (4.17-19)
P a u lo in s is te c o m s e u s le i to r e s g e n t i ­
o s : “n ã o a n d e is m a is c o m o a n d a m ta m ­
1245
EFÉSIO S 4
b é m o s o u t r o s [n ã o r e g e n e r a d o s ] g e n t i ­
o s ” ( 4 .1 7 ) , c o m s e u e s t i lo d e v id a p a g ã o . 
O m a is n o t á v e l a q u i é a ê n f a s e q u e P a u ­
lo c o lo c a n o p e n s a m e n to d o s g en tio s . A q u e ­
le s q u e n ã o fo r a m s a lv o s s e c a r a c te r iz a m 
p o r t e r p e n s a m e n t o s fú te is , in t e l ig ê n c ia 
o b s c u r e c id a e ig n o r â n c ia e s p ir itu a l . E m 
c o n t r a s t e c o m a e s c u r id ã o e a ig n o r â n ­
c ia d o s p a g ã o s in c r é d u lo s , “a v e r d a d e e m 
J e s u s ” ( 4 .2 1 ) fo i e n s in a d a a o s c r e n t e s ; e 
e m c o n t r a s t e c o m a f u t i l id a d e d e s e u 
p e n s a m e n t o , a s m e n t e s d o s c r e n t e s f o ­
r a m “r e n o v a d a s ” ( 4 .2 3 ) .
P e s s o a s n ã o r e g e n e r a d a s , q u e v iv e m 
d e a c o r d o c o m su a n a tu r e z a p e c a m i n o ­
s a , s ã o c a r a c te r iz a d a s p e la “f u t i l id a d e ” 
d e s e u “p e n s a m e n to ” o u “m e n te s ” (N A SB ; 
N K JV ; N R S V ). E m b o r a a “fu t i l id a d e ” à s 
v e z e s e s te ja a s s o c ia d a à id o la tr ia n o N o v o 
T e s t a m e n t o , “a r e f e r ê n c ia p r in c ip a l a q u i 
é a n o ç ã o d e ‘n ã o s e r v ir p a r a n a d a ’ (N E B ) 
s u b ja c e n t e a u m c o m p o r t a m e n t o ir r e s ­
p o n s á v e l” (W o o d , 6 1 ) . P e n s a m e n to s fú ­
t e is , u m a in t e l ig ê n c ia o b s c u r e c id a ( e m ­
b o r a à s v e z e s b r i lh a n t e e m s e u Q u o c i - 
e n t e d e I n te l igê n c ia [Q I] o u n a a p r e n d i ­
z a g e m ) , e ig n o r â n c ia e s p ir i tu a l , c o m e ­
ç a m c o m u m a r e je i ç ã o d e l ib e r a d a d a lu z 
m o r a l e d a v e r d a d e c o n h e c id a a r e s p e i ­
to d e D e u s ( c f . R m 1 .1 8 - 2 3 ) .
D e n tr o d a e s p ir a l d e s c e n d e n te d e u m a 
v id a d ep ra v a d a as e ta p a s m e n c io n a d a s a q u i 
s ã o a s s e g u in te s : P r im e ir o v e m a “d u r e z a 
d o c o r a ç ã o ” ( 4 .1 8 c ) , q u e r e s u lta e m u m a 
“ig n o râ n c ia ” arra ig ad a (4 .1 8 b ) . E m seg u id a , 
g e n t io s d e p r a v a d o s s ã o “e n t e n e b r e c id o s 
n o e n t e n d i m e n t o ” [ in t e le c t o , N A S B ] e 
“s e p a r a d o s d a v id a d e D e u s ” ( 4 .1 8 a ) . F i­
n a lm e n te , p e r d e m “to d o o s e n t im e n to ” (o u 
s e n s ib i l id a d e ) m o r a l ( 4 .1 9 a ) e “s e e n tr e ­
g a m à d is s o lu ç ã o , p a r a , c o m a v id e z , c o ­
m e te re m to d a im p u rez a ” (4 .1 9 ). N ad a jam ais 
s a t is fa z s u a a lm a e s e u s p e r v e r s o s d e s e ­
jo s . S to tt r e s u m e a s p a la v ra s d e P a u lo (1 7 7 ) : 
“A d u re z a d o c o r a ç ã o le v a , p r im e ira m e n te , 
à e s c u r id ã o d a m e n te , d e p o is à m o r te d a 
a lm a s o b o ju lg a m e n to d e D e u s , e f in a l­
m e n te à in d iferen ça p e la vida. T e n d o p erd id o 
to d a s e n s ib i l id a d e , a s p e s s o a s p e r d e m 
ta m b é m to d o o a u to c o n tr o le . E s s a é e x a ­
ta m e n te a s e q ü ê n c ia d e s c r ita p o r P a u lo 
e m R o m a n o s 1 .1 8 - 3 2 ”.
7.2. Começara Viver de 
Acordo com a Nova 
Personalidade em Cristo 
(4.20-24)
P a u lo fa z a g o r a u m c o n tr a s te e n tr e a 
a n t ig a p e r s o n a l id a d e p e c a m in o s a d o e s ­
t ilo d e v id a d o s g e n t io s ( 4 .2 2 ) e s e u “n o v o 
h o m e m ” q u e , e m C r is to , fo i c r ia d o e s p i ­
ritu al e m o r a lm e n te à s e m e lh a n ç a d e D e u s 
“e m v e rd a d e ir a ju s tiç a e sa n tid a d e ” ( 4 .2 4 ) . 
E n q u a n to o s g e n t io s n ã o r e g e n e r a d o s s ã o 
c a r a c te r iz a d o s p e la s tre v a s d a ig n o r â n c ia , 
in s e n s ib il id a d e e u m n e g l ig e n te e s t i lo d e 
v id a ( 4 .1 7 - 1 9 ) , o s c r e n t e s g e n t io s “n ã o 
a p r e n d e r a m a s s im a C r is to ” ( 4 .2 0 ) . P o r ­
tan to , se u c o ra ç ã o n ã o está m ais o b scu re c id o 
e s u a v id a n ã o m a is s e c a r a c te r iz a p e la 
a l ie n a ç ã o , im p u r e z a e s e n s u a lid a d e .
E s s a d ra m á tic a t r a n s fo r m a ç ã o o c o r r e u 
p e lo fa to d e t e r e m “c o n h e c id o a C r is to ” 
(N A S B , N K JV , N R S V ), “o u v id o a C r is to ” e 
s id o “e n s in a d o s p o r C r is to ” ( 4 .2 0 ,2 1 ) .
1) A exp ressão “co nh ecid o [emathete] a Cristo” 
significa ter sido d iscipulado ( mathetes) em 
Cristo, em seu s p ad rões de pureza m oral, 
ten d o -o co m o Senhor.
2) A ex p re ssã o seg u in te (litera lm ente , “o u ­
v id o a C risto”) sig n ifica q u e , através da 
p re g a çã o d o E v angelho , os g en tios c o n ­
vertidos ouviram a voz de Cristo.
3 ) Foram “en sin ad o s p o r C risto” para a nova 
esfera d e sua vida. Stott (1 7 9 ) ob serv a qu e 
“qu an d o Je s u s Cristo é ao m esm o tem p o 
o su je ito e o o b je to , e o am bien te d e en si­
n am en to s m orais já fo i co n ced id o , p o d e ­
m os co n fia r q u e este é verd ad eiram en te 
cris tão ”.
O v e rs o 21 a c re s c e n ta q u e a v e rd a d e está 
e m je s u s . G e r a lm e n te , P a u lo n ã o s e r e f e ­
re a C ris to p o r s e u n o m e h is tó r ic o , e o fa to 
d e fa z ê - lo a q u i a f ir m a fo r te m e n te q u e o 
C ris to d a fé é o p r ó p r io J e s u s d a h is tó r ia , 
q u e é a p e r s o n if ic a ç ã o d a v e rd a d e 0 o 1 4 .6 ) .
E x is te m d u a s v e r d a d e s fu n d a m e n ta is 
e m r e la ç ã o a o q u e o s g e n t io s c o n v e r t id o s 
a p re n d e ra m e fo ra m d iscip lin ad o s e m C risto 
(m u ito s d e le s p e lo p r ó p r io P a u lo m u ito s 
a n o s a n te s d e s ta e p ís to la ) :
1) Na conversão, o crente se despoja “do velho 
h o m em , q u e se co rro m p e p elas co n cu p is- 
cê n c ia s d o e n g a n o ” (v. 22). Essa transfor-
1246
EFÉSIO S 4
b é m o s o u t r o s [n ã o r e g e n e r a d o s ] g e n t i ­
o s ” ( 4 .1 7 ) , c o m s e u e s t i lo d e v id a p a g ã o . 
O m a is n o t á v e l a q u i é a ê n f a s e q u e P a u ­
lo c o lo c a n o p e n sa m e n to d o s g en tio s . A q u e ­
le s q u e n ã o fo r a m s a lv o s s e c a r a c te r iz a m 
p o r te r p e n s a m e n t o s fú te is , in t e l ig ê n c ia 
o b s c u r e c id a e ig n o r â n c ia e s p ir itu a l . E m 
c o n t r a s t e c o m a e s c u r id ã o e a ig n o r â n ­
c ia d o s p a g ã o s in c r é d u lo s , “a v e r d a d e e m 
J e s u s ” ( 4 .2 1 ) f o i e n s in a d a a o s c r e n t e s ; e 
e m c o n t r a s t e c o m a f u t i l id a d e d e s e u 
p e n s a m e n t o , a s m e n t e s d o s c r e n t e s f o ­
ra m “r e n o v a d a s ” ( 4 .2 3 ) .
P e s s o a s n ã o r e g e n e r a d a s , q u e v iv e m 
d e a c o r d o c o m s u a n a tu r e z a p e c a m i n o ­
s a , s ã o c a r a c te r iz a d a s p e la “fu t i l id a d e ” 
d e s e u “p e n s a m e n to ” o u “m e n te s ” (N A SB ; 
N K JV ; N R S V ). E m b o r a a “f u t i l id a d e ” à s 
v e z e s e s te ja a s s o c ia d a à id o la tr ia n o N o v o 
T e s t a m e n t o , “a r e f e r ê n c ia p r in c ip a l a q u i 
é a n o ç ã o d e ‘n ã o s e r v ir p a ra n a d a ’ (N E B ) 
s u b ja c e n t e a u m c o m p o r t a m e n t o ir r e s ­
p o n s á v e l” (W o o d , 6 1 ) . P e n s a m e n to s fú ­
t e is , u m a in t e l ig ê n c ia o b s c u r e c id a ( e m ­
b o r a à s v e z e s b r i lh a n te e m s e u Q u o c i - 
e n t e d e I n te l ig ê n c ia [Q I] o u n a a p r e n d i ­
z a g e m ) , e ig n o r â n c ia e s p ir i tu a l , c o m e ­
ç a m c o m u m a r e je i ç ã o d e l ib e r a d a d a lu z 
m o r a l e d a v e r d a d e c o n h e c id a a r e s p e i ­
to d e D e u s ( c f . R m 1 .1 8 - 2 3 ) .
D e n tr o d a e s p ir a l d e s c e n d e n te d e u m a 
v id a d e p ra v a d a a s e ta p a s m e n c io n a d a s aq u i 
s ã o a s s e g u in te s : P r im e ir o v e m a “d u r e z a 
d o c o r a ç ã o ” ( 4 .1 8 c ) , q u e r e s u lta e m u m a 
“ig n o râ n c ia ” arra ig ad a ( 4 .1 8 b ) . E m seg u id a , 
g e n t io s d e p r a v a d o s s ã o “e n t e n e b r e c id o s 
n o e n t e n d i m e n t o ” [ in t e le c t o , N A S B ] e 
“s e p a r a d o s d a v id a d e D e u s ” ( 4 .1 8 a ) . F i ­
n a lm e n te , p e r d e m “to d o o s e n t im e n to ” (o u 
s e n s ib i l id a d e ) m o r a l ( 4 .1 9 a ) e “s e e n tr e ­
g a m à d is s o lu ç ã o , p a r a , c o m a v id e z , c o ­
m e te re m to d a im p u rez a ” (4 .1 9 ). N ad a jam ais 
s a t is fa z s u a a lm a e s e u s p e r v e r s o s d e s e ­
jo s . S to tt re s u m e as p a la v ra s d e P a u lo (1 7 7 ) : 
“A d u re z a d o c o r a ç ã o le v a , p r im e ira m e n te , 
à e s c u r id ã o d a m e n te , d e p o is à m o r te d a 
a lm a s o b o ju lg a m e n to d e D e u s , e f in a l­
m e n te à in d iferen ça p ela vida. T e n d o p erd ido 
to d a s e n s ib i l id a d e , a s p e s s o a s p e r d e m 
ta m b é m to d oo a u to c o n tr o le . E s s a é e x a ­
ta m e n te a s e q ü ê n c ia d e s c r ita p o r P a u lo 
e m R o m a n o s 1 .1 8 - 3 2 ”.
7.2. Começara Viver de 
Acordo com a Nova 
Personalidade em Cristo 
(4.20-24)
P a u lo fa z a g o r a u m c o n tr a s te e n tr e a 
a n t ig a p e r s o n a l id a d e p e c a m in o s a d o e s ­
t ilo d e v id a d o s g e n t io s ( 4 .2 2 ) e s e u “n o v o 
h o m e m ” q u e , e m C r is to , fo i c r ia d o e s p i ­
ritu al e m o r a lm e n te à s e m e lh a n ç a d e D e u s 
“e m v e rd a d e ir a ju s tiç a e s a n tid a d e ” ( 4 .2 4 ) . 
E n q u a n to o s g e n t io s n ã o r e g e n e r a d o s s ã o 
c a r a c te r iz a d o s p e la s tre v a s d a ig n o r â n c ia , 
in s e n s ib il id a d e e u m n e g l ig e n te e s t i lo d e 
v id a ( 4 .1 7 - 1 9 ) , o s c r e n t e s g e n t io s “n ã o 
a p r e n d e r a m a s s im a C r is to ” ( 4 .2 0 ) . P o r ­
tanto , se u c o ra ç ã o n ã o está m ais o b scu re c id o 
e s u a v id a n ã o m a is s e c a r a c te r iz a p e la 
a l ie n a ç ã o , im p u r e z a e s e n s u a lid a d e .
E s s a d ra m á tic a tr a n s fo r m a ç ã o o c o r r e u 
p e lo fa to d e t e r e m “c o n h e c id o a C r is to ” 
(N A S B , N K JV , N R S V ), “o u v id o a C r is to ” e 
s id o “e n s in a d o s p o r C r is to ” ( 4 .2 0 ,2 1 ) .
1) A exp ressão “con h ecid o [emathete] a Cristo” 
significa ter sido d iscipulado (mathetes) em 
Cristo, em seu s p ad rõ es de p u reza m oral, 
ten d o -o co m o Senhor.
2) A ex p re ssã o segu in te (litera lm ente , “o u ­
v id o a C risto”) sig n ifica q u e , através da 
p re g a ç ã o d o E v an gelho , o s gen tios c o n ­
vertidos ouviram a voz de Cristo.
3 ) Foram “en sin ad os p o r C risto” para a nova 
esfera d e sua vida. Stott (1 7 9 ) ob serv a qu e 
“qu an d o Je su s Cristo é ao m esm o tem p o 
o su je ito e o o b je to , e o am b ien te de en si­
nam en to s m orais já fo i co n ced id o , p o d e ­
m os co n fiar q u e este é v erd ad eiram en te 
cris tã o ”,
O v e rs o 21 a c re s c e n ta q u e a v e rd a d e está 
e m J e s u s . G e r a lm e n te , P a u lo n ã o s e r e f e ­
r e a C ris to p o r s e u n o m e h is tó r ic o , e o fa to 
d e fa z ê - lo a q u i a f ir m a fo r te m e n te q u e o 
C ris to d a f é é o p r ó p r io J e s u s d a h is tó r ia , 
q u e é a p e r s o n ific a ç ã o d a v e rd a d e 0 o 1 4 .6 ) .
E x is te m d u a s v e r d a d e s fu n d a m e n ta is 
e m r e la ç ã o a o q u e o s g e n t io s c o n v e r t id o s 
a p re n d e ra m e fo ra m d iscip lin ad o s e m C risto 
(m u ito s d e le s p e l o p r ó p r io P a u lo m u ito s 
a n o s a n te s d e s ta e p ís to la ) :
1) Na conversão, o crente se despoja “do velho 
h o m em , q u e se co rro m p e p elas co n cu p is- 
cên cia s do e n g a n o ” (v. 22). Essa transfor­
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EFÉSIO S 4
m ação o co rre através d e um a id en tifica­
ção p o r fé co m a m orte, sep u ltam en to e 
ressu rre ição de Cristo, testem u nh ad a p e ­
las águas do batism o (cf. R m 6.2-7 ; C13.9.10). 
A “v elh a p erso n a lid a d e” n ão será m elh o ­
rada ou ap erfeiço ad a. D ev erá m orrer e ser 
sep ultad a p ara q u e um a vida to ta lm en te 
nova possa emergir. D e acordo com a ordem 
de D eu s, a m orte p re ce d e a vida, e a cru ­
c ifica çã o p re ced e a ressurreição .
2) Na co n v ersão , o cre n te d eve se “revestir 
do n o v o h o m em , q u e , seg u n d o D eu s, é 
criad o em verd adeira ju stiça e santidade 
(v. 24). O ab an d o n o de no ssa natureza p e- 
cad ora e corru p ta se a ssem elh a à rem o ­
çã o d e um a vestim enta im u nda q u e n ão 
serve p ara nada a n ão ser p ara a d estrui­
ção . A a d o çã o de um a nova natu reza, em 
Cristo (a vida da ressurreição), se assem elha 
a co locar uma vestimenta inteiram ente no va. 
P au lo se re fere , literalm ente , ao q u e éra ­
mos antes e depois da conversão com o “velho 
h o m em ” e “n o v o h o m em ”, sen d o q u e o 
prim eiro é “d ecrép ito , d efo rm ad o e in cli­
nad o à co rru p çã o ”, e n q u an to o ú ltim o é 
“um no v o h o m em , ren o v ad o , b e lo e v ig o ­
ro so ” (Stott, 181). O antigo era d om inado 
p o r lascív ia p ecam in o sa , en qu an to o no v o 
fo i criad o de aco rd o co m a “ju stiça e san ­
tid a d e”.
E s s a é a fo r m a c o m o o s le i to r e s g e n t i ­
o s d e P a u lo “c o n h e c e r a m a C r is to ” e f o ­
r a m “e n s in a d o s n E le ” . A l in h a d e d e m a r ­
c a ç ã o e n tr e a a n t ig a v id a d e p e c a d o e a 
n o v a v id a e m C ris to d e v e se r b a s ta n te c la ra 
e d e c is iv a . N o e n ta n to , e s s e p r o c e s s o ta m ­
b é m e n v o lv ia , c o n f o r m e in d ic a d o p e lo 
t e m p o p r e s e n t e d e “d e s p o ja r ” e “r e v e s ­
t ir ”, o q u e P a u lo d e s c r e v e c o m o s e n d o a 
r e n o v a ç ã o n o “e s p ír i to [pneum a , e s p ír i ­
t o 7] d o s e n t id o ”, o u d o e n te n d im e n to (v .
2 3 ) . A r e n o v a ç ã o d a m e n te é u m a o b r a 
d o E s p ír ito S a n to , p e la q u a l n o s s o fú til 
p e n s a m e n t o a n te r io r e n o s s o o b s c u r e c i - 
d o in t e le c t o s ã o t r a n s fo r m a d o s p a r a q u e 
p o s s a m o s s e r e n v o lv id o s p e la fo r m a d e 
p e n s a r d e C r is to . U m a c o n t ín u a e d iá r ia 
“r e n o v a ç ã o in te r io r d e n o s s a s m a n e ir a s 
o c o r r e a o n o s to r n a r m o s c r is tã o s ” (S to tt , 
1 8 2 ) . P e lo fa to d e o s c r e n t e s s e r e m n o ­
v a s c r ia tu r a s e m C r is to , n ã o p o d e m m a is 
“v iv e r c o m o o s g e n t io s [n ã o r e g e n e r a d o s ]”
( 4 .1 7 ) , s o b r e o s q u a is P a u lo s e a lo n g a n a 
e x p o s iç ã o q u e s e s e g u e .
7.3■ Viverem Justiça como 
uma Nova Criatura 
(4 .2 5 -3 2 )
T e n d o fe ito o c o n tr a s te e n tr e a a n tig a 
p e r s o n a lid a d e s o b a in flu ê n c ia d e su a n a ­
tu re z a p e c a m in o s a , e a n o v a q u e fo i cria d a 
à se m e lh a n ç a d e D e u s , P a u lo c o m e ç a a g o ra 
a d escrev er n a prática as a ç õ e s d a n o v a criatura 
e m C ris to , e m te r m o s d e u m a v id a ju sta : 
“P e lo q u e ” ( 4 .2 5 ) e x is te u m a p o n te “e n tr e 
o s p r in c íp io s e a p r á t ic a ” (W o o d , 6 4 ) . A o 
o b serv ar o s c in c o e x e m p lo s p ráticos d e P au lo 
a r e s p e ito d e u m a v id a ju s ta , v e m o s q u e 
to d o s co m p a rtilh a m d o is a s p e c to s c o m u n s : 
e s tã o d ir ig id o s a o n o s s o r e la c io n a m e n to 
c o m o u tra s p e s s o a s e c a d a u m d e le s e n ­
v o lv e p r o ib iç õ e s n e g a tiv a s q u e s ã o c o n tra ­
b a la n ç a d a s p o r m a n d a m e n to s p o s itiv o s .
7.3-1. Deixar a Mentira e Falar a Ver­
dade (4.25). D e ix a r a “m e n t ir a ” e “fa la r 
a v e r d a d e ” e s tá d e a c o r d o c o m o q u e s o ­
m o s e m C r is to , p o is a “v e r d a d e .. . e s tá e m 
J e s u s ” ( 4 .2 1 ) . O s c r e n te s d e v e m r e n u n c i ­
a r “à s m e n t ir a s ” d e S a ta n á s (c f . R m 1 .2 5 ) 
e a to d a s a s m e n tir a s m e n o r e s d a a n t ig a 
p erso n a lid ad e, e seu fa lar d e v e co rre sp o n d e r 
“à v e r d a d e ” d e C r is to . E s s e m a n d a m e n to 
s ig n if ic a , e m p rim e iro lu g ar, q u e d e v e m o s 
fa la r a v e r d a d e c o m n o s s o s s e m e lh a n te s 
a q u e m D e u s n o s de te r m in o u q u e a m e ­
m o s . E m a is a in d a , d e v e m o s n o s r e la c io ­
n a r d e m o d o v e r d a d e ir o e c o n f iá v e l “c o m 
to d o s o s m e m b ro s d o c o rp o ú n ico [de Cristo]” 
c o m o a fa m ília d a fé . S e n ã o fo r a ss im , se rá 
im p o s s ív e l e s t a b e le c e r a c o n f ia n ç a , e o 
v e rd a d e iro re la c io n a m e n to da co m u n id a d e 
s e r o m p e r á .
“E n g a n o s frau d u len to s” (4 .1 4 ) e “ca lú n ias” 
(o u fa ls id a d e ) s ã o o b r a s d o in im ig o p a ra 
m in a r a u n id a d e d o E s p ír ito n o c o r p o d e 
C r is to e , p o r ta n to , n ã o d e v e m s e r p e r m i­
tid as d e n tro d a c o m u n h ã o d a Ig re ja . C o m o 
fo i o b s e r v a d o p o r S to tt ( 1 8 5 ) : “A c o m u ­
n h ã o é c o n s tr u íd a s o b r e a c o n f ia n ç a , e a 
c o n f ia n ç a é c o n s tr u íd a s o b r e a v e r d a d e . 
P o r ta n to , a c a lú n ia o u a fa ls id a d e c o r r o ­
e m a c o m u n h ã o e n q u a n t o a v e r d a d e a 
f o r ta le c e ”. E s s e v e r s o n ã o r e c o m e n d a q u e
1247
EFÉSIO S 4
a s p e s s o a s s e ja m r u d e s n o fa la r , p o is ta l 
fo r m a d e e x p r e s s ã o t a m b é m p o d e s e r 
p re ju d ic ia l a o s r e la c io n a m e n to s d e n tr o d a 
c o m u n id a d e c r is tã .
7.3.2. Não Pecar pela Ira (4.26-27). 
M u ita s t r a d u ç õ e s in te r p r e ta m e s s a f r a ­
s e c o m o u m m a n d a m e n to — “I r a i - v o s e 
n ã o p e q u e is ” (N K JV , N A SB, N R S V )— c o m o 
s e P a u lo e s t iv e s s e e n c o r a ja n d o u m a ira 
ju s ta , o q u e e s ta r ia m u ito d is ta n te d e s e u 
p e n s a m e n t o n e s s e c o n t e x t o o n d e , n a 
v e r d a d e , e x i s t e u m a a d v e r t ê n c ia a r e s ­
p e i t o d o p e c a d o d a ira ( c f . 4 .3 1 ) . O p e n ­
s a m e n to d e P a u lo é : “S e v o c ê s e irar, to m e 
c u id a d o ! V o c ê e s tá à s p o r ta s d o p e c a d o !” 
T u r n e r a c r e s c e n ta ( 1 2 4 0 ) : “S e n o o c id e n te 
a ir a é c o n s id e r a d a u m s in a l d e m a s c u ­
lin id a d e , a tra d iç ã o ju d a ic a e s tá m a is c o n s ­
c i e n t e d e s e u p o d e r d e m o n ía c o , d iv is o r 
e c o r r u p to r . .. A ira , e s e u s p e c a d o s c o r r e - 
la to s n o s v e r s o s 2 9 e 3 1 , r e p r e s e n ta m o 
e x e m p l o d e p e c a d o s s o c ia lm e n t e d e s ­
t r u id o r e s e a l ie n a d o r e s , t ã o c a r a c t e r í s ­
t i c o s d a a n t ig a c r i a ç ã o ” .
D e s s a fo r m a , P a u lo c o lo c a trê s r e s tr i­
ç õ e s à ira, ca d a u m a d elas ch a m a n d o a te n çã o 
a s e u p e r ig o p o te n c ia l :
1) “N âo p eq u eis” (4 .26a) indica qu e a ira leva 
facilm ente a p ecar em outras áreas tais com o 
orgu lho egoísta , m aldade, v ingan ça, ódio, 
v io lên cia e até m esm o aos assassinatos (cf. 
Mt 5 .2 1 ,2 2 ).
2 ) “Não se ponha 0 sol sobre a vossa ira” (4 .26b) 
su g ere q u e se ‘as co n ta s n ão forem rap i­
d am en te a ju stad as’, a ira levará à am argu­
ra e à d estru ição d os re lacion am en to s.
3) “N ão deis lugar ao d iab o" (4 .2 7 ) p rev ine 
ind iretam en te q u e a ira p o d e facilm en te 
abrir um a porta d e op ortu n id ad e para o 
D iab o , d an d o -lh e lu gar p ara op erar. O s 
co m e n tá r io s d e J . A. B e n g e l fa z em um 
ex c e le n te resu m o d essa p assag em : “A ira 
n ão é nem ord en ad a, nem totalm ente proi­
bida; porém , e isto é uma ordem: Não permita 
q u e o p e ca d o se introdu za na ira; esta é 
co m o o v en en o qu e às vezes é u sado co m o 
rem édio, m as qu e deve ser controlad o com 
o m aio r cu id ad o ” (c itad o p o r E arle, 317). 
O m aior an tíd oto contra o v e n e n o de um 
co m p o rtam en to qu e é to leran te qu anto à 
p ró p ria ira, é e x e rc ita r -se na p rá tica da 
m isericórd ia (4 .3 2 ).
7.3.3. Abandonar o Roubo e Traba­
lhar Diligentemente (4.28). U m d o s
p r in c íp io s é t ic o s m a is e le m e n t a r e s é o 
m a n d a m e n to d e n ã o r o u b a r ( Ê x 2 0 .1 5 ; 
M c 1 0 .1 9 ; R m 1 3 -9 ) . P a u lo m e n c io n a o s 
l a d r õ e s e n tr e a q u e le s t r a n s g r e s s o r e s q u e 
n ã o “h e r d a r ã o o r e in o d e D e u s ” (1 C o 
6 .1 0 ) . Q u a n d o u m la d r ã o s e c o n v e r te , 
a t r a v é s d a f é e m C r is to , n ã o d e v e a p e ­
n a s a b a n d o n a r o r o u b o , m a s t a m b é m 
a p r e n d e r a t r a b a lh a r c o m d il ig ê n c ia “fa ­
z e n d o c o m a s m ã o s o q u e é b o m ”, o u 
b e n é f ic o (c f . 4 .2 9 ) a f im d e s e to r n a r c a p a z 
d e “r e p a r t ir c o m o q u e t iv e r n e c e s s i d a ­
d e ” . O s v e r d a d e ir o s c r e n t e s d e d ic a m -s e 
a o t r a b a lh o h o n e s to e n ã o e n g a n a m s e u s 
e m p r e g a d o r e s o u e m p r e g a d o s ; c o m p a r ­
t i lh a m a o in v é s d e a c u m u la r e m b e n s à s 
o c u lta s , e d e m o n s t r a m u m e s p ír i to g e ­
n e r o s o e n ã o g a n a n c io s o .
N a c o n v e r s ã o , a b a n d o n a r o “v e l h o ” e 
n ã o r e g e n e r a d o e s t i lo d e v id a , q u e s e 
a p r o v e ita d o s o u tr o s e m b e n e f í c io p r ó ­
p r io ( 4 .2 2 ) , s ig n if ic a v e s t ir - s e d a “n o v a ” 
v id a r e g e n e r a d a e m C r is to , o n d e d is tr i­
b u ím o s g e n e r o s a e a le g re m e n te a q u ilo q u e 
e s tá fa lta n d o n a v id a d o s s e m e lh a n te s (c f .
2 C o 8 .1 4 ) . A t r a n s fo r m a ç ã o d a c o n d u ta 
e x te r io r é d e m o n s tr a d a p o r u m a t r a n s fo r ­
m a ç ã o n o c o r a ç ã o . S o m e n te C ris to “p o d e 
tra n sfo rm a r u m a ssa ltan te e m u m b e n fe ito r” 
(S to tt , 1 8 8 ) .
7-3.4. Deixar a Linguagem e as Con­
versas Imorais e Falar Palavras Edi­
ficantes (4.29-30). P a u lo p a s s a d a fo rm a 
c o m o u s a m o s n o s s a s m ã o s p a r a a f o r ­
m a c o m o u s a m o s n o s s o s lá b io s . P a la ­
v r a s o u c o n v e r s a s im o r a is , p o u c o e d i f i ­
c a n t e s o u p e c a m i n o s a s n ã o d e v e m s a ir 
d a b o c a d e a lg u é m q u e p r o c la m a C r is ­
to J e s u s c o m o S e n h o r . “P a la v r a t o r p e ” 
in c lu i q u a lq u e r t ip o d e c o n v e r s a ç ã o q u e 
se ja p re ju d ic ia l o u q u e tra g a d a n o a o u tra s 
p e s s o a s . O l iv r o d e P r o v é r b io s a f ir m a 
q u e p e s s o a s c o m d is c e r n im e n t o “r e tê m 
a s s u a s p a la v r a s ” ( P v 1 7 .2 7 ) , m a s q u e 
“a b o c a d o t o lo é a s u a p r ó p r ia d e s t r u i ­
ç ã o ” ( 1 8 .7 ) . A f o r m a c o m o f a la m o s r e ­
p r e s e n t a u m a s o l e n e r e s p o n s a b i l id a d e 
p o r q u e :
1) “A m orte e a vida estão no p o d er da lín ­
g u a” (Pv 1 8 .2 1 ) e
1248
EFÉSIO S 4
2) de “tod a p alavra o c io sa q u e o s h o m en s
d isserem h ão de dar co nta no D ia do Ju íz o ”
(Mt 12 .36 ).
P ortanto , P au lo c o n c la m a to d o s o s cren tes 
a fa la r e m “s ó a [p a la v ra ] q u e f o r b o a p a r a 
p r o m o v e r a e d if i c a ç ã o , p a r a q u e d ê g r a ­
ç a a o s q u e a o u v e m ” (4 .2 9 ) . E n q u a n to u m a 
fala n ã o san tificad a te n d e a d estruir o u infligir 
a m o r te a o s d e m a is , p a la v r a s e d if ic a n te s 
s ã o b e n é f ic a s ( l i t e r a lm e n te , d ã o g r a ç a ) 
à q u e le sq u e a s o u v e m . E m C o lo s s e n s e s 
4 .6 , P a u lo ig u a lm e n te e x o r ta a o s c r e n te s 
d iz e n d o : “A v o s s a p a la v r a s e ja s e m p r e 
a g r a d á v e l , te m p e r a d a c o m sa l, p a r a q u e 
sa ib a is c o m o v o s c o n v é m r e s p o n d e r a ca d a 
u m ”. N ã o s e p o d e fu g ir à e s s a o b s e r v a ­
ç ã o d e P a u lo : “S e s o m o s n o v a s c r ia tu r a s 
e m C r is to , d e v e m o s d e s e n v o lv e r u m p a ­
d rã o d e c o n v e r s a ç ã o c o m p le ta m e n te n o v o ” 
(S to t t , 1 8 8 ) .
O v e r s o 3 0 a p r e s e n ta u m a s o le n e in ­
t e r r u p ç ã o . N o in íc io d o c a p ítu lo 4 , P a u lo 
c o n c la m o u o s c r e n t e s a a n d a r e m “c o m o 
é d ig n o d a v o c a ç ã o c o m q u e fo r a m c h a ­
m a d o s ” ( 4 .1 ) e a p r o c u r a r e m “g u a r d a r a 
u n id a d e d o E s p ír ito ” ( 4 .3 ) c o m o o ú n ic o 
c o r p o d e C risto . P e lo fa to d o s p e c a d o s q u e 
P a u lo v e m d e s c r e v e n d o d e s d e 4 .2 5 s e r e m 
in c o m p a tív e is c o m a n o s s a c h a m a d a e m 
C r is to , e d e s tr u ír e m o s r e la c io n a m e n t o s 
e a u n id a d e d o c o r p o d e C r is to , p e r m a ­
n e c e r n e le s d e lib e r a d a m e n te “e n tr is te c e rá 
o S a n to E s p ír ito d e D e u s ” ( F e e , 7 1 4 ) . E s s a 
p e r m a n ê n c ia v o lu n tá r ia n o p e c a d o p o c le 
s e r r e la c io n a d a a o p e c a d o d e Is r a e l d e s ­
crito e m Isaías 6 3 .1 0 , e à c o n s e q ü e n te tristeza 
s e n t id a p e lo E s p ír ito S a n to p o r s e u c a r á ­
te r e s p e c í f ic o , u m a v e z q u e E le é “a q u e le 
E sp ír ito q u e é ca ra c te r iz a d o p e la sa n tid a d e 
e q u e é o p r ó p r io D e u s o p e r a n d o n o s 
c r e n t e s ” (L in c o ln , 3 0 7 ) .
B a r th ( 2 .5 5 0 ) v ê e x p r e s s a a q u i a s u b ja ­
c e n te p o s s ib i l id a d e d a q u e le s q u e e n tr is ­
t e c e r a m o E s p ír ito S a n to s e to r n a r e m p r i­
v a d o s d a fu tu ra re d e n ç ã o p e lo fa to d e te re m 
p e r m a n e c id o n o p e c a d o .
E m 4 .3 0 , o b s e r v e a ê n fa s e q u e é d a d a 
a o p a p e l d o E s p ír ito S a n to c o m o u m s e lo 
d a a u te n tic a ç ã o d e D e u s , c o m o q u a l s o m o s 
s e la d o s “p a r a o D ia d a r e d e n ç ã o [fin a l]” 
(c f . 1 .1 3 ,1 4 ) . D e v e m o s o b s e r v a r ta m b é m 
q u e e n tr is te c e r o E s p ír ito S a n to p o d e (à
lu z d e o u tr a s p a s s a g e n s d o N o v o T e s ta ­
m e n t o ) le v a r p r o g r e s s iv a m e n te a o e n d u ­
r e c im e n t o d o c o r a ç ã o (H b 3 -8 , 1 3 ,1 4 ) , à 
r e s is tê n c ia a o S a n to E s p ír ito (A t .7 .5 1 ) , à 
e x t in ç ã o d o E s p ír ito (1 T s 5 .1 9 ) e a té a o 
a g r a v o a o E s p ír ito d a g r a ç a (H b 1 0 .2 9 ) e 
à b la s fê m ia c o n tr a E le (M t 1 2 .3 1 ) . A s c o n ­
s e q ü ê n c ia s e t e r n a s d e s s e ú l t im o e s t ã o 
e s p e c ia lm e n t e c la r a s n a s E s c r itu ra s . P a ra 
e v ita r o s p r im e ir o s p a s s o s n e s s e p r o c e s ­
s o d e e n d u r e c im e n to , n ó s , c o m o c r e n te s 
t e m e n te s a D e u s , d e v e m o s n o s d is ta n c i­
a r d e to d o s o s p e c a d o s q u e p o s s a m e n ­
t r is te c e r o s e u S a n to E s p ír ito .
7-3.5- Deixar a Malícia e Perdoar
(4.31,32). P a u lo c o n c lu i s e u c o n ju n to d e 
c in c o a t itu d e s e c o m p o r ta m e n to s n e g a ­
t iv o s (a t i tu d e s e c o m p o r ta m e n to s p e c a ­
m in o s o s ) , e p o s it iv o s , in ic ia d o e m 4 .2 5 . 
O s n e g a t iv o s in d ic a m u m a fo r m a d e v id a 
d a q u a l o s c r e n te s d e v e m s e “d e s p o ja r ” 
p o r p e r te n c e r e m a u m a n o v a h u m a n id a ­
d e e m C ris to (4 .2 2 ) , e n q u a n to a s r e c o m e n ­
d a ç õ e s p o s it iv a s e n v o lv e m u m a t r a n s fo r ­
m a ç ã o d o c o r a ç ã o e d o p a d r ã o d e c o m ­
p o r ta m e n to q u e c a r a c te r iz a m o s c r e n te s 
q u e “s e rev e stira m ” d a n o v a n a tu re z a (4 .2 4 ). 
A s s e is a t itu d e s e c o m p o r ta m e n to s p e c a ­
m in o s o s m e n c io n a d o s e m 4 .3 1 s e o r ig i­
n a m d a ra iz d a “m a ld a d e ” o u “m a líc ia ”. 
R . M a rtin ( 1 6 2 ) s e r e f e r e à m a ld a d e c o m o 
“a g e r a d o r a d a in fe l iz p r o g ê n ie d a s p r i­
m e ir a s é p o c a s ”. A m a ld a d e é “u m a tiv o 
d e s e jo m a lé f ic o ” (W e b s te r ) e m d ir e ç ã o a o s 
s e m e lh a n te s , u m a fo n te v e n e n o s a d a q u a l 
s e o r ig in a “to d a a m a rg u ra , e ira , e c ó le r a , 
e g r ita r ia , e b la s fê m ia s , e to d a m a líc ia ”. 
B r u c e ( 1 9 8 4 , 3 6 4 ) s u g e r e q u e a m a ld a d e 
s e ja a fo n te in te r io r d a q u a l b r o ta m to d a s 
a s p a la v r a s in d ig n a s m e n c io n a d a s a n t e ­
r io r m e n te ( 4 .2 9 ) .
A “a m a rg u ra ” (c f. Cl 3 .1 9 ) d e n o ta a q u e le 
“e s ta d o ir r ita d iç o d a m e n te q u e m a n té m 
u m h o m e m e m p e r p é tu a a n im o s id a d e — 
q u e o in c l in a à o p in iõ e s á s p e r a s e p o u c o 
c a r id o s a s s o b r e h o m e n s e c o is a s — q u e 
o d e ix a c a r r a n c u d o e c o m o s e m b la n te 
c a r r e g a d o , e a o m e s m o te m p o in fu n d e 
v e n e n o à s p a la v r a s d e s u a b o c a ” (E a d ie , 
3 5 7 ) . R o b in s o n ( 1 9 4 ) d e f in e -a c o m o “u m 
e s p ír i to r e s s e n t id o q u e r e c u s a r e c o n c il i - 
a r - s e ”. “Ira e c ó le r a ” c a u s a m e x p lo s õ e s
1249
EFÉSIO S 4
COMPARAÇÃO ENTRE EFÉSIOS E COLOSSENSES
Durante o período em que esteve na prisão em Roma, Paulo escreveu Efésios e Colossenses 
mais ou menos na mesma época, e existe um número surpreendente de semelhanças entre os 
contextos desses dois livros.
Tema Efésios Colossenses
A saudação de Paulo Ef 1.1,2 C t1.1,2
Ser santo e imaculado aos olhos de Deus Ef 1.4; 5.27 Cl 1.22
A Redenção através do sangue de Cristo Ef 1.7 Cl 1.14,20
A sabedoria, o conhecimento e a compreensão de Deus Ef 1.8,17 Cl 1.9,10
O conhecimento da vontade de Deus Ef 1.9 Cl 1.9
Todas as coisas (re) criadas através de Cristo Ef 1.10 Cl 1.16
Paulo ouviu sobre a fé que possuíam e agradeceu ao Senhor Ef 1.15,16 Cl 1.3,4
A oração contínua de Paulo a favor dos efésios 
e dos colossenses Ef 1.16 Cl 1.9
A esperança do crente Ef 1.18 Cl 1.5,27
Uma herança para os santos E f1.18 Cl 3.24
Fortalecidos pelo poder de Deus Ef 1.19; 3.16; 6.10 Cl 1.11
O poder de Cristo é superior a todo principado, e poder, 
e potestade, e domínio E f1.21 Cl 1.13,16; 2.10,15
Cristo como Cabeça de seu corpo, a fgreja Ef 1.22:4.15,16 Cl 1.18,24
Cristo como a plenitude de Deus Ef 1.23: 3.19 Cl 1.19; 2.9
Cristo cumpre tudo em todos Ef 1.23 Cl 3.11
Longe de Cristo, as pessoas estão mortas no pecado Ef 2.13 Cl 2.13; 3.7
Deus nos vivificou através de Cristo e sua ressurreição Ef 2.5,6 Cl 2.12,13
A reconciliação através do sangue de Cristo Ef 2.13 Cl 1.20
Os cristãos são chamados à paz Ef 2.14,15 Cl 3.15
Cristo aboliu a lei e seus mandamentos Ef 2.14,15 Cl 2.14
Crescer em Cristo Ef 2.20-22 Cl 2.7
A chamada de Paulo pela graça de Deus, para revelar 
o mistério de Deus Ef 3.2-4 Cl 1.25-27; 2.2
A graça de Deus opera em Paulo Ef 3.7, 20 Cl 1,29
O mistério de Deus oculto durante séculos Ef 3.9 Cl 1.26
Arraigados em Cristo e em seu amor Ef 3.17 Cl 2.7
A humildade, a mansidão,a paciência e o amor Ef 4.20, 31; 5.1 Cl 3.12-14
0 encorajamento à unidade Ef 4.3 Cl 3.14
Tornar-se maduro/perfeito em Cristo Ef4.13 Cl 1.28
Alcançando a plenitude em Cristo Ef 4.13 Cl 2.10
O crescimento em Cristo Ef 4.16 Cl 2.19
Longe de Cristo, separado de Deus Ef 4.18 Cl 1.21
O pecado e a lascívia nos infiéis Ef 4.19 Cl 3.5
Despojar-se do velho homem e revestir-se do novo homem Ef 4.22-24 Cl 3.9-10
Abandonar a falsidade e as mentiras, e falar a verdade Ef 4.25 Cl 3.9
Deixara linguagem impura Ef 4.29; 5.4 Cl 3.8
Falar a fim de ajudar os outros Ef 4.29 Cl 4.6
Libertar-se do ódio, da maldade e da calúnia Ef 4.30 Cl 3.8
Ser perdoador Ef 4.31 Cl 3.13
Os crentes não devem deixar-se enganar Ef 5.6 Cl 2.4,8
A ira futura de Deus Ef 5.6 Cl 3.6
Fazer o que agrada ao Senhor Ef 5.10 Cl 3.20
1250
EFÉSIO S 4
COMPARAÇÃO ENTRE EfÉSÍOS E COLOSSENSES' (cont.)
Tema .............................
Caminhar cuidadosamente e aproveitar ao máximo
Cantar salmos, hinos e cânticos espirituais
Dar graças a Dous, o Pai
Instruções às esposas
Instruções aos esposos
Instruções aos filhos
Instruções aos pais
Instruções aos escravos (ou servos)
Instruções aos professores 
Orar e manter a vigilância 
Orar por Paulo, o missionário 
Tiquico como mensageiro de Paulo 
A bênção final
t e m p e r a m e n ta is e r e s s e n t im e n to e m o c i ­
o n a l c o n t r a o u tr a s p e s s o a s . “G r ita r ia ” s e 
r e fe r e a to d a e s p é c ie d e e x p lo s õ e s a c o m ­
p a n h a d a s d e “g ritos d e litíg io ” (B r u c e , 1 9 8 4 , 
3 6 4 ). “B la sfêm ia ” é a q u e la e s p é c ie d e p alavra 
o fe n s iv a q u e p r o c u r a d ifa m a r e d e s tr u ir 
a r e p u t a ç ã o d e o u tr e m .
E m 4 .3 1 , o r e v e r s o d e s s a r e p r o v á v e l 
c o n d u ta , d a q u a l o s c r e n te s d e v e m liv rar- 
s e , s e a p r e s e n ta c o m o a q u e le c o m p o r t a ­
m e n to a m á v e l, c a r a c te r iz a d o p o r u m e s ­
p írito b e n ig n o , m is e r ic o r d io s o e p e r d o a d o r
(4 .3 2 ) . “S e r” ( s e d e ) q u e r d izer, lite ra lm e n te , 
“t o r n a r - s e ”. P a u lo r e c o n h e c e u q u e s e u s 
le ito r e s a in d a n ã o h a v ia m a tin g id o a m a tu ­
rid ad e n e s s a á re a d a g ra ça cristã. P a ra torn ar- 
s e “b e n i g n o ” é p r e c is o a p r e n d e r a p r a t i ­
c a r u m a s o l íc i ta c o n s id e r a ç ã o e m r e la ç ã o 
a o s o u t r o s . T o r n a r - s e “m is e r i c o r d io s o ” 
(èusplanchnoíJ s ig n if ic a te r u m “c o r a ç ã o 
b o n d o s o o u c o m p a s s iv o ”. E ssa e x p r e s s ã o 
p o u c o c o m u m s e re fe r e “a o m a is p ro fu n d o 
s e n t im e n t o e p r e o c u p a ç ã o c o m n o s s o 
s e m e lh a n te n e c e s s i ta d o ” (S u m m e rs , 1 0 5 ) . 
É u m a q u a l id a d e q u e J e s u s d e m o n s tr o u 
q u a n d o v iu m u lt id õ e s s e m u m p a s to r , o u 
u m in d iv íd u o e m d e se sp e ra d a n e ce ss id a d e . 
A m is e r ic ó r d ia ta m b é m fa z p a r te d o p r o ­
c e s s o d e to r n a r n o s s o s e r à s e m e lh a n ç a 
d e C ris to .
“P e r d ã o ” (charizomenoi) v e m d a p a ­
la v ra charis ( “g r a ç a ”) . A ss im , p e r d o a r a
Efésios C olossenses
Ef 5.15 Ci 4.5
Ef 5.19 Cl 3.16
Ef 5.20 Cl 3.17
Ef 5.22 Cl 3.18
Ef 5.25 Cl 3.19
Ef 6.1 Cl 3.20
Ef 6.4 Cl 3.21
Ef 6.5-8 Cl 3.22-25
Ef6.9,10 Cl 4.1
Ef 6.18 Cl 4.2
Ef 6.19,20 Cl 4.3,4
Ef 6.21,22 Cl 4.7,8
Ef 6.24 Cl 4.18
a lg u é m s ig n if ic a m o s tr a r - lh e g r a ç a , is to é , 
p e r d o a r liv re e b o n d o s a m e n te e s e m r e ­
lu tâ n c ia o u ra n co r . P a u lo re fo r ç a o a s p e c to 
d a g r a ç a e x is t e n te n o p e r d ã o , a c r e s c e n ­
ta n d o q u e p e r d o a r a o s o u tr o s é a g ir e x a ­
ta m e n te c o m o D e u s q u e n o s “p e r d o o u e m 
C r is to ”. A s s im c o m o o p e r d ã o d e D e u s s e 
o r ig in a d a g r a ç a , p e r d o a r a o s o u tr o s d e v e 
ta m b é m f lu ir l iv r e m e n te d a g r a ç a .
F in a lm e n te , P a u lo e x p r e s s a u m a ín ti­
m a a s s o c ia ç ã o d e C risto e d o P a i c o m n o s s o 
p e r d ã o (c f . 4 .3 2 e C l 3 -1 3 ) . C o m o B r u c e 
a f ir m a ( 1 9 8 4 , 3 6 5 ) , “e m to d a a o b r a d a 
r e d e n ç ã o , o P a i e o F i lh o a g e m c o m o u m 
s ó ”. É “e m C r is to ” q u e te m o s “a r e d e n ç ã o 
p e lo s e u s a n g u e , a r e m is s ã o d a s o f e n s a s , 
s e g u n d o a s r iq u e z a s d a s u a g r a ç a ” ( 1 .7 ) . 
E x is te u m s e n t id o n o q u a l n ó s ta m b é m 
“e m C risto ” p e r d o a m o s o s o u tro s d e a c o rd o 
c o m a s r iq u e z a s d a g r a ç a q u e r e c e b e m o s 
d e D e u s .
7.4. V iv e re m S a n tid a d e com o 
F ilh o s d a L u z (5 .1 - 1 4 )
C o m e ç a n d o e m 4 .1 7 , P a u lo d ir e c io n a 
s u a a te n ç ã o p a ra o a s p e c to p rá t ic o d a o b ra 
d e C r is to n a v id a d o c r e n te , p r im e ir o e m 
te r m o s d e t r a n s fo r m a ç ã o p e s s o a l , d e u m a 
v id a c o n f o r m e a n a tu r e z a p e c a d o r a p a ra 
u m a v id a e m h a r m o n ia c o m C r is to ( 4 .1 7 -
2 4 ) . E m s e g u id a , a p l ic a a d in â m ic a d e s s a
1251
EFÉSIO S 5
n o v a v id a a u m a d e q u a d o c o m p o r ta m e n to 
cr is tã o , d e n tr o d a c o m u n h ã o d a Ig re ja , e m 
term o s positivos e negativ os (4 .2 5 -3 2 ). A gora, 
P a u lo a p e la a o s c r e n t e s p a r a q u e v iv a m 
su a c h a m a d a c o m o f i lh o s d a lu z e m r e la ­
ç ã o a o m u n d o a o s e u r e d o r ( 5 .1 - 1 4 ) . S e u s 
le i to r e s , a q u e m c h a m a d e “f ilh o s a m a ­
d o s ” ( 5 .1 ) , “s a n to s ” ( 5 -3 ) e “f i lh o s d a lu z ”
( 5 .8 ) d e v e r ã o r e f le t i r a v id a d e s e u P a i 
c e le s t ia l , e a o fa z ê - lo “s e r ã o u m d e s a f io à 
s o c ie d a d e c o n t e m p o r â n e a e u m a r e p r o ­
v a ç ã o a e la ” (R . M artin , 1 6 2 ) . P a ra q u e is s o 
a c o n te ç a , d e v e rá ex istir u m c o n tra s te m u ito 
c la r o e n tr e o s c r e n t e s e o m u n d o . A q u i 
P a u lo d e s c r e v e e s s e c o n t r a s te e m te r m o s 
d e a m o r e lu z .
7.4.1. Andar em Amor (5.1-7). V iv e r 
c o m o f i lh o s d e D e u s , e c o m o p o v o s a n to 
d e D e u s , e n v o lv e a a t itu d e d e a n d a r e m 
a m o r . P e la t e r c e ir a v e z , P a u lo u s a a p a la ­
v ra peripateo ( tr a d u z id o c o m o “v iv e r ” e m 
5 .2 ; v e ja c o m e n tá r io s e m 4 .1 ; 4 .1 7 - 5 .2 1 ) 
a o d is c u tir a c o n d u ta d o s c r e n te s d e É fe s o 
( c f . ta m b é m 5 . 8 , 1 5 ) . “V iv e r o u a n d a r e m 
a m o r ” ( 5 .2 ) r e q u e r s e r “im ita d o r d e D e u s ”
( 5 .1 ) . Im ita r a D e u s é a c o n s e q ü ê n c ia l ó ­
g ic a d e c o n h e c ê - lo c o m o P ai. A ss im c o m o 
o s f i lh o s im ita m u m a m o r o s o p a i t e r r e s ­
tre , o s c r e n te s d e v e r ã o im ita r s e u a m o r o ­
s o P a i ce le s t ia l. P a u lo d iz e m R o m a n o s 5 .8 : 
“M a s D e u s p ro v a o s e u a m o r p a ra c o n o s c o 
e m q u e C r is to m o r r e u p o r n ó s , s e n d o n ó s 
a in d a p e c a d o r e s ”.
P a u lo já h a v ia o r a d o p a ra q u e fo s s e m o s 
“a r r a ig a d o s e fu n d a d o s e m a m o r ” ( 3 .1 7 ) . 
A g o ra n o s e x o r ta a v iv e r “e m a m o r , c o m o 
ta m b é m C r is to v o s a m o u e s e e n tr e g o u a 
si m e s m o p o r n ó s ” ( 5.2 ) . A q u i, a p a la v ra 
g r e g a p a ra a m o r é agape(a m o r d e D e u s ) , 
q u e é a m a r c o m u m a g e n u ín a d o a ç ã o d e 
si m e s m o p a ra o b e m -e s ta r d a q u e le a q u e m 
o a m o r é d e d ic a d o . Agape n ã o s e b a s e ia 
e m m é r ito s . C r is to d e m o n s tr o u e s s e a m o r 
p u r o e d e s in t e r e s s a d o p o r n ó s q u a n d o 
o f e r e c e u s u a v id a n a c r u z c o m o “o fe r ta e 
s a c r if íc io a D e u s , e m c h e ir o s u a v e ”. A fra se 
“e m c h e ir o s u a v e ” l e m b r a o o d o r d o s 
s a c r i f í c io s d o A n t ig o T e s t a m e n t o , q u e 
a s c e n d ia a o s c é u s e a g r a d a v a a D e u s . A 
m o r t e d e J e s u s , c o m o s a c r i f í c i o p e lo s 
p e c a d o s , e r a a g r a d á v e l a o P a i p o r s e r e m 
n o m e d e n o s s a s a lv a ç ã o .
P a u lo m u d a d o te m a d o a u to -s a c r if í - 
c io d e C risto p ara o a s p e c to o p o s to , a q u e le 
d a a u to - in d u lg ê n c ia d o p e c a d o r ( 5 .3 ,4 ) , 
d o a m o r agape p a r a s u a p e r v e r s ã o , a la s ­
c ív ia ; e le m e n c io n a trê s m a n ife s ta ç õ e s d e 
a u to -in d u lg ê n c ia e d e p e r v e r s ã o d o a m o r: 
“P ro s titu içã o ” e “im p u re z a ” a b ra n g e m to d a s 
a s fo r m a s p o s s ív e is d e p e c a d o h e te r o s ­
s e x u a l (p r é -m a r ita l e e x tr a m a r ita l) , b e m 
c o m o d e to d o s o s p o s s ív e is p e c a d o s h o ­
m o s s e x u a is , p o is to d o s a v ilta m a c o n s c i ­
ê n c ia e d e s t r o e m o a m o r. A “a v a r e z a ”, o u 
“c o b i ç a ”, d e s c r e v e o d e s e jo ín t im o d o 
c o r a ç ã o p o r a q u i lo q u e n ã o é le g it im a ­
m e n te p o s s u íd o . P o d e ta m b é m s e r e fe r ir 
a o p e c a d o , d en tro d o â m b ito sex u a l, q u a n d o 
se re fe re a c o b iç a r a m u lh e r d e o u tro h o m e m 
o u o c o r p o d e a lg u é m p a r a s a t is fa z e r u m 
d e s e jo p r ó p r io ( Ê x 2 0 .1 7 ; c f . 1 T s 4 .6 ) .
E s s e s trê s p e c a d o s n ã o d e v e m s e r m e n ­
c io n a d o s , e n e m s e q u e r c o m e n ta d o s e n tr e 
o “p o v o s a n to d e D e u s ”; “d e v e m s e r c o m ­
p le ta m e n te b a n id o s d a c o m u n id a d e cr is tã ” 
(S to tt , 1 9 2 ) . E s te s p e c a d o s e r a m u m p a ­
d r ã o n a p r o v ín c ia d a Á s ia , o n d e o r g ia s 
s e x u a is e r a m re g u la r m e n te p ra tic a d a s e m 
c o n e x ã o c o m a a d o r a ç ã o d a d e u s a g r e g a 
d o s e f é s io s , A r te m is (c f . A t 1 9 .2 3 ) .
N o v e r s o 4 , P a u lo fa z u m c o n tra s te e n tre 
a v u lg a r id a d e s e x u a l n o f a la r e a a ç ã o d e 
g r a ç a s , p o s s iv e lm e n t e c o m p a r a n d o “a 
a t itu d e p a g â , e o c o m p o r t a m e n t o c r i s ­
tã o e m r e la ç ã o a o s e x o ” (S to t t , 1 9 2 ) . E n ­
t r e ta n to , u m a p a s s a g e m s e m e lh a n te e m 
C o lo s s e n s e s s u g e r e q u e P a u lo t in h a e m 
m e n te u m co n tra ste m ais a b ra n g e n te . N e sse 
c a s o o c o n t r a s t e s o c ia l é e n tr e p e s s o a s 
c o m p e n s a m e n t o s m u n d a n o s , q u e c o n s ­
t a n t e m e n t e t ê m o s e x o p r e s e n t e e m s e u 
p e n s a m e n to e e m su a fa la , e o p o v o s a n to 
d e D e u s q u e p e r m ite q u e a p a z d e D e u s , 
p a r a a q u a l t a m b é m fo r a m c h a m a d o s e m 
u m c o r p o , d o m in e o s s e u s c o r a ç õ e s ( in ­
c lu s iv e o p e n s a m e n to e a fa la ) c o m a ç õ e s 
d e g r a ç a s (C l 3 .1 5 - 1 7 ) .
O v e r s o 5 c o n té m u m p r o n u n c ia m e n ­
to e u m a a d v e rtê n c ia s o le n e . N in g u é m q u e 
s e d e d ic a à p rá tic a d o s m e n c io n a d o s p e ­
c a d o s s e x u a is te rá q u a lq u e r “h e r a n ç a n o 
R e in o d e C ris to e d e D e u s ”, in d e p e n d e n ­
te d e q u a lq u e r d e c la r a ç ã o q u e p o s s a fa ­
z e r a r e s p e i to d e s e r c r is tã o . B r u c e (1 9 6 1 ,
1252
EFÉSIO S 5
1 0 3 ) d e s c o n s id e r a q u a lq u e r r a c io n a liz a ­
ç ã o c o m u m a r e s p e ito d e s s e v e r s o , q u e in ­
te r p r e te e r r o n e a m e n te o a r g u m e n to q u e 
P a u lo e s tá d e fe n d e n d o : “A id é ia d e q u e 
P a u lo e s te ja a f ir m a n d o q u e ta is in d iv íd u ­
o s p o s s a m , m e s m o a s s im , s e r c r i s tã o s 
v erd ad eiros, p o ré m q u e seu co m p o rta m e n to 
o s p r iv a rá d e q u a lq u e r p a r te o u q u in h ã o 
n o fu tu ro r e in o m ile n a r d e C ris to , é to ta l­
m e n te in ju s tif ic a d a p e lo c o n t e x t o e p e lo s 
en sin am en to s d o N o v o T estam en to e m geral”.
P a u lo c o n t in u a a a firm a r q u e u m a “p e s ­
s o a a v a re n ta ... é id ó la tra ” p o r q u e su a a fe i­
ç ã o e s tá d ir ig id a à s c o is a s te rre n a s e n ã o às 
d o c é u , d e fo rm a q u e a lg u m o b je to te r r e ­
n o d e d e se jo p a sse a o c u p a r u m “lu gar cen tra l 
q u e s o m e n te D e u s d e v e r ia te r n o c o r a ç ã o 
h u m a n o ” ( B r u c e , 1 9 6 1 , 1 0 4 ) . P a u lo s a b ia 
q u e s u a m e n s a g e m d e l ib e r ta ç ã o d a le i e 
d e e x o r ta ç ã o a o a m o r p o d e ria s e r fa c ilm en te 
u s a d a c o m o d e s c u lp a p e lo p e c a d o s e x u ­
al. P ortanto acrescenta : “N ingu ém v o s e n g a n e” 
(5 -6 ) , n e m s e ja is le v a d o s a a c r e d ita r q u e 
p e s so a s im o rais, im p u ras o u c o b iç o s a s te rã o 
u m a h e ra n ç a a sse g u ra d a n o re in o d e C risto. 
T a l c e r te z a e fa lsa s e g u r a n ç a re d u n d a m e m 
d e c e p ç ã o e “p alav ras v az ias”. A “ira d e D e u s ” 
se rá d e n a m a d a s o b r e e ss a s p e s so a s . O risco 
d e s e r e m p r iv a d o s d a h e r a n ç a n o r e in o 
d e D e u s é m u ito g ra n d e p a ra “a q u e le s q u e 
s ã o d e s o b e d ie n t e s ”, is to é , a q u e le s q u e 
c o n h e c e m a le i m o r a l d e D e u s e in te n c i ­
o n a lm e n te a d e s o b e d e c e m . “P o rta n to , n ã o 
s e ja is s e u s c o m p a n h e ir o s ” ( 5 .7 ) . A q u e le s 
q u e n ã o o b e d e c e r e m , p a r t ic ip a r ã o d e su a 
c o n d e n a ç ã o .
7.4.2. Andar na Luz (5.8-14). E m 2 
C o r ín t io s 6 .1 4 , P a u lo p e r g u n t a : “Q u e 
c o m u n h ã o t e m a lu z c o m a s t r e v a s ? ” 
O b v ia m e n te , a r e p o s ta é “n e n h u m a !” E m 
C o lo s s e n s e s , P a u lo le m b r a a o s c r e n t e s 
q u e D e u s P a i “n o s t ir o u d a p o te s ta d e d a s 
t r e v a s e n o s t r a n s p o r to u p a r a o R e in o d o 
F i lh o d o s e u a m o r ” (C l. 1 .1 2 - 1 3 ) . A q u i, 
e m E fé s io s 5 .8 , P a u lo d e c la r a a o s s e u s 
le ito r e s : “N o u tro te m p o , é r e is tre v a s , m a s , 
ag o ra , so is luz n o S e n h o r”. E star “e m C risto”, 
q u e é “a lu z d o m u n d o ” ( J o 8 .1 2 ) , s ig n i­
f ic a s e r lu z a s s im c o m o E le o é .
O c o n t r a s t e e n tr e lu z e t r e v a s e m 5 -8 - 
1 4 é s e m e lh a n te à q u e le e n c o n tr a d o e m 
o u tr a s p a s s a g e n s d o N o v o T e s ta m e n to .
“T r e v a s ” r e p r e s e n ta m ig n o r â n c ia , p e c a ­
d o , o m is s ã o e d e c a d ê n c ia m o r a l ,d e c e p ­
ç ã o , m o r te e s p ir itu a l e to d o o r e in o d e S a ­
tanás; “lu z”, a o contrário , rep resen ta v erd ad e, 
ju s tiça , re t id ã o m o ra l, v id a esp ir itu a l e to d o 
o re in o d e C risto . A n te rio rm e n te , o s c re n te s 
e s ta v a m n ã o a p e n a s em t r e v a s ( is to é , e m 
u m a m b ie n t e d e ig n o r â n c ia e s o b s u a 
in f lu ê n c ia ) , m a s ta m b é m e le s p r ó p r io s 
r e p r e s e n ta v a m a s tre v a s . A g o ra , p o r c a u s a 
d e s u a u n iã o c o m C r is to a tr a v é s d a fé , se 
to r n a r a m lu z : “S u a v id a , e n ã o a p e n a s s e u 
a m b ie n te , s e tr a n s fo r m a r a m d e tre v a s e m 
lu z ” (S to tt , 1 9 9 ) . A ss im , P a u lo a c r e s c e n ­
ta : A n d a r o u “v iv e r c o m o f ilh o s d a lu z ”, 
is to é , m o ld a r a c o n d u ta c o n f o r m e a n o v a 
id e n tid a d e . O fa to d e s e r m o s “lu z n o S e ­
n h o r ” in d ic a q u e s u a g r a ç a e s e u p o d e r 
e s t ã o h a b ita n d o e m n ó s , p a r a q u e te n h a ­
m o s u m a v id a s a n tif ic a d a .
P a te r n a lm e n te , P a u lo e x p l ic a q u e “o 
f ru to d a lu z ”, o u a n o v a m a n e ir a d e v iv e r
A deusa da fertilidade, Artemis, era adorada em 
Éfeso,
1253
EFÉSIO S 5
q u e s e r e a l iz o u n o c r e n te , s e c a r a c te r iz a 
p o r “b o n d a d e , ju s t iç a e v e r d a d e ” ( 5 .9 ) . A s 
o b r a s d a s tre v a s s ã o o o p o s t o d e s s e f r u ­
to : m a ld a d e , in iq ü id a d e e f a ls id a d e . O 
c o n c e i t o e x is t e n te e m 5 .1 0 é o d e s e n v o l ­
v im e n to d a ú lt im a a f ir m a ç ã o d e 5 -8 . O s 
F i lh o s d a lu z s e “tr a n s fo r m a m p e la r e n o ­
v a ç ã o d o e n te n d im e n to , p a ra e x p e r im e n ­
ta r e m [dokimazo] q u a l s e ja a b o a , a g r a ­
d á v e l e p e r fe ita v o n ta d e d e D e u s ” (c f . R m
1 2 .2 ) . Dokimazo q u e r d iz e r e x p e r im e n ­
tar, d is c e r n ir e a p r o v a r a v e r a c id a d e d e 
tu d o a q u i lo q u e a g r a d a a D e u s .
O c o n tr a s te e n tr e “a s o b r a s in fru tu o s a s 
d a s t r e v a s ” ( 5 .1 1 ) e o fru to d a lu z ( 5 .9 ) é 
s e m e lh a n te à q u e le e s t a b e le c id o e n tr e a s 
“o b r a s d a n a tu r e z a p e c a d o r a ” e “o fru to 
d e E s p ír ito ” ( e m G 1 5 .1 9 ,2 2 ) . A s “o b r a s d a 
n a tu r e z a p e c a d o r a ” o u a s “o b r a s d a s t r e ­
v a s ” n ã o p o d e m s e r d e s c r ita s c o m o “fru ­
to s ” p o r q u e n ã o c o n tê m a s e m e n te d a v id a ; 
a o co n trário , s ã o e stére is e o rig in a m a m orte . 
A lu z, in v a r ia v e lm e n te , e x p õ e o v e rd a d e iro 
c a r á te r d a s o b r a s d a s tr e v a s ( 5 .1 1 ) . A ss im 
s e n d o , o s m a lfe ito r e s o d e ia m a lu z p e lo 
r e c e io d e s e r e m e x p o s t o s ( J o 3 .2 0 ) . P o ­
r é m , s o m e n t e q u a n d o o c o r r e e s s a e x p o ­
s iç ã o h a v erá a c o n v ic ç ã o p e lo E sp írito S a n to 
e a p o s s ib i l id a d e d a s a lv a ç ã o ( 1 6 .8 ) .
O v e r s o 1 2 s u g e r e q u e a s im p le s m e n ­
ç ã o d o s v íc io s v e r g o n h o s o s d e u m d e s o ­
b e d ie n t e d e v e s e r u m a o f e n s a a o p o v o 
d e D e u s , q u e é m o r a lm e n te s e n s ív e l . O 
p o d e r d a lu z , n o e n ta n to , n ã o s ó e x p õ e e 
“e s c l a r e c e ” tu d o ( 5 .1 4 ) , c o m o ta m b é m 
t r a n s fo r m a e m lu z tu d o q u e i lu m in a . P r o ­
v a v e lm e n te o v e r s o 1 4 b s e o r ig in o u d e u m 
h in o d e b a t is m o d o s p r im e ir o s c r is tã o s , 
q u e in c lu i v á r ia s p a s s a g e n s d o A n tig o 
T e s ta m e n to (c f . Is 2 6 .1 9 ; 5 2 .1 ,2 ; 6 0 .1 ,2 ) . 
E le m o stra q u e a “c o n v e rsã o é c o m o aco rd a r 
d e u m s o n o , r e s s u s c i ta r d o s m o r to s e s e r 
c o n d u z id o p a r a fo r a d a s tr e v a s à lu z d e 
C r is to ” (S to t t ,-2 0 1 ) .
7 .5 . Viver Sabiam ente, como 
um Povo Cheio do Espírito 
Santo (5 .1 5 -2 1 )
P e la q u in ta v e z , d e s d e 4 .1 , P a u lo e m ­
p re g a a p alavra “an d ar” (peripateo) , traduzida 
c o m o “v iv e r ” ( v e ja c o m e n tá r io s e m 4 .1 ,
4 .1 7 — 5 .2 1 ) . P a u lo e x o rta o s c re n te s a se re m 
“p r u d e n te s ” e a v iv e re m s a b ia m e n te c o m o 
u m p o v o c h e io d o E sp ír ito d e D e u s (5 .1 5 ) . 
“P r u d e n te s ” in c lu i o s ig n if ic a d o d a e x a t i ­
d ã o o u d a p r e c is ã o , “q u e é o r e s u lta d o 
d o d e s v e lo ” (V in e , 1 .2 5 ) . P a u lo , e n tã o , faz 
u m jo g o d e palavras. V iver n ã o c o m o asophoi 
( “n é s c i o s ”) , m a s c o m o sophoi ( “s á b io s ”) . 
E le co n tin u a a m e n c io n a r três form as práticas 
d e v iv e r c o m s a b e d o r ia .
7.5.1. Aproveitar ao Máximo cada 
Oportunidade (5.16). E m u m a p a s s a g e m 
p aralela e m C o lo sse n se s 4 .5 , P au lo co n cla m a 
o s c r e n t e s a s e c o m p o r ta r e m c o m s a b e ­
d o r ia e m r e l a ç ã o a o s n ã o - c r e n t e s , e a 
a p r o v e i ta r e m a o m á x im o c a d a o p o r tu n i­
d a d e d e d a r s e u te s te m u n h o . S u a a t e n ­
ç ã o , a q u i , e s tá d ir ig id a a o a p r o v e i ta m e n ­
to d e c a d a o p o r tu n id a d e e m r e la ç ã o à v id a , 
d e u m m o d o g e r a l , “p o r q u e o s d ia s s ã o 
m a u s ” . P e s s o a s s á b ia s a p r o v e i ta m c a d a 
o p o r tu n id a d e , p o r m a is fu g a z q u e s e ja , 
p a r a f a z e r e m o b e m ; u m a v e z q u e e s s e 
m o m e n t o te n h a p a s s a d o , a o p o r tu n id a ­
d e e s ta r á p e r d id a p a r a s e m p r e . E m c e r ta 
o c a s i ã o a lg u é m c o l o c o u u m a n ú n c io : 
“P E R D ID A S , o n te m , e n tr e o a m a n h e c e r 
e o a n o ite c e r , e e m a lg u m lu g a r, fo r a m 
p e r d id a s d u a s h o r a s d o u r a d a s , c a d a u m a 
c o m s e s s e n ta m in u to s d e d ia m a n te . N ã o 
s e o fe r e c e q u a lq u e r re c o m p e n s a , p o is e s tã o 
p e r d id a s p a ra s e m p r e ” ( c i ta d o p o r S to tt, 
2 0 2 ) . U m a p r o v a s e g u r a d e s a b e d o r ia é 
a p r o v e ita r o m á x im o d e n o s s o te m p o , n o 
d e c o rr e r d e s s a é p o c a frív o la e p e c a m in o s a . 
N ã o fa z ê - lo s e r á s in a l d e im p r u d ê n c ia .
7.5-2. Compreender a Vontade do 
Senhor (5.17). E n q u a n to fa z e r o m e lh o r 
u s o d a s o p o r tu n id a d e s e s tá r e la c io n a d o 
à d il ig ê n c ia o u à s a b e d o r ia , c o m p r e e n ­
d e r a v o n ta d e d o S e n h o r e s tá r e la c io n a ­
d o a o d is c e r n im e n to . A s a b e d o r ia n a v id a 
d iá r ia r e s id e n a v o n ta d e d e D e u s ; e a o 
p r o c u r a r d is c e r n ir e s ta v o n ta d e , d e v e m o s 
s e m p r e d is tin g u ir e n tr e o q u e e s tá r e la c i ­
o n a d o a o g e r a l e a o p a r t ic u la r . O p r im e i­
ro é e n c o n tra d o n a s Escrituras, p o r e x e m p lo , 
D e u s n ã o q u e r “q u e a lg u n s s e p erca m , se n ã o 
q u e to d o s v e n h a m a a r r e p e n d e r - s e ” (2 P e 
3 .9 ) . E s s e s e u d e s e jo p a r t ic u la r p e la v id a 
d e c a d a p e s s o a p o d e s e r c o n h e c id o a tra ­
v é s d o s p r in c íp io s d a s E s c r i t ur a s , d o s
1254
EFÉSIO S 5
c o n s e lh o s c o m u n itá r io s o u d a s a b e d o r ia , 
d a o r a ç ã o e d a o r ie n t a ç ã o q u e n o s fo r a m 
r e v e la d o s p e lo E s p ír ito S a n to .
“C onfia n o Se n h o r de tod o o teu co ra ­
ção e n ão te estrib es n o teu p róp rio e n ­
ten d im en to .
R econ h ece-o em todos os teus cam in hos, 
e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3.5,6)
Q u a n d o to d a n o s s a v id a e s tá r e la c io ­
n a d a à v o n ta d e d e D e u s , e m s u a s d im e n ­
s õ e s g e r a l e p a r t ic u la r , e n tã o e s ta r e m o s 
v iv e n d o d e fo r m a p r u d e n te e s á b ia .
7.5.3. Ser Cheio do Espírito Santo 
(5.18-21). A e s tru tu ra v e r b a l d e s s a p a s ­
s a g e m , c o n s is t in d o d e d o is im p e r a t iv o s
(5 .1 8 ) se g u id o s p o r q u a tro p a rtic íp io s (5 .1 9 - 
21 ), rev ela q u e e ss e s q u atro v e rso s ab ra n g em 
u m a só u n id a d e d e p e n s a m e n to . O s q u a tro 
p a r t ic íp io s m o d if ic a m o im p e r a t iv o p r in ­
c ip a l e m 5 .1 8 ( “e n c h e i - v o s ”) e d e s c r e v e m 
a s q u a tr o c o n s e q ü ê n c ia s d e e s ta r c h e io 
d o E s p ír ito S a n to ; c a n ta n d o ( 5 .1 9 a ) , s e n ­
d o a le g r e ( 5 . 1 9 b ) , a g r a d e c e n d o ( 5 .2 0 ) e 
s u je ita n d o - n o s u n s a o s o u tr o s ( 5 .2 1 ) .
T o d a e s s a s e ç ã o ( 4 .1 7 — 5 .2 1 ) c o n té m 
u m a s é r ie d e c o n tr a s te s , c o m e ç a n d o c o m 
“a n t e s ” e “d e p o is ”, c o n t r a p o n d o o s g e n ­
t io s q u e , c o n v e r t id o s , v ie r a m a c o n h e c e r 
a C risto . O u tro c o n tra s te o c o rr e n o v a m e n te 
e m 5 .1 8 , e m b r ia g u e z v e r s u s p le n i t u d e 
e s p ir itu a l. A e m b r ia g u e z é u m a o b r a d a s 
tr e v a s e c o n s e q ü ê n c ia d a n a tu r e z a p e c a ­
m in o s a ( n ã o é u m a d o e n ç a ) q u e “m e lh o r 
r e s p o n d e p o r e s s a a p a r ê n c ia a q u i” ( F e e , 
7 2 0 ; c f . L in c o ln , 3 4 5 - 4 6 ) .
O s te m p o s d o s d o is im p e ra tiv o s e m 5 .1 8 
in d ic a m a s s e g u in te s m e n s a g e n s : “n u n ­
c a fa ç a m a s s im ”, r e f e r in d o -s e à t o le r â n ­
c ia p ara c o m a e m b ria g u e z , e “se m p re fa ça m 
a s s im ” e m r e la ç ã o a e n c h e r - s e d o E s p ír i­
to S a n to . G o r d o n F e e ( 7 2 1 -2 2 ) o b s e r v a q u e 
o v e r d a d e ir o s ig n if ic a d o d o s e g u n d o im ­
p e r a tiv o n ã o é u su a l: “P a u lo n ã o d iz ‘se ja is 
c h e io s d o E s p ír ito ’ [g e n itiv o ] c o m o s e a l­
g u é m e s t iv e ss e c h e io d o E sp ír ito d a m e sm a 
fo rm a q u e o u tr o e s t iv e s s e c h e io d e v in h o , 
m a s 'e n c h e i - v o s d o E s p ír ito ’ c o m ê n fa s e 
e m e s ta r to ta lm e n te c h e io d a p r e s e n ç a d o 
E sp ír ito ” (o u d a “p le n itu d e c o n c e d id a p e lo 
E s p ír ito ” [M a s s o n e m M a rtin , 1 6 6 ]) .
A fo rm a p r e c is a d o v e r b o “e n c h e i - v o s ” 
(plerousthé) é b a s ta n te s ig n if ic a t iv a p o r 
q u a tr o r a z õ e s :
1) É um imperativo e, p ortanto , um a ordem . 
Estar ch e io d o E spírito n ão é um a o p çã o 
ou um a su g estão tentadora, co m o se esti­
v éssem o s livres p ara ace itá -la ou não . Ela 
traz co n sig o u m ôn u s u rgente de grande 
im p ortância .
2) Está no plural e, portanto, se aplica ao corpo 
de Cristo co letiv am en te . O p o v o d e D eus, 
co le tiv am en te , “d everá estar tão ‘ch e io de 
D e u s’, através d e seu Espírito , q u e nossa 
a d o ração e n o ssa casa d ev erão dar um a 
prova cab al da p re se n ç a d o Espírito : p e ­
los cân ticos, o raçõ es e a çõ es de graças que 
ao m esm o tem p o louvam , ad oram a D eus 
e en sin am a co m u n id ad e” (F e e , 7 2 2 ).
3 ) É um passivo e d esse m o d o p o d eria ser 
traduzido co m o “D eix e qu e o E spírito lh e 
e n c h a ” (N EB ). D ev eria hav er tal abertu ra 
e o b e d iê n cia ao Esp írito Santo , q u e nada 
p u d esse im pedir q u e E le n o s e n ch esse .
4 ) É um tem p o presente e, portanto, transm ite 
a idéia de um a a çã o contínu a. A ssim co m o 
no sso corp o físico necessita um a constante 
renovação, qu e é proporcionada pelo sono, 
da m esm a form a o co rp o de Cristo n e c e s ­
sita um a co n stan te ren o v ação q u e se tor­
na p o ssív el p e lo E spírito Santo.
P a u lo e m s e g u id a m e n c io n a q u a tr o
c o n s e q ü ê n c ia s q u e o c o r r e m q u a n d o n ó s , 
c o m o c o r p o d e C r is to , s o m o s c h e io s e 
r e n o v a d o s p e la p o d e r o s a p r e s e n ç a d o 
E s p ír ito S a n to ( w . 1 9 - 2 1 ) .
1) Existem vários tip os d e cânticos (5 .1 9 ) qu e 
“têm tanto a fu n çã o de instruir a co m u n i­
d ade d os cren tes, co m o de lou var e a d o ­
rar a D e u s” (F e e , 7 2 2 ). U m p o v o ch e io do 
E spírito d ed ica -se a três tip os de cân tico s: 
O s “Sa lm os” referem -se a o livro d os Sal­
m os n o A ntigo T estam en to , q u e é um li­
vro de h in os d o ju d aísm o e do in íc io da 
Igre ja e, em geral, rep resen ta o cân tico nas 
Escrituras. “H in o s” referem -se às p rim ei­
ras co m p o siçõ e s cristãs, e algum as de suas 
estro fes foram rep rod uzidas n o N ovo T e s­
tam en to . O s h in o s do in íc io do cristian is­
m o eram típ icas co n fissõ es de fé re la c io ­
n ad as à p esso a d e D eu s e à v erd ad e do 
e v a n g e lh o . “C â n tico s e sp ir itu a is” eram 
e x p re ssõ e s m ais esp o n tâ n ea s resultantes
1255
EFÉSIO S 5
da p re sen ça do Espírito d entro d o cren te 
e da co m u n id ad e (p o r ex em p lo , o cân tico 
p ro fé tico em 1 Sm 2 .1 -1 1 ; Lc 1 .4 6 -5 5 ,6 8 - 
79). F. F. Bruce (1961,111) sugere que cânticos 
esp irituais eram p ro v av elm en te “palavras 
n ão p rem ed itad as can tad as ‘n o Espírito ' 
exp rim in d o lo u v or e san tas a sp ira çõ e s”. 
P o r o ca siã o do final do seg u n d o sécu lo , 
T ertu liano d escrev e a festa d o am or cris­
tão , q u an d o “cad a p esso a era convidad a 
a louvar a D eu s, na p re sen ça d os outros, 
a p artir d e tu d o q u e c o n h e c ia so b re as 
Sagradas Escrituras ou q u e sen tia em seu 
p ró p rio c o ra ç ã o ” (.Apology, 39).
2 ) O utra co n seq ü ên cia de ser um p o v o ch e io 
d o E spírito é a q u e le tran sbord am en to de 
a le g ria q u e é e x p r e s s o “ca n ta n d o e 
salm odiando ao Senhor no coração” (5 .19b). 
Isso co rresp o n d e a o testem u n h o p essoal 
d e P au lo em 1 C orín tios 1 4 .15 : “cantarei 
co m o esp írito , m as tam b ém can tarei co m
o en ten d im en to ”. E sse can to , co m o co ra ­
çã o ou c o m a m en te d e cad a um , rep re­
senta a d im ensão p essoal da vida d o crente 
e da alegria d o E spírito , d irigidas ex c lu si­
vam en te “a o Se n h o r”.
3 ) U m a terce ira c o n se q ü ê n c ia d e estarm os 
ch e io s d o E spírito é d arm os “sem p re g ra­
ças p o r tudo a n o sso D eu s e P a i” (5 .2 0 ). 
U m co m p o rtam en to ch e io de q u eixas ou 
m u rm u rações é in co m p atív e l co m o E sp í­
rito Santo, qu e n o s en sin a q u e D eu s faz 
co m q u e tod as as co isa s con tribu am “ju n ­
tam en te p ara o b e m d aq u eles q u e am am 
a Deus (Rm 8.28), e isso nos permite agradecer 
co m tod o n o sso co ra çã o em tod o s o s m o ­
m entos. “Em n o m e de n o sso Sen h o r Je su s 
Cristo” nos lem bra da centralidade de Cristo, 
assim com o da Trindade, em nossa fé . Estando 
ch e io s d o Espírito, dam os g raças a o Pai, 
em n o m e d o SenhorJesus Cristo.
4 ) A co n se q ü ê n cia final de estarm os ch e io s 
do E spírito é a graça d o resp e ito m útuo e 
da su b m issão n o co rp o d e C risto (5 .2 1 ). 
N ão é co n v en ien te q u e cre n tes se jam ar­
rogantes, m an ip u lem ou co n tro lem seu s 
sem elh an tes o u m esm o q u e insistam em 
agir por conta p jóp ria . Ao contrário, crentes 
foram ch am ad o s p ara se hu m ilhar e para 
su jeitarem -se “u n s ao s ou tros n o tem or de 
D e u s” (5 -21 ). Até o s líderes q u e ex istem 
en tre o p o v o de D eu s, a q u em os co m p a ­
n h eiro s do co rp o de Cristo foram e n sin a ­
d os a ho nrar e o b e d e ce r co m am ável res­
p eito (1 Co 1 6 .16 ; 1 Ts 5 .1 2 ,1 3 ; H b 13 .17 ) 
a lcan çaram esse reco n h ecim en to p o r s e ­
rem servos e n ão sen h o res (Lc 2 2 .2 4 -2 7 ; 1 
P e 5 .3).
D a m e s m a fo r m a , e c o m o p r in c íp io s 
esp ir ia ia is , su b m issã o , h u m ild ad e, b o n d a d e 
e p a c iê n c ia s ã o v ir tu d e s q u e d e v e m s e r 
m u t u a m e n t e p r a t ic a d a s d e n t r o d a fa m í­
lia c r is tã . A e s p o s a d e v e s e s u je ita r ( is to 
é , c e d e r a t r a v é s d o a m o r ) à r e s p o n s a b i ­
l id a d e d o e s p o s o d e l id e r a r a fa m íl ia . O 
e s p o s o d e v e s e s u b m e t e r à s n e c e s s id a ­
d e s d a e s p o s a , e m u m a a t itu d e d e a m o r 
e a b n e g a ç ã o . O s filh o s d e v e m se s u b m e te r 
à a u to r id a d e d o s p a is c o m o b e d iê n c ia , 
e o s p a is d e v e m s e s u b m e t e r à s n e c e s s i ­
d a d e s d e s e u s f i lh o s , e c r iá - lo s d e a c o r ­
d o c o m o s e n s in a m e n t o s d o S e n h o r . A 
r e v e r ê n c ia e a s u b m is s ã o a C r is to to r n a m 
p o s s ív e l a p r e s e n ç a d a p a z n a ig r e ja e n o 
la r c r is tã o . P a u lo a n a l is a e s s a s q u e s t õ e s 
m a is d e ta lh a d a m e n t e e m 5 .2 2 — 6 .9 -
8. Aplicando a Autoridade de Cristo 
aos Relacionamentos do Lar 
( 5 . 2 2 - 6 . 9 )
D e u s d e s e ja q u e o re la c io n a m e n to sa lv a d o r 
c o m C r is to , a s s im c o m o a o b e d iê n c ia a 
E le c o m o S e n h o r , in flu a p o s itiv a m e n te e m 
c a d a u m d o s r e la c io n a m e n t o s e e m c a d a 
u m a d a s á r e a s d a c o m u n id a d e c r is tã , e d e 
n o s s a v id a in d iv id u a l. U m a v e z q u e D e u s 
e s ta b e le c e u a fam ília c o m o a u n id a d e b á s ica 
d a so c ie d a d e , n ã o é d e s e ad m irar q u e P a u lo 
e n fa t iz e q u e e s ta r a d e q u a d a m e n te r e la ­
c io n a d o a C ris to d e te r m in e a fo r m a c o m o 
e s p o s o s e e s p o s a s , p a is e f i lh o s , e a té 
se n h o re s e e scra v o s (o u serv o s) d o lar d ev em 
r e la c io n a r - s e u n s c o m o s o u tr o s .
A lg u m a s p o u c a s o b s e r v a ç õ e s p r e lim i­
n a re s a re sp e ito d e 5 .2 2 — 6 .9 p o d e rã o a jud ar 
a e s c la r e c e r e s s a p a s s a g e m :
1) O artigo d efin id o em greg o p re ced e a ca ­
tegoria da p esso a à qual está se d irigindo, 
isto é : “às e sp o sa s” (5 .2 2 ), “aos e sp o so s”
(5 .2 5 ), “ao s filh o s” (6 .1 ) , “ao s p a is” (6 .4 ), 
“ao s serv o s” (6 .5 ) , e “aos se n h o re s” (6 .9 ). 
Esta c o n stm çã o é cham ad a de u so g e n é ­
rico d o artigo d efin id o. “D e aco rd o co m 
e sse u so, o artigo co n g reg a tod os o s ind i­
1256
EFÉSIO S 5
víd uos em um a só cla sse” (Su m m ers, 120). 
D essa form a, P aulo está se d irigindo, de 
fo rm a a b r a n g e n te , a to d a s as e sp o sa s , 
esp o so s , filh os, pais, serv o s e se n h o re s 
cristãos.
2 ) O s v erb os qu e aco m p an h am esse s su b s­
tan tiv os co le tiv o s e s tã o n o p re se n te d o 
im perativo ; isto é , são a firm açõ es q u e in ­
d icam algo qu e d everia rep resen tar um a 
v erd ade p erm an en te em no ssa cond uta. 
P or ex em p lo , “o s e sp o so s” d ev em “am ar” 
e “co n tin u ar am a n d o ” sua esp o sa (5 .2 5 ). 
O s tradu tores e o s in térp retes co n co rd am 
qu e, segundo o propósito de Paulo, o verbo 
“su jeitar” em 5.21 (n o p articíp io ) deveria 
fu n cio n ar co m o o v erb o d o 5 .22 . Em g re­
go, o p articíp io às v e z e s tem a força d e um 
im p erativ o (o rd e m ). O q u e está a p en as 
im p líc ito n o v erso 22, e d ep o is su gerido 
n o v e rso 2 4 , e s tá a g o ra e x p lic ita m e n te 
o rd en ad o em um a p assag em p aralela em 
C o lossenses 3 -18. Em outras passagens em 
5 .2 2 — 6 .9 , o tem p o im perativo d esse ver­
b o é em p regad o de form a consisten te; por­
tand o, em E fésio s 5 .21 p o d e ser in terp re­
tado co m o sen d o um v erb o d e transição 
em toda essa passagem .
3) As co n sid era çõ es so cia is e cu lturais tam ­
b é m n o s a ju d am a co m p reen d er a c o n s­
tru çã o e a ê n fa s e q u e P au lo d eu a essa 
passag em . P o r e x em p lo , o g re g o e o la ­
tim d o p rim eiro sé c u lo , assim c o m o os 
p ro fesso res rab ín ico s de ética , so m en te se 
dirigiam a m em bros da sociedade que fossem 
livres e d o s e x o m ascu lino . No en tan to , o 
Evangelho conduziu esposas, filhos e servos 
a lugares de ho nra e d e resp on sab ilid ad e 
na Igreja e em sua ordem social. A lém disso, 
esp osas, filhos e servos n ã o só e n co n tra ­
vam lib erd ad e e resp e ito na Igre ja ; d eles 
se esp erav a q u e se co n d u zissem co m re s­
ponsabilidade nessa nova posição e de forma 
a ho nrar ao seu Senhor. P ortanto , a ordem 
da seq üência de Paulo está dirigida primeiro 
às esp o sa s e d ep o is ao s esp o so s ; prim ei­
ro a o s filh os e d ep o is ao s pais; p rim eiro 
aos servos e depois aos seus sen hores. Essa 
revolucionária elevação de posição dos opri­
m id os a um a p o siçã o de honra e resp o n ­
sabilidade exp lica , inclusive, p or que Paulo 
d ed ica três v ersos à ed u ca çã o d os filhos 
(6.1-3), mas som ente um aospais (6.4); quatro
v erso s ao s serv os (6 .5 -8 ) , e so m en te um 
verso aos seu s sen h o res (6 .9 ).
4 ) F re q ü e n te s re fe rê n c ia s “a o S e n h o r” são 
en co n trad as a o lo n g o de tod a essa p assa­
gem . A co nd u ta exig id a d e cad a categoria 
de p esso as “d ep en d e to ta lm en te , e p asso 
a p asso , da realidad e e da validade da obra 
de Cristo e de sua p re sen ça ” (Barth , 2 .758).
8.1. Esposos e Esposas 
(5.22,23)
N o N o v o T e s ta m e n to , e s s a p a s s a g e m 
s e a p r e s e n ta c o m o a e x p o s iç ã o m a is e x ­
te n sa so b r e o re la c io n a m e n to e n tre e s p o s o s 
e e s p o s a s (c f . C l 3 - 1 8 ,1 9 ; 1 P e 3 .1 - 7 ) . E m
1 P e d r o 3 , P e d r o s e d ir ig e lo n g a m e n te à s 
e s p o s a s a r e s p e i to d a s u b m is s ã o a o s s e u s 
e s p o s o s ; a q u i, e m E fé s io s , P a u lo d e d ic a 
m a io r a t e n ç ã o à r e s p o n s a b i l id a d e d o s 
e s p o s o s d e a m a r s u a e s p o s a c o m o C ris to 
a m a a Ig r e ja . E m r e la ç ã o a o a s p e c to da 
“s u je iç ã o ” e m 5 .2 2 — 6 .9 , F. F. B r u c e e s ­
c r e v e ( 1 9 8 4 , 3 8 3 ) .
E m bora o có d ig o d om éstico se ja in ­
troduzido através de um a p e lo à su je i­
çã o mútua [v. 21], a su jeição im posta p elo 
própriocódigonãoém útua. Istoé, embora, 
n o código paralelo em Colossenses 3.18—
4.1 , as esp o sas se jam instruídas a su jei­
tarem -se aos esp o so s, o s filhos a o b e ­
d ecerem aos pais e o s servos ao s seus 
senhores, essa subm issão não érecíproca: 
esp o so s são aco n selh ad o s a am ar suas 
esp osas, os pais a educar seu s filhos com 
sabedoria e os senhores a tratar seus servos 
co m b o n d ad e. Em re la çã o à se ç ã o qu e 
trata das esp o sa s e dos esp o so s, sua e s ­
p ecia l característica em E fésios é qu e o 
re lacio n am en to entre e les é tratado de 
form a idên tica àqu ele q u e ex iste en tre 
Cristo e a Igreja.
A p ó s u m a e x o r t a ç ã o à m ú tu a s u je iç ã o 
n o c o r p o d e C r is to ( 5 .2 1 ) , P a u lo tr a ta 
e s p e c i f i c a m e n t e d o a s s u n to d a s e s p o s a s 
(5 .2 2 -2 4 ) e d o s e s p o s o s (5 .2 5 -3 1 ) . A d m o esta 
as e s p o s a s a s e s u je ita re m a o e s p o s o c o m o 
s e n d o a su a “c a b e ç a ” , d a m e s m a fo r m a 
q u e a Ig r e ja s e s u je ita a C r is to c o m o su a 
“c a b e ç a ”. E m s e g u id a , o r d e n a a o s e s p o ­
1257
EFÉSIO S 5
s o s q u e a m e m s u a e s p o s a , a s s im c o m o 
C r is to a m a s u a Ig r e ja . P a u lo c o m p a r a c u i­
d a d o s a m e n te o r e la c io n a m e n t o e s p o s o - 
e s p o s a a o re la c io n a m e n to C risto -Igre ja (o b ­
serv e o u s o fre q ü e n te d o co m p a ra tiv o “assim 
c o m o ” e “c o m o ta m b é m ” e m 5 .2 2 ,2 3 ,2 4 ,2 5 .) . 
A partir daí, P au lo am p lia a an a lo g ia e focaliza 
su a a t e n ç ã o q u a s e in te ir a m e n te e m C ris ­
to e a Ig re ja (5 .2 6 -2 7 ) . A p ó s a lg u m a s ou tra s 
in s t r u ç õ e s , e m 5 .3 1 c ita G ê n e s is 2 .2 4 a 
re s p e ito d a u n id a d e n o c a s a m e n to ; e m 5 .3 2 
fa z u m a r e fe r ê n c ia a C r is to e à Ig r e ja , e 
e m 5 .3 3 fa z u m r e s u m o d e to d a a p a s s a ­
g e m . O e s p o s o d e v e “a m a r s u a e s p o s a ” e 
a “e s p o s a d e v e r e v e r e n c ia r s e u e s p o s o ”.
8.1.1. Esposas, Sujeitai-vos a vosso 
Esposo (5.22-24). D e q u e fo rm a a su je iç ã o 
e x ig id a d e to d o s e m 5 .2 1 e s tá r e la c io n a ­
d a ã s u je iç ã o d a s e s p o s a s , s u g e r id a e m
5 .2 2 , e c la r a m e n te a f ir m a d a e m 5 -2 4 ? O 
v e r s o 21 e s ta b e le c e u m p r in c íp io b a s ta n te 
a b r a n g e n te , a n te s d e P a u lo a n a lis a r e s p e ­
c i f ic a m e n te o p a p e l d o e s p o s o e d a e s ­
p o s a , d o s f ilh o s e d o s p a is e d o s s e r v o s e 
d o s s e n h o r e s . A ss im , P a u lo le m b r a a to ­
d o s o s cris tã o s, h o m e n s e m u lh e re s , o a p e lo 
a q u e s e s u je ite m m u tu a m e n te , a n te s d e 
le m b r a r à s e s p o s a s su a p a r t ic u la r r e s p o n ­
s a b ilid a d e d e s u je ita r -s e a s e u e s p o s o , e m 
v is ta d a o r d e m d e D e u s e d o s d ife r e n te s 
p a p é is n o c a s a m e n to .
O v e r b o “s u je i t a r ” ( hypotasso) r e a p a ­
r e c e e m 5 .2 4 , o n d e P a u lo d iz q u e a s e s ­
p o s a s d e v e m s e s u je ita r a s e u m a r id o e m 
tu d o , ass im c o m o a Ig re ja s e su je ita a C risto . 
A s u je iç ã o d a I g r e ja a C r is to e n v o lv e l e ­
a ld a d e , f id e l id a d e , d e v o ç ã o , s in c e r id a ­
d e , p u r e z a e a m o r . E s s a q u e s t ã o d a s u ­
je i ç ã o r e p r e s e n ta a e s s ê n c i a d o s e n s in a ­
m e n t o s d e P a u lo à s e s p o s a s , p o is s e t r a ­
ta d o f o c o c e n tr a l d e s u a e x o r t a ç ã o e m 
C o lo s s e n s e s 3 -1 8 : “V ó s , m u lh e r e s , e s ta i 
s u je ita s a v o s s o p r ó p r io m a r id o , c o m o 
c o n v é m n o S e n h o r ”. T o d a s a s p a s s a g e n s 
d o N o v o T e s t a m e n t o a e s s e r e s p e i t o 
e m p r e g a m o m e s m o v e r b o hypotasso ( E f
5 .2 2 , 2 4 ; Cl 3 -1 8 ; T t 2 .4 ,5 ; 1 P e 3 .1 ) . P a u ­
lo u s a a v o z m é d ia e m g r e g o p a ra e n fa tiz a r 
o a s p e c t o v o lu n t á r i o d a s u je i ç ã o d a s 
e s p o s a s . Hypotasso d e n o t a “s u je iç ã o n o 
s e n t id o d e s u b m e t e r - s e v o lu n t a r ia m e n ­
te e m a m o r ” (B A G D , 8 4 8 ) . S u b m e t e r - s e
a o s o u t r o s , a o in v é s d e s e im p o r , d e v e ­
r ia s e r u m a c a r a c te r ís t i c a g e r a l d o p o v o 
d e D e u s ( c f . F p 2 .3 - 8 ) .
N o s v e r s o s 2 2 - 2 4 , P a u lo d e f in e a n a tu ­
r e z a d a s u je iç ã o d a s e s p o s a s d e q u a tr o 
m a n e ir a s : “A v o s s o [p ró p rio , idiois] m a ­
r id o ” ( 5 .2 2 ; idiois e s tá e m g r e g o e n ã o fo i 
t r a d u z id o n a N IV ); “c o m o a o S e n h o r ” (c f . 
C l 3 -1 8 , “c o m o é a p r o p r ia d o n o S e n h o r ”) ; 
“p o r q u e o m a r id o é a c a b e ç a d a m u lh e r ” 
e “c o m o a ig re ja e s tá su je ita a C ris to ” (5 .2 4 ) .
E m 5 .2 3 , P a u lo e x p l ic a p o r q u e a s e s ­
p o s a s d e v e m s e s u je ita r a s e u s e s p o s o s : 
“p o r q u e o m a r id o é a c a b e ç a [kephale] d a 
m u lh e r”. A lgu ns in terp retam “c a b e ç a ” c o m o 
s ig n if ic a n d o “fo n te ”, o q u e d e n o ta o r ig e m 
e n ã o a u t o r id a d e . N e s s e c o n t e x t o , n o 
e n ta n to , P a u lo d e fin e o q u e q u e r d iz e r p o r 
“c a b e ç a ” q u a n d o a c r e s c e n ta : “p o r q u e o 
m a r id o é a c a b e ç a d a m u lh e r , c o m o ta m ­
b é m C r is to é a c a b e ç a d a ig r e ja ” ( 5 .2 3 ) . É 
e v id e n te q u e C r is to é a c a b e ç a d a Ig re ja 
p o r q u e é a a u to r id a d e n o m e a d a p o r D e u s 
p ara reg ê-la e , d essa form a, a e la d ev e sujeitar- 
s e a E le e m tu d o ( 5 .2 4 ) . O s d o is c o n c e i ­
to s d e s u b m is s ã o e d e “s e r c a b e ç a ” s ã o 
m u t u a m e n t e e lu c id a t iv o s : “A I g r e ja s e 
s u b m e te à a u to r id a d e d e C r is to p o r q u e 
E le é a c a b e ç a o u a a u to r id a d e s o b r e e l a ” 
( c f . 1 .2 2 ; 4 .1 5 ) ( K n ig h t , l6 9 ) .
O s c o m e n tá r io s g e r a is d e P a u lo e m 1 
C o r ín t io s 1 1 .3 a r e s p e i t o d e h o m e n s e 
m u lh e r e s s ã o b a s ta n te in s tr u tiv o s , p o is s e 
r e f e r e m à q u e s t ã o d a o r d e m d iv in a n o 
re la c io n a m e n to e s p o s o -e s p o s a : “M as q u e ro 
q u e s a ib a is q u e C r is to é a c a b e ç a d e to d o 
v a r ã o , e o v a r à o , a c a b e ç a d a m u lh e r ; e 
D e u s , a c a b e ç a d e C r is to ”. A s q u e s t õ e s a 
s e g u ir fo r a m le v a n ta d a s p o r P a u lo e m 1 
C o r ín tio s 1 1 .3 ,8 ,9 e E fé s io s 5 .2 2 - 3 3 :
1) P aulo deixa claro qu e ex iste em Cristo uma 
perfeita igualdade espiritual entre hom ens- 
esp osos e m ulheres-esposas com o herdeiros 
da graça d e D eu s; no en tan to , trata-se de 
um a igualdad e q u e en v olv e ordem e su ­
bordinação com respeito à autoridade. Como 
D eu s é a ca b e ça de Cristo, Cristo é a c a b e ­
ça d o hom em , e o h o m em é a c a b e ç a da 
m ulher. A palavra “c a b e ç a ” exp ressa tan­
to a au toridad e co m o a ord em divina (cf. 
Jz 10.18; 1 Co 3.23; 11 .8 ,1 0 ; 15.28; E f 1.21,22; 
5 .2 3 ,2 4 ; Cl 1 .18 ; 2 .10 ).
1258
EFÉSIO S 5
2) D essa form a, Paulo baseia a autoridade do 
e sp o so n ão em co n sid e ra çõ e s de ordem 
cultural, m as n o p ro p ó sito e na ord em de 
D eu s na criação (1 C o 1 1 .8 ,9 ) e na a n a lo ­
gia p aralela da au toridad e d e Cristo so b re 
a Igreja (E f 5 .23 ).
3 ) A su b o rd in ação n ão é hu m ilhante p o rq u e 
não implica inferioridade ou supressão. Assim 
co m o Cristo n ão é in ferior ou secu n d ário 
p e lo P ai ser sua c a b e ça , da m esm a form a 
a esp osa não é um a p essoa secundária pelo 
e sp o so ser sua ca b e ça (5 .2 3 ; cf. 1 Co 11.3).
4 ) A lém d isso , no re in o de D eu s, lid eran ça 
n u nca im plica ser “m aio r”. O ato de servir 
e a o b e d iê n c ia são a ch av e para a g ran d e­
za em seu rein o (Mt 2 0 .2 5 -2 8 ; Fp 2 .5 -9 ).
5) C o m o a au to rid a d e d o e s p o s o d en tro d o 
m atr im ô n io está re la c io n a d a à d e c la r a ­
çã o d e P a u lo em G á la ta s 3 .2 8 , o n d e a fir­
m and o a essencial natureza social do evan­
gelh o declara qu e, em Cristo, “não há judeu 
n e m g re g o ; n ã o há se rv o n e m liv re ; n ão 
há m a ch o n e m fê m e a ; p o rq u e to d o s v ó s 
so is u m em C risto J e s u s ”? N esse p o n to 
P a u lo d e c la ra q u e , em C risto , o e v a n g e ­
lh o re m o v e to d a s as b a rre ira s é tn ic a s , 
ra c ia is , n a c io n a lis ta s , so c ia is , e c o n ô m i­
ca s e se x u a is na Ig re ja . Em C risto , to d o s 
sã o ig u a lm e n te c o -h e rd e ir o s da “g raça 
da v id a ” (1 Pe 3 -7 ), d o p ro m e tid o E sp í­
rito (G l 3 .1 4 ; 4 .6 ) e da re n o v a ç ã o à im a­
g em d e D eu s (C l 3 .1 0 ,1 1 ) . N o e n ta n to , 
d en tro d e s te c o n te x to de ig u a ld a d e e s ­
p iritu al, h o m e n s p e rm a n e c e m h o m e n s, 
e m u lh e re s p e rm a n e c e m m u lh eres (G n 
1 .2 7 ) . O p a p e l q u e D e u s lh e s d estin o u 
n o m atr im ô n io e n a s o c ie d a d e p e rm a ­
n e c e in a lte ra d o (1 P e 3 .1 -4 ).
8.1.2. Esposos, Amem a sua Espo­
sa (5.25-33). O p r o p ó s i to d e D e u s , d e 
q u e a e s p o s a d e v e s u je it a r - s e a s e u e s ­
p o s o d a m e s m a fo rm a q u e a Ig re ja s e su je ita 
a C risto , e x ig e u m a g ra ç a a tu a n te . N o v e rs o 
2 5 , P a u lo c o n f r o n t a o e s p o s o c o m u m 
e n c a r g o m u ito m a is d ifíc il, q u e e x ig e u m a 
q u a l i f i c a ç ã o s o b r e n a t u r a l a in d a m a io r : 
“V ó s m a r id o s , a m a i v o s s a m u lh e r , como 
também C r is to a m o u a ig r e ja e a s i m e s ­
m o s e e n t r e g o u p o r e l a ”. O b s e r v e q u e 
P a u lo n ã o a c e n tu a a “a u to r id a d e d o e s ­
p o s o s o b r e a e s p o s a , p o r é m o s e u a m o r 
p o r e l a ” (S to t t , 2 3 1 ) . A c o n d iç ã o d e “c a ­
b e ç a ” d e s e m p e n h a d a p e lo e s p o s o , o u su a 
a u to r id a d e , n ã o é a q u e la d e u m h o m e m 
d o m in a d o r q u e to m a to d a s a s d e c is õ e s 
e e x i g e a s u b m i s s ã o d a e s p o s a . P e lo 
c o n tr á r io , P a u lo c u id a d o s a m e n te p r o te g e 
a d ig n id a d e e o b e m - e s t a r d e u m a e s p o ­
s a a o d e f in ir a a u to r id a d e d o e s p o s o e m 
te r m o s d o p o d e r e d a p r o f u n d id a d e d e 
s e u a m o r s a c r i f i c ia l p o r e la .
A lé m d is s o , P a u lo e m p r e g a o p r e s e n ­
te d o im p e ra tiv o p a ra e n fa t iz a r q u e o a m o r 
a b n e g a d o d o e s p o s o p o r s u a e s p o s a d e v e 
s e r p e r m a n e n te e in in te r r u p to . O te r m o 
q u e P a u lo u s a p a r a a m o r é agapao, q u e 
é m a is d o q u e a e x p r e s s ã o e s p a s m ó d ic a 
d e u m a m o r r o m â n tic o , q u e s e o r ig in a d a 
a tr a ç ã o f ís ic a o u d o d e s e jo , e q ü e v a i a lé m 
d a d im e n s ã o d o a m o r a m ig o o u d e u m a 
a f e iç ã o p e r m a n e n te . O t ip o d e a m o r q u e 
u m e s p o s o d e v e s e n t ir p e la e s p o s a é u m 
a m o r g e n e r o s o q u e p r o c u r a a t iv a m e n te 
o m a is e le v a d o b e m - e s t a r d e s u a e s p o s a . 
É o a m o r d o c o m p r o m is s o q u e p e r m a n e c e 
f ir m e e c o n s t a n te e m m e io a to d a s a s c ir ­
c u n s tâ n c ia s o u a d v e r s id a d e s . É u m a m o r 
q u e s e m a n té m r e s o lu to p e r a n te o s f lu ­
x o s e m o cio n a is a sce n d e n te s e d e sce n d e n te s 
d a v id a . E s s e é o ú n ic o t ip o d e a m o r q u e 
p e r m ite a u m m a tr im ô n io m a n te r - s e u n i ­
d o “e n q u a n to a m b o s v iv e r e m ”.
O p a d rã o d o a m o r d o e s p o s o p e la e sp o sa 
é o m e s m o d o a m o r d e C r is to p e la I g r e ­
ja . P a u lo d e s c r e v e e s s e a m o r d e q u a tr o 
m a n e ir a s :
1) É um amor abnegado (5 .2 5 ), o am or qu e 
Cristo d em o nstrou na cruz. N enhu m o u ­
tro p a d rã o m ais e le v a d o d e a m o r seria 
concebível. C. S. Lewis(em“TheFourLoves”, 
1 9 6 0 ,1 4 8 ) afirm a qu e esse é o tip o de am or 
de Cristo.
Não está totalm ente personificado nos 
esp o so s, co m o tod os gostaríam os qu e 
estivesse, m as naq u ele cu jo m atrim ônio 
p a re ce m ais u m a cru cificação ; cu ja e s ­
p o sa re c e b e o m áxim o, p o rém d ev o l­
ve o m ínim o, é a m ais ind igna d ele , é 
— • co n fo rm e sua p rópria natu reza — a 
m en o s am ável...
[Esse am or] n ão é en co n tra d o nas a le ­
grias do casam ento de qu alquer hom em , 
p o rém na tristeza, d o e n ç a e so frim en ­
1259
EFÉSIO S 5
to de um a b o a esp o sa , ou n o s erros de 
outra qu e n ã o o se ja , em seu cu id ado 
in cessan te (n u n ca igu alad o ) ou em sua 
inexaurível m isericórdia: em seu perdão, 
e n ão na sua aq u iescên cia .
2 ) O am or do esp oso , sem elhante ao de Cristo, 
é um amor santificador (5 .2 6 -2 7 ). Paulo 
usa c in c o v erb os p ara d escrev er a im ensa 
d im en são d o am or de Cristo p o r sua n o i­
va, a Igreja . E le “a amou” (5 .2 5 b ) , “sacri­
ficou-se p or e la ” o u “se en trego u p o r e la ” 
(5 .2 5 c ), para “santificá-la” (5 .2 6 a ) e “para 
a apresentar a si m esm o igreja g loriosa, 
sem mácula, nem ruga" (5 .2 7 ). O am or 
abn egado de Cristo p ela igreja ex erce sobre 
ela um e fe ito d e san tificação e d e e m b e ­
lezam en to . D a m esm a form a, q u an d o um 
esp o so am a sua esp osa “co m o Cristo am ou 
a Igreja”, esse am or a santificará e em belezará. 
O b serv e q u e Cristo torn a a Igre ja santifi­
cada “purificando-a com a lavagem da água” 
(n ã o a re g e n e ra çã o p e lo b atism o, p orém 
a p u reza da re g e n e ra çã o em T t 3 .5 , a qu al 
é testem u nh ad a p e lo batism o ) “p ela p a­
lavra” (o u p or um a co n fissã o d e fé ou da 
palavra exp ressa p elo Espírito de D eus que 
lib era a fé).
3 ) O am or do esp oso , sem elhan te ao de Cristo 
p ela Igreja , é um amorprovedor (5 .2 8 -3 0 ). 
P au lo torn a a fo ca liz a r o am o r d o e sp o so 
p ela e sp o sa e m en cio n a duas co isa s a res­
p e ito d esse am or, c o m o um a m or p ro v e­
dor: (a ) O s m arid o s d ev em am ar a sua 
p ró p ria m u lh er “c o m o a seu p ró p rio co r­
p o ” (5 .28a). Assim co m o a Igreja é o “co rp o ” 
d e C risto so b re a terra , tam b ém a e sp o sa 
é a “e x te n s ã o ” de seu e sp o so . Em c o n ­
ju n to , e sp o so e e sp o sa sã o p artes co m - 
p le m e n ta re s d e um a ú n ica p e rso n a lid a ­
de. Portanto, quando um esp oso cuida am o­
ro sa m e n te de su a e s p o s a , “a m a -se a si 
m e sm o ” (5 .2 8 b ) ; (b ) Q u a n d o u m e sp o so 
considera a esp osa co m o parte de si m esm o, 
p ro te g e -a e cu id a d ela a d e q u a d a m e n te 
“com o tam bém o Senhor [faz] à igreja” (5.29). 
“Alim enta” e “sustenta” (literalm ente “nutre” 
e “protege”)se refere a um a provisão prática 
e tan g ív el d e a fe to .
4) O am or do esp oso , sem elhante ao de Cristo 
pela Igreja, é um amor permanente, ou se­
guro (5.31-32), uma união santificada e vincu-
ladora, que dura toda a vida. Em 5.31, Pau­
lo se refere a G ênesis 2 .24 co m o b ase para 
esse argum ento (co m o Jesu s, cf. Mt 19.5,6). 
É parte do “m istério” do m atrim ônio qu e o 
esp oso e a esp osa se tornem “um a só car­
n e ”, através do m atrim ônio (F i 5 .31b,32a). 
Suas vidas estão tão intim am ente ligadas que 
podem ser considerados um a única pessoa. 
N essa unidade, a esp osa p od e sujeitar-se a 
seu esp oso , e o esp oso p ode am ar e prote­
ger sua esposa, de form a a até m esm o d e­
sistir dos próprios interesses em troca de seu 
bem-estar. D essa form a, Paulo encontra “um 
grande m istério" n o relacionam ento entre 
Cristo e a Igreja, rep resentado p elo vínculo 
do m atrim ônio. A o longo dos versos 5.22- 
33, P aulo interpreta o relacion am en to do 
m atrim ônio à luz da união de Cristo com a 
Igreja e, p o r m eio dessa interpretação, trans- 
forcna o conceito do matrimônio no ideal mais 
elevado que o m undo p o d e conhecer.
O v e r s o 3 3 fa z u m r e s u m o d a s r e s p o n ­
s a b ilid a d e s m ú tu a s q u e o e s p o s o e a e s ­
p o s a t ê m u m p a ra c o m o o u tr o . A r e s p o n ­
sab ilid ad e da e sp o sa é reafirm ad a e m term o s 
d e “r e s p e i to ” ( li te r a lm e n te , “r e v e r ê n c ia ”) . 
N o e n ta n to , é u m a r e v e r ê n c ia n o “s e n t i ­
d o d e a d m ir a ç ã o q u e tra d u z u m r e s p e i to 
a p r o p r ia d o p e lo e s p o s o ” (S u m m e rs , 1 2 7 ) .
8 .2 . P a is e F ilh o s (6 .1 -4 )
8.2.1. Filhos, Obedeçam a seus Pais 
(6.1-3) . O p o d e r sa lv a d o r d e C risto a o la d o 
d a p o d e r o s a p r e s e n ç a d o E s p ír ito S a n to 
to r n a m p o s s ív e l u m r e la c io n a m e n to h a r ­
m o n io so d en tro da fam ília. P a u lo agora p assa 
a d iscutir o re la c io n a m e n to en tre pais e filhos. 
E n q u a n to a ru p tu ra d o r e la c io n a m e n t o 
m a tr im o n ia l e a d e s o b e d iê n c ia d o s f ilh o s 
s ã o s in a is d e u m a s o c ie d a d e e m d e s in te ­
g ra ç ã o , u m r e la c io n a m e n to sa n to e h a r m o ­
n io s o n a fa m ília s ã o u m te s te m u n h o v iv o 
d a p r e s e n ç a d e C ris to n a s o c ie d a d e .
E s c r e v e n d o a o c o r p o d e C r is to c o m o 
u m t o d o , P a u lo o r d e n a a o s f i lh o s q u e 
“o b e d e ç a m a s e u s p a is ” ( 6 .1 ) . O p r e s e n ­
te d o im p e ra tiv o d o v e r b o “o b e d e c e r ” fa la 
d a o b e d iê n c ia c o m o u m c o m p o r t a m e n ­
to h a b itu a l e p e r m a n e n te , o u c o n t ín u o . 
E m s e g u id a , P a u lo a p r e s e n ta q u a tr o ra ­
z õ e s q u e ju s t i f ic a m e s s a a f ir m a ç ã o :
1260
EFÉSIO S 6
1) “Sede o b ed ien tes a vossos pais no Senhor". 
Essa frase p o d e ser in terpretad a de duas 
m aneiras: (a ) ela d efin e o s lim ites da o b e ­
d iên cia co m o sen d o devida ao s pais cris­
tãos; vista d essa form a, a ex p ressã o “no 
Senh or” m odifica “pais” (B ru ce , 1 9 6 1 ,1 2 1 );
(b ) alguns consideram essa expressão com o 
qualificadora do v erb o “o b e d e ce r”. Se essa 
for a in terp retação correta, a exp ressão “no 
Senhor” mostra sim plesm ente o espírito pelo 
q u al a o b e d iê n c ia d ev e se r p re sta d a : a 
o b e d iê n c ia cristã “assim co m o ao Se n h o r” 
(A bbott, 176; L incoln , 402).
2) O s filh os d ev em o b e d e c e r ao s pais “p or­
q u e isto é ju s to ” (cf. a p assag em p aralela 
em C o lo ssen ses 3 .2 0 , “p o rq u e isto é agra­
dável ao Se n h o r”). O sentid o aqui é de qu e 
isso é co rreto , justo . “Ju s to ” ( dikaion) em 
g reg o tem a m esm a raiz da palavra “co r­
reto” (dikaiosyne). Stott (238-39) argum enta 
q u e a o b ed iên cia à autoridad e p atern a é 
um a “lei n atu ral” ou um a “rev e la çã o g e ­
ral” q u e é justa e verdadeira em tod as as 
cu lturas através d os sécu lo s.
3) O s filh os d evem o b e d e c e r a seu s pais por 
se tratar de um “m andam ento” de D eus (6 .2)
— aq u ele g u e diz “H onra a teu pai e a tua 
m ã e” (cf. Ê x 2 0 .f 2; D t 5 .1 6 ). N ovam ente, 
o v erb o “h o n rar” está n o p re sen te do im ­
perativo ( tima) , e transm ite a n e ce ss id a ­
de de uma contínua honra aos pais (Summers, 
129). Salm on d afirm a (3 7 5 ): “A o b e d iê n ­
cia é um dever; a h o n ra é a atitude da qual 
n a sce a o b e d iê n c ia ”. A h o n ra está re la c i­
on ad a ao resp e ito p e lo s pais e é d iferente 
de um a total conform id ad e.
4 ) A razão final de P au lo so b re a o b ed iên cia 
ao s pais é q u e os cre n tes rec e b e ra m um a 
p rom essa de D eu s para assim fazer: “Para 
q u e te vá b e m , e vivas m uito tem p o so b re 
a terra” (6 .2 ,3 ) . B ru ce (1 9 6 1 ,1 2 1 ) observa 
q u e e s s e é o q u in to m a n d a m e n to d o 
D ecá lo g o , p o rém o p rim eiro e ú n ico on d e 
está inserida um a prom essa. E é o “prim eiro” 
n ão só em re la çã o a o D ecá lo g o , m as tam ­
b é m a tod a a le i do P en ta teu co . O resp e i­
to ad eq u ad o ao s pais d em onstra o p rin cí­
p io de um a co rreta m aneira d e viver, qu e 
traz co n sig o a reco m p en sa do bem -estar 
e da co ntin u id ad e da vida.
8.2.2. Pais, não Provoqueis vossos
Filhos à Ira (6.4). A s s im c o m o a r e s ­
p o n s a b i l id a d e d a e s p o s a d e s e s u je ita r é 
a c o m p a n h a d a p e la r e s p o n s a b il id a d e d o 
e s p o s o d e a m a r ( 5 .2 2 - 3 3 ) , a q u i a o b r ig a ­
ç ã o q u e o s f ilh o s tê m d e o b e d e c e r é a c o m ­
p a n h a d a p e la r e s p o n s a b il id a d e d o s p a is 
e m r e l a ç ã o a s e u s f i lh o s . O s p a is s ã o 
m e n c i o n a d o s p o r c a u s a d e s e u p a p e l 
reg u lad o r c o m o c a b e ç a s o u líd eres d a fam ília 
( a r e s p o n s a b il id a d e d a m ã e e s tá in c lu íd a 
n e s ta c la s s if ic a ç ã o ) ,
A r e s p o n s a b il id a d e d o s p a is e s tá d e f i­
n id a e m te r m o s d e c o m a n d o s p o s i t iv o s e 
n e g a t iv o s :
1) N o co m an d o negativ o , o s pais n ã o d evem 
“p ro v o car a ira a seu s filh o s” (6 .4 ). O s pais 
terrenos são extrem am ente im portantes na 
fo rm ação d o c o n ce ito d os filhos a resp e i­
to do Pai ce lestia l. D ev em se lem b rar qu e 
um re la c io n a m e n to ad eq u ad o co m seu s 
filh o s é m ais im p o rta n te q u e o co rre to 
desem penho dos filhos. O s pais devem evitar 
irar, incitar ressen tim en to s ou d esanim ar 
seu s filhos através da im p o sição d e e x p e c ­
tativas exageradas, ou de um severo ou injusto 
tratam en to ou d iscip lina, e assim p o r di­
ante. Isso n ão im plica q u e os pais devam 
ad otar um a p o lítica de n ã o corrig ir o s seus 
filh os. Sign ifica sim p lesm ente q u e d evem 
se co nd uzir de form a a n ã o p red isp o r seus 
filh os à d eso b e d iê n cia ou reb elião .
2) P a u lo dá a o s p ais um a ord em p ositiva: 
“E d u q u em -n o s” ou “cria i-o s n a doutrina 
e a d m o esta çã o d o S e n h o r”. O s p ais são 
resp on sáv eis p o r tom ar a in iciativa n o lar 
de treinar e ensinar os filhos no que concerne 
a o Senhor. “C riar” significa su stentar ter­
nam en te ou d isp en sar am oro so cu id ado 
e p ro te ç ã o . E ssa ta re fa é d e scrita m ais 
detalhadamente de duas formas: (a) “Treinar” 
(paideia) significa criar e en sinar “p rin ci­
p alm en te p o rq u e se co n se g u e p ela d isci­
plina e ca stigo ” (BA G D , 6 0 8 ). D essa for­
m a, a exp ressão “criar” está relacion ad a ao 
d esen v olv im en to do caráter, en q u an to (b ) 
“e n s in a r” ou “in stru ir” ( nouthesia) está 
re la c io n a d o a q u estõ es q u e en v o lv em o 
cam in h o da justiça.
N o f in a l d o v e r s o 4 , a f r a s e d e P a u lo , 
a c o m p a n h a d a d e p r e p o s iç ã o “d o S e n h o r ”, 
p o d e s e r in te r p r e ta d a d e u m a d a s d u a s 
s e g u in te s m a n e ira s . N o c a s o d o a b la t iv o 
g reg o , e la sign ifica “c o n c e r n e n te a o S e n h o r”;
1261
EFÉSIO S 6
n o c a s o d o g e n it iv o , in d ic a “o S e n h o r é o 
p a d r ã o o u a fo n te q u e c o n d u z ”. A m b a s as 
p o s s ib il id a d e s s ã o v e rd a d e ir a s . P o r q u e o s 
filhos sã o u m a “h e ra n ça d o Se n h o r” (S l 127 .3 ), 
“tre in a r” e “e n s in a r ” s ã o re s p o n s a b ilid a d e s 
e x t r e m a m e n te im p o r ta n te s d o s p a is e d a s 
m ã e s . E m b o r a o tr e in a m e n to d o s p a is e a 
co n d u ta d o s filh os se ja m m u itas v e z e s m e n o s 
q u e p e r fe ito s , o n d e o r e la c io n a m e n to p a i- 
f ilh o é s a n to e c o r r e to , o re s u lta d o g e r a l­
m e n te s e r á c o r r e to e s a lu ta r ( c f . P v 2 2 .6 ) .
8.3- Senhores e Servos (6 .5-9)
8.3.1. Servos, Obedeçam a seus Se­
nhores Terrenos (6.5-8). D a m e sm a form a 
c o m o a e s p o s a e o s f i lh o s , o s s e r v o s ta m ­
b é m fo r a m e le v a d o s p e lo e v a n g e lh o a u m 
lu g a r d e h o n r a e re s p e ito n a Ig re ja , e P a u lo 
o s m e n c io n a p r im e ir a m e n te e m q u a tr o 
v e r s o s r e la t iv o s à r e s p o n s a b il id a d e q u e 
a c o m p a n h a e s s a s u a n o v a p o s iç ã o . O fa to 
d e P a u lo m e n c io n a r p r im e ir o o s s e r v o s 
in d ic a q u e e s te s fo ra m a c e ito s c o m o m e m ­
b r o s r e s p e i ta d o s d a Ig r e ja , q u e p o d e r ã o 
h o n r a r s e u M e s tr e c e l e s t i a l d a m e s m a 
m a n e i r a c o m o s e r v ia m s e u s s e n h o r e s 
te r r e n o s . E m c a d a u m d o s q u a tr o v e r s o s 
d ir ig id o s a o s s e r v o s , J e s u s C r is to é o f o c o 
e o m o t iv o p r in c ip a l d e s e u s e r v iç o , p o is 
d e v e m s e r v ir “fa z e n d o d e c o r a ç ã o a v o n ­
ta d e d e D e u s ” (6 .6 ) , “c o m o serv o s d e C risto” 
( 6 .6 ) , “s e r v in d o d e b o a v o n ta d e c o m o a o 
S e n h o r e n ã o c o m o a o s h o m e n s ” ( 6 .7 ) , 
s a b e n d o q u e “c a d a u m r e c e b e r á d o S e ­
n h o r to d o o b e m q u e f iz e r ” ( 6 .8 ) .
A lg u é m p o d e r ia p e r g u n ta r : “P o r q u e 
o N o v o T e s ta m e n to n ã o c o n d e n a e x p l i ­
c i ta m e n te a e s c r a v id ã o c o m o s e n d o u m 
m a l, a o in v é s d e c o n f o r m a r o r e la c io n a ­
m e n to d o s c r e n te s c o m e la ? ” N o p r im e i­
r o s é c u l o d o m u n d o r o m a n o , a ig r e ja 
p rim itiv a e r a p o li t ic a m e n te im p o te n te . S e 
t iv e s s e a ta c a d o d ir e ta m e n te a in s t i tu iç ã o 
ro m a n a d a e s c ra v id ã o , e p r o c u r a d o e m a n ­
c ip a r e m g r a n d e e s c a la o s e s c r a v o s , te r ia 
c o n f ir m a d o “a s u s p e ita d e m u ito s m e m ­
b r o s d e s ta a u to r id a d e d e q u e o e v a n g e ­
lh o t in h a c o m o o b je t iv o a s u b v e r s ã o d a 
s o c ie d a d e . A m e lh o r a t itu d e e r a e s t a b e ­
le c e r c la r a m e n te o s p r in c íp io s d o e v a n ­
g e lh o e d e ix a r q u e e s te s a g is s e m n o te m ­
p o o p o r tu n o s o b r e e s s a in íq u a in s titu iç ã o ” 
(B r u c e , 1 9 6 1 , 1 2 5 ) . N o e n ta n to , o e v a n ­
g e lh o cie C ris to r e a lm e n te c o n c e d e u lib e r ­
d a d e e s p ir itu a l e d ig n id a d e p e s s o a l a o s 
e sc ra v o s . T a m b é m c o lo c o u e m m o v im e n to 
o s p r in c íp io s q u e a ju d a r a m a r e m o v e r a 
c r u e ld a d e d a e s c r a v id ã o r o m a n a , o q u e , 
a o f in a l , le v o u à s u a e x t in ç ã o n a c o m u n i­
d a d e cristã (v e ja a carta d e P a u lo a F ilem o m ).
P a u lo e n s in a a o s e s c r a v o s c r is tã o s p o r 
m e io d e d u a s f ra s e s .
1) Ele os aconselha a “obedecer a seus senhores 
seg u n d o a c a rn e ” (6 .5 ). A liberd ad e esp i­
ritual não deve levá-los a se revoltarem contra 
seu s sen h o res. P e lo contrário , agora co m o 
um crente , o escrav o d everá prestar um a 
o b e d iê n cia e um a lea ld ad e ainda m aio res 
“p o rq u e a h onra de Cristo, e do e v a n g e­
lho , estava vincu lad a à qu alid ade de seu 
se rv iço ” (B ru ce , 1961, 123). P au lo exorta 
os escrav os a o b e d e ce re m sa eu s se n h o ­
res (a ) “co m tem o r e trem or” (litera lm en ­
te, tem o r e m ed o ), p ara q u e sua cond u ta 
n ão traga o p rób rio ao n o m e de Cristo; (b ) 
“na s in cerid ad e de v o sso c o ra ç ã o ”, isto é, 
“sem in te n ç õ e s secu n d árias ou p o sterio ­
re s ” (Su m m ers, 132), “n ã o servind o à v is­
ta, co m o p ara agradar ao s h o m e n s”; m as
(c ) “fazendo de coração a vontade de D eu s” 
(literalm ente, “com toda sua alm a”, o oposto 
à relu tân cia e in d iferença).
2 ) P a u lo a c o n s e lh a o s e sc ra v o s cr is tã o s a 
serv irem seu s s e n h o re s te rre n o s (a ) co m 
“s in c e r id a d e ” (6 .7 ; lite ra lm e n te , “d e b o a 
v o n ta d e ”), o q u e su g e re u m a p ro n ta d is­
p o s iç ã o q u e “n ã o e sp e ra p ara se r o b r i­
g a d a ” (R o b in s o n , 2 1 1 ) e (b ) “serv in d o de 
b o a v o n tad e c o m o ao Se n h o r e n ã o co m o 
ao s h o m e n s”. A razão de tal serv iço é “qu e 
cad a u m re c e b e rá d o S e n h o r to d o o b e m 
q u e f iz e r” (6 .8 ) . A fra se “B e m e s tá ”, p ro ­
n u n c ia d a p o r C risto n o ju lg a m e n to (M t
2 5 .2 1 , 2 3 ) , é m u ito m ais im p o rta n te d o 
q u e o s b e n e f íc io s te m p o ra is o u a fa lta 
d e le s . A ssim , o s serv o s cris tã o s p o d e m 
serv ir c o m a leg ria , m e sm o a o s s e n h o re s 
m ais cru éis, sab en d o qu e sua recom p en sa 
virá d e C risto .
8.3.2. Senhores, Tratem seus Escra­
vos — ou Servos — com Justiça (6.9).
P a u lo a c o n s e lh a o s s e n h o r e s a “tratar [seus] 
e s c r a v o s [ou serv o s] d a m e s m a fo r m a ”, is to
1262
EFÉSIO S 6
é , c o m r e s p e i to e d e a c o r d o c o m a R e g r a 
Á u r e a . D e v e r ã o d e d ic a r a s e u s e s c r a v o s 
( o u s e r v o s ) to d a a c o r te s ia q u e d e s e ja m 
r e c e b e r . P a u lo p r o íb e a o s s e n h o r e s c r is ­
t ã o s o u s o d e a m e a ç a s o u q u a lq u e r fo r ­
m a d e c r u e ld a d e a f im d e a s s e g u r a r a 
o b e d iê n c ia d o s e sc ra v o s , c o m o e ra c o m u m 
e n tr e o s s e n h o r e s r o m a n o s .
A f r a s e “O S e n h o r d e le s e v o s s o ” in ­
d ic a q u e P a u lo e s t á s e d ir ig in d o a o r e la ­
c io n a m e n t o s e n h o r - e s c r a v o o u s e n h o r - 
s e r v o ( e x a t a m e n t e c o m o a c o n t e c ia e n ­
tre F ile m o m e O n é s im o ). “N ã o h á a c e p ç ã o ” 
e m s e u S e n h o r c e le s t ia l ; D e u s c o n s i d e ­
ra ig u a lm e n t e s e n h o r e s e e s c r a v o s , o u 
s e r v o s , e n ã o m o s tr a q u a lq u e r p a r c ia l i ­
d a d e . “A c e p ç ã o ” (N IV ) o u “p ar c ia l id a d e ” 
(K JV , N A S B , N R S V ) é u m a p a la v r a c o m ­
p o s t a q u e c o n s i s t e d e d u a s o u tr a s q u e 
s ig n i f ic a m “f a c e ” e “r e c e b e r ”. O S e n h o r 
n o c é u n ã o r e c e b e o u a v a lia u m a p e s ­
s o a c o m b a s e e m su a a p a r ê n c ia f ís ic a , n a s 
c ircu n stâ n c ia s ex te r io re s o u e m su a p o s iç ã o 
n a v id a ; p e l o c o n t r á r io , E le r e c e b e u m a 
p e s s o a d e a c o r d o c o m a r e s p o s ta à s u a 
g r a ç a e a c o n d iç ã o ín t im a d e s e u c o r a ­
ç ã o . T ra tar u m s e r h u m a n o d e fo rm a m e n o s 
ju s ta o u c o r r e t a é c o n t e s t a r a q u e le q u e 
n ã o m o s t r a q u a lq u e r p a r c ia l id a d e .
S e rá q u e e ss a s p a lav ras se r ia m re lev a n tes 
h o je e m d ia? E m b o r a o r e la c io n a m e n to 
s e n h o r -e s c r a v o n ã o s e ja e x a ta m e n te ig u a l 
a o r e la c io n a m e n to p a tr ã o -e m p r e g a d o , o s 
p r in c íp io s q u e P a u lo e x p õ e e m 6 .5 - 9 s e 
a p lic a m a e m p r e g a d o s e p a tr õ e s c r is tã o s . 
O b s e rv e c o m o P a u lo re to rn a à ê n fa s e so b r e 
a s d isp u tas atu ais en tre as d u a s c la ss e s o n d e 
“c a d a la d o s e c o n c e n tr a e m a s s e g u ra r se u s 
p r ó p r io s d ir e ito s e e m in d u z ir o o u tr o a 
c u m p r ir o s s e u s d e v e r e s . . . P a u lo in s is te 
e m q u e c a d a la d o s e c o n c e n t r e e m s u a s 
r e s p o n s a b il id a d e s e n ã o e m s e u s d ir e ito s ” 
(S to t t , 2 5 8 - 2 5 9 ) . A a p l ic a ç ã o d e s s a ê n fa ­
s e é a m e lh o r a b o r d a g e m p a r a a s o lu ç ã o 
d e p r o b le m a s m ú tu o s , e m q u a lq u e r n í ­
v e l d a v id a .
9. Estar Capacitado e Equipado para 
a Batalha Espiritual (6.10-20)
É co m u m q u e a u to re s d o N o v o T e s ta m e n to 
te r m in e m s u a s c a r ta s f a z e n d o u m a p e lo 
b a s e a d o n a m e n s a g e m m a is im p o r ta n te
q u e e s tá a li c o n t id a . I s s o é o q u e P a u lo 
fa z e m 6 .1 0 - 2 0 ; e m o u tr a s p a la v r a s , e s s e s 
v e r s o s d e v e m s e r e n te n d id o s n o c o n t e x ­
to d e to d o o liv ro d e E fé s io s . E s s a p a s s a ­
g e m n ã o é u m a v a r ia ç ã o o u u m a p ê n d i­
c e p a r a p e s s o a s q u e tê m “u m in te r e s s e 
e s p e c ia l p e lo e s tu d o d o s d e m ô n io s e d o 
c o m b a te e s p ir i tu a l” (T u r n e r , 1 2 4 2 ) . A n ­
te s , e s tá re la c io n a d a a o p la n o d e D e u s p a ra 
a r e d e n ç ã o , e p a r a a r e c o n c i l i a ç ã o c ó s ­
m ica q u e é o o b je tiv o d a m o rte -ressu rre içã o - 
e x a l t a ç ã o d e C ris to .
E s s e s v e r s o s d e s c r e v e m a m a n e ir a p e la 
q u a l, p o r m e io d a g ra ç a s a lv a d o ra d e D e u s 
e e m C r is to , f o m o s l ib e r to s d o p e c a d o e 
d a s g a rra s d e S a ta n á s . D e s c r e v e m , ta m ­
b é m , c o m o d e v e m o s v iv e r a g o r a c o m o 
ju d e u s e g e n t io s r e d im id o s , e s p o s a s e 
e s p o s o s , f i lh o s e p a is , e s c r a v o s (o u s e r ­
v o s ) e s e n h o r e s , c o n s id e r a n d o q u e n e s ­
s e m u n d o v iv e m o s e m u m a z o n a d e g u erra 
q u e e s tá s e m p r e s e n d o a ta c a d a e d e s a f i­
a d a p e lo m a lic io s o in im ig o d e D e u s — 
S a ta n á s e s u a r e d e d e m a u s e p o d e r o s o s 
e s p ír i to s . “D e s s a fo r m a , P a u lo p r e fe r iu 
r e c o n s tr u ir su a m e n s a g e m s o b a fo rm a d e 
u m te m a d e g u e r ra ” (T u rn e r , 1 2 4 2 ) n o q u a l 
to d a a Igre ja é co n sid erad a co rp o rativ am en te 
c o m o p a r t ic ip a n d o d e “u m a b a ta lh a c u jo s 
p r in c ip a is a n ta g o n is ta s s ã o D e u s e o D i­
a b o ” (L in c o ln , 4 4 2 ) .
F r e q ü e n te m e n t e o N o v o T e s ta m e n to 
e m p re g a a lin g u a g e m m ilitar p ara d e scre v e r 
a re a lid a d e d a g u e r ra e sp ir itu a l q u e a c o m ­
p a n h a ta n to a b a ta lh a esp ir itu a l e n tr e D e u s 
e S a ta n á s ( b a ta lh a v e r t ic a l ) , c o m o o c o n ­
f lito te r r e n o e n tr e c r e n te s e m a u s e s p ír i ­
t o s d e s s a e r a d e tr e v a s ( b a ta lh a h o r iz o n ­
ta l) . P a u lo a c o n s e lh a s e u s le i to r e s d iz e n ­
d o : “fo r t a le c e i -v o s n o S e n h o r e n a fo r ç a 
d o s e u p o d e r ” ( 6 .1 0 ) , “R e v e s ti-v o s d e to d a 
a a rm a d u ra d e D e u s ” “p a r a q u e p o s s a is 
e s ta r f ir m e s c o n tr a a s a s tu ta s c i la d a s d o 
d ia b o ” ( 6 .1 1 ) e “p a r a q u e p o s s a is r e s is tir 
[lite ra lm e n te e m greg o ] n o d ia m a u ” ( 6 . 1 3 ) . 
E le in s is te q u e n o s s a lu ta n ã o é c o n tra ca rn e 
e s a n g u e , m a s c o n t r a o s e s p ír i to s m a lig ­
n o s q u e d e s c r e v e s e g u n d o q u a tr o c a t e ­
g o r ia s : “p r in c ip a d o s ”, “p o te s ta d e s ”, “p r ín ­
c ip e s d a s t r e v a s ” e “h o s t e s e s p ir itu a is d a 
m a ld a d e , n o s lu g a re s c e le s t ia is ” ( 6 .1 2 ) . D a 
m e s m a fo r m a , n o s s a s a r m a s n ã o s ã o c a r ­
1263
EFÉSIO S 6
n a is o u te rre n a s , m a s esp ir itu a is (2 C o 1 0 .4 ). 
A ss im , P a u lo a f ir m a q u e n o s s o e q u ip a ­
m e n to p a r a e s s a b a ta lh a é to d a a a r m a ­
d u ra d e D e u s ( 6 .1 4 - 1 8 ) .
E ssa lin g u a g em re p resen ta u m a m u d a n ça 
a b r u p ta d o c e n á r io d e 5 .2 2 — 6 .9 . G o s ta ­
r ía m o s d e p o d e r v iv e r to d a n o s s a v id a e m 
p a z e tr a n q ü il id a d e , m a s o fa to é q u e o 
in im ig o d e D e u s ta m b é m é n o s s o in im i­
g o , e é b a s ta n te c o m b a tiv o . “A lé m d is s o , 
n ã o h av erá u m a in terru p çã o d e h ostilid ad es, 
n e m m e s m o u m a tr é g u a te m p o r á r ia o u 
u m c e s s a r - fo g o , a té o f im d e n o s s a v id a 
o u d a h is tó r ia , q u a n d o a p a z c e le s t ia l se r á 
a lc a n ç a d a ” (S to tt , 2 6 2 ) .
O v e r s o 1 0 c o m e ç a c o m a fr a s e : “N o 
d e m a is ”, o u “f in a lm e n te ” . E s s a f r a s e n ã o 
s ig n if ic a q u e P a u lo t e n h a c h e g a d o a o fim 
d e su a carta ; p e lo co n trá rio , s ig n ifica “d aq u i 
a d ia n te , o u a p a r t ir d a q u i” , e e s tá in d i­
c a n d o , d e s s a fo r m a , “o t e m p o r e s ta n t e ”. 
P o rta n to , P a u lo e s tá e n fa tiz a n d o q u e “to d o 
o p e r ío d o c o n t id o e n tr e a s d u a s v in d a s 
d o S e n h o r se rá c a ra c te r iz a d o p e la p re s e n ç a 
d e c o n f li to s . A p a z q u e o S e n h o r e s t a b e ­
l e c e u a tr a v é s d a c r u z d e C r is to s o m e n te 
s e r á e x p e r im e n ta d a n o m e io d e u m a lu ta 
s e m tr é g u a s c o n t r a o m a l. E p a r a is s o , o 
p o d e r d o S e n h o r e a s u a a r m a d u r a s e r ã o 
in d is p e n s á v e is ” (S to t t , 2 6 2 - 6 3 ) .
A g u e rra e sp ir itu a l d e q u e p a r t ic ip a m o s 
t e m u m a c a r a c te r ís t ic a ú n ic a . N ã o p e r s e ­
g u im o s o in im ig o , n e m a d o ta m o s a ç õ e s 
d e a ta q u e c o n tr a e le (d e s s a fo rm a , a s p r in ­
c ip a is a rm a s d o s o ld a d o r o m a n o , a s la n ­
ça s c lu p la s , e s tã o a u s e n te s d a r e la ç ã o d e 
P a u lo ) . A o c o n tr á r io d is s o , “p e r m a n e c e ­
m o s f ir m e s c o n tr a o in im ig o ” ( 6 .1 1 ) , d e ­
fen d em o s n o ss o terren o (6 .1 3 ) e co n tin u am o s 
“fu m es” (6 .1 4 ). D e v e m o s m an ter u m a p o sição 
f ir m e , “n o á p ic e d a m o n ta n h a . , . e o in im i­
g o d e v e s e c a n s a r e m s e u c o n s ta n te a ta ­
q u e d irigido a o a lto” (Tu m er, 1243). A p o s iç ã o 
firm e q u e P a u lo te m e m m e n te é q u e estam os 
s e n ta d o s a o la d o d e C risto n o re in o ce le stia l 
( 1 .2 0 ; 2 .6 ) , o n d e C risto e s tá c o lo c a d o m u ito 
a c im a d e “p rin c ip a d o , e p o d e r, e p o te s ta d e , 
e d o m ín io ” ( 1 .2 1 ) , t e n d o s u je ita d o “to d a s 
a s c o is a s a s e u s p é s ” ( 1 .2 2 ) . A v itó r ia d o 
c r e n te já fo i a ss e g u ra d a p e lo p ró p r io C risto , 
a tra v é s d e s u a m o r te n a c ru z , e d e v e m o s 
n o s a p o ia r n e s s a v itó r ia .
N a c ru z , J e s u s tr a v o u a b a ta lh a c r u c ia l 
c o n tr a S a ta n á s : “E , d e s p o ja n d o o s p r in ­
c ip a d o s e p o te s ta d e s , o s e x p ô s p u b l ic a ­
m e n te e d e le s tr iu n fo u e m si m e s m o ” (C l 
2 .1 5 ; cf. M t 1 2 .2 9 ; Lc 1 0 .1 8 ;J o 1 2 .3 1 ; 1 9 .3 0 ) . 
D e s sa fo rm a , “O D ia D ” a c o n te c e u n a m o rte 
e r e s s u r r e iç ã o d e je s u s , m o m e n to e m q u e 
D e u s f in c o u s u a b a n d e ir a n a te r r a s o b a 
fo r m a d e u m a c ru z . O in im ig o s o fr e u u m 
g o lp e fa ta l e a v itó r ia fo i g a r a n tid a , p o ­
r é m , a g u e r r a n ã o t e r m in o u . A v i tó r ia 
c o m p le ta , “O D ia V ”, a in d a e s tá p o r c h e ­
g a r q u a n d o C r is to r e to r n a r à te r ra . N e s s e 
ín te r im e x is t e u m “d ia d o p e c a d o ” e d e ­
v e m o s d e fe n d e r n o s s a p o s iç ã o q u e fo i 
c o n q u is ta d a p o r J e s u s C r is to .
C o m o b o n s s o ld a d o s d e C r is to , d e v e ­
m o s s u p o r ta r o s s o fr im e n to s (2 T m 2 .3 ) , 
so fre r p e lo E v a n g e lh o (M t 5 .1 0 -1 2 ; R m 8 .1 7 ;
2 C o 1 1 .2 3 ; 2 T m 1 .8 ) , c o m b a te r o b o m 
c o m b a te p e la fé (1 T m 6 .1 2 ; 2 T m 4 .7 ) , 
tra v a r a g u e r r a ( 2 C o 1 0 .3 ) , p e r s e v e r a r (E f
6 .1 8 ) , s e r m a is q u e v e n c e d o r e s (R m 8 .3 7 ) , 
s e r v i to r io s o s (1 C o 1 5 .5 7 ) , tr iu n fa r ( 2 C o 
2 .1 4 ) , d e fe n d e r o e v a n g e lh o (F p 1 .1 6 ) , - 
c o m b a te r p e la fé (F p 1 .2 7 ; J d 3 ) , n ã o t e ­
m e r o s o p o n e n t e s (F p 1 .2 8 ) , n o s r e v e s t ir 
d e to d a a a r m a d u r a d e D e u s ( E f 6 .1 1 ,1 3 ) , 
e s ta r f ir m e s (v . 1 4 ) , d e s tr u ir c o m a v e r d a ­
d e o s b a lu a r te s d e fa ls id a d e d e S a ta n á s 
(2 C o 1 0 .4 ) , le v a r ca tiv o to d o e n te n d im e n to 
à o b e d iê n c ia d e C r is to (2 C o 1 0 .5 ) , e s e r 
p o d e r o s o s n a b a ta lh a (H b 1 1 .3 4 ) .
9.1 . Nosso Aliado — Deus 
(6.10-1 la)
“O S e n h o r ” n o s s o D e u s é u m a l ia d o 
o n ip o te n te . E m b o ra n o s s o in im ig o s e ja u m 
g r a n d e a n t a g o n is t a , n ã o é o n ip o t e n t e , 
o n ip re s e n te n e m o n isc ie n te . S o m e n te D e u s 
é u m s e r in f in ito ; S a ta n á s é f in ito . E n tr e ­
ta n to , é u m in im ig o r e a l e p o d e r o s o , q u e 
“a n d a e m d e r r e d o r b r a m a n d o c o m o le ã o , 
b u s c a n d o a q u e m p o s s a t r a g a r ” (1 P e 5 .8 ) 
e , s e t e n ta r m o s c o m b a tê - lo c o m n o s s a s 
p r ó p r ia s fo r ç a s e r e c u r s o s , s e r e m o s v e n ­
c id o s . P a u lo n o s e x o r ta a e n c o n tr a r n o s ­
sa fo r ç a n o S e n h o r e n a fo r ç a d o s e u p o d e r 
( c f . 6 .1 0 ; 1 .1 9 ,2 0 ; 3 . 1 6 - 2 1 ) .
O v e r b o “fo r t a le c e i -v o s ” e s tá n o p a s ­
s iv o d o im p e ra tiv o p re s e n te e s ig n ifica “se ja
1264
EFÉSIO S 6
f o r t a le c id o ” o u “s e ja c a p a c i t a d o ”. U m a 
in te r p r e ta ç ã o m a is l ite r a l d e 6 .1 0 é “S e ja 
c a p a c i t a d o p e lo S e n h o r e p e lo p o d e r d e 
s u a f o r ç a ” ( c f . 3 -1 6 ) . N e s s e c o m b a te s e ­
ria n ã o s ó t o lo c o m o p e r ig o s o te n ta r s e r 
fo r te c o m o a p o io a p e n a s d e n o s s a a u to ­
c o n f ia n ç a . A o in v é s d a a u to -s u f ic iê n c ia , 
P a u lo e x o r ta o s c r e n t e s a f o r ta le c e r e m - 
se so b re n a tu ra lm e n te n a fo rç a d o se u p o d e r 
(c f . Sl 1 8 .1 ,3 1 ,3 2 ,3 9 ) .
U m se g u n d o im p era tiv o o c o rre e m 6 .1 la : 
“R e v e s ti-v o s d e to d a a a rm a d u ra d e D e u s ”. 
P a ra q u e o s c r e n te s p r e v a le ç a m d ia n te d o s 
a ta q u e s d e S a ta n á s , n e c e s s i ta m n ã o s ó d o 
p o d e r d e D e u s , m a s ta m b é m d e su a a rm a ­
d u ra . E ssa a rm a d u ra p e r te n c e a D e u s , n ã o 
s o m e n te n o s e n t id o d e q u e D e u s n o - la d á , 
m a s é ta m b é m a a rm a d u ra v e s t id a p e lo 
p ró p rio M essias (Is 11 .4 ,5 ) e p o r je o v á (5 9 .1 7 ). 
A s p a lav ras d e P a u lo d e ix a m c la ro q u e D e u s 
fo r n e c e a a rm a d u ra , p o r é m c a b e a n ó s a 
re s p o n s a b ilid a d e d e n o s re v e s t ir m o s d e la . 
N ã o “r e n a s c e m o s ” c o m e la . D e v e m o s n o s 
r e v e s t ir e v iv e r d e n tr o d e la , e n u n c a n o s 
d e s a r m a r m o s s o b a i lu s ã o d e q u e a s h o s ­
til id a d e s d im in u íra m o u c e s s a r a m .
9-2. Nosso Inimigo— Satanás 
e suas Forças (6.11b, 12)
P a u lo a d m o e s ta s e u s le ito r e s a e s ta r e m 
f ir m e s , o u s e ja , d e v e m a d o ta r u m a p o s i ­
ç ã o d e fin id a “c o n tr a a s a s tu ta s c i la d a s d o 
d ia b o ”. F a z e r u m a a v a lia ç ã o a d e q u a d a d o 
in im ig o é u m a c o n d iç ã o c r u c ia l e m u m a 
g u e r ra . E s u b e s t im a r n o s s o in im ig o e s p i ­
ritual p o d e le v a r-n o s a n e g lig e n c ia r o p o d e r 
d e D e u s e s u a a rm a d u r a , q u e s ã o o s s u ­
p r im e n t o s n e c e s s á r io s a e s t e c o m b a t e 
e s p ir itu a l. “C ila d a s ” s e r e f e r e m a o s m é ­
to d o s a s tu c io s o s q u e o D ia b o u s a c o n tr a 
o s c r e n t e s e a Ig r e ja . A lg u m a s d e s u a s 
e s t r a té g ia s s ã o a t e n ta ç ã o , a a c u s a ç ã o , a 
in t im id a ç ã o , a d e c e p ç ã o e a d iv isã o . J á fo i 
m e n c io n a d o o p la n o d e S a ta n á s ( 4 .2 7 ) d e 
“s e a p r o v e i ta r d e r e la ç õ e s e s t r e m e c id a s 
e d e s e n t im e n to s d e ira e n tr e o s c r e n te s , 
a f im d e p r e ju d ic a r s e u b e m - e s t a r e s e u 
t e s te m u n h o p e s s o a l o u c o le t iv o ” ( B r u c e , 
1 9 8 4 ,4 0 4 ) . P a u lo ta m b é m e x o r ta o s c re n te s 
a n ã o ig n o r a r e m a s a r t im a n h a s d e S a ta ­
n á s , p a r a q u e n ã o le v e v a n ta g e m s o b r e
e le s ( 2 C o 2 .1 1 ) . P o r e s s e m o t iv o o s c r e n ­
te s d e v e m s e r e s p ir itu a lm e n te c a p a c i t a ­
d o s e e q u ip a d o s p a r a q u e p o s s a m “e s ta r 
f ir m e s ” c o n tr a ta is c i la d a s .
O v e rs o 12re v e la c la ra m e n te q u e n o s s o s 
v e r d a d e ir o s in im ig o s n a v id a n ã o s ã o 
h u m a n o s , p o r é m e s p ír i to s m a lig n o s s u ­
je i to s a o d e m ô n io (c f . 2 .2 ; 6 .1 1 ) . A p a la ­
v ra “lu ta r ” s ig n if ic a u m e n c o n tr o c o r p o a 
c o r p o , o u u m c o m b a te f a c e a f a c e , e e ra 
e m p r e g a d a p a r a fa z e r a lu s ã o à s lu ta s r o ­
m a n a s (c f . K JV , N K JV ). E m b o r a a s lu ta s 
r o m a n a s e m “c a r n e e s a n g u e ” f o s s e m u m 
e s p o r te m u ito c o m u m e m É fe s o e n a p r o ­
v ín c ia d a Á s ia , a Ig r e ja e s tá c o m p r o m e t i ­
d a c o m u m e n c o n tr o d e “fo r ç a s e s p ir itu ­
a is ” d e d im e n s õ e s c ó s m ic a s , q u e to r n a m 
n e c e s s á r ia s a arm a d u ra e a s a rm a s d e D eu s.
T r ê s a s p e c to s c a r a c te r iz a m o s e s p ír i ­
to s d e m o n ía c o s q u e p e le ja m c o n tra a Igreja : 
s ã o p o d e r o s o s ( c o m d ife r e n te s in f lu ê n ­
c ia s e c a te g o r ia s ) , m a lig n o s (o d e ia m a lu z 
e h a b ita m a s t r e v a s d o p e c a d o e d a fa ls i­
d a d e ), e a s tu c io so s (co n sp ira d o re s d e fa lsas 
a r t im a n h a s ) (v e ja S to tt, 2 6 3 -6 6 ) . E sta h o s te 
d e e s p ír i to s m a lig n o s p o d e r o s o s é a p a ­
r e n te m e n te c o m p o s ta p o r s e r e s a n g e lic a is 
d e c a íd o s (c f. J d 6 ; A p 1 2 .4 ) , s o b o c o m a n d o 
d e S a ta n á s (c f . J o 1 2 .3 1 ; 1 4 .3 0 ; 1 6 .1 1 ; A p 
1 2 .7 ) c o m o o d e u s d e s te s é c u lo (2 C o 4 .4 ;
1 J o 5 .1 9 ) . J u n ta m e n t e c o m S a ta n á s , o p e ­
r a m n o s ím p io s ( E f 2 .2 ) , q u e s e o p õ e m à 
v o n ta d e d e D e u s e a se u p o v o (D n 1 0 .1 2 ,1 3 ; 
M t 1 3 - 3 8 ,3 9 ) e p r o c u r a m a ta c a r o s c r e n ­
te s e m n o s s o s d ia s (c f . 1 P e 5 .8 ; ta m b é m 
J ó 1 .1 ,2 ) . F o r m a m u m a g r a n d e m u ltid ã o 
(A p 1 2 .4 , 7 ) e s ã o d e s ig n a d o s p a r a d ife ­
r e n te s p o s iç õ e s d e c a te g o r ia e a u to r id a ­
d e n o r e in o d a s tre v a s ( E f 6 .1 2 ) .
P a u lo m e n c io n a a e x is t ê n c ia d e q u a ­
tro c a te g o r ia s e n tr e a s h o s t e s d e S a ta n á s , 
q u e g o v e rn a m a s trev a s e o p õ e m -s e a to d o s 
o s c r e n t e s e à Ig r e ja :
1) “P rin cip ad o s” ( archai) sã o esp íritos m a­
lig n os p o d ero so s qu e m antêm o s “territó­
rios q u e lh es foram co n fia d o s” (T h ay er). 
D ellingescreve(7D A ^ 1.479): “Arche sempre 
significa ‘primazia’, ou, referindo-se ao tempo: 
‘c o m e ç o ’... ou , re ferin d o -se à ca teg oria ; 
‘p o d e r’, ‘d o m ín io ’ ou ‘o f íc io ’”. Talvez s e ­
jam aqui governantes regionais das diversas 
categ orias d em o n íacas, tais c o m o “o [es-
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EFÉSIO S 6
pírito] p rín c ip e da P érsia” e “o [espírito] 
príncipe da G récia” em D aniel 10 .12 ,13 ,20 .
2) “P o te s ta d e s ” ( exousiai) p o d e se referir 
àq u eles esp íritos m aligno s p o d ero so s qu e 
receberam autoridade de Satanás para presidir 
so b re tod as as estru tu ras p e ca d o ra s do 
m undo.
3) “P r ín c ip e s d as tre v a s” ( kosmokratoroi) 
s ig n ifica , lite ra lm en te , “g o v e rn a n te s do 
m u n d o” q u e , ao lad o d e Satanás, g ov er­
nam so b re a atual ord em m undial, orga­
nizada em re b e liã o co ntra D eu s.
4 ) “H ostes espirituais da m ald ade” p od e co m ­
p re e n d e r to d o s o s p o d e ro s o s esp írito s 
m alignos (Lincoln, 444), ou se referir às vastas 
h o stes d e d em ô n ios de categ oria in ferior 
que servem aos propósitos iníquos de Satanás 
para a d estru ição geral, e para m anter os 
h o m en s em escrav id ão .
P a u lo u s a , e m E fé s io s , c in c o v e z e s a 
e x p re ssã o “n o s lugares ce lestia is”. E la sem p re 
e s tá lig a d a à e s fe r a e s p ir itu a l in v is ív e l, e m 
c o n tr a s te c o m a v is ív e l d im e n s ã o m a te r i­
a l d a v id a ( v e ja c o m e n tá r io s s o b r e 1 .3 ) . 
O N o v o T e s ta m e n to s u g e r e s e is e s tá g io s 
p a r a o d e s d o b r a m e n to d o d ra m a d e S a ­
tan ás e d e su a h o ste d e m o n ía ca : “su a cr ia çã o 
original, su a q u e d a su b se q ü e n te , su a d ecisiva 
co n q u ista p o r Cristo, seu ap ren d izad o através 
d a Ig r e ja [3 .1 0 ], s u a p e r m a n e n t e h o s t i li ­
d a d e e s u a d e s t r u iç ã o f in a l” (S to t t , 2 7 3 )-
93■ Nossas Armas— Toda a 
Armadura de Deus 
( 6.13-20)
9.3.1. AArmadura(6.13-17). N o V erso 
6 .1 3 , P a u lo r e p e te a e x o r ta ç ã o p re v ia m e n te 
e n u n c ia d a e m 6 .1 1 ( “P o r ta n to , to m a i to d a 
a a rm a d u ra d e D e u s ”) — d e s ta v e z , e m 
v is ta d e 6 .1 2 , is to é , d a s h o s t e s d e S a ta ­
n á s q u e e s tã o e n v o lv id a s n a g u e r ra e s p i ­
r itu a l. U m a p a la v r a d ife r e n te p a r a “v e s ­
tir” Qanalabete) fo i u sa d a a q u i, e m b o r a e m 
6 .1 1 te n h a s id o u tilizad o o te rm o endysasthe 
(sig n ifican d o “estar v estid o c o m ”). Analabete 
s ig n if ic a “t o m a r ” d e m o d o r e s o lu to p a r a 
q u e , m e s m o d e b a ix o d o a ta q u e m a is ri­
g o r o s o , o c r e n te p o s s a r e s is tir a o in im i­
g o e “e s ta r f ir m e ” e m s u a p o s iç ã o .
P a u lo , p o r t rê s v e z e s , e x o r ta o s c r e n ­
te s a “e s ta r e m f ir m e s ” ( 6 .1 1 ,1 3 ,1 4 ) . C o m
is s o , q u e r d iz e r q u e o s c r e n t e s e a Ig r e ja 
d e v e m p e r m a n e c e r c o n s ta n te s e in a b a ­
lá v e is , “e s ta n d o f ir m e s ” q u a n d o a b a t a ­
lh a e s p ir itu a l fo r in te n s a , s u s te n ta n d o su a 
p o s iç ã o q u a n d o o c o n f li to e s t iv e r s e a p r o ­
x im a n d o d e s e u f in a l, s e m s e r e m “d e s lo ­
c a d o s o u a b a t id o s , p o r é m m a n te n d o -s e 
f im ie s e v itoriosos e m s e u s p o sto s” (Salm o nd , 
3 - 3 8 5 ) . O b s e r v e q u e d ife r e n te s a s p e c to s 
d e “e s ta r f ir m e s ” s ã o e n fa t iz a d o s d u r a n te 
a p a s s a g e m ( 6 .1 0 - 2 0 ) . D e v e m o s “e s ta r 
f ir m e s ” ( 6 .1 4 a ) , n a fo rç a d o p o d e r d e C risto
( 6 .1 0 ) , c o n tr a a s c i la d a s d o D ia b o ( 6 .1 1 ) , 
c o m n o s s a a rm a d u ra f ir m e m e n te c o lo c a d a 
( 6 . 1 1 a ,1 3 a ) e e m o r a ç ã o ( 6 .1 8 - 2 0 ) .
A f r a s e “P a r a q u e p o s s a is r e s is t i r n o 
d ia m a u ” se re fe re à q u e le s m o m e n to s q u a n ­
d o o a s s a lto d o in im ig o é m a is fo r te c o n tra 
n ó s . A te n s ã o n o s ú lt im o s d ia s d o “já , m a s 
a in d a n ã o ” o p e r a d u r a n te t o d o o p e r ío ­
d o e n t r e a P r im e ir a e a S e g u n d a V in d a 
d e C r is to , e m b o r a s e ja m a is e v id e n te d u ­
r a n te o s m o m e n t o s e m q u e “m a is p a r t i ­
lh a m d a te r r ív e l s e n s a ç ã o ‘d o ú lt im o d ia ’” 
(T u r n e r , 1 2 4 3 ) .
E m 6 .1 4 - 1 7 , P a u lo fa z u m a d e s c r i ç ã o 
d a s v á r ia s p a r te s d a a rm a d u ra v e s tid a p e lo 
s o ld a d o r o m a n o e , e m s e g u id a , m o s tr a 
su a a p lic a ç ã o esp ir itu a l (c f. Is 1 1 .4 ,5 ; 5 9 -1 7 ). 
O b s e r v e q u e s u a s m e t á f o r a s n ã o s ã o 
e m p r e g a d a s d e fo r m a r íg id a ( p o r e x e m ­
p lo , e m 1 T s 5 .8 , a c o u r a ç a é a fé e o a m

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