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Expresso - ECONOMIA

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E C O N O M I A 251829 de janeiro de 2021www.expresso.ptIMOBILIÁRIO & EMPREGO
OPINIÃO PESSOAS
Afinal, 
poupar 
é bom?
JOÃO 
DUQUE E5
A 
‘maldição’ 
liberal
LUÍS 
MARQUES E8
Porque é que as bolsas se comportam 
como se não houvesse pandemia?
JOÃO SILVESTRE E3
> Dicas Como apoiar 
os profissionais em 
teletrabalho E28
> André Reis 
é o novo 
administrador 
comercial 
da Bosch Car 
Multimedia 
Portugal 
E28
ATRASO NO 5G 
Portugal é um dos 
quatro países sem 
oferta comercial. Mas 
há 17 países com leilões 
por fazer em 2021 E3
Conheça as 
complexas 
regras do novo 
apoio social E25
PRIVATIZAÇÃO DA 
EFACEC PREVÊ SAÍDA 
DE CENTENAS 
DE TRABALHADORES
FO
T
O
 R
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I D
U
A
RT
E 
SI
LV
ACandidatos à compra receberam 
memorando com plano que aponta 
para despedimento de cerca 
de 500 funcionários E5
Siza Vieira 
assessorou 
criação do 
Novo Banco
Atas de reuniões e documen-
tos entregues no Parlamento 
para a comissão de inquérito 
ao BES/GES ajudam a recons-
tituir os momentos decisivos 
do nascimento do Novo Banco, 
que, em breve, vai ser nova-
mente escrutinado pelos de-
putados. E16
Ministro da Economia 
participou como advogado 
em reuniões decisivas 
do banco que nasceu 
da resolução do BES
PANDEMIA 
DUPLICA 
DESPEDIMENTOS 
COLETIVOS
O Governo apostou tudo para 
travar a destruição de empre-
go. Mas os apoios criados não 
evitaram um aumento dos des-
pedimentos coletivos em 2020. 
Até dezembro, houve 698 em-
presas a fazê-lo, despedindo 
8299 trabalhadores, mais do 
dobro do que em 2019. E6
Número de empresas 
a avançar com 
despedimentos supera o 
registado em 2014, ano em 
que a troika saiu do país
EDP 
Distribuição 
muda marca 
e é agora 
E-Redes
O CEO da empresa, João 
Torres, revela ao Expresso 
que um milhão de famílias 
já tem acesso a leituras 
digitais em tempo real
A digitalização é uma das prio-
ridades da empresa da EDP 
para a distribuição de eletrici-
dade. Mas João Torres reclama 
uma revisão em alta da remu-
neração regulada. E8
“É INJUSTO 
APOIAR A TAP 
E DEIXAR 
OS PRIVADOS 
DE FORA” 
E10
Presidente 
da euroAtlantic
Eugénio Fernandes
Está aberta 
a guerra à 
especulação 
imobiliária
Parlamento Europeu 
quer mobilizar os fundos 
comunitários para 
apoiar habitação digna 
e a preços acessíveis E18
Rendeiro volta a 
escapar a coima de 
€1,5 milhões do BdP 
> Tribunal falha cobrança da condenação do Banco de Portugal 
porque ex-banqueiro tem os bens arrestados em processos-crime 
> João Rendeiro também não pagou coima de €1 milhão da CMVM 
> Recurso do Ministério Público arrasta-se na Relação há ano e meio E9
Informe-se em santander.pt
A relação do futuro é a que anda sempre consigo
O seu Balcão Digital
Expresso, 29 de janeiro de 2021ECONOMIA2
RANKING DOS CLUBES
MILIONÁRIOS
Receitas em milhões de euros
1 FC Barcelona 715,1
2 Real Madrid 714,9
3 Bayern Munich 634,1
4 Manchester United 580,4
5 Liverpool 558,6
6 Manchester City 549,2
7 Paris Saint-Germain 540,6
8 Chelsea 469,7
9 Tottenham Hotspur 445,7
10 Juventus 397,9
...
23 Benfica 170,3
FONTE: DELOITTE
Alemanha escolhe as suas máscaras 
e a indústria têxtil lusa ressente-se 
A chanceler alemã Angela Merkel 
anunciou que a população do país 
passa a usar máscaras FFP2, com 
níveis de filtração superiores a 
95%, nos transportes, trabalho e 
lojas. A medida, justificada pela 
taxa de incidência da pandemia e 
pela mutação do vírus, foi seguida 
em diferentes formatos pela 
Áustria, França e Suíça e poderá 
ganhar novos adeptos, mas a 
indústria têxtil lusa, com mais de 
mil empresas a fazer máscaras 
sociais, quer ver o Governo usar a 
presidência portuguesa da UE para 
unir a Europa nesta matéria. Há 
mais de 20 mil postos de trabalho 
em risco e as máscaras têxteis de 
nível 2 têm capacidade de filtração 
superior a 95%, argumenta.
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Teletrabalho: 
ACT já detetou 
200 infrações
A Autoridade para as Condições 
de Trabalho (ACT) tem no 
terreno uma operação nacional de 
fiscalização ao cumprimento da 
obrigatoriedade do teletrabalho, 
imposta pelo Governo. Ao 
longo da última semana foram 
fiscalizadas mais de 500 empresas 
de norte a sul do país, em 200 
a ACT identificou infrações. 
Recorde-se que o Executivo elevou 
de “grave” para “muito grave” o 
regime de contraordenações a 
aplicar ao teletrabalho. Coimas 
podem agora chegar aos €61.200.
BENFICA É O 23º CLUBE 
EUROPEU QUE MAIS FATURA
Com uma receita estimada em 
€170,3 milhões, o Benfica é o 
único clube português a constar 
do ranking Money League, da 
auditora Delloite, e liderado 
pelo Barcelona. Os encarnados 
surgem na 23ª posição e, a par 
do holandês Ajax (27ª), são os 
únicos que não pertencem às 
cinco principais ligas europeias. 
A pandemia custou mais de mil 
milhões de euros em receitas 
dos 20 maiores clubes europeus, 
que caíram 12%, para €8,2 mil 
milhões. Segundo a Delloite, a 
quebra nas receitas televisivas 
dos jogos suspensos foi de €937 
milhões e a falta de público 
custou €257 milhões aos cofres 
dos clubes.
Porto é a melhor 
cidade da Europa 
para viver 
em família
O Porto é a melhor cidade da 
Europa para criar uma família 
e Lisboa a terceira, revela um 
estudo da norueguesa Sumo 
Finans, que abrange 50 cidades 
europeias. O Índice Global da 
Paz 2020, o custo das creches, a 
pontuação média de desempenho 
escolar do PISA, o custo de vida 
para uma família de quatro 
pessoas e o de arrendamento de 
um apartamento T3 são alguns 
dos critérios utilizados pela 
empresa norueguesa. Acrescem 
ainda para a elaboração do 
ranking o número de atrações 
“boas para crianças”, “natureza 
e parques” e atividades para 
fazer na cidade. Com uma 
pontuação de 75,28 pontos 
em 100 possíveis, a cidade do 
Porto ocupa o primeiro lugar, 
seguida por Barcelona (68,60) e 
Lisboa (68,12). O estudo revela 
que o Porto tem muitas coisas 
para fazer em família, incluindo 
quase 1 parque natural e 1,69 de 
atrações infantis por quilómetro 
quadrado, enquanto Portugal tem 
o segundo melhor índice de paz 
(1,247), a seguir à Islândia, entre 
os 50 países europeus analisados. 
Na Invicta, o estudo aponta ainda 
€1930,75 como os gastos de uma 
família de quatro pessoas, o custo 
de creches na ordem dos €336 
e de uma renda de um T3 na 
ordem dos €1042,6. Já em termos 
do índice PISA (avaliação de 
desempenho escolar, elaborado 
pela OCDE), o Porto tem uma 
pontuação de 492. Lisboa ocupa 
o terceiro lugar da classificação 
da lista da Sumo Fins com uma 
pontuação total de 68,12. A 
capital também pontua de forma 
significativa no domínio das 
atrações para a família, com 1,22 
atividades “boas para crianças” 
por quilómetro quadrado. Quanto 
ao custo de vida médio para uma 
família de quatro pessoas na 
capital, o estudo aponta o valor 
de €1946,15, um pouco acima do 
registado no Porto, tal como nos 
gastos com creches (€420,6) e na 
renda de um T3 (€1308,5). Em 
termos de custo de vida, Istambul 
surge como a cidade mais barata 
para se viver em família, com um 
custo mensal médio estimado 
para uma família de quatro 
pessoas da ordem dos €1781,6, 
incluindo preço da creche e de 
aluguer. Seguem-se Budapeste, na 
Hungria, com €2715,89, e Vilnius, 
na Lituânia, com €2904,49 de 
custos mensais.
4,3%
META DO DÉFICE PARA 
2021 NEM UM MÊS DUROU
João Leão já não cumprirá 
a meta de 4,3% do PIB que 
prometeu para o défice deste 
ano. “A segunda vaga da 
pandemia, mais intensa do 
que o esperado, e as medidas 
restritivas de confinamento 
associadas, com maiores apoios 
ao rendimento das famílias e às 
empresas, deverão conduzir a 
uma revisão em baixa do cenário 
macroeconómico e do saldo 
orçamental para 2021”, alerta o 
Ministério das Finanças.
O IVAUCHER, 
PROGRAMA QUE 
O GOVERNO 
DESENHOU PARA 
PROMOVER O 
CONSUMO EM 
PORTUGAL DE 
FORMA A CONTER 
A CRISE CAUSADA 
PELA PANDEMIA, 
TEVE UM NOVO 
VOLTE-FACE. 
ESTA SEMANA, 
A AUTORIDADE 
DA CONCORRÊNCIA 
ALERTOU, PELA 
SEGUNDA VEZ, 
O MINISTÉRIO DAS 
FINANÇAS PARA 
PROBLEMAS NO 
CONCURSO PARA 
DESENVOLVER 
O IVAUCHER,
POR PODER 
SER UM FATO ÀMEDIDA DA SIBS. 
CONTUDO, ESTA 
EMPRESA, QUE É A 
PROPRIETÁRIA DA 
REDE MULTIBANCO, 
INFORMA QUE, 
AFINAL, NÃO 
PARTICIPOU 
NO CONCURSO
Decorrido um ano sobre o início das pressões 
impostas pela pandemia à logística global, a vida de 
quem depende da grande fábrica da China continua 
difícil e não vai melhorar nos próximos tempos. Na 
rota Ásia-Europa, há falta de contentores, atrasos, 
escalada de preços, alertam diferentes sectores da 
economia. E se a primeira escala do problema é a 
indústria, a braços com curtos circuitos nas cadeias de 
produção, os consumidores começam a ter, também, 
menos opções de compra e prazos de entrega 
dilatados numa gama alargada de artigos. “Se uma 
viagem entre a China e Roterdão tem mais 12 dias, 
um circuito de ida e volta soma mais 20 dias”, precisa 
Mário de Sousa, da PortoCargo, empresa dedicada 
ao transporte de mercadorias. Quanto aos preços, 
já multiplicaram por cinco: um contentor de 40 pés 
que custava 2 mil dólares (€1600), passou para os 11 
mil. Falta perceber exatamente como se vai refletir 
tudo isto no preço final dos produtos e no esforço de 
reindustrialização da Europa.
A ‘PANDEMIA’ DOS CONTENTORES PODE 
CHEGAR À PRATELEIRA DO SUPERMERCADO 
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ALTOS
Mário 
Ferreira
Empresário
Os reguladores (Concorrência, 
ERC e Anacom) deram autoriza-
ção à aquisição da Media Capital 
pela Pluris Investments. O empre-
sário já detém 30% do capital da 
empresa que detém a TVI e pode 
avançar com a OPA assim que o 
preço estiver definido.
António 
Mendonça 
Mendes
Secretário de Estado 
dos Assuntos Fiscais
Era da mais elementar justiça e 
até lógica económica que também 
as empresas com dívidas ao Fisco, 
desde que enquadradas e em pro-
cesso de regularização, pudessem 
aceder aos apoios do Estado na 
pandemia. Até porque, sem isso, 
nem as dívidas pagavam.
Bruno 
Le Maire
Ministro das 
Finanças francês
Em entrevista ao jornal “Finan-
cial Times”, alertou para a ne-
cessidade de acelerar a chegada 
do dinheiro do Fundo de Recu-
peração aos países e também de 
estender o prazo de suspensão 
das regras orçamentais. A dívida 
está a disparar, mas os juros são 
historicamente baixos. E os tem-
pos não estão para brincadeiras: 
tal como na gestão da pandemia, 
também na economia todos os 
segundos contam.
E BAIXOS
João 
Rendeiro
Ex-presidente 
do Banco Privado 
Português
O Supremo Tribunal de Justiça 
confirmou a sua condenação e po-
de, em breve, ter mesmo de cum-
prir os cinco anos e oito meses de 
prisão da sentença. Entretanto, 
continua a escapar ao pagamento 
da coima de €1,5 milhões a que foi 
condenado pelo Banco de Portu-
gal em 2013 (ver pág. 9).
Margarida 
Matos Rosa
Presidente 
da Autoridade 
da Concorrência
Faz bem a presidente da Autori-
dade da Concorrência em preocu-
par-se que no concurso do IVAu-
cher haja regras básicas de con-
corrência. E que não sejam feitos 
concursos à medida. Mas preocu-
par-se com um concorrente alega-
damente beneficiado que nem se-
quer participou pode ser exagero.
João Silvestre
jsilvestre@expresso.impresa.pt
Expresso, 29 de janeiro de 2021 ECONOMIA 3 
Utilidade 
Marginal
João Silvestre
jsilvestre@expresso.impresa.pt
O
s mercados financeiros têm 
uma relação com o tempo e o 
espaço que escapa ao comum 
dos mortais. Enquanto a pan-
demia avança a grande velocidade e a 
recessão afunda como há muito não 
se via, nas bolsas vivem-se tempos 
de euforia. “Exuberância irracional”, 
como disse o ex-presidente da Reser-
va Federal dos EUA, Alan Greenspan, 
noutros tempos de loucura bolsista, é 
curto para descrever o que se passa 
hoje. Em particular nos EUA. À hora 
que escrevo, as ações da GameStop, 
uma rede de lojas de jogos criada na 
década de 80, negociava com um ga-
nho de 135% em Nova Iorque. A cota-
ção mais do que duplicou em 24 horas 
e leva um salto de 1700% este ano, o 
que custou muitos milhões aos hedge 
funds que apostaram na sua queda. 
Apenas algumas praças europeias, 
como Lisboa, Madrid, Paris ou Milão, 
estão a cair neste início de 2021.
Alguns números ajudam a enqua-
drar a onda gigante que os investido-
res têm estado a surfar. Nas primeiras 
três semanas de janeiro, as empresas 
colocaram 400 mil milhões de dólares 
em ações e obrigações no mercado. A 
média para esta altura do ano, diz o 
“Financial Times” que fez as contas, 
são 170 mil milhões. Há 79 empresas 
cotadas nos EUA cuja cotação dupli-
cou nos últimos três meses, algo que 
não se via há anos e a fazer lembrar 
as dot.com. E o rácio price-earnings 
do Nobel Robert Shiller, que mede a 
relação entre a cotação das empresas 
do S&P500 e os seus lucros, está no 
nível mais alto desde 2001.
Os mercados parecem comportar-se 
como se não existisse uma pandemia. 
A questão é: porquê? É difícil explicar 
principalmente quando enfrentamos 
a terceira vaga da covid-19 e do que 
se fala em muitos países é de uma 
recaída na recessão. Mas há várias ex-
plicações diferentes para este compor-
tamento: as boas, as racionais e as que 
têm a ver com a atração pelo abismo.
Primeiro as boas. Há empresas, 
como as tecnológicas, que prosperam 
nesta pandemia e beneficiam de alte-
rações de comportamento que vieram 
para ficar. As empresas valem mais 
hoje do que antes e é normal que as 
suas ações reflitam essa valorização. 
Ao mesmo tempo, há outros sectores 
que, mesmo não beneficiando, podem 
sofrer pouco ou nada desde que a crise 
não se prolongue demasiado tempo.
Depois as razões racionais. As taxas 
de juro estão em mínimos históricos 
e os investidores, para terem algum 
retorno, deslocam o seu dinheiro para 
ativos mais arriscados. Fogem de apli-
cações sem risco, de dívida mais segu-
ra (como a dívida pública) e de fundos 
de investimento mais conservadores 
para ações, imobiliário ou ativos mais 
especulativos. É natural, é expectá-
vel, é racional e, diga-se em abono da 
verdade, é um dos efeitos esperados 
destas políticas de quantitative easing 
dos bancos centrais.
Por fim, o fascínio pelas lotarias. Há 
quem esteja a aplicar o seu dinheiro 
em alternativas onde, em condições 
normais, não o faria. Ou, pelo menos, 
não o faria de forma tão destemida. É 
o que explica o recorde da bitcoin, sem 
que a esta criptomoeda tenha funda-
mentos económicos que o justifiquem, 
ou a aposta em dívida (de Estados 
ou empresas) com rating ‘lixo’. E há 
casos ainda piores. Quase ao nível do 
casino. Numa das últimas edições, a 
revista britânica “The Economist” 
dava conta de uma subida do volume 
de transações de opções nas bolsas 
americanas por parte de particulares 
e, pior, fazendo apostas de alto risco 
em contratos demasiado out-of-the-
-money (cujo preço de exercício re-
presenta uma perda se exercido no 
momento da compra).
Parece tudo demasiado arriscado 
para tanta gente apostar. Nomeada-
mente investidores que não são pro-
fissionais. E até esses podem perder. 
Claro que não se espera uma mudança 
brusca nos mercados. Mas os juros 
não ficam negativos para sempre, nem 
estes ativos continuarão a subir indefi-
nidamente. Haverá um momento em 
que a normalidade irá regressar e, 
nessa altura, quem estiver demasiado 
lançado na bolha acabar por ser apa-
nhado desprevenido. Nos mercados, o 
longo prazo pode ser daqui a apenas 
alguns minutos. E, já se sabe, quanto 
mais alto, maior a queda.
Arrebenta a bolha
As bolsas comportam-se 
como se não existisse uma 
pandemia. Há boas razões 
para isso, mas também 
há atração pelo abismo
KPMG: absolvição 
e recurso
Tribunal de Santarém arrasou condenação 
do BdP, que diz que há erros notórios de 
apreciação. Relação terá palavra a dizer
1 
 Quais as 
condenações 
à auditora 
do BES?
Em junho de 2019, o Banco de Portugal 
(BdP) condenou a auditora KPMG 
e cinco associados por ausência de 
dever de informação e prestação de 
informação falsa quanto à qualidade 
do crédito e risco associado à carteira 
do BES Angola. À KPMG aplicou uma 
coima de €3 milhões e aos cinco 
associados, entre os quais o presidente 
da auditora,Sikander Sattar, uma 
coima de €450 mil, a Inês Viegas, €425 
mil, a Fernando Antunes, €400 mil, a 
Inês Filipe, €375 mil, e a Sílvia Gomes, 
€225 mil. Os arguidos recorreram para 
o Tribunal da Concorrência, Regulação 
e Supervisão (TCRS), em Santarém. O 
julgamento começou a 3 de setembro 
de 2020 e a sentença foi lida a 15 
de dezembro, absolvendo todos os 
arguidos.
2 
 O que 
valeu para 
a absolvição 
da KPMG?
A decisão do TCRS arrasa a 
condenação do BdP. A juíza Vanda 
Miguel concluiu que não havia provas 
quanto à violação das normas que 
deveriam ter levado à emissão de 
reservas às contas consolidadas do 
BES. Face ao dever de informação, 
o momento em que devem ser 
comunicados factos suscetíveis de 
gerarem reservas às contas não 
é, para o tribunal, o mesmo que 
defende o BdP. A juíza disse mesmo 
que a KPMG não pode ser “um mera 
estafeta” do supervisor, defendendo 
não fazer sentido que, “logo que se 
conheça um facto que por si só revele 
uma mera potencialidade abstrata 
de vir a originar uma mera reserva, 
tenha de existir uma comunicação ao 
supervisor”.
3 
 Quais os 
argumentos do 
recurso do BdP 
para a Relação?
As interpretações do TCRS e do BdP 
sobre as normas que são exigidas 
às auditoras não podiam ser mais 
contraditórias. Desde logo, na 
interpretação do que dizem as normas 
do Regime Geral das Instituições de 
Crédito e Sociedades Financeiras 
quanto ao dever de informação. 
Nos argumentos apontados pelo 
BdP no recurso para o Tribunal da 
Relação estão, entre outras matérias, 
o facto de a auditora KPMG e os 
restantes responsáveis não terem 
alertado o supervisor de que entre 
2011 e dezembro de 2013 não tinham 
acesso a informação essencial sobre 
a carteira de crédito do BES Angola, 
e deviam tê-lo comunicado com “a 
maior brevidade possível”. O supervisor 
considera que o entendimento do 
tribunal esvazia o conteúdo do dever de 
informação por parte das auditoras.
4 
 O que vai 
acontecer 
daqui para 
a frente?
O BdP acredita que o que o 
Tribunal da Relação vier a 
decidir — manter a absolvição 
ou reverter a decisão do TCRS — 
vai determinar o futuro sobre a 
interpretação das normas quanto 
ao momento em que os auditores 
terão de fazer a comunicação. 
Se só quando exista informação 
suficiente para emitir um direito 
de reserva às contas ou sempre 
que não tenha informação sobre 
matérias que podem levar à 
emissão de reservas às contas. 
Os factos prescrevem em maio 
de 2022. Dependendo da decisão 
do Tribunal da Relação, quer o 
BdP quer os arguidos podem 
recorrer para as instâncias 
superiores. Se houver reversão da 
decisão, é quase certo o recurso 
da KPMG.
Descodificador por Isabel Vicente
A semana 
em dois 
minutos
 > O Ministério das Finanças 
prevê que o défice deste ano 
seja superior aos 4,3% do PIB 
previstos no Orçamento do 
Estado para 2021. Já o défice 
de 2020 será próximo dos 
6,3% do PIB.
 > Em janeiro, 22.700 empresas 
regressaram ao lay-off 
simplificado.
 > Mais de 500 empresas foram 
alvo de fiscalização por 
parte da Autoridade para as 
Condições de Trabalho por 
causa do teletrabalho. Cerca 
de 200 foram apanhadas em 
infração.
 > Foi publicada a portaria 
que executa a aplicação do 
novo apoio social criado pelo 
Governo para trabalhadores 
que ficaram em situação de 
desproteção económica e 
social devido à pandemia.
 > A norte-americana 
GameStop disparou em 
bolsa, com um movimento 
de pequenos investidores 
a combater os fundos que 
apostavam na queda das 
ações. É uma história de 
uma aposta que correu 
muito mal aos fundos de 
Wall Street.
 > A empresária angolana 
Isabel dos Santos perdeu a 
ação de recurso no Tribunal 
de Recurso de Paris e vai ter 
de pagar 339,4 milhões de 
dólares de indemnização à 
PT Ventures (PTV), detida 
pela Sonangol, na sequência 
de um contencioso em torno 
da operadora Unitel.
 > A Autoridade da 
Concorrência alertou o 
Ministério das Finanças para 
problemas no concurso para 
desenvolver o IVAucher, por 
poder ser considerado um 
fato à medida da SIBS, mas 
esta empresa, proprietária 
do multibanco, decidiu não 
ir a concurso.
 > Portugal atrasou-se no 5G 
e é um dos quatro países da 
União Europeia que não tem 
uma oferta comercial de 
quinta geração.
 > A Autoridade Nacional das 
Comunicações divulgou 
um estudo que apontava 
Portugal como o quinto 
país da União Europeia com 
preços médios por gigabyte 
mais elevados na internet 
móvel, mas a Apritel, que 
representa os operadores de 
telecomunicações, considera 
que se trata de uma visão 
“distorcida”.
 > A Autoridade da 
Concorrência aprovou a 
oferta pública de aquisição 
de Mário Ferreira sobre a 
Media Capital.
 > A Entidade Reguladora 
dos Serviços Energéticos 
aplicou à Galp Power 
uma coima de €752 
mil pela prática de 125 
contraordenações no 
mercado de eletricidade e 
gás natural.
 > A recessão mundial em 2020 
foi menos severa do que se 
temia, diz o FMI. E a zona 
euro vai levar dois anos a 
recuperar da crise.
 > Os lucros da Navigator 
caíram 35,1% em 2020, face 
a 2019, para €109,2 milhões, 
e o volume de negócios 
ascendeu a €1385 milhões, 
menos 17,9%.
Só há mais três países sem 
oferta comercial. A maioria 
dos Estados optou por um leilão 
parcial, a Anacom disponibilizou 
o espectro de uma só vez
Portugal optou por leilão 
global e atrasou oferta
Portugal atrasou-se na quinta geração 
de rede móvel (5G) e hoje é um dos 
quatro países da União Europeia (UE) 
que não tem uma oferta comercial. A 
pandemia é um dos argumentos para 
que o leilão das licenças de 5G tenha 
resvalado de 2020 para 2021. Mas não 
há ainda uma data para o arranque 
das ofertas comerciais — vai depender 
da data da conclusão do leilão.
Embora vários países da UE estejam 
mais avançados do que Portugal, parte 
fez apenas leilões parciais e ainda há 
faixas por atribuir. 17 países vão avan-
çar com novos leilões de faixas este 
ano. A Anacom escolheu um modelo 
diferente e optou por um leilão global, 
cedendo todo o espectro disponível de 
uma só vez. O regulador defende o seu 
modelo: “A inclusão de várias faixas 
de frequências no mesmo procedi-
mento traz benefícios às empresas, 
que assim podem tomar decisões com 
uma visão mais global do espectro 
disponível”, justificou fonte oficial. 
O regulador nega atraso. “Existem 
diversos países com situações equiva-
lentes à de Portugal”, afirma.
Estudo do IDATE
Além de Portugal, só Lituânia, Chipre 
e Malta não têm uma oferta comercial 
de 5G, a próxima revolução tecnológi-
ca. Os dados constam de um relatório 
feito para a Comissão Europeia pela 
organização IDATE — Digiworld, no-
ticiado pelo “Público”. Segundo a aná-
lise deste grupo de reflexão, há ofertas 
comerciais de 5G em várias cidades da 
UE, nomeadamente em 23 Estados-
-membros. A Alemanha, que lançou a 
oferta no verão de 2019, cobria um ano 
depois 40 milhões de habitantes em 3 
mil cidades. Em Portugal há apenas 
experiências-piloto dos três grandes 
operadores — a NOS em Matosinhos, 
a Altice em Aveiro e a Vodafone em 
Lisboa —, com licenças de 5G cedidas 
temporariamente pela Anacom.
Portugal não foi o único país a atra-
sar o leilão por causa da pandemia, 
Espanha e França também adiaram a 
licitação de algumas frequências. Na 
realidade, só três países atribuíram es-
pectro nas principais faixas: 700 MHz, 
3,4-3,8 GHz e 26 GHz. A Anacom su-
blinha a diferença: “Existem diversos 
países europeus que ainda não atribuí-
ram as frequências relevantes para o 
5G, os 700 MHz e os 3,6 GHz. Estão 
nessa situação Malta e Lituânia, mas 
também Polónia, Eslovénia, Bulgária, 
Croácia e Estónia. E outros, embora 
tenham atribuído uma das faixas, ain-
da não atribuíram as duas faixas de 
frequências. É o caso de Espanha, por 
exemplo, que tem previsto atribuir a 
faixa dos 700 Mhz em 2021.”
A Altice, a NOS e a Vodafone têm su-
blinhando que o país vai ficar na cauda 
da Europa, depois de lançarem críticas 
cerradas ao regulamento do leilão de 
5G, exigindo igualdade de tratamen-
to entrequem já está no mercado e 
os novos entrantes — o que, conside-
ram, não aconteceu. Tem sido uma 
guerra dura. Em causa está um dos 
mais relevantes saltos tecnológicos 
dos últimos anos e investimentos de 
muitas centenas de milhões. Há, aliás, 
processos em tribunal considerando o 
regulamento do 5G “ilegal e discrimi-
natório”, mas até agora sem sucesso.
Apesar dos processos em tribunal, 
os operadores não deixaram de se 
apresentar no leilão. Depois de uma 
primeira fase limitada a novos ope-
radores que rendeu mais de €84 mi-
lhões, a fase principal arrancou já em 
2021. Na quarta-feira, esta fase já ha-
via superado os €208 milhões no total 
das licitações. A maioria dos lotes apa-
renta ter as licitações fechadas — com 
exceção dos lotes nas frequências dos 
3,6 Ghz e 2,6 GHz.
Anabela Campos e Hugo Séneca
acampos@expresso.impresa.pt
Entrega das licenças de 5G está prevista para o primeiro trimestre
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Expresso, 29 de janeiro de 2021ECONOMIA4
Estado da Noção
Francisco Louçã
francisco.lou66@gmail.com
Opinião
R ao Quadrado
Ricardo Reis
rquadrado.expresso@gmail.com
Todos diferentes, 
tudo igual?
N
ão houve grandes surpresas nas 
eleições de domingo. Marcelo 
ganhou com 50 pontos de van-
tagem sobre a segunda classi-
ficada. Ana Gomes passou Ventura, 
uma vitória simbólica de grande valia. 
Ventura subiu, levando consigo os tais 
votos “zangados”, arrasando o CDS e 
comboiando uma parte do PSD.
A esquerda foi nisto derrotada, tam-
bém aqui há pouca surpresa. Ana Go-
mes mostrou-o num discurso ressentido 
na noite de domingo, culpando toda a 
gente por não a ter apoiado. As duas ou-
tras candidaturas da esquerda, que mos-
traram combatividade e preparação, 
sofreram com a polarização para Ana 
Gomes (e para Marcelo, é melhor não 
fingir que não aconteceu). Marisa, 
apesar da brilhante última semana 
de campanha, perdeu votos. E João 
Ferreira, apresentado como candi-
dato a secretário-geral do PCP, ficou 
colado à pior votação de sempre do 
seu partido. E, assim, as esquerdas 
enfrentam três desafios maiores.
O primeiro é o que fará Costa. Ga-
nhou com Marcelo, ganhou com a 
colagem de Ana Gomes a uma futu-
ra disputa sucessória, ganhou com 
as perdas das esquerdas e, sobretu-
do, ganhou com Ventura. Ventura vai ser 
o seu principal argumento para disputar 
o centro ao PSD, na busca de uma maio-
ria absoluta. O risco deste desenho é que 
embebeda. Se o PS se entusiasmar com 
a ideia de que o Governo pode continuar 
a prometer e a não cumprir, como fez 
nas contratações médicas ou nos apoios 
aos trabalhadores a recibo verde, aos 
desempregados, aos pequenos empre-
sários, para se dedicar alegremente a um 
jogo político para atrapalhar Rui Rio, vai 
favorecer uma tempestade so cial, ofere-
cendo anúncios publicitários em vez de 
medidas sociais consistentes num país 
que espera e desespera.
O segundo problema é a direitização da 
direita. O CDS vai migrar para o Chega 
e para o IL, e o PSD acomoda-se à ideia 
de que a aliança com a extrema-direita é 
para ficar. E há duas respostas para isso: 
ou a sobranceria de centro, a solução de 
pôr a cartola em nome de ilustres prin-
cípios institucionais, ou a solução demo-
crática, que importa para a gente, a que 
cuida da vida de quem passa dificuldades, 
ou saúde, emprego e proteção social.
O terceiro, o mais difícil, é escolher 
prioridades de Governo. Começa agora 
a fase crítica da pandemia, mais um ano 
de emergência sanitária e um furacão 
económico. O reajustamento exige tudo 
o que tem faltado: competência na ação, 
recursos adequados, transformações 
estruturais nos serviços de referência 
para o dia a dia da população. Veremos 
quem percebe que o país está aflito e que 
precisa de respostas para ontem.
U
m filósofo e político que viveu 
nos séculos XVI e XVII, Francis 
Bacon, ficou famoso por ter ex-
plicado que a ciência moderna 
consiste em “torturar a natureza para 
que ela confesse”. No nosso tempo, outro 
Prémio Nobel da Economia que descon-
fiava das técnicas que simplificassem 
a realidade, Ronald Coase, adaptou a 
frase para “torturar os números para 
que eles confessem”. Não sei se era isto 
que o primeiro-ministro tinha em men-
te quando explicou candidamente no 
Parlamento que, se forem “alisados” os 
dados trimestrais, temos agora mais mé-
dicos no SNS do que no início de 2020. O 
problema é que essa tortura não muda a 
realidade, mesmo que conforte a ideia de 
que não é preciso fazer nada a respeito 
da contratação, carreiras e exclusivida-
de nas profissões de saúde, visto que, 
“alisados”, haveria mais médicos agora. 
Se fosse verdade, era boa notícia; mas 
é simplesmente falso, e em dezembro, 
segundo os números oficiais do portal 
Transparência — SNS, temos no SNS 
muito menos médicos do que em janeiro 
de 2020.
A técnica estatística do “alisamento” 
dos dados, por exemplo através de uma 
média móvel, é usada para salientar 
a tendência de fundo, ignorando os-
cilações ocasionais. É, portanto, uma 
forma de apresentação gráfica, e nada 
mais. Não é um retrato do que se passa 
em cada instante. Ora, se em outubro 
tínhamos menos 1029 médicos do que 
em janeiro, em novembro menos 961 
e em dezembro menos 945, conclui-
-se que houve algumas contratações de 
emergência, ainda bem, mas nunca que 
há mais do que no início do ano. O défice 
de profissionais no SNS é enorme. Esta 
dificuldade, cria da pelas aposentações, 
mas também pela saída para os priva-
Como alisar 
os dados 
que se portam mal
dos, é uma grave limitação dos serviços 
de saúde. Pode ser resolvida ou ignora-
da. O primeiro-ministro escolhe negar 
um problema que diz que não existe, 
uma vez “alisados” os números. Faz mal.
Em janeiro deverão entrar no SNS os 
jovens licenciados do verão passado. 
Começarão as primeiras semanas da sua 
formação, que dura vários anos. Aqui 
está uma esperança. Mas nos próximos 
três anos poderão sair mais 2800 médi-
cos dos centros de saúde e hospitais. Há 
mesmo um problema. Torturar ou alisar 
os números não o resolve.
Portugal tem vindo a reduzir o investimento líquido em todo o período do euro. 
Assim sendo, estamos a reduzir a infraestrutura a cada ano que passa
Se não é agora que 
investimos, será quando?
P
ortugal emitiu dívida pú-
blica a 10 anos a juro ne-
gativo. O mar de liquidez 
nos mercados financeiros 
e a proteção do Banco 
Central Europeu favore-
cem a descida do custo da 
dívida, ao ponto de o Es-
tado português ser agora 
pago pelos credores para lhe empres-
tarem dinheiro. No entanto, segundo 
as contas do Expresso, essa vantagem 
não está a ser utilizada para promover o 
investimento público, a principal âncora 
que numa recessão permite criar empre-
go, na falta de investimento privado, que 
se retrai. Segundo este jornal, apurando 
o investimento líquido, ou seja, a diferen-
ça entre os gastos públicos anuais e a des-
valorização decorrente da degradação 
dos bens de capital, Portugal tem vindo a 
reduzir esse valor em todo o período do 
euro. Este saldo desceu de cerca de 2,5% 
do PIB em 1999 para um valor atual de 1% 
negativo. Assim sendo, estamos a reduzir 
a infraestrutura de Portugal a cada ano 
que passa.
A dívida é boa, 
o investimento é melhor
No meio da estagnação destes últimos 10 
anos, Paul Krugman, um Prémio Nobel 
da Economia que não tem medo das pa-
lavras, escreveu um artigo com um apelo 
provocatório, a dívida é boa. A conta não 
é difícil de fazer: se for bem usado, o mo-
mento excecional em que se pode fazer 
investimentos com juros negativos é uma 
oportunidade para renovar infraestrutu-
ras, criando emprego agora e poupando 
gastos futuros. Assim, é o momento de 
construir ou reequipar hospitais e escolas, 
reparar pontes e desenvolver os caminhos 
de ferro, ou iniciar a adaptação energéti-
ca, por exemplo. Depois será mais caro 
e a perda de tempo é também um preço 
para a estupidez.
Com o plano aprovado nos primeiros 
dias da administração Biden, os gastos 
públicos nos EUA em resposta à pan-
demia elevam-sea 27% do PIB, um va-
lor que mostra a insensatez da restrição 
europeia, com uma ‘bazuca’ medíocre e 
que, aliás, ainda nem está em andamento. 
O FMI, cujo conservadorismo é lendário 
e cuja carreira de condenação do inves-
timento público é uma certeza, veio há 
um par de meses aplaudir esta viragem 
e mesmo propor uma conta para os be-
nefícios do gasto dos Estados: o efeito 
multiplicador desse investimento trans-
formaria cada euro do dinheiro público 
em 2,7 euros de crescimento do PIB.
Um mau ano para a Europa
Entretanto, as previsões do FMI para a 
evolução económica revelam mais amea-
ças do que alívio para a Europa. Na sua 
análise, revelada esta semana, a institui-
ção conclui que a recessão em 2020 terá 
sido menor do que o que se antecipava, 
com uma queda do PIB mundial de 3,5%, 
e não dos previstos 4,4%, em grande par-
te devido a uma melhor recuperação da 
China, que foi de 2,3%. Continua a ser 
a pior recessão dos últimos 75 anos, e a 
comparação com a de 2009 (menos 0,1% 
no PIB mundial) é reveladora.
No entanto, a zona euro foi das mais 
atingidas, com uma queda global de 7,5% 
(e a Espanha de 11%, o que é relevante 
para o comércio externo nacional). E, diz 
o FMI, a recuperação em 2021 será pior 
do que o previsto, terá que se esperar 
pelo final de 2022 para voltar aos níveis 
pré-crise, e, entretanto, as regras euro-
peias apertam, quando deviam ajudar a 
relançar a economia. Em todo o caso, que 
se espera para relançar o investimento, 
financiado por dívida a juro negativo?
A
o fim de quase 11 me-
ses de pandemia, já 
morreram 10.721 por-
tugueses. Em compa-
ração, morreram 8830 sol-
dados portugueses durante 
14 anos de guerra colonial. 
Durante este flagelo, o Go-
verno português tem ouvido 
os conselhos dos especialistas 
reunidos no Infarmed e nou-
tros grupos. Mas, sempre que 
toma uma decisão, surgem 
críticas que devia ter seguido 
mais as suas recomendações. 
Alguns afirmam mesmo que 
deveriam ser os especialis-
tas a decidir as medidas. Su-
perficialmente, parece fazer 
sentido. Mas basta pensar um 
pouco mais para perceber que 
isto está profundamente er-
rado, quer do lado da política 
quer do lado da ciência.
Numa pandemia, os cien-
tistas são essenciais para 
explicar os mecanismos de 
contágio, para medir quantos 
doentes temos, e para listar as 
consequências de diferentes 
políticas. Mas, quando se tem 
de decidir entre elas, é preciso 
lidar com o facto de as me-
dições em tempo real serem 
imperfeitas. As previsões da 
evolução nos próximos me-
ses têm muita incerteza, não 
só estatística, mas também 
entre diferentes modelos ci-
entíficos. E toda e qualquer 
política de saúde pública tem 
múltiplas consequências.
A principal tarefa dos cien-
tistas nestas alturas é, antes 
de tudo, dissuadir os decisores 
de algumas péssimas ideias 
que claramente tornariam 
tudo pior. Já não é pouco, so-
bretudo tendo em conta a ten-
dência humana para ignorar 
problemas e rezar para que 
desapareçam por si. Depois, 
os cientistas tentam medir e 
prever com a maior confian-
ça possível, mas sendo claro 
sobre a incerteza e as mar-
gens de erro das estimativas. 
Por fim, os cientistas elencam 
as diferentes consequências 
de diferentes políticas. Para 
qualquer situação, há sempre 
um conjunto de opções com 
diferentes prós e contras. Um 
especialista pode preferir uma 
delas, porque prefere um mo-
delo e um conjunto de medi-
ções, ou porque acha que se 
deve pôr mais peso nalguns 
prós em vez de outros contras. 
Mas o especialista tem de ter a 
humildade de perceber que há 
incerteza e que outros têm ou-
tros pesos. Para o bem e para 
o mal, são os decisores políti-
cos, eleitos numa democracia, 
que representam o povo. Só 
eles devem tomar decisões.
O estado calamitoso atual 
mostra claramente que o Go-
Não 
deixem os 
especialistas 
decidir 
verno português decidiu mal 
no último mês. Só fechámos 
a 15 de janeiro e com muitas 
exceções que só foram remo-
vidas no dia 22, quase um mês 
depois da nova estirpe britâ-
nica do vírus ser detetada. Os 
vírus espalham-se a um ritmo 
exponencial. Se um grão no 
primeiro quadrado do tabu-
leiro de xadrez mágico que 
duplica a cada quadrado se 
transforma em 65,536 grãos 
ao fim de duas filas, já se pu-
sermos esse primeiro grau só 
no início da segunda fila, aca-
bamos com apenas 256 grãos. 
Quando uns dias apenas fa-
zem a diferença, um mês in-
teiro tem um impacto brutal. 
Por outro lado, imagine que 
em vez de duplicar, o tabu-
leiro só acrescenta 10% em 
cada quadrado. Então, ao fim 
de duas filas, só teremos 4,6 
grãos e, começar com uma fila 
de atraso, produz 2,1 grãos. 
Há quatro semanas, nenhum 
especialista podia dizer com 
enorme certeza que o factor 
R a que o vírus se exponencia 
estava tão acima de 1 como os 
dados acabaram por revelar. 
O Governo pesou riscos e be-
nefícios, e decidiu atrasar o 
confinamento. Decidiu mal. 
Mas decidiu, consciente da in-
certeza e pesando riscos e be-
nefícios. Não seria por temos 
especialistas a decidir que o 
resultado teria sido melhor.
Aliás, uma decisão impor-
tante ficou na mão dos espe-
cialistas e levou a maus re-
sultados. Demorou-se muitos 
meses a aprovar as vacinas. 
Os cientistas nas agências re-
gulatórias usaram os critérios 
estatísticos que usam para to-
das as vacinas, e que exigem 
um altíssimo nível de confi-
ança na eficácia e ausência de 
efeitos secundários graves. 
Mas um uso correto da teo-
ria estatística põe um peso no 
risco de ter uma vacina ine-
ficaz ou mesmo perniciosa, 
contra o peso dos milhares 
de pessoas que morrem e os 
milhões que ficam na pobreza 
por cada dia que passa. Nesta 
pandemia, que tantos danos 
está a causar, parece-me que 
os pesos dos especialistas não 
refletiram as prioridades da 
população com consequênci-
as graves: se tivéssemos apro-
vado as vacinas dois meses 
mais cedo, podíamos ter evi-
tado esta vaga de mortes de 
janeiro.
Há um mês, o famoso dr. 
Fauci reviu a sua estimativa 
da imunidade de grupo de 
60% a 70% da população, para 
perto de 90%, depois de já a 
ter revisto em novembro para 
75% a 80%. Quando lhe per-
guntaram porquê, ele admitiu 
sem pudor que disse números 
mais baixos anteriormente 
para convencer as pessoas a 
vacinarem-se. Para um mé-
dico, isto pode ser normal: 
assustar os pacientes é por 
vezes a melhor forma de co-
meçar a cura. Mas um decisor 
político sabe que mentir tem 
custos, que exagerar hoje leva 
a ser ignorado amanhã, e que 
se paga por isso nos desafios 
futuros que a nação vai en-
frentar.
Por vezes, elegemos polí-
ticos cobardes. Eles adoram 
que os especialistas lhes di-
gam o que fazer. Mas um cien-
tista responsável raramente 
deve decidir. Antes, ele apre-
senta escolhas, as vantagens e 
desvantagens. Cabe ao políti-
co decidir, bem ou mal, e cabe 
ao Parlamento, aos tribunais 
e, por fim, aos eleitores, julgá-
-lo por isso.
Demorou-se 
muitos meses a 
aprovar as vacinas
Para o bem 
e para o mal, 
são os decisores 
políticos que 
representam o povo
Expresso, 29 de janeiro de 2021 ECONOMIA 5 
“Confusion 
de Confusiones”
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt
Q
uando aprendi finan-
ças públicas recordo 
bem as lições dos meus 
docentes de esquerda, 
keynesianos convictos, a cari-
caturarem e ridicularizarem a 
atitude do “Botas”. Era assim 
que tratavam António Salazar, 
por ter um apego sem fim a 
um velho par de botas de elás-
tico que usou além do limite do 
aceitável a um chefe de Estado. 
O tal “Botas” era então adepto 
de orçamentos equilibrados 
e eu, estudando Keynes, fui 
aprendendo as virtudes dos 
orçamentos desequilibrados 
e aprendendo a desapreciar a 
política orçamental do velho 
ditador. 
De um modo simples a polí-
tica orçamental recomenda-se 
contracíclica, isto é, sugerindo 
orçamentos desequilibrados 
negativamente (quando possí-
vel) para estimular as economi-
as em períodos de recessão, e 
equilibrados ou positivos para 
períodos de crescimento eco-
nómico.
O ano de 2020 foi um ano 
de recessão profunda. E por 
isso todos os economistasre-
comendaram que o Estado de-
veria aproveitar ao máximo a 
margem que tivesse para dese-
quilibrar o Orçamento e assim 
apoiar as empresas e as famíli-
as na mitigação desta crise sem 
memória. Foi nesse enquadra-
mento que, apesar de negado 
inicialmente (recordo as várias 
vezes que Mário Centeno afir-
mou que o Orçamento apro-
vado para 2020 era suficiente 
para acomodar as medidas de 
ataque à crise), o Parlamento 
acabou por aprovar uma nova 
versão do Orçamento. Nesta 
versão previa-se um aumento 
de 4,6% da despesa e uma redu-
ção de 7,6% da receita. O saldo 
final (negativo) previa-se que 
chegasse a €13,7 mil milhões.
Acabado o ano, o que temos: 
afinal a execução do Orçamen-
to permitiu uma poupança de 
€3 mil milhões. Isso significa 
menos despesa e mais receita. 
Significa que o Estado consu-
miu menos e que por isso em-
presas deixaram de lhe com-
prar, famílias de receber e esta 
poupança contribuiu para agra-
var a recessão económica geral.
Será então bom? Não me pa-
rece. O Ministério das Finan-
ças congratula-se com aumen-
tos de despesa que já estavam 
orçamentadas mas ao divul-
gar o seu resultado só deveria 
acrescentar uma nota sobre 
o mau desempenho dessa sua 
execução orçamental, a qual 
ajudou a agravar a crise atual. 
Há coisas admiráveis. Ima-
ginar que o Ministério das 
Finanças de um Governo de 
esquerda com um Orçamento 
apoiado no Parlamento pelo 
PCP consegue em tempo de 
pandemia e de recessão his-
tórica apresentar sem vergo-
nha uma poupança da despesa 
pública e um Orçamento mais 
equilibrado do que o previsto. 
Confesso que não me passaria 
pela cabeça.
Afinal, 
poupar 
é bom?
O Estado consumiu 
menos, e esta poupança 
contribuiu para agravar 
a recessão económica 
EFACEC
Privatização avança com corte 
de custos e despedimentos na mira
Efacec com plano para 2021 agressivo. Previsto corte de custos laborais de €15 milhões
Textos Anabela Campos 
e Isabel Vivente
Está dado um novo tiro de 
partida para a reprivatização 
da Efacec. A urgência é gran-
de, pois as contas da empresa 
estão a deteriorar-se. Os can-
didatos à compra já têm os 
números de 2020 e terão de 
avançar com uma proposta 
não vinculativa até ao dia 1 
de março.
Foi na semana passada que 
os candidatos receberam um 
memorando de informação 
com os dados provisórios 
de 2020, perspetivas para 
os anos que se seguem e um 
agressivo plano de atividade, 
onde está incluída uma rees-
truturação para começar a 
aplicar ainda antes da con-
clusão da privatização, pre-
vista para meados deste ano, 
sabe o Expresso. No corte de 
custos proposto, os grandes 
sacrificados são os trabalha-
dores — a empresa liderada 
por Ângelo Ramalho prevê 
que a fatura dos custos labo-
rais desça de cerca de €65 
milhões em 2020 para €50 
milhões em 2021 (menos €15 
milhões).
O memorando de informa-
ção aponta para um corte de 
cerca de cinco centenas de 
trabalhadores, a somar aos 
que já saíram. Uma informa-
ção que nem a Parpública 
nem a Efacec, questionadas 
pelo Expresso, confirmam. 
“Existe um plano de ativida-
des que reflete uma melhoria 
em 2021 face a 2020”, escla-
rece apenas a Parpública, 
gestora das participações 
do Estado. E acrescenta: “A 
Efacec tem atualmente 2353 
trabalhadores, que irá ajustar 
às necessidades do negócio, 
como tem vindo a fazer ao 
longo do tempo.”
Fonte oficial da empresa 
aponta no mesmo sentido. 
“A Efacec ajustará sempre 
os seus recursos, humanos, 
financeiros e patrimoniais, 
às necessidades do negó-
cio.” E não quis fazer mais 
comentários, alegando que 
a informação distribuída aos 
potenciais candidatos é pro-
tegida por acordos de confi-
dencialidade.
Com 2353 trabalhadores, 
se o despedimento avançar 
será uma redução superior a 
1/5 (21%) da força de traba-
lho. É um tema sensível para 
o Governo de António Costa 
e para o ministro da Econo-
mia, Siza Vieira, já que com 
a nacionalização da partici-
pação de Isabel dos Santos, a 
2 de julho, o Estado passou a 
controlar 71,73% da Efacec. 
É uma empresa pública a 
despedir. Mas será o corte no 
número de trabalhadores que 
permitirá reduzir os custos e 
que, de acordo com o plano 
apresentado aos candidatos, 
fará com que o EBITDA (re-
sultado operacional) recupere 
dos €20 milhões negativos de 
2020 para €28 milhões positi-
vos em 2021. A verdade é que 
o tempo corre contra a Efacec, 
e dentro da empresa o nervo-
sismo é grande face àquela 
que é uma das indústrias de 
engenharia portuguesas mais 
importantes.
2020 foi um ano particular-
mente difícil para a empresa, 
com as investigações no âmbi-
to do Luanda Leaks, que pro-
vocaram a saída da investidora 
angolana, mas também por-
que a asfixia financeira con-
dicionou a relação da Efacec 
com os fornecedores e a par-
ticipação em novos concursos. 
Na verdade, as receitas têm 
vindo a cair. Em 2019 eram de 
€350 milhões, recuando para 
€220 milhões em 2020.
Asfixia financeira
Em agosto do ano passado en-
traram na empresa — já com a 
atividade limitada por falta de 
pagamento aos fornecedores 
— €50 milhões de empréstimo 
dos €70 milhões contratados 
junto da banca por quatro anos. 
Em setembro entraram mais 
€5 milhões e em novembro ou-
tros €5 milhões, esclareceu a 
Parpública. Faltam ainda €10 
milhões do financia do concedi-
do, com o objetivo de ser utiliza-
do como colateral para emissão 
de garantias. A Parpública afir-
ma que “não foi ainda necessá-
rio utilizá-los”. Mas o Expresso 
sabe que a empresa tem atra-
sado a entrega de encomendas 
a alguns clientes relevantes por 
falta de capacidade financeira 
para comprar material neces-
sário para concluir o trabalho, 
nomeadamente no segmento 
dos transformadores. O dinhei-
ro que já entrou foi usado para 
salários e para pagar aos forne-
cedores as dívidas em atraso, 
numa estratégia já criticada por 
antigos administradores, como 
Rui Lopes, que defendia um pa-
gamento faseado, para poder 
continuar a receber material.
A dívida (bruta) da Efacec — 
€189 milhões em 2020 — pode 
ser um entrave para alguns 
candidatos, já que é um peso 
grande para a empresa. O Ex-
presso sabe que para alguns 
esta rubrica é um problema 
difícil de ultrapassar. Há quem 
defenda inclusive, entre os can-
didatos, que o Estado deveria 
limpar a Efacec através de um 
Processo Especial de Revitali-
zação (PER) e só depois colocá-
-la no mercado. E considere, 
aliás, que esta questão não é 
inultrapassável, uma vez que 
os bancos já têm a dívida provi-
sionada. Seria, defendem, mais 
importante esta limpeza da dí-
vida do que despedir pessoas, 
até porque um dos ativos mais 
importantes da Efacec são os 
trabalhadores qualificados, di-
fíceis de encontrar no mercado 
português. Há também quem 
considere que não faz sentido 
despedir antes da venda, já que 
deverão ser os novos investido-
res a fazê-lo, tendo em conta o 
aporte de capital e a dimensão 
que querem para a empresa.
Apesar dos problemas, a lis-
ta dos potenciais interessados 
mantém-se viva, e haverá até 
novos candidatos, asiáticos 
e europeus. O ministro da 
Economia, Pedro Siza Viei-
ra, disse recentemente que 
“teve novas manifestações de 
interesse”, mas não avançou 
com nomes. Poderá no en-
tanto haver desistências face 
à lista inicial, onde estavam 
empresas como a Sodecia, a 
Iberdrola, a egípcia Elsewedy 
(considerada uma das melho-
res propostas), os fundos Al-
pac e First Reserve, a Oaktree 
e a Ormazabal. Começou a 
contagem decrescente para a 
privatização, que Siza Vieira 
prometeu a 2 de julho de 2020 
que ia ser rápida.
acampos@expresso.impresa.pt
Tudo se encaminha 
para que a Efacec possa 
ter um novo dono em 
meados deste ano. 
Candidatos entregam 
propostas até março 
FOTO RUI DUARTE SILVA
€20
milhões negativos 
de EBITDA (resultado 
operacional em 2020). 
O objetivo é ter contas 
positivas já este ano
Gestora ligada 
a Isabel dos 
Santos saiu
Vanessa Loureiro, um dos 
quadros ligados a Isabel 
dos Santos e com grande 
influência dentro da 
Efacec, saiu em janeiro. 
Chegou à Efacec em 2017. 
Foi administradora nãoexecutiva, mas nunca fez 
parte da Comissão 
Executiva, embora 
participasse em reuniões. 
É o último quadro 
relevante ligado à 
investidora angolana a 
sair da Efacec. Mário Leite 
da Silva, o braço direito de 
Isabel dos Santos nos 
negócios em Portugal, 
saiu há um ano. Vanessa 
Loureiro era até agora 
diretora da área de 
planeamento e estratégia, 
um gabinete onde 
estavam cerca de uma 
dezena de pessoas e que 
foi desmantelado após a 
sua saída. Tinha também 
sob a sua dependência a 
relevante área de 
sistemas de informação. 
Vanessa Loureiro foi 
administradora da 
Santoro Finance e do 
EuroBic (não executiva). O 
laço de Isabel dos Santos à 
Efacec começou a ser 
cortado em janeiro de 
2020. Mas ainda há contas 
por acertar: o Estado 
pediu uma avaliação para 
o eventual pagamento da 
indemnização pela 
nacionalização, cujo valor 
não foi ainda revelado. Em 
setembro, a investidora 
fez entrar no tribunal 
administrativo uma ação 
de impugnação contra a 
nacionalização da sua 
participação. Ainda vai 
correr muita tinta.
CRONOLOGIA
Outubro de 2015
Isabel dos Santos entra 
na Efacec, através da 
Winterfell Industries, 
com financiamento de um 
consórcio de bancos (CGD, 
BCP, BPI, Montepio e Banco 
BIC) no montante de €195 
milhões
Janeiro de 2020
Investidora anuncia venda, 
depois do furacão Luanda 
Leaks e dos arrestos às suas 
participações pela Justiça
Julho de 2020
O Governo nacionaliza os 
71,73% de Isabel dos Santos. 
Banca negoceia com Estado 
injeção de €70 milhões
Dezembro de 2020
É publicado o caderno de 
encargos da reprivatização. 
Será feita por venda direta, 
podendo ser acompanhada 
por aumento de capital 
pelo comprador
Janeiro de 2021
Potenciais interessados 
recebem novo memorando 
de informação. Terão 
de apresentar propostas 
até março
Expresso, 29 de janeiro de 2021ECONOMIA6
Pandemia fez duplicar processos face a 2019. Até dezembro, 698 empresas iniciaram 
despedimentos coletivos. Número supera 2014, ano em que a troika saiu do país
Despedimentos coletivos mais 
do que duplicam em 2020
Cátia Mateus
Logo no início da pandemia o Governo 
apostou todas as fichas no objetivo de 
travar a destruição de emprego, num 
tecido empresarial que foi forçado a 
travar a fundo, mergulhando numa 
crise nunca antes vista. Mas apesar dos 
vários instrumentos de apoio que, nos 
últimos meses, colocou ao serviço das 
empresas, a estratégia do Executivo 
não foi suficiente para evitar uma es-
calada de despedimentos coletivos no 
país. Os dados fornecidos ao Expresso 
pelo Ministério do Trabalho, Solida-
riedade e Segurança Social (MTSSS) 
contabilizam 48 novos despedimentos 
coletivos iniciados em dezembro. O nú-
mero eleva para 698 o total de proces-
sos iniciados em 2020, abrangendo um 
universo total de 8299 trabalhadores. 
Mais do dobro do número de processos 
e trabalhadores registados em 2019 e 
5% acima dos processos iniciados 2014, 
último ano da troika em Portugal.
Os apoios ao emprego que foram 
sendo lançados pelo Governo como 
resposta à crise gerada pela pandemia 
tinham como denominador comum a 
proibição de despedimento por parte 
das empresas, durante a vigência do 
apoio e até 60 dias após o seu fim. Foi 
assim com o lay-off simplificado — que 
abrangeu entre março e julho mais de 
115 mil empresas em situação de crise 
económica e 900 mil trabalhadores —, 
é assim com o apoio à retoma e tam-
bém o incentivo extraordinário à nor-
malização de atividade. Às empresas 
é permitido não renovar contratos a 
termo, mas despedir (seja por despedi-
mento coletivo ou extinção de posto de 
trabalho) determina o incumprimento 
das regras e obriga à devolução inte-
gral do apoio. Os números indicam, 
porém, que apesar desta norma-travão 
muitas empresas terão acabado por 
avançar para despedimento coletivo.
Pequenas empresas lideram
Os 48 processos de despedimento cole-
tivo iniciados em dezembro traduzem 
uma diminuição face ao que foi a média 
mensal desde o início da pandemia, 
mas isso não impediu que 2020 fosse o 
ano mais negro dos últimos sete. Nos 
12 meses de 2020, foram comunicados 
698 processos de despedimento cole-
tivo abrangendo um universo total de 
8299 trabalhadores a despedir. Micro 
(37%) e pequenas empresas (39,5%) 
respondem pela maioria dos processos 
iniciados até novembro, último mês 
com dados desagregados por dimensão 
da organização já disponíveis.
Os números comparam com os dis-
ponibilizados pela Direção-Geral do 
Emprego e das Relações de Trabalho 
(DGERT) para 2019: 308 processos 
iniciados abrangendo 3720 trabalha-
dores. Menos de metade do número 
total de processos contabilizados em 
2020. Recuando nos dados da DGERT, 
é possível perceber que os números de 
2020 estão próximos dos registados 
em 2014. Nesse ano foram contabili-
zados 664 despedimentos coletivos no 
país, menos 5% do que no ano passado. 
Mas é no número de trabalhadores 
abrangidos que a diferença mais se 
nota: 6051 em 2014, menos 37,2% do 
que no ano em que a pandemia trocou 
as voltas à economia.
Se recuarmos mais nas estatísticas 
é fácil perceber que o país fecha 2020 
com a sua pior marca em matéria de 
despedimentos coletivos desde 2013, 
ano em que se contabilizaram 990 
processos, com um total de 9167 tra-
balhadores a despedir. Considerando 
a varia ção homóloga, ou seja, a compa-
ração face ao ano anterior, desde 2006 
que a subida não era tão acentuada, 
quer em número de processos inicia-
dos quer em trabalhadores abrangidos.
Situação pode agravar-se
O mês de abril, o primeiro completo de 
confinamento e paragem da economia 
no país, ficou marcado como o pior de 
2020, tanto em número de processos 
(140) como em trabalhadores abran-
gidos (1324). Ao longo dos últimos 
meses, os sindicatos e advogados espe-
cialistas em direito laboral contactados 
pelo Expresso foram sinalizando a pos-
sibilidade de um agravar da situação, à 
medida que os apoios à manutenção do 
emprego fossem terminando.
Os dados confirmam-no. Em outu-
bro, primeiro mês em que as empresas 
que beneficiaram do lay-off simplifi-
cado na primeira vaga da pandemia 
— apoio terminou em julho para a mai-
oria das empresas e foi agora recupe-
rado — deixavam de estar limitadas no 
despedimento, o número de processos 
iniciados foi além dos 60, abrangendo 
1007 trabalhadores, o número mais 
elevado de profissionais a despedir 
desde abril.
E os próximos meses, apesar do re-
forço das medidas de apoio anunciado 
pelo Governo, podem agravar os des-
pedimentos. Depois de sindicatos e 
advogados sinalizarem publicamente 
que há empresas a desistir dos apoios 
e a devolver montantes recebidos para 
poderem despedir, porque não conse-
guem aguentar a estrutura de custos 
no atual contexto económico, a própria 
Associação Empresarial de Portugal 
vem alertar para o risco do novo con-
finamento geral em vigor acentuar o 
aumento de insolvências e despedi-
mentos, caso as medidas de apoio do 
Governo não se revelem suficientes.
cmateus@expresso.impresa.pt
CRISE
*Dados relativos à distribuição dos despedimentos 
coletivos por dimensão de empresa em 2020, 
reportam a 30 de novembro, última desagregação 
disponível
Medidas lançadas pelo 
Governo contiveram 
a subida do desemprego 
em 2020 e receita 
deve repetir-se este ano
Apoios 
devem 
conter 
subida do 
desemprego
A economia portuguesa terá 
sofrido em 2020 uma queda 
inédita, na casa dos 8%. Apesar 
disso, a subida do desemprego 
foi pequena. Os economistas 
ouvidos pelo Expresso anteci-
pam uma taxa anual em torno 
de 6,8%, o que compara com 
6,5% em 2019. E a explicação, 
dizem, reside nas medidas pú-
blicas de apoio ao emprego e às 
empresas, que travam os des-
pedimentos. Uma receita que 
esperam que se repita em 2021.
A projeção do NECEP/Cató-
lica Lisbon é que a taxa de de-
semprego tenha ficado em 7,2% 
no quarto trimestre de 2020 
e 6,8% no conjunto do ano. 
“Tendo em conta a evolução 
da economia, o desemprego de-
veria ter subido muito mais. As 
medidas de apoio ao emprego, 
em particular o lay-off simplifi-
cadoe as suas variantes, deram 
uma forte ajuda”, vinca João 
Borges de Assunção, professor 
da Católica Lisbon. A posição é 
partilhada pelo Santander, que 
aponta para 7,5% nos últimos 
três meses de 2020 e de 6,8% 
no conjunto do ano.
Agora, o confinamento decre-
tado em janeiro e “as perspeti-
vas da necessidade de uma mai-
or duração do mesmo deverá 
refletir-se numa subida da taxa 
de desemprego”, diz Bruno Fer-
nandes, economista do Santan-
der. Contudo, as medidas de 
apoio lançadas pelo Governo 
“contribuirão para mitigar uma 
subida abrupta do número de 
desempregados”, defende. O 
Santander espera uma subida 
do desemprego este ano para 
o intervalo entre 8% a 10% e a 
Católica aponta para 7,6%.
Contratações adiadas
Como resultado das novas 
restrições à atividade, “prova-
velmente, as intenções de in-
vestimento e contratação das 
empresas serão adiadas”, aler-
ta João Cerejeira, professor da 
Escola de Economia e Gestão 
da Universidade do Minho. Isso 
mesmo sinalizam os recrutado-
res ouvidos pelo Expresso. “A 
mudança de planos de recruta-
mento depende essencialmente 
de quanto tempo vai durar o 
confinamento e de eventuais 
alterações legislativas em sede 
de estado de emergência que 
tenham impacto na atividade 
de determinados sectores”, 
explica José Miguel Leonardo, 
diretor executivo da Randstad 
Portugal, que reconhece que 
“o novo confinamento vai ter 
impacto imediato nas empresas, 
mas também nos trabalhadores 
e candidatos”.
Também Álvaro Fernandéz, 
diretor-geral da Michael Page, 
admite impasses. “Algumas 
empresas poderão reavaliar os 
seus timings de recrutamento, 
mas acreditamos que o mer-
cado não estagnará”, refere. 
Seguramente, diz, “haverá uma 
deterioração de sectores que 
já passavam por dificuldades, 
como o turismo e o retalho 
alimentar, mas de uma forma 
geral, grande parte dos secto-
res continuará a precisar de 
recrutar”, sinaliza. C.M. e S.M.L.
Situação agravou-se no quarto 
trimestre. Informação sobre 
2021 ainda é muito escassa, 
mas os sinais são negativos
Indicadores sinalizam 
nova queda da economia
Quase um ano depois da chegada da 
covid-19 a Portugal, o país voltou ao 
ponto de partida. Ou seja, a novo con-
finamento geral e severo, e os eco-
nomistas consideram já inevitável 
uma queda da economia portuguesa 
nos primeiros três meses do ano. Um 
recuo que pode chegar aos 7% face 
aos três meses anteriores. Ao mesmo 
tempo, apontam para que o produto 
interno bruto (PIB) já terá caído tam-
bém no quarto trimestre de 2020 — 
antecipando a estimativa rápida que o 
Instituto Nacional de Estatística (INE) 
divulga na próxima semana.
Caso este cenário se confirme, Por-
tugal sofre nova recessão técnica (dois 
trimestres consecutivos de queda em 
cadeia do PIB ), depois do trambolhão 
inédito na primeira metade de 2020. 
E as notícias de fora também causam 
preocupação. O Fundo Monetário In-
ternacional reviu em baixa as perspe-
tivas de crescimento da zona euro para 
4,2% (menos um ponto percentual).
Para monitorizar o impacto da crise 
e como a atividade económica está a 
evoluir, foi publicado esta semana no 
Expresso online um painel com mais de 
40 indicadores. Os números mostram 
que, depois da forte recuperação no ve-
rão, a situação voltou a degradar-se no 
outono. Com destaque para novembro, 
quando muitos concelhos do país esti-
veram em confinamento parcial. Sobre 
janeiro, a informação ainda é muito 
escassa. Mas a degradação de novem-
bro não deixa margem para dúvidas 
do preço que o confinamento cobra à 
atividade económica. Confinamento 
que agora é muito mais severo.
A utilização de cartões em terminais 
de pagamento automático da rede mul-
tibanco é um dos indicadores a seguir, 
já que permite monitorizar de perto o 
consumo, e mostra uma degradação 
nos últimos meses de 2020, apesar de 
alguma recuperação em dezembro. 
Os dados solicitados pelo Expresso à 
SIBS mostram que na segunda meta-
de de dezembro a quebra homóloga 
ficou pelos 7%, agravando-se para 10% 
na primeira metade de janeiro. A res-
tauração tem sido particularmente 
afetada pela crise e o índice de volume 
de negócios em novembro de 2020 
ficou cerca de 40% abaixo de janei-
ro desse ano, antes da pandemia. Os 
sinais de alarme também voltaram a 
soar no turismo. A queda nas dormidas 
agravou-se, atingindo 77% em termos 
homólogos.
Quanto ao mercado de trabalho, 
as medidas de apoio ao emprego aju-
daram a travar a escalada do desem-
prego. Os números do Instituto do 
Emprego e Formação Profissional 
agravaram-se na primeira vaga da 
pandemia, depois registaram alguma 
melhoria, mas voltaram a piorar no 
final do ano passado.
Sónia M. Lourenço
slourenco@expresso.impresa.pt
2012 13 14 15 16 17 18 19 2020
DESPEDIMENTOS COLETIVOS
EM NÍVEIS DE 2014
Nº de processos iniciados
1500
1000
500
0
698
FONTE: DIREÇÃO-GERAL DO EMPREGO E RELAÇÕES 
DE TRABALHO (DGERT)
2012 13 14 15 16 17 18 19 2020
DESPEDIMENTOS INICIADOS
POR DIMENSÃO DA EMPRESA
15
12
9
6
0
Micro Pequenas
Médias Grandes
TURISMO: DORMIDAS
Em milhões
8
6
4
2
0
CONSUMO
DE ELETRICIDADE
Em GWh
4600
4200
3800
3400
3000
MERCADO DE TRABALHO
Novas colocações
8000
6000
4000
2000
0
UTILIZAÇÃO DE CARTÕES 
EM PAGAMENTOS MULTIBANCO
Em milhões de operações em todos os sectores
1200
900
600
300
0
VOLUME DE NEGÓCIOS
NA RESTAURAÇÃO
Janeiro de 2020 = 100
120
90
60
20
0
FONTES: ICA, SIBS ANALYTICS, BDP (DADOS DA DIREÇÃO-GERAL DE ENERGIA), INE, IEFP 
JAN. 2020 JAN. 2021
COVID-19
JAN. 2019 JAN. 2020 JAN. 2021
COVID-19
JAN. 2019 JAN. 2020 JAN. 2021
COVID-19
JAN. 2019 JAN. 2020 JAN. 2021
COVID-19
JAN. 2019 JAN. 2020 JAN. 2021
COVID-19
JAN. 2019 JAN. 2020 JAN. 2021
COVID-19
ESPECTADORES 
DE CINEMA
Em milhares de bilhetes emitidos
300
225
150
75
0
Expresso, 29 de janeiro de 2021 ECONOMIA 7 
Expresso, 29 de janeiro de 2021ECONOMIA8
Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt
É 
pouco provável que al-
guém recorde uma única 
proposta do candidato li-
beral Tiago Mayan Gon-
çalves, uma semana depois das 
eleições presidenciais. Ele será 
recordado, não pelas ideias, mas 
pela forma como colocou a nu a 
demagogia e vacuidade das pro-
postas do candidato da extre-
ma-direita, o que não é pouco. 
Incluindo na afirmação do libe-
ralismo. Em relação às ideias, 
no entanto, o esquecimento não 
será novidade. As ideias liberais 
não têm grande fama em Portu-
gal, embora elas sejam funda-
doras da ordem internacional, a 
ordem liberal, a que felizmente 
pertencemos. 
Alguns políticos já sofreram na 
pele a associação ao liberalismo, 
como se fosse um crime. Foi o 
caso de Passos Coelho que pas-
sou quatro anos a garantir que 
era social-democrata, enquanto 
os seus inimigos o acusavam de 
ser um perigoso liberal e até, 
crime dos crimes, um perigo-
síssimo neoliberal. Uma leitu-
ra mesmo resumida daquilo de 
Passos Coelho escreveu seria su-
ficiente para confirmar as suas 
convicções. Mas, como agora até 
as líderes do Bloco de Esquerda 
são sociais-democratas, isso não 
lhe serviu de nada.
Longe vai o tempo em que o 
ideólogo socialista e atual minis-
tro dos Negócios Estrangeiros, 
Augusto Santos Silva, escrevia, e 
cito de memória, que “a esquer-
da não deve deixar à direita o 
património liberal”. Nos tempos 
que correm nem a esquerda nem 
muita da direita reivindicam a 
herança desse espólio político. 
Bem pelo contrário. Ainda re-
centemente o primeiro-ministro 
afirmou a importância do Estado 
contra o liberalismo e o neoli-
beralismo, provavelmente para 
defender a ministra da Saúde 
pela forma como tem tratado o 
sector privado.
É estranho que assim seja. A 
ordem liberal, instituída a seguir 
à II Guerra Mundial, é respon-
sável por um dos mais longos 
períodos de paz e prosperidade 
da história. Herda o legado po-
lítico liberal assente na lei, no 
Estado de direito, nas liberdades 
individuais, na separação dos po-
deres, na defesa e salvaguarda da 
propriedade, no livre comércio, 
no governo legitimado pelo voto 
contra todos os abusos, incluin-do os praticados pelo Estado. É 
provável que este “património”, 
chamem-lhe liberal ou o que qui-
serem, tenha menos defensores 
do que aquilo que imaginamos, 
a avaliar pela forma como é tra-
tado e, muitas vezes, esquecido.
Em Portugal confunde-se di-
mensão do Estado com o papel 
do Estado. Quando se discute a 
primeira, dizem alguns, ataca-se 
a segunda. Entre nós, a discus-
são sobre o liberalismo está re-
sumida a isto. É pouco. É triste. 
Discutir a dimensão do Estado 
não é sinónimo de questionar o 
Estado, atitude própria dos anar-
quistas. “O Estado é uma socie-
dade de homens constituída uni-
camente com o fim de conservar 
e promover os seus bens civis”, 
escreveu John Locke, um dos 
fundadores do liberalismo. Tre-
zentos anos depois muita coisa 
mudou. Mas a ideia luminosa de 
que o Estado é um instrumento 
ao serviço do bem comum e não 
de interesses pessoais e econó-
micos de indivíduos, grupos ou 
aparelhos partidários não mu-
dou, nem pode mudar. Agora, 
com a pandemia e depois dela, 
mais do que nunca.
A ‘maldição’ 
liberal
ELETRICIDADE
EDP Distribuição é agora 
E-Redes e acelera digitalização
Empresa já disponibiliza dados em tempo real a um milhão de consumidores
Textos Miguel Prado 
Foto Tiago Miranda
A velha EDP Distribuição pas-
sou à história e a partir de ago-
ra tudo o que tenha a ver com 
as leituras dos consumos de 
eletricidade ou reparação de 
avarias na rede de distri buição 
em Portugal continental passa 
a ser tratado pela E-Redes. A 
empresa é a mesma e os fun-
cionários também, mas muda 
a marca e a designação socie-
tária, de forma a pôr termo 
a even tuais confusões com o 
negócio de comercialização 
do grupo EDP, operado pela 
EDP Comercial.
No momento da mudan-
ça, o Expresso falou com o 
presidente da empresa, João 
Torres, que revelou que mes-
mo em contexto de pandemia 
foi possível implementar um 
muito esperado avanço: mas-
sificar o acesso dos consumi-
dores de eletricidade aos seus 
dados de consumo, em tempo 
real, nas plataformas digitais 
do distribuidor.
No final do ano passado, 
a EDP Distribuição (agora 
E-Redes) criou uma funcio-
nalidade que permite ao con-
sumidor consultar em suporte 
digital o seu consumo de 15 
em 15 minutos, e assim co-
nhecer melhor o seu perfil 
de consumo. Com mais infor-
mação, o consumidor poderá 
saber quanto gasta nos vários 
períodos horários, se lhe com-
pensa uma tarifa bi-horária e 
ficar mais sensibilizado para 
a importância da eficiência 
energética e da rotulagem dos 
equipamentos.
De acordo com o presidente 
da empresa, essas leituras em 
tempo real já cobrem um mi-
lhão de clientes domésticos (to-
dos os consumidores empresa-
riais já têm essa telecontagem) 
e o objetivo para este ano é 
elevar essa cobertura para 2,5 
milhões de famílias. Para tal, 
é preciso a E-Redes reforçar a 
capacidade de processamento 
dos dados. “Estamos a dar pas-
sos seguros”, explica.
Atualmente, 51% dos mais 
de seis milhões de clientes 
de eletricidade têm contado-
res inteligentes, isto é, que 
comunicam de forma re-
mota as suas leituras para o 
distribui dor de eletricidade. 
São 3,2 milhões de casas com 
os equipamentos digitais. E a 
programação para este ano 
levará a E-Redes a instalar 
mais 620 mil equipamentos 
de medição inteligente. O 
país deverá estar totalmente 
coberto com estes modernos 
contadores em 2024, dois 
anos antes do prazo inicial-
mente previsto.
João Torres diz que a instala-
ção de contadores inteligentes 
“está a correr bastante bem” e 
que nos inquéritos de satisfa-
ção feitos após as instalações a 
empresa tem obtido uma pon-
tuação média de 8,4 em 10. 
De acordo com o presidente 
da E-Redes, a substituição de 
equipamentos tem sido feita 
de forma dispersa pelo terri-
tório. “Instalámos de norte a 
sul do país, e dos sete distritos 
que estão acima da média de 
51% de cobertura quatro são 
do interior”, explica.
Para o gestor, esta digitali-
zação é crucial, não só para 
melhorar a gestão da rede e 
monitorização da procura e da 
oferta, mas também para bene-
ficiar o consumidor. “Não basta 
dizer que o consumidor está no 
centro da transição energética 
e depois não lhe dar informa-
ção para decidir”, realça.
Este ano, a Entidade Regu-
ladora dos Serviços Energéti-
cos (ERSE) deverá promover 
uma revisão dos parâmetros 
regulatórios do sector elétrico 
para vigorar de 2022 a 2024, 
e a E-Redes antecipa desde já 
uma reivindicação: aumen-
tar a taxa de remuneração 
regulada do distribuidor de 
eletricidade.
“A nossa remuneração é 
das mais baixas da Europa”
“A taxa de remuneração dos 
ativos da EDP Distribuição 
[4,9%] é das mais baixas da 
Europa. E ainda temos a 
CESE [contribuição extraor-
dinária sobre o sector energé-
tico] a incidir sobre os resul-
tados da empresa. É preciso 
olhar para esta nossa taxa, 
que é inferior à de Espanha 
(6%) e de Itália (5,9%). Isso é 
fundamental quando temos 
de olhar para planos de in-
João Torres tem-se dividido entre o teletrabalho e o trabalho presencial na EDP Distribuição, agora E-Redes
vestimento a longo prazo”, 
argumenta João Torres, que 
já trabalhou na EDP Distri-
buição com remunerações 
reguladas de 10,5%. “É nas 
comparações com os pares 
europeus que entendemos 
que não estamos a ser bem 
tratados”, acrescenta.
Mas é importante notar que 
qualquer revisão em alta das 
receitas da E-Redes acaba-
rá por ser paga pelo consu-
midor de eletricidade. Com 
uma base regulada de ativos 
de quase €3 mil milhões, uma 
subida de um ponto percen-
tual na taxa de remuneração 
da empresa implicaria um 
custo acrescido para o sis-
tema elétrico (leia-se, para 
o consumidor) próximo dos 
€30 milhões por ano (mais €5 
anuais por família).
João Torres defende a jus-
tiça de uma revisão em alta 
da remuneração da E-Redes 
com o esforço de eficiência já 
feito pela empresa. Segundo 
o responsável, a agora deno-
minada E-Redes reduziu os 
proveitos anuais por cliente 
de €109 em 2006 para €66 
 atualmente. E com isso tam-
bém baixou o peso da distri-
buição de eletricidade na fatu-
ra da luz, rondando agora os 
16% (o resto é o custo de pro-
dução da eletricidade, o seu 
transporte na rede da REN 
e os vários custos de política 
energética em vigor).
Nova marca sem 
custo acrescido
João Torres assegura que 
a mudança de marca para 
E-Redes foi conseguida com 
“neutralidade de custos”. Isto 
é, a empresa canalizou para 
a nova marca despesas que 
estavam previstas para ou-
tras áreas. E será por isso que 
os encargos desta mudança, 
próximos dos €2 milhões, não 
vão agravar a fatura da luz dos 
portugueses.
Os 23 pontos de atendimen-
to físico da EDP Distribuição 
reabrirão segunda-feira com a 
imagem da E-Redes e todas as 
cartas e correspondência com 
os consumidores passam a ter 
a nova marca, bem como as pla-
taformas digitais. Para evitar 
comprar novas fardas de ime-
diato, a empresa adquiriu cole-
tes para quem está no terreno 
(cerca de metade dos três mil 
funcionários). E para câmaras 
municipais, juntas de freguesia 
e outros interlocutores segui-
ram 20 mil brochuras, para 
divulgar a nova marca e tentar 
que ela chegue às comunidades 
locais sem que os consumido-
res estranhem que lhes batam 
à porta técnicos com a nova 
marca amarela da E-Redes, em 
vez do tradicional e encarnado 
logótipo da EDP Distribuição.
A mudança de marca acon-
tece por imposição do regu-
lador (de forma a separar 
claramente as atividades de 
distribuição e comercializa-
ção) e dá-se num ano em que 
estão a ser preparados con-
cursos para a operação das 
redes de baixa tensão. João 
Torres diz ao Expresso que a 
EDP quer concorrer e conti-
nuar a ser a concessionária da 
distribuição de eletricidade 
em Portugal, estando a seguir 
o dossiê “muito atentamente”.
mprado@expresso.impresa.pt 
Este ano, a E-Redes 
deverá instalar mais 
620 mil contadores 
inteligentes, a somar 
aos 3,2 milhões atuais
TRÊS PERGUNTAS A
João Torres
Presidente da E-Redes
 P Quais foram os maiores 
desafios no processo da 
mudança de marca? 
 R Preparámos o planoem 
outubro, recebemos o acordo 
da entidade reguladora e o 
maior desafio foi conseguir 
implementar num contexto 
de pandemia, com muitas 
limitações, aquilo que tínhamos 
prometido fazer acontecer no 
dia 29 de janeiro. Tudo o que 
fosse visibilidade externa tinha 
de estar alterado nesta data. 
Além das equipas da EDP, 
tivemos dezenas de empresas 
externas [a colaborar], que 
corresponderam de forma 
excecional. 
 P O que é que muda já e o 
que é que só vai mudar mais 
tarde? 
 R O que vai já mudar é o que 
tem mais impacto. Todas 
as cartas e documentos que 
saem da EDP Distribuição são 
alteradas e aparece a E-Redes. 
O site e a app também estarão 
alterados. Também o contact 
center, para os operadores 
passarem a atender como 
E-Redes. Os 23 postos de 
atendimento terão um novo 
visual quando reabrirem na 
segunda-feira. Onde fomos 
mais moderados foi na 
adaptação do fardamento, 
porque tínhamos um stock 
relevante de fardamentos 
EDP Distribuição e vamos 
usar uns coletes [com a 
identificação E-Redes] que 
adquirimos para o efeito. 
Na frota, algumas viaturas 
já estão identificadas como 
E-Redes, mas não vamos 
identificar viaturas que 
vamos substituir no final 
do ano.
 P Qual foi o custo desta 
mudança de marca? 
 R Se fosse feita sem fazermos 
a revisão dos outros custos 
ia para próximo de €2 
milhões. A verdade é que 
fizemos uma revisão dos 
nossos custos para fazer 
uma implementação suave 
que permita a neutralidade 
de custos pedida pela 
ERSE. Algumas campanhas 
nos media que tínhamos 
associadas à vegetação, à 
app e à qualidade de serviço 
foram redirecionadas para a 
nova marca. Vamos cumprir 
o requisito da neutralidade de 
custos.
Expresso, 29 de janeiro de 2021ECONOMIA10
“É injusto apoiar a TAP e 
deixar de fora os privados”
Textos Anabela Campos 
Foto Ana Baião
Dez meses depois de, juntamente com 
outras empresas do sector da aviação, 
ter pedido apoio ao Governo para en-
frentar o impacto da gravíssima crise 
provocada pela pandemia de Covid-19, 
a euroAtlantic continua sem resposta. 
“Não digo que haja um cheque, mas 
que haja decisões face a medidas de 
apoio e metas”, pede o presidente da 
euroAtlantic Airways, a maior compa-
nhia de aviação privada portuguesa, 
em entrevista ao Expresso. O gestor 
considera inaceitável a canalização 
de apoios exclusivamente para a TAP, 
deixando de fora os privados. “Nos 
outros países não é assim”, diz. O Go-
verno, defende, tem feito uma “muito 
má gestão” do dossiê da aviação.
 P Vivemos tempos dramáticos para 
a aviação. Espera melhorias em 2021?
 R Vai ser um ano tanto ou mais difícil. 
Aplicámos medidas duras e extensas 
para sobreviver a uma redução de ven-
das de 70%. Deixámos de ter lucros, 
passámos a ter prejuízos. Os esforços 
e sacrifícios vão continuar. Não vejo 
2021 como um ano de recuperação. 
Muito menos para empresas como a 
euroAtlantic. Operamos nos voos de 
longo curso, que vão recuperar mais 
tarde. E vamos ter de esperar que os 
nossos clientes sobrevivam, e preci-
sem de nós.
 P A euroAtlantic vai sobreviver?
 R Se continuar a não haver negócio 
e não houver apoio do Governo ao 
sector privado ninguém sobrevive. 
Precisamos de ser apoiados.
 P No início da pandemia juntaram-se 
todos para propor um pacote de me-
didas de apoio ao sector, mas nunca 
avançou...
 R Foi decidido pelo Governo que 
quem faria a recolha das necessida-
des do sector seria a ANAC. Todos 
contribuímos. Soube pela imprensa 
que não haveria medidas de apoio 
para o sector transversalmente. Fo-
mos obrigados a agir individualmente. 
Demorou algum tempo até sermos re-
cebidos, mas fomos. Tive uma reunião 
com o ministro das Infraestruturas. A 
reunião foi produtiva, aberta. Expu-
semos as nossas necessidades para os 
próximos dois anos. Foi em outubro. 
Desde lá estamos à espera de ter reu-
niões técnicas.
 P Estimam precisar de entre €40 mi-
lhões a €50 milhões.
 R São montantes que resultariam da 
isenção da taxa social única, isenção do 
pagamento especial por conta do IRC, 
majoração dos custos de manutenção 
que são bastante elevados para a avia-
ção. Ou ainda, entre outros, o alarga-
mento do prazo para a recuperação dos 
prejuízos fiscais. Juntamos tudo e che-
gamos a esse montante. Não seria um 
apoio financeiro, mas far-nos-ia poupar 
e não queimar a caixa.
 P Como é que é que vê o apoio que 
tem sido dado à TAP?
 R Obviamente não posso estar de acor-
do. O sector não é só a TAP. E um apoio 
destinado a uma só empresa destrói a 
concorrência e é injusto. Nós concorre-
mos com a TAP e a com a SATA, ambas 
empresas públicas.
 P Até quando podem esperar?
 R Se demorar muito já não vale a 
pena, não vou dizer que precisamos 
nos próximos dias ou semanas, mas é 
coisa que andamos a falar desde mar-
ço, e já estamos em janeiro... Já chega. 
Não digo que haja um cheque, mas que 
haja decisões e metas. Não podemos é 
viver na incerteza. Para as empresas 
é melhor saber se têm ou não ajuda, 
porque aí ou fecham ou despedem ou 
mudam de negócio. Agora, esta inde-
finição e falta de compromisso mata.
 P A TAP vai sobreviver?
 R Depende do que vier de Bruxelas, 
e vai ser muito duro. Tem de haver 
vontade e entendimento de todos, e o 
sector pode ajudar nessa recuperação, 
fazendo aquilo que a TAP vai ser pro-
ibida de fazer. Mas a TAP pode conti-
nuar a ser um parceiro comercial. Não 
queremos o bolo todo para nós. Há ro-
tas que podem ser rentáveis para uns e 
não para outros, e podemos colaborar 
aqui. Do ponto de vista operacional 
e comercial há muita coisa que pode 
ser feita. Podemos criar um cluster, 
ENTREVISTA
Eugénio Fernandes Presidente da euroAtlantic
um grupo de trabalho, onde cada um 
na sua área dê o seu contributo. Isto 
depende das empresas, mas se o Es-
tado der um empurrão é mais fácil. 
Há determinadas áreas em que a TAP 
tem força, que se permitir que outras 
empresas entrem saem todos benefici-
ados. E o Governo politicamente pode 
dizer que está a apoiar o sector.
 P Como ficaria o país sem a TAP? O 
que aconteceria ao sector?
 R Seria trágico, seria penoso para to-
dos, inclusivamente para o sector, mas 
não seria o fim do mundo. Há muitas 
empresas que dependem da TAP. Nós 
dependemos da TAP como cliente e 
fornecedor. Obrigar-nos-ia a procurar 
novos clientes. Seria atravessar um 
deserto, mas algures a longo prazo, 
tudo retomaria. Ninguém quer que a 
TAP desapareça.
 P Custa mais ao país perder a TAP ou 
investir até €3,7 mil milhões?
 R Não vou discutir o valor, até porque 
isso é político. Era importante que 
se fizessem as contas, e se apostasse 
um valor-limite para aplicar na TAP e 
quanto isso custaria a cada português.
 P Portugal tem gerido bem o dossiê?
 R A incerteza que se vive na TAP tem 
muito a ver com a forma como este 
processo tem sido gerido. É injusto 
apoiar a TAP e deixar de fora o sec-
tor privado. Olhamos para o resto do 
mundo e o apoio ao sector tem sido 
transversal, não foi só dirigido ape-
nas às empresas com capital público, 
como em Portugal. Por isso, tudo isto 
tem sido pessimamente mal gerido. 
Mas só não erra quem não decide. 
Tem de haver capacidade dos nos-
sos governantes para apoiar o sector 
transversalmente.
 P Como é que os acionistas da euroA-
tlantic estão a reagir?
 R Para eles é dececionante a ajuda estar 
a ser direcionada apenas para a TAP. O 
sentimento é expectante e preocupado.
acampos@expresso.impresa.pt
Presidente da 
euroAtlantic apela 
a que haja um apoio 
transversal a todo o 
sector e não apenas às 
empresas públicas
Criar um cluster, liderado 
pela TAP, era vantajoso 
para todo o sector. 
Inação face ao aeroporto 
é mau sinal, defende 
o líder da euroAtlantic
Fusão 
entre TAP 
e SATA 
seria bom 
para todos
Grandes crises podem criar boas 
oportunidades, e é isso que Eugé-
nio Fernandes acredita que a pan-
demia poderá trazer para o sector 
da aviação em Portugal. O gestor 
considera que o país não tem di-
mensão para ter duas companhias 
de aviação públicas e defende a fu-
são entre a TAP e a açoriana

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