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Rio de Janeiro, 28 de Janeiro de 2022 Publicação em forma de artigo/nota técnica com o objetivo de obter a aprovação na disciplina de Eletrônica Industrial do curso de pós graduação em Automação e Eletrônica Industrial da Faculdade Unyleya. Circuitos retificadores monofásicos controlados e não controlados: características, funcionamento e um comparativo entre ambos. Lihoy Aguiar Bellissimo1 Resumo Este artigo tem por objetivo abordar de forma geral as principais características dos circuitos retificadores monofásicos controlados e não controlados, bem como, o seu funcionamento e um comparativo entre as duas técnicas utilizadas, incluindo alguns exemplos práticos. Palavras-chave: Circuitos retificadores monofásicos. Circuitos retificadores controlados. Circuitos retificadores não-controlados. Abstract This article aims to address in general the main characteristics of controlled and uncontrolled single-phase rectifier circuits, as well as their operation and a comparison between the two techniques used, including some practical examples. Keywords: Single-phase rectifier circuits. Controlled rectifier circuits. Uncontrolled rectifier circuits. 1 Graduado em Engenharia de Elétrica pela UNESA. Mestrando em Instrumentação Científica pelo CBPF. Pós graduando em Automação e Eletrônica Industrial pela UNYLEYA. Engenheiro do departamento de Automação e Instrumentação da SCHOTT Tubbing Brasil. E-mail: lihoy.bellissimo@schott.com 2 1. Introdução Este artigo tem a finalidade de abordar de forma geral as principais características dos circuitos retificadores monofásicos controlados e não controlados demonstrando os diagramas eletrônicos, as equações do circuito e os sinais analógicos de forma gráfica representando as formas de onda características. 2. Introdução Para compreender os circuitos retificadores precisamos revisar alguns conceitos da eletrônica fundamental e os seus principais elementos responsáveis pela construção e desenvolvimento de um circuito eletrônico com o objetivo específico de realizar a retificação de um sinal analógico monofásico. 2.1 . Sinal elétrico monofásico (Corrente Alternada) O circuito de corrente alternada (CA) ou em inglês alternating current (AC) proporciona um sinal de diferença de potencial elétrico em forma senoidal em regime permanente. Portanto, a tensão e a corrente elétrica em um sinal AC possuem comportamento senoidal proporcional, conforme pode ser observado na figura 1, abaixo. Figura 1 – Sinal de tensão (T) e corrente elétrica (Im) com comportamento senoidal. [1] 3 Os primeiros geradores de corrente alternada foram desenvolvidos pelo inventor Nikola Tesla (1856-1943), patente 390.721 nos EUA (figura 2). A partir daí passou a ser o sistema de geração de energia elétrica mais utilizado para fornecer energia elétrica para todas as cidades do planeta desde a sua geração até as linhas de transmissão áreas e subterrâneas. Geralmente a simbologia desses elementos nos diagramas eletrônicos é de um circulo com uma senoide desenhada no centro, conforme pode ser observado na figura 3, abaixo. Figura 2 - Sistema gerador de corrente alternada patente 390.721 nos EUA, Nikola Tesla. [1] Figura 3 - Simbologia de fonte AC em diagramas eletrônicos. Fonte: Autor. 4 2.2 . Elementos passivos dos circuitos eletrônicos Os circuitos eletrônicos possuem elementos com algumas características ao ser aplicado uma diferença de potencial (ddp), dentre os principais para o entendimento dos circuitos retificadores monofásicos, estão: i. Resistor: A ddp v(t) entre os terminais de um resistor puro é diretamente proporcional à corrente i(t) que o atravessa. A constante de proporcionalidade (R) entre v(t) e i(t) é denominada resistência do resistor e é expressa em volts/amperes ou ohm (Ω), v(t) e i(t) podem ser constantes em relação ao tempo como nos circuitos em corrente contínua (CC), ou podem ser funções senoidais, co-senoidais, como nos circuitos em corrente alternada (CA).[1] A simbologia do resistor nos diagramas eletrônicos AC conforme citado no texto anterior pode ser vista na figura 4, abaixo. ii. Diodo: Ao unir um semicondutor tipo P (semicondutor com característica de possuir lacunas, ou seja, ausência de elétrons) com um semicondutor tipo N (semicondutor com característica de possuir elétrons livres), temos a formação do componente eletrônico chamado diodo, como mostra a figura 5, abaixo. [2] Figura 4 - Diagrama eletrônico de uma fonte AC ligada a um resistor, corrente em fase com a tensão, incluindo equações. [1] 5 Componente este que será de grande importância para a construção dos circuitos retificadores monofásicos. iii. Tiristor: O estudo dos tiristores deve começar pelo dispositivo que origina toda a família, o diodo de quatro camadas (mecanismo conhecido como trava ideal) ou diodo Shockley (figura 6). [2] O SCR é um dispositivo de quatro camadas que foi desenvolvido no Bell Telephone Laboratory (EUA) em 1957. Tiristor é um nome Figura 5 - Diagrama representando o componente eletrônico diodo e sua junção PN. [2] Figura 6 - Estrutura do diodo Shockley e do tiristor. [2] 6 genérico dado a uma família de componentes semicondutores formado por quatro camadas (PNPN). Um SCR é basicamente um diodo de quatro camadas unilateral no qual foi colocado um terceiro eletrodo chamado de gate (G ou g) ou porta, usado para controlar o disparo do diodo por injeção de corrente, conforme pode ser visto na figura 7, abaixo. [2] 2.3 . Retificação eletrônica A retificação é o processo de converter tensão e corrente alternadas em tensão e corrente contínuas. A amplitude da tensão de saída DC é determinada pela amplitude da tensão de alimentação AC. [3] Portanto, o sinal AC será convertido em DC (Direct Current ou Corrente Contínua (CC)), figura 8. Figura 7 - Imagem ilustrativa de um tiristor e a simbologia nos diagramas eletrônicos. [2] Figura 8 - Ilustração de uma fonte de alimentação realizando a retificação, transformando o sinal AC para DC.[2] 7 3. Retificadores monofásicos não-controlados Para fins de exemplificar o processo de retificação não-controlado, iremos utilizar um circuito simples com apenas um diodo e a retificação de meia onda de um gerador senoidal monofásico. A figura 9, mostra um circuito retificador de meia-onda simples alimentando uma carga resistiva pura. A tensão da fonte é uma onda senoidal com valor máximo Vm e período T. Durante o semiciclo positivo, quando a tensão no ânodo é positiva em relação à no cátodo, o diodo passa para o estado ligado. [3] Isso permite que a corrente flua através do resistor de carga R. Assim, a tensão na carga (vo) acompanha a meia-onda senoidal positiva. Durante o semiciclo negativo, a tensão no ânodo torna-se negativa em relação à no cátodo e o diodo passa para o estado desligado. Assim, não há fluxo de corrente através de R. [3] A tensão de saída (vo) é mostrada na Figura 10, que também apresenta a corrente na carga. O retificador de meia-onda, dessa maneira, transforma potência AC em DC. A tensão de saída é pulsante DC e contém uma grande ondulação. [3] Portanto, circuitos de um pulso têm valor prático limitado para aplicações em alta potência. Os valores quantitativos de interesse, nesse circuito, são os valores médios de tensão DC e de corrente DC na carga. [3] Figura 9 – Circuito retificador de meia-onda simples alimentando uma carga resistiva pura. [3] 8A tensão média na carga é dada por [3]: Onde, Vs = valor RMS da tensão de alimentação e Vm = valor máximo da tensão de alimentação. Figura 10 - Gráficos do sinal AC tendo retificação de meia onda por um diodo (tensão e corrente). [3] 9 A forma de onda da corrente tem a mesma forma de onda da tensão. Portanto, uma relação similar à da Equação 5.1 vale também para o valor médio de corrente na carga [3]: Onde Im = Vm/R. O valor efetivo (RMS) da corrente é dado por [3]: O resultado da equação acima, é característico da forma de onda do circuito de meia-onda. A forma de onda da tensão do diodo (figura 10) mostra que ele deve ser capaz de aguentar uma tensão inversa que seja igual ao pico da fonte de tensão.[3] Essa tensão é usada para selecionar o diodo apropriado para um dado circuito. O valor nominal da PIV (ou PRV) para o diodo é, portanto, dado por valor nominal da PIV ≥ Vm. [3] A finalidade de um retificador é converter potência AC em potência DC. Uma vez que estamos supondo que os dispositivos são ideais, sem perdas de potência, o fluxo resultante de potência AC obtido da média de todo o ciclo completo deve ser igual à potência de saída DC. A potência de saída DC (média) entregue à carga é dada por [3]: A potência de entrada AC é dada por [3]: 10 VRMS para o período de 0 a π (semiciclo) é Vm/2. Portanto [3]: A eficiência do retificador é definida como a relação da potência de saída DC com a potência de entrada AC [3]: O fator de forma é uma medida da qualidade da tensão de saída. Idealmente, a tensão de saída DC de um retificador deve ser constante. Na prática, eles fornecem saídas que são ondas senoidais incompletas. O fator de forma é definido como a relação da tensão de saída RMS com o valor médio da tensão de saída [3]: O valor ideal de FF é igual à unidade. FF é igual a 1 se a tensão de saída for um valor constante DC, para o qual Vo(RMS) = Vo(avg). A tensão de saída de um retificador contém componentes não só DC como AC (ondulação). A frequência e a amplitude da tensão de ondulação são fatores importantes na escolha dos retificadores. Quanto maior a frequência e menor a amplitude, mais fácil filtrar a ondulação dentro de limites aceitáveis. [3] O número de pulso é a relação entre a frequência fundamental de ondulação da tensão DC e a frequência da tensão de alimentação AC. [3] O fator de ondulação é a relação entre o valor RMS da componente AC e o valor RMS da componente DC. Fator de ondulação [3]: 11 Idealmente, o fator de ondulação deve ser igual a zero. No resistor de carga R [3]: Como forma de aplicação prática podemos citar um circuito retificado de meia onda (figura 11) que tem Vs(t) = 170 sen (377.t) V e uma resistência de carga R = 15 ohm. Determine, portanto, as seguintes informações sobre o circuito [4]: a. A corrente média na carga; b. A corrente RMS na carga; c. A potência absorvida pela carga; d. A potência aparente fornecida pela fonte; e. O fator de potência do circuito. Figura 11 - Representação do diagrama eletrônico de um circuito de retificação de meia onda e seus gráficos de tensão característicos. [4] 12 [4] 4. Retificadores monofásicos controlados Para projetar um retificador controlado ou um retificador controlado por fase, é preciso substituir o diodo por tiristores, ou seja, SCRs (silicon controlled rectifiers – retificadores controladores de silício). [3] Esse circuito produz uma tensão de saída DC variável, cuja amplitude é obtida por meio de controle de fase, isto é, com o domínio do período de condução, variando o ponto no qual um sinal na porta é aplicado ao SCR. Ao contrário do que ocorre com um diodo, um SCR não conduzirá automaticamente quando a tensão ânodo-cátodo ficar positiva — um pulso deverá ser aplicado à porta. [3] Se o tempo de retardo do pulso na porta for ajustado, e se esse processo for executado repetidamente, então as saídas dos retificadores poderão ser controladas. Essa técnica é denominada controle de fase. Os retificadores controlados, ou conversores, são classificados em dois tipos: completamente controlado e semicontrolado. [3] O completamente controlado, ou tipo dois-quadrantes, usa um SCR como dispositivo de retificação. A corrente DC é unidirecional, mas a tensão DC pode ter qualquer uma das duas polaridades. Com uma delas, o fluxo de potência vai da fonte AC para a carga DC, em um processo chamado retificação. Com a inversão da tensão DC pela carga, o fluxo de potência vai da fonte DC para a alimentação AC, em um método denominado inversão. Se metade dos SCRs for substituída por diodos, o circuito passará a ser classificado como semicontrolado ou semiconversor. 13 Esse circuito permite também que o valor médio da tensão de saída DC seja variado pelo controle de fase do SCR. [3] Entretanto, a polaridade da tensão de saída DC e a direção da corrente não podem mudar, isto é, o fluxo de potência ocorre da fonte AC para a carga DC. Os conversores desse tipo são também denominados conversores de um-quadrante. Os retificadores controlados fornecem potência DC para várias aplicações, como controle de velocidade para motores DC, carregadores de baterias e transmissão DC em alta tensão. O controle de fase é usado para frequências abaixo de 400 Hz ou, mais comumente, 60 Hz. [3] A figura 12 mostra um circuito retificador controlado de meia-onda com carga resistiva. [3] Durante o semiciclo positivo da tensão de alimentação, o SCR estará diretamente polarizado e conduzirá se o pulso de acionamento for aplicado à porta. Se o SCR passar para o estado ligado em to, uma corrente fluirá na carga e a tensão de saída vo será igual à tensão de entrada. No tempo t = π, a corrente cai naturalmente a zero, uma vez que o SCR estará inversamente polarizado. Durante o semiciclo negativo, o dispositivo bloqueará o fluxo de corrente e não haverá tensão na carga. O SCR ficará fora até que o sinal seja aplicado novamente na porta em (t o + 2π). O período que vai de 0 a to, na Figura 6.1b, representa o tempo no semiciclo positivo quando o SCR está desligado. Esse ângulo (medido em graus) é denominado ângulo de disparo ou ângulo de retardo (α). O SCR conduz de to a π; esse ângulo é denominado ângulo de condução (θ). [3] Figura 12 - Circuito retificador controlado de meia onda, diagrama eletrônico.[3] 14 O valor médio ou DC da tensão na carga é dado por [3]: De modo semelhante, a corrente média na saída é [3]: O valor RMS da corrente na carga é dado por [3]: Essas equações indicam que a amplitude da tensão de saída é controlada pelo ângulo de disparo. O aumento de α disparando o SCR posteriormente no ciclo diminuirá a tensão e vice-versa. [3] A máxima tensão de saída, Vdo = Vm/π, ocorre quando α = 0°. É a mesma tensão do circuito de meia-onda com diodo. Portanto, se o SCR for disparado em α = 0°, o circuito atuará como um diodo retificador. [3] A tensão média normalizada é [3]: A tensão Vn é função de α, conhecida como característica de controle do retificador e mostrada na figura 13, abaixo. [3] 15 Como forma de aplicação prática podemos citar um retificador controlado de meia-onda é alimentado por uma fonte de 120 Vac. Se a resistência de carga for de 10 Ω, determine a tensão na carga e a potência entregue à carga para os seguintes ângulos de retardo [3]: a. α = 0° b. α = 45° c. α = 90° d. α = 135° e. α = 180° Portanto, a potência pode variar dezero a um máximo de 293 W. Figura 13 - Gráfico característico de um retificador controlado de meia-onda. [3] 16 5. Considerações finais Os circuitos retificadores não-controlados usam apenas diodos como elementos de retificação e, portanto, a amplitude da tensão de saída DC é determinada pela amplitude da tensão de alimentação AC. Entretanto, a saída DC não é pura — contém componentes AC significativas, as quais recebem o nome de ondulação. Para eliminá-la, costuma-se inserir um filtro depois do retificador.[3] Já os circuitos retificadores controlados geram interferência em rádio frequência (radio frequency interference – RFI) devido ao constante controle de fase. A onda semisenoidal cortada produz harmônicos de peso que interferem no rádio, na televisão e em outros equipamentos de comunicação.[3] Ambos os circuitos de retificação possuem aplicações nas áreas de controle de potência de sistemas eletroeletrônicos e de automação e estão presentes na maioria das máquinas e equipamentos modernos. Desde os carregadores de celular até circuitos de controle de usinas hidrelétricas e sistemas de automação industrial. Referências [1] UNESP. Material de aula: Revisão de Circuitos Monofásicos, Dep. de Engenharia Elétrica, Departamento de Engenharia Elétrica. Disponível em: https://www.feis.unesp.br/Home/departamentos/engenhariaeletrica/revisao-2015.pdf . Acesso em: 25 de janeiro de 2018. (p.3, 4, 8 e 12) [2] Diodos e Transistores Bipolares: Teoria e Práticas de Laboratório. IFCE. Fortaleza, 2010. (p. 12-14) [3] AHMED, Ashfaq; Eletrônica de Potência; São Paulo, Prentice Hall do Brasil, 2000. (p.150-153 e 181-185) [4] PUC-GO. Material de aula: Retificadores de meia-onda, Prof. Dr. Marcos Lajovic Carneiro. Disponível em: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17742/material/ Cap%203.pdf . Acesso em: 26 de janeiro de 2018. (p.40) https://www.feis.unesp.br/Home/departamentos/engenhariaeletrica/revisao-2015.pdf http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17742/material/Cap%203.pdf http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17742/material/Cap%203.pdf
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