Buscar

A querela entre Simon Schwartzman e Richard Morse

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Gabriel Bruck Machado
A querela entre Simon Schwartzman e Richard Morse
Pensamento Político Brasileiro
Prof Eduardo Raposo
 Rio de Janeiro, 2021
A querela entre Simon Schwartzman e Richard Morse
O trabalho tem como objetivo elucidar os motivos pelos quais Richard Morse e Simon Schwartzman discordam sobre a interpretação da América Latina. A fim de facilitar a construção do ambiente dessa discussão o texto será dividido em três partes: 1º a biografia de Richard Morse e a conjuntura global, 2º O Espelho de Próspero: introdução ao pensamento de Morse e a 3° as críticas feitas por Simon à Morse.
Biografia de Richard Morse e a publicação do O espelho de Próspero:
Richard McGee Morse nasceu nos Estados Unidos em 1922, historiador e ex-professor de História das universidades de Yale e Stanford, defendeu doutorado no final da década de 1940 sobre a cidade de São Paulo com a tese Formação Histórica de São Paulo.Nos anos 1980 tornou-se conhecido e polêmico no Brasil e em alguns países ibero-americanos como México e Argentina, pela publicação de O espelho de Próspero (referência a peça de shakespeare a Tempestade) , um estudo sobre a dialética do Novo Mundo, traduzido pioneiramente para o espanhol em 1982, e para o português em 1988, e ainda hoje, inédito em inglês
. 
O contexto no qual o autor está inserido é o da guerra fria (comunismo x capitalismo) , da constante afirmação dos Estados Unidos como potência: detentora de uma sociedade mais plural, economia mais forte, liberalismo, democracia. Em contrapartida, a América Latina vivia governos autoritários, como no Brasil com a ditadura militar. Diferente dos acadêmicos norte americanos, Richard Morse propõe uma releitura sobre a Ibero-América mostrando que Anglo-América tem muito a aprender com seu irmão do sul. 
O Espelho de Próspero: introdução ao pensamento de Morse
“Próspero se torna no meu ensaio os prósperos Estados Unidos resguardando me tanto quanto possível do tom recriminatório que domina o diálogo norte-sul de ambos os lados pretendo considerar as Américas do Sul não como vítima paciente ou problema mas como uma imagem especular na qual a Anglo América poderá reconhecer as suas próprias enfermidades e os seus problemas. É sabido que um espelho dá uma imagem invertida. Embora as Américas do norte e do Sul se alimentam de fontes da civilização ocidental que são familiares a ambas, seus legados específicos correspondem a um anverso e um reverso. Assim a metáfora do espelho parece-me apropriada ao caso. Em suas vidas domésticas os seres humanos aceitam rotineiramente a inversão do espelho quando fazem barba sem se cortar ou aplicar cosméticos sem deixar manchas em sua vida nacional coletiva porém sentem mais dificuldade de realizar a transposição. Há dois séculos um espelho norte-americano tem sido mostrado agressivamente ao sul como consequências inquietantes. Talvez seja a hora de virar esse espelho.” ( MORSE, Richard. O Espelho de Próspero: Cultura e ideia nas Américas. São Paulo: Cia. das Letras,
1988)
A dinâmica dos espelhos proposta por Richard Morse é que estamos acostumados com uma imagem refletida, mas essa imagem não é necessariamente real. Por muito tempo foi imposta a ideia de que os Estados Unidos seriam a sociedade modelo, superior em valores e por consequência a América latina o lugar atrasado. Essa visão etnocêntrica do mundo deve ser combatida, devemos olhar a América do Sul como portadora de história e de ensinamentos cabíveis para enfrentar os problemas que afligem a sociedade moderna. Por isso devemos revirar o espelho.
Em “O espelho de Próspero", Morse se preocupou em recriar desde a origem a mentalidade na qual foram formadas as colônias na América. Para isso, utilizou-se da perspectiva cultural mostrando os principais pontos de divergência entre as “escolhas políticas” da península ibérica e do Reino Unido e como essas estruturas foram transplantadas para suas respectivas colônias. A partir de seus estudos optou por não utilizar o termo américa latina o substituindo para Ibero-América. A origem do termo América latina remonta a época de Napoleão III e sua legitimação sobre o continente, portanto artificial
A península Ibérica não sofreu fortes influências da Reforma Protestante, Renascimento, Revolução Científica e da Revolução Industrial. As universidades, por exemplo, não foram anticlericais, o pensamento que predominou foi o tomismo ( baseado em Tomás de Aquino). Essa estrutura possibilitou a permanência de uma autoridade política baseada na tradição e na doutrina. A contra reforma teve grande importância, fortalecendo a visão de união entre Estado e Igreja. A partir disso, uma cosmovisão na qual prevalece o interesse da comunidade sobre o indivíduo foi construída. 
Já no caso da Inglaterra as quatro revoluções influenciaram diretamente os campos da ciência, religião, comercial e política. A partir disso, foi fundado um Estado baseado na liberdade, na eficiência e na igualdade original dos homens. A prevalência desses valores constituiu uma sociedade voltada ao indivíduo tendo como produto o egoísmo, produção de massa, razão instrumentalizada, alienação.
Críticas feitas por Simon à Morse
 “...trata de um livro profundamente equivocado e potencialmente danoso em suas implicações” 
No artigo Espelho de Morse, Simon Schwartzman tece duras críticas sobre a visão da América Latina (Ibero-América) de Richard Morse. Há para Simon uma idealização sobre a “escolha política” hispânica, ao ressaltar aspectos positivos na relação Estado vinculado à Igreja com portadores de uma ética que se sobressai aos indivíduos. No entanto, é esquecido que durante o período colonial ocorreram muitas tensões na estrutura Estado-Igreja como a expulsão dos Jesuítas .Ao invés de criar uma ética comunitária, a apropriação do cristianismo pelo governo serviu como forma de controle e imposição. Ao ser usada como instrumento de legitimação a religião não desenvolveu sua potencialidade ética. 
Outro problema do Espelho de Próspero seria a retomada de elementos autoritários que acabam por ser passados como qualidades. Os horrores provocados por regimes totalitários no américa são motivo de tensão entre os autores. Segundo Morse, seu objetivo com o texto é de criar uma análise estrutural sobre as mentalidades e não uma perspectiva conjuntural.
A redescoberta da cultura ao questionar o domínio ocidental é uma importante contribuição de Morse , mas é preciso atentar-se ao “etnocentrismo às avessas” . Começa como a aceitação da diferença, mas ao perceber que na América do Sul há a intenção de se modernizar, construir democracias são rechaçados por não fazer parte da sua cultura latino americana. “( só são bons os índios os que não tentam imitar os brancos)”.
“Morse se espanta por eu dizer que alguns países são mais atrasados do que outros. E no entanto, não é difícil definir o que seja um país ou uma região “atrasada”: é onde as pessoas passam fome e morrem prematuramente, onde não existem sistemas educacionais minimamente satisfatórios, onde os governos não funcionam com mínimo de competência, onde os direitos humanos não têm vigência” - SCHWARTZMAN, Simon. A redescoberta da cultura. São Paulo: EDUSP, 1997.
O lado nocivo da obra o espelho de próspero é a criação de uma ideia que está tudo bem, mesmo diante do problema temos a solução.Schwartzman acredita que o texto de morse é um reflexo das angústias da sociedade norte-americana, como o individualismo, nessa posição procuram na américa do sul a sua redenção.
Conclusão:
O ponto de vista de um estrangeiro, norte americano em confronto com a posição de autores brasileiros mostram diferentes formas de interpretar a realidade social. Richard Morse em O Espelho de Próspero preocupou-se em criar uma imagem de América latina detentora de sua própria história e também de ensinamentos.Por conhecer a realidade dos Estados Unidos pode perceber as mazelas de uma sociedade cada vez mais instrumentalizada,voltada para si. No entanto, sua proposição enfrentou muita resistência e críticas por de certa forma romantizar a realidade do sul, diminuir problemas que tiveram muito impacto como governos totalitários.
Referências bibliográficas:
MORSE, Richard. O Espelho de Próspero: Cultura e ideia nas Américas. São Paulo: Cia. das Letras,1988
SCHWARTZMAN, Simon. A redescoberta da cultura. São Paulo: EDUSP, 1997.
MEDINA ZAGNI, Rodrigo. ENTRE ARIEL E CALIBÃ: RICHARD MORSE E A DEFINIÇÃO DO “OBJETO AMÉRICA LATINA”. 2015

Outros materiais