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0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI CAMPUS CLÓVIS MOURA COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA O MAPA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA GEOGRAFIA MARCUS AURÉLIO PESSOA LOPES TERESINA (PI) 2009 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI CAMPUS CLÓVIS MOURA COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA O MAPA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA GEOGRAFIA NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE TERESINA-PI MARCUS AURÉLIO PESSOA LOPES . Monografia apresentada à Universidade Estadual do Piauí – UESPI, como um dos pré-requisitos para obtenção do grau de Graduando em Licenciatura Plena em Geografia, sob a orientação da Profª. Esp. Jucélia Pereira Monteiro. TERESINA (PI) 2009 2 O MAPA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA GEOGRAFIA Marcus Aurélio Pessoa Lopes Aprovada __/__/__ BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Profº Esp.Jucélia Pereira Monteiro Presidente ___________________________________________ Profºª Msc. Teresinha de Jesus dos Santos Sousa Membro ____________________________________________ Profº Esp. David Meneses dos Santos e Silva Membro 3 DEDICATÓRIA A Deus que me proporcionou mais esta vitória em minha vida. Aos amigos e familiares que apoiaram-me nesta caminhada. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, pela sua mão protetora que me guarda a cada momento de minha vida, dando-me sabedoria para discernir entre o certo e o errado, ajudando-me a vencer os obstáculos de cada dia. A Universidade Estadual do Piauí pela contribuição nas sistematização dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Aos professores do curso de Geografia que colaboram para a realização da minha formação acadêmica. A minha mãe Maria Aulete Rosa Pessoa Lopes pelo seu amor e companheirismo incondicional. 5 LISTA DE GRAFICOS Gráfico 01: Recursos didáticos mais utilizados. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008 ................ 29 Gráfico 02: Disponibilidade de mapas nas escolas.Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008............ 30 Gráfico 03: Utilização do mapa nas salas de aula. Fonte: pesquisa direta nov/ 2008 ............. 31 Gráfico 04: Utilização de Mapas e Atlas atualizados. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008 ....... 32 Gráfico 05: Contribuição da utilização de mapas para trabalhos com conceitos geográficos. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008 ......................................................................................... 33 Gráfico 06: A utilização de mapas e a compreensão dos alunos. Fonte: pesquisa direta, nov/2008 .............................................................................................................................. 34 Gráfico 07: Leitura e interpretação de mapas pelos alunos. Fonte: pesquisa direta, nov/2008 .............................................................................................................................. 35 Gráfico 08 : A utilização do mapa e o ensino de geografia. Fonte: pesquisa direta, nov/2008 .............................................................................................................................. 36 Gráfico 09: Relação entre a Geografia Crítica e a utilização de mapas. Fonte: Pesquisa direta, nov/2008 .............................................................................................................................. 37 Gráfico 10: Confecção de mapas mentais durante as aulas. Fonte: pesquisa direta, nov/2008 .............................................................................................................................. 38 Gráfico 11: Frequência da confecção de mapas mentais. Fonte: pesquisa direta, nov/2008 .............................................................................................................................. 39 Gráfico 12: Não utilização do mapa e ideia de aulas de História. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008 ............................................................................................................................. 40 Gráfico 13: O mapa como parte do cotidiano escolar dos alunos. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008 ............................................................................................................................. 41 Gráfico 14: Subutilização do mapa no ensino da Geografia. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008 ............................................................................................................................. 43 Gráfico 15: Conhecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) pelos professores, acerca do uso do mapa. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008 .................................................... 44 6 RESUMO Os mapas têm um grande potencial para trazer mudanças significativas ao processo de ensino aprendizagem. Entretanto, vemos que o modelo de ensino tradicional ainda prevalece com peso em nossas salas de aula, um modelo que se encontra totalmente ultrapassado. O ensino precisa ter uma função estimulante, motivadora, que leve a bons resultados e os professores precisam adotar métodos para tal objetivo e estarem preparados para os desafios. Esta pesquisa representa uma análise acerca de como o mapa vem sendo utilizado nas aulas de geografia das escolas da rede pública municipal na Região Sudeste de Teresina-PI. O trabalho desenvolvido tem por base pesquisa em livros e artigos que norteiam o assunto. A divisão consistiu em dois capítulos que foram proporcionalmente elencadas de forma a proporcionar um atendimento harmonioso. O desenvolvimento histórico objeto do primeiro capítulo contribuíram para enaltecer a utilização do mapa ao longo dos tempos. No último capitulo, faz-se uma análise dos resultados obtidos na pesquisa de campo. Essa proposta contribuiu para que se façam algumas reflexões a respeito de como o mapa vem sendo utilizado, bem como ressalta a importância desse recurso para a construção do conhecimento geográfico. A realização da pesquisa de campo ocorreu em nove escolas da rede pública municipal da região Sudeste em Teresina-PI, a qual foram entrevistados sete professores de geografia das unidades de ensino. Na pesquisa constata-se que os professores reconhecem a importância dos mapas como um auxiliar no processo de ensino e aprendizagem em Geografia, mas ao mesmo tempo, afirmam que há alguns problemas a serem enfrentados para aplicabilidade destes recursos, que vão desde a falta de habilidade em trabalhar os mapas, por parte dos próprios professores até a falta de material atualizado nas escolas. Palavras – chave: Mapas. Educação. Geografia. 7 ABSTRACT The maps have a great potential to bring significant changes to the process of education learning. However, we see that the model of traditional education still prevails with weight in our classrooms, a model that if finds exceeded total. Necessary education to have a function stimulant, motivadora, that has taken the good results and the professors need to adopt methods such objective and to be prepared for the challenges. This research represents an analysis concerning as the map comes being used in the lessons of geography of the schools of the municipal public net in the Southeastern Region of Teresina-PI. The developed work has for base searches in books and articles that guide the subject. The division consisted of two chapters that proportionally had been elencadas of form to provide a harmonious attendance. The historical development object of the first chapter had contributed to enaltecer the use of the map throughout the times. In the last one I capitulate,becomes an analysis of the results gotten in the field research. This proposal contributed so that some reflections become regarding as the map comes being used, as well as standes out the importance of this resource for the construction of the geographic knowledge. The accomplishment of the field research occurred in nine schools of the municipal net public of the Southeastern region in Teresina-PI, which had been interviewed seven professors of geography of the units of education. In research evidences that professors recognize importance of maps as one to assist in process of education and learning in Geography, but at the same time, they affirm that has some problems to be faced for applicability of these resources, that go since the lack of ability in working the maps, on the part of the proper professors until the lack of material brought up to date in the schools. Key-Words: Maps. Education. Geography. 8 SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09 1. A IMPORTÂNCIA DO USO DO MAPA NAS AULAS DE GEOGRAFIA ........... 11 1.1 A CONFIGURAÇÃO DA GEOGRAFIA COMO CAMPO DE CONHECIMENTO E SUA TRAJETÓRIA NO BRASIL .............................................................................. 11 1.2 A GEOGRAFIA E A PRÁTICA DOCENTE ....................................................... 15 1.3. O MAPA NO CONTEXTO HISTÓRICO .......................................................... 17 1.4 O MAPA : FERRAMENTA QUE POSSIBILITA CONHECER E REPRESENTAR A TERRA ................................................................................................................... 19 1.4.1 A QUALIDADE DE UM MAPA ....................................................................... 21 1.4.2 A LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE UM MAPA .......................................... 22 1.4.3 A PRÁTICA DOCENTE E A UTILIZAÇÃO DO MAPA .................................... 24 2. DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DO MAPA NAS AULAS DE GEOGRAFIA DO 6º ANO DO ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE TERESINA-PI ................... 28 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 47 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 50 ANEXOS .................................................................................................................. 52 9 INTRODUÇÃO Tendo em vista os estudos sobre o processo de ensino e aprendizagem de Geografia, procurou-se desenvolver um trabalho de pesquisa em que promove-se, como foco central, a utilização do mapa como recurso didático. A escolha dessa temática foi motivada durante o curso, no período em que foi ministrada a disciplina Projeto Interdisciplinar na Escola, onde um dos requisitos para a aprovação seria a confecção de um relatório, após acompanhar algumas aulas de Geografia de uma escola da rede estadual de ensino. No momento em que as aulas foram sendo acompanhadas, foi possível perceber que o mapa utilizado pelo professor estava em péssimas condições de uso e que sua visualização era um tanto quanto irrelevante. Aliado a esse episódio, ocorreu a oportunidade de serem feitas leituras de algumas das obras de Sousa, no V bloco, na disciplina Metodologia do Ensino em Geografia. Souza salienta que o uso do mapa está diretamente relacionado ao ensino da Geografia e é inconcebível ensinar, fazer entender as transformações sócio- espaciais sem auxílio deste recurso. Para responder a problematização acerca de como o mapa está sendo utilizado e contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem da Geografia, foram traçados os seguintes objetivos: questionar o modo como se dá a utilização do mapa no ensino da Geografia no 6º ano do Ensino Fundamental, reconhecer a valorização do uso do mapa nas aulas de Geografia; despertar o reconhecimento do docente diante da importância do uso do mapa para a elaboração de conceitos e construção do conhecimento geográfico. O desenvolvimento deste trabalho foi proporcionado através de procedimentos metodológicos, tais como: pesquisa bibliográfica (livros e artigos), pesquisa de campo através da aplicação de questionário aos sete professores das nove escolas pesquisadas com perguntas fechadas e abertas. 10 Este trabalho teve como universo de pesquisa os docentes da rede municipal de ensino da região Sudeste de Teresina (PI). Dos quais foram entrevistados sete professores de Geografia do 6º ano do Ensino Fundamental do turno vespertino. Vale ressaltar que são nove escolas que ofertam 6º ano do Ensino Fundamental na região Sudeste de Teresina-PI e que dentre os sete professores entrevistados, dois (2) deles trabalham em mais de uma escola. Para melhorar a compreensão das idéias, a presente pesquisa divide-se em dois capítulos: o primeiro faz uma reflexão da Geografia como campo de conhecimento e sua trajetória no Brasil; a Geografia e a prática docente; o mapa no contexto histórico; o mapa como uma ferramenta que possibilita conhecer e representar a Terra; a qualidade de um mapa; a prática docente e a utilização do mapa. O segundo capítulo faz uma análise dos dados coletados nas escolas da rede pública municipal da região Sudeste de Teresina-PI. Assim, com simplicidade e buscando clareza, o trabalho em foco objetiva diagnosticar a formar como se dá a utilização do mapa no ensino geográfico, considerando os possíveis avanços teóricos metodológicos da ciência geográfica e seus reflexos sobre a prática docente. Tendo em vista que muitas vezes a utilização do mapa não contribui para a construção de um saber geográfico reflexivo, pois sua utilização às vezes se resume em uma simples localização e constatação de dados. Dessa forma, durante a pesquisa procurou-se relatar e despertar o reconhecimento do docente acerca da importância do uso do mapa para a elaboração de conceitos e construção do conhecimento geográfico, considerando que a utilização do mapa esteve e ainda está presente em vários momentos da história. 11 1. A IMPORTÂNCIA DO USO DO MAPA NAS AULAS DE GEOGRAFIA 1.1. A configuração da Geografia como campo de conhecimento e sua trajetória no Brasil. Discutir sobre algumas práticas metodológicas da ciência geográfica é estimulante e permite encontrar a identidade de uma ciência e as conseqüências de sua aplicação e teorias junto à sociedade. Nesse sentido, ao se fazer uma reflexão a respeito do ensino geográfico, constata-se que os diversos entendimentos que atualmente podem ser dados à Geografia foram gestados por intensas discussões conceituais em distintos textos, que vão desde sua institucionalização como campo do conhecimento. Sendo assim, percebe-se que: os enunciados do pensamento geográfico são elaborados em diversos espaços, universidades, escolas e tornam-se discursos escolares no momento em que se inscrevem no ensino. Embora muitos desses enunciados estejam ausentes no ensino, por não terem conseguido obter efeito de verdade, ou seja, não foram autorizados. No entanto, os discursos presentes já possibilitam a existência de uma pluralidade de perspectivas geográficas (TONINI, 2003, p.14). Para a compreensão do processo de configuração da Geografia como campo de conhecimento é relevante ressaltar algumas considerações sobre os caminhos trilhados por essa ciência. Uma das primeiras dificuldades foi reconhecer seu objeto de estudo, considerando que: não é fácil definir nem estabelecer, com precisão, o que é a Geografia; este problema, porém é comum às outras ciências sociais, pois não existem ciências estanques, com objetivos bem delimitados, mas uma ciência única, que para facilitar o estudo de determinadas áreasfoi dividida, um pouco arbitrariamente em várias outras, compartimentando-se uma totalidade (ANDRADE, 1987, p.11). Após inúmeras discussões, levando em conta cada momento histórico, identifica-se qual seria o objeto de estudo dessa ciência, observando que “os significados não existem soltos no mundo, à espera de serem descobertos e formalizados linguisticamente”. Por conseguinte, chegou-se à conclusão de que a 12 Geografia é a ciência do espaço. Espaço esse, passivo de transformações, à medida que o homem amplia seu domínio sobre ele. Vale lembrar que antes mesmo do surgimento da escrita, em que o homem tirava seu sustento da terra, já se percebiam idéias geográficas. Mas foi na Alemanha, com o processo de unificação em meados do século XIX, que se deu o reconhecimento da Geografia como campo de conhecimento no sistema escolar. A Alemanha alcança um papel bastante relevante nesse contexto, pois foi nesse país que emergiram as primeiras cátedras nas Universidades, os primeiros cursos de graduação, durante o processo de criação do Estado Nacional. Não é ponderado, pois, falar em um pensamento geográfico autônomo antes da metade do século XIX, graças a contribuição dada pelos mestres alemães Alexander Von Humboldt, Karl Ritter e Frederic Ratzel, com o ensino da Geografia implantado em universidades européias; é que esta ciência passou a ter um desenvolvimento autônomo, formulando princípios que dariam a ela o reconhecimento e, dessa forma, a independência frente à História e às Ciências Naturais. Nos anos de 1950 e 1960, começa a aparecer uma nova estrutura teórica, que culminou com o uso de técnicas estatísticas e matemáticas para a análise dos dados. Aparecem obras de teorização e quantificação. Todavia Santos considera que: Por outro lado, se a geografia “tradicional” se fazia sob a influencia das chamadas “escolas nacionais”, a partir dos anos 50 e sobretudo a partir dos anos 60, encontramo-nos diante de uma escola metodológica que, tentando sobrepor-se ao exclusivismo locais, se manifesta, através de organizações e publicações próprias e busca difundir-se por meios de congressos, colóquios, intercâmbios de professores etc., cobrindo uma área geográfica que desconhecia os limites nacionais (2002, p. 61). Mercando a superação da Nova Geografia, começam a surgir as tendências: a Geografia Humana, Geografia Idealista e a Geografia Radical ou Crítica. A Geografia Humanista tem suas bases teóricas na Geografia da Percepção. Segundo Santos (1926) o fundamento desta abordagem considera que cada 13 indivíduo tem uma maneira específica de perceber o espaço. A tarefa básica do geógrafo humanista seria portanto, mostrar como são os espaços e lugares, através de uma estrutura coerente, com a valorização da percepção. Já a Geografia Crítica, Radical, de Relevância Social ou Marxista como é chamado, inicia na década de 1960, é uma corrente geográfica preocupada em ser crítica e atuante. Interessa-se pela análise dos modos de produção e das formações sócio-econômicas. No que diz respeito à institucionalização no Brasil, foi após a revolução de trinta (século XX) que o ensino e a pesquisa de Geografia passaram a ser reconhecidos de uma forma mais direta. No entanto, na República Velha já se tinha conhecimentos de algumas obras de interesses geográficos, obras essas que de certa forma sofreram influência, sobretudo de geógrafos alemães e franceses, porém as publicações eram desenvolvidas de um movimento sistematizado. As considerações feitas a respeito do pensamento e a produção geográfica brasileira revelam a necessidade de reconhecer seus próprios métodos e identificar o momento em que a Geografia passou a integrar um corpo disciplinar na academia, constituindo um ramo específico de pesquisa e do conhecimento científico. Dessa maneira, pode-se evidenciar que: a Geografia pode ser encontrada já num primeiro momento nos discursos do Estado do Exército, e mesmo como parte dos currículos escolares. A fundação do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, e a inclusão da Geografia como disciplina, foi parte importante de sua trajetória. O professor Delgado de Carvalho teve grande importância para garantir à Geografia um espaço no campo do saber escolar (PCN’s, 1998, p. 19). A Geografia passou por uma série de transformações com relação às concepções teórico-metodológicas e atualmente ainda percebe-se que no ensino da mesma, notadamente entre aquela parcela de docentes que se preocupa com o papel da escola e com a renovação de suas lições, vem ganhando consistência a ideia de passagem de um ensino tradicional de abordagem descritiva compartimentada para um ensino escolar crítico. 14 Dessa forma, podemos considerar que: a produção acadêmica em torno da concepção de geografia passou por diferentes momentos, gerando reflexões distintas acerca dos objetos e métodos de pensar e fazer geografia. De certa forma essas reflexões influenciaram e ainda influenciam muitas práticas de ensino (PCN’s, 1998, p. 19). Sem deixar de lado essas transformações que a Ciência e a Geografia passaram e vêm passando é necessário antes de tudo que se façam algumas reflexões a respeito do comprometimento do ensino geográfico. Sem dúvida alguma, podemos comungar com a ideia de que a prática docente tem como um dos seus objetivos tornar o mundo explicável e passível de transformações, compreensível para os alunos. Cabe lembrar que: a geografia tem por objetivo estudar as relações entre o processo histórico na formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do lugar do território, a partir de sua paisagem. Na busca dessa abordagem relacional, trabalha com diferentes noções espaciais e temporais, bem como os fenômenos sociais, culturais e naturais características de cada paisagem, para permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua constituição, para identificar e relacionar aquilo que na paisagem representa as heranças das sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza em sua interação. (PCN’s, 1998, p. 26). Todavia, no período de 1950 a 1970, o ensino de Geografia no Brasil foi influenciado por Aroldo de Azevedo através da sua produção sobre a Geografia dita descritiva ou tradicional, apresentada em suas obras e livros didáticos muito utilizados nas escolas na época. Nos anos 1980, teóricos de orientação marxista influenciam a produção geográfica, iniciando a década das transformações nos conteúdos e nas abordagens da Geografia. A Geografia Crítica, no Brasil, apresentou um grande crescimento nos últimos vinte anos. Segundo Oliveira (1997), a partir de 1989 esta Geografia começou a apresentar seus primeiros sinais de esgotamento diante da realidade em transformação, expondo seus limites teórico-metodológicos. Hoje, a partir dos trabalhos de José W. Vesentini, Douglas Santos, entre outros, os livros didáticos passaram a ter uma nova concepção para a qual a 15 Geografia Crítica trouxe algumas contribuições decisivas, tratando os conteúdos de forma mais dinâmica e contextualizada. 1.2. A Geografia e a prática docente As relações da Geografia com a prática docente são íntimas e precisam de uma maior atenção, tanto pelos geógrafos como pelos estudiosos da questão escolar. E no contexto de uma Geografia de cidadãos críticos, capazes de atuar mais conscientemente na sociedade em que vivem, a discussão sobre o que deve se ensinar nas aulas de Geografia foi ampliada. Pode-se considerar que: o conhecimento a ser alcançado no ensino, na perspectiva de uma geografia crítica, não se localiza no professor ou na ciência a ser “ensinada” ou vulgarizada; e sim no real, no meio onde o aluno e professor estão situados e fruto da práxis coletiva dos grupos sociais. Integrar o educando no meio significa deixá-lodescobrir que pode tornar-se sujeito da história (VESENTINI, 1989, p. 37). No entanto, o que se evidencia em algumas práticas docentes, é que há uma grande distância entre o discurso de uma Geografia renovada e a realidade da Geografia que se pratica nas escolas. Inferi-se que: é necessário refletir criticamente sobre nossa prática enquanto professores, prática esta imersa numa sociedade contraditória e por isso permeada de conflitos. Não estamos, enquanto professores, numa redoma de vidro, isento de contradições, sendo impotente, portanto, momentos como esse, onde possamos trocar experiência e compreender melhor a sociedade em que vivemos e a nossa prática enquanto cidadãos que, conscientemente ou não ajudam a constituir esta sociedade (GONÇALVES, 1987, p. 9). Independente da perspectiva geográfica, o que pode ser observado nas escolas é que a maneira mais comum de se ensinar Geografia tem sido pelo discurso do professor ou livro didático. Este discurso parte de alguma noção ou conceito-chave que, em seguida, é explicado de forma descontextualizada. Portanto, as abordagens atuais da Geografia almejam que de fato os professores busquem práticas de ensino para fazer com que os alunos assimilem diferentes aspectos de um mesmo fenômeno em diferentes momentos da escolaridade. 16 É importante que os professores de Geografia percebam que, evidentemente, há certa necessidade e responsabilidade na hora de se combinar objetivos, conteúdos, métodos e formas de organização do ensino, objetivando-se a assimilação ativa, por parte dos alunos, de conhecimentos, habilidades e hábitos associados ao desenvolvimento de suas capacidades. As pretensas abordagens evidenciam a responsabilidade que o docente possui na hora de estimular e contribuir para o processo de ensino e aprendizagem. Assim, para Libâneo “a conclusão do processo de ensino requer uma compreensão clara e segura do processo de aprendizagem que consiste, como as pessoas aprendem quais as condições externas e internas que influenciam” (1994, p.81). Há vários caminhos a serem trilhados no que diz respeito às discussões que permeiam o campo de estudo da esfera geográfica e prática docente, entretanto, é bastante relevante fazer algumas considerações a respeito da chamada “escola” instituição, a qual está atrelada a certas ideologias e que, de certa forma, acaba moldando o ensino e a aprendizagem. Em virtude disso: Devemos estar atentos para o seguinte: a escola que parece ser uma instituição muito natural, como fenômeno social de massa é extremamente recente do final do século XIX. Até então as escolas estavam atreladas às instituições religiosas, à formação de sacerdotes e passavam um saber extremamente exclusivista e elitista. Só com a Revolução Industrial e com o advento da sociedade capitalista é que se vai ter a generalização da alfabetização. Assim, até o século XIX, a humanidade viveu em sua quase totalidade sem saber ler e escrever (GONÇALVES, 1997, p. 11). Algumas instituições como a escola, são criadas para que a sociedade possa se legitimar através dela, contribuindo para que a figura do estado exerça influência sobre todos; através, inclusive, de currículos escolares, que há todo um sistema de controle para que se ensinem determinados valores e que de fato a escola sirva como instrumento de reprodução da sociedade. Segundo, Gonçalves (1987, p. 12), “a escola é um aparelho de reprodução da sociedade, ela é, ao mesmo tempo, um lugar contraditório de prática social”. Contudo, a escola não está isolada do seu contexto social. Consequentemente, essa instituição acaba sofrendo influência das angústias e contradições de toda uma sociedade. 17 No que diz respeito ao trabalho da educação geográfica na escola, tem como um dos objetivos contribuir para que as pessoas, em geral, tenham noção da especialidade das coisas, dos fenômenos que elas vivenciam direta ou indiretamente. Cavalcante (2000) salienta que as percepções espaciais são importantes para a realização de práticas sociais variadas já que essas práticas são socioespaciais. Sem esquecer um dos recursos que pode contribuir para que essas noções espaciais sejam percebidas e compreendidas - o mapa, o qual se faz presente em algumas escolas. 1.3. O mapa no contexto histórico Ao se fazer uma historização a respeito desse modelo de comunicação visual que é o mapa, nota-se que ele foi e ainda é uma ferramenta bastante útil em vários momentos da história, lembrando que: o mapa já era utilizado pelos homens das cavernas para expressar seus deslocamentos e registrar as informações quanto às possibilidades de caça, problemas de terreno, matas, rios, etc. Eram mapas topológicos, sem preocupação de projeção e de sistema de signos ordenado (ALMEIDA; PASSINI, 2001, p. 16). Diante de tais considerações, o mapa já era tido como um instrumento que propiciava um registro de informações que contribuíam para melhorar a sobrevivência humana; num contexto em que as técnicas eram bastante rudimentares, os homens utilizavam placas de argilas, madeiras, tecidos e pergaminhos para conservar a memória do lugar. Fica evidente que o mapa já era um instrumento de comunicação antes mesmo do surgimento da escrita. Os mapas primitivos mais antigos procuravam representar o espaço geográfico que o homem primitivo habitava. O traço das ruas e casas tem semelhança com as plantas das cidades modernas. Geralmente esses mapas eram usados em lugares sagrados, utilizados em rituais e sem a intenção de serem utilizados após o evento, o que dificulta a precisão da origem. 18 A confecção de mapa naquela época não era determinada apenas pelas técnicas, os mapas expressavam ideias sobre o mundo criado por diversas culturas diferentes, o que leva a pensar que: os mapas só podem ser devidamente compreendidos se vistos no contexto histórico e cultural em que foram produzidos, o que significa entender também os limites técnicos e cada época evitando o equívoco de confundir essas limitações com intenções políticas (ALMEIDA, 2003, p. 13). Voltando-se ao século IV a.C, seria possível encontrar uma Grécia que já admitia a esfericidade da Terra. E considerando que o uso do mapa sempre foi associado à ciência geográfica até mesmo antes de sua sistematização, Ptolomeu criou o mapa-múndi em sua obra Geografia, que foi considerado o mapa mais completo da antiguidade. Diante dos ensinamentos gregos, Ptolomeu estabeleceu uma síntese de toda a cosmografia de Geografia e corografia e posteriormente concebe a Terra como imóvel e centro do universo, ou seja, um sistema geocêntrico. Para Almeida: o mapa-múndi mais complexo da antiguidade foi feito por Ptolomeu. Em sua obra Geografia, composta por oito volumes, ele tratou das técnicas de construção de projeção e dos globos construiu um planisfério e 26 mapas mais detalhados (2003, p. 14). Sabe-se que no período da Idade Média ocorreu um retrocesso, por conta dos dogmas criados pela igreja, onde já não se admitia a esfericidade da Terra. E nesse contexto emergiram os mapas “T” e “O” que eram dominados pelo imaginário sobrenatural religioso, e não tinham nenhum compromisso com a representação da realidade. Em meados do século XVI os mapas procuravam representar fenômenos particulares com objetivos essencialmente prático. Eram os mapas hidrográficos, das florestas, das rotas marítimas, dos limites políticos e aqueles administrativos. Nesse sentido os europeus impulsionados pela exploração de novas terras, procuravam confeccionar mapas, onde os mesmos tinham uma idéia mais aproximada de como é a superfície terrestre. 19 Até o término da Primeira Guerra Mundial, a confecção dos mapas variou muito nos seus princípios, em relação ao que fora no século XVII. E atualmente esse recurso dispõe de um verdadeiroaparato tecnológico ao seu dispor, tais como: sensoriamento remoto, Sistemas de Posicionamento Global (GPS) e os satélites, etc., os quais possibilitam uma observação e registros à distância das características de determinado espaço geográfico. E, diferentemente dos mapas confeccionados no período da Idade Média, seu objetivo atual é representar o espaço geográfico com um total compromisso com a realidade. Com relação a isso, Almeida considera que “o uso de imagens de satélite, GPS e avanço de sistema de informação possibilitam produzir mapas com alta precisão” (2003, p. 16). 1.4. O mapa: ferramenta que possibilita conhecer e representar a Terra A história da humanidade sempre foi marcada pela inquietude humana, no que diz respeito ao descobrimento e desbravamento a propósito da superfície terrestre, onde os homens sempre procuraram conservar a memória dos lugares e dos caminhos úteis às suas ocupações. No início, a imaginação supria a falta de informação, mas com o passar do tempo e a evolução das técnicas foi possível precisar a imagem global da Terra à medida que foi sendo descoberta. Os mapas foram sendo diversificados, especializados e simplificados, porém, eles ainda continuam conservando seu valor documental e sendo uma ferramenta que possibilita conhecer e representar a Terra. Foi nesse contexto de diversificação que surgiram os mapas de base que, de uma maneira ou de outra, deram um suporte para a confecção de outros tipos de mapas; nota-se que é no mapa de base que se deve encontrar todos os elementos visíveis do espaço topografado, possibilitando uma maior confiabilidade para quem vai ler e interpretar um mapa, levando em conta a necessidade de um elo de comunicação entre o recurso e quem vai se apropriar dele. E foi nesse contexto de descoberta que surgiram os primeiros mapas topográficos. A partir de então, o homem pôde representar o espaço em que ele estava inserido de uma forma mais precisa. Em decorrência disso, Joly acredita que “os mapas têm por objetivo a representação exata e detalhada da superfície terrestre 20 no que se refere à posição, à forma, às dimensões e a identificação dos acidentes do terreno” (1990, p. 54). O mapa topográfico é um recurso imprescindível nas aulas de Geografia, porque nele podem ser encontrados todos os elementos visíveis da paisagem, contribuindo assim, para que o aluno faça as devidas interpretações contidas em um determinado espaço. Outro recurso que pode contribuir para que alunos e professores possam analisar o espaço geográfico são os mapas temáticos, pois os mesmos podem fazer referências a diversos temas, ilustrando, assim, alguns fatos. Segundo Joliy (1990), o objetivo dos mapas temáticos é o de fornecer informações qualitativas e quantitativas, estabelecendo relações entre os mais variados temas. Essa cartografia temática, portanto, possibilita que o espaço geográfico seja percebido através dos objetos materiais visíveis e mensuráveis, dos quais podem fazer parte as rochas, montanhas, vales, rios, florestas, campos etc. Além dos mapas topográficos e temáticos que geralmente podem ser identificados nos livros didáticos, tem-se também o globo terrestre que não possui muita riqueza de detalhe. Por outro lado, permiti que o aluno tenha uma visão global da Terra, e que se façam algumas abstrações dessa visão global da superfície terrestre. Tornando possível se trabalhar alguns conceitos-chave da Geografia, como os limites de fronteiras, assim como outros conteúdos que ficam a cargo da ciência geográfica, dos professores de Geografia e das disciplinas afins. A utilização do globo em sala de aula possibilita ao professor mostrar fluxos espaciais de grandes distâncias para seus alunos. Sem um globo terrestre, o professor terá certa dificuldade para trabalhar temas que necessitam de uma posição clara de distâncias e posições no planeta, como transportes marítimos e aéreos. 21 1.4.1 A qualidade de um mapa Na confecção dos mapas é preciso ter cuidado e atenção às regras, a fim de que o professor não apenas possa se apropriar do recurso, mas também confiar nele. Partindo-se da premissa de que a qualidade de um bom mapa é medida por sua precisão, pela confiança que este recurso pode conceder no ambiente escolar e pela sua eficácia, deve-se observar que: um mapa é preciso quando a posição dos objetivos e dos lugares representados é rigorosamente semelhante a que esses objetos e esses lugares na realidade ocupam no terreno. Nessas condições e nos limites do sistema de projeção adotado, o mapa oferece ao leitor o máximo de garantidas para que nele sejam praticados raciocínios e medições nas melhores condições (JOLY, 1990, p. 117). Para que um mapa alcance uma precisão confiável, é aconselhável que se faça um estudo de campo, assim, vai ser possível fazer coleta de dados e informações que posteriormente serão transformadas em rede de coordenadas para que, à medida que o leitor se deparar com os símbolos, códigos, escalas e legenda este possa abstrair as informações de uma forma mais precisa. Crê-se que esse estudo de campo ganhou e vem ganhando certo auxílio do avanço tecnológico, considerando que com o surgimento do Sistema de Posicionamento Global e os Satélites ficou bem mais fácil coletar dados de determinadas áreas da superfície terrestre. Outro aspecto relevante está associado à qualidade didática e a legibilidade de um mapa. O mapa deve ser uma ferramenta atraente. Quem o confeccionar, deve ter a preocupação de transformá-lo em algo expressivo para os mais significados aspectos do tema a ser tratado. Joly aponta que é responsabilidade do cartógrafo “pesquisar os sinais e os símbolos, as cores e as tramas mais apropriadas e que correspondam a um mínimo de convenções que serão lembradas numa legenda completa e bem construída” (1990, p.120). 22 Em suma, a expressão junto com a legibilidade é uma parte importante da estética de um mapa. Porque, quando o leitor se depara com essa ferramenta, ele não deve ter de resolver um enigma complicado: deve sim se deixar guiar por suas próprias expressões visuais e pela própria lógica do sistema de representação. Com relação à eficácia, um mapa é eficaz quando é perfeitamente adaptado ao seu objeto, nesse caso é o ensino de Geografia que está em questão, então, ele deve conter todos os dados necessários ao tratamento que vai ser abordado, excluindo, dessa forma, qualquer informação supérflua ou fora de propósito. 1.4.2 A leitura e interpretação de um mapa Fazendo-se um enfoque sobre a teoria da aprendizagem, a leitura e a interpretação de mapas, torna-se pertinente que essa temática tenha ganhado maior relevância, sobretudo com os trabalhos de Jean Piaget, na área de Psicologia Genética. Os trabalhos de Jean Piaget tiveram uma maior abrangência no Brasil, com maior intensidade a partir de meados da década de 1970, quando as propostas tecnicistas de ensino já apresentavam suas limitações (SOUZA, 2001, p. 58). O mapa possui várias funções, mas não podem ser discutidas suas funções e contribuições sem antes especificar o seu público alvo. Então, acredita-se que: pode-se depreender dessa observação, que o mapa, para um geógrafo, motorista, guia de turismo, agente publicitário, administrador, advogado, economista, professor de Geografia vai ter funções específicas, dependendo do tipo de informações que o profissional está procurando, analisando ou visando explicitar (SOUZA, 2001, p. 113). As reflexões feitas no presente trabalho, no tocante ao assunto abordado, diz respeito aos alunos e professores do 6º ano do Ensino Fundamental da rede pública de ensino. Com base disso, considera-se que o interesse desse público é estabelecer certo raciocínio geográfico, visando compreender osconceitos-chave da ciência geográfica. Por isso, é necessário considerar que: 23 É preciso lembrar, no entanto, que para que isso ocorra faz-se necessária a aprendizagem de noções habilidades e conceitos importantes para que a leitura do mapa seja profícua e sua utilização ultrapasse, assim, a reprodução dos contornos dos mapas políticos, como temos visto ocorrer inúmeras vezes (SOUZA, 2001, p. 113). É recorrente notar no cotidiano das escolas é que é irrisório o número de alunos que conseguem manusear essa ferramenta e perceber que através dela seria mais fácil identificar as transformações do espaço no âmbito de uma sociedade. Comunga-se a idéia de que: Mesmo que os alunos não tenham consciência de que a informação da qual necessitam seria mais facilmente obtida com o uso de mapas, isso não quer dizer que não reconhecem como instrumento, pois sua utilidade não se faz presente em atividades cotidianas realizadas por eles (SOUZA, 2001, p. 114). A leitura e interpretação de um mapa requerem alguns procedimentos, em consoante, antes de se fazer qualquer tipo de interpretação utilizando o mapa, o leitor deve estar ciente de que ler um mapa não é apenas localizar um elemento cartográfico ou qualquer fenômeno, ler mapa significa dominar o sistema semiótico da linguagem cartográfica. Assim: Na verdade, ler um mapa não é apenas localizar seus elementos, cidades, rios, florestas, etc. O mapa é um modelo de comunicação codificada para representação de um espaço real que é decodificado através de uma linguagem cartográfica que se utiliza de três elementos básicos: simbologia, projeção e ração de redução (PORTO, 2004, p. 148). Para que o aluno tenha êxito na hora de abstrair algumas informações de um mapa é necessário que ele consiga codificar toda a simbologia e convenções que o mapa possui, iniciando pela leitura do título, pois com essa leitura ele vai identificar o espaço que está sendo representado. Com relação à legenda é importante que o aluno faça uma leitura atenta, pois a legenda irá propiciar a decodificação, relacionando os significantes (símbolos) e os significados (mensagens) dos signos representados. Outro item que faz parte das convenções de um mapa é a escala, item esse bastante pertinente, constatando-se que vai ser por meio desta que o aluno fará o 24 cálculo da distância, permitindo assim, que se faça uma série de confrontações e interpretações de acordo com o espaço representado no mapa. A interpretação é uma fase mais complexa que a leitura do mapa, a interpretação é um processo de síntese e exige habilidades e experiência, para extrair as idéias complexas deduzidas das observações. A leitura de mapas deve ser exercício constante para desenvolver o sentido de observação, descrição, e correlação dos elementos por parte do aluno, pois, somente assim, o discente que exercita sua leitura de mapas vai alcançar um bom nível de interpretação. A qualidade e complexidade de uma leitura e interpretação dependem do conhecimento sobre o assunto e dos objetivos. Para tanto, a atuação do professor em sala de aula vai ser de suma importância, pois vai ser ele quem vai mediar toda a situação, contribuindo, assim, para que o aluno se torne um bom leitor e, consequentemente, possa fazer as devidas interpretações do tema abordado no mapa. 1.4.3 A prática docente e a utilização do mapa Ao ser feita uma reflexão a respeito da importância do uso do mapa no processo de construção do conhecimento geográfico, questiona-se em torno do trabalho docente e do ensino de Geografia com o auxílio de mapas, no sentido de que a qualidade formativa dos professores é um elemento chave para que se faça avançar reflexões diante de como o mapa vem sendo utilizado em sala de aula. Levando-se em consideração que o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico e que esse espaço pode ser representado através de convenções cartográficas, entende-se que os conteúdos da Geografia somente podem ser compreendidos e ensinados por meio de metodologias que aproximem os alunos das diferentes realidades. A linguagem cartográfica nesse contexto possui um papel importantíssimo, considerando que: a linguagem cartográfica é a nosso ver, uma das que indubitavelmente devem ser utilizadas no ensino, pois representa a territorialidade dos diferentes fenômenos, razão de ser da própria ciência geográfica. Em outras 25 palavras, é inconcebível ensinar, fazer entender a realidade do ponto de vista de mapas bem elaborados (SOUZA, 2001, p. 61). Antes de prosseguir com tais reflexões, é preciso atentar para o que se entende por mapa, pois dependendo da concepção que for adotada, algumas representações espaciais não poderão ser legitimadas como tal, em função de toda uma estrutura técnica. De acordo com Souza “um mapa é uma representação geométrica plana simplificada e convencional, do todo ou de parte da superfície terrestre, numa relação de similitude conveniente denominada escala” (1990, p. 7). Outro conceito de mapa é mencionado por Simielli, (1986, apud SOUSA, 2001, p. 117), “o mapa é um instrumento comumente usado na escola para orientar, localizar e informar”. A importância de sua utilização consiste em permitir um contato mais direto que palavras entre o aluno e o mundo, embora exija um alto nível de abstração. Segundo Guerra, (1968, apud Sousa, 2001, p. 118), “as cartas geográficas constituem a primeira ferramenta do trabalho tanto para os geógrafos como para os alunos e professores de Geografia”. Nos mapas, tem-se a facilidade de ver, de imediato, qualquer porção da Terra. Para Keller, (1968, apud Sousa, 2001, p. 117). “O grande valor do trabalho com mapas é o de dar uma visão global e revelar as distribuições e interrelações que são o objetivo específico da Geografia”. A interpretação de um mapa compreende uma síntese, na qual idéias complexas são deduzidas e combinadas a partir de observações analíticas. Em face das considerações dos autores, é salutar afirmar que é impossível se trabalhar alguns conteúdos de Geografia sem o auxílio do mapa, considerando que o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico e este pode ser de fato representado através de um mapa. Na verdade, muitas vezes sua exposição em sala de aula acaba se transformando em um emaranhado de símbolos e códigos, desviando o foco central da prática docente. Acredita-se que essa dificuldade de 26 manuseio por parte do professor que vai utilizá-lo pode ser reflexo do seu processo de formação e até mesmo das transformações pelas quais passou o ensino de Geografia ao longo do tempo. Essas transformações talvez tenham contribuído para a formação de um professor descompromissado com a leitura e interpretação de mapas, privilegiando apenas um discurso que se tornou mais acentuado com a transição da Geografia tradicional para a dita Geografia Crítica, provocando até mesmo uma crise de identidade por parte dos alunos, que acabam muitas vezes confundindo as aulas de Geografia com as aulas de História. Todavia, não podemos contribuir para tal dicotomia, considerando que seria inviável trabalhar conteúdos de Geografia sem apoio do contexto histórico, em virtude de tudo acontecer no tempo e no espaço. Em razão disso, essa crise de identidade pode ter sido causada por conta da omissão do professor, que muitas vezes não se esforça no sentido de contribuir com a formação de consciência nos alunos, uma vez que a compreensão de alguns conteúdos trabalhados em sala de aula se tornaria mais compreensível com auxílio do mapa. Mas, essas considerações que estão sendo feitas, não implicam dizer que o mapa não seja utilizado nas salas de aulas, o que se observa muitas vezes no ambiente escolar é que os alunos não o enxergam como um recurso didático que poderia contribuir parao processo de ensino e aprendizagem do saber geográfico, sabe-se que: isso deve ficar bem claro para os professores da Geografia, pois eles correm o grande risco de valorizar esse meio de comunicação, ou seja, correm o risco de cair no oposto extremo de valorizar somente o instrumento, o recurso, em detrimento da ação. Dessa forma percebemos a responsabilidade de se utilizar bem o mapa, transformando num recurso didático essencial da sala de aula, que possibilite não apenas a localização, mas que contribua para o processo do conhecimento geográfico a partir de conhecimentos prévios do aluno possibilitando uma maior interação entre o recurso e o aluno (SOUZA, 2001, p. 115). Ao se falar do mapa como um recurso didático que contribui para que o professor transforme as informações da ciência geográfica em conhecimento, não necessariamente tem-se que trabalhar com aquelas informações transmitidas por meio de uma linguagem cartográfica cheia de símbolos e códigos totalmente codificados. 27 O professor poderia exercitar nos alunos a construção de mapas mentais, que de certa forma iria contribuir para a compreensão de alguns temas geográficos que possui uma subjetividade considerável, como é o caso do estudo do lugar. Assim, a utilização e o exercício desse recurso em sala de aula seria uma peça chave que daria maior suporte para a compreensão do estudo do lugar e até mesmo iniciar estudos para se tentar responder o que seria um mapa. Provavelmente haveria um maior protagonismo na sala de aula, caberia ao aluno desfrutar desse recurso, possibilitando assim uma participação ativa nas aulas, auxiliando o professor a transformar informações em conhecimento, e contribuir para uma maior compreensão do lugar que esse aluno se encontra. Segundo, Pontuschka (2006, p. 125) “Os mapas mentais nos revelam como os lugares estão sendo compreendidos”. É preciso rever conceitos, para que se possa perceber que há muito mais o que se resgatar na prática docente do ensino de Geografia, porque muitas vezes as práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula não ajudam o aluno a perceber o mundo concreto em que ele está inserido. É difícil admitir que o professor sem utilizar os recursos didáticos tais como, mapas, atlas e globo terrestre, consiga trabalhar as noções preliminares do que é o espaço geográfico e de como esse espaço vem sendo transformado pelo homem. Indubitavelmente, é importante que o professor e algumas instituições de ensino revejam suas práticas e políticas pedagógicas, lembrando que, em algumas escolas, vigoram estratégias de ensino centradas na voz do professor e na passividade do aluno e o livro didático ainda comanda a cena em sala de aula. Possibilitando, assim, uma abertura para que outros recursos de excepcional relevância tenham seu uso relegado. É compreensível, portanto, nesses casos que o conhecimento geográfico não seja construído, a memorização seja a forma habitual de mascarar esse conhecimento. 28 2. DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DO MAPA NAS AULAS DE GEOGRAFIA DO 6º ANO DO ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE TERESINA-PI A análise diagnóstica deste trabalho foi realizada na rede urbana do município de Teresina (PI), a área escolhida foi a Região Sudeste, onde foram aplicados questionários para os docentes do 6º ano - tarde das seguintes escolas: Escolão do Parque Itararé, Escola Municipal Artur Medeiros Carneiro. Escola Municipal Bom Princípio, Escola Municipal João Porfírio de Lima, Escola Municipal São Sebastião, Escola Municipal Deputado Humberto Reis, Escola Municipal O.G. Rêgo de Carvalho. Este trabalho teve como universo de pesquisa os docentes da rede municipal de ensino da Região Sudeste de Teresina (PI). No qual foram entrevistados sete professores de Geografia do 6º ano do Ensino Fundamental no turno vespertino. Vale ressaltar que são nove escolas que ofertam 6º ano do Ensino Fundamental na Região Sudeste de Teresina-PI e que dentre os sete professores entrevistados, dois (2) deles trabalham em mais de uma escola. Para responder a problematização: de que forma a utilização do mapa contribui para o processo de ensino e aprendizagem na disciplina de Geografia, foi utilizado o método de documentação direta através de um questionário padronizado. A elaboração dos dados foi realizada com base na tabulação e levantamento percentual destes, adotando-se o método matemático-estatístico. Este procedimento permitiu a disposição dos dados coletados em tabelas e gráficos, aos quais se farão referências no decorrer da análise que se segue. Questionados acerca dos recursos didáticos mais utilizados em sala de aula 75% dos sujeitos pesquisados afirmaram ser o livro didático e 25% apontam para o mapa e atlas, conforme gráfico abaixo. 29 Gráfico 01: Recursos didáticos mais utilizados. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. A partir desses dados, fica evidente que boa parte dos professores pesquisados entende o trabalho docente como sendo o ato de passar a matéria, utilizando com maior frequencia o livro didático durante as aulas, deixando em segundo plano o mapa e até mesmo outros recursos que, sem dúvida, contribuiriam de forma positiva no processo de ensino-aprendizagem. Diante dessa amostra, pode-se ter uma base de como vem sendo a metodologia de ensino que professores da rede pública de ensino estão adotando, considerando que quando o professor defronta-se com a realidade de Geografia escolar e reflete sobre ela, consegue distinguir dois tipos de práticas, uma que é instituída tradicional; outra que são práticas alternativas. Isso leva à reflexão sobre a idéia de que quando o professor se apropria apenas do livro didático como o recurso mais utilizado nas aulas de Geografia ele está adotando uma postura considerada tradicional, que por muitos é considerada pouco produtiva. Evidencia-se que o sistema público de ensino muitas vezes enfraquecido e sem perspectivas, possui um quadro de professores que na prática são materialmente impossibilitados de buscar aperfeiçoamento e uma renovação de modo constante para que se possa romper de fato com esses paradigmas da prática docente. 30 Questionados sobre a disposição de mapas na escola para serem utilizados nas aulas de Geografia e nas matérias afins, 50% dos pesquisados afirmaram serem poucos os mapas; 25% responderam sim e 25% responderam não, conforme se verifica no gráfico a seguir: Gráfico 02: Disponibilidade de mapas nas escolas. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. Analisando os resultados, fica notório que existe certa parcialidade no que se refere à disposição dessa ferramenta, que é o mapa, no ambiente escolar. No qual, o ideal seria que toda instituição de ensino tivesse à sua disposição e à do professor uma espécie de acervo com uma variedade de mapas de todos os tipos, tais como mapas topográficos, que procuram retratar o espaço com uma maior precisão; mapas temáticos, que iriam possibilitar ao aluno fazer comparações e perceber que inúmeras informações podem ser quantificadas e se transformar em mapas, assim como atlas, cartas e globo terrestre auxiliando o aluno na percepção relacionada aos tipos de escala, legenda e símbolos que contempla esse recurso, ajudando o discente a ter uma visão de conjunto do espaço geográfico e levá-lo a refletir sobre este. Questionados sobre a utilização do mapa em sala de aula, 75% afirmaram que utilizam; 12,5% utilizam frequentemente e 12,5 utilizam raramente. 31 Gráfico 03: Utilização do mapa nas salas de aula. Fonte: pesquisa direta nov/ 2008. Percebe-se que nenhum dos professores de geografia pesquisados deixa de utilizar o mapa nas aulas de Geografia, uns o utilizam com uma maior frequência, outros não. É importante salientar que quando o professor se dispuser a utilizaressa ferramenta ele perceba e procure fazer com que seus alunos compreendam que o mapa os permite ter um domínio espacial, assim como fazer a síntese dos fenômenos que ocorrem num determinado espaço e que o objetivo das representações dos mapas e desenhos é transmitir informações e não ser simplesmente objetos de reprodução. Partindo-se do pressuposto de que essa pesquisa foi feita com os professores de Geografia do 6º ano do Ensino Fundamental, seria um descaso com o ensino de Geografia se o professor tivesse acesso a esse recurso e não utilizasse com alguma frequência em suas aulas. Questionados sobre a atualização dos mapas e atlas que são utilizados nas aulas de Geografia, 62,5% afirmam que estes não são atualizados; 27,5% afirmaram que os mesmos são atualizados, conforme se verifica no gráfico a seguir: 32 Gráfico 04: Utilização de Mapas e Atlas atualizados. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. Observando os dados percentuais, fica claro que o material de apoio do professor de Geografia, que são os recursos didáticos do qual fazem parte os mapas, Atlas, globo terrestre e outros deixam a desejar, considerando que mais de 50% dos entrevistados afirmaram que os mapas e Atlas não estão atualizados. Contudo, já foi mencionado neste trabalho a importância da qualidade de um mapa, qualidade essa que é percebida pela sua precisão e pela sua eficácia. Dessa forma, o mapa deve fornecer ao leitor o máximo de garantias para que nele sejam praticados raciocínios e medições nas melhores condições. Outro aspecto importante diz respeito à veracidade das informações, que deve manter-se dentro dos limites impostos pela documentação, com esse efeito, é possível advertir o leitor, nas margens do mapa ou numa nota, do valor real das informações fornecidas. Em resumo, a escola que disponibilizar desse recurso para o trabalho docente deve se preocupar com a veracidade das informações, sem contar que o mapa é um meio de comunicação e as informações contidas nesse recurso não podem ser informações obsoletas. No caso da utilização nas aulas de Geografia, esse recurso deve passar certa confiabilidade para o aluno, caso contrário, ele provavelmente perderá o interesse e o processo de ensino-aprendizagem pode ficar comprometido. 33 Indagados a respeito da utilização do mapa para se trabalhar certos conceitos-chave da Geografia, tais como: lugar, paisagem, território etc., 87,5% afirmaram ser ferramenta que contribui e 12,5% responderam que não; conforme o gráfico abaixo: Gráfico 05: Contribuição da utilização de mapas para trabalhos com conceitos geográficos. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. Constatou-se, a partir dessa amostra, que de fato essa ferramenta que é o mapa é um recurso imprescindível nas aulas de Geografia, partindo do princípio de que quando o professor de Geografia utiliza o mesmo em suas aulas ele tem em suas mãos a imagem retratada do objeto de estudo da Geografia, que é o “espaço geográfico” e, sem dúvida alguma, a utilização do mapa nas aulas de Geografia vai facilitar a assimilação de certos conteúdos dessa disciplina. Alguns tipos de mapas têm por objetivo a representação exata e detalhada da superfície terrestre no que se refere à posição, à forma, às dimensões e à identificação dos acidentes do terreno. Por isso, no momento em que o professor estiver planejando sua aula, deve considerar que é nessa hora que irão ser traçados os objetivos e metodologias, dependendo da aula que irá ministrar é importante que ele utilize o mapa. Diante do questionamento sobre a utilização do mapa nas aulas de Geografia em que se questionou se estes contribuem para que os alunos compreendam e utilizem essa ferramenta básica, como também, se estes desenvolvem capacidades 34 relativas à representação do espaço, 100% dos pesquisados responderam que sim, conforme se verifica no gráfico abaixo: Gráfico 06: A utilização de mapas e a compreensão dos alunos. Fonte: pesquisa direta, nov/2008. Observa-se unanimidade, à medida que a utilização do mapa no ensino de Geografia contribui para que os alunos não só compreendam e utilizem essa ferramenta básica como também passam a desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. Assim, quando o professor utiliza o mapa com certa frequência, os alunos poderão se familiarizar com essa ferramenta e passar a utilizá-la para tirar dúvidas relacionadas a determinados conteúdos. Esse contato direto com o recurso irá possibilitar ao aluno desenvolver capacidades relativas à representação espacial, considerando que há uma necessidade de se preparar as pessoas para lerem mapas, assim como conhecer seu próprio espaço. Dessa maneira, a Geografia, aliada às convenções cartográficas contidas no mapa, é uma disciplina que envolve um conhecimento estratégico, o qual permite às pessoas que desconhecem seu espaço e sua representação, passarem a organizar e dominar esse espaço. 35 Questionados sobre a leitura, interpretação e representação do espaço por meio de mapas, 37% dos pesquisados afirmaram que os alunos dominam essas técnicas, 37% responderam que a metade da classe domina a técnica e 25% responderam que menos da metade dos alunos dominam essas técnicas, ver gráfico abaixo: Gráfico 07: Leitura e interpretação de mapas pelos alunos. Fonte: pesquisa direta, nov/2008. Os dados coletados permitem compreender que existe uma porcentagem considerável que consegue codificar e decodificar as convenções cartográficas. Sendo assim, verifica-se também, que existe uma amostra que não consegue ler e muito menos interpretar as informações contidas num mapa. Do exposto, conclui-se que ler mapas é um processo que começa com a decodificação, envolvendo algumas etapas metodológicas as quais devem ser respeitadas. É preciso também que o aluno alcance certa habilidade na hora de fazer uma leitura dos significantes e dos significados e procure refletir sobre aquela distribuição/organização. Aprender a ler mapas requer um processo que abrange diversos fatores, sendo um dos principais a forma como o aluno será alfabetizado na leitura cartográfica. O ideal seria que fossem professores de Geografia os responsáveis por essa alfabetização cartográfica, mas sabe-se que são professores da área de 36 pedagogia que ensinam Geografia no curso primário, os quais muitas vezes contribuem para que os alunos cheguem ao Ensino Fundamental Maior sem conhecimento de noção espacial. E, consequentemente, tem-se alunos que não conseguem ler e interpretar mapas. De acordo com as informações obtidas perante a pergunta nº. 08 (ver anexo); 100% dos entrevistados afirmaram que a utilização do mapa está diretamente relacionando ao ensino de Geografia. Ver gráfico abaixo: Gráfico 08 : A utilização do mapa e o ensino de geografia. Fonte: pesquisa direta, nov/2008. De fato se pode conceber uma unanimidade diante da utilização do mapa e o ensino de Geografia. Em controvérsia, há uma divergência levando-se a admitir que, uma vez que a Geografia é uma ciência que se preocupa com a organização do espaço, para ela o mapa é utilizado tanto para investigação quanto para a constatação de seus dados. A cartografia, a Geografia e outras disciplinas como a Geologia, Biologia caminham paralelamente para que as informações colhidas sejam representadas de forma sistemática e, assim, se possa ter a compreensão “espacial” do fenômeno. De certo modo, o conhecimento geográfico se consagrou tradicionalmente fazendo uso do verbo e da grafia. Nesse sentido, não dá para imaginar aulas de Geografia sem a participação e contribuição do mapa, considerando que o mapa é de extrema importância para todos que se interessam por deslocamentos mais 37 racionais, assim comopela distribuição e organização do espaço, onde é possível se informar e se utilizar desse modelo propiciando aos alunos uma visão de conjunto do espaço geográfico. De acordo com as informações obtidas referentes à pergunta nº. 09 (ver anexo), 62,5% dos entrevistados afirmaram “sim”, que após ascensão da “geografia crítica” o mapa vem sendo negligenciado nas aulas de Geografia e 37,5% afirmaram que não, ver gráfico abaixo: Gráfico 09: Relação entre a ascensão da Geografia Crítica e a negligência na utilização de mapas. Fonte: Pesquisa direta, nov/2008. Os dados coletados permitem compreender que por causa de entendimentos equivocados advindos do ensino “tradicional” e “crítico”, alguns recursos didáticos tais como mapas, globos, Atlas e livro didático entre outros, foram sendo marginalizados. Desse jeito, admiti-se que, com a criação da denominada e reconhecida por muitos como Geografia radical ou crítica, acabou por valorizar, num primeiro momento, o discurso sobre a questão dos métodos de entendimento da realidade. É ponderado tomar conhecimento de como as metodologias são aplicadas, porque dependendo da sua aplicabilidade as aulas de Geografia podem ter ou não um caráter tradicional. No caso da utilização do mapa, ele não deve ser utilizado apenas para auxiliar o professor a localizar e a descrever fenômenos geográficos, e sim contribuir para uma maior reflexão em detrimento desses fenômenos que são 38 modificados e influenciados pelo homem. Levando-se a admitir que cada professor reconstrói a Geografia à sua maneira. Não é utilizando um mapa nas aulas de Geografia que ele vai ser considerado um professor tradicional, e sim, como ele utiliza os recursos. Interrogados sobre a confecção de mapas mentais com os alunos, 75% dos pesquisados afirmaram sim, que costumam confeccionar mapas mentais com seus alunos, 25% dos entrevistados afirmaram não, que não têm o hábito de confeccionar mapas mentais com seus alunos, (ver gráfico abaixo). Gráfico 10: Confecção de mapas mentais durante as aulas. Fonte: pesquisa direta, nov/2008. Observou-se que a grande maioria dos entrevistados adota essa prática metodológica que é a confecção de mapas mentais nas aulas de Geografia. De fato essa prática docente é bastante pertinente nas aulas de Geografia do 6º ano do Ensino Fundamental e pode até contribuir para iniciar uma discussão do que seria um mapa, e iniciar as noções de cartografia, tendo em vista que alguns autores como Piaget, consideram que “todo conhecimento deve ser construído pela criança através de suas ações”. Percebe-se que a confecção de mapas mentais é muito eficaz, pois irá contribuir para que futuramente o aluno se torne um bom leitor de mapas, partindo do princípio de que para se chegar a um nível de interpretação mais profundo é 39 necessário que o aluno tenha passado por experiências para a construção das noções espaciais, a partir das relações elementares no espaço cotidiano. De acordo com as informações obtidas diante da pergunta nº 01 (ver anexo), 37,5% dos pesquisados afirmam confeccionar mapas mentais frequentemente e 62,5% dos entrevistados apontam que raramente confeccionam mapas mentais; ver gráfico abaixo: Gráfico 11: Frequência da confecção de mapas mentais. Fonte: pesquisa direta, nov/2008. Constata-se que todos os professores entrevistados, pelo menos alguma vez, já procuraram confeccionar mapas mentais com seus alunos. Embora questionados sobre a frequência com que isso ocorre, ficou evidente diante dos dados percentuais que a grande maioria não utiliza essa prática de ensino com frequência, mas sim raramente. O interessante seria que os professores se apropriassem desse método de ensino com certa frequência, até mesmo antes de iniciar o conteúdo proposto, possibilitando, assim, que o professor faça uma análise diagnóstica dos conhecimentos prévios dos alunos, considerando que o mapa mental revela como os lugares estão sendo compreendidos, a partir do olhar daquele que nele vive. Assim sendo, poderia se utilizar desse recurso para fazer um levantamento com os alunos frente aos problemas sociais e ambientais dos lugares em que estes estão inseridos, promovendo uma maior reflexão sobre a apropriação do espaço pelo homem. 40 Isso implica dizer que as aulas de Geografia iriam ter como ponto de partida o espaço vivido de cada aluno, podendo viabilizar um maior protagonismo entre o professor e o aluno, sem deixar de considerar que a partir de conhecimentos prévios que os alunos possuem através de determinados espaços, o professor pode provocar uma discussão em sala de aula, relacionando-os com os mais diversos conteúdos da Geografia. De acordo com as informações obtidas diante da pergunta nº 12 (ver anexo); 50% dos pesquisados afirmam sim; que sem a utilização do mapa nas aulas de Geografia os alunos podem confundi-las com aulas de História e 50% dos entrevistados afirmaram que não, isso não ocorre (ver gráfico a seguir). 50%50% Sim Não Gráfico 12: Não utilização do mapa e ideia de aulas de História. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. Observou-se, então, uma parcialidade no que se refere ao ensino de Geografia com ou sem a utilização do mapa. Em virtude disso, percebe-se que alguns professores admitem que ao deixar de utilizar o mapa nas aulas de Geografia os alunos podem confundi-las com as aulas de História. Talvez de fato essa falta de habilidade por parte dos alunos em reconhecer o objeto de estudo da Geografia sem o auxílio do mapa possa ocorrer, uma vez que, o ensino de Geografia sempre foi associado ao uso do mapa e que após a ascensão da Geografia Crítica se pode observar por parte de alguns professores uma super valorização do discurso, dos quais são repletos de denúncias políticas, de caráter 41 histórico, econômico e social, estimulando para que a Geografia perca sua especificidade. Não seria coerente contribuir para tal dicotomia no que concerne ao ensino de Geografia e História, considerando que o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico e que os fatos históricos acontecem em determinados espaços. Cabe ao professor, portanto, ter a sensibilidade para se apropriar dos mais variados recursos possíveis, com intuito de fazer com que seus alunos, no caso do escopo em questão são os alunos do 6º ano de Ensino Fundamental, reconheçam e reflitam diante do objeto de estudo da Geografia. A respeito da utilização do mapa não apenas nos dias específicos das aulas de Geografia, mas também como parte do cotidiano escolar, 100% dos pesquisados disseram sim, que a utilização do mapa deveria fazer parte do cotidiano escolar, ver gráfico a seguir. 100% 0% Sim Não Gráfico 13: O mapa como parte do cotidiano escolar dos alunos. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. Pode-se perceber a importância dos mapas na vida das sociedades, não somente através do ensino formal, mas também da observação de que eles se fazem presentes nos mais variados usos e atividades, aparecendo em revistas, jornais e noticiários de televisão; em gabinetes de políticos e empresários; e sendo 42 usados por economistas, urbanistas, engenheiros e militares além de geógrafos; servindo, também, para orientar pessoas em suas viagens. Os mapas nos permitem ter domínio espacial e fazer a síntese dos fenômenos que ocorrem num determinado espaço. No dia-a-dia do todo cidadão tem-se a leitura do espaço por meio de diferentes informações. Pode-se ainda ter diferentes produtos representando diferentes informações para diferentes finalidades, mapas de turismo, mapas de planejamento, mapas rodoviários, mapas de minerais, mapas geológicos, entre outros. O local, entretanto, onde o seu uso deve se fazer indispensável é a sala de aula, por ser nesse momento davida do cidadão que devem ser iniciados os processos de apreensão dos conhecimentos e da aquisição e representação da realidade. Para que o mapa possa cumprir sua tarefa, os alunos devem fazer a sua leitura. Com esse intuito, é necessária, além do domínio das técnicas de representação da linguagem específica cartográfica, uma sensibilidade geográfica. Torna-se producente que os mapas façam parte do cotidiano das escolas. De forma que eles iriam ser vistos como uma possibilidade admirável de comunicação e não apenas um instrumento que facilita a orientação e localização de determinados fenômenos geográficos. Conquanto, é necessário consciência e cuidado para não supervalorizar esse recurso em detrimento do saber geográfico. De acordo com as informações obtidas diante da pergunta nº.14 (ver anexo), 50% dos pesquisados afirmaram que é a falta de habilidade do professor, 37,5% apontam a má qualidade dos documentos cartográficos e 12,5% consideram que é a compreensão enviesada do que seria a Geografia “crítica” (ver gráfico abaixo). 43 Gráfico 14: Subutilização do mapa no ensino da Geografia. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. Questionados sobre os fatores que contribuem para a subutilização do mapa no ensino de Geografia, se observa que há uma porcentagem considerável de professores sem habilidade adequada para utilizá-lo. Segundo essa falta de habilidade, é notório que certas posturas adotadas em sala de aula podem ser reflexo do seu processo de formação. Quanto à aprendizagem e ao uso da linguagem cartográfica que são exibidas através dos mapas no ensino superior e básico, percebe-se que, no primeiro caso, este fica restrito às aulas de cartografia escolar. Posto que dever-se-ia auxiliar na formação de profissionais que não tenham, de fato, certa habilidade com o uso do mapa. Entende-se que grande parte das disciplinas do curso superior de Geografia deveria utilizar esse meio de comunicação que é o mapa, pois não é possível entender geograficamente paisagens, lugares, territórios e regiões, entre outros, sem o uso do mesmo. O aluno-mestre, futuro docente, deve, pois, procurar alcançar certa habilidade no que se refere ao uso do mapa, para que, assim, possa fazer uso adequado desse recurso no ensino básico, para ensinar seus alunos a entenderem a realidade de forma menos caótica e sincrética. Outro fator que merece ser mencionado diz respeito à qualidade desse recurso que, sem dúvida, deve estar em boas condições de uso e devidamente 44 atualizado, para que de fato os objetivos traçados pelo professor possam ser alcançados. Logo, é importante mencionar a participação da escola nesse processo, que deve se preocupar com o acervo e a qualidade desse recurso. Questionados sobre o que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) a respeito do uso do mapa, 50% dos pesquisados afirmaram saber o que está contido neles e 50% admitem não saber. Como se verifica no gráfico abaixo. Gráfico 15: Conhecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) pelos professores, acerca do uso do mapa. Fonte: pesquisa direta, nov/ 2008. Com relação ao questionamento feito aos professores que afirmaram saber o que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais a respeito do uso do mapa, os mesmos responderam: Professor A: Segundo os PCN’s, a alfabetização cartográfica é fundamental para que os alunos possam continuar sua formação iniciada nas primeiras séries, eles precisam aprender os elementos básicos da representação gráfica/cartográfica, para que possam efetivamente ler mapas. Professor B: Os Parâmetros Curriculares Nacionais falam sobre a importância do mapa em todas as suas dimensões. Professor C: A teoria não caminha com a prática, há uma dificuldade enorme de compreensão tanto por parte do aluno quanto do professor. Professor D: Não quis tecer nenhum tipo de comentário. Professor E: Não quis tecer nenhum tipo de comentário. 45 Diante dessas considerações, percebe-se que embora alguns professores tenham confirmado o que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) em detrimento do uso do mapa, é diagnosticada certa incoerência quando se analisa as respostas dos professores. Em contrapartida, sabe-se que os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental, em todo o Brasil. Contudo, é de conhecimento de todos também que os PCN’s não são uma coleção de regras impostas do alto sobre o que os professores devem ou não fazer. São sim, uma referência consistente para a radical transformação dos objetivos, conteúdos e didática do Ensino Fundamental. É instigante que o professor de fato conheça a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais de acordo com o uso do mapa, os quais consideram que a prática do professor deve favorecer uma autonomia crescente na consulta e obtenção de informações por meio de mapas, atlas, globo terrestre e até mesmo de maquetes. Com base na pergunta nº. 16 (ver anexo), os professores se posicionaram da seguinte forma: Professor A: Não serve apenas para localizar os fenômenos espaciais, mas para entendê-los, pois devemos ir além das informações contidas no mapa, devemos entender as relações que um mapa apresenta. Professor B: Os mapas são importantes meios de acompanhamento do processo de ocupação, exploração e modificação da natureza, sendo eles agrário, industrial, climáticos, etc. Professor C: O mapa além de nos servir para a orientação e localização, nos fornece uma ampla possibilidade de partimos do local para o conhecimento mundial. Professor D: Faz-nos compreender os diferentes tipos de espaço e entender suas complexidades. Professor E: Não quis se manifestar. Professor F: O mapa é fundamental no ensino de Geografia, pois sem ele fica inviável fazer algumas reflexões a respeito do espaço. 46 Professor G: Não quis se manifestar. Partindo-se desses depoimentos, percebe-se que o mapa é uma ferramenta indispensável nas aulas de Geografia. Cabe ao professor refletir sobre suas metodologias de ensino, para que de fato o uso dessa ferramenta seja benéfico no processo de ensino-aprendizagem. 47 CONCLUSÃO Este trabalho tem como um dos seus objetivos contribuir para uma reflexão acerca de como o mapa vem sendo utilizado nas aulas de geografia, assim como o mesmo vem contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem, considerando que esse recurso sempre esteve relacionado à ciência geográfica e que nas ultimas décadas a geografia passou por uma série de transformações teórico metodológicas. Os mapas sempre fizeram parte dos recursos pedagógicos das escolas, assim como o quadro e o livro didático. Observou-se através dos dados coletados nesta pesquisa que o mapa se faz presente nas aulas de geografia, no entanto, o livro didático ainda é o protagonista principal nas aulas de geografia. No que diz respeito ao modo como se dá a utilização do mapa no ensino de geografia no 6◦ ano do ensino fundamental na rede pública municipal da Região Sudeste de Teresina – Pi, verificou-se que sua participação em sala de aula não vem alcançando os objetivos esperados, que correspondem a fazer com que os alunos façam uma leitura crítica do espaço representado no mapa. Os professores relatam que um número considerado de alunos, apesar de acharem importante que o professor utilize sempre este recurso, não consegue codificar e decodificar as informações contidas no mapa. Percebe-se que a leitura do mapa realizada pela maioria dos alunos é rudimentar, de forma descritiva, limitada aos símbolos mais conhecidos. As dificuldades dos alunos para lerem mapas são muitas; não realizam a leitura crítica do mapa, apenas olham, vêem como uma ilustração. Todavia, o professor muitas vezes contribui para que essa realidade
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