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01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 1/17 REABILITAÇÃO DA MARCHA DO PACIENTE COM DOENÇA DE PARKINSON ALINE DE SOUZA PAGNUSSAT ANA FRANCISCA ROZIN KLEINER RITCHELE REDIVO MARCHESE MANUELA GALLI ■ INTRODUÇÃO O distúrbio motor mais comum dos núcleos da base é a doença de Parkinson (DP). Essa é uma condição altamente prevalente em todo o mundo, que restringe domínios de atividade e participação dos indivíduos acometidos. Embora o sistema dopaminérgico esteja, em grande parte, envolvido na fisiopatologia da DP, outros sistemas de neurotransmissores também apresentam alterações. Isso caracteriza a doença como multissistêmica e complexa. Além dos sintomas motores clássicos, sintomas chamados não motores também estão presentes na fisiopatologia da DP. Eles podem preceder o diagnóstico em vários anos e comprometer sobremaneira a qualidade de vida do paciente. A DP interfere tanto nos movimentos voluntários quanto nos automáticos. Na marcha, o paciente com DP pode apresentar distúrbios contínuos – redução da velocidade, do comprimento do passo e da passada; aumento da fase de duplo apoio e da cadência – e episódicos – congelamento ou freezing da marcha (sensação de estar preso ao chão, dificuldade em iniciar o passo). Ambos estão relacionados à maior incidência de quedas nessa população. Todas as manifestações da DP tendem a se agravar com o passar do tempo e com o envelhecimento. Nesse sentido, a abordagem da fisioterapia é essencial e altamente relevante. Além de oferecer orientações básicas para a manutenção da atividade física, a fisioterapia visa prevenir, estabilizar ou reduzir problemas relacionados ao movimento. No processo de reabilitação do paciente com DP, o fisioterapeuta deve prescrever exercícios cinesioterapêuticos. Também é importante fornecer de informações sobre a condição clínica, bem como instruções para evitar episódios de congelamento da marcha e o desenvolvimento de estratégias para sequências motoras complexas. Este artigo pretende apresentar ao leitor a fisiopatologia da DP, assim como seus sintomas motores e não motores. As características da marcha normal serão recapituladas, possibilitando a identificação de anormalidades. A partir do reconhecimento das alterações, o fisioterapeuta poderá prescrever, com base nas evidências atuais, o plano de tratamento de reabilitação. Informações adicionais sobre alternativas de medidas de resultados para aplicação clínica também serão fornecidas. ■ OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de reconhecer a fisiopatologia da DP, bem como seus sintomas motores e não motores; caracterizar a marcha normal; identificar as alterações da marcha do paciente com DP; aplicar estratégias de reabilitação da marcha de pacientes com DP. ■ ESQUEMA CONCEITUAL 1 2 1 35 4,6 4,6 (home) https://www.portalsecad.com.br/home 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 2/17 ■ DOENÇA DE PARKINSON: ASPECTOS GERAIS A DP é o distúrbio neurodegenerativo mais comum depois da doença de Alzheimer. Sua prevalência na América do Sul é de 31470 casos por 100 mil habitantes. QUADRO CLÍNICO A característica central da DP é a morte acentuada de neurônios dopaminérgicos na parte compacta da substância negra. Como resultado da deficiência de dopamina nos núcleos da base, ocorrem distúrbios de movimento que caracterizam os sintomas motores clássicos do paciente com DP. Entretanto, várias outras regiões encefálicas e sistemas de neurotransmissores estão envolvidos. Causada por uma interação entre fatores ambientais e genéticos, a DP inicia muito antes do momento em que seu diagnóstico clínico é possível. Na fase que precede o diagnóstico clínico, vários sintomas não motores são característicos. A Figura 1 apresenta os sintomas clínicos e o tempo de progressão da DP. Os sintomas da doença serão explicitados a seguir. DCSR: distúrbio comportamental do sono REM; SDE: sonolência diurna excessiva; CCL: comprometimento cognitivo leve. Figura 1 – Sintomas clínicos e tempo de progressão da DP. Fonte: Adaptada de Kalia e Lang (2015). O diagnóstico da DP ocorre com o início dos sintomas motores (tempo 0 em anos), mas pode ser precedido pela fase prémotora (período prodrômico), que pode durar 20 anos ou mais. A fase prémotora é caracterizada por sintomas não motores. Outras características não motoras irão se manifestar após o diagnóstico da doença e, com a progressão do quadro clínico, ocasionarão importante incapacidade. Sintomas motores axiais, como instabilidade postural, quedas e congelamento da marcha, tendem a ocorrer em estágios mais avançados da doença. As complicações em longo prazo da terapia medicamentosa, que incluem discinesia e psicose, também contribuem para a incapacidade. Sintomas motores Os sintomas motores clássicos são considerados os principais componentes da DP desde sua descrição inicial, por James Parkinson, no século XIX. Esses sinais incluem: bradicinesia; rigidez muscular; tremor de repouso; distúrbios de marcha e postura. A bradicinesia e a rigidez em membros superiores normalmente precedem as modificações motoras axiais e bilaterais de membros inferiores e as limitações na marcha. Um distúrbio da locomoção que também pode estar presente no paciente com DP, mais pronunciado em fases adiantadas da doença, é o congelamento da marcha. Classificação baseada em sintomas motores Embora não haja consenso sobre os subtipos da DP, parece haver dois grupos principais (Quadro 1). Quadro 1 CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA DE PARKINSON COM BASE EM SINTOMAS MOTORES DP com predomínio de tremor DP sem predomínio de tremor Há predomínio do tremor de repouso. Estão relativamente ausentes os demais sintomas motores. Não há predomínio do tremor de repouso. Inclui aqueles fenótipos descritos como acinéticorígidos e de distúrbios de instabilidade na marcha e na postura. Fonte: Jankovic e colaboradores (1990). Nos pacientes com DP com predomínio de tremor, a evolução dos sintomas tende a ser mais lenta. Sintomas não motores Os sintomas não motores são comuns na fase inicial da DP, podem preceder o diagnóstico clínico em vários anos e estão associados à reduzida percepção de qualidade de vida. Esses sintomas incluem: diminuição da acuidade olfativa; prejuízo cognitivo; depressão; desordens do sono; problemas gastrintestinais; dor; fadiga. 7,8 1 1 9 9 10 11 LEMBRAR 11 12 13 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 3/17 Distúrbio comportamental do sono REM A identificação inicial de sintomas não motores poderia representar uma forma de diagnóstico precoce da DP. Por exemplo, o DCSR é um sintoma não motor característico, que pode preceder o surgimento dos sintomas motores em pacientes com DP; mais de um terço dos pacientes com DP apresentam esse sintoma. Pacientes com diagnóstico de DP e com DCSR são mais propensos a manifestar as seguintes características: DP sem predomínio de tremor; pronunciada frequência de queda; altos índices de congelamento da marcha. Pacientes com DP com congelamento da marcha têm maior propensão a apresentar DCSR em comparação a pacientes com DP sem congelamento. Parece haver importante relação entre os distúrbios do sono e o prejuízo de sistemas de controle da marcha e da postura. Estudos recentes têm demonstrado que indivíduos com DCSR sem diagnóstico de DP possuem algum grau de dificuldade na inicialização do passo, de modo similar aos pacientes com DP e congelamento da marcha. Esse prejuízo é caracterizado por significativa redução da excursão posterior do centro de pressão (COP) durante as fases antecipatória e propulsiva da marcha, além de atividade eletromiográfica reduzida ou fracionada do músculo tibial anterior. Indivíduos com DCSR sem diagnóstico de DP podem apresentar alterações no ajuste postural antecipatório da marcha, fenômeno comumente observado em pacientes com DP.Os dados citados seriam indicativos de que as modificações patofisiológicas no controle do tônus muscular durante o sono REM estariam relacionadas a alterações na capacidade de combinar movimento e postura durante a inicialização da marcha. Sintomas em estágios avançados Nos estágios avançados da DP, os sintomas motores resistentes ao tratamento e as características não motoras são predominantes e incluem sintomas motores axiais, como: instabilidade postural; congelamento da marcha; quedas; disfagia; comprometimento da fala. Em aproximadamente 17 anos de evolução da doença, cerca de 80% dos pacientes apresentam congelamento da marcha e propensão a quedas. A demência ocorre em mais de 80% dos pacientes com mais de 20 anos de evolução da DP, e essa característica dificulta significativamente o processo de reabilitação. FISIOPATOLOGIA A característica fisiopatológica central da DP é a morte de neurônios dopaminérgicos na parte compacta da substância negra, que contém projeções para outros núcleos da base (putâmen e globo pálido). A perda de neurônios nessa região está presente mesmo nos estágios iniciais da DP e é considerada a causa dos sintomas motores, em particular a bradicinesia e a rigidez. Também ocorre comprometimento do sistema colinérgico, com morte de neurônios que utilizam a acetilcolina como neurotransmissor no núcleo pedunculopontino (NPP). Na DP, a perda da dopamina na via direta dos núcleos da base reduz a atividade nas áreas motoras do córtex cerebral, dificultando os movimentos voluntários. Por outro lado, a morte das células pedunculopontinas, associada à maior inibição do NPP, desinibe os tratos reticuloespinal e vestibuloespinal, ocasionando atividade excessiva da musculatura postural. Planejamento da atividade motora Durante o planejamento da atividade motora, o córtex motor é ativado. Ele envia projeções excitatórias ao putâmen, que faz conexões inibitórias com o globo pálido. O putâmen e o globo pálido ainda recebem conexões excitatórias da substância negra e do núcleo subtalâmico, respectivamente. O globo pálido, após a modulação exercida pelos impulsos inibitórios do putâmen, inibe a porção ventrolateral do tálamo. A região ventrolateral do tálamo envia projeções excitatórias para o córtex motor. Tais projeções são as responsáveis por permitir um nível ótimo de excitabilidade nos neurônios relacionados ao planejamento e à execução motora. O globo pálido ainda inibe o NPP, que mantém conexões inibitórias com as regiões encefálicas relacionadas aos tratos vestibuloespinal e reticuloespinal. Essa conexão inibitória é responsável pela modulação da atividade axial, proporcionando tônus postural ótimo para a execução das atividades diárias. Planejamento da atividade motora em pacientes com doença de Parkinson Na DP, com a morte dos neurônios dopaminérgicos da parte compacta da substância negra, o putâmen deixa de receber parte dos impulsos excitatórios. Como resultado, um putâmen menos excitado não inibe adequadamente o globo pálido. Assim, o globo pálido menos inibido exerce excessivamente sua função de inibir a região ventrolateral do tálamo e o NPP. O tálamo menos ativo deixa de modular excitatoriamente o córtex motor, enquanto o NPP menos ativo deixa de modular inibitoriamente as regiões encefálicas relacionadas aos tratos vestibuloespinal e reticuloespinal. Os resultados do excesso na atividade inibitória do globo pálido no córtex e no NPP são a dificuldade em inicializar os movimentos voluntários (bradicinesia) e a rigidez da musculatura axial, respectivamente. Na Figura 2, representase a alça motora dos núcleos de base em indivíduos com DP. Figura 2 – Representação esquemática da alça motora dos núcleos da base em pacientes com DP. São núcleos da base o putâmen, o globo pálido, a substância negra e o núcleo subtalâmico e o caudado (que não está representado). As setas pretas representam impulsos excitatórios, as setas vermelhas representam impulsos inibitórios, e o pontilhado sinaliza morte celular nas estruturas indicadas. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. Estudos de neuroimagem evidenciam que a morte de células dopaminérgicas é grave mesmo em estágios iniciais da DP. Contudo, o aumento na atividade de outros sistemas encefálicos seria responsável por “compensar” os efeitos da degeneração nigroestriatal. Uma vez que as funções de locomoção (como velocidade da marcha) não estão afetadas em estágios iniciais da DP, mesmo com acentuada perda dopaminérgica, a perda de funções da marcha poderia estar mais relacionada a outros sistemas, que não o dopaminérgico. 10 14 15 16 17,18 19 LEMBRAR 20 21 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 4/17 Estudos demonstram que pacientes com importante comprometimento do sistema colinérgico associado apresentam pior desempenho cognitivo e piores sintomas motores, incluindo menor velocidade da marcha. Em contrapartida, pacientes com DP e sistema colinérgico preservado não apresentam redução na velocidade da marcha comparados a indivíduos saudáveis. A variação do nível de comprometimento de sistemas de neurotransmissores em diferentes pacientes evidencia a característica multissistêmica da DP. Essa seria uma das razões pelas quais os pacientes podem se apresentar tão heterogêneos do ponto de vista clínico. 1. Assinale a alternativa que apresenta os sintomas motores clássicos da DP. A) Bradicinesia, rigidez muscular, tremor ao movimento, distúrbios de marcha e postura. B) Hipercinesia, rigidez muscular, tremor de repouso. C) Bradicinesia, rigidez muscular, tremor de repouso, distúrbios de marcha e postura. D) Bradicinesia, hipotonia, tremor de repouso, distúrbios de marcha e postura. Confira aqui a resposta 2. Sobre a DP com predomínio de tremor, assinale a alternativa correta. A) A condição inclui fenótipos descritos como acinéticorígidos. B) A evolução dos sintomas costuma ser mais rápida. C) A doença abrange fenótipos de distúrbios de instabilidade na marcha e na postura. D) Os demais sintomas motores estão relativamente ausentes. Confira aqui a resposta 3. Quais são os sintomas não motores de indivíduos acometidos pela DP? Confira aqui a resposta 4. Sobre o DCSR em pacientes com DP, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Costuma suceder o surgimento de sintomas motores. ( ) Está relacionado com certo grau de dificuldade na inicialização do passo. ( ) Está associado a menor propensão à apresentação de congelamento de marcha em comparação a pacientes sem DCSR. ( ) Está presente em mais de 30% dos pacientes com DP. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) F – V – V – F B) F – V – F – V C) V – F – F – V D) V – F – V – F Confira aqui a resposta 5. Quais são as cinco estruturas cerebrais que constituem os núcleos da base? Confira aqui a resposta 6. Sobre o esquema da alça motora dos núcleos da base, assinale a alternativa INCORRETA. A) As projeções excitatórias da região ventrolateral do tálamo para o córtex motor são responsáveis por permitir um nível ótimo de excitabilidade nos neurônios relacionados ao planejamento e à execução motora. B) O NPP mantém conexões inibitórias com as regiões encefálicas relacionadas aos tratos vestibuloespinal e reticuloespinal. C) O globo pálido, após a modulação exercida pelos impulsos inibitórios do putâmen, inibe a porção ventrolateral do tálamo. D) O córtex motor envia projeções excitatórias ao putâmen, que faz conexões excitatórias com o globo pálido. Confira aqui a resposta ■ DOENÇA DE PARKINSON: ALTERAÇÕES NA MARCHA Antes de abordar as alterações na marcha de paciente com DP, é essencial conhecer alguns aspectos fundamentais da marcha normal. MARCHA NORMAL O andar pode parecer uma tarefa simples, uma habilidade inata executada cotidianamente sem esforço algum, mas, ao invés disso, é uma tarefa motora extraordinariamente complexa. A marchanormal requer delicado equilíbrio na interação entre vários sistemas: os três principais sistemas sensoriais aferentes – visual, vestibular e proprioceptivo; o sistema locomotor eferente – incluindo nervos, músculos, ossos, articulações e tendões; a vigilância estrita de diversas estruturas do sistema nervoso central (SNC). O controle da marcha está intimamente ligado às demandas de atenção e a outros domínios cognitivos que regulam as estratégias de locomoção e deslocamento, como iniciar a caminhar, desviar de obstáculos e mudar a direção da marcha. Centro de massa O centro de massa de um corpo é o ponto em que toda sua massa se concentra. O objetivo da locomoção humana é a progressão de todo o corpo no espaço, e essa progressão é feita a partir do deslocamento do centro de massa. Assim, a análise da trajetória do centro de massa é imprescindível quando se deseja entender os mecanismos da marcha humana. O conhecimento de onde e como a força da gravidade atua sobre o corpo e seus segmentos é clinicamente importante para facilitar a locomoção, manter o equilíbrio dinâmico e prevenir quedas. 22 2 ATIVIDADE 23 24 25 2527 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 5/17 A marcha inicia com o deslocamento do centro de massa do corpo sobre o pé de apoio e a inclinação da pelve, para levantar e propulsionar a perna à frente. Essa primeira etapa é baseada em um préplanejamento e na execução de uma tarefa motora complexa. Ela é seguida pela organização motora automática, sincronizada e rítmica, levando à continuidade dos próximos passos. Executar essas estratégias com autonomia e coordenação auxilia o indivíduo a garantir/preservar o equilíbrio dinâmico e a minimizar o gasto energético. Ciclo da marcha Um ciclo da marcha é composto pelos eventos que ocorrem desde o primeiro toque do calcanhar de um dos membros inferiores até o segundo toque desse mesmo calcanhar mais adiante. A Figura 3 ilustra os eventos da marcha tendo como referência o membro inferior direito. Figura 3 – Ciclo da marcha. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. Por convenção, as fases do ciclo básico da marcha são denominadas fase de apoio e fase de balanço, conforme detalha o Quadro 2. Quadro 2 FASES DO CICLO DA MARCHA Descrição Subfases Fase de apoio (60% do ciclo total da marcha) O pé está em contato com o solo. Esse pé suporta o peso corporal e, ao mesmo tempo, possibilita a progressão do corpo. 1. Contato inicial O calcanhar toca o solo pela primeira vez. 2. Resposta à carga O peso é transferido para o pé que acabou de tocar o solo. 3. Apoio médio ou simples Apenas uma perna sustenta o peso de todo o corpo, enquanto a outra perna entra na fase de balanço. 4. Apoio terminal ou final O calcanhar do pé que está em contato com o chão começa a se elevar. Ao mesmo tempo, ocorre o contato inicial do membro inferior contralateral. 5. Prébalanço A perna de apoio transfere o peso para a perna contralateral e preparase para a fase de balanço. Fase de balanço (40% do ciclo total da marcha) O pé não está mais em contato com o solo. Ele se encontra em movimento para frente até o próximo contato inicial do calcanhar. 1. Balanço inicial (aceleração) O pé é elevado do solo. Na marcha normal, ocorrem a flexão rápida do joelho e a dorsiflexão do tornozelo, permitindo a propulsão. 2. Balanço médio O membro inferior na fase de balanço encontrase adjacente ao membro inferior que está sustentando peso, que se encontra na fase de apoio médio. 3. Balanço terminal ou final (desaceleração) O membro inferior na fase de balanço desacelera, preparandose para realizar o contato inicial com o solo. Fonte: Vaughan e colaboradores (1999). Quantificação da marcha A marcha pode ser quantificada a partir de parâmetros espaciais, temporais e espaçotemporais (Quadro 3). Essas variáveis são indicadoras do declínio funcional/cognitivo e podem predizer a instabilidade da marcha. Quadro 3 VARIÁVEIS UTILIZADAS PARA A QUANTIFICAÇÃO DA MARCHA Varáveis Descrição Espaciais Comprimento do passo − distância longitudinal entre o apoio do calcanhar de um membro no solo e o apoio do calcanhar contralateral no solo. Comprimento da passada − distância entre o apoio do calcanhar de um membro no solo e a volta do apoio desse mesmo calcanhar no solo. Largura do passo − distância entre os pés. Temporal Velocidade – calculada pela divisão da distância percorrida pelo tempo despendido. Espaçotemporal Cadência – medida pelo número de passos em um minuto. Fonte: Fasano e Bloem (2013). Relação entre equilíbrio e marcha O equilíbrio e as variáveis espaciais, temporais e espaçotemporais da marcha estão fortemente interconectados. O controle do tônus axial é necessário para manter a postura ereta, e as mudanças de peso laterais são necessárias para liberar a perna de balanço e iniciar um passo. A interdependência entre a marcha e o equilíbrio é refletida por várias observações clínicas. Distúrbios da marcha e deficiências de equilíbrio estão entre os sintomas mais incapacitantes da DP. DISTÚRBIOS DA MARCHA Os distúrbios da marcha na DP podem ser classificados como contínuos ou episódicos. Distúrbios contínuos 28 2527 25 25 24 24 24,29 29 30,31 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 6/17 Distúrbios contínuos da marcha são alterações no padrão de marcha características da neurodegeneração. O padrão da marcha do paciente com DP é altamente estereotipado e caracterizado. A Figura 4 ilustra o padrão típico da marcha parkinsoniana. Figura 4 – Padrão típico da marcha do paciente com DP. É possível notar o comprimento e a altura do passo reduzidos, a anteriorização do tronco e o tremor. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. O paciente com DP apresenta marcha lenta e arrastada, com o posicionamento da cabeça e do tronco à frente e o deslocamento anterior do centro de massa. Esse padrão pode resultar em um tipo de marcha denominado festinação. Festinação ou marcha festinada é o aumento progressivo na velocidade do andar, com diminuição no comprimento do passo e da passada, como se o indivíduo quisesse recuperar o equilíbrio. Os parâmetros espaçotemporais da marcha parkinsoniana são caracterizados pela redução do comprimento da passada e da velocidade da passada e pela maior duração da fase de duplo apoio e cadência. Já os parâmetros cinemáticos envolvem a redução da amplitude de movimento (ADM) para todas as articulações e em todos os planos de movimento. A Figura 5AL apresenta as curvas médias e os desvios padrão dos dados cinemáticos da marcha de 30 pacientes com DP (linha cinza) e 12 indivíduos hígidos (linha preta). Figura 5 – Curvas médias e desvios padrão dos dados cinemáticos da marcha de 30 pacientes com DP e 12 indivíduos hígidos, pareados por peso, idade e altura, para elevaçãodepressão do tronco (A); flexãoextensão do tronco (B); rotação internaexterna do tronco (C); elevaçãodepressão da pelve (D); flexãoextensão da pelve (E); rotação internaexterna da pelve (F); abduçãoadução do quadril (G); flexãoextensão do quadril (congelamento) (H); rotação internaexterna do quadril (I); flexãoextensão do joelho (J); plantardorsiflexão do tornozelo (K); progressão do tornozelo (L). A linha preta representa a média do grupo controle; a linha tracejada preta, o desvio padrão do grupo controle; a linha cinza, a média do grupo Parkinson; a linha tracejada cinza, o desvio padrão do grupo Parkinson. O eixo “% ciclo da marcha” representa as curvas normalizadas pelo percentual do ciclo da marcha. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. Como pode ser visto na Figura 5, o grupo de pacientes com DP demostra diminuição da ADM do tronco, quadril, joelho e tornozelo, em especial para o plano sagital (flexãoextensão). A redução do movimento do tronco resulta na diminuição do comprimento dos passos e na dissociação das cinturas pélvica e escapular. Todos esses problemas com a marcha se agravam com a perda de massa muscular (sarcopenia) que ocorrecom o envelhecimento. Distúrbios episódicos Os distúrbios episódicos da marcha parkinsoniana ocorrem ocasionalmente e de maneira intermitente, surgindo de forma aparentemente aleatória e inexplicável. Um exemplo desse tipo de distúrbio é o congelamento da marcha. Congelamento da marcha O congelamento da marcha é um dos distúrbios mais incapacitantes e frequentes na DP, pois limita a mobilidade, provoca quedas e reduz a qualidade de vida do paciente. Sua patogenia não é conhecida, e tratamentos empíricos têm baixa eficiência. O congelamento da marcha, especificamente, é uma breve ausência episódica ou redução marcada da progressão do pé após a intenção do andar, sendo caracterizado por perda súbita da capacidade de iniciar ou continuar a locomoção, particularmente ao girar ou passar por obstáculos estreitos. 30, 31 32 3337 38 38 30,31 5, 31,39 5,31,39 5,39 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 7/17 Fisiopatologia O congelamento da marcha é considerado uma característica independente, com fisiopatologia mais complexa do que os outros sintomas da DP e não correlacionada com a bradicinesia. A fisiopatologia do congelamento da marcha envolve, provavelmente, múltiplas regiões do cerebelo e do tronco encefálico responsáveis pela locomoção; entretanto, os mecanismos neurobiológicos ainda são mal compreendidos. Estudos de neuroimagem mostraram que pacientes com DP que apresentam congelamento durante a marcha possuem alterações estruturais e funcionais na área locomotora mesencefálica em comparação a pacientes com DP sem congelamento. Essas limitações podem tornarse particularmente evidentes durante eventos desafiadores, que exijam regulação precisa do comprimento do passo e do tempo de marcha, como virar ou iniciar uma caminhada, por exemplo. Tais alterações tendem a agravarse progressivamente à medida que a doença avança. Além disso, elas estão intimamente relacionadas com o risco de quedas, perda da independência e comprometimento da qualidade de vida dos pacientes. Diagnóstico A identificação do congelamento da marcha é um importante passo para o estabelecimento das condutas fisioterapêuticas em pacientes com DP. Entretanto, provocar o congelamento durante o exame clínico nem sempre é tarefa fácil. A atenção extra do paciente à tarefa da marcha durante o exame pode temporariamente suprimir seu aparecimento. Além disso, o fisioterapeuta deve ter em mente que o congelamento pode sofrer influência da medicação. Nesse sentido, o congelamento pode ser dos seguintes tipos: disparado pela medicação dopaminérgica; resistente à medicação (ocorrendo mesmo no estado on do medicamento); responsivo à medicação (ocorrendo apenas na fase off do medicamento). Em geral, perguntar ao paciente se ele já vivenciou o congelamento da marcha não é suficiente. Em vez disso, o fisioterapeuta deve perguntar se ele já experimentou a sensação de seus pés estarem colados ao chão ou de ele estar preso ao chão, como que por um magneto invisível. É essencial, ainda, identificar a frequência, a intensidade e a duração com que o congelamento ocorre. Na prática clínica, questionários sobre congelamento da marcha podem ser úteis. Para saber mais: O Novo Questionário de Congelamento da Marcha (NFOGQ, de New Freezing of Gait Questionnaire) é uma ferramenta acessível para a avaliação dessa condição incapacitante. Tratase de uma medida específica e reprodutível, que pode ser facilmente aplicada na avaliação clínica de pacientes com DP. A versão traduzida e adaptada para o português está disponível na Versão em Português da Diretriz Europeia de Fisioterapia para a Doença de Parkinson. 7. Assinale a alternativa que descreve a fase de apoio terminal do ciclo da marcha. A) O calcanhar do pé que está em contato com o chão começa a se elevar. Ao mesmo tempo, ocorre o contato inicial do membro inferior contralateral. B) Apenas uma perna sustenta o peso de todo o corpo, enquanto a outra entra na fase de balanço. C) A perna de apoio transfere o peso para a perna contralateral e preparase para a fase de balanço. D) O pé é elevado do solo. Na marcha normal, ocorre a flexão rápida do joelho e a dorsiflexão do tornozelo, permitindo a propulsão. Confira aqui a resposta 8. Quais são as variáveis espaciais e temporais da marcha? Confira aqui a resposta 9. Sobre as variáveis espaciais e temporais da marcha, assinale a alternativa correta. A) São indicadoras do declínio funcional/cognitivo e podem predizer a instabilidade da marcha. B) Não são alteradas na DP. C) Não se alteram com o envelhecimento. D) Não são preditoras de alterações do equilíbrio dinâmico. Confira aqui a resposta 10. Quais são os distúrbios da marcha parkinsoniana? Confira aqui a resposta 11. O que é festinação ou marcha festinada? Confira aqui a resposta 12. Analise as afirmativas sobre a fisiopatologia do congelamento da marcha, um tipo de distúrbio episódico da DP. I – Os estudos de neuroimagem mostraram que pacientes com DP que apresentam congelamento durante a marcha possuem alterações estruturais e funcionais na área locomotora mesencefálica em comparação a pacientes com DP sem congelamento. II – Os mecanismos neurobiológicos ainda não são bem compreendidos. III – As alterações na área locomotora mesencefálica em pacientes com DP com congelamento de marcha tendem a ser mais graves no início da doença. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III. D) A I, a II e a III. Confira aqui a resposta 13. Sobre o diagnóstico do congelamento de marcha, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) A atenção extra do paciente à tarefa da marcha durante o exame clínico pode temporariamente suprimir o aparecimento do congelamento. ( ) O congelamento responsivo à medicação é aquele que ocorre mesmo na fase on do medicamento. ( ) Provocar o congelamento durante o exame clínico é uma tarefa simples; assim, para identificar esse distúrbio, basta que o fisioterapeuta solicite que o paciente deambule e pergunte a ele se já vivenciou o congelamento da marcha. ( ) O fisioterapeuta deve identificar a frequência, a intensidade e a duração da ocorrência do congelamento. 40 39 41 39 5 3 3 42 44 4 ATIVIDADE 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 8/17 ( ) O fisioterapeuta deve identificar a frequência, a intensidade e a duração da ocorrência do congelamento. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) F – F – V – V B) V – V – F – F C) V – F – F – V D) F – V – V – F Confira aqui a resposta Risco de quedas As quedas são muito comuns em pacientes com DP. Estudos prospectivos demonstram que, geralmente, cinco anos após as primeiras manifestações clínicas, desenvolvese algum grau de limitação na mudança e na manutenção da posição corporal, com problemas de equilíbrio. Isso decorre da alteração progressiva dos reflexos posturais. Até 65% das quedas podem resultar em lesões, que são mais comuns no quadril e na pelve. Estimase que pacientes com DP tenham 2 a 4 vezes mais chances de fraturar o quadril ou a pelve do que seus pares de mesma idade. Além disso, em razão de sua condição clínica, eles tendem a ficar mais tempo hospitalizados e evoluir com pior prognóstico após uma queda. Os dois tipos de distúrbios da marcha (contínuos e episódicos) podem estar interconectados, o que contribui para o agravamento do risco de quedas em pacientes com DP. Quanto mais a doença progride, mais acentuados se tornam os distúrbios do andar e maior é a incidência de quedas. Dessa forma, as quedas constituem uma das principais queixas entre os pacientes com DP e seus cuidadores. Fatores relacionados Particularmente, distúrbios na marcha são fatores de risco para quedas pelos seguintes motivos: um passo alterado pode desestabilizar o centro de massa durante o andar; qualquer anomalia(distúrbio, lesão ou neurodegeneração) pode prejudicar regiões no SNC envolvidas tanto na marcha quanto na postura; anomalias no andar interferem na habilidade de correção postural rápida; alterações na marcha podem ser um epifenômeno secundário de distúrbios que afetam principalmente a estabilidade postural. O Quadro 4 resume alguns fatores relacionados ao risco de quedas em pacientes com DP. Quadro 4 FATORES QUE PREDISPÕEM PACIENTES COM DOENÇA DE PARKINSON A QUEDAS Fatores prejudiciais ao equilíbrio e à estabilidade postural Fatores diretamente relacionados às quedas Alterações de propriocepção Redução da flexibilidade de tronco Efeitos adversos da medicação levodopa Congelamento da marcha Redução da altura do passo Bradicinesia Alterações dos reflexos posturais Fonte: Konczak e colaboradores (2009). O congelamento da marcha é um dos principais fatores predisponentes a quedas em pacientes com DP. Isso ocorre porque, durante a marcha, o tronco mantémse em movimento, enquanto os pés ficam presos ao chão. Essa característica é agravada pelo fato de o congelamento, em geral, associarse a importantes problemas de equilíbrio nessa população. Além disso, o acometimento cognitivo também contribui para a propensão a quedas (principalmente por envolvimento do córtex préfrontal nas funções executivas). O papel da flexão do tronco na ocorrência de quedas ainda não está claro. Esse fator pode ser considerado deletério, por prejudicar o passo voluntário para manter o equilíbrio, ao mesmo tempo que é parte de uma resposta protetora para evitar a queda para trás. Assim, pacientes com DP que adotam ativamente uma postura ereta de tronco poderiam tornarse ainda mais instáveis. Consequências As quedas consistem em uma das consequências mais significativas da marcha parkinsoniana. Sua incidência na DP é um ciclo vicioso que resulta dos distúrbios contínuos e episódicos da marcha. Quase 70% dos pacientes com DP caem durante um ano de acompanhamento. Esse percentual representa mais do que o dobro da prevalência de quedas em idosos saudáveis. Além disso, tem sido relatado que cerca de 50% dos pacientes têm quedas recorrentes durante um ano. As quedas na população com DP podem resultar em lesões, fraturas de quadril, medo de cair e restrição de atividades, que, por sua vez, contribuem para institucionalização, dependência e mortalidade. Dificuldade em fazer curvas A dificuldade em fazer curvas durante o andar pode ser observada em pacientes com DP, mesmo em estágios iniciais da doença, e é uma das tarefas que pode disparar o congelamento e ocasionar quedas. Em indivíduos hígidos, o virar inicia com a rotação da cervical, seguida pela rotação do tronco e da pelve e pela abdução do pé do lado interno da curva. O virar ainda apresenta redução no comprimento do passo e prolongada fase de apoio no membro inferior interno e aumento da velocidade no balanço da perna oposta. Essa natureza assimétrica do virar demanda grande coordenação bilateral. Pacientes com DP precisam de mais tempo e mais passos para completar uma volta. Além desses prejuízos espaçotemporais, há atraso na rotação inicial da cervical, com deficitária dissociação entre as cinturas escapular e pélvica. Sabese ainda que pacientes que apresentam congelamento possuem maior assimetria durante a marcha (mesmo quando realizada em linha reta) do que aqueles sem congelamento. A natureza assimétrica e a necessidade de coordenação bilateral poderiam explicar, ao menos parcialmente, a ocorrência de congelamento no momento em que o paciente realiza movimentos de virar. Essas características devem ser trabalhadas durante o processo de reabilitação. ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO DA MARCHA O manejo da DP tradicionalmente é centrado na terapia farmacológica, com a levodopa sendo considerada padrãoouro de tratamento. Porém, mesmo com a terapêutica, os pacientes normalmente têm prejuízos em funções corporais, atividades diárias e participação. Por essa razão, as terapias de reabilitação por exercício têm sido consideradas coadjuvantes às terapias farmacológica ou neurocirúrgica. Várias modalidades de reabilitação vêm sendo estudadas para a reabilitação da marcha do paciente com DP. Em geral, todas visam maximizar a qualidade do movimento, a independência funcional e a forma física geral, bem como minimizar complicações secundárias. Esses objetivos são atingidos por meio de terapias pelo movimento e fornecimento de informações ao paciente referentes ao autocuidado. A fisioterapia na DP tem por objetivo prevenir, estabilizar ou reduzir problemas relacionados ao movimento. Além de prescrever exercícios cinesioterapêuticos durante a sessão, é necessário que o fisioterapeuta forneça ao paciente informações pertinentes acerca de sua condição clínica, promovendo, assim, a educação em saúde. Ademais, a prescrição de exercícios domiciliares e o treino de estratégias para sequências motoras complexas são fundamentais. 43 44 29 5, 29 45 46 4749 48 29 LEMBRAR 50,51 46 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 9/17 As intervenções que devem fazer parte da reabilitação da marcha do paciente com DP incluem os seguintes treinos: deslocarse para frente em ambiente aberto e fechado; trocar de direção, com parada e início da marcha; realizar marcha posterior; caminhar por passagens estreitas; sentarlevantar; subirdescer degrau. Modalidades versus desfechos Melhoras em desfechos relacionados à marcha são evidentes após diferentes intervenções de fisioterapia. Alguns desses desfechos são: equilíbrio; mobilidade funcional; velocidade; distância percorrida; congelamento; funções motoras. A Figura 6 apresenta evidências fortes e moderadas dos benefícios de diferentes tipos de intervenção para desfechos motores e de qualidade de vida. *Inclui exercícios direcionados a reabilitação da marcha, equilíbrio, transferências, capacidade física ou uma combinação dessas. ** Envolvem dividir a tarefa em componentes simples, que devem ser realizados em uma sequência definida e com controle consciente. Podemse fornecer pistas externas (por exemplo, visuais ou táteis, para sinalizar a direção do movimento, ou auditivas, na forma de comandos verbais, para indicar cada parte do movimento). Figura 6 – Modalidades de fisioterapia para desfechos motores e de qualidade de vida no tratamento do paciente com doença de Parkinson. Fonte: Adaptada de Capato e colaboradores (2015). Conduta diante do congelamento da marcha Quando o fisioterapeuta identifica que o congelamento está interferindo na mobilidade ou na qualidade de vida do paciente, ele deve elaborar um plano de tratamento com informações ao paciente (especialmente sobre risco de quedas, situações de risco para o surgimento do congelamento e possíveis medidas preventivas para evitálo). As mudanças de direção durante a marcha podem disparar o congelamento por sua natureza bilateral e assimétrica. Assim, indicase trabalhar os componentes motores do girar, como dissociação de cinturas e assimetria no comprimento do passo durante o giro, no apoio e na velocidade do balanço. O fisioterapeuta deve instruir o paciente sobre as condutas fisioterapêuticas para o tratamento do congelamento. Entre elas, destacamse as estratégias dedicadas a assistir o paciente na superação desses episódios, por exemplo: usar táticas conscientes de movimento, a fim de aumentar o comprimento do passo, mantendo o ritmo da passada; transferir o peso lateralmente; girar em grande amplitude quando deseja mudar a direção da marcha. Embora não exista evidência que comprove que a atividade física possa prevenir ou diminuir o congelamento da marcha, estimular o paciente a se manter ativo é essencial. O ciclismo, em ambientes externos ou em bicicleta estacionária, pode ser recomendado, uma vez que os pacientes raramente vivenciam congelamento durante a prática dessa atividade. Pacientes com DP são, em média,um terço menos ativos do que seus pares de mesma idade. Quando se identifica que o medo de se deslocar e cair está deixando o paciente menos ativo, deve ser elaborarada uma conduta fisioterapêutica condizente com essa situação. Conduta diante do risco de quedas Obviamente, o risco de quedas se eleva conforme o paciente aumenta seu sedentarismo e imobilidade; por isso, o acompanhamento sistemático de um fisioterapeuta é essencial. As limitações de mobilidade associadas ao medo de cair são: dificuldade para levantar da cadeira; dificuldade para virar; hesitação no início da marcha; festinação; perda de equilíbrio; andar arrastado. Esses pontos devem ser trabalhados pelo fisioterapeuta nos pacientes com DP e risco ou histórico de quedas. Vale destacar que grande parte das quedas ocorre em ambientes internos, ao levantar, ao inclinar para frente ou durante o desempenho simultâneo de duas tarefas (duplas tarefas). Pacientes com DP tendem a andar mais lentamente, tanto na direção anterior quanto na direção posterior. Eles apresentam menor comprimento da passada, menor tempo na 6 6 4 52,53 54 55 56 LEMBRAR 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 10/17 Pacientes com DP tendem a andar mais lentamente, tanto na direção anterior quanto na direção posterior. Eles apresentam menor comprimento da passada, menor tempo na fase de balanço e maior tempo na fase de duplo apoio. A marcha deve ser treinada também na direção posterior, a fim de manter a mobilidade funcional e facilitar a retomada da postura, evitando quedas. As duplas tarefas podem contribuir para a ocorrência de quedas, principalmente quando a tarefa adicional é cognitiva ou motora complexa. O desempenho simultâneo de duas tarefas pode levar ao congelamento da marcha ou à perda do equilíbrio quando o paciente está andando. Idosos saudáveis, quando submetidos a duplas tarefas (envolvendo componentes cognitivo e motor), tendem a sacrificar o desempenho cognitivo na tarefa (como responder a uma pergunta) para otimizar o desempenho na marcha e no equilíbrio. O mesmo não acontece em pacientes com DP, que tendem a aumentar os erros tanto nas tarefas cognitivas quanto nas tarefas motoras. O treino de duplas tarefas deve ser estimulado durante a sessão de fisioterapia. Todavia, uma vez que o fisioterapeuta verifique a dificuldade do paciente em realizálas, deve orientálo a evitar caminhar e conversar ou caminhar e carregar algum objeto, por exemplo. Além disso, tendo em vista as flutuações na condição motora relacionadas aos estágios on e off da medicação, o fisioterapeuta deve identificar e orientar o paciente sobre os melhores horários do dia para tarefas como tomar banho, vestirse ou mesmo realizar exercícios ao ar livre. Estimulação mecânica periférica Uma abordagem nova, alternativa e complementar ao tratamento da DP que tem trazido bons resultados na recuperação funcional da marcha é a estimulação mecânica periférica (EMP ou AMPS, de automated mechanical peripheral stimulation). A EMP é emitida por um dispositivo, conhecido como gôndola, e consiste na estimulação, por meio de pressão, de quatro pontos plantares (dois em cada pé, um na cabeça do hálux e outro na primeira articulação metatársica). Estudos utilizando a EMP em pacientes com DP mostraram os seguintes benefícios: melhora na bradicinesia; aumento da velocidade da marcha; aumento do comprimento do passo; aumento do comprimento da passada; melhora na estabilidade da marcha. Galli e colaboradores avaliaram um grupo de pacientes com DP, antes e após a EMP, a partir do teste Timed Up and Go (TUG), quantificado por unidades inerciais de medidas (IMUs, de inertial measurement units). Eles verificaram que o tratamento melhorou a mobilidade funcional desses pacientes. Kleiner e colaboradores também observaram mudanças na propulsão da marcha, gerando um padrão de locomoção mais estável, após a EMP. A EMP parece ser capaz de induzir um aumento da conectividade encefálica, conforme avaliado pela ressonância magnética funcional (fMRI, de functional magnetic resonance image) em estado de repouso (resting state fMRI). Essa melhora na conectividade encefálica envolve regiões relevantes para o controle motor de pacientes com DP na antecipação de movimento, bem como nas integrações visoespacial e sensóriomotora. Os efeitos citados, associados à melhora na habilidade de iniciar movimentos voluntários, sugerem que a EMP possa ter papel relevante na facilitação das vias compensatórias envolvidas na superação dos sintomas motores na DP. Recentemente, o grupo de pesquisa das autoras deste artigo investigou, ao longo de oito sessões, o efeito da EMP em um paciente com DP com as seguintes características: sexo masculino; 78 anos; pontuação 2,5 na Hoehn and Yahr Scale; pontuação 29 na Unified Parkinson’s Disease Rating Scale (UPDRS III); congelamento da marcha nos estágios on e off do medicamento. Os dados desse estudo também evidenciaram melhoras nos parâmetros espaçotemporais (velocidade da marcha [Figura 7A], comprimento da passada [Figura 7B] e cadência [Figura 7C]), mensurados por uma IMU (Gsensor). Figura 7 – Médias e desvios padrão antes e após cada uma das oito sessões de EMP: velocidade da marcha (A); comprimento da passada (B); cadência (C). Fonte: Arquivo de imagens das autoras. MÉTODOS PARA MEDIÇÃO DAS ALTERAÇÕES DA MARCHA 57 58 58 5961 61 59 60 62 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 11/17 MÉTODOS PARA MEDIÇÃO DAS ALTERAÇÕES DA MARCHA O tratamento eficaz da DP, especialmente para os distúrbios da marcha, requer ferramentas confiáveis que determinem a gravidade desses distúrbios e avaliem o sucesso da intervenção. Atualmente, a marcha parkinsoniana pode ser quantificada a partir de: análise multifatorial do movimento (3DAM); análise ecológica do movimento (AECOM), mais recente. Análise multifatorial do movimento A 3DAM é capaz de quantificar a marcha parkinsoniana de forma precisa e acurada a partir de técnicas como análise cinemática, análise dinâmica e eletromiografia (Quadro 5). Ou seja, tratase de uma análise multifatorial realizada a partir de equipamentos de última geração que pode avaliar, ao mesmo tempo, os seguintes aspectos: variáveis espaçotemporais; variáveis angulares; torque; potência articular; ativação muscular durante a marcha. Quadro 5 TÉCNICAS USADAS NA ANÁLISE MULTIFATORIAL DO MOVIMENTO Análise cinemática Análise dinâmica Eletromiografia Determina a posição, o deslocamento, a velocidade e a aceleração enquanto descritores das características cinemáticas dos segmentos e do próprio corpo humano. Tais parâmetros podem ser mensurados por intermédio de sistemas optoeletrônicos. É realizada a partir de plataformas de força, sistemas que permitem a quantificação das forças de reação do solo quando o pé está em contato com a sua superfície. A partir da medição das forças de reação do solo, em conjunto com a aquisição de dados cinemáticos pelos sistemas optoeletrônicos, é possível calcular os torques e as potências articulares. É um sistema que permite a aquisição do sinal elétrico da contração muscular por meio de eletrodos de superfície. Para garantir a altíssima acurácia e a precisão da 3DAM, ela deve ser realizada em ambiente controlado, como um laboratório de análise de movimento. A 3DAM é reconhecida como padrãoouro da análise de movimento; contudo, por conta dos altos custos de aquisição e manutenção, são raros os hospitais e centros de reabilitação que têm a oportunidade de utilizar essa tecnologia para quantificar a marcha de pacientes com DP. Análise ecológica do movimento Graças aos recentes avanços da tecnologia, atualmente o andar pode ser analisado de forma ecológica, ou seja, em ambientes que fazem parte do dia a dia do paciente. Isso facilita, por exemplo, o monitoramento dos estágios on e off do medicamento e a quantificação dos episódios de congelamento da marcha. A AECOMé realizada a partir de IMUs. Unidades inerciais de medidas IMUs são sensores ou dispositivos de monitoramento de movimento que têm por objetivo mensurar os efeitos da ação de forças que provocam uma mudança do estado inercial de sistemas sobre os quais essas forças são exercidas. Os IMUs são baseados na tecnologia de sistemas microeletromecânicos (MEMS, de microelectromechanical systems). Esses dispositivos podem ser de três tipos: acelerômetros, giroscópios e magnetômetros (Quadro 6). Quadro 6 DISPOSITIVOS DE UNIDADES INERCIAIS DE MEDIDAS Acelerômetros Giroscópios Magnetômetros São capazes de aferir a aceleração linear na direção de um eixo referencial. A aceleração é definida como a taxa de variação da velocidade no tempo, representada em metros por segundo ao quadrado (m/s ). São capazes de medir a velocidade angular em torno de um eixo de referência. A velocidade angular é definida como a taxa de variação da posição angular no tempo, representada em radianos por segundo (rad/s). São instrumentos utilizados para medir a intensidade, a direção e o sentido de campos magnéticos em sua proximidade. Os IMUs podem ser encontrados em fit trackers, smartphones (atualmente existem vários aplicativos disponíveis para análise de marcha e postura) e sistemas especialmente construídos para análise de movimento. Em especial, esses dois sistemas funcionam a partir de um IMU posicionado na cintura do paciente, cobrindo o espaço intervertebral entre L4 L5, que transmite os dados de aceleração e velocidade angular via bluetooth para um computador onde os dados são processados por um software dedicado. Um IMU, quando comparado com um laboratório de análise de movimento, realiza medidas menos acuradas e precisas; porém, é acessível a qualquer profissional da área da saúde, pois é um instrumento de baixo custo que permite a quantificação de diversos parâmetros da marcha parkinsoniana, como velocidade, comprimento da passada e cadência. Outra característica do IMU é sua flexibilidade em mensurar outros testes locomotores, como o TUG. Teste Timed Up and Go O TUG quantifica, em segundos, a mobilidade funcional, por meio do tempo que o paciente realiza a tarefa que envolve os seguintes passos: levantar de uma cadeira (apoio de aproximadamente 46cm de altura e braços de 65cm de altura); caminhar 3m; virar; voltar rumo à cadeira; sentar novamente. Geralmente, o tempo total para completar o teste TUG é mensurado por um cronômetro. Graças à tecnologia IMU, não só o tempo total pode ser quantificado como também cada uma das fases do teste. Isso permite verificar qual fase é a mais crítica para o paciente e se ele teve congelamento da marcha durante a execução da tarefa. A Figura 8 apresenta a execução do teste TUG em um idoso hígido (Figura 8A), em um paciente com DP sem congelamento da marcha (Figura 8B) e em um paciente com DP com congelamento da marcha (Figura 8C). A mensuração foi feita por um IMU. A partir dos dados de aceleração, o teste pôde ser avaliado em fases (cada uma mensurada em segundos): 1. levantar; 2. caminhada de ida; 3. primeira rotação; 4. caminhada de retorno; 5. rotação final; 6. sentar. 63,64 60,65 2 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 12/17 Figura 8 – Exemplo da quantificação do teste TUG por um IMU em um idoso sadio (A), um paciente com DP sem congelamento da marcha (B) e um paciente com DP com congelamento da marcha (C). A linha azul contínua representa a aceleração anteroposterior (m/s ), a linha vermelha tracejada indica a velocidade angular vertical (°/s) e a linha verde tracejada descreve a velocidade angular lateral (°/s). Fonte: Arquivo de imagens das autoras. Observase que, durante o congelamento da marcha, os movimentos cíclicos dos picos de aceleração são interrompidos, especialmente durante a primeira rotação e a caminhada de retorno (Figura 8C). O mesmo não é observado no paciente sem congelamento da marcha (Figura 8B) e no idoso hígido (Figura 8A). Também é interessante notar que, para os três pacientes, as fases de rotação final e sentar são mais críticas do que a fase de levantar da cadeira, o que indica uma estratégia mais conservadora nessa fase, a fim de evitar quedas. 14. Analise as afirmativas quanto às razões para os distúrbios na marcha serem fatores de risco para quedas. I – Um passo alterado pode desestabilizar o centro de massa durante o andar. II – Qualquer anomalia (distúrbio, lesão ou neurodegeneração) pode afetar regiões no SNC envolvidas tanto na marcha quanto na postura. III – Anomalias no andar interferem na habilidade de correção postural rápida. Qual(is) está(ão) correta(s)? A) Apenas a I. B) Apenas a I e a II. C) Apenas a I e a III. D) A I, a III e a III. Confira aqui a resposta 15. Sobre a ocorrência de quedas em pacientes com DP, assinale a alternativa correta. A) Pacientes com DP têm a mesma chance de fraturar o quadril e a pelve em relação a seus pares de mesma idade. B) A terapia medicamentosa não influencia o equilíbrio e a estabilidade postural do paciente. C) A flexão do tronco é muito prejudicial para essa população, pois afeta o passo voluntário para manter o equilíbrio; assim, os pacientes com DP devem sempre adotar uma postura ereta de tronco. D) Para evitar quedas, a marcha os pacientes com DP deve ser treinada também na direção posterior. Confira aqui a resposta 16. A dificuldade em fazer curvas durante o andar pode ser observada em pacientes com DP. Analise as afirmativas quanto às características do ato de virar. I – O paciente com DP precisa de mais tempo e mais passos para completar uma volta. II – A rotação inicial da cervical é antecipada, e a dissociação entre as cinturas escapular e pélvica aumentada. III – A assimetria durante a marcha junto com a necessidade de coordenação bilateral pode explicar a ocorrência do congelamento em movimentos de virar. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III. D) A I, a II e a III. Confira aqui a resposta 17. Qual é a principal abordagem terapêutica adotada na DP? A) Terapia neurocirúrgica. B) Terapia farmacológica. C) Terapia de reabilitação por exercício. D) Conduta expectante. Confira aqui a resposta 18. Analise as afirmativas sobre intervenções de fisioterapia que têm evidências de benefícios para o desfecho comprimento da passada. I – Estratégias para sequências motoras complexas. II – Tai chi chuan. III – Dança (tango). IV – Treino de marcha em esteira. 2 ATIVIDADE 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 13/17 Quais estão corretas? A) Apenas a I, a II e a III. B) Apenas a I, a II e a IV. C) Apenas a I, a III e a IV. D) Apenas a II, a III e a IV. Confira aqui a resposta 19. Analise as afirmativas sobre o desempenho de duplas tarefas. I – Idosos com DP tendem a errar mais tanto em tarefas cognitivas quanto em tarefas motoras quando são submetidos a duplas tarefas. II – Ao treinar as duplas tarefas em um paciente com DP, o fisioterapeuta, ao verificar alguma dificuldade no desempenho, deve orientálo a evitar caminhar e conversar ou caminhar e carregar algum objeto, por exemplo. III – Idosos saudáveis tendem a sacrificar o desempenho na marcha e no equilíbrio e priorizar o desempenho cognitivo quando são submetidos a duplas tarefas. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III. D) A I, a II e a III. Confira aqui a resposta 20. Cite três benefícios observados em estudos que utilizaram a EMP em pacientes com DP. Confira aqui a resposta 21. Sobre os métodos para medição das alterações da marcha parkinsoniana, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Os custos de aquisição e manutenção da 3DAM são altos, por isso ela é utilizada em poucos hospitais e centros de reabilitação. ( ) A AECOM permite analisar o andar em ambientes que fazem parte do dia a dia do paciente. ( ) A AECOM é reconhecida como padrãoouro da análise de movimento. ( ) A3DAM é útil para avaliar variáveis espaçotemporais, mas não variáveis angulares. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) V – V – F − F B) V – F – V − F C) F – V – F − V D) F – F – V − V Confira aqui a resposta 22. Sobre as técnicas usadas na 3DAM, correlacione as colunas. (1) Análise cinemática (2) Análise dinâmica (3) Eletromiografia ( ) Permite a aquisição do sinal elétrico da contração muscular por meio de eletrodos de superfície. ( ) Determina a posição, o deslocamento, a velocidade e a aceleração por meio de sistemas optoeletrônicos. ( ) É realizada a partir de plataformas de força, sistemas que permitem a quantificação das forças de reação do solo quando o pé está em contato com a sua superfície. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) 1 – 3 – 2 B) 3 – 2 – 1 C) 3 – 1 – 2 D) 1 – 2 – 3 Confira aqui a resposta 23. Sobre os IMUs e o TUG, assinale a alternativa correta. A) Os giroscópios são capazes de aferir a aceleração linear na direção de um eixo referencial. B) Os magnetômetros são intrumentos utilizados para medir a velocidade angular em torno de um eixo de referência. C) Um IMU, quando comparado com um laboratório de análise de movimento, realiza medidas mais acuradas e precisas. D) A tecnologia do IMU permite quantificar cada uma das fases do teste TUG. Confira aqui a resposta ■ CASO CLÍNICO Paciente do sexo masculino, 78 anos, 62,9kg, 1,59m, com pontuação 2,5 na Hoehn and Yahr Scale e pontuação 29 na UPDRS III, apresenta congelamento da marcha nos estágios on e off da medicação, com pontuação 17 no Questionário de Congelamento da Marcha (FOGQ, de Freezing of Gait Questionnaire). Para a avaliação do congelamento, foi utilizado o Stroop Test, que consiste em solicitar que o paciente, enquanto deambula, leia nomes de cores em placas mostradas alternadamente. Os nomes das cores são escritos em tons diferentes daqueles a eles relacionados (por exemplo, “amarelo” é escrito em vermelho). À avaliação, verificaramse os seguintes aspectos: redução da velocidade da marcha; diminuição do comprimento da passada; maior tempo no duplo apoio; aumento da cadência da marcha. O congelamento é evidente durante as duplas tarefas e no momento em que o paciente é solicitado a modificar a direção da marcha (parar, girar e iniciar novamente a locomoção). ATIVIDADE 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 14/17 24. Quais são os distúrbios contínuos e episódicos apresentados pelo paciente? Confira aqui a resposta 25. Que tipo de congelamento o paciente apresenta? Confira aqui a resposta 26. Quais estratégias gerais para reabilitação podem ser utilizadas neste caso? Confira aqui a resposta 27. Qual deve ser a abordagem fisioterapêutica diante da ocorrência de congelamento durante a marcha para frente e nos momentos de mudança de direção da marcha, como no caso do paciente do caso clínico? Confira aqui a resposta 28. Qual deve ser a abordagem para a questão do congelamento durante as duplas tarefas apresentada pelo paciente do caso clínico? Confira aqui a resposta ■ CONCLUSÃO A DP é um acometimento neurológico prevalente em todo o mundo, caracterizado por sintomas motores e não motores que resultam, em longo prazo, em comprometimento dos movimentos voluntários e automáticos. Entre os prejuízos motores, destacamse o prejuízo do controle postural e o surgimento de distúrbios contínuos e episódicos da marcha. Ambos devem receber especial atenção do fisioterapeuta quanto a avaliação, caracterização e prescrição das condutas terapêuticas. Caracterizamse como distúrbios contínuos as modificações espaçotemporais (diminuição da velocidade, do comprimento e da altura do passo, redução do comprimento da passada, aumento da fase de duplo apoio e redução do tempo da fase de apoio simples) e as alterações angulares (reduções nas ADMs articulares durante a marcha, que são visíveis, principalmente, no plano sagital). Como distúrbio episódico da DP, destacase o congelamento da marcha, que constitui uma das características mais incapacitantes da marcha e está altamente relacionado ao risco de quedas. O congelamento deve ser identificado e caracterizado, a fim de que o fisioterapeuta possa orientar o paciente sobre como superar sua ocorrência e minimizar seus potenciais riscos. Na reabilitação do indivíduo com DP, devemse utilizar estratégias que maximizem a qualidade do movimento, a independência funcional e a forma física geral, bem como minimizem complicações secundárias. Isso é feito por meio de fornecimento de informações ao paciente e treino de estratégias para sequências motoras complexas. Várias condutas têm sido propostas, e cabe ao fisioterapeuta identificar aquelas com maior evidência e mais pertinentes à realidade do indivíduo, visando à maximização dos ganhos e à garantia de adesão ao tratamento. ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: C Comentário: Os sintomas motores clássicos da DP são considerados os principais componentes da neuropatologia e incluem bradicinesia, rigidez muscular, tremor de repouso, distúrbios da marcha e da postura. Atividade 2 Resposta: D Comentário: A DP sem predomínio de tremor inclui os fenótipos descritos como acinéticorígidos e de desordens de instabilidade na marcha e na postura. Nos pacientes com DP com predomínio de tremor, a evolução dos sintomas tende a ser mais lenta. Atividade 3 Resposta: Diminuição da acuidade olfativa, prejuízo cognitivo, depressão, desordens do sono, problemas gastrintestinais, dor e fadiga são sintomas não motores de indivíduos com DP. Atividade 4 Resposta: B Comentário: O DCSR é um sintoma não motor característico que pode preceder o surgimento dos sintomas motores em pacientes com DP; mais de um terço dos pacientes com DP apresentam esse sintoma. Pacientes com diagnóstico de DP e com DCSR são mais propensos a apresentar altos índices de congelamento de marcha. Atividade 5 Resposta: São núcleos da base o putâmen, o globo pálido, a substância negra, o núcleo subtalâmico e o núcleo caudado. Atividade 6 Resposta: D Comentário: O córtex motor envia projeções excitatórias ao putâmen, que faz conexões inibitórias com o globo pálido. Atividade 7 Resposta: A Comentário: As fases do ciclo básico da marcha são denominadas fase de apoio e fase de balanço. Atividade 8 Resposta: As variáveis espaciais são o comprimento do passo – distância longitudinal entre o apoio do calcanhar de um membro no solo e o apoio do calcanhar contralateral no solo –, o comprimento da passada – distância entre o apoio do calcanhar de um membro no solo e a volta do apoio desse mesmo calcanhar no solo – e a largura do passo – distância entre os pés. A variável temporal é a velocidade, que é calculada pela divisão da distância percorrida pelo tempo despendido. A cadência é considerada uma variável espaçotemporal, pois é medida pelo número de passos em um minuto. Atividade 9 Resposta: A Comentário: A marcha pode ser quantificada a partir de parâmetros espaciais, temporais e espaçotemporais. Esses parâmetros indicam o declínio funcional/cognitivo e podem predizer a instabilidade da marcha. Atividade 10 Resposta: Os distúrbios da marcha na DP podem ser classificados como contínuos ou episódicos. Os distúrbios contínuos referemse a alterações no padrão de marcha característicos da neurodegeneração, como marcha lenta e arrastada e redução da ADM articular do tronco, da pelve, do quadril, do joelho e do tornozelo. Os distúrbios episódicos ocorrem ocasionalmente e de maneira intermitente, surgindo de forma aparentemente aleatória e inexplicável. Um exemplo desse tipo de distúrbio é o congelamento da marcha. 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 15/17 Atividade 11 Resposta: Marcha festinada é o aumento progressivo da velocidade e a diminuição da passada,como se o indivíduo quisesse recuperar o equilíbrio. Atividade 12 Resposta: A Comentário: As alterações na área locomotora mesencefálica em pacientes com DP com congelamento de marcha tendem a agravarse progressivamente à medida que a doença avança. Além disso, elas estão intimamente relacionadas com o risco de quedas, a perda da independência e o comprometimento da qualidade de vida dos pacientes. Atividade 13 Resposta: C Comentário: Provocar o congelamento durante o exame clínico nem sempre é uma tarefa fácil. A atenção extra do paciente à tarefa da marcha durante o exame pode temporariamente suprimir seu aparecimento. Além disso, em geral, perguntar ao paciente se ele já vivenciou o congelamento da marcha não é suficiente. Em vez disso, o fisioterapeuta deve perguntar se ele já experimentou a sensação de seus pés estarem colados ao chão ou de ele estar preso ao chão, como que por um magneto invisível. O congelamento responsivo à medicação é aquele que ocorre apenas na fase off do medicamento. Atividade 14 Resposta: D Comentário: O equilíbrio e as variáveis espaçotemporais da marcha estão fortemente interconectados. O controle do tônus axial é necessário para manter a postura ereta, e as mudanças de peso laterais são necessárias para liberar a perna de balanço e iniciar um passo. A interdependência entre a marcha e o equilíbrio é refletida por várias observações clínicas. Atividade 15 Resposta: D Comentário: Até 65% das quedas podem resultar em lesões, que são mais comuns no quadril e na pelve. Estimase que pacientes com DP tenham 2 a 4 vezes mais chance de fraturar o quadril ou a pelve do que seus pares de mesma idade. Um dos fatores que podem prejudicar o equilíbrio e a estabilidade postural são os efeitos adversos da medicação levodopa. O papel da flexão do tronco na predisposição a quedas ainda não está claro. Esse fator pode ser considerado deletério, por prejudicar o passo voluntário para manter o equilíbrio, ao mesmo tempo que é parte de uma resposta protetora para evitar a queda para trás. Assim, pacientes com DP que adotam ativamente uma postura ereta de tronco poderiam tornarse ainda mais instáveis. Pacientes com DP tendem a andar mais lentamente tanto na direção anterior quanto na direção posterior, apresentando menor comprimento da passada, menor tempo na fase de balanço e maior tempo na fase de duplo apoio. Sabese que a marcha deve ser também treinada na direção posterior, a fim de manter a manutenção da mobilidade funcional e facilitar a retomada da postura, evitando quedas. Atividade 16 Resposta: B Comentário: Pacientes com DP precisam de mais tempo e mais passos para completar uma volta. Além desses prejuízos espaçotemporais, há atraso na rotação inicial da cervical, com deficitária dissociação entre as cinturas escapular e pélvica. Pacientes que apresentam congelamento possuem maior assimetria durante a marcha (mesmo quando realizada em linha reta) do que aqueles sem congelamento. A natureza assimétrica e a necessidade de coordenação bilateral poderiam explicar, ao menos parcialmente, a ocorrência de congelamento no momento em que o paciente realiza movimentos de virar. Atividade 17 Resposta: B Comentário: O manejo da DP tradicionalmente é centrado na terapia farmacológica, com a levodopa sendo considerada o padrãoouro de tratamento. Porém, mesmo com a terapêutica, os pacientes normalmente têm prejuízos em funções corporais, atividades diárias e participação. Por essa razão, as terapias de reabilitação por exercício têm sido consideradas coadjuvantes às terapias farmacológica ou neurocirúrgica. Atividade 18 Resposta: B Comentário: Melhoras em desfechos relacionados à marcha são evidentes após diferentes intervenções de fisioterapia. Atividade 19 Resposta: A Comentário: Idosos saudáveis, quando submetidos a duplas tarefas (envolvendo componentes cognitivo e motor), tendem a sacrificar o desempenho cognitivo na tarefa (como responder a uma pergunta) para otimizar o desempenho na marcha e no equilíbrio. Atividade 20 Resposta: Melhora na bradicinesia; aumento da velocidade da marcha; aumento do comprimento do passo; aumento do comprimento da passada; melhora na estabilidade da marcha são benefícios observados em estudos que utilizaram a EMP em pacientes com DP. Atividade 21 Resposta: A Comentário: A 3DAM é realizada a partir de equipamentos de última geração e pode avaliar, ao mesmo tempo, os seguintes aspectos: variáveis espaçotemporais; variáveis angulares; torque; potência articular; ativação muscular durante a marcha. A 3DAM é reconhecida como o padrãoouro da análise de movimento. Porém, por conta dos altos custos de aquisição e manutenção, são raros os hospitais e centros de reabilitação que têm a oportunidade de utilizar essa tecnologia para quantificar a marcha de pacientes com DP. A AECOM pode ser realizada em ambientes que fazem parte do dia a dia do paciente, auxiliando o monitoramento dos estágios on e off do medicamento, bem como a quantificação dos episódios de congelamento da marcha, entre outros. Atividade 22 Resposta: C Atividade 23 Resposta: D Comentário: Um IMU, quando comparado com um laboratório de análise de movimento, realiza medidas menos acuradas e precisas. Porém, é acessível a qualquer profissional da área da saúde, pois é um instrumento de baixo custo que permite a quantificação de diversos parâmetros da marcha parkinsoniana, como velocidade, comprimento da passada e cadência. Os giroscópios são capazes de medir a velocidade angular em torno de um eixo de referência. Os magnetômetros são instrumentos utilizados para medir a intensidade, a direção e o sentido de campos magnéticos em sua proximidade. O TUG quantifica, em segundos, a mobilidade funcional, por meio do tempo que o paciente realiza a tarefa que envolve os seguintes passos: levantar de uma cadeira (apoio de aproximadamente 46cm de altura e braços de 65cm de altura); caminhar 3m; virar; voltar rumo à cadeira; sentar novamente. Atividade 24 Resposta: Os distúrbios contínuos são redução da velocidade da marcha; diminuição do comprimento da passada; maior tempo no duplo apoio; aumento da cadência da marcha. O distúrbio episódico é o congelamento da marcha. Atividade 25 Resposta: O paciente apresenta congelamento resistente à medicação (aquele que ocorre mesmo no estado on do medicamento). Atividade 26 Resposta: É necessário usar estratégias que maximizem a qualidade do movimento, a independência funcional e a forma física geral, bem como minimizem complicações secundárias. Isso é feito por meio de terapias pelo movimento e fornecimento de informações ao paciente referentes ao autocuidado. Além de prescrever exercícios cinesioterapêuticos durante a sessão de fisioterapia, é necessário que o fisioterapeuta ofereça ao paciente informações pertinentes acerca de sua condição clínica, promovendo, assim, a educação em saúde. Ademais, a prescrição de exercícios domiciliares e o treino de estratégias para sequências motoras complexas são fundamentais. Atividade 27 Resposta: As mudanças de direção durante a marcha podem disparar o congelamento por sua natureza bilateral e assimétrica. É necessário trabalhar os componentes motores do girar, como dissociação de cinturas e a assimetria no comprimento do passo durante o giro, no apoio e na velocidade do balanço. Além disso, é necessário instruir o paciente sobre estratégias para superação dos episódios de congelamento da marcha, por exemplo: usar táticas conscientes de movimento, a fim de aumentar o comprimento do passo, mantendo o ritmo da passada; transferir o peso lateralmente; fazer os giros em grande amplitude quando desejar mudar a direção da marcha. Atividade 28 Resposta: O treino de duplas tarefas deve ser estimulado durante a sessão de fisioterapia. Todavia, uma vez que o fisioterapeuta identifique a dificuldade do paciente em realizálas, deve orientálo a evitar caminhar econversar ou caminhar e carregar algum objeto, por exemplo. ■ REFERÊNCIAS 1. Kalia LV, Lang AE. Parkinson’s disease. Lancet. 2015 Aug;386(9996):896912. 2. Bohnen NI, Frey KA, Studenski S, Kotagal V, Koeppe RA, Scott PJ, et al. Gait speed in Parkinson disease correlates with cholinergic degeneration. Neurology. 2013 Oct;81(18):1611 6. 01/09/2017 Portal Secad https://www.portalsecad.com.br/artigo/5301 16/17 3. 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