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1 JARDILSON SILVA FERREIRA A UTILIZAÇÃO DO GOOGLE EARTH NO ENSINO DE GEOGRAFIA Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado à Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Campus Clóvis Moura, como requisito parcial para a obtenção do título de licenciado em Geografia. Orientador: Prof. Msc. Antônio Eusébio de Sousa. TERESINA-PI 2013 2 JARDILSON SILVA FERREIRA A UTILIZAÇÃO DO GOOGLE EARTH NO ENSINO DE GEOGRAFIA Aprovado em ____/____/____ BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ Prof. Msc. Antônio Eusébio de Sousa (Presidente) Mestre em Geografia Universidade Estadual do Piauí _________________________________________________________ Prof. Francisco Gomes Ribeiro Filho (Membro) Mestre em Geografia Universidade Estadual do Piauí _________________________________________________________ Prof. Carlos Rerisson da Costa (Membro) Mestre em Geografia Universidade Estadual do Piauí TERESINA-PI 2013 3 Dedico este trabalho à minha avó, Maria do Socorro Aragão Silva (in memoriam), que se dedicou e sempre quis o melhor para este seu neto. 4 AGRADECIMENTOS Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por estar presente em todos os momentos de minha vida. In memoriam, à minha avó, Maria do Socorro, que mesmo não estando materialmente jamais deixará de fazer parte dos meus pensamentos, como também da minha vida. Ao meu avô, Antônio Pereira, pelos seus incentivos e conselhos que me proporcionaram amadurecer e crescer como pessoa. Á minha mãe, Dinar, que ao longo da minha vida me incentivou e me apoiou nas minhas escolhas (particularmente em relação ao curso de Geografia). Á minha outra mãe, Edileusa, por estar presente em todos os momentos da minha vida, a quem devo muita gratidão. Ao meu pai, José Vicente, pela força que me deu ao longo da minha vida. Aos meus tios, Thiara e Thiago, pelo apoio e incentivo. Ao meu amigo companheiro, Francisco Carlos Lima da Cunha, que me acompanha desde o ensino fundamental, demonstrando uma amizade verdadeira. Ao professor Especialista Libonato de Carvalho Rocha, pela amizade, pela confiança e pelo gesto de carinho e ajuda durante meus estudos (na educação básica). Aos professores e amigos, Ariosto Martins e Igo Thiago, pelo gesto carinhoso que tiveram por mim. Ao professor Mestre Francisco Gomes Ribeiro Filho, a quem devo muita gratidão pelas sugestões e críticas construtivas que me proporcionaram enriquecer o presente trabalho. Ao professor Mestre e orientador Antônio Eusébio de Sousa, que colaborou de forma decisiva na construção e conclusão deste trabalho. Á professora Especialista Francisca Alene do Nascimento Silva, a quem sou muito grato pelas diversas formas de ajuda e principalmente pela amizade. Uma pessoa especial para mim! Á Professora Especialista Rosana Marques de Sousa Pimentel, pela amizade, pelo incentivo e pelas dicas para que os objetivos do presente trabalho fossem alcançados. Aos meus alunos do 1° ano A e B do Colégio Copérnico, pelo incentivo e por terem me propiciado a reflexão da importância da docência. Ao núcleo gestor da Unidade Escolar Modestina Bezerra, em especial à diretora Josinete Silva Cruz, pela amizade e por me ajudar no período de estágio supervisionado. Muito obrigado! Aos alunos, professores, coordenadores e gestores do CEFTI- Professor Milton Aguiar, pela atenção e auxílio na concretização do presente estudo. A todos, que de forma direta e indiretamente, contribuíram para a concretização desta pesquisa. 5 “O mundo é uma escola, nós somos os alunos, a vida é uma sala de aula e cada dia é uma matéria a ser aprendida”. (Oliverique) 6 RESUMO O presente estudo representa uma análise acerca da utilização do Google Earth no ensino de geografia. Definimos como objetivo geral para esta investigação: analisar as vantagens e as limitações da inserção do Google Earth como instrumento de ensino e aprendizagem relacionado à geografia no ensino fundamental. Como objetivos específicos, buscamos: caracterizar o processo de inserção das Novas Tecnologias de Informação e comunicação (NTIC’S) no ensino de geografia das escolas brasileiras; descrever vantagens e limitações da inserção dessas tecnologias no ensino de Geografia das escolas públicas em Teresina; e, finalmente, identificar a importância atribuída pelos professores e alunos à inserção do Google Earth como mecanismo favorecedor do ensino e da aprendizagem da Geografia pelo Centro de Ensino Fundamental de Tempo Integral (CEFTI) Professor Milton Aguiar. Realizamos aqui, desse modo, um estudo de caso, servindo-nos do ambiente de trabalho representado pelo CEFTI Professor Milton Aguiar, localizado no bairro Dirceu Arcoverde II, em Teresina-PI. As turmas utilizadas como amostra foram representadas por turmas do ensino fundamental da referida escola, sendo que, de um total de oito turmas, selecionamos, aleatoriamente, quatro delas para a nossa pesquisa, de tal modo que o número total de alunos investigados correspondeu a 100 e ao professor das referidas turmas. No que diz respeito ao referencial teórico consultado a respeito do tema, apoiamo-nos, entre outros, em teóricos como Canto (2009), Ely (2009), Facincani (2011), Joly (2007), Morran (2000), Pontuschka (2009), Ramos (2005). O modelo de pesquisa que tomamos como referência apresenta caráter quali-quantitativo. O método de pesquisa adotado foi o materialismo histórico e dialético. Esta pesquisa foi dividida em três etapas. A primeira etapa foi representada pela pesquisa bibliográfica, a partir da qual buscamos fundamentação teórica capaz de amparar as análises relacionadas ao problema que motivou esta investigação. A segunda etapa implicou na realização da pesquisa de campo, procedendo-se à aplicação de questionários junto aos alunos e ao professor das turmas. Nessa etapa realizamos também uma entrevista direcionada ao diretor adjunto e outra ao coordenador pedagógico, com o objetivo de compreender suas concepções a respeito da temática do estudo em questão. Na pesquisa de campo ministramos também uma aula aos alunos de cada turma. Nessa aula, o principal recurso pedagógico utilizado foi representado pelo Google Earth. Após a aula, com o objetivo de conhecermos as reações dos alunos acerca da lida com o Google Earth, realizamos uma atividade escrita, que havia sido previamente construída. A terceira etapa desta pesquisa foi definida pela organização, tabulação e análise dos dados primários obtidos por meio da pesquisa de campo, o que nos possibilitou a estruturação deste relatório, resultante das relações que construímos entre a bibliografia utilizada e os dados primários colhidos na escola objeto da nossa investigação. Os achados desta pesquisa nos mostraram que o Google Earth é de fato uma ótima ferramenta para o ensino e o aprendizado de Geografia. No entanto, verificamos que o seu uso esbarra em vários empecilhos, tais como: a falta de preparo do professor, com vistas ao uso de ferramentas da computação, a aparente falta de vontade dos mesmos em inserir a tecnologia no ensino e, como usuais justificativas para essa situação, a falta de equipamentos pedagógicos na escola (internet, computadores etc.). PALAVRAS-CHAVE: Geografia, Ensino e Aprendizagem, Google Earth. 7 ABSTRACT The present study is an analysis on the use of Google Earth in geography teaching. We define the general objective for this research: to analyze the advantages and limitations of the insertion of Google Earth as a teaching and learning related to geographyin elementary school. Specific objectives we seek: to characterize the process of inserting the New Technologies of Information and Communication (NITC's) in teaching Geography of Brazilian schools; describe advantages and limitations of the insertion of these technologies in the teaching of geography in public schools in Teresina, and finally identify the importance attributed by the teachers and students to the insertion of Google Earth as a mechanism which facilitates the teaching and learning of geography in the Center Elementary School Full Time (CEFTI) teacher Milton Aguiar. Conducted here, thus a case study, using the work environment represented by the Center Elementary School Full Time (CEFTI) Teacher Milton Aguiar, located in the neighborhood Dirceu Arcoverde II in Teresina-PI. Classes used as sample were represented by classes of elementary school of that school, and, a total of eight groups, selected at random, four of them for our research, so that the total number of students surveyed corresponded to 115 and the teacher of these classes. Regarding the theoretical consulted on the subject, we rely, among others, in theoretical as Corner (2009), Ely (2009), Facincani (2011), Joly (2007), Morran (2000), Pontuschka (2009), Ramos (2005). The research model we control presents qualitative and quantitative character. The research method was dialectical and historical materialism. This research was divided into three stages. The first step was represented by the literature, from which we seek theoretical foundation capable of supporting the analyzes related to the problem that motivated this research. The second step involved in conducting field research, proceeding to the questionnaires to the students and the teacher of the class. At this stage we also do an interview directed to the Deputy Director and other pedagogical coordinator, in order to understand their views on the theme of the study. In the field research also ministered a lecture to students in each class. In this class, the main teaching resource used was represented by Google Earth. After class, in order to know the reactions of the students about dealing with Google Earth, we conducted a writing activity, which had been previously built. The third stage of this research was defined by the organization, tabulation and analysis of primary data obtained through field research, which enabled us to structure this report, resulting from the relationships we build between the bibliography used and the data collected in primary school object of our research. The findings of this research showed us that Google Earth is indeed a great tool for teaching and learning of geography. However, we found that its use was hampered by several obstacles, such as lack of teacher preparation, with a view to the use of computing tools, the apparent unwillingness of the same in insert technology in teaching and as usual justifications for this situation, the lack of teaching equipment in school (internet, computers etc..). Keywords: Geography, Teaching and Learning, Google Earth. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 01 – Fachada do CEFTI – Professor Milton Aguiar ................................................ 38 Imagem 02- Fotografia da Sala de informática ...................................................................... 52 Imagem 02 - Mapa utilizado na aula com os alunos .............................................................. 53 Imagem 03 - Alunos assistindo aula com a mediação do Google Earth ................................ 54 Imagem 04 - CEFTI – Professor Milton Aguiar (Google Earth) ........................................... 54 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Coleta de Dados – resumo de coletas de dados da pesquisa ............................... 38 Quadro 2 – Resumo do esquema didático da atividade com o Google Earth ........................ 51 Quadro 3 – Depoimento de alunos acerca da aula com mediação do Google Earth .............. 56 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Faixa etária dos alunos do CEFTI – Professor Milton Aguiar .......................... 40 Gráfico 02 - Meio de comunicação mais utilizado pelos alunos para se informar ................. 40 Gráfico 03 - Recursos metodológicos utilizados pelo professor ............................................ 41 Gráfico 04 - Frequência do uso da sala de informática .......................................................... 42 Gráfico 05 - O uso do computador nas aulas de Geografia .................................................... 42 Gráfico 06 - O estimulo do professor ao uso de outros meios de informação associados ao livro ............................................................................................................................. ............ 43 Gráfico 07 - Relação da aprendizagem dos alunos com o uso das ferramentas de informação .............................................................................................................................. 44 Gráfico 08 - O conhecimento ou uso do Google Earth pelos alunos ..................................... 44 11 LISTA DE TABELAS TABELA 01 – Finalidade do uso do Google Earth ............................................................... 45 TABELA 02 – O que chamou mais atenção no uso do Google Earth ................................... 46 12 LISTA DE SIGLAS CCM - Campus Clóvis Moura CEFTI - Centro de Ensino Fundamental de Tempo Integral DVD - Disco Digital Versátil FRM - Fundação Roberto Marinho NTIC’s - Novas Tecnologias de Informação e comunicação PROINFO - Programa Nacional de Informática na Educação SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial TCC – Trabalho de Conclusão de Curso TIC’s – Tecnologias da Informação e Comunicação UESPI – Universidade Estadual do Piauí 13 LISTA DE APÊNDICES APÊNDICE A - Questionário para o aluno ........................................................................... 65 APÊNDICE B - Questionário para o professor ...................................................................... 67 APÊNDICE C – Entrevista: Diretor Adjunto ........................................................................ 69 APÊNDICE D- Entrevista: Coordenador Pedagógico ........................................................... 70 14 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 16 1 A TECNOLOGIA COMO AUXILIADORA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZADO NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO ........................................... 19 1.1 Desenvolvimento tecnológico ........................................................................................ 19 1.1.1 A tecnologia numa perspectiva histórica .................................................................. 19 1.1.2 A aplicação das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação no ensino contemporâneo ...................................................................................................................... 20 1.2 A inserção e os desafios das NTIC’s no ensino no Brasil ........................................... 23 1.2.1 Um breve histórico da inserção das NTIC’s no ensino brasileiro ............................... 23 1.2.2 Os frequentes desafios para a implementação das NTIC’s no sistema educacional brasileiro .................................................................................................................................25 2 O USO DA TECNOLOGIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA (CARTOGRAFIA) ........... 28 2.1 A evolução na confecção de mapas .............................................................................. 28 2.2 O desenvolvimento de softwares educacionais: o caso do Google Earth ....................... 31 3 A UTILIZAÇÃO DO GOOGLE EARTH COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NAS AULAS DE GEOGRAFIA: EXPERIÊNCIA COM OS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO CEFTI - PROFESSOR MILTON AGUIAR ................................................................................ 36 3.1 Percurso Metodológico .................................................................................................... 37 3.2 Descrições do ambiente de trabalho: aspectos gerais do CEFTI- Professor Milton Aguiar ..................................................................................................................................... 38 3.3 A representatividade para os alunos do uso de tecnologia no processo de ensino e aprendizagem em Geografia ................................................................................................. 39 3.4 A concepção do professor acerca da introdução da tecnologia (Google Earth) no ensino e aprendizagem de Geografia .......................................................................................... 46 3.5 A percepção do núcleo gestor do CEFTI - Milton Aguiar sobre o uso de tecnologia (Google Earth) no ensino e aprendizagem de Geografia ................................................... 47 3.6 A opinião da coordenação pedagógica acerca da introdução da tecnologia como proposta metodológica no processo de ensino e aprendizagem ...................................................... 49 15 3.7 Google Earth como mediação ao ensino de Geografia numa perspectiva avaliativa pelos alunos do ensino fundamental do CEFTI- Professor Milton Aguiar .................................. 50 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 60 APÊNDICES .......................................................................................................................... 64 16 INTRODUÇÃO A inserção da tecnologia no ensino constitui numa temática que caracteriza as novas formas de se fazer educação em pleno século XXI. Dentre as evoluções tecnológicas, a criação de hardwares e softwares sofisticados passa a se fazer presente nas mais variadas atividades do dia a dia. O uso da tecnologia na educação, como uma fonte auxiliadora e capaz de propiciar um melhor ensino e um melhor aprendizado, passa a ser motivo de reconfiguração do planejamento da escola e das ações de ensino do professor, em particular. Nesse sentido, motivados por experiências que marcaram a nossa vida acadêmica, especialmente quando nos reportamos ao uso da tecnologia computacional, percebemos que muitos alunos apresentam grandes dificuldades de se servir dessas ferramentas para, em Geografia, realizar a leitura e a interpretação de mapas. É necessário então mais reflexão acerca dessa situação de desencontro, pois a cada dia amplia-se mais a possibilidade da elaboração e concretização de um mapa a partir do uso do computador. Nessas condições, considerando-se as relações cada vez mais estreitas entre as ferramentas computacionais e o ensino de Geografia, a presente pesquisa procurou investigar algumas vantagens e alguns problemas da inserção do Google Earth nas ações de ensino dessa disciplina. O Google Earth é software caracterizado pela riqueza de detalhes na lida com as informações espaciais, podendo proporcionar a visualização de lugares que muitas vezes não nos têm sido acessíveis por nenhum outro meio. Sua riqueza varia desde a visão bidimensional até a leitura tridimensional dos espaços que por ele são representados. Conta ainda com um acervo fotográfico e de imagens em movimento relacionadas a um conjunto bem amplo de localidades representativas de todos os continentes. Assim, o uso dessa tecnologia no ensino e na aprendizagem pode proporcionar um melhor trabalho no campo da disciplina de Geografia. Nesse sentido, a problemática que norteia a presente pesquisa configura-se em um estudo que tem como objetivo analisar as vantagens e as limitações da inserção do Google Earth como instrumento de ensino e da aprendizagem da Geografia no ensino fundamental do Centro de Ensino Fundamental de Tempo Integral (CEFTI) Professor Milton Aguiar. 17 Foram definidos como objetivos específicos para o presente estudo: caracterizar o processo de inserção das Novas Tecnologias de Informação e comunicação (NTIC’S) no ensino de Geografia das escolas brasileiras; descrever as vantagens e limitações da inserção dessas tecnologias no ensino de Geografia das escolas públicas em Teresina e identificar a importância atribuída pelos professores e alunos à inserção do Google Earth como mecanismo favorecedor do ensino e aprendizagem da Geografia no CEFTI - Professor Milton Aguiar, em Teresina-PI. Diante disto, a amostra que compreendeu o universo da presente pesquisa foi representada pelos alunos, pelos professores de Geografia, pelo núcleo gestor da escola e pela coordenação pedagógica da mesma. O método de investigação científica que norteou o presente trabalho foi o materialismo histórico e dialético. Através dele procuramos não apenas observar e descrever a realidade, mas principalmente refletir acerca dos caminhos que nos permitam modificar as situações que inviabilizam o desenvolvimento do potencial de trabalho dos professores junto aos alunos em nossas escolas, particularmente em relação ao trabalho de ensino e de aprendizagem na disciplina de Geografia. A coleta de dados teve por base a aplicação de questionários aos alunos e aos professores, além de entrevistas feitas junto ao núcleo gestor e à coordenação pedagógica da escola em questão. Em um primeiro momento, aplicamos aos alunos do ensino fundamental um questionário que buscava saber a relação deles com a tecnologia, como também os modos como se dá a utilização de tecnologia pelo professor de Geografia. Numa segunda etapa, aplicamos um questionário junto ao professor, que visava identificar a concepção do mesmo acerca do uso da tecnologia, em particular o uso do Google Earth no ensino e na aprendizagem da Geografia. Noutros momentos da nossa pesquisa de campo entrevistamos o núcleo gestor e a coordenação pedagógica, dois segmentos de extrema importância para o ambiente escolar. Finalmente, como desdobramento ainda da nossa pesquisa de campo, ministramos uma aula contando com o apoio do Google Earth. Iniciamos a aula abordando os conceitos fundamentais da cartografia, de tal sorte que pudéssemos compreender, por meio desses conceitos, os elementos necessários à construção de um mapa. Foi exatamente nesse momento que nos foi possível perceber as dificuldades dos alunos no que diz respeito aos fundamentos da linguagem cartográfica e, como consequência, ao uso dela como recurso indispensável para as análises de caráter geográfico. A partir daí fizemos um experimento apoiado no uso do 18 software em questão, o que nos permitiu perceber as vantagens que ele proporciona à lida com os fundamentos da linguagem cartográfica. O itinerário deste relatório obedece ao seguinte esquema: o primeiro capítulo analisa a introdução da tecnologia no ensino e no aprendizado dos alunos da escola básica, levando em consideração a sua aplicabilidade, como também o histórico dessa relação e os empecilhos que caracterizam a sua inserção no ambiente escolar no Brasil; o segundo capitulo aborda o uso da tecnologia no ensinode Geografia, identificando as suas repercussões para o processo de construção de mapas e o desenvolvimento de softwares educacionais, como é o caso do Google Eath; e, finalmente, no terceiro capítulo, apresentamos uma análise dos resultados obtidos a partir do trabalho de campo realizado junto alunos, ao professor, ao núcleo gestor e à coordenação pedagógica da escola investigada. Por fim, apresentamos algumas considerações, como também sugestões a respeito da utilização do Google Earth no ensino de Geografia. 19 1 A TECNOLOGIA COMO AUXILIADORA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZADO NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO. 1.1 Desenvolvimento tecnológico 1.1.1 A tecnologia numa perspectiva histórica As tecnologias são um “conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se ampliam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade” (KENSKI, 2012, p.24). Assim, nos últimos tempos os avanços tecnológicos têm sido a causa de várias mudanças ocorridas na sociedade, sendo considerados como indispensáveis na atualidade, fazendo presença nos mais variados ambientes. De acordo com Llano; Adrián (2006, p. 17), Os computadores, e outras tecnologias relacionadas com as telecomunicações e a Internet, encontram-se em muitíssimos dos ambientes nos quais o ser humano está presente. Os bancos desenvolveram importantes infra-estruturas [sic] de informática para fornecer por este meio os serviços financeiros que tradicionalmente oferecem a seus clientes; os médicos, hoje mais do que nunca, utilizam a tecnologia da informação para o diagnóstico e o tratamento de seus doentes; também os religiosos, estão empregando essas tecnologias como recursos para evangelização e para construção de um mundo melhor. No entanto, desde o surgimento do homem, a ideia de tecnologia já se faz presente. Segundo Kenski (op. cit.) o ser humano, na origem da espécie, simplesmente só pôde contar com as suas capacidades naturais de seu corpo: pernas, braços, músculos, cérebro. Assim, o cérebro desde o início é considerado uma tecnologia, pois a sua capacidade de colaborar para a sobrevivência da espécie constitui um elemento primordial para a evolução das sociedades. Segundo Altoé; Silva (2005, p. 14 e 15): A história também registra que, desde o período Paleolítico (conhecido como a Idade da Pedra Lascada) os homens pré-históricos se agrupavam em hordas nômades, ou seja, mudavam constantemente de um lugar para outro em busca de alimentos. Também fabricavam instrumentos de pedra lascada, destinados à caca [sic] de animais e a coleta de frutos e raízes, porque nessa época eles não conheciam a agricultura. No período Neolítico (conhecido como a Idade da Pedra Polida), eles organizavam-se em clãs e aldeias. Foi um período que marcou profundamente o relacionamento entre o homem e a natureza, em virtude de sua intervenção na mesma. 20 Assim, a evolução social do ser humano acaba por se confundir com os avanços tecnológicos. Todavia, à medida que existia a necessidade na aquisição e na melhoria da qualidade de vida, o homem procurava criar novos meios, ou seja, “novas tecnologias”. No século XVIII, com a Revolução Industrial e, consequentemente, o advento da máquina a vapor e a sua incorporação na produção, isso provocou mudanças significativas na sociedade. Então, à medida que a tecnologia avançava ela também atuava decisivamente na relação e no comportamento da sociedade, provocando alterações culturais, algo que permanece na sociedade atual. Llano; Adrián (op. cit., p. 17) explicam que: A evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinada tecnologia impõem-se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social. Na atualidade, com os avanços das tecnologias digitais ocorridos nas áreas da comunicação e informação e na microeletrônica, há uma alteração em termos de qualificação profissional. Logo, as relações entre a sociedade e o espaço também mudam, pois o que norteava as sociedades anteriores não é mais possível para uma sociedade agora também caracterizada pela condição informacional. 1.1.2 A aplicação das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação no ensino contemporâneo A capacidade no desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias no contexto da globalização é algo inquestionável. Nesse sentido, em pouco tempo uma determinada tecnologia acaba se tornando ultrapassada, proporcionando uma expressiva mudança na relação existente entre as pessoas e o espaço, como também no campo de trabalho, abarcando o que Santos; Silveira (2001) chamam de Meio-Técnico-Científico-Informacional 1 . Logo, através das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC’s) a aquisição de informações passa a fluir de forma rápida, onde até mesmo os lugares mais remotos são capazes de se tornar “celebridades” em um piscar de olhos. 1 Santos; Silveira (op.cit., p. 55) explicam que “nos últimos decênios, o território conhece grandes mudanças e função de acréscimos técnicos que renovam a sua materialidade, como resultado e condição, ao mesmo tempo, dos processos econômicos e sociais em curso”. 21 Segundo Ely (2009, p. 151): Os meios de comunicação possuem um lugar de destaque em nosso cotidiano. Coloca as pessoas em contato com acontecimentos mundiais e locais, com significativo poder de persuasão e de mudanças de comportamento, podendo provocar alterações em nossa cultura, uma vez queesta não é estática, pois incorpora, a todo momento, novos hábitos e padrões de consumo ditados pela lógica do consumo. Assim, nasce uma sociedade que necessita se adaptar à realidade informacional. Nesse sentido, Bagio, apud Matuda (2008, p. 32), explica que “o mundo da tecnologia também se configura como uma forma de inclusão social. A aprendizagem da informática e o acesso às novas linguagens de comunicação e informação não só possibilitam oportunidades econômicas, de geração de renda, como também representam um capital social”. Porém, fazendo-se uso do pensamento desse autor, devemos mencionar que somente uma pequena parcela da sociedade mundial possui condições de adquirir tecnologia aprimorada (ponta), pois mesmo existindo a facilidade no financiamento de produtos pelas lojas, há a caracterização do que podemos chamar de exclusão informacional. De acordo com Matuda (op.cit., p.16): Ao mesmo tempo em que as tecnologias trazem avanço também proporcionam a emergência de uma nova forma de exclusão – a Exclusão Digital. Muitas vezes esse tipo de exclusão está ligado à exclusão social, com forte vinculo no valor da renda familiar. Isso porque o acesso às tecnologias ainda tem um custo muito alto para boa parte da população mundial. No entanto, com o passar do tempo, as NTIC’s começam a ganhar espaço nos mais variados seguimentos ligados à pesquisa cientifica e aos setores do comércio e indústria, chegando a serem cogitadas como aliadas no processo de ensino e aprendizagem, na forma de ferramentas metodológicas. Assim, o uso de tecnologia na educação passa a proporcionar um enriquecimento na aquisição de conhecimento pelos alunos, isso por meio de vários caminhos, como, por exemplo, através da mídia impressa, da televisão, do computador, da internet entre outros. Como explica Morran (2000, p. 13) “[...] aprendemos com cada coisa, pessoa ou ideia que vemos, ou ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos [...]”. 22 A mídia impressa apresenta como ponto positivo a capacidade de instigar e proporcionar ao aluno concordar ou nãocom o que está sendo apresentado na mesma. Assim, a capacidade no aprimoramento dos mesmos em analisar os acontecimentos mundiais, nacionais e locais, de forma crítica, constitui um dos pontos principais da educação. Segundo Coccia et al. (2009, p. 172): O jornal impresso costuma apresentar de modo atual os acontecimentos e informações nas mais variadas escalas, pois ao confrontar tais informações às do livro didático, os estudantes poderão elaborar suas interpretações diante dos acontecimentos, o que auxiliará em suas atuações no mundo contemporâneo. Neste contexto que certamente os arranjos espaciais por eles vivenciados passarão a ter significados No que diz respeito à televisão, devemos elencar que sua associação com outros elementos como, por exemplo, o DVD, culminando na apresentação de filmes 2 , permite aos alunos relacionar o conteúdo apresentado em sala de aula com a realidade. Aqui, através das imagens associadas ao som, os alunos são levados, em muitos momentos, a aprender de uma forma totalmente diferente das aulas de caráter tradicional, tendo a linguagem audiovisual como um elemento instigador e capaz de chamar a atenção do aluno para o que está sendo apresentado. Nesse sentido, Morran (2000, p. 39) reforça a nossa ideia, ao destacar que a linguagem audiovisual é capaz de: [...] permitir o desenvolvimento de múltiplas atitudes perceptivas: solicita constantemente a imaginação e reinveste a afetividade com um papel de mediação primordial do mundo, enquanto a linguagem escrita desenvolve mais o rigor, a organização, abstração e a análise lógica. O computador e a Internet 3 são instrumentos de valores indiscutíveis no campo pedagógico. Assim, a aquisição de informações acerca de um determinado conteúdo torna-se fácil, algo que outrora não seria possível (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE 2009). Logo, se analisarmos as aplicabilidades do computador em sala de aula, teremos uma série de 2 Pontuschka; Paganelli; Cacete (2009, p.265) explicam que não devemos “esquecer que um filme se compõe de múltiplas linguagens integradas na constituição de um todo. É, portanto, uma produção cultural importante para a formação do intelecto das pessoas, porque com ele aparecem questões cognitivas, artísticas e afetivas de grande significado”. 3 Araújo (2008, p. 34) explica que “os instrumentos tecnológico-educativos, de natureza virtual, completam a simultaneidade do ensino, não necessariamente centrado no principio ativo, aproximando-se de constituir um novo verbalismo, associado à imagem, em substituição ao velho verbalismo presente no método tradicional”. 23 possibilidades de seu uso, como, por exemplo, os programas computacionais, onde recursos multimídia 4 , juntos com a animação digital, são auxiliadores na aquisição de conhecimento. Assim, o auxílio dessas e de outras tecnologias apresentam-se como elementos pedagógicos capazes de auxiliar no desenvolvimento do ensino-aprendizado. No entanto, o papel de intervenção do professor na utilização dessas tecnologias é algo imprescindível e necessário. Nessa questão, Pontuschka; Paganelli; Cacete (op. cit., p. 263) explicam que: Outro aspecto problema é que amiúde o aluno imprime material de pesquisa sobre algum assunto solicitado pelo professor sem ter lido ou analisado o que foi impresso. Portanto, é importante que o professor acompanhe os alunos e os oriente sobre a melhor maneira de utilizar as informações, evitando o que vem sendo comum nos trabalhos de pesquisa que se utilizam da internet [...] Outra questão diz respeito à escolha da tecnologia a ser empregada em sala de aula pelo professor. Essa escolha vai variar tanto pelo conteúdo, que será ministrado, como também pelos objetivos que o professor pretende que seus alunos atinjam. Nesse sentido, Carvalho (2008, p. 40) explica que: [...] cabe ao professor saber integrar as TIC’s com moderação e muita responsabilidade, tendo em conta o objetivo a que se propõe com a sua utilização. [...]. Deve definir quais competências pretende desenvolver e que métodos tecnológicos serão mais eficazes para esse fim. Assim, há um variado leque de tecnologias que podem ser utilizadas no ensino. Contudo, a necessidade de pensar e repensar sobre o uso de tecnologia no âmbito escolar é algo de suma importância, já que a educação, como muitos autores afirmam, deve “seguir” essa tendência revolucionária que marca a sociedade atual. Partindo desse pressuposto, faz-se necessário também a formação do professor para a utilização dessas tecnologias, pois compreendemos que elas só agora estão chegando com maior intensidade, o que mostra que os mesmos não tiveram a formação adequada nesse campo ocasionando graves problemas para sua utilização. 4 Para Vaughan, apud Ramos (2005, p. 50), multimídia é qualquer combinação de texto, arte gráfica, som, animação e vídeo transmitida pelo computador. 24 1.2 - A inserção e os desafios das NTIC’s no ensino no Brasil 1.2.1 Um breve histórico da inserção das NTIC’s no ensino brasileiro O uso de tecnologia na educação brasileira esteve voltado, primeiramente, para o ensino à distância. Assim, através do uso do rádio 5 , tinha-se a ideia de promover a criação de programas educacionais, e que por desse meio de comunicação poderiam atingir, principalmente, as regiões Norte e Nordeste. Regiões nas quais, até então, o nível de escolarização se encontrava em um patamar mais baixo do que o das demais regiões brasileiras. Logo, a criação de outros programas voltados para os fins educativos começam a surgir, para atender à crescente demanda. Segundo Altoé; Silva (op.cit., p. 21): Outro projeto importante transmitido pelo rádio MEC foi o projeto Minerva. De 1967 a 1974 foi desenvolvido, em caráter experimental, o Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares (Projeto Saci) com a finalidade de usar o satélite doméstico, utilizando o rádio e a televisão como meios de transmissões com fins educacionais. Após esse período, há criação da primeira televisão brasileira: a TV TUPI. No entanto, a TV Cultura foi a pioneira na criação de programas educativos pela televisão, transmitindo o curso “Madureza Ginasial” (ALTOÉ; SILVA, op. cit.). Porém, o objetivo dos elaboradores desse curso televisivo era de provar que, por meio da televisão, seria possível de transmitir informações importantes e capazes de promover a melhoria na educação brasileira. Posteriormente, mais precisamente em 1978, surge o Telecurso 2° grau, implementado pela Fundação Roberto Marinho (FRM), que em 1995 ganha uma nova roupagem, passando a ser chamado de Telecurso 2000, que tinha "uma proposta de ação tendencialmente caracterizada pela instrução, transmissão de conhecimentos, pelas informações e pelo treinamento de pessoas para o universo do trabalho" (BARROS, apud ALTOÉ; SILVA, op. cit.). Já com a introdução da Internet no Brasil, o governo criou vários programas que visavam proporcionar a qualificação dos professores e a aparelhamento das escolas, algo que 5 Segundo Brasil (2010, p. 30), no Brasil, foi pelas mãos do médico e antropólogo Edgard Roquette-Pinto que teve início a história da parceria entre rádio e educação. Ele ajudou a fundar, em 1923, a primeira rádio brasileira – a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro – e já tinha na cabeça a função educativa da nova tecnologia. 25 até os dias de hoje vem tendendo a acontecer, como é o caso do Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO). Assim, a inserção da tecnologia na educação brasileira ocorreu por etapas, porém não segue uma sequência lógica das mesmas, com programas que foram apenas lançados e não desenvolvidos, ocasionandona atualidade a existência de problemas que abrangem os mais variados aspectos. Uma realidade caracterizada por contradições, como, por exemplo, a existência de alguns lugares onde a tecnologia não se encontra inserida no ambiente escolar, mesmo com a existência de programas governamentais voltados para essa questão. 1.2.2 Os frequentes desafios para a implementação das NTIC’s no sistema educacional brasileiro O uso das NTIC’s na educação não tem como objetivo se tornar um substituto de aulas, mas um recurso que, ao se unir à proposta curricular das escolas, possa proporcionar aos alunos a capacidade de pensar, investigar e de solucionar problemas, diante dos conteúdos apresentados, ou seja, a formação de alunos críticos capazes de compreender o espaço em que estão inseridos. Assim, a tecnologia surge como uma colaboradora e não como solução dos problemas da educação. Segundo Morran (op.cit., p. 12): Como em outras épocas, há uma expectativa de que as novas tecnologias nos trarão soluções rápidas para o ensino. Sem dúvida as tecnologias nos permitem ampliar o conceito de aula, de espaço e tempo, de comunicação audiovisual, e estabelecer pontes novas entre o presencial e o virtual [...]. Mas se ensinar dependesse só de tecnologias já teríamos achado as melhores soluções há muito tempo. Elas são importantes, mas não resolvem as questões de fundo. Porém, não devemos esquecer que para a inserção da tecnologia no ambiente escolar deve-se desenvolver primeiramente um projeto técnico-pedagógico, que vai desde a compra de equipamentos até o treinamento de professores. Na realidade, isso tudo não é fácil, se levarmos em consideração os baixos recursos financeiros e estruturais das escolas, principalmente as públicas (FACINCANI, 2011). No entanto, a questão da formação dos docentes para com o uso de tecnologia é considerada como um dos grandes desafios, já que muitos deles nunca participaram de cursos especializados nessa área, tendo que se “confrontar” com alunos que se encontram a uma certa distância de seus “mestres”, no que diz respeito ao manuseio da parafernália tecnológica. 26 No entanto, Gouvêa, apud Facincani (op. cit., p. 4), explica que: O professor será mais importante do que nunca, pois ele precisa se apropriar dessa tecnologia e introduzi-la na sala de aula, no seu dia-a-dia, da mesma forma que um professor que, um dia, introduziu o primeiro livro numa escola e teve de começar a lidar de modo diferente com o conhecimento – sem deixar as outras tecnologias de comunicação de lado. Continuaremos a ensinar e a aprender pela palavra, pelo gesto, pela emoção, pela afetividade, pelos textos lidos e escritos, pela televisão, mas agora também pelo computador, pela informação em tempo real, pela tela em camadas, em janelas que vão se aprofundando às nossas vistas [...]. Miranda (2007) questiona que não existe só uma razão para a não adoção da tecnologia nas escolas, mas várias. Assim, essa autora elenca, dentre as principais: a falta de proeminência existente na maioria dos professores em relação ao uso das tecnologias, e a questão da inovação tecnológica exigir dos mesmos uma maior reflexão e de modificação em suas concepções e práticas de ensino, o que grande parte não está disponível a fazer. Outros pontos que a autora não suscitou, mas que são bastante importantes e que condizem com a realidade dos profissionais da educação, é a baixa renumeração e a excessiva carga horária, que constituem em um dos porquês para a não preocupação em inserir a tecnologia na educação, mas também com a qualidade do ensino oferecido a seu alunos. A necessidade da mudança é cada vez mais premente. Dessa forma, de acordo com Dowbor, apud Garcia (2005, p. 3): O universo de conhecimento está sendo revolucionado tão profundamente que ninguém vai se quer perguntar a educação se ela quer atualizar-se. A mudança é hoje uma questão de sobrevivência e a contestação não virá de “autoridades”, e sim do crescente e insustentável “saco cheio” dos alunos, que diariamente comparam os excelentes filmes e reportagens científicas que surgem na televisão e nos jornais com as mofadas apostilas e repetitivas lições na escola. A falta de infraestrutura nas escolas é outro desafio para a implantação de tecnologia no ensino. Não devemos deixar de mencionar que vários programas governamentais surgiram com intuito de favorecer a criação e o aparelhamento de salas de informática nas escolas públicas como, por exemplo, o Programa Nacional de Informática na Educação Integrado (PROINFO Integrado) 6 , tendo como um de seus objetivos proporcionar a “alfabetização digital” dos alunos. 6 Brasil (op.cit) explica que o Proinfo Integrado, além de fornecer infraestrutura para a escola, também oferece cursos de capacitação para os professores e conteúdos digitais para incrementar as aulas. 27 No entanto, os programas ficam a desejar em muitos pontos, já que os mesmos não conseguem alcançar, ao “pé da letra”, os seus objetivos, ou seja, mesmo havendo a criação desses programas, ainda existem escolas que se quer possuem computadores conectados à internet, e, em outros casos, há salas de informáticas aparelhadas, mas não possuem professores especializados na área tecnológica. Vlander; Silva, apud Gomes (2008, p. 15), explicam que é: [...] importante, também, que toda escola tenha, no início do processo, uma pessoa responsável pela informática educativa que atue junto aos professores estimulando- os a novas práticas, auxiliando-os no planejamento e no processo de criação de softwares na sua área de atuação, para utilização no laboratório de informática e dando-lhes, também, suporte nas aulas com recursos multimídia. Contudo, podemos perceber que existem vários desafios para que de fato haja a introdução da tecnologia no ensino. Porém, a superação desses problemas que foram mencionados, assim como os demais que não foram aqui elencados, torna-se algo necessário. Nesse sentido, precisa-se pensar e analisar a real situação da educação brasileira, para que se proponha a criação de políticas que não sejam caracterizadas pelo distanciamento entre as propostas apresentadas e o acontecido, favorecendo aos alunos uma educação que contemple a realidade vivida pela sociedade contemporânea. 28 2 O USO DA TECNOLOGIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA (CARTOGRAFIA) 2.1 A evolução na confecção de mapas A linguagem cartográfica constitui um elemento essencial no ensino da Geografia. Sobre esta questão vários autores, como Lessan (2009); Fonseca; Oliva (2005), Almeida (2008); Simielli (2009) elencam a importância dos elementos cartográficos na representação do espaço. Assim, o mapa como um produto cartográfico sempre foi um elemento utilizado no ensino, onde o desenvolvimento na sua construção, a partir da evolução das tecnologias, possibilitou o enriquecimento dos mesmos, facilitando a leitura e a interpretação do espaço nele representado. Nesse sentido, é importante elencarmos a evolução sofrida pelos mapas, sob uma perspectiva histórica, associando à mesma a criação de softwares capazes de auxiliar na apresentação de informações, instrumentos capazes de elevar a qualidade do ensino e aprendizagem da Geografia. “A cartografia é a arte de conceber, de levantar, de redigir e de divulgar mapas” (JOLY 2007, p.7). Sua função vai além de apresentar informações para análise e interpretação da realidade espacial, mas também interfere nesta, por meio do planejamento de ações. Assim, a cartografia está inserida em um processo evolutivo, tendo um considerável e expressivo desenvolvimento com o passar dos tempos. Os primeiros registros cartográficos datam da pré-história, sendo de origem babilônica o mais antigo mapa conhecido pelahumanidade. O mapa está inscrito num tablete de argila cozida, contendo a representação de duas cadeias montanhosas com um rio entremeando-as (provavelmente o Eufrates). Assim, o ato de criar mapas surgiu anteriormente à escrita, sendo eles uma das mais antigas comunicações gráficas (OLIVEIRA, 1993). Segundo Joly (op. cit., p. 31): Os homens sempre procuraram conservar a memória dos lugares e dos caminhos úteis às suas ocupações. Aprenderam a gravar os seus detalhes em placas de argila, madeira ou metal, ou a desenhá-los nos tecidos, nos papiros e nos pergaminhos. Assim, apareceram no Egito, na Assíria, na Fenícia e na China os primeiro esboços cartográficos. Na Idade Média, por questões religiosas, ocorreu uma relativa estagnação do conhecimento cartográfico. Nessa época, os mapas eram confeccionados de acordo com a 29 concepção religiosa, assim a representação do mundo, não podia fugir das ideias propostas e defendidas pela igreja. No entanto, no fim da Idade Média, a cartografia tem um considerado desenvolvimento, passando a fazer uso das coordenadas geográficas, proporcionando uma evolução e um aprimoramento na confecção de mapas da época e um aperfeiçoamento destes, através das cartas de navegar (OLIVEIRA, 1993). Lunkes; Martins (2012, p. 5) afirmam que: [...] durante a Idade Média, os conhecimentos geográficos e cartográficos foram abandonados, pois eram tidos como não verdadeiros, pois discordavam da visão de mundo de quem detinha o poder (a Igreja Católica), no entanto, a partir do século XII, devido à necessidade de registrar e localizar as rotas marítimas, bem como terras descobertas, a Geografia e as questões cartográficas voltaram a ser discutidas. Na Idade Moderna, os mapas ganham mais importância, isso devido à reabertura do comércio do Mar Mediterrâneo. No entanto, o momento determinante da cartografia, nesse período, se deu em 1559, onde o belga Gerhard Kremes, conhecido como Mercator, construiu a famosa projeção que conserva o seu nome. A referida projeção retratava a Terra na forma de um cilindro, sendo bastante utilizada por ser a única em que as direções podiam ser traçadas em linha reta. Assim, ela consistiu em uma das influenciadoras da cartografia seguinte. Na atualidade, mais precisamente nas últimas décadas do século XX e no inicio do século XXI, as técnicas cartográficas foram marcadas por um expressivo desenvolvimento tecnológico, o que proporcionou, e vem proporcionando ainda, uma melhor elaboração e confecção de mapas, além da construção de hardwares e softwares. Assim, os softwares propiciam o processamento de informações contidas em imagens captadas por satélites, onde a prospecção de mapas pelo mundo tornou-se algo possível, através de uma simples pesquisa virtual. Para Canto (2009, p. 28): Os mapas que encontramos hoje nos meios digitais são de uma diversidade muito grande, tanto nos seus conteúdos, como nos formatos. Isso se deve à própria evolução das tecnologias desenvolvidas com a Internet e os computadores. No início do surgimento da Internet, por exemplo, os mapas que começaram a circular na rede ainda eram muito parecidos com aqueles que encontrávamos em livros didáticos e atlas escolares. Assim, o desenvolvimento ocorrido mais precisamente na área da informática, fez com que todas as etapas na confecção de um mapa sejam realizados por intermédio do computador. Logo, por meio dessa revolução tecnológica, impulsiona-se o surgimento de 30 sistemas computacionais, conhecidos nos dia de hoje como Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) (FITZ, 2008). Sobre esta questão Fitz (op. cit., p. 99) explica que: O surgimento dos sistemas COMPUTER AIDED DESIGN (CAD) ou COMPUTER AIDED DESIGN AND DRAFTING (CADD), em português, PROJETOS ASSISTIDOS POR COMPUTADOR, que utilizam programas de confecção de desenhos em meio digital, alavancou essas transformações. Essa tecnologia originou a chamada CARTOGRAFIA ASSISTIDA POR COMPUTADOR – COMPUTER ASSISTED / AIDED CARTOGRAPHY (CAC) – ou MAPEAMENTO ASSISTIDO POR COMPUTADOR – COMPUTER ASSISTED MAPPING (CAM) -, que se baseiam no uso da computação (hardware e software) para a geração de mapas. Através dessas questões tecnológicas, os mapas passaram a possuir elementos que favorecem as pessoas no sentido de que possuam uma melhor compreensão do espaço representado nesse documento, como, por exemplo, a associação de multimídias 7 , onde a ideia de mapa estático e não interagível passa a constituir algo ultrapassado. Sobre esta questão Moreira; Ulhôa (2009, p. 73) afirmam que o “uso de recursos de multimídia tem favorecido o ‘diálogo’ entre o leitor e o mapa, uma vez que torna possível selecionar as informações de acordo com seus interesses e necessidades”. Assim, os produtos cartográficos aprimorados por meio dos avanços tecnológicos passam a ser questionados como um enriquecedor de informações no ensino de Geografia, como, por exemplo, os mapas digitais, nos quais constam muitos elementos (como citados anteriormente) a mais do que naqueles disponíveis na forma de simples mapas estáticos, que, muitas vezes, já se encontram desatualizados, mas que ainda constam em muitas escolas. No entanto, desde já não temos o objetivo de menosprezar os mapas impressos, mas de considerar que existem tecnologias capazes de chamar a atenção e assim favorecer uma maior participação dos alunos, algo que nos dias de hoje é difícil não só de fazer parte da realidade do ensino da Geografia, mas de vários outros campos disciplinares. Segundo Ramos (op. cit., p. 54): Por meio da estruturação de um banco de dados geográficos, que pode incluir não só dados alfanuméricos, como também animações, fotos, áudio, vídeos, links para endereços da internet, acesso a e-mails e outras informações relevantes, associado a uma base cartográfica, podem-se elaborar atlas que contenham mapas que não sejam apenas animações pictóricas da realidade, mas instrumentos de pesquisa, fornecendo ao leitor acesso a um produto cartográfico interativo. 7 Canto (op. cit., p.29) explica que apesar de o conceito de multimídia focar especialmente a combinação de diferentes mídias num mesmo suporte, o conjunto de projetos cartográficos que não só utiliza várias linguagens para representar as informações geográficas, mas também permite que essas sejam acessadas através de links de acordo com o interesse do usuário, ficou conhecido pelo nome de Cartografia Multimídia. 31 A capacidade de a tecnologia auxiliar na superação das dificuldades dos alunos, no que diz respeito às questões cartográficas, torna-se possível. Porém, devemos destacar que muitas pesquisas comprovam que, de modo geral, a população brasileira não possui conhecimentos cartográficos satisfatórios, implicando em situações constrangedoras, quando, já na fase adulta, demonstram não saber se localizar a partir de um mapa rodoviário (OLIVEIRA; WANKLER 2008). Dessa forma, percebe-se a necessidade de uma maior preocupação em relação a essas dificuldades. Pois, em sua maioria, elas são oriundas das séries iniciais da educação básica, onde o processo de alfabetização cartográfica, muitas vezes, não ocorre de forma objetiva, ou seja, capaz de promover uma aprendizagem dos elementos necessários para a leitura e interpretação de mapa. 2.2 O desenvolvimento de softwares educacionais: o caso do Google Earth Os softwares consistem em programas computacionais, ou seja, um “subsistema de um sistema computacional” (RESENDE 2005, p. 1), que surgiram e que foram ampliados através da evolução tecnológica. Assim, a sua inserção na sociedade começa a ocorrer com o tempo, sendo, nos dias de hoje, úteis nas mais variadas áreas, como: na arquitetura, economia e também na educação. No entanto, a produção de softwares deve ser realizada de formacuidadosa, seguindo um ciclo de vida, que vai desde o seu planejamento até a sua manutenção. Segundo Tonsig, apud Gomes (2008, p. 23): Os fundamentos científicos para a engenharia de software envolvem o uso de modelos abstratos e precisos que permitem ao engenheiro especificar, projetar, implementar e manter sistemas de software, avaliando e garantindo suas qualidades. Além disso, a engenharia de software deve oferecer mecanismos para se planejar e gerenciar o processo de desenvolvimento. Assim, dentre os diversos tipos de softwares, destacam-se os softwares educacionais. Segundo Tajra (2001), os softwares educacionais são programas voltados especificamente para a educação, ou até mesmo qualquer programa que não tendo sido desenvolvido para fins educativos possa ser útil na aquisição de conhecimentos, facilitando o alcance dos objetivos educacionais. 32 Todavia, é importante mencionarmos que, inicialmente, a inserção de softwares educativos na educação brasileira constituiu um problema, pois até então existia essa tecnologia no país, mas não voltada para as questões educacionais, havendo a necessidade de buscar em outros países que já se encontravam à frente em relação à construção dos mesmos. Assim, com a crescente necessidade dessa tecnologia no mercado, isso passou a interessar a várias empresas do ramo informacional, que consideravam fácil a construção desse tipo de programa (GEBRAN, 2009). No entanto, a construção desses programas requer um nível técnico considerável, como também a necessidade de um apoio pedagógico, algo que até esse período as empresas não estavam aptas a oferecer. Assim, diversos softwares foram produzidos, mas no momento em que chegavam para serem analisados por especialistas da educação eram rejeitados, pois não atingiam o mínimo dos elementos pedagógicos exigidos. Contudo, através da evolução no campo da informática, essas dificuldades começaram a serem superadas, havendo nos dias de hoje a existência de vários programas que, dependendo do conteúdo e dos objetivos propostos pelo professor, podem ser utilizados como recursos na obtenção e enriquecimento de informações. No entanto, os softwares educacionais devem possuir certas características e elementos que permitam auxiliar de fato o ensino e a aprendizagem. Sob esta questão ,Passini, apud Gomes (op.cit. p. 32) explica que: As características metodológicas desejáveis em um software é semelhante [sic] ao requerido em materiais impressos: motivar a investigação, não conter todas as informações, permitir mais de uma leitura (diferentes perspectivas) de um fato ou de uma representação, permitir interação entre usuário e o programa para atualização, colocação de opinião, mudança de classificação, mudança de soluções gráficas. Em termos de classificação dos softwares educacionais existem vários autores que apresentam ideias acerca dos mesmos. Dentre tantas classificações, nos deteremos naquela elaborada por Seabra, apud Behrens (2006, p. 97), que classifica os programas educacionais, de acordo com os objetivos pedagógicos, em: exercitação, programas tutoriais, aplicativos, programas de autoria, jogos e simulações. O primeiro programa indicado na classificação em questão diz respeito à exercitação. Os programas pertinentes a essa classificação caracterizam-se pela busca de proporcionar o treinamento de habilidades, podendo ser considerados como o lado mais pobre 33 do ensino programado. Porém, quando são bem elaborados e usados de forma adequada podem ser uma importante fonte de treinamento. Como exemplo dessa classificação podemos situar o ABC- Blocks, utilizado na disciplina de português. O segundo elemento da classificação são os programas tutorias, que transmitem as informações de forma organizada, como se fosse um livro animado, um vídeo ou um professor eletrônico. No entanto, são pouco interativos. Como exemplo dessa classificação de software, podemos citar a introdução ao Micro do SENAC. O terceiro elemento são os aplicativos, que condizem com programas voltados para funções especificas, mas que, embora não tenham sido criados para fins educativos, podem ser perfeitamente utilizados nos projetos dos alunos. É o caso do Microsoft Word. O quarto elemento são os “programas de autoria”, onde a possibilita-se a capacidade dos professores e alunos em criar seus protótipos de programas, mas sem que haja a necessidade de um conhecimento profundo acerca de programação. Assim, a capacidade no desenvolvimento de apresentações midiáticas associadas a textos, gráficos, sons e animações é possível. Dentre esses programas, podemos citar o Toolbook ou o Visual Basic. O quinto elemento diz respeito aos jogos, que são programas construídos para fins de lazer. Logo, pode vir a favorecer o seu uso como recurso educacional, desde que haja a intervenção do professor, na forma de um proponente de atividades. Os softwares das séries Whereis Carmen Sandiego e Sim City são exemplos dessa classificação. E, por fim, o sexto elemento da classificação são os programas de simulações, que possibilitam ao usuário interagir com situações complexas e de risco produzidas em sala de aula, permitindo, por exemplo, a realização de procedimentos com experiências químicas, como aquelas relacionadas à balística. Um exemplo desse tipo de software são os simuladores de voo. Assim, por meio dessa classificação, percebe-se a existência de uma grande variedade de softwares educacionais. Dessa forma, no meio destes encontra-se o Google Earth 8 . Um programa caracterizado pela sua riqueza de detalhes, tendo o seu uso para fins educativos crescido nos últimos anos, como é o caso no ensino de Geografia. Segundo Facincani (op. cit., p. 19), o Google Earth: 8 Segundo Andrade; Medina (2007, p. 3) o Google Earth “anteriormente conhecido como Earth Viewer, [...] foi desenvolvido pela empresa Keyhole, Inc., uma companhia que a Google adquiriu em 2004. O nome do produto foi alterado para Google Earth em 2005 e têm-se tornado uma febre desde seu lançamento. O programa permite navegar por imagens de satélite de todo o planeta, girar uma imagem, marcar e salvar locais, medir distâncias entre dois pontos e ter uma visão tridimensional de uma determinada localidade”. 34 [...] é um programa de computador desenvolvido e distribuído pela empresa norte- americana Google, cuja função é apresentar um modelo tridimensional do globo terrestre, construído a partir de um mosaico de imagens de satélite obtidas de fontes diversas. Nesse sentido, o Google Earth pode ser utilizado como um elemento gerador de mapas, assim como um simulador de paisagens, onde os elementos constituintes do mesmo são capazes de auxiliar na exposição de vários conteúdos geográficos. Logo, as associações das imagens com a intermediação do professor podem promover a capacidade dos alunos de comparar, analisar e tirar conclusões sobre os fenômenos que eles estão estudando. O que permite que os conteúdos geográficos sejam ministrados de forma mais dinâmica, possibilitando a aplicação de conceitos, algo que constitui um problema nas séries iniciais (principalmente, no terceiro ciclo do ensino fundamental). Como explica Thimmig (2012, p.5): A simples identificação dos locais, com a visualização dos edifícios e das casas, dos parques e estádios, das praças e avenidas, permite uma maior memorização dos locais. Dessa forma, o discente passará a memorizar novos fatos e relações, ao invés de simplesmente memorizar nomes de locais geográficos. Assim, o Google Earth pode ser útil na representação da realidade dos locais, algo que é dificilmente abordado pelos livros didáticos, promovendo a interatividade e um maior enriquecimento de informações, já que ele possibilita ao aluno ter informações de locais relacionados à sua vidacotidiana, assim como também aqueles que não fazem parte das suas experiências diretas. Como explica Canto (op.cit., 32): [...] o Google Earth também traz mais informações complementares sobre os lugares. A partir de um enorme banco de dados, atualizado periodicamente e acessado através da seleção de camadas, muitos autores defendem que este aplicativo é um grande Atlas virtual do mundo. A expressividade de um recurso como esse, de acordo com Saussen; Machado, apud Sarante; Silva (2008, p. 5 e 6) está no fato de que: [...] o uso de imagens de satélite no estudo da geografia em sala de aula contribui para uma didática mais significativa na educação escolar, porque esse recurso promove a realização de aulas mais diversificadas e atrativas, nas quais o aluno poderá se sentir mais motivado, pois é possível estudar o espaço geográfico da própria região com imagens de satélite que permitem identificar o uso e cobertura do solo, o desenho urbano, os impactos ambientais, entre outros aspectos e, a partir 35 disso, propor possíveis soluções, dando ao aluno maior compreensão dos processos atuantes na sociedade em que vive. Na verdade, os professores de geografia possuem valiosos instrumentos tecnológicos nas “mãos”, “mas a metade dos professores só usa o manual para preparar e tornar dinâmica as suas aulas” (FOUCHER, 1989, p. 16), pois recai-se novamente no que foi mencionado na seção anterior, os obstáculos relacionados ao uso de tecnologias na educação, que ainda marcam um ambiente de muita carência no ensino. De nada vai adiantar ter nas mãos tecnologias como, por exemplo, o Google Earth, que podem promover uma melhor aprendizagem dos alunos, se os problemas relacionados ao domínio de manuseio por parte dos professores, a falta de infraestrutura nas escolas não sejam superados. Assim, a falta de compromisso dos professores, como também a superação da precariedade na implantação de programas governamentais que de fato propiciem subsídios para que haja mudança na realidade educacional, tudo isso implica decisivamente na qualidade do ensino oferecido, tendo, no final de tudo, como maior prejudicado a figura do educando. 36 3 A UTILIZAÇÃO DO GOOGLE EARTH COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NAS AULAS DE GEOGRAFIA: EXPERIÊNCIA COM OS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO CEFTI - PROFESSOR MILTON AGUIAR Na sociedade atual, percebe-se constantemente o uso de tecnologias nas mais variadas situações do dia a dia. Assim, as crianças e os adolescentes encontram-se cada vez mais cedo ligados ao uso do computador, uma ferramenta que acaba por constituir um elemento capaz de auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, proporcionando um maior enriquecimento na transmissão de informações. Desse modo, ferramentas interativas são uma aliadas capazes de propiciar uma aprendizagem de fato expressiva. Dentre essas ferramentas encontra-se o Google Earth, um programa que permite visualizar os mais variados ambientes da Terra. Assim, suas imagens em 3D permitem que os conteúdos de Geografia sejam ministrados através da visualização da representação do real, tendo como características de cunho importantíssimo a sua riqueza de detalhes e a interatividade. Nesse contexto, o manuseio dos alunos associado à explicação do professor é considerado por muitos alunos algo inovador. Segundo Palmeira; Tenório; Lopes (2010, p. 6) O ambiente científico está sujeito a constantes transformações provocadas principalmente pela introdução de TICs, mudando também os recursos e formas de produção científica em vista do aparecimento de formatos documentários variados, fruto de digitalização em meios eletrônicos. Além disso, os processos de busca e uso da informação encontram na virtualidade maior propensão à recuperação da informação rápida e efetiva, principalmente na intercomunicação entre os pares, como por exemplo, através do correio eletrônico (e-mail), listas de discussão, boletins eletrônicos, vídeo-conferências, entre outros. No entanto, para que o Google Earth, como também várias outras tecnologias, possam de fato ser utilizados são necessários laboratórios de informática equipados e com um profissional da área, que auxilie os professores e os alunos na operação das máquinas. Nesse sentido, outro ponto que deve ser mencionado é o apoio e a capacitação dos professores, que necessitam se atualizar sob o ponto de vista tecnológico. Tal capacitação em muitos momentos acaba esbarrando em questões burocráticas, como a implantação de programas de inclusão digital, pois ao analisarmos perceberemos que em muitos momentos há um distanciamento entre as propostas apresentadas (objetivos) pelos programas e o acontecido. 37 3.1 Percurso Metodológico Através do presente estudo pretendeu-se analisar a utilização do Google Earth no ensino e aprendizagem de Geografia. Assim, a amostra corresponde às turmas do Ensino Fundamental, do CEFTI- Professor Milton Aguiar. Logo, empregou-se a técnica da documentação direta, fazendo-se uso do questionário (aluno e professor), entrevista e depoimentos dos alunos para a coleta de dados que possibilitaram a tabulação e a consequente apresentação na forma de gráficos e tabelas. Quadro abaixo. QUADRO 01: Coleta de Dados – resumo de coletas de dados da pesquisa Fonte: Pesquisa direta, Maio/Junho2013 Etapas Instrumental Descrição Data de execução Aplicação de questionário para os alunos Questões com perguntas fechadas, com algumas pedindo comentário. Após explicar o objetivo da pesquisa, pediu-se que os alunos respondessem. 27 a 31 de maio de 2013 Aplicação do questionário ao professor Questões com perguntas fechadas O questionário teve como objetivo analisar a relação da educadora titular das turmas a respeito do referido tema de pesquisa. 28 de maio de 2013 Entrevista com o vice-diretor Gravação em áudio; Entrevista com questões abertas Apuração da percepção do vice- diretor 28 de maio de 2013 Entrevista com a coordenação pedagógica Gravação em áudio; Entrevista com questões abertas Concepção da coordenação pedagógica acerca do referido tema de pesquisa 28 de maio de 2013 38 Aula com a mediação do Google Earth Gravação em diário de bordo Foram realizadas algumas aulas com o auxilio do Google Earth. 3 de junho de 2013 Atividade Avaliativa Atividade realizada por dissertações Atividade com o intuito de perceber a opinião dos alunos após a aula com intermediação do Google Earth 3 de junho de 2013 3.2 Descrições do ambiente de trabalho: aspectos gerais do CEFTI- Professor Milton Aguiar O CEFTI – Professor Milton Aguiar encontra-se localizado na Rua n° 54 – Bairro Dirceu Arcoverde II, zona sudeste de Teresina (PI), compreendendo um espaço de 5.271,75 m 2 (cinco mil, duzentos e setenta e um metros e setenta e cinco centímetros quadrados), de área construída. Composta por alunos de classe média e classe baixa, a escola oferece a modalidade de Ensino Fundamental, anos finais, funcionando em regime de tempo integral, em uma jornada de 08 horas por dia. Imagem 01: Fechada do CEFTI – Professor Milton Aguiar Fonte: Google Earth 39 A escola foi fundada em 11 de março de 1981, pelo governador Dr. Lucídio Portela, constituindo uma homenagem ao então Professor Milton Aguiar, que prestou relevantes serviços à educação piauiense. Assim, a estrutura da escola consta de cerca de 225 alunos matriculados e 41 funcionários (14 professores efetivos, 01 diretor titular, 01 diretor adjunto, 01 coordenadora pedagógica, 01 coordenadora do Programa Mais Educação, 01 secretário titular, 01 secretário adjunto, 03 auxiliaresde secretaria). Em relação à infraestrutura, apresenta-se dividida em 24 dependências compostas por: 01 diretoria, 01 secretaria, 01 coordenação, 08 salas de aula, 01 sala dos professores, 01 sala de vídeo, 01 sala de leitura, 01 laboratório de informática, 01 sala de teatro e dança, 01 pátio, 01 quadra de esportes, 01 refeitório, 02 banheiros para os alunos, 02 banheiros para os funcionários e 01 depósito para merenda. Dessa maneira, a escola descrita acima constitui o recorte espacial para o presente estudo, a partir da qual buscamos responder a seguinte problemática: Quais as vantagens e limitações da utilização do Google Earth como instrumento de ensino e aprendizagem da Geografia no Ensino Fundamental?. 3.3 A representatividade para os alunos do uso de tecnologia no processo de ensino e aprendizagem em Geografia A primeira etapa de coleta de dados foi realizada de 27 de maio a 31 de maio de 2013. A mesma constituiu na aplicação de questionário aos alunos de quatro turmas do Ensino Fundamental (6° ao 9° ano “A”), cujas perguntas constam no apêndice A. As perguntas trataram dentre outros aspectos, da faixa etária, das ferramentas que mais utilizam para se informar, do uso do computador pelo professor de Geografia em sala de aula e do conhecimento dos alunos acerca do Google Earth. Assim, através das respostas obtidas pudemos analisar e mencionar os resultados acerca da relação entre alunos, NTIC’s e Google Earth. Em relação à faixa etária em que os alunos encontram-se inseridos, observa-se que predomina entre os pesquisados a faixa etária de 11 a 13 anos (69%), em segundo lugar, com 31%, aparece à faixa etária entre 14 e 16 anos, enquanto a faixa etária de 18 a 20 anos e de 20 a 25 anos não foi mencionada (dados no gráfico a seguir). Por meio da presente constatação, nota-se que alunos encontram-se de fato entre a faixa etária correspondente ao Ensino Fundamental. Nesse sentido, é importante frisarmos que 40 encontrar alunos na faixa etária correspondente ao seu ano escolar é difícil nas escolas públicas, pois os índices de reprovação associados a outros fatores são causas que permeiam para a não adequação do ano escolar para com a sua faixa etária correspondente. Gráfico n° 01: Faixa etária dos alunos do CEFTI – Professor Milton Aguiar Fonte: Pesquisa direta, Maio/2013 No que se refere aos meios de comunicação que os alunos costumam utilizar com maior frequência para se informar, constatou-se que a televisão e a internet são apontadas como as mais utilizadas, com 42% cada, Jornal e Revistas 10% e o Rádio com 6% dos alunos pesquisados. Percebe-se que a televisão e a internet vêm ganhando cada vez mais espaço na sociedade, enquanto o rádio, jornal e revistas, que são meios de comunicação mais antigos, encontram-se cada vez mais em desuso com o passar do tempo. Gráfico n° 02: Meio de comunicação mais utilizado para se informar Fonte: Pesquisa Direta, Maio/2013 69% 31% 0% 11 a 13 anos 14 a 16 anos 16 a 18 anos 18 a 20 anos 20 a 25 anos 42% 6% 10% 42% Televisão Rádio Jornal e Revistas Internet 41 Sobre os recursos metodológicos utilizados em sala de aula pelo professor, os alunos afirmaram que o livro constitui o principal recurso para a promoção do ensino e aprendizagem (56%), Mapas e Globos ficaram em segundo lugar com 35%, as NTIC’s vêm logo após com 20%. A respeito do uso da sala de informática, para ensino o de Geografia, os alunos nos apresentaram que a mesma era utilizada, mas apenas para o fim da disciplina de informática oferecida pela escola. Já a adoção do livro didático como praticamente o único aparato metodológico, como os dados nos comprovam, é explicada por Lessan (op.cit) ao alerta da necessidade de uma preocupação sobre esta questão, pois muitos professores ficam tão presos ao livro que ao invés de adotar o mesmo eles acabam se tornando reféns, onde o ensino e aprendizado acabam se baseando numa verdadeira mesmice. Gráfico n° 03: Recursos metodológicos utilizados pelo professor Fonte: Pesquisa direta, Maio/2013 No que se refere à existência de sala de informática na escola, constata-se que todos os alunos entrevistados afirmam a sua existência. Já quanto à frequência do seu uso, observou-se que 63% dos alunos mencionaram que a sala de informática é utilizada uma vez por semana, 36% afirmam que somente às vezes é utilizada, enquanto 1% mencionou que a mesma nunca é utilizada. No entanto, devemos mencionar que a informática na escola faz parte de sua grade curricular, pois se trata de uma escola de tempo integral e que os alunos responderam baseados na disciplina em questão e não na de Geografia. As informações acerca desse aspecto estão representadas no gráfico abaixo. 45% 35% 20% Livro Mapas e Globos NTIC's 42 Gráfico n° 04: Frequência do uso da sala de informática Fonte: Pesquisa direta, Maio/2013. Acerca do uso do computador nas aulas de Geografia, os dados coletados apresentam que 78% dos alunos afirmam que o computador não é utilizado, 16% responderam às vezes, 4% sim e somente 2% responderam que nunca houve o uso do computador na aula de Geografia. Percebe-se que mesmo o computador sendo um instrumento de suma importância nos dias de hoje, ainda se pode notar a não utilização dessa ferramenta no ensino. Para Libâneo (2011, p. 18) a “vida cotidiana, cada vez maior número de pessoas são atingidas pelas novas tecnologias, pelos novos hábitos de consumo e indução de novas necessidades. Pouco a pouco, a população vai precisando se habituar a digitar teclas, ler mensagens no monitor, atender instruções eletrônicas”. Os dados podem ser identificados no gráfico a seguir. Gráfico n° 05: O uso do computador nas aulas de Geografia Fonte: Pesquisa direta, Maio/2013 36% 63% 1% Ás vezes Uma vez por semana Nunca é utilizada 2% 43% 9% 46% Sim Não Ás vezes Nunca utilizou 43 Questionados sobre o estímulo do professor ao uso de outros meios de informação por parte dos alunos associado ao livro didático, 59% dos alunos responderam que sim, às vezes; 26% afirmam que há um estimulo constante e 15% apontaram que não existe qualquer estímulo pelo professor em relação a esse aspecto (Conforme gráfico a seguir). De acordo com o que foi apresentado, cremos que a melhoria na educação passa com certeza pelas mãos dos professores. Não existe ninguém melhor para explicar a realidade vivida, aquela que realmente perpassa dentro das salas de aula. Nesse sentido, o estímulo para com o aluno sobre o estudo também deve ser visto como uma ”responsabilidade” do professor, que se encontra em muitos momentos cansado e insatisfeito, algo presente nos dias de hoje. Logo, ao invés de somente estimular ao aluno a procurar uma dentre diversas formas de aprender, eles também devem receber um olhar especial. Gráfico n° 06: O estimulo do professor ao uso de outros meios de informação associados ao livro Fonte: Pesquisa direta, Maio/2013 Indagados a respeito da relação da aprendizagem com o uso de ferramentas informacionais, os dados indicam que cerca de 72% dos alunos afirmam que o uso de tais ferramentas propicia uma melhor aprendizagem, 27% não souberam informar, enquanto a minoria, 1%, respondeu que não faz nenhuma diferença o uso de ferramentas informacionais no seu aprendizado (verificar gráfico a seguir). Essa questão deve ser vista de forma especial, já que como apresentamos no primeiro capitulo da presente pesquisa, não é apenas com o uso de tecnologia que haverá um melhor 59% 15% 26% Sim, ás vezes Sim, constantemente Não 44 ensino e uma melhor aprendizagem. Nesse sentido, o com uso de tecnologia não significa o fim do tradicionalismo. Cysneiros (1999, p. 18) explica que A presença da tecnologia na escola, mesmo com bons softwares, não
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