Buscar

Apostila Generalidades de Anatomia

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA ANATOMIA 
 
 
"Ao te curvares com a rígida lâmina de teu bisturi 
sobre o cadáver desconhecido, 
lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas, 
cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que em 
seu seio o agasalhou. 
Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. 
Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã 
feliz e 
sentiu saudades dos outros que partiram. 
Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma 
lágrima sequer, 
sem que tivesse uma só prece. 
Seu nome, só Deus sabe. 
Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à 
humanidade. A humanidade que por ele passou indiferente" 
(Rokitansky, 1876) 
 
 
O conhecimento anatômico do corpo humano data de quinhentos anos antes de 
Cristo no sul da Itália com Alcméon de Crotona, que realizou dissecações em animais. 
Pouco tempo depois, um texto clínico da escola hipocrática descobriu a anatomia do 
ombro conforme havia sido estudada com a dissecação. Aristóteles mencionou as 
ilustrações anatômicas quando se referiu aos paradigmas, que provavelmente eram figuras 
baseadas na dissecação animal. No século III A.C., o estudo da anatomia avançou 
consideravelmente na Alexandria. Muitas descobertas lá realizadas podem ser atribuídas a 
Herófilo e Erasístrato, os primeiros que realizaram dissecações humanas de modo sistemático. 
A partir do ano 150 A..C. a dissecação humana foi de novo proibida por razões éticas e 
religiosas. O conhecimento anatômico sobre o corpo humano continuou no mundo 
helenístico, porém só se conhecia através das dissecações em animais. No século II D.C., 
Galeno dissecou quase tudo, macacos e porcos, aplicando depois os resultados obtidos na 
anatomia humana, quase sempre corretamente; contudo, alguns erros foram inevitáveis 
 
 
devido à impossibilidade de confirmar os achados em cadáveres humanos. Galeno 
desenvolveu assim mesmo a doutrina da "causa final", um sistema teológico que requeria 
que todos os achados confirmassem a fisiologia tal e qual ele a compreendia. 
Porém não chegaram até nós as ilustrações anatômicas do período clássico, sendo 
as "séries de cinco figuras" medievais dos ossos, veias, artérias, órgãos internos e nervos são 
provavelmente cópias de desenhos anteriores. Invariavelmente, as figuras são representadas 
numa posição semelhante a de uma rã aberta, para demonstrar os diversos sistemas, às 
vezes, se agrega uma sexta figura que representa uma mulher grávida e órgãos sexuais 
masculinos ou femininos. Nos antigos baixos-relevos, camafeus e bronzes aparecem muitas 
vezes representações de esqueletos e corpos encolhidos cobertos com a pele (chamados 
lêmures), de caráter mágico ou simbólico mais que esquemático e sem finalidade didática 
alguma. 
Parece que o estudo da anatomia humana recomeçou mais por razões práticas 
que intelectuais. A guerra não era um assunto local e se fez necessário dispor de meios para 
repatriar os corpos dos mortos em combate. O embalsamento era suficiente para trajetos 
curtos, mas as distâncias maiores como as Cruzadas introduziram a prática de "cocção dos 
ossos". A bula pontifica De sepulturis de Bonifácio VIII (1300), que alguns historiadores 
acreditaram equivocadamente proibir a dissecção humana, tentava abolir esta prática. O 
motivo mais importante para a dissecação humana, foi o desejo de saber a causa da morte 
por razões essencialmente médico-legais, de averiguar o que havia matado uma pessoa 
importante ou elucidar a natureza da peste ou outra enfermidade infecciosa. 
O verbo "dissecar" era usado também para descrever a operação cesariana cada 
vez mais freqüente. A tradição manuscrita do período medieval não se baseou no mundo 
natural. As ilustrações anteriores eram aceitas e copiadas. Em geral, a capacidade dos 
escritores era limitada e ao examinar a realidade natural, introduziram pelo menos alguns 
erros, tanto de conceito como de técnica. As coisas "eram vistas" tal qual os antigos e as 
ilustrações realistas eram consideradas como um curto-circuito do próprio método de 
estudo. 
 
 
 
 
A anatomia não era uma disciplina independente, mas um auxiliar da cirurgia, que 
nessa época era relativamente grosseira e reunia sobre todo conhecer os pontos 
apropriados para a sangria. Durante todo o tempo que a anatomia ostentou essa 
qualidade oposta à prática, as figuras não-realistas e esquemáticas foram suficientes. 
O primeiro livro ilustrado com imagens impressas mais do que pintadas foi a obra 
de Ulrich Boner Der Edelstein. Foi publicada por Albrecht Plister em Banberg depois de 1460 e 
suas ilustrações foram algo mais que decorações vulgares. Em 1475, Konrad Megenberg 
publicou seu Buch der Natur, que incluía várias gravuras em madeira representando peixes, 
pássaros e outros animais, assim como plantas diversas. Essas figuras, igual a muitas outras 
pertencentes a livros sobre a natureza e enciclopédias desse período, estão dentro da 
tradição manuscrita e são dificilmente identificáveis. 
Dentre os muitos fatores que contribuíram para o desenvolvimento da técnica 
ilustrativa no começo do século XVI, dois ocuparam lugar destacado: o primeiro foi o final 
da tradição manuscrita consistente em copiar os antigos desenhos e a conversão da 
natureza em modelo primário. Chegou-se ao convencimento de que o mais apropriado 
para o homem era o mundo natural e não a posteridade. O escolasticismo de São Tomás de 
Aquino havia preparado inadvertidamente o caminho através da separação entre o 
mundo natural e o sobrenatural, prevalecendo a teologia sobre a ciência natural. O 
segundo fator que influiu no desenvolvimento da ilustração científica para o ensino foi a 
lenta instauração de melhores técnicas. No começo os editores, com um critério puramente 
quantitativo, pensaram que com a imprensa poderiam fazer grande quantidade de 
reproduções de modo fácil e barato. Só mais tarde reconheceram a importância que cada 
ilustração fosse idêntica ao original. A capacidade para repetir exatamente reproduções 
pictórica, daquilo que se observava, constituiu a característica distinta de várias disciplinas 
 
 
científicas, que descartaram seu apoio anterior à tradição e aceitação de uma 
metodologia, que foi descritiva no princípio e experimental mais tarde. 
 
 
As primeiras ilustrações anatômicas impressas baseiam-se na tradição manuscrita 
medieval. O Fasciculus medicinae era uma coleção de textos de autores contemporâneos 
destinada aos médicos práticos, que alcançou muitas edições. Na primeira (1491) utilizou-se 
a xilografia pela primeira vez, para figuras anatômicas. As ilustrações representam corpos 
humanos mostrando os pontos de sangria, e linhas que unem a figura às explicações 
impressas nas margens. As dissecações foram desenhadas de uma forma primitiva e pouco 
realista. 
Na Segunda edição (1493), as posições das figuras são mais naturais. Os textos de 
Hieronymous Brunschwig (cerca de 1450-1512) continuaram utilizando ilustrações descritivas. 
O capítulo final de uma obra de Johannes Peyligk (1474-1522) consiste numa breve 
anatomia do corpo humano como um todo, mas as onze gravuras de madeira que inclui 
são algo mais que representações esquemáticas posteriores dos árabes. Na Margarita 
philosophica de George Reisch (1467-1525), que é uma enciclopédia de todas as ciências, 
 
 
forma colocadas algumas inovações nas tradicionais gravuras em madeira e as vísceras 
abdominais são representadas de modo realista. 
 
 
Além desses textos anatômicos destinados especificamente aos estudantes de 
medicina e aos médicos, foram impressas muitas outras páginas com figuras anatômicas, 
intituladas não em latim (como todas as obras para médicos), mas sim em várias línguas 
vulgares. Houve um grande interesse, por exemplo, na concepção e na formação do feto 
humano. O uso freqüente da frase "conhece-te a ti mesmo" falada orientação filosófica e 
essencialmente não médica. A "Dança da Morte" chegou a ser um tema muito popular, 
sobretudo nos países de língua germânica, após a Peste Negra e surpreendentemente, as 
representações dos esqueletos e da anatomia humana dos artistas que as desenharam são 
melhores que as dos anatomistas. 
Os artistas renascentistas do século XV se interessavam cada vez mais pelas formas 
humanas, e o estudo da anatomia fez parte necessária da formação dos artistas jovens, 
sobretudo no norte da Itália. 
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o primeiro artista que considerou a anatomia 
além do ponto de vista meramente pictórico. Fez preparações que logo desenhou, das 
quais são conservadas mais de 750, e representam o esqueleto, os músculos, os nervos e os 
vasos. As ilustrações foram completadas muitas vezes com anotações do tipo fisiológico. A 
precisão de Leonardo é maior que a de Vesalio e sua beleza artística permanece 
inalterada. Sua valorização correta da curvatura da coluna vertebral ficou esquecida 
durante mais de cem anos. Representou corretamente a posição do fetus in utero e foi o 
primeiro a assinalar algumas estruturas anatômicas conhecidas. Só uns poucos 
contemporâneos viram seus folhetos que, sem dúvida, não foram publicados até o final do 
século passado. 
 
 
 
Michelangelo Buonarotti (1475-1564) passou pelo menos vinte anos adquirindo 
conhecimentos anatômicos através das dissecações que praticava pessoalmente, 
sobretudo no convento de Santo Espírito de Florença. Posteriormente expôs a evolução a 
que esteve sujeito, ao considerar a anatomia pouco útil para o artista até pensar que 
encerrava um interesse por si mesma, ainda que sempre subordinada à arte. 
Albrecht Dürer (1471-1528) escreveu obras de matemática, destilação, hidráulica e 
anatomia. Seu tratado sobre as proporções do corpo humano foi publicado após sua morte. 
Sua preocupação pela anatomia humana era inteiramente estética, derivando em último 
extremo um interesse pelos cânones clássicos, através dos quais podia adquirir-se a beleza. 
Com a importante exceção de Leonardo, cujos desenhos não estiveram ao 
alcance dos anatomistas do século XVII, o artista do Renascimento era anatomista só de 
maneira secundária. Ainda foram feitas importantes contribuições na representação realista 
da forma humana (como o uso da perspectiva e do sombreado para sugerir profundidade 
e tridimensionalidade), e os verdadeiros avanços científicos exigiam a colaboração de 
anatomistas profissionais e de artistas. Quando os anatomistas puderam representar de 
modo realista os conhecimentos anatômicos corretos, se iniciou em toda Europa um período 
de intensa investigação, sobretudo no norte da Itália e no sul da Alemanha. O melhor 
representante deste grupo é Jacob Berengario da Capri (+1530), autor dos Commentaria 
super anatomica mundini (1521), que contém as primeiras ilustrações anatômicas tomadas 
do natural. Em 1536, Cratander publicou em Basiléia uma edição das obras de Galeno, que 
incluía figuras, especialmente de osteologia, feitas de um modo muito realista. A partir de 
uma data tão cedo como 1532, Charles Estienne preparou em Paris uma obra em que 
ressaltava a completa representação pictórica do corpo humano. 
 
 
 
VESÁLIO 
 
Uma das primeiras e mais acertada 
solução para uma reprodução perfeita das 
representações gráficas foi encontrada nas 
ilustrações publicadas nos tratados anatômicos de 
Andrés Vesálio (1514-1564), que culminou com seu 
De humanis corpori, fabricada em 1453, um dos 
livros mais importantes da história do homem. 
Vesálio comprovou também que não são iguais 
em todos os indivíduos. Relatou sua surpresa ao 
encontrar inúmeros erros nas obras de Galeno, e 
temos que ressaltar a importância de sua negativa 
em aceitar algo só por tê-lo encontrado nos 
escritos do grande médico grego. Sem dúvida, 
apesar de ter desmentido a existência dos orifícios 
que Galeno afirmava existir comunicando as 
cavidades cardíacas, foi de todas as maneiras um 
seguidor da fisiologia galênica. Foram 
engrandecidas as diferenças que separavam seu 
conhecimento anatômico do de Galeno, 
começando pelo próprio Vesálio. 
Talvez pensasse que uma polêmica era um modo de chamar atenção. Manteve 
depois uma disputa acirrada com seu mestre Jacques du Bois (ou Sylvius, na forma latina), 
que foi um convencido galenista cuja única resposta, ante as diferenças entre algumas 
estruturas tal como eram vistas por Vesálio e como as havia descrito Galeno, foi que a 
humanidade devia tê-lo mudado durante esses dois séculos. 
Vesálio tinha atribuído o traçado das primeiras figuras a um certo Fleming, mas na 
Fabrica não confiou em ninguém, e a identidade do artista ou artistas que colaboraram na 
sua obra tem sido objeto de grande controvérsia, que se acentuou ante a questão de quem 
é mais importante, se o artista ou o anatomista. Essa última foi uma discussão não pertinente, 
já que é óbvio que as ilustrações são importantes precisamente porque juntam uma 
combinação de arte e ciência, uma colaboração entre o artista e o anatomista. As figuras 
da Fabrica implicam em tantos conhecimentos anatômicos que forçosamente Vesálio devia 
participar na preparação dos desenhos, ainda que o grau de refinamento e do 
 
 
conhecimento de técnicas novas de desenho, também para os artistas do Renascimento, 
excluem também que fora o único responsável. Até hoje é discutido se Jan Stephan van 
Calcar (1499-1456/50), que fez as primeiras figuras e trabalhou no estúdio de Ticiano na 
vizinha Veneza, era o artista. De qualquer maneira, havia-se encontrado uma solução na 
busca de uma expressão pictórica adequada aos fenômenos naturais. 
No século XVII foram efetuadas notáveis descobertas no campo da anatomia e da 
fisiologia humana. Francis Glisson (1597-1677) descreveu em detalhes o fígado, o estômago 
e o intestino. Apesar de seus pontos de vista sobre a biologia serem basicamente 
aristotélicos, teve também concepções modernas, como a que se refere aos impulsos 
nervosos responsáveis pelo esvaziamento da vesícula biliar. 
Thomas Wharton (1614-1673) deu um grande passo ao ultrapassar a velha e 
comum idéia de que o cérebro era uma glândula que secretava muco (sem dúvida, 
continuou acreditando que as lágrimas se originavam ali). Wharton descreveu as 
características diferenciais das glândulas digestivas, linfáticas e sexuais. O conduto de 
evacuação da glândula salivar submandibular conhece-se como conduto de Wharton. 
Uma importante contribuição foi distinguir entre glândulas de secreção interna (chamadas 
hoje endócrinas), cujo produto cai no sangue, e as glândulas de secreção externa 
(exócrinas), que descarregam nas cavidades. 
Niels Steenson, em 1611, estabeleceu a diferença entre esse tipo de glândula e os 
nódulos linfáticos (que recebiam o nome de glândula apesar de não fazer parte do 
sistema). Considerava que as lágrimas provinham do cérebro. A nova concepção dos 
sistemas de transporte do organismo que se obteve graças às contribuições de muitos 
investigadores ajudou a resolver os erros da fisiologia galênica referentes à produção de 
sangue. 
 
 
 
 
Gasparo Aselli (1581-1626) descobriu que após a ingestão abundante de comida o 
peritônio e o intestino de um cachorro se cobriam de umas fibras brancas que, ao serem 
seccionadas, extravasavam um líquido esbranquiçado. Tratava-se dos capilares quilíferos. 
Até a época de Harvey se pensava que a respiração estimulava o coração para produzir 
espíritos vitais no ventrículo direito. Harvey, porém, demonstrou que o sangue nos pulmões 
mudava de venoso para arterial, mas desconhecia as bases desta transformação. A 
explicação da função respiratória levou muitos anos, mas durante o século XVII foram dados 
passos importantes para seu esclarecimento. 
Robert Hook (1635-1703) demonstrou que um animal podia sobreviver também semmovimento pulmonar se inflássemos ar nos pulmões. 
Richard Lower (1631-1691) foi o primeiro a realizar transfusão direta de sangue, 
demonstrando a diferença de cor entre o sangue arterial e o venoso, a qual se devia ao 
constato com o ar dos pulmões. 
John Mayow (1640-1679) afirmou que a vermelhidão do sangue venoso se devia à 
extração de alguma substância do ar. Chegou à conclusão de que o processo respiratório 
não era mais que um intercâmbio de gases do ar e do sangue; este cedia o espírito 
nitroaéreo e ganhava os vapores produzidos pelo sangue. 
Em 1664 Thomas Willis (1621-1675) publicou De Anatomi Cerebri (ilustrado por 
Christopher Wren e Richard Lower), sem dúvida o compêndio mais detalhado sobre o 
sistema nervoso. Seus estudos anatômicos ligaram seu nome ao círculo das artérias da base 
do cérebro, ao décimo primeiro par craniano e também a um determinado tipo de surdez. 
Contudo, sua obsessão em localizar no nível anatômico os processos mentais o fez chegar a 
 
 
conclusões equívocas; entre elas, que o cérebro controlava os movimentos do coração, 
pulmões, estômago e intestinos e que o corpo caloso era assunto da imaginação. 
A partir de então, o desenvolvimento da anatomia acelerou-se. Berengario da 
Carpi estudou o apêndice e o timo, e Bartolomeu Eustáquio os canais auditivos. A nova 
anatomia do Renascimento exigiu a revisão da ciência. O inglês William Harvey, educado 
em Pádua, combinou a tradição anatômica italiana com a ciência experimental que 
nascia na Inglaterra. Seu livro a respeito, publicado em 1628, trata de anatomia e fisiologia. 
Ao lado de problemas de dissecação e descrição de órgãos isolados, estuda a mecânica 
da circulação do sangue, comparando o corpo humano a uma máquina hidráulica. O 
aperfeiçoamento do microscópio (por Leeuwenhoek) ajudou Marcello Malpighi a provar a 
teoria de Harvey, sobre a circulação do sangue, e também a descobrir a estrutura mais 
íntima de muitos órgãos. Introduzia-se, assim, o estudo microscópico da anatomia. Gabriele 
Aselli punha em evidência os vasos linfáticos; Bernardino Genga falava, então, em 
“anatomia cirúrgica”. 
Nos séculos XVIII e XIX, o estudo cada vês pormenorizado das técnicas operatórias 
levou à subdivisão da anatomia, dando-se muita importância à anatomia topográfica. O 
estudo anatômico-clínico do cadáver, como meio mais seguro de estudar as alterações 
provocadas pela doença, foi introduzido por Giovan Battista Morgani. Surgia a anatomia 
patológica, que permitiu grandes descobertas no campo da patologia celular, por Rudolf 
Virchow, e dos agentes responsáveis por doenças infecciosas, por Pasteur e Koch. 
Recentemente, a anatomia tornou-se submicroscópica. A fisiologia, a bioquímica, 
a microscopia eletônica e positrônica, as técnicas de difração com raios X, aplicadas ao 
estudo das células, estão descrevendo suas estruturas íntimas em nível molecular. 
Hoje em dia há a possibilidade de estudar anatomia mesmo em pessoas vivas, 
através de técnicas de imagem como a radiografia, a endoscopia, a angiografia, a 
tomografia axial computadorizada, a tomografia por emissão de positrões, a imagem de 
ressonância magnética nuclear, a ecografia, a termografia e outras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCEITO DE ANATOMIA 
 
 
No seu conceito mais amplo, a Anatomia é a ciência que estuda, macro e 
microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. 
 
 
Um excelente e amplo conceito de Anatomia foi 
proposto em 1981 pela American Association of 
Anatomists: anatomia é a análise da estrutura biológica, 
sua correlação com a função e com as modulações de 
estrutura em resposta a fatores temporais, genéticos e 
ambientais. Tem como metas principais a compreensão 
dos princípios arquitetônicos da construção dos 
organismos vivos, a descoberta da base estrutural do 
funcionamento das várias partes e a compreensão dos 
mecanismos formativos envolvidos no desenvolvimento 
destas. A amplitude da anatomia compreende, em termos 
temporais, desde o estudo das mudanças a longo prazo 
da estrutura, no curso de evolução, passando pelas das 
mudanças de duração intermediária em desenvolvimento, 
crescimento e envelhecimento; até as mudanças de curto 
prazo, associadas com fases diferentes de atividade 
funcional normal. 
 
 
Em termos do tamanho da estrutura estudada vai desde todo um sistema 
biológico, passando por organismos inteiros e/ou seus órgãos até as organelas celulares 
e macromoléculas. 
A palavra Anatomia é derivada do grego anatome (ana = através de; tome = 
corte). Dissecação deriva do latim (dis = separar; secare = cortar) e é equivalente 
etimologicamente a anatomia. Contudo, atualmente, Anatomia é a ciência, enquanto 
dissecar é um dos métodos desta ciência. 
 
 
Seu estudo tem uma longa e interessante história, desde os primórdios da 
civilização humana. Inicialmente limitada ao observável a olho nu e pela manipulação dos 
corpos, expandiu-se, ao longo do tempo, graças a aquisição de tecnologias inovadoras. 
 
 
 
 
 
Atualmente, a Anatomia pode ser subdividida em três grandes grupos: 
Anatomia macroscópica, Anatomia microscópica e Anatomia do desenvolvimento. 
A Anatomia Macroscópica é o estudo das estruturas observáveis a olho nu, 
utilizando ou não recursos tecnológicos os mais variáveis possíveis, enquanto a Anatomia 
Microscópica é aquela relacionada com as estruturas corporais invisíveis a olho nu e 
requer o uso de instrumental para ampliação, como lupas, microscópios ópticos e 
eletrônicos. Este grupo é dividido em Citologia (estudo da célula) e Histologia (estudo dos 
tecidos e de como estes se organizam para a formação de órgãos). 
A Anatomia do Desenvolvimento estuda o desenvolvimento do indivíduo a partir 
do ovo fertilizado até a forma adulta. Ela engloba a Embriologia que é o estudo do 
desenvolvimento até o nascimento. 
A Anatomia Humana, a Anatomia Vegetal e a Anatomia Comparada também são 
especializações da anatomia. Na anatomia comparada faz-se o estudo comparativo da 
estrutura de diferentes animais (ou plantas) com o objetivo de verificar as relações entre 
eles, o que pode elucidar sobre aspectos da sua evolução. 
 
 
 
 
ABORDAGENS ANATÔMICAS 
 
As três principais abordagens para estudar anatomia são: regional, sistêmica e 
clínica. 
a) Anatomia Regional: é o método de estudo do corpo por regiões, como o tórax 
e o abdome. A anatomia de superfície é uma parte essencial do estudo da anatomia 
regional. 
b) Anatomia Sistêmica: é o método de estudo do corpo por sistemas, por 
exemplo, sistema circulatório e reprodutor. 
c) Anatomia Clínica: enfatiza a estrutura e a função à medida que se relacionam 
com a prática da medicina e outras ciências da saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Do ponto de vista médico, a anatomia humana consiste no conhecimento da 
forma exata, posição exata, tamanho e relação entre as várias estruturas do corpo 
humano, enquanto características relacionadas à saúde. Esse tipo de estudo é chamado 
anatomia descritiva ou topográfica. A anatomia topográfica é aprendida através de 
exercícios repetidos de dissecação e inspeção de partes (cádaveres especialmente 
destinados à pesquisa). 
Do ponto de vista morfológico, a anatomia humana é um estudo científico que 
tem por objetivo descobrir as causas que levaram as estruturas do corpo humano a 
serem tais como são, e para tanto solicita ajuda às ciências conhecidas como 
embriologia, biologia evolutiva, filogenia e histologia. 
Na área médica existe ainda um outro tipo de estudo anatômico, definida como 
anatomia patológica, que é o estudo de órgãos defeituosos ou acometidos por doenças. 
Já os ramos da anatomia normal com aplicações específicas, ou restritas a determinados 
aspectos, recebem nomes como anatomia médica, anatomia cirúgica, anatomia artística, 
anatomia de superfície.TERMOS ANATÔMICOS 
a) Termos de Relação: 
 
 
 * Anterior / Ventral / Frontal: na direção da 
frente do corpo. 
 * Posterior / Dorsal: na direção das costas 
(traseiro). 
 Exemplo: 
 O osso esterno e as cartilagens costais 
encontram-se anteriormente em relação ao 
coração. Já os grandes vasos e a coluna vertebral 
localizam-se posteriormente em relação ao 
coração. 
 
 
 
 
 
 
 * Superior / Cranial: na direção da parte 
superior do corpo. 
 * Inferior / Caudal: na direção da parte inferior 
do corpo. 
 Exemplo: 
 Os grandes vasos localizam-se superiormente 
ao coração enquanto que o diafragma localiza-se 
inferiormente ao coração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 * Medial: mais próximo do plano sagital mediano (linha sagital mediana. 
 * Lateral: mais afastado do plano sagital mediano (linha sagital mediana). 
 
 Exemplo: 
 Os ligamentos colaterais do joelho. O ligamento colateral fibular está localizado 
lateralmente enquanto que o ligamento colateral tibial está localizado medialmente, ou 
seja, mais próximo à linha sagital mediana. 
 
 
 
 
Mediano Intermédio Médio 
Exatamente sobre o eixo 
sagital mediano. 
Entre medial e lateral. 
Estrutura ou órgão 
interposto entre um superior 
e um inferior ou entre 
anterior e posterior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
b) Termos de Comparação: 
 * Proximal: próximo da raiz do membro. Na direção 
do tronco. 
 * Distal: afastado da raiz do membro. Longe do 
tronco ou do ponto de inserção. 
 Exemplo: 
 O braço é considerado proximal quando comparado 
ao antebraço (distal), pois está mais próximo da raíz 
de implantação do membro (cintura escapular). 
 
 
 
 
 * Superficial: significa mais perto da superfície do 
corpo. 
 * Profundo: significa mais afastado da superfície do 
corpo. 
 Exemplo: 
 A pele é uma estrutura superficial comparada às 
arterias ou os ossos que estão localizados mais 
profundamente. No sistema venoso é comum 
utilizarmos esses termos para diferenciar o sistema 
venoso superficial (mais próximo à superfície) do 
sistema venoso profundo (passa mais profundamente 
junto com o sistema arterial). 
 
 
 
 
 * Homolateral / Ipsilateral: do mesmo lado do 
corpo ou de outra estrutura. 
 * Contralateral: do lado oposto do corpo ou de 
outra estrutura. 
 Exemplo: 
 Se considerarmos a mão direita como referência, o 
membro inferior direito é considerado homo/ipsilateral, 
pois está localizado do mesmo lado. Já o membro 
inferior esquerdo é considerado contralateral, pois está 
localizado no lado oposto à mão de referência (mão 
direita). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
c) Termos de Movimento: 
 * Flexão: curvatura ou diminuição do ângulo 
entre os ossos ou partes do corpo. 
 * Extensão: endireitar ou aumentar o ângulo 
entre os ossos ou partes do corpo. 
 
 
 
 
 
 
 * Adução: movimento na direção do plano mediano em um 
plano coronal. 
 * Abdução: afastar-se do plano mediano no plano coronal. 
 
 * Rotação Medial: traz a face anterior de um membro para 
mais perto do plano mediano. 
 * Rotação Lateral: leva a face anterior para longe do plano 
mediano. 
 
 
 
 * Retrusão: movimento de retração (para trás) como 
ocorre na retrusão da mandíbula e no ombro. 
 * Protrusão: movimento dianteiro (para frente) como 
ocorre na protrusão da mandíbula e no ombro. 
 
 
 
 * Oclusão: movimento em que ocorre o contato da arcada dentário superior com a 
arcada dentária inferior. 
 * Abertura: movimento em que ocorre o afastamento dos dentes no sentido súpero-
inferior. 
 
 * Rotação Inferior da Escápula: movimento em torno de um eixo sagital no qual o 
ângulo inferior da escápula move-se medialmente e a cavidade glenóide move-se 
caudalmente. 
 * Rotação Superior da Escápula: movimento em torno de um eixo sagital no qual o 
ângulo inferior da escápula move-se lateralmente e a cavidade glenóide move-se 
cranialmente. 
 
 * Elevação: elevar ou mover uma parte para cima, como elevar os ombros. 
 * Abaixamento: abaixar ou mover uma parte para baixo, como baixar os ombros. 
 
 * Retroversão: posição da pelve na qual o plano vertical através das espinhas 
ântero-superiores é posterior ao plano vertical através da sínfise púbica. 
 * Anteroversão: posição da pelve na qual o plano vertical através das espinhas 
file:///E:/Off line 2/site 2009/generalidades/flexao4.jpg
file:///E:/Off line 2/site 2009/generalidades/flexao3.jpg
file:///E:/Off line 2/site 2009/generalidades/add.jpg
file:///E:/Off line 2/site 2009/generalidades/pro1.jpg
 
 
ântero-superiores é anterior ao plano vertical através da sínfise púbica. 
 
 
 * Pronação: movimento do antebraço e mão que gira o 
rádio medialmente em torno de seu eixo longitudinal de modo 
que a palma da mão olha posteriormente. e no ombro. 
 * Supinação: movimento do antebraço e mão que gira o 
rádio lateralmente em torno de seu eixo longitudinal de modo 
que a palma da mão olha anteriormente. e no ombro. 
 
 
 
 
 * Inversão: movimento da sola do pé em direção ao plano 
mediano. Quando o pé está totalmente invertido, ele também 
está plantifletido. 
 * Eversão: movimento da sola do pé para longe do plano 
mediano. Quando o pé está totalmente evertido, ele também 
está dorsifletido. 
 
 
 
 
 * Dorsi-flexão (flexão dorsal): movimento de flexão na 
articulação do tornozelo, como acontece quando se caminha 
morro acima ou se levantam os dedos do solo. 
 * Planti-flexão (flexão plantar): dobra o pé ou dedos em 
direção à face plantar, quando se fica em pé na ponta dos 
dedos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
file:///E:/Off line 2/site 2009/generalidades/supino1.jpg
file:///E:/Off line 2/site 2009/generalidades/inv1.jpg
file:///E:/Off line 2/site 2009/generalidades/df1.jpg
 
 
POSIÇÃO ANATÔMICA 
 A posição anatômica é uma posição 
de referência, que dá significado aos termos direcionais utilizados na 
descrição nas partes e regiões do corpo. As discussões sobre o corpo, 
o modo como se movimenta, sua postura ou a relação entre uma e 
outra área assumem que o corpo como um todo está numa posição 
específica chamada POSIÇÃO ANATÔMICA. Deste modo, os 
anatomistas, quando escrevem seus textos, referem-se ao objeto de 
descrição considerando o indivíduo como se estivesse sempre na 
posição padronizada. 
O corpo está numa postura ereta (em pé, posição ortostática ou bípede) com os 
membros superiores estendidos ao lado do tronco e as palmas das mãos voltadas para a 
frente. A cabeça e pés também estão apontados para frente e o olhar para o horizonte. 
 
Posição SUPINA e PRONA são expressões utilizadas na descrição da posição do 
corpo, quando este não se encontra na posição anatômica. 
POSIÇÃO SUPINA ou DECÚBITO DORSAL – o corpo está deitado com a face 
voltada para cima. 
 
POSIÇÃO PRONA ou DECÚBITO VENTRAL – o corpo está deitado com a face 
voltada para baixo. 
 
DECÚBITO LATERAL – o corpo está deitado de lado. 
 
 
 
 
 
POSIÇÃO DE LITOTOMIA – o corpo está deitado com a face voltada para cima, 
com flexão de 90° de quadril e joelho, expondo o períneo. 
 
 
POSIÇÃO DE TRENDELEMBURG – O corpo está deitado com a face voltada para 
cima, com a cabeça sobre a maca inclinada para baixo cerca de 40°. 
 
 
 
 
 
PLANOS ANATÔMICOS 
 
 
 
a) Planos Seccionais: quatro planos são fundamentais: 
 
1) Plano Mediano: plano vertical que passa 
longitudinalmente através do corpo, dividindo-o em metades direita 
e esquerda. Parassagital, usado pelos neuroanatomistas e 
neurologistas é desnecessário porque qualquer plano paralelo ao 
plano mediano é sagital por definição. Um plano próximo do 
mediano é um Plano Paramediano.2) Planos Sagitais: são planos verticais que passam através 
do corpo, paralelos ao plano mediano. 
 
 
 
 
3) Planos Frontais (Coronais): são 
plano verticais que passam através do 
corpo em ângulos retos com o plano 
mediano, dividindo-o em partes 
anterior (frente) e posterior (de trás). 
 
4) Planos Transversos (Horizontais): são 
planos que passam através do corpo em 
ângulos retos com os planos coronais e 
mediano. Divide o corpo em partes superior e 
inferior. 
 
 
 
 
 
 
 
b) Planos Tangenciais: suponhamos, agora, que o indivíduo, em posição 
anatômica, esteja dentro de um caixão de vidro. As seis paredes que constituem o caixão 
representariam os planos tangenciais: 
 Plano Superior: seria a parede que está por cima da cabeça 
 Plano Inferior: é o que se situa por baixo dos pés. 
 Plano Anterior: é o plano que passa pela frente do corpo. 
 Plano Posterior: é o que formaria o fundo do caixão, ou seja atrás das costas. 
 
 Planos Laterais: são as duas paredes laterais, que limitam os membros 
(superiores e inferiores), do lado direito e esquerdo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONSTITUIÇÃO DO CORPO 
Da menor até a maior dimensão de seus componentes, seis níveis de 
organização são relevantes para a compreensão da anatomia e fisiologia: os níveis 
químico, celular, tecidual, orgânico, sistêmico e organísmico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nível Químico 
Inclui os átomos (menores unidades de matéria que participam de 
reações químicas) e as moléculas (dois ou mais átomos 
ligados entre si). 
Nível Celular 
A união das moléculas formam as células. As células são as unidades 
básicas, estruturais e funcionais do corpo humano. 
Nível Tecidual 
Os tecidos são grupos de células e materiais em torno delas, que 
trabalham juntos para realizar uma determinada função celular. 
Existem quatro tipos básicos de tecidos, em seu corpo: tecido 
epitelial, conjuntivo, muscular e nervoso. 
Nível Orgânico 
Os órgãos são estruturas compostas por dois ou mais tipos de tecido 
diferentes. Eles têm funções específicas e, usualmente, 
têm formas reconhecíveis. 
Nível Sistêmico 
Um sistema consiste em órgãos relacionados que 
têm a mesma função. 
Nível Organísmico 
É o maior nível organizacional. O organismo é um indivíduo vivo. 
Todas as partes do corpo, funcionando umas com as outras, 
constituem o organismo total – uma pessoa viva. 
 
 
DIVISÃO DO CORPO HUMANO 
 
Classicamente o corpo humano é dividido em: 
cabeça, pescoço, tronco e membros. 
Cabeça Crânio e face 
Pescoço Pescoço 
Tronco Tórax, abdome e pelve 
Membros 
(Membro 
Superior) 
Ombro, braço, antebraço e mão 
Membros 
(Membro Inferior) 
Quadril, coxa, perna e pé 
 
 
 
 
QUADRANTES ABDOMINAIS 
 
Para tornar mais fácil a localização dos órgãos na grande cavidade 
abdominopélvica, os anatomistas dividiram a cavidade abdominopélvica em nove regiões, 
sendo definidas da seguinte forma: 
 
 
Região 
Abdominopélvica Superior 
Região 
Abdominopélvica Média 
Região 
Abdominopélvica Inferior 
No nível da nona costela 
Entre as nonas costelas e 
os 
ossos do quadril 
No nível superior aos 
ossos do quadril 
Região Hipocondríaca Direita 
Região Epigástrica 
Região Hipocondríaca 
Esquerda 
Região Lateral Direita 
Região Umbilical 
Região Lateral Esquerda 
Região Inguinal Direita 
Região Púbica 
(Hipogástrica) 
Região Inguinal Esquerda 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Outro modo mais simples de dividir a cavidade abdominopélvica é em Quatro 
Quadrantes. 
Esse método é freqüentemente utilizado para localizar uma dor ou descrever a 
localização de um tumor. Os planos sagital, mediano e transversal passam através do 
umbigo e dividem a região abdominopélvica nos quatro quadrantes seguintes: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EPÔNIMOS ANATÔMICOS 
 
 
Como toda ciência, a Anatomia tem sua linguagem própria. Ao conjunto de 
termos empregados para designar e descrever o organismo ou suas partes dá-se o nome 
de Nomenclatura Anatômica. Com o extraordinário acúmulo de conhecimentos no final do 
século passado, graças aos trabalhos de importantes “escolas anatômicas” (sobretudo na 
Itália, França, Inglaterra e Alemanha), as mesmas estruturas do corpo humano recebiam 
denominações diferentes nestes centros de estudos e pesquisas. 
 
Em razão desta falta de metodologia e de inevitáveis arbitrariedades, mais de 
20 000 termos anatômicos chegaram a ser consignados (hoje reduzidos a poucos mais 
de 5 000). A primeira tentativa de uniformizar e criar uma nomenclatura anatômica 
internacional ocorreu em 1895. Em sucessivos congressos de Anatomia em 1933, 1936 e 
1950 foram feitas revisões e finalmente em 1955, em Paris, foi aprovada oficialmente a 
Nomenclatura Anatômica, conhecida sob a sigla de P.N.A. (Paris Nomina Anatomica). 
 
Revisões subseqüentes foram feitas em 1960, 1965 e 1970, visto que a 
nomenclatura anatômica tem caráter dinâmico, podendo ser sempre criticada e 
modificada, desde que haja razões suficientes para as modificações e que estas sejam 
aprovadas em Congressos Internacionais de Anatomia. A língua oficialmente adotada é o 
latim (por ser “língua morta”), porém cada país pode traduzi-la para seu próprio 
vernáculo. 
 
Ao designar uma estrutura do organismo, a nomenclatura procura utilizar 
termos que não sejam apenas sinais para a memória, mas tragam também alguma 
informação ou descrição sobre a referida estrutura. Dentro deste princípio, foram 
abolidos os epônimos (nome de pessoas para designar coisas) e os termos indicam: a 
forma (músculo trapézio); a sua posição ou situação (nervo mediano); o seu trajeto 
(artéria circunflexa da escápula); as suas conexões ou inter-relações (ligamento 
sacroilíaco); a sua relação com o esqueleto (artéria radial); sua função (m. levantador da 
escápula); critério misto (m. flexor superficial dos dedos – função e situação). 
Entretanto, há nomes impróprios ou não muito lógicos que foram conservados, porque 
estão consagrados pelo uso. 
 
 
 
Abaixo, temos uma lista dos epônimos que foram utilizados para designar 
elementos da anatomia humana. Os epônimos têm somente importância histórica na 
anatomia. São difíceis de memorizar, imprecisos e etnocêntricos. Muitas vezes são 
redundantes, pois a mesma estrutura é renomeada diversas vezes dependendo do país. 
A tendência é de que os epônimos entrem em desuso com o passar dos anos. Para que 
tenhamos precisão científica e universalização é necessário que façamos uso da 
nomenclatura atual a seguir: 
 
Nome Antigo Nome Atual 
Ângulo de His Incisura Cárdica 
Ângulo de Louis Ângulo do esterno 
Aqueduto de Sylvius Aqueduto do mesencéfalo 
Camada Celular de Purkinje Estrato purkingense 
Canal de Falópio Canal do nervo facial 
Cápsula de Malpighi Cápsula do baço 
Cartilagem de Santorini Papila menor do duodeno 
Círculo de Willis Círculo arterial do cérebro 
Comissura de Meynert Comissura supra-óptica dorsal 
Corpúsculo de Malpighi Polpa esplênica 
Divertículo de Meckel Divertículo ileal 
Ducto de Bartholin Ducto sublingual maior 
Esfíncter de Oddi M. esfíncter da ampola hepatopancreática 
Fáscia de Camper Fáscia intermédia de revestimento 
Fáscia de Scarpa Estrato membranáceo 
Feixe de His Fascículo atrioventricular 
Feixe de Purkinge Ramos subdendocárdicos 
Fissura de Rolando Sulco central (cérebro) 
Fissura de Sylvius Sulco lateral (cérebro) 
Folículo de Graff Folículo ovárico vesiculoso 
Forame de Luschka Abertura lateral do quarto ventrículo 
Forame de Magendie Abertura mediana do quarto ventrículo 
Forame de Monro Forame interventricular (cérebro) 
 
 
Gânglio de Scarpa Gânglio vestibular 
Glândula de Bartolin Glândula vestibular maior 
Glândula de Bowman Glândulas olfatórias 
Glândula de Cowper Glândula bulbouretral 
Ilhotas de LangerhansOlhotas pancreáticas 
Lacunas de Morgagni Lacunas uretrais 
Ligamento de Falópio Ligamento inguinal 
Membrana de Bowman Lâmina limitante anterior (córnea) 
Nervo Vidiano Nervo do canal pterigóideo 
Núcleo de Meynert Núcleo basilar (núcleo olfatório) 
Osso Wormiano Osso sutural 
Pomo de Adão Proeminência laríngea 
Ponte de Varólio Ponte 
Prega de Douglas Prega retouterina 
Pregas haversianas Pregas sinoviais 
Tendão de Aquiles Tendão do calcâneo 
Trato de Arnold Trato frontopontino 
Trompa de Eustáquio Tuba auditiva 
Trompa de Falópio Tuba uterina 
Veia de Galeno Veia cerebral magna 
Ventrículo de Morgagni Ventrículo da laringe 
 
A lista acima não contém todos os epônimos, apenas alguns mais utilizados. 
Para ter acesso a todos os epônimos, procure um livro de Terminologia Anatômica 
Internacinal que contenha filiação com a FCAT (CFTA) - Federative Committee on 
Anatomical Terminology (Comissão Federativa da Terminologia Anatômica).

Continue navegando