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BRASIL: POR UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA
AUTOR(A): CARLA PONTES
A obra digna de análise é “A história da educação dos negros no Brasil” de organização dos professores Marcus Vinicius Fonseca e Surya Aaronovich Pombo de Barros do ano de 2016, com publicação pela Editora da Universidade Federal Fluminense (Eduff). O livro está dividido em apresentação, prefácio e pouco mais de 16 capítulos de autoria de diferentes profissionais da educação. Esta resenha se deterá ao capítulo “Trajetórias cruzadas e ação docente em luta por educação: André Rebouças (1838-1898), José do Patrocínio (1853-1905) e Manuel Querino (1851-1923)” localizado na sessão “Educação e a Abolição da Escravidão no Brasil” sendo a autora Alessandra Frota Martinez de Schueler. Neste artigo, os cursos de três educadores brasileiros negros em prol de um ensino que privilegiasse a todos em meio aos períodos anterior e posterior a dita “abolição” seriam os objetos de estudo primordiais. André, José e Manuel tiveram participações consideráveis nos âmbitos social e político em um cenário de grande pluralidade configurando-se esse um outro fator que os enquadraria em uma categoria enquanto intelectuais. As experiências por eles vivenciadas assim como os laços estabelecidos com base em suas sociabilidades abrem precedentes para a obtenção de perspectivas com relação às características, em especial do sistema educacional, de um Brasil pré e pós abolicionista.
Dentro do capítulo existem subdivisões para abordar cada um dos educadores da tríade mencionada, sendo “Educar o negro nos mais elevados princípios da ciência”: educação e reforma social em André Rebouças (1838-1898) o primeiro. Narrada por ele próprio através de seu diário, sua caminhada envolve "intercâmbios" em países da Europa contribuindo para a construção de uma visão dos países desse continente enquanto modelos a serem seguidos mesmo com episódios sucintos de racismo para com Rebouças. Outro aspecto ligado a seus relatos é o cunho liberalista, que de forma sintética seria uma forma de pensamento caracterizada por certo individualismo e um combate às coerções estatais. A educação seria o elemento que André considera “o alfa de toda reforma (...)” (REBOUÇAS, 1988, p. 284)) a nível social pois através dela a população negra obteria a possibilidade de crescimento no campo científico com vezes para o religioso. Apoiava um ensino que atingisse o povo brasileiro como um todo, proporcionando instrução desde o básico à prerrogativa de especializar e profissionalizar os estudantes, pertencentes ao rural e urbano, de modo a estarem aptos ao mercado de trabalho. 
Em seguida temos José do Patrocínio (1853-1905) com "A lei de 28 de setembro foi uma das santas emboscadas da liberdade”. Seus primeiros anos e sua inserção no aprendizado das letras permanece um mistério para os estudiosos, sendo sabida apenas sua dedicação a trabalhos voltados à subsistência, momento anterior ao seu ingresso no curso de Farmácia na Faculdade de Medicina em 1872. Como Rebouças e Querino, este último que veremos adiante, Patrocínio também tramitou pelos jornais escrevendo trabalhos voltados a tônica abolicionista, a normativa de 28 de setembro de 1871 também conhecida enquanto “Lei do Ventre Livre (LEI Nº 2.040, DE 28 DE SETEMBRO DE 1871) foi assinada pela Princesa Isabel e promulgada em 28 de setembro de 1871, considerando livre todos os filhos de mulheres escravas nascidos a partir de então.” e a difusão de um ensino efetivo e acessível aos brasileiros. Vale destacar que em meio as suas publicações nos periódicos evidenciou a ambivalência inerente à condição dos indivíduos ditos “libertos” e a atuação dos mesmos em uma realidade onde o regime escravista experimentava o declínio. Demonstrativo de sua atuação nos campos educacional e político em um mesmo período teríamos sua luta em proveito de uma reformulação da educação mirando também o campo do voto, uma vez que era um direito ainda no início do século XIX que não poderia ser exercido por todos sem distinção.
Por fim, há Manuel Querino (1851-1923) em “A vida pela arte e pelos ofícios” foi um pintor, “militar”, desenhista e educador baiano. Sua história de vida é marcada pela perda precoce dos pais e uma posterior espécie de adoção por um tutor que teria proporcionado a ele acesso a alfabetização e letramento. Como uma forma de ampliar suas relações sociais fez parte de muitas organizações de caráter comunitário e viés tanto político, como social e religioso. Um obstinado defensor de causas como a integração a nível político das maiorias, chegou a fundar o “Partido Operário” em 1890 em meio ao período da República. Dedicou grande atenção ao fator dos negros vindos da África na formação da sociedade brasileira, aspecto presente nas obras que publicou. Outros temas com que trabalhou foram a busca pelo reconhecimento do proletariado, necessidade de investimento na educação e a importância das artes. Também foi incentivador de um ensino onde o artístico e a matemática seriam campos essenciais a todo indivíduo. 
Ao ler sobre as experiências e caminhos percorridos por Rebouças, Patrocínio e Querino surgiu, em um primeiro momento, a questão: o sistema educacional brasileiro seria capaz de promover transformações de natureza social? E ao finalizar a leitura a resposta dos educadores poderia ser um sonoro sim. Obviamente realizadas as devidas transformações, de acordo com o ponto de vista de cada um, que acabavam se encontrando numa referência ao que Ramon Grosfoguel (2016) coloca ainda no século XVI a respeito das violências na península ibérica que tinham como pressuposto a dizimação não somente de corpos, mas, principalmente de formas de epistemologias. Nesse sentido, ao queimar pessoas, expulsar povos ou travar guerras, os ibéricos buscavam uma “pureza de sangue” e, ao mesmo tempo, uma padronização do pensamento, nos moldes cristãos, heteronormativo, patriarcal e eurocêntrico. Essas experiências tornaram-se a base que passou a ser aplicada na colonização das Américas, por desdobramento, nas escolas e universidades que foram, gradualmente, sendo implementadas. Concluo que houveram avanços com relação a democratização do acesso à educação, um dos exemplos são as cotas ou ações afirmativas que foram criadas com o intuito de “(...) reparar necessidades de grupos que por algum motivo tiveram suas condições materiais historicamente prejudicadas.” (MUNANGA, 2003, p. 117), porém é necessário ir além. O fato desses educadores não serem tão “conhecidos” já demonstra o quanto o protagonismo negro ou o negro em cargos de alto escalão é algo estranho a ser incluido em uma história feita com base em hierarquias capitalistas brancas. 
Alessandra Frota Martinez de Schueler é Doutora em Educação (2002) e Mestre em História (1997) pela Universidade Federal Fluminense; Professora Associada (área de História da Educação) na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, instituição na qual atua nos cursos de Pedagogia e Licenciaturas. Nas últimas décadas, dedicou-se à pesquisa sobre a história da educação no Rio de Janeiro, privilegiando as questões referentes à constituição da cultura escolar, aos processos de escolarização e às práticas de educação formal e informal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GROSFOGUEL, Ramon. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Soc. Estado. vol. 31, n. 1, Brasília, jan/abr. 2016.
SCHUELER, Alessandra Frota Martinez de. Trajetórias cruzadas e ação docente em luta por uma educação: André Rebouças, José do Patrocínio e Manuel Querino. In: FONSECA, Marcus Vinicius; BARROS, Surya Aaronovich Pombo de (Orgs.). A história da educação dos negros no Brasil. Niterói, EdUFF, 2016, p. 191-216.
SITES E BLOGS
https://www.bn.gov.br/explore/curiosidades/28-setembro-1871-promulgada-lei-ventre-livre. Acesso em: 30 de dezembro de 2021. 
https://www.escavador.com/sobre/3937172/alessandra-frota-martinez-de-schueler. Acesso em 30 de dezembro de 2021.

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