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TCC - Crime de estupro de vulnerável no Brasil

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20
FACULDADE DE DIREITO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO
YASMIN REIS DA SILVA
O CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL NO BRASIL
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2020
YASMIN REIS DA SILVA
O CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL NO BRASIL
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito, da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. 
Orientador: Prof. Alberto Soiti Yoshida
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2020
YASMIN REIS DA SILVA
O CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL NO BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel, no Curso de Direito da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, com Linha de Pesquisa em Direito Penal.
Aprovada em ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Alberto Soiti Yoshida
______________________________________
Prof. Alenilton da Silva Cardoso
______________________________________
Prof. Helmut Steinwascher Neto
AGRADECIMENTOS
Com certeza não poderia começar meus agradecimentos de outra forma a não ser agradecendo ao meu pai, Alfredo, que hoje está no céu. Se não fosse por ele, provavelemnte eu não estaria cursando Direito e hoje não estaria elaborando este trabalho. Ele foi o meu grande incentivador a seguir a carreira.
À minha mãe, Valéria, e à minha irmã, Isabella, por me aguentarem nos momentos de estresse nos dias ruins e meu mau humor durante os cinco anos da faculdade. 
Ao meu noivo e melhor amigo Gustavo, que sempre me incentivou à estudar e correr atrás dos meus objetivos. Além de sempre me dar suporte mesmo quando eu estava cansada e queria desistir de tudo. Obrigada por aguentar as minhas crises nesses cinco anos. 
À minha amiga e companheira de classe Giovanna, que esteve comigo estudando para as provas e desabafando desde o 1º ano. Passamos tantos perrengues que não caberia nesses agradecimentos.
À minha querida amiga Miki, que mesmo estando no Japão desde 2010, sempre me escutou nos momentos difíceis e me fez rir quando eu precisava. 
Por último, mas não menos importante, agradeço o meu orientador e professor Alberto, nunca esquecerei de suas aulas de Medicina Legal, tive certeza do que eu queria neste último ano. Obrigada por sempre dar uma aula leve e engraçada, mesmo com um assunto tão delicado. 
RESUMO
O presentre trabalho tem como objetivo entender o conceito de estupro de vulnerável, crime previsto no art. 217-A da Lei 12.015/09, onde verifica-se a capacidade de discernimento dos menores de 14 (quatorze) e maiores de 12 (doze) anos. Uma parte da jurisprudencia julga como presunção relativa de violência, ou seja, que deve-se analisar caso a caso se há ou não o consentimento do menor. Já outra parte julga como presunção absoluta de violência, não importantando, assim, o consentimento do menor. É importante analisar que há casos em que o menor tem capacidade de discernimento e entende a prática do ato, sabe suas consequências e significado, então, é válido que a jurisprudencia analise caso a caso, pois, ao não analisar, é provável que o acusado seja preso pelo pensamento retrógrado dos juízes e ministros. Sendo assim, é possível, sim, aplicar o juízo de valor sobre a ideia do sadio desenvolvimento sexual dos menores e não da sua liberdade sexual. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) já observa essa relativização nos casos de maiores de 12 (doze) anos, observando os tempos modernos em que vivemos, onde a maioria dos adolescentes tem acesso a informações relacionadas ao assunto. Além disso, no trabalho há a análise sobre os casos em que a vulnerabilidade é levada em consideração, conforme o artigo 218, onde alguém induz o menor de 14 (quatorze) anos a satisfazer lascívia de outrem; artigo 218-A, satisfação da lascívia mediante presença de criança ou adolescente e; artigo 218-B, favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de vulnerável. Esses três artigos têm em comum o bem jurídico tutelado que é a dignidade sexual. Sendo assim, a vulnerabilidade sempre será um assunto polêmico nos tribunais, visto que de um lado a presunção é absoluta, e de outro, é relativa. 
Palavras-chave: Crimes Sexuais; Estupro de vulnerável; Vulnerabilidade; Capacidade de discernimento; Consentimento; Liberdade sexual; Dignidade Sexual; Sadio desenvolvimento da sexualidade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	7
1.	ESTUPRO: RESUMO HISTÓRICO E SUA EVOLUÇÃO	10
1.1.	O CRIME DE ESTUPRO NO BRASIL	11
1.1.1.	Código penal criminal do império	13
1.1.2.	Código Penal Republicano	14
1.1.3.	Código Penal de 1940	15
1.1.4.	Lei 12.015/2009	16
2.	ESTUPRO DE VULNERÁVEL	18
2.1.	CONCEITO DE VULNERABILIDADE	20
2.2.	CONSENTIMENTO DA VÍTIMA	21
2.3.	ABORTO EM CASOS DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL	23
2.4.	SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO	25
2.5.	PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA	26
2.6.	ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO	28
2.7.	ELEMENTO OBJETIVO E SUBJETIVO	29
2.8.	CONSUMAÇÃO E TENTATIVA	30
3.	DESENVOLVIMENTO SEXUAL INFANTO-JUVENIL NA ATUALIDADE	31
4.	OS TIPOS PENAIS QUE TEM A VULNERABILIDADE COMO CONSIDERAÇÃO	32
4.1.	O INDUZIMENTO DO MENOR PARA SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTREM	33
4.2.	A SATISFAÇÃO DA LASCÍVIA PRÓPRIA OU DE OUTREM NA PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE	34
4.3.	O FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL	34
5.	PROVAS DO ESTUPRO	36
5.1.	MEIOS DE PROVAS ADMITIDOS NA INVESTIGAÇÃO DO CRIME	36
5.2.	A PALAVRA DA VÍTIMA E O SEU VALOR	39
6.	ANÁLISE JURISPRUDENCIAL SOBRE A PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA	40
CONSIDERAÇÕES FINAIS	45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	48
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo o crime de estupro de vulnerável no Brasil, previsto no artigo 217-A do Código Penal, fazendo uma análise sobre a vulnerabilidade do menor de 14 (quatorze) anos perante o mundo globalizado em que vivemos, conforme pesquisas, doutrinas e jurisprudências.
	A relativização do conceito de vulnerável é possível, mas, para isso, há algumas hipóteses que precisam estar distantes, como a inexistência de violência, grave ameaça, exploração sexual contra menores ou fraude. Conforme as pesquisas, o menor vulnerável são os menores de 14 (quatorze) anos e maiores de 12 (doze) anos, além de pessoas que não possuem capacidade de discernimento e doentes mentais.
	O Lei é omissa quanto ao conceito de vulnerável, sendo assim, foi necessário recorrer a doutrinas para apresentar esse conceito ao Capítulo II, do Título VI dos Crimes Contra a Dignidade Sexual.
	É possível a elaboração deste trabalho graças a Lei 12.015/2009 que introduziu o crime de estupro de vulnerável no ordenamento jurídico brasileiro. Antes desta promulgação da lei, havia duas previsões legais, o crime de estupro no artigo 213, que está em vigor até hoje, o artigo 214 que era o atentado violento ao pudor, combinados com o artigo 224 que se tratava da presunção de violência.
	O legislador previu o desenvolvimento sadio da sexualidade e do exercício da liberdade sexual como bens jurídicos tutelados, ou seja, com proteção penal, visando as mudanças constantes na sociedade, afastou, assim, a moralidade sexual e do pudor que o legislador do Código de 1940 dava tanta importância. Além disso, o legislador previu a vulnerabilidade de forma absoluta, ou seja, quando o consentimento do menor não importa para que o crime se caracterize.
	Muitos tribunais julgam a presunção de vulnerabilidade como relativa, entendendo que o Estado não deve se intrometer na liberdade sexual de pessoas entre doze e dezoito anos. Sendo assim, após analisar o caso concreto, o julgador prevê o tipo de presunção.
	O Supremo Tribunal de Justiça (STJ), visando acabar com a presunção relativa e pacificar o entendimento, publicou a Súmula 593 onde deve-se prevalecer a presunção de vulnerabilidade absoluta, porém, nada resolveu e os tribunais continuam com decisões contrárias.
	Há também o estudo sobre o erro de tipo e erro de proibição. Por se tratar de um crime sexual, está previsto o erro de tipo, que ocorre quando o agente tem uma falsa percepção da realidade,ou seja, quando acredita que a vítima é maior de idade ou possui mais que 14 anos, ficando isento, assim, de pena.
	Nos dias de hoje, é comum ver meninas menores de 14 anos com o desenvolvimento precoce do corpo e pensamento, confundindo o agente. É um fator ligado a biologia de cada pessoa.
	 Em se tratando do corpo da menor, há a possibilidade de abortamento em casos de estupro de vulnerável? Sim, é possível, para o direito penal, é possível o abortamento em qualquer momento da gestação, diferente da medicina que a interrupção gestacional deve ocorrer entre a 20º e 22º semanas, além do feto pesar, pelo menor 500 gramas.
	É um assunto bastante delicado, pois envolve religião e o direito à vida do feto, mas é necessário pensar em como a vida de uma criança ficará cuidando de outra criança. No segundo capítulo do presente trabalho é necessário visualizar mais sobre o tema.
	O trabalho abordou o tema sobre o desenvolvimento infanto-juvenil no terceiro capítulo, salientando a falta de estudos nos séculos anteriores ao XIX, onde era extremamente difícil pessoas conversarem sobre o assunto. A visão de sexo era apenas entre adultos e com a finalidade de reprodução. Freud começou os estudos e entendeu a importância de passar o assunto com adolescentes, pois, é um momento onde essa categoria terá o interesse em conhecer mais o seu corpo, para que no futuro consiga se relacionar sem traumas e dificuldades.
	Nos dias atuais é um assunto falado em escolas e entre amigos, porém, na maioria das vezes, os pais não conversam sobre isso com os próprios filhos, por ser um assunto tabu, infelizmente. 
	A educação sexual de crianças e adolescentes é extremamente importante, quando mais conversa, menos casos de abusos ocorrerá. É importante ensina-los a se defender e que a “passada de mão” em suas partes íntimas é errada, seja ela feita por seus pais, tios, avós ou qualquer pessoa. Um estudo aponta que cerca de 56,3% dos casos de abuso sexual que chegam ao conhecimento do poder público é praticado por pessoas do círculo social da criança e do adolescente. Além disso, apenas 10% dos casos são denunciados, seja por medo ou vergonha. 
	Com isso, o trabalho aborda o Estupro de Vulnerável no Brasil, além de suas provas, elementos do crime, conceito de vulnerabilidade, histórico e jurisprudências. O assunto é delicado, mas necessário para que as políticas públicas e sociais sejam mais presentes na vida do vulnerável.
1. ESTUPRO: RESUMO HISTÓRICO E SUA EVOLUÇÃO
	É de grande relevância falar sobre o nascimento do estupro de vulnerável e sua evolução até os dias atuais. Somente assim se pode analisar o assunto melhor e entender como isso se tornou algo comum na sociedade contemporânea, além de analisar melhor o objeto de estudo.
	Desde os primórdios, a violência sexual esteve presente na história, a divisão dos afazeres entre homens e mulheres esteve muito explícito, porém, o crime de estupro era repudiado pelos povos da antiguidade e seus autores eram severamente punidos. Isso teve enorme relevância e hoje o estupro é considerado um crime hediondo.
	A palavra “stuprum”, que teve origem na Roma antiga, significa, em sentido lato, qualquer ato impudico praticado com homem e mulher, englobando o adultério e a pederastia. Em sentido estrito, quer dizer apenas o coito com mulher virgem ou não casada, mas honesta. Esse crime era punido com a pena de morte.
	No Direito Germânico, infelizmente, só era caracterizado estupro caso a mulher fosse deflorada, se houvesse emprego de violência. Na legislação Hebraica, a pena de morte era aplicada ao homem quando a mulher estava prometida. No Egito, ocorria a mutilação. Já na Grécia, havia multa, mas depois, a pena se cominou em morte.
	Na bíblia, mais precisamente no livro de Deuteronômio, são claras as punições severas para os que violassem com a dignidade sexual da mulher:
Deut. Vers. 22:22. Quando um homem for achado deitado com mulher que tenha marido, então ambos morrerão, o homem que se deitou com a mulher, e a mulher; assim tirarás o mal de Israel. Deut. Vers. 22:23. Quando houver moça virgem, desposada, e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela; Deut. Vers. 22:24. Então trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis, até que morram; a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo; assim tirarás o mal do meio de ti. Deut. Vers. 22:25. E se algum homem no campo achar uma moça desposada, e o homem a forçar, e se deitar com ela, então morrerá só o homem que se deitou com ela. Deut. Vers. 22:26. Porém à moça não farás nada. A moça não tem culpa de morte; porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo, e lhe tira a vida, assim é este caso. Deut. Vers. 22:27. Pois a achou no campo; a moça desposada gritou, e não houve quem a livrasse. Deut. Vers. 22:28. Quando um homem achar uma moça virgem, que não for desposada, e pegar nela, e se deitar com ela, e forem apanhados; Deut. Vers. 22:29. Então o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e porquanto a humilhou, lhe será por mulher; não a poderá despedir em todos os seus dias.
	Na idade média, conhecida também como Idade das Trevas, o pensamento científico era abominado e punido, tendo como detentora do poder, inclusive o poder legislativo, a igreja.
 	No Direito Canônico, o estupro só era considerado quando cometido mediante violência e contra a mulher virgem.
Alcançava apenas o coito com mulher virgem e não casada, mas honesta. O stuprum violentum de publica, com a pena capital, onde se cortava a cabeça do endivido que cometesse tal crime, em praça pública. (PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, Vol. I: Parte geral, 2002, pg. 198)
	Segundo Fragoso, na Inglaterra a punição para esse crime era de morte, depois, passou a ser de furo nos olhos, clássica punição retratado na lenda inglesa Lady Godiva (século XI).
		É fático que os crimes eram inaceitáveis contra mulheres virgens, pois, de certa forma, isso afetava o seu progenitor, porém, são mínimos os relatos em que os crimes cometidos contra as mulheres com demais gêneros tinham a mesma repercussão ou punição, deixando, assim, o homem com uma posição de sujeito passivo, ou seja, sendo o prejudicado.
	No decorrer do tempo, esse pensamento retrógrado começou a mudar, porém, não é algo unanime, em diversos locais, como, por exemplo, no continente africano, o estupro é comum, ficando impune o agressor, deixando a mulher sem a assistência necessária. 
1.1. O CRIME DE ESTUPRO NO BRASIL
	O crime de estupro no Brasil começou no período da Colonização, quando os portugueses atracaram em terras brasileiras. Além de trazer diversas doenças, cometiam crimes contra o povo indígena que aqui residiam, inclusive, o estupro.
Diversos livros de história brasileira narram esse fato, porém, não é de conhecimento de todos o que realmente aconteceu no começo do Século XV. 
Segundo Júlia Falivene Alves, em sua obra:
No entanto, a história de nosso país foi sempre analisada apenas do ponto de vista do dominador. Por isso, encaramos a chegada, conquista e dominação europeia na América como “mais uma etapa gloriosa de uma civilização superior”, cumprindo seu destino inexorável de espalhar pelo mundo as verdades engendradas durante o seu específico e particular processo de desenvolvimento histórico. (2007, pg. 17).
	É sabido como a mulher tem um papel fundamental na cultura indígena, acreditando-se que a mulher tem o dom de gerar vida, estando, assim, mais próxima da mãe terra.
	Segundo Manuela Carneiro da Cunha, as índias eram o oposto da mulher europeia, que andavam com seus trajes cobrindo a totalidade de seu corpo. As índias andavam nuas, com seus corpos esculturais e pele bronzeada, é claro que isso chamaria a atenção dos portugueses, porém, não os davam o direito de usar essas mulheres para a satisfação de seus desejos sexuais, ainda mais com uso da violência. 
	Hoje, o povo indígena, principalmente as mulheres, lutam pelos direitos de seu povo. Mesmo não sendo tão frequente,como antigamente, o abuso contra essas mulheres, ainda existe e por isso elas buscam o empoderamento para si e para suas filhas, tendo reconstruir a dignidade que lhes foram tiradas a força na colonização.
	Hoje, principalmente em regiões mais afastadas e com defasagem na educação, é comum ver casos de crianças de 11 ou 12 anos serem entregues para adultos a fim de contrair matrimônio. Porém, no Brasil Colônia, isso era recorrente. Meninas, sem educação sexual nenhuma, eram estupradas após o primeiro ciclo menstrual por seus maridos mais velhos. Não havia punição, pois, a mulher era vista como posse de seu marido, segundo a legislação da época.
	O Brasil passou por um período extremamente obscuro nos anos de 1964 a 1985, quando ocorreu a Ditadura Militar. Há diversos relatos sobre tortura e violência sexual contra mulheres. Muitas não imaginavam que tinham sofrido estupro por não haver penetração, e só depois de muito tempo reconheceram a violência que sofreram contra o seu corpo. 
	Ana Miranda Batista relata:
“[Até] poucos anos atrás eu achava que não tinha sofrido [violência sexual]. Porque eu achava que violência sexual era assim: estupro direto, violência direta (...) Tem tanta gente que sofreu né? Companheiras que foram tão violentadas, então eu não sofri. Mas, não é bem assim (...). Eu fui estuprada com um cassetete no 1.º Distrito” (Comissão Nacional da Verdade, 2014, pg. 418).
	Atualmente esse cenário está mudando, porém, está longe de ser considerado adequado. Infelizmente a mulher, muitas vezes, é considerada causadora da violência causada, seja por uma roupa ou atitude. A sociedade brasileira precisa evoluir neste sentido.
1.1.1. Código penal criminal do império
	O Código Penal Criminal do Império ficou vigente de 1830 até 1890, o crime de estupro estava disposto no Título II, capítulo II, na sequencia I “Crimes Contra a Segurança da Honra”, no artigo 222: 
Art. 222. Ter copula carnal por meio de violencia, ou ameaças, com qualquer mulher honesta. Penas - de prisão por tres a doze annos, e de dotar a offendida. Se a violentada fôr prostituta. Penas - de prisão por um mez a dous annos. (BRASIL, Código Criminal do Império, 1830)
	A palavra “cópula carnal” significa um tipo de relação sexual que é realizada com violência. Já a palavra “mulher honesta” faz diferenciação da prostituta com a vítima. As penas eram diferentes nos dois casos e, obviamente, a mais gravosa se daria contra o crime praticado perante a mulher honesta. 
	Caso o estupro fosse contra a mulher honesta, as penas eram de prisão e pagamento de um dote à vítima. A pena seria de três a doze anos de prisão. Caso fosse contra prostituta, a pena cairia para um mês a doze meses de prisão, sem possibilidade de multa.
	O código também apresentava a ideia de estupro de vulnerável, em seu artigo 219: 
Art. 219. Deflorar mulher virgem, menor de dezasete annos. Penas - de desterro para fóra da comarca, em que residir a deflorada, por um a tres annos, e de dotar a esta. Seguindo-se o casamento, não terão lugar as penas. (BRASIL, Código Criminal do Império, 1830)
	Assim, a mulher de dezessete anos era considerada vulnerável, porém, caso o fato acontecesse no casamento, a pena não seria aplicada. E, caso os envolvidos não fossem casados, o agente poderia se casar com a vítima e a pena seria extinta. Ou seja, o casamento era uma causa extintiva de punibilidade. 
1.1.2. Código Penal Republicano
	O código penal regido na época do Direito Republicano, entrou em vigor em 1890, previa o estupro no Título VIII que abrangia a Corrupção de Menores, os Crimes Contra a Honra e Honestidade das Famílias e do Ultraje ao Pudor Público, através do artigo 268 e 269:
Art. 268. Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta: Pena - de prisão cellular por um a seis annos.
 § 1º Si a estuprada for mulher publica ou prostituta:  Pena - de prisão cellular por seis mezes a dous annos.
 § 2º Si o crime for praticado com o concurso de duas ou mais pessoas, a pena será augmentada da quarta parte.
Art. 269. Chama-se estupro o acto pelo qual o homem abusa com violencia de uma mulher, seja virgem ou não.
Por violencia entende-se não só o emprego da força physica, como o de meios que privarem a mulher de suas faculdades psychicas, e assim da possibilidade de resistir e defender-se, como sejam o hypnotismo, o chloroformio, o ether, e em geral os anesthesicos e narcoticos. (BRASIL, Código Penal Republicano, 1890)
	Pela primeira vez, a palavra “estupro” foi empregada em um texto de lei. Além disso, o artigo 269 trazia a definição do que era estupro que seria o abuso com violência de mulher praticado por homem contra a mulher, sendo ou não virgem. Ainda, a mulher não era autora da violência e nem contemplava a violência contra pessoas do mesmo sexo.
	No artigo 268, fala que se a mulher fosse pública ou prostituta, a pena seria diminuída, passando a ser de seis meses a dois anos. Diferentemente da “mulher honesta”, onde a pena era de um a seis anos. 
	O Código Penal Republicano também abordava o autor que seduzia mulher menos menor de idade, conforme o art. 267:
Art. 267. Deflorar mulher de menor idade, empregando seducção, engano ou fraude: Pena – de prisão cellular por um a quatro annos”. (BRASIL, Código Penal Republicano, 1890)
	No diploma, os crimes sexuais estavam atrelados no mesmo título da proteção da honra e da família, ou seja, caso esse crime fosse concretizado, não era a honra da mulher que estava ferida, mas sim a de sua família. Além disso, como informado, ainda havia a diminuição de pena para o estupro praticado contra prostituta, não tendo uma evolução sobre o código anterior. 
	O homem que cometia o estupro contra a sua esposa, não cometia crime algum, pois, era um direito, conhecido como débito conjugal. O Código nada fala sobre isso, mas a doutrina da época possuia um entendimento firme neste sentido.
	Havia, também, a possibilidade de rapto para fim libidinoso concominado de estupro, disposto nos arts. 270 e 276:
Art. 270. Tirar do lar domestico, para fim libidinoso, qualquer mulher honesta, de maior ou menor idade, solteira, casada ou viuva, attrahindo-a por seducção ou emboscada, ou obrigando-a por violencia, não se verificando a satisfação dos gosos genesicos: Pena – de prisão cellular por um a quatro annos.
§ 1º Si a raptada for maior de 16 e menor de 21 annos, e prestar o seu consentimento: Pena – de prisão cellular por um a tres annos.
§ 2º Si ao rapto seguir-se defloramento ou estupro, o rapto incorrerá na pena correspondente a qualquer destes crimes, que houver commettido, com augmento da sexta parte.
Art. 276. Nos casos de defloramento, como nos de estupro de mulher honesta, a sentença que condemnar o criminoso o obrigará a dotar a offendida.
Paragrapho unico. Não haverá logar imposição de pena si seguir-se o casamento a aprazimento do representante legal da offendida, ou do juiz dos orphãos, nos casos em que lhe compete dar ou supprir o consentimento, ou a aprazimento da offendida, si for maior. (BRASIL, Código Penal Republicano, 1890)
	Caso houvesse rapto para fim libidinoso, contra qualquer mulher honesta, maior ou menor de idade, casada, solteira e viúva, a penaera de um a quatro anos. Se acontecesse o defloramento no estupro de mulher honesta, a sentença do autor seria dotar a ofendida. 
1.1.3. Código Penal de 1940
	O Código Penal de 1940, em seu artigo 213, referente aos Crimes Contra os Costumes, dispunha sobre crime de Estupro:
Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça: Pena - reclusão, de três a oito anos.
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos. Pena - reclusão de quatro a dez anos. (BRASIL, Código Penal, 1940)
	Edgard Magalhaes Noronha criticou a palavra “costumes”, encontrada no título do capítulo e sugeriu o emprefo de algo mais familiar e acessível à população, então, deu a sugestação de “pudor”. Assim, segundo este autor, a expressão mais adequada seria “Crimes Contra o Pudor”, visto que “vulgarmente, pudor é o sentimento de pejo ou vergonha suscitado por um ato denatureza sexual”. Já a palavra “costumes” é compreendida como a “conduta sexual determinada pelas necessidades e conveniências sociais”, podendo adquirir um significado mais amplo (Código Penal Comentado, 1954, pg. 103).
	A expressão grave ameaça, como consta no artigo, é a forma típica de violência moral e o termo constrangida significa que a mulher é obrigada a conjunção carnal. Sendo assim, é importante demonstrar que a mulher resistiu ao agressor, caso contrário, o delito pode ser considerado de posse sexual de outra natureza.
	Se a vítima fosse menor de 14 anos, alienada ou doente mental e não houvesse resistência, a violência era presumida. E, caso a vítima fosse maior de 14 anos e estivesse sob ameaça de uma arma branca ou de fogo, a violência era presumida também.
	O estupro era apenas contra mulher, ou seja, a mulher se encontrava no polo passivo.
	A partir da Lei 8.072/90, o estupro passou a ser considerado crime hediondo e sua pena foi aumentada para seis a dez anos. Se o estupro resultar de morte, suas penas eram elevadas de doze a vinte e cinco anos e levão graves, a pena era de oito a doze anos. 
1.1.4. Lei 12.015/2009
Esta Lei revogou diversos artigos do código penal de 1940, inclusive o art. 213, que passou a ter o seguinte texto:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (BRASIL, Lei 12.015, 2009)
		A Lei 12.015/09 alterou o Título VI do Código Penal, e passou a tutelar a dignidade sexual, vinculada com ao direito de liberdade de escolha de parceiros, podendo, ainda na relação conjugal, recusar o ato sexual com o seu próprio cônjuge, se assim desejarem. 
	Um ponto muito importante deste dispositivo, é a liberdade sexual feminina, que anteriormente, não era possível encontrar no ordenamento jurídico e social. Hoje, a mulher pode dispor livremente de suas necessidades sexuais, segundo a sua vontade consciente, como dispõe Cezar Roberto Bitencourt. O homem sempre teve esse direito reconhecido. Esta liberdade sexual é a do homem e a da mulher, não havendo distinção, como nos códigos anteriores. A liberdade individual envolve a intimidade e a privacidade, ou seja, a inviolabilidade carnal deve ser respeitada.
	Além de toda a evolução sobre a liberdade sexual, houve também uma evolução demasiadamente importante, que é tema deste trabalho, sobre o estupro de vulnerável. 
	Antes, eram tratadas genericamente pelos artigos 213 e 214 combinados com o artigo 224 do Código Penal. Após as alterações oriundas da Lei 12.01/2009, agora está disposto no art. 217-A:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (BRASIL, Lei 12.015, 2009)
	Segundo Rogério Greco (2011), há diferenciação entre estupro e estupro de vulnerável, pois, neste último, não há emprego de violência:
“As condutas previstas no tipo penal do art. 217-A são as mesmas daquelas constantes do art. 213 do Código Penal, sendo que a diferença existente entre eles reside no fato de que no delito de estupro de vulnerável a vítima, obrigatoriamente, deverá ser menor de 14 (quatorze) anos de idade.” (GRECO, 2011, pg. 86)
	Este título, antes inexistente, compreende não só apenas a conjunção carnal como quaisquer outros atos libidinosos. Porém, como sempre, o legislador deixou alguns conceitos incertos, como, por exemplo, o de vulnerabilidade, grau de enfermidade, deficiência, idade, entre outros. Assim, a doutrina e a jurisprudência tentam sanar essas indefinições.
	De qualquer forma, a introdução desse dispositivo é extremamente importante, pois, é uma segurança maior para as pessoas vulneráveis, seja pela pouca idade ou por algum tipo de deficiência. 
2. ESTUPRO DE VULNERÁVEL
	Após a mudança da Lei Penal, é possível perceber a humanização da vítima, principalmente em crimes sexuais. Hoje, ela tem mais destaque, não sendo mais um personagem secundário, passando a ter mais relevância ao fato criminoso. No crime de estupro de vulnerável não seria diferente.
	O crime de estupro de vulnerável está previsto no artigo 217-A, Capítulo II da Lei12.015/09, onde não especifica o gênero, mas sim o ato libidinoso praticado com menor de 14 anos.
	Essa mudança foi extremamente importante para a defesa dos direitos sexuais da criança e do adolescente, lembrando que,no código anterior, não havia uma idade fixada pela lei, deixando, assim, uma lacuna para as decisões, podendo beneficiar o agente.
	Outra mudança importante, é a inexistência de distinção de sexo das vítimas, podendo ser masculino ou feminino. Sendo assim, hoje a criança e o adolescente do sexo masculino pode recorrer ao judiciário. O que muitas vezes não acontece por vergonha ou falta de incentivo.
	Além disso, anteriormente, a conduta criminosa era apenas consumida quando houvesse conjunção carnal, ou seja, a introdução do pênis na vagina. Hoje, com a Lei 12.015/09, consome a pratica do delito quem ter ato libidinoso com menor de idade, ou seja, atos que dê prazer sexual para o agente.
	O artigo é vago, mas vulnerável não é apenas o menor de idade, mas sim, qualquer pessoa que, por enfermidade ou deficiência menral, não tenha discernimento para a prática do ato ou que não possa oferecer resistência.
	É muito importante que o poder judiciário julgue esses casos com rigor, visto a gravidade do delito. A pena, hoje, é de oito a quinze anos para o crime de estupro de vulnerável, e é considerada alta por alguns profissionais. Caso haja emprego de violência ou grave ameaça, a pena sobe para dez a vinte anos, e, em caso de morte da vítima, a pena é de doze a trinta anos de reclusão.
	A dignidade e liberdade sexual do vulnerável precisa ser protegida e respeitada, além de seu desenvolvimento, como explica Bitencourt (2016): 
“a evolução e o desenvolvimento normal de sua personalidade, para que, na fase adulta, possa decidir livremente, e sem traumas psicológicos, seu comportamento sexual; para que tenha, em outros termos, serenidade e base psicossocial não desvirtuada por eventual trauma sofrido na adolescência, podendo decidir livremente sobre sua sexualidade futura, inclusive quanto à sua opção sexual.” (BITENCOURT, 2011, pg. 93).
	Porém, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um dos primeiros a pesquisar o assunto, com base nas informações do Sistema de Informação de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan), em 2011.
	Aproximadamente 527 mil pessoas são estupradas no Brasil, deste número, apenas 10% chegam ao conhecimento do poder público, seja por falta de informação, incentivo ou até vergonha e repulsa que a vítima sente após ser violentada. Cerca de 70% eram crianças e adolescentes, além disso, 56,3% dos estupradores eram do círculo social e familiar, dentre pais, avós, tios, padrastos e vizinhos. Por isso é muito importante a criação de políticas públicas e educacionais sobre o assunto, principalmente em locais mais afastados.
	No Estado de São Paulo, até o mês de outubro, foram registrados 7.739 mil casos de estupro de vulnerável, apenas no ano de 2019, segundo dados estatísticos da Secretaria de Segurança Pública. 
	Este crime é universal, atingindo todas as idades, classes, religiões,culturas e etnias, sem distinção, podendo levar até a morte da vítima. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o abuso infantil é considerado um dos maiores problemas de saúde pública.
	Pesquisas realizadas no mundo mostram que 7-36% das meninas e 3-29% dos meninos já sofreram algum tipo de abuso sexual. As estatísticas não são concretas, visto que, ainda, é um tabu para diversas partes do mundo, onde o mais comum é o silêncio da vítima. 
	O estupro é um crime de repetição, então, enquanto o agente não buscar tratamento e apresentar um atestado médico alegando sua melhora periodicamente, não haverá arrependimento de seus atos e continuará acontecendo.
2.1. CONCEITO DE VULNERABILIDADE
O propósito deste capítulo é a compreensão do conceito de vulnerabilidade.
	Segundo Nucci, o vulnerável é:
“A pessoa vulnerável (menor de 14 anos, enfermo ou deficiente mental sem discernimento para a prática do ato, ou pessoa com incapacidade de resistência)” (NUCCI, 2009, pg. 826).
	Ou seja, vulnerável é aquele que tem sua capacidade de conhecimento reduzida ou impedida, por quaisquer motivos, seja por idade, incapacidade física ou mental, sem necessidade de haver constrangimento com violência ou grave ameaça, ou se teve consentimento, basta, apenas, a conjunção carnal ou a prática de ato libidinoso. Sendo assim, a partir que o menor completar 14 anos, o tipo penal se altera, sendo classificado como estupro, crime previsto no artigo 213 do Código Penal. 
	O autor também imaginou que com a alteração da Lei 12.015/2009, o menor poderia se relacionar sexualmente, sem coação física, porém, a coação psicológica estaria presente, visto que o menor não tem noção da seriedade do ato sexual. 
	Sendo assim, é correto afirmar que a presunção de vulnerabilidade encontra resguardo na incapacidade jurídica da criança e do adolescente para o consentimento de prática de atos sexuais. A garantia de um desenvolvimento e amadurecimento sadio em relação a esse assunto é dever do Estado e da família, para, assim, não causar traumas irreversíveis.
	Há de se destacar que, aproximadamente, 56,3% dos casos registrados de estupro de vulnerável no país, tem relação de incesto, ou seja, quando o agressor tem grau de parentesco com a vítima. As agressões psicológicas estarão presentes em qualquer pessoa em estado de vulnerabilidade, ainda mais sendo violentada por pessoas que deveriam protege-las. 
2.2. CONSENTIMENTO DA VÍTIMA
	Consentimento quer dizer anuência, permissão, aprovação. 
	O ato do menor consentir com a prática do ato sexual, quer dizer que ele está afastando a responsabilidade penal do terceiro, que seria o agente do crime de estupro de vulnerável. O menor tem discernimento para entender a pratica de tal ato. 
	Para que o consentimento seja valido, é necessário, segundo Rossana Leques (2014, pg. 39): “ “[...] a sua manifestação, ação e resultado como seu objeto, o seu momento e a sua revogação, bem como a capacidade de compreensão por parte do consenciente.”
	O consentimento está interligado com o discernimento, a capacidade de entender o significado da prática sexual e saber o risco de ocasionar uma sanção penal. A partir disso, será possível dispor de sua liberdade sexual.
	Segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o menor de 12 (doze) anos, em nenhuma hipótese, poderá consentir com o ato sexual, ou seja, ser consenciente. A partir de idade até os 18 (dezoito) anos, é capaz de consentir, porém, é necessário a capacidade de discernimento. O bem jurídico tutelado é o desenvolvimento sadio para que, na fase adulta, possa se ter relações e escolher o seu parceiro sem traumas. 
	Importante salientar que os vícios de vontade não poderão estar presentes, que são: o erro, a fraude e a coação.
	O erro ocorre quando o consentido faz um juízo que não corresponde com a realidade sobre determinado objeto. É um engano fático em relação a uma pessoa, assim, a vítima não expressa a sua vontade em relação ao bem jurídico.
	A fraude se dá quando o terceiro ou o consentido utiliza dolosamente de artefato para confundir a compreensão do consciente acerca dos fatos. Caso a vítima tivesse conhecimento sobre a realidade, não faria tal ato.
	A coação, basicamente é a violência psicológica para viciar a vontade, essa violência pode ser física ou moral, podendo ser empregada tanto pelo terceiro quando pelo consentido.
	A lei não expressa sobre o consentimento ser causa de exclusão do crime, entretanto, na doutrina é explicito que há essa exclusão de tipicidade. 
	O consentimento na doutrina, se deu com o desenvolvimento precoce do pré-adolescente. É uma tendência mundial que isso aconteça, tanto no aspecto físico quando emocional, visto que sua personalidade está em formação. 
	A discussão sobre esse assunto é graças ao mundo globalizado que vivemos. A proteção do menor de 14 (quatorze) anos é necessária, observando as mudanças constantes de costumes. 
	Guilherme Nucci (2014), discursa sobre a discussão da proteção do menor de 14 anos, no mundo em que vivemos: 
O nascimento do tipo penal inédito não tornará sepulta a discussão acerca do caráter relativo ou absoluto da anterior presunção de violência. Agora, subsumida na figura da vulnerabilidade, pode-se considerar o menor, com 13 anos, absolutamente vulnerável, a ponto de seu consentimento para a prática sexual ser completamente inoperante, ainda que tenha experiência sexual comprovada? Ou será possível considerar relativa a vulnerabilidade em alguns casos especiais, avaliando- -se o grau de conscientização do menor para a prática do ato sexual? Essa é a posição que nos parece mais acertada. A lei não poderá, jamais, modificar a realidade do mundo e muito menos afastar a aplicação do princípio da intervenção mínima e seu correlato princípio da ofensividade. (NUCCI, 2014, pg. 37)
	Em alguns casos, a jurisprudência utilizou da presunção relativa, pois, não é justo ser absoluta se hoje, com o advento da tecnologia e da liberdade em se falar sobre sexo, usar apenas a idade do menor como consideração.
2.3. ABORTO EM CASOS DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL
	O conceito de aborto para a medicina é a interrupção gestacional entre a 20º e 22º semanas, desde que o feto pese, pelo menos, 500 gramas. A partir disso, seria a “antecipação gestacional”. Já para direito penal, o abortamento se dá em qualquer momento da gestação, antes do nascimento em tempo normal, dolosamente. O abortamento tem três figuras: autoabortamento, quando a gestante pratica o aborto com uso de algum medicamento ou método introdutivo, aborto praticado sem o consentimento da gestante e aborto praticado com o consentimento da gestante. Essas figuras são encontradas nos artigos 124, 125 e 126, respectivamente, do Código Penal.
	O aborto tem previsão legal no art. 128 do Código Penal, onde, em seu inciso II, há a hipótese de aborto em caso de estupro, onde não existe punição, desde que seja com o consentimento de seu representante legal, em caso de estupro de vulnerável. Este tema é demasiadamente complexo, pois, engloba religião e direito à vida do feto, questionando até quando a gestação pode ser interrompida.
	O Código Penal não exige nenhum tipo de documento para a realização do aborto, como, boletim de ocorrência, ordem judicial ou laudo do Instituto Médico Legal.
	A mulher, criança ou adolescente que alega no hospital que foi vítima de estupro, deve ser atendida e sua alegação deverá ser recebida com presunção de veracidade. 
	Nada mais justo do que a autorização deste ato, pois, segundo Solomon (2015):
“O estupro viola o ser íntimo e privado além do ser externo e social. Não é exclusivamente sexo nem exclusivamente violência; é a expressão humilhante de um diferencial de poder que une com agressividade esses dois motivos e comportamentos." (SOLOMON, 2015, p. 558) 
	Uma criança ou uma adolescente não tem a menor condição física ou psicológica de criar uma outra criança, que necessita de atenção, cuidado e dedicação. É doloroso continuar com uma gestação nesta circunstância, onde a vítima foi abusada e teve sua inocencia perdida.Segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), de 2011 a 2015, 31.611 meninas de até 13 anos tiveram filhos, deste número, 1.273 teve notificação de estupro. Cerca de 69,3% alegaram que o fato ocorreu na própria residencia, mostrando que o autor é de seu circulo familiar ou social. Dentre as que notificaram o estupro, tiveram o maior percentual de filhos prematuros (menos que 37 semanas de gestação). 
	O número de meninas vítima de estupro e gestante é alarmante e, visando isso, uma lei entrou em vigor em 2013 onde ajuda mulheres nestas situações. 
		A Lei 12.845/13 dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual. Muitas mulheres ainda não tem informação à esse tipo de atendimento, mas não só mulheres, como também os profissionais da área da saúde. A lei busca ajudar fisica e psicologicamente a mulher violentada. 
		 A assistência médica é prioritária nesses casos, e deve ser assegurada antes de qualquer medida judicial ou policial. Os profissionais de saúde deverão atender as vítimas de violência sexual conforme o artigo 3º da Lei 12.845/13, onde deverão facilitar o registro de ocorrência e encaminhamento ao órgão de medicina legal e às delegacias especializadas, como, prestar atendimento imediato às vítimas nos hospitais da rede SUS, além de diagnosticar e tratar as lesões físicas no aparelho genital e nas demais áreas afetadas.
	A importância da atenção humanizada do profissional é nítida e faz toda a diferença. A promoção do acolhimento, suporte emocional e informação, favorece a confinça da mulher ferida com os médicos, deixando-a mais confortável no meio de todo o caos. Segundo o Ministério da Saúde, em sua nota técnica “Atenção Humanizada ao Aborto”, “nos casos de abortamento por estupro, o profissional deverá atuar como facilitador do processo de tomada de decisão pela mulher, respeitando-a.” (2005, p. 19).
	Nesses casos onde pode ter consequência jurídica, é importante o acompanhamento do profissional junto ao Conselho Tutelar e Promotoria, preservando, assim, a vítima e os profissionais envolvidos no processo.
2.4. SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO
	Antes da Lei 12.015/09 ser vigorada, o sujeito ativo poderia ser apenas o homem. A mulher poderia ser considerada sujeito ativo, quando em coautoria com um homem, por exemplo.
	Era impensável uma mulher sendo agente do crime de estupro na década passada, principalmente nos anos 40. Atualmente, ainda é difícil ter casos com a mulher sendo o sujeito passivo, mas não é impossível. Porém, há muito preconceito quando o homem denuncia a prática de um estupro contra si nessas circunstâncias, então acabam não denunciando para as autoridades competentes.
	Hoje, qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo do crime de estupro, homem ou mulher, sendo permitida a participação e coautoria, como explica Bitencourt “Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de estupro de vulnerável, indistintamente, homem ou mulher, contra, inclusive, pessoa do mesmo sexo”. (2015, p. 1012)
	O crime se caracteriza mesmo se o menor o sujeito passivo já possua experiência sexual. Assim, o vulnerável do sexo masculino ou feminino é o sujeito passivo.
	É irrelevante o motivo da condição de impossibilidade de resistência da vítima, sendo posta pelo ofensor ou outro motivo, de qualquer modo, a pena será imposta. Greco discorre sobre isso:
“Se a vítima não tiver ou não puder usar o potencial motor, é evidente que não pode oferecer resistência. Assim, doenças crônicas debilitantes[...]; uso de aparelhos ortopédicos[...]; paralisia regionais ou generalizadas; miastenias de várias causas etc. são casos em que a pessoa não pode sequer gritar por socorro, seja pela grave debilidade, seja pelas condições do local onde se encontre.” (GRECO, 2011, pg. 533-534).
	Logo, é nítido que o legislador procurou uma forma de proteger o vulnerável, que, por qualquer razão, não tenha condições de se proteger, aplicando, assim, punições severas ao agente.
	Para Bitencourt, o sujeito passivo é:
“pode ser qualquer pessoa que apresente a qualidade ou condição especial de vulnerabilidade exigida pelo tipo penal, seja pela menoridade de quatorze anos, seja em razão de tratar-se de alguém que, por enfermidade ou deficiência mental não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.” (BITENCOURT, 2015, p. 1012)
	O vulnerável do sexo masculino também é sujeito passivo, em qualquer circunstância. Para isso, é necessário a grave ameaça e a violência.
2.5. PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA
	Ao elaborar uma lei, o legislador deve observar a sociedade, como ela se comporta e suas regras tiradas do senso comum, assim, a lei se encaixará mais fácil no cotidiano. Com base nisso, podemos analisar a presunção de violência.
	Assim, Alberto Franco entende que presunção legal:
“é o procedimento lógico necessário para estabelecer uma relação entre dois fatos na base de uma regra de experiência codificada pelo legislador”. A presunção legal constitui, portanto, um abrandamento da prova: “baseando-se numa regra de experiência, a lei deduz, de um fato, um outro fato e antecipa o procedimento lógico necessário para estabelecer uma relação entre dois fatos, recorrendo a um parâmetro abstrato de valoração que alivia o juiz do encargo da verificação”. (FRANCO, 1991, pg 150-151).
	Sendo assim, é uma relação entre os fatos existentes na lei - caso a vítima ser menor de quatorze anos, enferma, deficiente mental ou não puder oferecer resistência e o agente conhecer essas condições, ou então quando não puder oferecer, por qualquer motivo, resistência – e a violência conhecida pelo legislador. 
	Em relação a presunção de violência, no revogado art. 224, se presumia violência quando a vítima não era maior de quatorze anos, é alienada ou débil mental e o agente conhecia esta circunstância, ou, quando não podia oferecer resistência. 
	Deste modo, violência presumida é a situação em lei quando uma pessoa não possui capacidade ou discernimento para adotar ou não determinada postura diante o ato praticado. No caso deste trabalho é a sexualidade.
	No revogado art. 224, se presumia violência quando a vítima não era maior de quatorze anos, é alienada ou débil mental e o agente conhecia esta circunstância, ou, quando não podia oferecer resistência.
	Segundo Nucci (2010), desde os anos 90, a jurisprudência entendia que essa presunção era relativa, necessitando de prova em contrário. Então, se uma criança de 13 anos tivesse consciência que está praticando atos sexuais com o seu namorado, por exemplo, não era considerado crime. Após a Lei 12.015/2009, em seu artigo 217-A, a presunção se tornou absoluta, não necessitando de prova em contrário. Neste sentido, o consentimento do menor é invalido, mesmo tendo o desenvolvimento físico e mental de uma pessoa de 14 anos ou mais.
	O juiz não tem a discricionariedade de questionar a idade estabelecida na lei ou a maturidade do menor vulnerável. 
	A evolução da sociedade precisa sempre ser considerado pelo Direito, com isso, a realidade da sociedade atual estará em conformidade com a interpretação das leis, evitando que sejam retrógradas. O legislador usou desse pensamento para definir a idade do vulnerável, mas não quer dizer que o menor não possa ter relações sexuais, o que deve ser visualizado é como essa relação é praticada. 
	A liberdade sexual não deve ser debatida e nem privatizada, mas o que deve ser protegido é a dignidade do menor.
	Além do entendimento da jurisprudência sobre a presunção relativa, as mudanças na cultura e na sociedade desde o final do século XX, são intensas, ocorrendo, assim, um retrocesso nos julgados, sendo considerado o art. 217-A como presunção absoluta, visto o amadurecimento precoce das crianças e adolescentes.
	Em relação amadurecimento, a vida sexual do menor está sendo bem mais aceitável na sociedade, devido ao aumento de relacionamentos consentidos entre jovens. Além disso, o controle familiar está enfraquecendo, dando mais liberdade aos seusfilhos. 
	Os tempos mudaram e não é justo para um adolescente de 13 anos não poder consentir com uma prática sexual, o Estado não deve interferir neste sentido. Deve, também, ser levado em consideração, para que o crime seja configurado, as suas experiências anteriores com o assunto.
	É importante salientar que a presunção de vulnerabilidade entre menores de 14 anos e do alienado ou débil mental é diferenciada. No primeiro caso, ocorrendo o ato sexual, já se configura crime. Nos demais, precisa haver a comprovação de que não exista discernimento para assuntos sexuais.
		As provas previstas nos crimes do inciso 1º do art. 217-A, precisam estar comprovadas no processo, com laudo pericial indicando a ausência de discernimento para o sexo.
	Assim, é compreensível a retomada da presunção relativa, averiguando caso a caso, pois, nem sempre a relação advém de agressão ou violência.
	Independente da mudança da lei, a discussão sobre a presunção relativa ou absoluta estará sempre presente nas doutrinas e jurisprudências, mas sempre observando o comportamento do jovem brasileiro. 
2.6. ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO
	Por ser um crime sexual, está previsto a possibilidade de erro de tipo, conforme art. 20 da Lei 12.015/09 (Lei Contra os Crimes Sexuais), e, caso isso ocorra, o crime se torna atípico, afastando, assim, o dolo.
	Guilherme Nucci (2009, pg. 38) ensina que “o autor do crime precisa ter ciência de que a relação sexual se dá com pessoa em qualquer das situações descritas no art. 217-A. Se tal não se der ocorre erro de tipo, afastando-se o dolo e não mais sendo possível a punição, visto inexistir a forma culposa”. Observa-se que o STF (Supremo Tribunal Federal), mesmo aceita  presunção de violência absoluta, acatou que:
 “não se configura o crime de estupro se a suposta vítima, embora menor de 14 anos, aparenta idade superior, possui comportamento promíscuo e admite não haver sido constrangida a manter relações sexuais com o acusado, tendo-o feito por livre e espontânea vontade”. (STF, Informativo nº 32)
	A incidência do erro de tipo em casos de crime sexual é aceita e ocorre quando o agente, em razão de falsa percepção da realidade dos fatos, acedita que a vítima possui 14 anos ou mais. A falsa percepção, se dá com a aparência física, informação de idade equivocada, dentre outros. A dúvida não afasta o crime. 
“O erro quanto à idade da ofendida é o que a doutrina chama de erro de tipo, ou seja o erro quanto a um dos elementos integrantes do erro do tipo. A jurisprudência do tribunal reconhece a atipicidade do fato somente quando se demonstra que a ofendida aparenta ter idade superior a 14 (quatorze) anos.” Precedentes. (STF. RHC 79788, Relator(a):  Min. NELSON JOBIM, Segunda Turma, julgado em 02/05/2000, DJ 17-08-2001 PP-00052 EMENT VOL-02039-01 PP-00142)
	Se não decorrer de erro de tipo, será aplicado o art. 217-A normalmente, considerando o ato libidinoso ou conjunção carnal como estupro de vulnerável, seja em menores de 14 anos, com deficiência física ou mental ou quem, por algum motivo, não possa oferecer resistência.
	Já o erro de proibição, disposto no art. 21 do Código Penal, não é aceito, se torna inviável ao crime em questão, pois, trata-se de erro sobre a ilicitude de um fato, ou seja, o não conhecimento de que a conduta constitui crime. Nucci explica:
“Por outro lado, torna-se viável que o agente, pessoa simples, sem cultura, jamais imagine ser vedada a relação sexual com deficiente mental. Mantido o relacionamento sexual, é preciso verificar se houve erro de proibição excusável.” (NUCCI, 2010, p. 932).
	Sendo assim, apenas o erro de tipo é aceitável no crime de estupro de vulnerável, ficando, assim, o agente isento de pena.
2.7. ELEMENTO OBJETIVO E SUBJETIVO
	O elemento subjetivo do crime de estupro de vulnerável é o dolo do agente, que tem a consciência de praticar o ato libidinoso com o vulnerável. Ou seja, o agente tem o conhecimento que está praticando o crime com alguém menor de 14 anos ou alguém que, por enfermidade ou deficiência mental não tem o necessário discernimento para concordar com a satisfação da lascívia. 
	Há dois elementos de dolo, a consciência e a vontade. A consciência deve ser atual, ou seja, deve estar consciente de que está praticando o ato com menor de quatorze anos ou com alguém portador de deficiência mental no momento da ação. Já a vontade abrange a ação, os resultados, os meios e o nexo causal. Sem um desses componentes não se atingem, o dolo não existe, não se aperfeiçoa. Sendo assim, é necessário a presença da consciência e da vontade.
	Há divergência doutrinária com o elemento subjetivo como tipo específico, pois, não necessariamente o agente praticará o crime para satisfazer a lascívia, ele pode praticar por vingança, puro sadismo ou até para obter uma confissão, como diz Guilherme Nucci (2014). Sendo assim, o tipo seria genérico, pois, para a sua definição, seria necessário apenas a vontade de realizar os atos, sem nenhum fim específico. 
	Já o elemento objetivo é o termo “vulnerável”, não havendo a necessidade de provar a vulnerabilidade da vítima, mas sim se ela possui menos de 14 anos, não sendo, assim, permitido a valoração quando ao conceito legal. 
	O entendimento do professor doutor João Virgílio Tagliavini (2012) sobre o assunto: 
"Prevalecendo a tese de que o fato de já estar o adolescente menor de catorze anos acostumado às práticas sexuais constitui uma excludente de tipicidade, ensejar-se-ia a prática de utilizar laranjas (ou estupradores oficiais), recrutados nas camadas subalternas, que, introduzindo crianças e adolescentes nas atividades sexuais, correriam esse risco em benefício dos socialmente bem posicionados, os quais, posteriormente e sem muito risco, usufruiriam as referidas menores já iniciadas. A idade de 14 anos é um dado objetivo estabelecido pela sociedade (legislador) como uma garantia normativa de preservação da infância e da adolescência. Não há o que discutir em relação a isso a não ser que a sociedade mude o seu conceito; caso prevaleça a decisão do TJRS, os menores estarão desprotegidos pelo Estado. Além do mais, de quem a vítima do estuprador absolvido é filha? O que poderia ser debatido, sim, é a tipificação e a dosagem da pena para os crimes sexuais, dependendo da gravidade específica de cada caso." (Entrevista digital, 2012)
	A idade de 14 anos que o legislador impôs no Código Penal é um dado decorrente da sociedade, sendo assim, crianças e adolescentes menores de 14 anos não devem ter relações sexuais. A introdução desse grupo em práticas sexuais precoces pode afetar sua dignidade perante a sociedade. O Estado deve protege-las e punir severamente o estuprador.
2.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A consumação do crime de estupro se dá, segundo Bitencourt: 
[...] na modalidade constranger à conjunção carnal, consuma-se desde que haja introdução completa ou incompleta do órgão genital masculino na vagina da vítima, mesmo que não tenha havido rompimento da membrana himinal, quando existente, consuma-se, enfim, com a cópula vagínica, sendo desnecessária a ejaculação. Na modalidade – praticar ou permitir a prática de outro ato libidinoso – consuma-se o crime com a efetiva realização ou execução de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, o momento consumativo dessa modalidade coincide com a prática do ato libidinoso. (BITENCOURT, 2014, pg. 60) 
	A pena para o crime do caput do art. 217-A, é de 8 (oito) a 15 (quinze) anos, caso ocorra lesão corporal grave, reclusão de 10 (dez) a 20 (vinte) anos, e se resultar morte, 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
	Há a possibilidade da tentativa, porém, é muito difícil constatar tal modalidade. De qualquer forma, a intenção do agente deve ser considerada.
3. DESENVOLVIMENTO SEXUAL INFANTO-JUVENIL NA ATUALIDADE
	Importante salientar que Freud foi o pioneiro em assuntos sexuais em sua época. No século XIX era inaceitável pensar sobre esse assunto, além do sexo ser apenas para fins de reprodução e feito entre adultos. 
	Crianças e adolescentes não tinham o direito de aprender ou pensar sobreessa prática que é natural de qualquer ser vivo. Caso acontecesse isso, o ato era visto como anormal, perverso e doentio. 
	Na infância, o assunto fica adormecido, surgindo, então, o interesse na adolescência, onde o indivíduo passa por uma mudança biopsicossocial, que, segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), acontece entre os doze até os dezoito anos. Os hormônios começam a aflorar e é comum o instinto sexual estar aflorado.
	Cerezer, psicólogo clínico, disserta, em seu artigo digital, que:
“Atualmente, vivemos um período onde a sociedade e a cultura sofrem intensas mudanças e transformações de paradigmas e valores que incidem poderosamente na existência dos adolescentes. A atualidade e suas complexidades incrementam ainda mais este período evolutivo chamado adolescência, no qual transformações bio-psico-sociais acontecem, pois determina um momento de passagem do conhecido mundo da infância ao tão desejado e temido mundo adulto.”
		A adolescência é o período em que a sexualidade de molda, então, é importante que o indivíduo conheça a si mesmo e obtenha informações relativas isso. Pais são peças fundamentais para essa fase, porém, a sociedade impõe uma barreira entre a maioria das famílias, onde, falar sobre esse assunto é um tabu. Eles cresceram com isso e passam as mesmas atitudes para seus filhos.
	Assim, é importante que esse tabu seja quebrado e o assunto seja abordado de forma adequada para não haver traumas e constrangimento. A forma em que o assunto é abordado evita, além do exposto, conceitos distorcidos e ainda molda a personalidade do adolescente. A informação deve ser levada além de apenas explicar o conceito de sexo, mas sim, informar que o corpo é um lugar sagrado, onde não deve ser tocado por qualquer um e ensinar o que deve ser feito quando isso acontece.
	Nos dias atuais, a criança se torna adolescente precocemente, não no âmbito jurídico, mas sim no âmbito social, onde, com a tecnologia, é capaz de aprender sobre esses assuntos de forma não saudável. Hoje, é comum relacionamentos entre adolescentes sem que cause qualquer estranhamento da sociedade. 
	O Estado deve proteger o adolescente, porém, não é correto banir a sua liberdade sexual, visto que a tendência é que cada vez o jovem amadureça mais cedo. É importante que haja educação sexual nas escolas, informando os tipos de doenças sexualmente transmissíveis, além dos riscos da gravidez precoce e a importância do sexo na vida do ser humano.
4. OS TIPOS PENAIS QUE TEM A VULNERABILIDADE COMO CONSIDERAÇÃO
Os tipos penais a seguir observados, tem como bem jurídico tutelado a dignidade sexual no vulnerável, com isso, o desenvolvimento do menor será sadio. Os menores de 14 (quatorze) e maiores de 12 (doze) anos são os protegidos pelo Capítulo II da Lei 12.015/09, porém, há, também, a figura do menor de 18 (dezoito) anos, e que por enfermidade ou deficiência mental não possui discernimento para a prática do ato sexual.
 Há a possibilidade de averiguar a vulnerabilidade absoluta e relativa quanto aos menores de 18(dezoito) anos, porém, o juiz não tem a discricionariedade para aferir o grau de maturidade sexual no caso concreto. A liberdade sexual do vulnerável não pode ser verificada, mas sim a dignidade sexual. 
	Os crimes que abrangem a dignidade sexual do vulnerável são: estupro de vulnerável (artigo 217-A), corrupção de menores (artigo 218), satisfação da lascívia mediante presença de criança ou adolescente (artigo 218-A) e exploração sexual de vulnerável (artigo 218-B).
4.1. O INDUZIMENTO DO MENOR PARA SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTREM
	O crime está previsto no art. 218 no Código Penal, porém, para entende-lo, se faz necessário verificar o conceito de lenocínio.
	Lenocínio é prestar assistência para satisfazer a lascívia de outrem, ou dela tirar proveito.
	Este crime é parecido com o estupro de vulnerável, inclusive em relação a liberdade sexual do menor de 14 (quatorze) anos, sendo a proteção da dignidade sexual do menor, o bem jurídico tutelado. Para Rogério Greco, o bem jurídico tutelado “é a dignidade sexual do menor de (quatorze) anos, bem como o direito a um desenvolvimento sexual condizente com a sua idade”. 
	Além disso, os sujeitos são praticamente os mesmos do artigo anterior, contudo, acrescenta-se a figura do outrem, que é o coautor do crime. Ele é o beneficiado da lascívia, podendo, inclusive, responder por estupro de vulnerável, se ficar configurado a prática do crime. 
	O passivo da relação somente será o menor de 14 (quatorze) anos. Caso a vítima seja adulta, o crime será descrito no artigo 227. Há uma lacuna na lei quando se fala de menor de 18 (dezoito) anos e maior de 14 (quatorze) anos, nesta hipótese, será aplicado o § 1º do art. 227. 
	O crime só se configura com a participação de outrem. Esse outrem pode ser do sexo feminino ou masculino, já que a lei não faz distinção.
	O induzimento tem a finalidade de satisfazer a lascívia de outrem, mas essas práticas não são com conjunção carnal, mas sim com atos exibicionistas, expositivas e contemplativas, por exemplo, o uso de fantasias para satisfazer o fetiche de alguém. Esse alguém deve ser determinado, caso contrário, será aplicado o artigo 228.
4.2. A SATISFAÇÃO DA LASCÍVIA PRÓPRIA OU DE OUTREM NA PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
	Este crime está previsto no artigo 218-A, foi acrescentado pela Lei 12.015/09. Como o artigo anterior, o sujeito passivo também é o menor de 14 (quatorze) anos. O legislador visou a proteção do menor contra influência de terceiros nas atividades sexuais. 
	O bem jurídico protegido também é a dignidade sexual do menor. A criminalização visa proteger o desenvolvimento saudável da personalidade do menor, assim, esse sujeito poderá decidir seu comportamento sexual na fase adulta sem traumas, segundo Bitencourt (2015).
	O menor vulnerável não deve ser persuadido a presenciar conjunção carnal ou outro ato libidinoso de outrem, pois, a corrompe sexualmente. É importante destacar que o menor não pratica o ato sexual, mas sim presencia. Caso haja a prática, o crime se configura como estupro de vulnerável. 
	 Conforme o texto legal, é necessário a presente física do menor no local onde ocorre o ato, sendo assim, não fica caracterizado o crime caso o menor acompanhe o ato indiretamente, ou seja, com o uso de tecnologia, como uma live, por exemplo.
	O agente que usa da persuasão para que o menor presencie o ato libidinoso não se satisfaz com o ato em si, mas sim com a ideia de que um menor vulnerável está presenciando o ato. Pode-se dizer que é uma perversão do agente. 
	A consumação do crime ocorre com a prática do ato libidinoso ou conjunção carnal na presença do menor vulnerável e a tentativa ocorre quando o ato sexual não chega a ser praticado, por algum motivo.
4.3. O FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL
	O crime está previsto no artigo 218-B da Lei 12.015/09. Neste artigo, o legislador inova, deixa de usar a expressão “corrupção de menores” e passa a utilizar à figura do vulnerável. 
	O bem jurídico tutelado deste tipo penal continua sendo a dignidade sexual do menor de dezoito anos, a diferença dos artigos anteriores é a idade empregada, além da figura de quem por enfermidade ou deficiência mental não possui discernimento para a prática do ato. Visa, assim, proteger o desenvolvimento e formação saudável da criança e do adolescente. 
	Os sujeitos também continuam sendo os mesmos, com modificação do sujeito passivo que é o menor de 18 (dezoito) anos, importante ressaltar que o menor não deverá ter menos de 14 (quatorze) anos, pois o crime pode se caracterizar como estupro de vulnerável, além disso, inclui-se quem por deficiência mental ou enfermidade não possui necessário discernimento para a prática do ato. O sujeito ativo é qualquer pessoa de qualquer sexo, sem demais distinções. 
	Há quatro condutas incriminadoras na primeira parte do artigo, os verbos - submeter, induzir, atrair e facilitar - ou seja, são condutas que seduzem o vulnerável para a prostituição, normalmente sãopessoas com dificuldades financeiras ou com falta de oportunidade e visão do futuro. Já a parte final, apresenta mais dois verbos, que são impedidores do abandono da prostituição pelo vulnerável - impedir ou dificultar - ou seja, visam evitar que o vulnerável abandone essa prática, seja com ameaças ou criando obstáculos ou empecilhos. Como se trata de pessoas que, na maioria das vezes, não possuem expectativas de vida ou não possuem renda financeira, elas acabam acatando o que os aproveitadores falam.
	Para a configuração do crime, não é necessário que a vítima se prostitua, mas sim que seja induzida, conforme o Rel. Ministro Jorge Mussi: “Da leitura do tipo previsto no artigo 218-B do Código Penal, depreende-se que para a configuração do ilícito em comento não se exige, como aduz o impetrante, que a vítima efetivamente se prostitua, bastando que seja induzida a fazê-lo.”
	É importante ressaltar, então, que os núcleos são efetivados em momentos diferentes, assim, é difícil conseguir provar a tentativa do crime em questão. 
5. PROVAS DO ESTUPRO
	A sociedade, nos dias de hoje, vive com medo, o poder do Estado não é o suficiente para proteger a população. O crime de estupro e estupro de vulnerável é muito comum, não mais comum que antigamente, apenas tem mais repercussão com a chegada da era tecnológica. O crime afeta física e psicologicamente a vítima, além de ser difícil encontrar provas e rastros que incrimine o agente. 
	Mesmo sendo de difícil a proteção do Estado perante a sociedade, é o seu dever, além de punir através de polícia judicial e do Ministério Público, que investida o fato e que exerce o direito à Ação Penal, respectivamente.
5.1. MEIOS DE PROVAS ADMITIDOS NA INVESTIGAÇÃO DO CRIME
	A prova, no processo, é a fase mais importante, assim, é possível a verificação da veracidade dos fatos, assegurando uma decisão mais justa. No crime de estupro, as provas mais usadas são as provas testemunhais e o corpo de delito. Mesmo o crime deixando vestígios, é difícil conseguir alguma prova, por isso a importância dos depoimentos orais da vítima e do corpo de delito.
	Segundo Estefam (2013, pg. 153) “a comprovação material do delito de estupro constitui uma das questões de maior dificuldade, notadamente quando inexistem outros registros do fato, senão as declarações da vítima”
	É sabido que para haver o crime de estupro, conforme art. 213 do Código Penal, é necessário que haja violência ou grave ameaça, e, consequentemente, ocorrer a violência sexual, sendo a conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Com isso, é possível a condenação penal.
A prova do estupro requer demonstração da violência real ou moral, utilizada para minar a defesa do ofendido, como também do ato libidinoso ou da conjunção carnal, não bastando apenas a prova de um ou de outro desses fatos. É que o delito se perfaz com a conjugação dessas duas ocorrências, não restando configurado diante de apenas uma delas. (MARCÃO; GENTIL, 2015, p. 118).
	Conforme o artigo 158 do Código de Processo Penal, “a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. Assim, caso haja vestígios no crime, e obrigatório o exame de corpo de delito, caso contrário, ocasiona a nulidade de qualquer outro meio de prova, e, consequentemente, ocorrerá a absolvição do acusado, conforme os artigos 564, III, b e 386, VIII, respectivamente do Código de Processo Penal.
	A prova pericial precisa ser realizada por um perito oficial ou, na falta deste, por duas pessoas idôneas, concursadas e servidores públicos, além de possuir diploma superior, segundo o artigo 159 do Código de Processo Penal:
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. 
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. 
 § 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. 
§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
 § 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. 
 § 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: 
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar;
 II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. 
§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.
 § 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. (BRASIL, Código de Processo Penal, 1941)
Assim, o exame de corpo e delito é a prova mais importante das provas periciais, visto que é possível encontrar vestígios para valorar a prova. A prova testemunhal também é importante e, consequentemente, usada, porém, como informado, é de difícil a comprovação da prática apenas com esse recurso.
O estupro consolidado com a conjunção carnal, deixam vestígio que possam ser verificados no exame pericial, em regra. Pode ocorrer da vítima não ter resistido a prática, por qualquer motivo, assim, nada atestará quando a violência da prática.
Portanto, mesmo que a perícia comprove a prática da conjunção carnal, não pode provar o emprego de violência, por vezes, pois, não há evidências no corpo da vítima, ou então, pode constatar a prova de resistência da vítima, mas não pode atestar a prática do ato libidinoso. 
 Sendo assim, mesmo que o crime deixe vestígios, provavelmente a prova pericial não esgotará todas as lacunas que necessitam ser preenchidas. Neste sentido, faz-se necessário a prova testemunhal, conforme prevê o artigo 167 do Código de Processo Penal.
Mesmo havendo a possibilidade da prova testemunhal, ela é escassa em se tratando desse tipo de crime, dado que normalmente é praticado em lugares ermos e de difícil acesso. Portanto, ainda que consiga suprir a falta de prova pericial, muitas vezes não há testemunhas no local para poder ajudar nas investigações, representando, assim, prejuízo ao conjunto probatório.
Porém, há casos em que há testemunhas presentes e elas têm o dever de falar a verdade, visto que fazem um juramento perante o juiz, assim, argumentam sobre os fatos que viram ou ouviram.
Segundo Nucci (2008, pg. 458) a testemunha é, “pessoa que declara ter tomado conhecimento de algo, podendo, pois, confirmar a veracidade do ocorrido, agindo sob o compromisso de ser imparcial e dizer a verdade”.
Mesmo com o juramento, às vezes, pode acontecer da testemunha modificar o que realmente aconteceu para beneficiar a vítima, já que trata-se de um crime repudiado pela sociedade. Seu discernimento pode ser influído por fatores morais, culturas e intelectuais. 
Outro fato que pode prejudicar a prova testemunhal, é o tempo que o processo percorre, às vezes torna-se anos para que haja a audiência de instrução para recolher o testemunho, prejudicando os envolvidos no processo.
Diante disso, a palavra da vítima torna-se importante no processo, como veremos adiante.
5.2. A PALAVRA DA VÍTIMA E O SEU VALOR
	Não existe hierarquia quanto aos meios de prova, não existeprova que valha mais que a outra, mas, o juiz precisa avalia-las para proferir uma decisão justa, visto que possui total liberdade para decidir a prova que possui maior peso, obviamente explicando seus motivos.
	A palavra da vítima tem, como regra, valor probatório relativo (juris tantum), para ser aceita, precisa ser verifica minuciosamente. Como já mostrado acima, nem sempre há testemunhas, e nem sempre há corpo de delito, ou seja, quanto menos provas, mais relevante se torna o depoimento da vítima.
	Porém, como a vítima possui interesse na condenação do acusado, é esperado que ela testemunhe de forma tendenciosa, por isso, é importante que seja bem avaliado e que não possua o mesmo valor de uma prova testemunhal, que é, via de regra, compromissada.
	É muito importante a verificação dos antecedentes do sujeito passivo e ativo, além de informações pessoas e dos fatos do crime. As vezes acontece de não tem provas suficientes no crime e a palavra da vítima torna-se principal e essencial, essas informações têm um papel fundamental na decisão, pois, o juiz consegue analisar conforme a formação moral e idoneidade dos envolvidos.
Além disso, é essencial que o juiz verifique o relacionamento da vítima e do réu, se possuem algum tipo de relacionamento, conturbado ou não, se já se conhecem ou se há histórico de outra situação semelhante, para, assim, evitar a decisão injusta com base em depoimentos tendenciosos. 
Caso a palavra da vítima seja coerente e convincente, pode ser suficiente para a condenação do agente, conforme Lenza 
Em suma é possível a condenação de um estuprador com base somente na palavra e no reconhecimento efetuado pela vítima, desde que não haja razões concretas para que se questione o seu depoimento. Há uma presunção de que as palavras desta são verdadeiras, sendo, contudo, relativa tal presunção. (LENZA, 2013, pg. 543).	
Portanto, a palavra da vítima é importantíssima para o convencimento e decisão do juiz, e é nesse entendimento que os tribunais estão julgando, conforme decisão abaixo:
EMENTA: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. CONDENAÇÃO. PALAVRA DA VÍTIMA. SÚMULA N. 7/STJ. TRIBUNAL. ACERVO FÁTICO PROBATÓRIO CONTRÁRIO À PALAVRA DA VÍTIMA. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. "Nos crimes contra os costumes, a palavra da vítima é de suma importância para o esclarecimento dos fatos, considerando a maneira como tais delitos são cometidos, ou seja, de forma obscura e na clandestinidade." (AgRg no AREsp 652.144/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 11/06/2015, DJe 17/06/2015). 2. De todo modo, se as instâncias de origem, a partir do exame dos fatos e das provas, concluírem que a palavra da vítima contraria os demais elementos, não é dado reverter tal entendimento neste Superior Tribunal de Justiça. Incidência da Súmula n. 7/STJ. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no REsp: 1688284 MG 2017/0197287-0, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 24/10/2017, T5 - QUINTA TURMA)
Cabe ressaltar que o juiz precisa ficar mais atento ainda com a palavra da vítima menor de 14 anos, que pode ser facilmente influenciada por terceiros tentado prejudicar seu desafeto, ou até por força de sua imaginação fértil comum em pré-adolescentes. (PACELLI, 2017)
Conforme o doutrinador, o valor probatório é o mesmo, mudando apenas o modo de abordagem, por exemplo, o menor é levado para um lugar menos intimidante, onde o juiz, com auxílio de um psicólogo ou assistente social e de um servidor do juízo, escuta o seu depoimento, sem forçar nenhuma situação constrangedora, como perguntas, por exemplo. O psicológico da criança já está abalado o suficiente para suportar demais traumas. O nome dessa abordagem é depoimento sem danos. 
Com isso, podemos concluir que a vítima, mesmo estando com o emocional abalado, é a melhor pessoa para descrever o que de fato aconteceu, porém, o juiz precisa estar ciente do que esse estado pode influenciar em seu depoimento e decidir da melhor forma possível. 
6. ANÁLISE JURISPRUDENCIAL SOBRE A PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA
	A presunção de violência em casos de estupro de vulnerável ainda é um assunto bastante polêmico no cenário brasileiro. A jurisprudência brasileira não é pacífica neste sentido, mesmo a presunção de violência absoluta devendo prevalecer nos julgados, conforme a Súmula 593 do STJ (Supremo Tribunal de Justiça).
	Há casos delicados em que a vítima pode ser uma prostituta, mesmo sendo menor de idade, casos assim não são isolados em lugares ermos do Brasil, mas também ocorrem em grandes cidades, neste sentido, a apelação a seguir não afasta a condenação do sujeito ativo quanto ao crime de estupro:
APELAÇÃO CRIME - ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR - VÍTIMA MOLESTADA DOS 10 ATÉ OS 13 ANOS DE IDADE - VIOLÊNCIA PRESUMIDA - ART. 224, ALÍNEA A, DO CÓDIGO PENAL - PRESUNÇÃO ABSOLUTA - PECULIARIDADES - PROVA - CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL - PALAVRA DA VÍTIMA - COERÊNCIA E HARMONIA COM OS DEMAIS SUBSÍDIOS PROBATÓRIOS - SUFICIÊNCIA PARA A DEMONSTRAÇÃO DA AUTORIA - PENA-BASE - FIXAÇÃO NO MÍNIMO LEGAL - CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES - REDUÇÃO INADMISSÍVEL - SÚMULA 231 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - REGIME PRISIONAL INTEGRALMENTE FECHADO - IMPOSSIBILIDADE - INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 2º DA LEI 8.072/90 PROCLAMADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - FATO SUPERVENIENTE A SER TOMADO EM CONSIDERAÇÃO NO JULGAMENTO - ALCANCE DA DECISÃO - REGÊNCIA DO CÓDIGO PENAL QUANTO AO REGIME PRISIONAL A SER ESTABELECIDO - DOUTRINA - JURISPRUDÊNCIA - SENTENÇA MANTIDA - RECURSOS DESPROVIDOS. (Terceira Câmara Criminal – TJ/PR – Processo: ACR 3347157 PR 0334715-7)
	A presunção é absoluta, pois, todo mundo sabe que não pode ter relações sexuais com menores de 14 (quatorze) anos.
	Ainda em relação ao tema, o STF precede que: 
		HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. VÍTIMA MENOR DE QUATORZE ANOS. CONSENTIMENTO E EXPERIÊNCIA ANTERIOR. IRRELEVÂNCIA. PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA. CARÁTER ABSOLUTO. ORDEM DENEGADA. Para a configuração do estupro ou do atentado violento ao pudor com violência presumida (previstos, respectivamente, nos arts. 213 e 214, c/c o art. 224, a, do Código Penal, na redação anterior à Lei 12.015/2009), é irrelevante o consentimento da ofendida menor de quatorze anos ou, mesmo, a sua eventual experiência anterior, já que a presunção de violência a que se refere a redação anterior da alínea a do art. 224 do Código Penal é de caráter absoluto. Ordem denegada. (HC 94.818, rel. ministra Ellen Gracie, DJe de 15.8.2008). 
	Por mais que a vítima tenha consentido com o ato ou que tenha experiência no assunto, a presunção continua sendo absoluta. O revogado artigo 224 do Código Penal previa a violência quando a vítima era menor de 14 anos. A redação do artigo ainda continua sendo muito aplicada, mesmo havendo divergência jurisprudencial.
	Outro julgado do STJ sobre o assunto: 
[...] “Por último, ainda que fosse possível ultrapassar esses óbices, destaco que a jurisprudência desta Corte Suprema perfila o entendimento de ser absoluta a presunção de violência nos casos de crime de estupro praticados contra menor de catorze anos (estupro de vulnerável), independentemente da conduta ter sido praticada, antes ou depois, da vigência da Lei 12.015/2009. Cito precedentes: “HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. VÍTIMA MENOR DE QUATORZE ANOS. CONSENTIMENTO E EXPERIÊNCIA ANTERIOR. IRRELEVÂNCIA. PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA. CARÁTER ABSOLUTO. ORDEM DENEGADA. Para a configuração do estupro ou do atentado violento ao pudor com violência presumida (previstos, respectivamente, nos arts. 213 e 214, c/c o art. 224, a, do Código Penal, na redação anterior à Lei 12.015/2009), é irrelevante o consentimento da ofendida menor de quatorze anos ou, mesmo, a sua eventual experiência anterior, já que a presunção de violência a que se refere a redação anterior da alínea a do art. 224 do Código Penal é de caráter absoluto. Precedentes (HC 94.818, rel. min. Ellen Gracie, DJe de 15.8.2008). Ordem denegada.” (HC 99.993/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Dje 11.12.2009)

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