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1 Clínica Médica 1 Caderno de atividades Para Continuar em Casa 2022 Organizador: Flávio Chaimowicz Departamento de Clínica Médica Faculdade de Medicina UFMG 3 ÍNDICE APRESENTAÇÃO 5 CEFALEIA 7 DOR TORÁCICA 23 DOR ABDOMINAL 31 DOR LOMBAR 51 5 Apresentação Caro aluno. Seja bem-vindo às atividades de 2022 da CLM1. Talvez você não tenha entendido o nome do caderno: Para continuar em casa... A pandemia de Covid 19 modificou drasticamente a prática da CLM1, que era baseada quase inteiramente na consulta médica presencial. Com o ambulatório fechado, tivemos que adaptar o programa para o ensino remoto com GDs pelo zoom em horários muito restritos; criamos então o caderno “Para ficar em casa”, com os temas fundamentais, que você ainda utilizou no final do ano passado. Tudo a ver com as boas práticas de 2020 e 2021. Logo começamos a fazer consultas simuladas no ambiente virtual, e organizamos esta segunda parte do material didático. Mas ainda era necessário continuar em casa. Esperamos que este nome do caderno esteja sendo utilizado pela última vez! Na medida em que o ensino presencial é restabelecido, cada turma deve organizar suas rotinas de atividades práticas (atendimento de pacientes) e teóricas (GDs). Este caderno contém quatro estudos dirigidos que completam o conteúdo programático da CLM1 que você iniciou em 2021. O material poderá ajudar seu professor a discutir os temas com a turma. A discussão poderá ser presencial (antes ou após os atendimentos), ou em casa..., através de reuniões pelo zoom. Neste momento do curso, você já percebeu o quanto é importante saber fazer boas perguntas durante a consulta. E já começou a trilhar os desafios do raciocínio clínico. - A cefaleia deste paciente pode ser uma neoplasia ou parece tensional? - Se ele tem dor torácica e febre, que doenças eu devo investigar? - Se o paciente se queixa de dor abdominal iniciada ontem, que perguntas eu devo fazer? E se a dor vem ocorrendo nos últimos três meses? - O paciente se queixou de “dor nos rins”, mas ele não tem nenhuma queixa urinária e a dor lombar piora quando ele se abaixa... A Comissão de Coordenação Didática (CCD) do Departamento de Clínica Médica selecionou para discussão as queixas mais prevalentes no Ambulatório Bias Fortes. Ao estudar cada tema, você deve sempre pensar no objetivo principal deste semestre: aprender a fazer a anamnese utilizando habilidades de comunicação adequadas. Como já disse uma professora da CLM1: estes GDs serão úteis para vocês colocarem “o recheio” na anamnese de vocês. Se o seu professor recomendar a utilização deste material, sugerimos que você imprima (frente e verso!!!), sem reduzir as páginas, e responda as questões por escrito. Bons estudos! Flávio Chaimowicz Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 6 Cefaleia 7 Cefaleia Flávio Chaimowicz, Gustavo Penna e Paulo Henrique Diniz. Bastardos Inglórios (Wikipédia1) Filme estadunidense de 2009, do gênero guerra, dirigido por Quentin Tarantino e estrelado por Brad Pitt, Christoph Waltz e Mélanie Laurent, filme conta a história de dois planos para assassinar os líderes políticos da Alemanha nazista (...) Na primavera de 1944, o Primeiro-tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é incumbido da tarefa de reunir um time de oito soldados judeu- americanos para uma missão atrás das linhas inimigas, que consiste em levar medo e terror aos soldados alemães. Ele diz a seus soldados que cada um deve a ele 100 escalpos nazistas. Eles não tomam prisioneiros e acabam por ser conhecidos como os "Bastardos". Um sobrevivente de um dos ataques dos Bastardos, um soldado chamado Butz, encontra com Adolf Hitler. Butz conta que ele e sua companhia foram atacados, e que seu sargento foi espancado até a morte com um taco de baseball pelo Sargento Donny Donowitz, conhecido pelos alemães como "O Urso Judeu". Butz revela que Raine cravou uma suástica em sua testa com uma faca. (Crítica de Erico Borgo, 20092) Como é habitual na cinematografia de Quentin Tarantino, ele mistura linguagens, épocas e escolas - que praticamente desaparecem no resultado, tornando-se algo só dele. (...)Tarantino, supernerd cinéfilo, apanha todas essas coisas que lhe são queridas, com as quais cresceu, e as transforma. Ele já fez isso antes muitas vezes, mas neste filme busca uma certa organização sutil separando os gêneros que emula através de uma organização em capítulos. (...) passível de discussão é a eterna "violência tarantinesca". Uns amam, outros odeiam. Considerando os filmes anteriores do diretor, desta vez ela até contida, deixada para poucos momentos de impacto. Mas isso por que não me importo em ver escalpos e tacos de baseball esfacelando cabeças. O cinema de Tarantino tem mesmo essa propriedade um tanto anestésica em alguns em relação à sangreira. (...) 1http://pt.wikipedia.org/wiki/Inglourious_Basterds 2http://omelete.uol.com.br/cinema/critica-bastardos-inglorios/ Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 8 Cefaleia é a queixa neurológica mais comum na prática ambulatorial. Como você verá no texto do Goroll, no 4o exercício do GD, menos de 1% dos pacientes tem cefaleia por causas graves, como uma neoplasia. Mas imagine dispensar um paciente destes com diagnóstico (incorreto) de enxaqueca... Este capítulo será baseado nos seguintes textos: Bickley LS, Bates. Propedêutica Médica, 12ª Ed. 2018. (Cap. 7: Cabeça e pescoço. Só o texto inicial sobre cefaleia e quadros 7.1 e 7.2 (Cefaleias e secundárias). Você também pode estudar o capítulo “Cefaleia” no livro “Semiologia Clínica”, de Isabela Benseñor, ou dentre os sintomas do sistema nervoso no Tratado de Semiologia Médica da Prof. Rose Lisboa, e sempre no Mario Lopez ou Celmo Celeno Porto. Ao final deste capítulo esperamos que você seja capaz de: a) Realizar uma anamnese que contemple os principais sintomas relacionados à cefaleia. b) Iniciar a investigação de pacientes com queixa de cefaleia Depois de estudar em um dos livros indicados acima, confira o texto a seguir, elaborado pelos professores Gustavo Penna e Paulo Henrique Diniz. Cefaleia 9 O termo cefaleia tem origem grega – kephalaía e significa, simplesmente, dor de cabeça. Embora popularmente esse termo seja usado para se referir em dores em qualquer região do crânio, corretamente restringe-se à dor craniana localizada na região que vai das sobrancelhas até a nuca. Dores no rosto são denominadas algias faciais e dores no pescoço, cervicalgias (exceções são as hemicranianas, algumas neuralgias e irradiações de enxaquecas). Dentre todas as causas de dor, a cefaleia é provavelmente a mais comum, superada apenas pela lombalgia dentre os motivos de procura por atendimento médico e absenteísmo. Isto se deve à maior susceptibilidade à dor da cabeça, que possui maior densidade de receptores na face e escalpo. Já o cérebro, sem terminações dolorosas, é insensível à dor. Além de frequente, a cefaleia pode ser recorrente e incapacitantes, embora seu impacto seja pouco reconhecido pela sociedade. O principal estudo epidemiológico que avalia incapacidade provocada por diversas doenças ao redor do mundo aponta a migrânea como a terceira principal causa de anos vividos com incapacidade! Há mais de 150 tipos reconhecidos de dor de cabeça, um cenário desafiador. Felizmente, menos de 1% dos casos são provocados por doenças graves, como meningite, hemorragia intracraniana e tumores. Na grande maioria das vezes, os pacientes têm exames físico e neurológico normais, e exames de imagem não são necessários. Portanto, são justamente a anamnese e a história clínica os fatores mais importantes para estabelecer o diagnóstico correto e determinaras etapas da abordagem e plano terapêutico. Ou seja, as ferramentas da semiologia são a chave para o diagnóstico, eminentemente clínico. Como é um sintoma muito frequente na nossa população, muitos de nós ou mesmo pessoas bem próximas já apresentaram essa queixa em algum momento. Tente relembrar um desses episódios ou mesmo entrevistar alguém do seu convívio que tenha apresentado cefaleia. Como você o classificaria: grave, que necessitasse de intervenção, ou sem características suspeitas de maior gravidade, que só necessitaria de um alivio sintomático? Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 10 Pois bem, você deve estar imaginando como pode ser catastrófico não diagnosticar uma condição grave e liberar o paciente com diagnóstico (incorreto) de cefaleia tensional... Em casos graves, o primeiro contato com o médico pode significar uma oportunidade única do diagnóstico adequado e conduta que pode salvar o paciente. Portanto, apesar de uma parte considerável das cefaleias se deverem a condições não neurológicas, a possibilidade de doença intracraniana sempre deve ser considerada. Dentre as chamadas cefaleias primárias, 90% se devem à enxaqueca (ou migrânea) e à cefaleia tensional3. 1) Desembaralhe o quadro abaixo para reforçar seus conceitos. Causa -> Tensional Enxaqueca Em salvas (“cluster”) Localização Unilateral em 60-70% casos, bifrontal ou global em 30%. Adolescentes: Bilateral em sua maioria Bilateral Sempre unilateral, usualmente se inicia ao redor dos olhos ou região temporal. Características Pressão ou aperto que aumenta e diminui. A dor começa rapidamente, atinge um crescendo em minutos; a dor é profunda, contínua, excruciante e explosiva Surgimento gradual, padrão “em crescendo”, pulsátil, intensa ou moderada; agravada por atividade física. Aparência do paciente O paciente permanece ativo O paciente pode permanecer ativo ou necessita de descanso Prefere descansar em um local escuro e silencioso Duração 30 min. a 7 dias 4-72 horas 15 minutos a 3 horas Sintomas associados Náusea, vômitos, fotofobia, fonofobia; pode ter aura (geralmente visual, mas pode envolver outros sentidos ou causar déficits motores e em fala) Lacrimejamento ipsilateral, hiperemia ocular; obstrução nasal; rinorreia; palidez; sudorese; Síndrome de Horner; inquietação ou agitação; sintomas neurológicos focais raros; sensibilidade ao álcool Nenhum * Tabela adaptada de https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-headache-in-adults 3 Cefaleia em salvas corresponde a menos de 1% das cefaleias primárias. Em geral trata-se de um atendimento na urgência, sendo um diagnóstico menos comum na atenção primária. Cefaleia 11 Já as cefaleias secundárias envolvem acometimento de estruturas extracranianas (pelo, couro cabeludo, musculatura, ossos, dentes, ouvidos, nervos periféricos e ramos de nervos cranianos) e intracranianas (meninge, vasos arteriais e venosos, complexo trigeminal e nervos sensitivos cranianos e raízes altas). A dor pode ser causada por tração, tensão, dilatação ou inflamação dessas estruturas sensíveis. Muitos casos de cefaleia secundária (40%) decorrem de afecções não neurológicas, como crise hipertensiva, febre e sinusopatias, e apenas 5% a etiologias especificamente neurológicas (pós traumatismo cranianos, lesões intracranianas e doenças da medula cervical). 2) Cite dois casos de cefaleia secundária que você já teve, ou já viu. Como eram os sintomas? Como foi possível chegar ao diagnóstico? Causa Sintomas Diagnóstico Outras três causas de cefaleia merecem consideração: Distúrbios de refração: Distúrbios de refração também pode provocar cefaleia, especialmente após longos períodos de utilização da visão (ou seja, raramente ao acordar). Esta causa é seja menos comum do que se imagina. Disfunção da articulação temporomandibular (DATM): Estima-se que 75% da população desenvolva durante a vida algum sinal ou sintoma da disfunção da articulação temporomandibular (DATM), incluindo a cefaleia. Entretanto, só a presença de cliques de abertura e fechamento da boca não definem o diagnóstico, e menos de 5% dos casos requerem tratamento específico. Por outro lado, sabe-se que a DATM pode agravar o quadro de cefaleias primárias, principalmente a migrânea. Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 12 Cefaleia por abuso de medicamentos: Alguns pacientes com enxaqueca ou cefaleia tensional podem desenvolver a "cefaleia por abuso de medicamentos" se consumirem analgésicos em excesso. O problema é mais comum com opioides ou combinações de acetaminofeno- aspirina-cafeína. O risco é menor com triptanos e provavelmente mais baixo com anti-inflamatórios. Sua prevalência na população geral é de 1% a 2%, e é maior em mulheres do que em homens. Devemos pensar no diagnóstico diante de pacientes com cefaleia crônica que utilizam medicamentos pelo menos duas a três vezes por semana, em média. O quadro geralmente remite com a interrupção dos medicamentos. 3) Você conhece alguém que já teve cefaleia por distúrbio de refração, disfunção da ATM ou abuso de medicamentos? Como eram os sintomas? O diagnóstico demorou? Você sabe como foi o tratamento, e se deu certo? Na avaliação da cefaleia, temos dois objetivos principais: Excluir doenças graves associadas e avaliar a possibilidade de causas secundárias de cefaleia Em caso de cefaleia primária, determinar o tipo. Cefaleia 13 Para alcançar estes objetivos (excluir doenças graves e determinar o tipo de cefaleia, se for primária), ao colher a história clínica devemos sistematizar nossa avaliação. Veja os pontos importantes segundo o livro "Semiologia Clínica", de Isabela Benseñor: 1. Tipo de dor: em compressão, latejante, em faixa, em peso, em pontada? A dor é de dentro para fora ou de fora para dentro? 2. Localização: unilateral, bilateral, retro-ocular? Tem relação com o trajeto das principais artérias extracranianas? 3. Aspectos temporais: quando a dor começa? A evolução foi lenta ou rápida? Quanto tempo dura? O paciente acorda com a dor ou é acordado durante a noite pela dor? Com que frequência a dor aparece? Mensal? Semanal? Diária? 4. Intensidade da dor: leve (não atrapalha atividades rotineiras), moderada (atrapalha as atividades rotineiras), grave (impede as atividades rotineiras), muito grave ou insuportável? Peça ao paciente para classificar a intensidade de sua cefaleia com uma nota de 0 a 10. 5. Fatores de melhora ou de piora: o ato de curvar-se, ficar em pé, espirrar, tossir piora a dor? Quais são os fatores de melhora? Que tipos de medicamentos costumam melhorar a dor? 6. Meio ambiente: exposição a monóxido de carbono, fumaça de cigarro ou outros agentes. 7. Sintomas neurológicos associados: intolerância à luz, sons ou movimentos; tonturas, fraqueza e presença de intolerância a perfumes; dor à palpação do couro cabeludo no trajeto das principais artérias? 8. Evolução prévia do quadro doloroso: duração e episódios anteriores; como era a dor no seu início ? Caracterize o episódio inicial. 9. Impacto funcional: como a vida do paciente é afetada pela dor 10. História familiar Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 14 Algumas características - que chamamos de “redflags”, ou sinais de alerta - indicam maior probabilidade da presença de uma causa secundária da cefaleia. É importante sempre tê-las em mente: Dor de cabeça acompanhada de sintomas sistêmicas (incluindo febre, rigidez de nuca); História de neoplasia; Sinais neurológicos focais. Déficit neurológico (incluindo redução do nível de consciência), convulsão; Início súbito e abrupto; Início após os 50 anos de idade; Mudança recente no padrão ou início recente de cefaleia com características novas; Dor varia com a posição; Dor precipitada por espirros, tosse ou exercício; Papiledema; Dor de cabeça em piora progressiva ou apresentações atípicas; Gravidez ou puerpério; Dor ocular ou características autonômicas (ex: sudorese, taquicardia, midríase); Surgimento após traumatismo craniano, mesmo que leve; Presença de doenças do sistema imune, como HIV; Uso abusivo ou excessivo de analgésicos para dor de cabeça; Cefaleia 15 4) Agora leia a introdução do Goroll sobre abordagem do paciente com cefaleia. No quadro ao lado, escreva a mensagem mais importante, como no exemplo: A complaint of headache raises numerous diagnostic possibilities. Fortunately, less than 1% of cases of headache that come to medical attention represent serious intracranial disease. Both physicians and patients worry about headaches that are persistent, severe, sudden in onset, or different from a patient’s usual headache. The primary physician’s most immediate task is to identify efficiently by history and physical examination the occasional patient who requires aggressive workup*. A tarefa mais imediata do clínico é determinar qual paciente precisa de avaliação mais agressiva*. * Avaliação mais agressiva: tomografia computadorizada do crânio, punção lombar, etc. 5) Segundo o Bates quais são os atributos da cefaleia que devemos investigar na anamnese? 6) Lembra-se das cefaleias primárias e secundárias? Preencha o quadro, assinale as causas potencialmente fatais e sublinhe as lesões expansivas. CEFALEIAS PRIMÁRIAS CEFALEIAS SECUNDÁRIAS (sem etiologia subjacente demonstrável) (provocadas por doenças) 7) Que causas potencialmente fatais devemos investigar em pacientes com: - cefaleia intensa, de início súbito? - cefaleia recente, persistente, e que se agrava progressivamente? Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 16 8) Leia o caso clínico abaixo. Veja (com atenção) que a anamnese inclui todos os dados que o Bates sugere que investiguemos em pacientes com cefaleia. Esta paciente apresenta um quadro típico de enxaqueca clássica. Sublinhe na história todos os atributos do sintoma e, no espaço à esquerda, indique quais são eles (veja o exemplo). Sintomas concomitantes Aura Bell, estudante, 23 anos, veio se consultar por ter apresentado pela 8ª vez em dois anos quadro de cefaleia que a impede de estudar. A cefaleia é intensa como das outras vezes, unilateral, pulsátil, inicia-se em cerca de 5 minutos, atinge seu ápice em 40 minutos, dura 4 horas e termina lentamente. Com o passar das semanas, a dor permanece igual. Aura percebeu, no entanto, que a dor sempre piora nos primeiros dias da menstruação, mas não obedece horários. Por outro lado, a dor não piora ao abaixar a cabeça. tossir ou espirrar. Os episódios não melhoram com analgésicos comuns (paracetamol, dipirona); somente com medicamentos mais fortes, com ergotamina (que ela usa raramente) Embora a dor não tenha um horário específico para começar. Aura já reconhece sintomas que antecedem a cefaleia (fadiga, bocejos por umas duas horas). Durante os episódios apresenta náuseas e vômitos e sente-se mais confortável ao deitar em um quarto escuro e silencioso. Uma vez percebeu que estava perdendo a visão do olho esquerdo, com o surgimento de “luzes brancas piscando” meia-hora antes do início da dor, mas não há relato de outros déficits neurológicos como confusão mental, alterações do nível de consciência, do equilíbrio, da marcha ou paresias dos membros. Ela não sofreu nenhum traumatismo craniano recente, já mediu várias vezes a pressão arterial (sempre normal) e não tem comportamento de risco para infecção por HIV. Sua mãe já lhe disse que são crises de enxaqueca, uma característica de sua família. Também disse que ela deveria se cuidar melhor: dormir nos horários corretos, alimentar-se de maneira mais regular e parar com as bebidas alcoólicas. Você não sabe se Aura usa contraceptivos, ou se pode estar grávida. Mas com a mãe ao lado, não sabe se deve perguntar... Cefaleia 17 9) Quando devemos considerar que um quadro de cefaleia não é tensional, e sim uma enxaqueca? 10) Respondendo à pergunta acima... Veja os critérios para o diagnóstico de enxaqueca. Qual sintoma não foi relatado pela por Aura Bell? Faça uma pergunta para investigá-lo, usando a técnica da pergunta ao contrário, para não induzir a resposta. (Técnica da pergunta ao contrário: para saber se o paciente tem cefaleia ao deitar, você perguntaria: ao deitar a cefaleia melhora?) 11) Se a doença de Aura Bell fosse uma neoplasia cerebral, além da informação que você identificou no texto, ela apresentaria déficits neurológicos e vômitos. Mas ela apresenta mesmo escotomas cintilantes e vômitos! Então, porque não estamos preocupados com uma lesão expansiva? 12) Você precisa saber se Aura utiliza anticoncepcionais orais (ACO). Se por um lado a cefaleia é comum nos três primeiros meses de gravidez, por outro os ACOs podem desencadear enxaqueca. A mãe está ao lado dela, e você não sabe se elas conversam sobre este assunto. Como resolver este problema? Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 18 14) A consulta de Aura Bell, várias perguntas foram feitas para afastar causas de cefaleia. Preencha o quadro indicando a pergunta e a doença (veja o exemplo). Informação Reduziu a possibilidade de: Nega traumatismo crânio- encefálico Hematoma subdural 15) No quadro 7.2 do Bates (Cefaleias secundárias), identifique as causas... ...potencialmente fatais ...associadas a febre ...associadas a alterações dos olhos ou da visão ...que acordam o paciente durante a noite ...sempre muito intensas ...de início abrupto (min.) ou rápido (horas) Cefaleia 19 16) Atividade final: agora você é especialista em cefaleias. Analise os casos clínicos e descubra o diagnóstico. Sublinhe no texto três “pistas” que facilitaram o diagnóstico ajudando a diferenciar ou afastar outras causas. (Ajuda: um dos casos é sobre osteoartrite cervical com compressão radicular). J.P. Cunha, 52 anos, contador, queixa cefaleia há cerca de 10 dias. Esteve gripado há duas semanas, melhorou em três dias, mas depois piorou novamente. A dor é supraocular, tipo “pressão”, contínua, mas pior ao acordar pela manhã, melhora ao levantar, piora novamente ao longo do dia. Recentemente vem apresentando febre baixa, mal estar, hiporexia, rinorreia purulenta, halitose, redução do olfato, dor facial sobre a região malar à direita e tosse produtiva com expectoração purulenta. Diagnóstico: G. Dias, 25 anos, estudante, foi trazida ao pronto-atendimento em coma. A família relata que ela se queixava de cefaleia holocraniana intensa nos últimos dois dias, associada à febre alta, vômitos e confusão mental. Estava tratando um quadro de rino-sinusite bacteriana aguda com florais. Ao exame apresenta rigidez de nuca. Diagnóstico: S. Vasconcellos, 56 anos, do lar, veio se consultar com queixa de cefaleia holocraniana quase diária. A dor é do tipo “aperto”, pior ao acordar, mas tem se mantido estável desde o início do quadro, há dois meses. Neste período também apresenta insônia, hiporexia, sensação de falta de energia e dor variável nos braços e pernas. Durante a consulta chorou ao relatar que “não tem valor” para ninguém, não tem esperança de melhorar, tem medo de ser presa e andou pensando até em morrer. Diagnóstico: Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 20 A. Lamas, 64 anos, motorista de ônibus, veio se consultar trazidopela esposa. Foi ela quem respondeu às perguntas, pois ele estava um pouco confuso com as datas e a sequência dos fatos. Segundo a esposa, Lamas vinha se queixando de cefaleia temporal E há cerca de 2 meses, sempre pela manhã. Aos poucos ele foi se tornando “diferente”. Deixou de se interessar por futebol, começou a apresentar explosões de agressividade seguidas de choro, e perdeu a capacidade de trabalhar. A cefaleia se tornou holocraniana, mais intensa, durava o dia inteiro e Lamas passou a apresentar náuseas. Ontem sofreu uma convulsão. Ao exame apresenta midríase unilateral. Diagnóstico: B. Fischberg, 64 anos, motorista de táxi, veio se consultar trazido pela esposa. Foi ela quem respondeu às perguntas, pois ele estava um pouco confuso. Segundo a esposa, Fischberg é alcoólatra e no mês passado “bebeu até cair na rua”. Foi levado ao pronto- atendimento com uma lesão corto-contusa na região occipital e liberado após a sutura. Desde então vem se queixando de cefaleia holocraniana continua, progressiva. Diagnóstico: Confira na internet o caso 281 (Imagem da Semana/Faculdade de Medicina da UFMG) M. Valério, administrador de empresas, tem 49 anos. Veio se consultar com queixa de cefaleia. Relata que a dor se iniciou há cerca de dois anos e ocorre geralmente no final do mês (nunca nas férias), na época do balanço parcial da contabilidade da empresa onde trabalha. Neste período ele fica péssimo: cansado, estressado, sem concentração e nervoso, mas consegue trabalhar mesmo assim. Durante os episódios de cefaleia fica intolerante ao barulho e claridade, mas nega náuseas e vômitos. A dor é leve a moderada, tipo “aperto”, holocraniana, mais intensa na nuca e região occipital (que ficam doloridas à palpação), e não se agrava com esforços do tipo “subir escadas”. Ele teme um “câncer no cérebro”, como ocorreu com seu tio há cerca de duas semanas. Ao exame físico, a pressão arterial está normal e você não encontrou nenhum sinal de qualquer doença. Diagnóstico: Cefaleia 21 J. Dirceu, 47 anos, político, apresenta cefaleia bitemporal leve, pulsátil, esporádica, há 6 meses. Não se agravou neste período, e não há outras queixas, sinais ou sintomas. Embora o paciente esteja bastante tranquilo, sua pressão arterial (medida várias vezes em repouso, em duas consultas) tem se mantido por volta de 190/115 mmHg. Diagnóstico: Z. Fernandes, 72 anos, pianista, queixa-se de cefaleia occipital persistente há cerca de 2 meses. A dor é quase diária, sem horário definido, não vem piorando, mas é agravada pelos movimentos do pescoço. A paciente apresenta também dor cervical, limitação da flexão lateral e rotação do pescoço, paresia e parestesias no membro superior esquerdo. Já apresentou quadro semelhante no ano passado e os sintomas remitiram após a utilização de um colar cervical por alguns dias. Diagnóstico: J.M. Silva, 45 anos, do lar, sexo feminino, procura ambulatório geral com queixa de cefaleia em pontada bilateral desde os 17 anos, de intensidade fraca a moderada. No começo a dor era esporádica e melhorava com aspirina. Há cerca de cinco anos notou que as crises estavam tornando-se cada vez mais frequentes e há um ano tem dor de cabeça diariamente. Atualmente tenta controlar a dor com analgésicos contendo associações de dipirona e cafeína (chega a tomar até 8 comprimidos por dia), em média por 15 dias no mês, mantendo quadro de dor diária. A dor incomoda, mas geralmente não impede as atividades habituais da paciente, não se exacerbando com a atividade física. A dor nunca é acompanhada de fotofobia, fonofobia, náuseas ou vômitos. Acorda pela manhã já com a dor, que em geral melhora após a ingestão de café. Diagnóstico: Fim do GD Dor torácica 23 Dor torácica Rosália Morais Torres e Silvana Spíndola de Miranda A dor torácica é definida como sensação de dor ou desconforto na região do tórax. É uma manifestação sintomática frequente e complexa, uma vez que pode ser decorrente de causas cardíacas ou não cardíacas e envolve múltiplos mecanismos fisiopatológicos, manifestando-se aguda ou cronicamente, com expressão clínica de difícil distinção entre suas diferentes etiologias. A dor torácica representa um desafio diagnóstico em qualquer circunstância, pois, embora seja uma condição benigna na maioria dos casos, pode, também, ser manifestação inicial, às vezes única, de doenças mais graves. A investigação deve ser cuidadosa, e uma boa anamnese é essencial para diagnóstico correto e conduta adequada (Mário Lopez,1999). Competência: Diagnóstico diferencial da dor torácica Está é a bibliografia utilizada para este GD: Mario Lopez, 4a Ed., 1999. Semiologia Médica. As Bases do Diagnóstico Clínico. Tratado de Semiologia. Rose Lisboa, 1 a Ed., 2014. Tratado de Semiologia Médica. Lynn S Bicley. Bates Propedêutica Médica. 12 a Ed., 2018. Herlon Saraiva Martins. 13a Ed., 2019. Manual de emergência – abordagem prática. Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 24 CASO CLINICO 1 JCC, masculino, 59 anos, comerciante, compareceu pela manhã ao ambulatório referindo dor em pontada na região lateral do hemitórax direito, sem irradiação, piora com a inspiração profunda e quando tosse, há mais ou menos uma semana. Fez uso de medicamentos para dor com melhora (Dipirona 500 mg). No momento da consulta, relata o mesmo tipo de dor, tosse, expectoração amarelada, dispneia mMRC = 2. A dor independe do movimento do tronco, nega palpitação, dor na região precordial, náuseas, azia, pirose, náuseas, refluxo, dor ao deglutir ou dor abdominal. Também relata que ao comprimir o local não sente dor. Relata também febre termometrada (37,90C), adinamia e anorexia. Nega emagrecimento. Intensidade da dor 4/10. Na revisão de sistemas não há alterações. Tabagista de 20 anos/maço, hipertenso em uso de Losartana 50mg por dia. Não há outros relatos relevantes em relação a história pessoal, social e familiar. Exame físico: Sinais vitais: Frequência de pulso: 75 bpm; Frequência respiratória: 28 irpm PA: 110/70mmHg em ambos os braços Peso: 65 kg ; Altura: 1,80m ; IMC: 20.1; Temperatura: 37,80 C Saturação de O2 ambiente de 96%.; Circunferência abdominal: 95cm Mucosas coradas, hidratadas, acianóticas, anictéricas. Olhos, Nariz, Ouvido e Garganta sem quaisquer outras alterações. Pele e unhas: sem alterações. Tireoide não palpável, sem linfoadenopatias. Sem edemas; jugulares sem distensão; pulsos arteriais palpáveis e simétricos. Sem sopros carotídeos. Sistema respiratório: Inspeção: Discreta tiragem supra claviculares, Palpação: Expansibilidade diminuída em base do hemitórax direito, FTV aumentada em base do hemitórax direito. Percussão: Submacicez em base do hemitórax direito. Ausculta: Crepitações teleinspiratórias em hemitórax direito e atrito pleural. Sistema cardiovascular: Ritmo cardíaco regular, em dois tempos. Bulhas normorítmicas e normofonéticas. Sistema Digestivo: Abdômen plano, flácido, indolor a palpação superficial e profunda, sem hepatoesplenomegalia. HD: Pneumonia com acometimento pleural. Dor torácica 25 CASO CLINICO 2 HDE, de 48 anos, feminino, empregada doméstica, compareceu no ambulatório referindo dor em região retroesternal (a paciente aponta para o local da dor), constante, com irradiação para as costelas anteriores, há mais ou menos 3 meses, piora com o movimento (a dor compromete seu trabalho) e principalmente quando comprime entre o manúbrio, o corpo do esterno e nas primeiras articulações condrocostais. Sem edema nessa região, porém com hiperestesia. Piora com a inspiração profunda. Fez uso de um medicamento que não sabe o nome por alguns dias, com melhora e retorno da dor após terminar o medicamento. No momento da consulta, relata o mesmo tipo de dor. Nega tosse, expectoração, dispneia. Nega palpitação,dor na região precordial, náuseas, azia, pirose, náuseas, refluxo, dor ao deglutir, dor abdominal. Nega febre, adinamia, anorexia e emagrecimento. Na revisão de sistemas não há alterações. Não há relatos relevantes em relação a história pessoal, social e familiar. Exame físico: Sinais vitais: Frequência de pulso: 70 bpm. ; Frequência respiratória: 20 irpm PA: 120/60mmHg em ambos os braços Peso: 58 kg ; Altura: 1,68m; IMC: 20.5; Temperatura: 35,90 C Saturação de O2 ambiente de 98%.; Circunferência abdominal: 88 cm Mucosas coradas, hidratadas, acianóticas, anictéricas. Olhos, Nariz, Ouvido e Garganta sem quaisquer outras alterações. Pele e Unhas: sem alterações. Tireoide não palpável, sem linfoadenopatias. Sem edemas; jugulares sem distensão; pulsos arteriais palpáveis e simétricos. Sem sopros carotídeos. Dor importante quando comprime as regiões relatada acima. Sistema respiratório: Inspeção: Sem alterações Ausculta: Sons respiratórios normais Sistema cardiovascular: Ritmo cardíaco regular, em dois tempos. Bulhas normorítmicas e normofonéticas. Sistema Digestivo: Abdômen plano, flácido, indolor a palpação superficial e profunda, sem hepatoesplenomegalia. HD: Síndrome de Tietze (pericondrite) Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 26 Sobre cada caso clínico responda: 1) A qualidade da dor é somática ou visceral? Explique. 2) Descreva a intensidade da dor, localização, caráter (tipo) e duração. 3) Discuta o quadro abaixo: Dor torácica Extensão Qualidade Comentários Parietal muscular Bem localizada Profunda Sensibilidade local Relação com a postura Parietal nervosa Bem localizada Superficial urente Superficial profunda Hiperestesia intensa Irradiação frequente Parietal costal Bem localizada Superficial Ventilatório dependente Sensibilidade local Pleural Bem localizada Superficial picante Ventilatório dependente Hiperestesia ausente/peq Visceral Difusa interiorizada Profunda Mal definida Retroesternal – irradiação Reações emocionais Fonte: Mario Lopez, 1999. Dor torácica 27 CASO CLINICO 3 Um senhor de 59 anos chega à consulta no Ambulatório Bias Fortes relatando sua preocupação pelo fato de estar apresentando dor torácica em aperto quando pratica uma atividade física mais intensa, como correr, subir escadas, ou quando experimenta algum estresse emocional. Refere que é uma dor em aperto, localizada no precórdio. Às vezes, a dor é acompanhada de palpitações e um leve desconforto respiratório. Diz ainda que a dor se irradia para o braço esquerdo e mandíbula. Acompanhante relata que ele é diabético e hipertenso há 13 anos com fraca adesão às terapias medicamentosas. 4) É importante realizar uma anamnese cuidadosa e direcionada, que contemple todos os sintomas referidos pelo paciente. Diante deste quadro clínico, quais perguntas você faria para elucidar melhor os sintomas descritos pelo paciente? 5) Ao relatar a sua dor, o paciente coloca a mão no peito, com punho fechado, para demonstrar o tipo de dor que vem apresentando. Você valorizaria esse gesto? Justifique sua resposta. É de grande importância a distinção da etiologia da dor torácica, que, didaticamente, pode ser organizada em: cardíacas e não cardíacas. As dores de origem cardíaca podem ser isquêmicas ou não-isquêmicas. As dores de origem não-cardíaca mais comuns podem ser gastroesofágicas ou de causas pulmonares, musculoesqueléticas e psicogênicas. Observe o quadro a seguir: Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 28 Fonte: Manual de emergência – abordagem prática USP 6) Quais elementos deste quadro permitem que você estabeleça o diagnóstico da dor torácica apresentada pelo paciente? 7) A correta caracterização da dor inclui tipo, duração, localização, irradiação, fatores de melhora ou piora, sintomas associados. Quais perguntas adicionais você faria a este paciente durante a história da moléstia atual? 8) Outro aspecto importante consiste em investigar a história médica pregressa do paciente. Quais elementos da história pregressa devem ser investigados no caso deste paciente? 9) Qual o principal diagnóstico diferencial da dor torácica apresentada pelo paciente? Volte ao quadro 1 para se orientar melhor. Dor torácica 29 CASO CLINICO 4 Mulher de 52 anos de idade, obesa, procura o ambulatório com queixa de dor torácica retroesternal. Chega um pouco ansiosa à consulta, porque conversou com a vizinha, que tem “problema cardíaco” e esta opinou que seu problema devia ser devido a “veias entupidas no coração”. Durante a anamnese, relatou que durante um episódio de dor, a vizinha a orientou a usar um dos comprimidos de nitroglicerina sublingual que costuma usar quando tem sintomas parecidos. Como paciente experimentou melhora ao usar este medicamento, considera que seu problema é o mesmo de sua amiga e está bastante preocupada com a possibilidade de ter um problema cardíaco. A paciente relata que a dor é retroesternal, de média intensidade, aparece geralmente após a alimentação e persiste por mais de uma hora. A paciente relata apresentar pirose que melhora com uso de antiácidos. A dor não aumenta quando faz exercícios físicos, correr ou subir escadas. Seu professor, após anamnese e exame físico da paciente, chegou à hipótese diagnóstica de dor de origem esofágica, provavelmente por refluxo gastroesofágico. 10) Quais elementos da história clinica favoreceram este diagnóstico? 11) Como você explicaria a melhora da dor com a nitroglicerina sublingual? 12) Quais seriam as características de uma dor de origem esofágica? Fim do GD Dor abdominal 31 Dor abdominal Flávio Chaimowicz Jacob Moritz Blumberg (1873-1955), um cirurgião judeu alemão, pode ser lembrado por diversos motivos. Durante a I Guerra Mundial foi premiado com a Medalha da Cruz de Ferro por ter controlado uma epidemia de tifo em um campo de concentração, organizando a remoção dos piolhos de 10.000 soldados russos prisioneiros. Também foi ele quem inventou as luvas de borracha, precursoras das luvas de látex utilizadas nas cirurgias. Mas na medicina seu nome será lembrado para sempre por sua descrição do "Sinal de Blumberg" - dor intensa à descompressão súbita do "Ponto de McBurney" - indicando que o peritônio parietal adjacente ao apêndice está inflamado, e este está prestes a se romper. E onde fica tal ponto? Segundo o cirurgião americano Charles McBurney (1845– 1913), a 1/3 da distância entre a espinha ilíaca anterossuperior e a cicatriz umbilical (a localização mais comum do apêndice): "The seat of greatest pain, determined by the pressure of one finger, has been very exactly between an inch and a half and two inches from the anterior spinous process of the ilium on a straight line drawn from that process to the umbilicus". Outro cirurgião americano - Charles Dettie Aaron (1866-1951) - em seu artigo A sign indicative of chronic appendicitis publicado em 1913 no Journal of the American Medical Association, descreveu que dor ou desconforto epigástricos provocados pela compressão contínua do Ponto de McBurney são indicativos de apendicite em fase precoce, restrita à luz intestinal, ainda sem irritação peritoneal. Mas parece que em uma antiga aldeia gaulesa, muitos séculos antes, estes sinais já eram conhecidos. O chefe Abracourcix estava doente, queixando dor abdominal. O diagnóstico de apendicite foi confirmado pelo druida Panoramix através do Sinal de Blumberg. Obelix, que observara com atenção o exame físico realizado pelo druida, pediu a ele para tentar reproduzir a manobra. Veja como a dor só ocorre na descompressão súbita do ponto de McBurney... Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 32 Apresentação: Dor abdominal A Profa. Cláudia AlvesCouto colaborou com esta seção. Neste estudo dirigido vamos trabalhar os sinais e sintomas que devemos avaliar em pacientes com dor abdominal. Queixas de dor abdominal são bastante comuns em consultas eletivas e de urgência. Algumas vezes estamos diante de pacientes com dor aguda que requerem cirurgia imediata, outras vezes estamos diante de pacientes com queixas crônicas provocadas por problemas comuns, como a constipação intestinal. Por este motivo, há quem diga que o abdome "é uma caixinha de surpresas". Conhecendo bem as características clínicas das causas mais comuns e mais graves de dor abdominal, você obterá diagnósticos mais acurados e rápidos, empregando menos propedêutica complementar. Na grande maioria dos casos, o diagnóstico depende somente da anamnese e exame físico. Ao final da seção sobre dor abdominal, esperamos que você consiga: ● Explicar a diferença da abordagem de casos de dor aguda e crônica. ● Listar os mecanismos/estímulos que provocam dor, e exemplos. ● Descrever os principais atributos semiológicos para a investigação da dor. ● Citar sinais e sintomas associados, gerais e específicos, e sua importância. ● Analisar o quadro clínico de pacientes com dor e propor diagnósticos. Antes de começar este estudo dirigido, abra o capítulo Dor Abdominal, de Fernando Marcuz Silva, do livro Semiologia Clínica, de Isabela Benseñor4. As seções do estudo dirigido correspondem às seções do capítulo. Recomendamos que você leia cada seção do capítulo antes de começar a responder as perguntas de cada seção do estudo dirigido. . 4 Silva FM. Dor abdominal. In: Semiologia Clínica. Benseñor, IM; Atta, JA; Martins MA. Sarvier, 1ª Ed (2002). Parte IV, Capítulo 59. Dor abdominal 33 INTRODUÇÃO 1) Porque é importante diagnosticar com rapidez doenças que provocam dor abdominal aguda? Exemplifique citando uma causa. 2) Diante da um paciente com dor abdominal crônica, "rapidez" não importa tanto. Quais habilidades passas a ser mais importantes? Exemplifique. 3) Identifique o erro nesta frase em destaque. A frase é repetida, sem erro, logo no final da introdução. Qual a importância prática deste pensamento ? A Teoria de Darwin Charles Darwin (1809-1882), naturalista inglês, desenvolveu uma teoria evolutiva que é a base da moderna teoria sintética: a teoria da seleção natural. Segundo Darwin, os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência do que os menos adaptados, deixando um número maior de descendentes. Os organismos mais bem adaptados são, portanto, selecionados para aquele ambiente. Os indivíduos de uma mesma espécie apresentam variações em todos os caracteres, não sendo portanto idênticos entre si. Os organismos com variações vantajosas têm maiores chances de deixar descendentes. Como há transmissão de caracteres de pais para filhos, estes apresentam essas variações vantajosas. Assim, ao longo das gerações, a atuação da seleção natural sobre os indivíduos mantém ou melhora o grau de adaptação destes ao meio. Fonte: https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/bioselecaonatural2.php Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 34 ESTÍMULOS DA DOR ABDOMINAL 4) Baseando-se na Teoria da Seleção Natural de Darwin explique porque... "Cortar, apertar ou rasgar não causam dor em vísceras, porém a distensão e o estiramento são potentes estímulos aos receptores sensitivos viscerais". 5) Explique o mecanismo pelo qual estes processos provocam dor: Hemorragia interna do baço Diarreia aguda Apendicite aguda Isquemia mesentérica Câncer de pâncreas 6) Porque os pacientes com esquistossomose e volumosa hepatomegalia e/ou esplenomegalia, ou com uma volumosa neoplasia da vesícula biliar podem não sentir dor? CARACTERIZAÇÃO DA DOR ABDOMINAL 7) Duração: Um paciente de 56 anos compareceu ao serviço de urgência com dor abdominal iniciada a 4 horas. O plantonista, sobrecarregado, prescreveu um analgésico potente. O paciente melhorou e foi liberado para casa. Continue a escrever o caso, explicando como e porque o paciente morreu por um infarto agudo do miocárdio no dia seguinte. 8) Duração: Cite três exemplos de doenças crônicas que podem provocar crises agudas de dor abdominal. Dor abdominal 35 Você leu no capítulo de Benseñor que... ...muitas das dores crônicas se associam a quadros de benignidade que podem ter, como causa fisiopatológica, distúrbios funcionais de difícil determinação, nos quais a utilização de exames subsidiários, às vezes custosos e/ou invasivos, resulta em achados inespecíficos ou pouco alterados, não contribuindo para o diagnóstico nem para o bem-estar do paciente. Para esses casos, seria mais adequado um seguimento criterioso procurando identificar situações de alarme (sinais ou sintomas que denotam a gravidade da doença orgânica). Na presença de sinais de alarme, estaria indicada uma investigação... 9) Duração: Correlacione os sinais de alarme e doenças, exemplificando as situações nas quais é necessário aprofundar a investigação de pacientes com dor abdominal crônica. Constipação de início recente Neoplasia do estômago Esteatorreia Pancreatite crônica Hematoquezia Obstrução do ducto biliar na neoplasia do pâncreas Hematúria Doença inflamatória intestinal Icterícia Sangramento crônico de neoplasia colorretal Palidez, anemia Neoplasia colorretal distal Saciedade precoce Neoplasia dos rins 10) Tipo: Na fase inicial da apendicite aguda, ou da colecistite aguda, a víscera oca foi distendida rapidamente pelo processo inflamatório. Qual será o tipo de dor? Como será o quadro clínico? 11) Tipo: Na fase seguinte da apendicite aguda, ou da colecistite aguda, o processo inflamatório atinge o peritônio parietal adjacente. Qual será o tipo de dor? Como será o quadro clínico? 12) Tipo: Explique porque os pacientes com colecistite aguda podem sentir dor referida no ombro direito ou região interescapular. Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 36 13) Localização: Indique a localização dos seguintes processos: esofagite distal Gastrite erosiva por uso de anti- inflamatório Giardíase do jejuno proximal colecistite inicial colecistite avançada distensão da cápsula do baço por hemorragia passagem de cálculo pelo ureter proximal passagem de cálculo pelo ureter distal espasmo de esôfago muito intenso úlcera péptica do bulbo duodenal apendicite inicial apendicite avançada hepatite aguda pancreatite crônica torção do pedículo de um cisto do ovário gravidez tubária colite infecciosa distal distensão da bexiga por obstrução prostática. Dor abdominal 37 14) Localização: Henrique e Juliano compareceram ao ambulatório de urgência com queixa de dor no hipocôndrio direito (Henrique) e quadrante inferior direito (Juliano). Confira no quadro abaixo as possibilidades diagnósticas, de acordo com a localização. Sublinhe aquelas que costumam cursar com febre. 15) Localização: Se a dupla fosse Henrique e Juliana, quais seriam as possibilidades adicionais? Quais delas provocam febre? Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 38 16) Caráter: Descubra pelo menos duas pessoas conhecidas que já apresentaram um dos diagnósticos a seguir: doença do refluxo gastroesofágico, cólica renal, cólica menstrual, hepatite, apendicite e colecistite. Peça a eles para descreverem o caráter da dor. 17) Intensidade: Peça também que descrevam a intensidade. 18) Fatores de melhora e piora: Cite exemplos de fatores de melhora e piora que lhe parecem mais úteis para se investigar na anamnese de um paciente com dor abdominal. SINTOMAS E SINAIS ASSOCIADOSÀ DOR ABDOMINAL Os elementos mais importantes para a avaliação de pacientes com dor abdominal são os sinais e sintomas associados - gerais e específicos - que ocorrem na vigência da dor, ou que a precederam. Sinais e sintomas gerais indicam mais a gravidade do caso do que uma etiologia. 19) Qual a importância de se investigar anorexia e perda de peso na vigência de quadros de dor abdominal aguda? E nos casos de dor crônica? 20) Descreva três situações em que a presença de febre sugere a etiologia. Dor abdominal 39 21) Complete o quadro com mecanismos que podem provocar taquicardia e/ou hipotensão em pacientes com dor abdominal aguda, e causas possíveis. Mecanismo Causas possíveis Cólica nefrética Hemorragia _______________ ou ______________ Sequestro de líquido no interior da víscera ou ao seu redor Sepse provocada por. ________________ ou ______________ 22) Porque podem ocorrer náuseas precocemente no curso de doenças como torção do pedículo do cisto do ovário e obstrução do colédoco ou ureter, se estas estruturas não estão diretamente ligadas com o estômago e intestinos? 23) Em que momento do quadro clínico você esperaria observar vômitos em pacientes com dor abdominal provocada por uma úlcera péptica duodenal (sem perfuração) que provoca edema da mucosa e obstrução da luz? 24) E no caso de uma obstrução do sigmoide provocada por uma neoplasia? 25) Nas duas situações, quais seriam as características dos vômitos? 26) Que magnitude de distensão abdominal você esperaria encontrar? Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 40 Sinais e sintomas específicos gastrintestinais ou urinários tornam o mais específico o diagnóstico diferencial de pacientes com dor abdominal. 27) Sangramento digestivo: um paciente com dor abdominal epigástrica provavelmente provocada por úlcera péptica duodenal mencionou que as fezes estão escuras. O que pode estar acontecendo? Faça perguntas objetivas sobre as características das fezes para investigar esta alteração. 28) Sangramento digestivo: o que pensar de um paciente com anemia ferropriva que começa a cursar com dor abdominal? 29) Constipação e diarreia: a resposta não está no livro... Porque devemos - diante de um paciente com dor abdominal - preocupar mais com a "parada de eliminação de gases e fezes", e nem tanto com a "parada de eliminação de fezes"? 30) Constipação e diarreia: cite três doenças em que há parada da eliminação de fezes e dor abdominal. 31) Constipação e diarreia: cite três doenças em que há diarreia aguda e dor abdominal. 32) Constipação e diarreia: cite três doenças em que há diarreia crônica e dor abdominal. Dor abdominal 41 33) Geniturinários: Tente diagnosticar a causa da dor abdominal destas mulheres que apresentam também sintomas geniturinários. Faça uma rápida pesquisa de todos os termos que você não conhece: a. dor tipo cólica iniciada no dorso, migrou para o hipogástrio e agora acomete os grandes lábios, precedida por disúria (do tipo algúria), polaciúria, urgência urinária e hematúria macroscópica. b. mulher com vida sexual ativa apresenta corrimento vaginal, febre e dor na fossa ilíaca esquerda. c. mulher com vida sexual ativa e atraso menstrual apresenta episódio súbito de intensa dor abdominal na fossa ilíaca esquerda. d. mulher com vida sexual ativa apresenta sangramento vaginal e dor abdominal pélvica. e. mulher com vida sexual ativa apresenta dor pélvica tipo cólica sempre no mesmo período do ciclo menstrual. 34) Sintomas extra-abdominais: Que elementos podem ajudar a definir o diagnóstico de um paciente com dor abdominal que vem apresentando dispneia? 35) Sintomas extra-abdominais: Quando suspeitar doença coronariana (angina) em um paciente com dor abdominal? 36) Causas extra-abdominais: Analise o quadro 59.2. Escolha uma doença que ainda não foi comentada e descreva quando deveríamos desconfiar de que ela é a causa da dor abdominal de um paciente que veio se consultar. Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 42 DADOS DO EXAME FÍSICO 37) O exame físico pode sugerir a origem da dor em alguns casos. Sem conferir no livro, tente correlacionar as células abaixo, que estão embaralhadas. Achado Significado Exemplo Febre Hipovolemia Ulcera duodenal Palidez Afecção hepatobiliar Apendicite Hipotensão Perda de sangue Coledocolitíase Icterícia Infecção Pancreatite ABDOME AGUDO 38) Você está em um centro de saúde e um paciente chega com quadro de intensa dor abdominal iniciada há 3 horas. O que levaria você a pensar na possibilidade de um abdome agudo? Invente alguns sintomas, e um qualquer diagnóstico, para o seu paciente. DOR ABDOMINAL CRÔNICA 39) Mencione cinco elementos que nos fariam pensar em problemas psíquicos associados a dor abdominal funcional em um paciente de 45 anos com sintomas há dois anos. Dor abdominal 43 CASOS CLÍNICO DO LIVRO 40) Caso 1: Que elementos da história clínica nos fazem suspeitar muito de apendicite? Descubra que processo provocou a mudança do padrão de dor. 41) Caso 2: Porque a palavra "irradiada" foi utilizada incorretamente? Tente explicar todos os achados da anamnese. 42) Caso 3: Quais são as pistas da história clínica que sugerem uma doença gástrica? E o que nos leva a descartar uma "gastrite" ou "má digestão" como diagnostico do quadro atual? Qual seria o diagnóstico mais provável? 43) Caso 4: Você sabe o que é polaciúria? Por que o paciente tem náuseas e vômitos se o problema não é no aparelho digestivo? Por que o paciente tem palidez e sudorese se não há perda sanguínea nem processo infeccioso? Que achado do exame de urina vai apoiar o diagnóstico de cálculo migrando através do ureter? Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 44 44) Caso 5: Cite elementos da história que sugerem mais uma salpingite do que uma apendicite e acrescente elementos que você pesquisaria. Se você fosse o plantonista e pudesse escolher, você preferiria que estivesse acometida a trompa do lado direito ou a do lado esquerdo? 45) Caso 6: Que elementos te chamam mais atenção neste caso de dor por hérnia encarcerada? 46) Caso 7: Tente explicar cada um dos sintomas e sinais desta paciente. 47) Caso 8: Que características di quadro sugerem tratar-se de uma doença funcional (origem psíquica associada a mal funcionamento intestinal)? Dor abdominal 45 PERGUNTAS BÔNUS Se tiver tempo, responda a próxima pergunta. Se tiver coragem, responda a que vem logo depois dela. 48) Apresentaremos a seguir o quadro típico de doenças que causam dor abdominal. Tente identificar a causa da dor, dentre as listadas abaixo. Adenocarcinoma do estômago. Neoplasia do pâncreas Colecistite aguda Obstrução do intestino delgado Cólica biliar Pancreatite aguda Diverticulite Pancreatite crônica Isquemia mesentérica Úlcera péptica gastroduodenal Sublinhe no texto, com duas linhas, as CARACTERÍSTICAS DA DOR que forem muito sugestivas do diagnóstico. Veja o exemplo no primeiro quadro. Sublinhe também características da HISTÓRIA ou QUADRO CLÍNICO muito sugestivos do diagnóstico. Veja o exemplo no terceiro quadro. Paciente alcoólatra relata epigastralgia intensa, constante, refratária, que irradia para as costas. A dor vem ocorrendo a 2 meses, sempre desencadeada pela ingestão de alimentos. Por este motivo ele parou de se alimentar adequadamente e emagreceu 12 kg. Neste período ele observou que as fezes estão amareladas, brilhantes, e ficam flutuando no vaso sanitário. No Centro de Saúde, uma dosagem da glicemia realizada há 2 semanas revelou diabetes. O paciente prefere ficar todo o tempoassentado, inclinado para frente. Paciente de 45 anos queixa epigastralgia bem localizada, tipo “fome” e queimação, que o acorda à noite, há cerca de 2 semanas. O quadro ocorreu por 3 semanas no ano passado e cedeu espontaneamente. Melhora com a ingestão de alimentos e antiácidos, mas depois piora novamente. Associa com pirose, náusea, vômitos e eructações. Paciente de 73 anos apresentou ontem quadro de hiporexia que evoluiu para náuseas, vômitos e diarreia. Apresentava dor tipo cólica periumbilical, que cedeu. Agora iniciou quadro de febre baixa e irritação peritoneal na fossa ilíaca esquerda. No ano passado uma colonoscopia revelou que ela era portadora de doença diverticular difusa dos cólons. Paciente de 65 anos veio se consultar com queixa de perda de peso (há 3 meses), anorexia, náuseas, saciedade precoce e há 10 dias apresenta epigastralgia. Neste período a dor vem piorando progressivamente, não melhora com a ingestão de alimentos e antiácidos. Apresenta anemia ferropriva e pesquisa de sangue oculto nas fezes é positiva. Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 46 Paciente alcoólatra comparece ao serviço de urgência com queixa de epigastralgia muito intensa, constante, iniciada há 40 minutos, associada a vômitos, distensão abdominal, febre. A dor é mal localizada, em uma faixa no abdome superior, se irradia para as costas. O paciente se recusa a deitar para ser examinado e prefere ficar todo o tempo assentado, inclinado para frente. Paciente do sexo feminino, de 45 anos, obesa e multípara, apresenta quadro de dor tipo aperto, no hipocôndrio direito, que se irradia para a escápula e ombro direito. A dor é intensa, iniciou-se há 3 horas, e está associada a vômitos. A paciente acima não compareceu ao médico e a dor cedeu. Depois de 2 semanas a dor recidivou, tornou-se constante e piorava com a inspiração profunda. Passou a apresenta anorexia, náuseas, vômitos e febre. Paciente de 38 anos, já submetida a duas cirurgias abdominais (colecistite perfurada e apendicite) vem apresentando dor abdominal tipo cólica na região superior do abdome. Ao exame, o abdome está muito distendido, e o peristaltismo está exacerbado ("peristaltismo de luta"). Paciente relata epigastralgia constante, profunda, persistente e progressiva, que piora com o decúbito dorsal e se irradia para as costas, que vem ocorrendo há 2 meses. Neste período vem apresentando anorexia, emagrecimento e depressão. Ao exame você observou icterícia. Paciente de 80 anos, portador de doença aterosclerótica difusa (já sofreu infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral isquêmico e tem doença arterial periférica), vem apresentando dor abdominal difusa, mal localizada, uma hora depois do desjejum, do almoço e do jantar. A dor dura cerca de 3 horas. Dor abdominal 47 49) Agora trabalharemos com trechos do livro Goroll. Suas tarefas: - Ler com atenção cada trecho, traduzindo com um dicionário as palavras que parecerem mais relevantes. - Marcar no texto os sinais e sintomas mais importantes para a identificação da causa da dor. Veja o exemplo, ao longo do próximo parágrafo. - Preencher os espaços com os diagnósticos abaixo. Acute bladder outflow Chronic mesenteric insufficiency Acute cholecystitis Hepatic/splenic/ Acute ureteral blockade Myocardial infarction Abdominal aortic dissection/aneurysm Peptic ulcer disease/ duodenal Appendicitis and cholecystitis Pulmonary /pneumonia Biliary colic Peritoneal irritation causes a severe continuous pain because of the rich innervation of the parietal peritoneum. Focal injury results in well-localized discomfort that is described as sharp, aching, or burning. Spread of the irritant process leads to more-generalized abdominal pain. Severity is related to the nature of the irritant and the speed with which the noxious exposure occurs. Reflex spasm of the overlying abdominal wall musculature can produce involuntary guarding. Rebound tenderness is prominent on physical examination. Most important, the pain is accentuated by pressure changes in the peritoneum; thus, palpation, coughing, or movement may increase the pain, leading the patient to lie still, in contrast to the restlessness of patients with “colicky” pain. Appendicitis and cholecystitis. _________ ________ or rupture of __________ ________ _______produces severe acute abdominal pain that often radiates to the back or genitalia. Before dissection, aneurysms are usually silent, but physical examination may reveal an increase in aortic diameter (>3.0 cm). ______ ______ _______ obstruction presents as lower abdominal distention and suprapubic pain. Symptoms of prostatism may precede the episode. Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 48 Sudden obstruction of the cystic duct by a stone produces acute pain, sometimes referred to as______ ________. Unlike the cramping pain of acute intestinal obstruction, the pain of acute cystic duct obstruction is mostly steady, lasting more than 1 hour after sudden onset. _________ __________is associated with localized peritonitis in addition to obstruction. Pain is typically maximal in the right upper quadrant or epigastrium, radiates to the scapular region, and is accompanied by nausea, vomiting, and fever without jaundice; at times only mild epigastric discomfort is present. Murphy’s sign (inspiratory arrest in response to right upper quadrant palpation) may be seen, and right upper quadrant tenderness to percussion or pressure over the gallbladder is also a suggestive finding. Gallstones in the absence of ductal obstruction or gallbladder wall inflammation are often asymptomatic. Obstruction within the urinary tract can present as abdominal pain. _______ _______ ________by a stone is extremely uncomfortable. Onset is sudden and the pain is cramping, beginning in the back and flank and radiating into the lower abdomen and groin. ________ _________ _________ characteristically produces dull or aching postprandial pain (“abdominal angina”) localized to the epigastrium or mid abdomen when the increased oxygen demand of digesting a meal outpaces the available blood supply. Onset is usually within an hour of eating, peaking at the time of maximal oxygen demand; severity is proportional to the size and fat composition of the meal as well as the degree of obstruction to blood flow. Symptoms can persist for 2 to 3 hours. Dor abdominal 49 Although the exact mechanism of pain in _______ ______ ______ is incompletely understood, it is believed that acid inflaming submucosal tissue and nerves plays a major role. This hypothesis is supported by the observation that neutralization of acid often provides immediate relief. The pain pattern of __________ ulcer disease usually parallels the acid–peptic cycle. Unless perforation or penetration into the pancreas is present, the pain is mostly confined to the epigastrium. Patients use such terms as gnawing, aching, and burning to describe their discomfort. Radiation of pain into the back in patients with duodenal ulcer suggests perforation into the pancreas. Distention of the well-innervated capsule surrounding digestive organs is a potential source of constant, aching abdominal pain. __________capsular distention leading to right upper quadrant pain occurs in hepatitis, congestive heart failure, fatty infiltration (hepatic steatosis), and subcapsular hematoma. The pain of____________ capsular distention, as may occur secondary to blunt trauma (e.g., in a motor vehicle accident), localizes to the left upper quadrant. With subdiaphragmatic peritoneal irritation, the patient may experience pain radiating to the ipsilateral shoulder. With splenic trauma, a deceptive period of many hours may pass before peritoneal signs develop if a subcapsular hematoma temporarily retards the spilling ofblood into the peritoneum. Referred pain from a process originating in the chest is sometimes an etiology of abdominal complaints.___________ infarction and ___________ of the lower lobes are among the chest problems that may present as pain in the upper abdomen; at times, reflex muscle spasm accompanies the pain. Upper abdominal pain, nausea, and vomiting may be the principal manifestations of an acute inferior _________ ___________. However, symptoms and signs of cardiac or pulmonary disease accompany most intrathoracic sources of abdominal pain. Fim do GD Dor lombar 51 Dor lombar Flávio Chaimowicz Atlas foi o primeiro rei da mítica Atlântida. Pertencia à geração divina dos seres desproporcionados, violentos, monstruosos - encarnação das forças selvagens da natureza nascente, dos cataclismos iniciais, com que a terra se arrumava para poder receber, num regaço mais acalmado, a vida e a sua cúpula consciente: os humanos. Atlas, com outros titãs, forças do caos e da desordem, pretenderam alcançar o poder supremo, pelo que atacaram o Olimpo e combateram ferozmente Zeus e aliados: as energias do espírito, da ordem, do Cosmos. Zeus, triunfante, castigou seus inimigos - escravos da matéria e dos sentidos, inimigos da espiritualização harmonizadora - lançando- os no Tártaro, a região mais profunda do Mundo Inferior, para que de lá nunca fugissem. Reservou para Atlas, porém, uma pena especial: pô-lo a sustentar, nos ombros e para sempre, os céus. Texto retirado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Atlas_(mitologia) Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 52 Apresentação: Lombalgia Doenças do sistema musculoesquelético (SME) como a lombalgia (“lumbago”) e artralgias são cada vez mais comuns na prática ambulatorial, são importantes causas de absenteísmo e geram enormes custos para o sistema de saúde. As causas deste fenômeno são, por um lado, a epidemia de obesidade associada à elevada prevalência de inatividade física dentre adultos, e por outro lado, o envelhecimento da população. Lumbago = dor lombar Este GD será baseado no seguinte texto: Bickley LS, Bates Propedêutica Médica, (Cap. Sistema musculoesquelético). Você também pode estudar sinais e sintomas do sistema locomotor no Tratado de Semiologia Médica da Prof. Rose Lisboa ou então o Cap. 61 (Lombalgia) de Isabela Benseñor . Ao final deste GD esperamos que você seja capaz de: ● Realizar uma anamnese que contemple os principais sintomas do SME. ● Iniciar a investigação de pacientes com queixa de lombalgia 1) Analise a introdução do Goroll sobre dor lombar. A maioria dos pacientes tem causas graves (metástases na coluna vertebral, infecção, fraturas) ou comuns (estiramento, degeneração discal, osteoartrite)? Back pain is the second-most-frequent complaint in primary care practice and one of the leading causes of disability. Most back pain is caused by musculoligamentous strain, degenerative disk disease, or facet arthritis and responds to symptomatic treatment. Disk disease is often responsible for recurring mild discomfort of the low back and episodes of severe back pain with sciatica. Occasionally, back pain may result from problems originating outside of the spinal axis. Serious underlying problems such as tumor, infection, or vertebral compression fracture must be kept in mind. Dor lombar 53 Lombalgia mecânica (lesão de músculos e/ou ligamentos) 2) Após retirar toda a neve da estrada, o rapaz da figura ao lado compareceu ao seu consultório com queixa de dor lombar na linha média. Ele sofreu a lesão musculo-ligamentosa descrita no texto do Goroll. Identifique o local da lesão na figura abaixo. Muscle fibers or distal ligamentous attachments of the paravertebral muscles may tear, usually at the iliac crest or lower lumbar/upper sacral region. Resultant bleeding and spasm cause local swelling and marked tenderness at the site of injury. The patient typically presents after a specific episode of bending, twisting, or lifting. The onset of pain in the lower lumbar area is immediate. Pain radiates across the low back, often to the buttock and upper thigh posteriorly. Radiation of pain into the lower leg is rare because usually no injury to the nerve roots has occurred. 3) Baseando-se nos textos, descreva os atributos da dor relatados pelo rapaz. Fatores desencadeantes: Cronologia (início da dor): Cronologia (duração): Irradiação: Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 54 Doença discal lombar e ciática 4) A Sra Érnia Dores Jacinto compareceu ao consultório com queixa de lombalgia. Sem nem examinar a paciente o médico disse que se tratava de um caso de ciática. Leia os trechos do Goroll e do Bates para responder às perguntas. Discogenic pain Injury, inflammation, weakening, and tear of the disk annulus may occur and lead to localized back pain (so-called discogenic pain). Pain receptors in the longitudinal ligaments probably mediate the recurring attacks of local back pain, which are nonradicular and most pronounced with prolonged sitting. Sciatica Eventually, the disk may become so weakened that it bulges circumferentially beyond the disk interspace. Compression and irritation of a lower lumbar or upper sacral nerve root may result, and the radicular symptoms of sciatica develop. Disk protrusion or extrusion is present in 95% of cases. It presents as sharp or burning pain radiating down the posterior or lateral aspect of the leg to the ankle or foot. The pain may be worsened by cough, Valsalva’s maneuver, or sneezing and it is often accompanied by paresthesias and numbness. Weakness may also develop in the areas supplied by the irritated nerve root. The clinical course may begin with a several-year history of recurring mild mid-low back pain related to minor back strain, with symptoms clearing spontaneously within a few days. Attacks typically increase in frequency and severity at intervals of several months to several years. Finally, an episode of persistent pain accompanied by sciatica develops, often triggered by a seemingly trivial stress (e.g., bending over in the shower to pick up the soap). 5) O médico ainda examinará a Sra. Érnia. Mas quais teriam sido os elementos da anamnese que o permitiram supor o diagnóstico de compressão radicular? Para facilitar, realçamos alguns dados em negrito no texto. 6) Esta crise de ciática poderia ter sido evitada com fisioterapia se o diagnóstico tivesse sido realizado alguns meses ou anos antes. Quais eram os sintomas naquela época? Dor lombar 55 7) Sra. Érnia informou que a dor e parestesias afetam as nádegas, a região posterior da coxa esquerda, a panturrilha, a região lateral do tornozelo e do pé e o 5o metatarso. Analise o texto e identifique qual raiz nervosa foi afetada. More than 95% of disk protrusions and extrusions occur at L-4 to L-5 or L-5 to S-1, with the L-5 and S-1 nerve roots affected, respectively. S-1 root irritation: pain, numbness, and paresthesias involve the buttock, posterior thigh, calf, lateral aspect of the ankle and foot, and lateral toes. Calf atrophy can occur, the ankle jerk can be diminished or absent, and plantar flexion weakness may be noted. L-5 root compression: pain radiates to the dorsum of the foot and great toe, and the only neurologic deficits may be extensor weakness of the great toe and numbness of the L-5 area on the dorsum of the foot at the base of the great toe. Caderno de Atividades - Para Continuar em Casa - CLM1 - 2022 56 8) Que alterações posturais você é capaz de identificar na foto dela? Dentre os fatores de risco listados acima pelo Bates (logo antes da pergunta 3), quais você identificou ou pode deduzir? Duranteo exame, o médico observou que ela apresentava escoliose para o lado direito, o lado não afetado (escoliose ciática), que piorava durante a flexão do tronco. Um sinal evidente do desvio também era o cotovelo direito mais afastado da linha média. A movimentação do tronco estava muito reduzida, e havia espasmo da musculatura paravertebral, com dolorimento sobre a coluna lombar. Quando ela se deitou na mesa de exame, ele elevou a perna esquerda, com o joelho estendido (teste de levantamento da perna estendida) e já à partir de 30o a manobra reproduziu a queixa de dor lombar e na perna. O médico sabia que, embora este sinal seja bastante sensível para identificar a ciática (presente em 90% dos casos ou mais), ele é pouco específico: até 75% dos casos positivos têm outras causas. Então ele elevou a perna do lado direito, não afetado (teste de levantamento da perna estendida cruzada) e a manobra também reproduziu a dor lombar e da perna afetada. Embora este achado esteja presente somente em 40% dos casos, ele é bastante específico da ciática (em cada 10 testes positivos, 9 são de ciática). 9) Leia novamente todas as perguntas e respostas deste GD e elabore no espaço abaixo um mini roteiro de anamnese e exame físico para avaliar pacientes com queixa de dor lombar. Fim do GD
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