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unidade 5

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Conteudista: Prof.ª Esp. Débora Cabrera Novaes
Revisão Textual: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro
 
Objetivos da Unidade:
Estudar as transformações históricas na educação no interior da Primeira e da
Segunda República;
Observar os processos críticos da história da educação brasileira;
Re�etir sobre a relevância das elaborações e das práticas de Anísio Teixeira;
Analisar os paradigmas estabelecidos pela pedagogia de Paulo Freire.
 Contextualização
 Material Teórico
 Material Complementar
 Referências
A Educação Brasileira no Século XX
Com as re�exões históricas desta Unidade, percebe-se como as práticas pedagógicas atuais
têm raízes em processos históricos distintos e por vezes contraditórios. Esse contato e
conexão com a história e seus caminhos propicia uma visão dinâmica (e, portanto,
transformável) do mundo.  
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 Contextualização
A Primeira República
Após a instauração do Império, em 1822, surgiram novas ações no campo da educação, como,
por exemplo, a criação do Colégio Pedro II e das escolas normais na cidade de Niterói, no Rio
de Janeiro, e em outros estados, como Bahia, Ceará e São Paulo.
Mesmo depois da Proclamação da República não houve grandes mudanças no pensamento
educacional, permanecendo certa formalidade no ensino. Porém, com a chegada de
imigrantes às fazendas de café e, posteriormente, com o processo de urbanização da cidade de
São Paulo, decorrente da migração dos trabalhadores que saíam dessas fazendas em direção à
cidade, em busca de novas oportunidades de trabalho no comércio e na indústria, o capital
estrangeiro se fez presente na sociedade, e, sob in�uência dos princípios do positivismo, de
Auguste Comte, o pensamento se voltou para o tecnicismo e a ciência.
In�uenciado pelos ideais positivistas, Benjamin Constant realizou uma reforma que
estabeleceu a prioridade dos estudos cientí�cos, sobrepondo-os aos estudos das letras. Essa
reforma introduziu as ciências físicas e naturais no currículo das classes elementares, nível de
estudo que hoje corresponde ao Ensino Fundamental I. Benjamin Constant nasceu em Paris,
em 1767, foi escritor, pensador e político e acreditava em um mundo moderno.
A Constituição de 1891 rea�rmou a descentralização do ensino, porém a educação elementar
ainda não recebeu a devida atenção, persistindo a dualidade. As reformas educacionais não
obtiveram sucesso em sua implementação, porque os senhores do café eram avessos às
renovações, principalmente no que se referia à educação.
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 Material Teórico
Em 1894 os cafeicultores elegeram seus próprios representantes políticos no maior polo
eleitoral do país, estabelecendo a união entre o maior produtor de leite, o estado de Minas
Gerais, e o maior produtor de café, o estado de São Paulo. Essa aliança resultou na “política do
café com leite”.
O planejamento da escola, nesse período, era direcionado por objetivos políticos, ou seja, o
ensino não era o mesmo para todos, e a alfabetização era incentivada com um único
propósito: “o voto”. O ensino dividia-se entre a educação pro�ssional, que tinha como alvo as
massas, e a educação cientí�ca, voltada somente à elite.
Alguns intelectuais brasileiros, como Rui Barbosa, Caetano de Campos e Rangel Pestana,
foram in�uenciados por correntes de pensamento que dominavam a Europa.
Rangel Pestana participou da criação da Escola do Povo, que oferecia ensino gratuito e público
a alunos de ambos os sexos. Fundou o Colégio Liceu de Artes e Ofícios. Durante o governo do
presidente Prudente de Morais, Rangel Pestana indicou Caetano de Campos para reorganizar o
ensino público em São Paulo.
Caetano de Campos assumiu esse encargo e criou a primeira Escola Normal de São Paulo,
inspirado nos métodos do educador americano John Dewey. In�uenciou outros intelectuais
brasileiros ao transmitir a visão americana a respeito do ensino.
A nova burguesia, que reivindicava uma educação acessível a todos, começou a ter, como
aliados, alguns pensadores que priorizavam uma educação mais acadêmica sobre a formação
técnica, pois a educação, defendida por Rangel Pestana e Caetano de Campos, necessitava de
reformas, uma vez que os índices de analfabetismo, na época, eram alarmantes.
Partindo desse contexto, alguns intelectuais, educadores e pro�ssionais ligados à educação
discutiam uma forma de reverter o quadro vigente. Como resultado dessas re�exões e sob a
in�uência de pensamentos mais liberais, como os de John Dewey, ganhou força a ideia de
uma educação pública e laica para todos, ou seja, procurava-se a democratização do ensino. Os
intelectuais envolvidos nesse movimento foram chamados de escolanovistas, pois queriam
uma escola nova, que contemplasse o ideal de uma educação sem caráter dualista, que não
estabelecesse a separação entre uma classe e outra por meio da educação.
Esses intelectuais tentaram reorganizar os sistemas educacionais e combater a educação
elitista, levando a igualdade do conhecimento para todos. Os escolanovistas �caram
conhecidos também como pioneiros da Educação Nova, pois produziram um documento
chamado Manifesto dos Pioneiros da Educação, redigido por Fernando de Azevedo, no qual
expressaram seu otimismo pedagógico e entusiasmo pela educação. Foi um marco histórico
na educação brasileira, porque continha um indicador de rumos a serem seguidos com o
objetivo de provocar sentimentos, atitudes e mobilizar para a ação. Tratava do direito do
indivíduo à educação integral e do dever do Estado de organizar os meios necessários para
efetivar esse direito por meio de um Plano Geral de Educação.
Alguns educadores merecem nossa atenção, pois trouxeram importantes contribuições para a
educação no Brasil. Vamos, a partir de agora, conhecer alguns deles e a contribuição que
deram para o desenvolvimento do processo educacional no país.
Entre eles está Anália Emília Franco, nome de solteira, que passou a se chamar, após o
casamento com Francisco Antônio Bastos, Anália Franco Bastos. 
Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons
 
A professora Anália Franco (sentada ao centro da primeira
�leira) junto às alunas e ao corpo docente do Liceu
Feminino da Associação Feminina Bene�cente e Instrutiva,
São Paulo, 1907. Acervo Digital da Biblioteca Nacional.
Nascida em Rezende (RJ), em 1856, mudou-se com os pais para São Paulo aos 5 anos de
idade. Desde jovem ajudava a mãe no magistério em diversos colégios. Foi educadora,
escritora, teatróloga e um exemplo de vocação bem direcionada e de completo êxito. Formou-
se como professora aos 15 anos, dedicou-se ao magistério público, fundou associações,
colégios e o liceu feminino. Após a Lei do Ventre Livre, chegou ao seu conhecimento que os
�lhos dos escravizados estavam destinados à "roda" da Santa Casa de Misericórdia, e que as
crianças mais velhas perambulavam como mendigos pela cidade. Diante desse fato, Anália
procurou auxílio para abrir uma escola ou um abrigo para essas crianças. Com ajuda da esposa
de um fazendeiro rico, conseguiu uma casa para sua escola, porém foi-lhe imposta a condição
de que crianças brancas e negras não compartilhassem o mesmo espaço. Achando uma
afronta, Anália não aceitou a casa que lhe foi oferecida gratuitamente e pagou aluguel para
inaugurar a primeira casa maternal.
Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou não. Sem
dinheiro para pagar o aluguel, foi pedir esmolas junto com as crianças, as quais chamava de
“meus alunos sem mães”. Sua fama, de�nitivamente, não era das melhores numa sociedade
formada por católicos, escravocratas e monarquistas.
A educadora fez parte de um grupo de abolicionistas e republicanos em São Paulo. Com a
missão de lutar a favor dos mais pobres, fundou uma revista, intitulada Álbum das Meninas, e
também um instituto educacional, a Associação Feminina Bene�cente e Instrutiva, no dia 17
de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em São Paulo. Criou ainda várias
escolas maternais e elementares. No dia 25 de janeiro de 1902, inaugurou o Liceu
Feminino,
que tinha por �nalidade instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com
um curso de dois anos para a formação das professoras das escolas maternais e outro, de três
anos, para professoras das escolas elementares. Anália Franco mantinha escolas reunidas, na
capital, e escolas isoladas, no interior, escolas maternais e creches, na capital e no Interior do
Estado, bibliotecas anexas às escolas, escolas pro�ssionais com cursos de arte tipográ�ca,
escrituração mercantil, prática de enfermagem e arte dentária, línguas (francês, italiano,
inglês e alemão), música, desenho, pintura, pedagogia, costura, bordados, �ores arti�ciais e
chapéus, num total de 37 instituições. Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso �nanceiro,
adquirir a Chácara Paraíso, que tinha 75 alqueires de terra e benfeitorias diversas, como um
velho solar, ocupado durante longos anos por uma das mais notáveis �guras da história do
Brasil: Diogo Antônio Feijó. Nessa chácara fundou Anália Franco a Colônia Regeneradora D.
Romualdo, sob direção feminina, aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, para
internar, ali, os garotos mais aptos para a lavoura e a horticultura. Recolheu, ainda, moças em
vulnerabilidade social, conseguindo, assim, regenerar centenas de mulheres.
Concomitantemente colaborou, de forma bastante ativa, com as revistas feministas, entre elas
A Mensageira.
Anália sofreu todo o preconceito da época, pois sua obra era voltada aos pobres, tinha como
meta a erradicação do analfabetismo e o combate à miséria e à pobreza. Morreu em 1919, na
cidade de São Paulo.
Outra �gura importantíssima para a educação brasileira é Maria Lacerda de Moura. Nasceu em
1887, na fazenda de Monte Alverne, na cidade de Manhuaçu, Minas Gerais. Durante quinze
anos dedicou-se aos estudos das práticas de psicologia, pedagogia e higiene infantil.
Participou da fundação da Liga Contra o Analfabetismo.
Figura 2 – Maria Lacerda de Moura
Fonte: Wikimedia Commons
Maria Lacerda de Moura era vista como anarquista, em virtude dos valores conservadores da
época. As mulheres, mesmo participando do mundo operário no século XIX e na primeira
metade do século XX, tinham uma posição subalterna, determinada por velhos preconceitos
associados a ideias acerca da fragilidade feminina, do papel maternal das mulheres e de sua
passividade. Contudo, muitas personagens femininas optaram por uma vida pessoal
independente, da qual o casamento e uma relação familiar mais tradicional ou até a
maternidade foram excluídos em nome da liberdade e da autonomia. Entre elas, Maria Lacerda
de Moura sobressai, não só pela sua personalidade, pela sua múltipla atividade de escritora e
conferencista, como também pelo destaque que chegou a ter no Brasil e em outros países da
América do Sul, e pela divulgação de seus textos em Portugal, na França e, principalmente, na
Espanha. Entre 1928 e 1937, a ativista libertária viveu numa comunidade em Guararema (SP),
no período mais intenso da sua atividade intelectual. Maria descreveu esse período como uma
época em que esteve livre de escolas, igrejas, dogmas, academias, muletas, prejuízos
governamentais, religiosos e sociais.
Maria Lacerda de Moura abordava assuntos como educação, direitos da mulher, amor livre,
combate ao fascismo e antimilitarismo, tornando-se conhecida não só no Brasil, mas também
no Uruguai e na Argentina, onde foi convidada por grupos anarquistas e de sindicatos locais.
Entre os seus numerosos livros destacam-se: Em torno da educação (1918); A mulher
moderna e o seu papel na sociedade atual (1923); Amai e não vos multipliqueis (1932); Han
Ryner e o amor plural (1928); e Fascismo: �lho dileto da Igreja e do Capital (s/d).
Atravessou fases de maior envolvimento social e de isolamento; de otimismo e de declarado
pessimismo. Escreveu sobre pedagogia e educação no jornal A Plebe, no estado de São Paulo.
Era uma ativista contra a exploração feminina, o preconceito e a injustiça, porém, ainda hoje,
é pouco conhecida, pois muito foi feito para que ela não fosse lembrada, uma vez que seu
pensamento liberal causava incômodo nos membros de uma sociedade completamente
conservadora.
No �m da vida, guardava em seu interior certo pessimismo, em virtude das divergências e
rupturas que, no �m da década de 20, colocavam anarquistas e comunistas em confronto, e
também devido à ameaçadora ascensão do fascismo. Após a fundação do Partido Comunista,
dirigentes desse partido �zeram várias tentativas para aliciá-la, mas Maria recusou-se a
abandonar sua visão de mundo, mantendo, até o �m da vida, o seu anarquismo individualista.
Morreu em 1945, na cidade do Rio de Janeiro.
Fernando de Azevedo, professor, educador, crítico, ensaísta e sociólogo, foi �gura importante
no cenário da educação. Nascido em São Gonçalo do Sapucaí (MG), em 1894, tornou-se
professor substituto de latim e psicologia no Ginásio do Estado, em Belo Horizonte, aos 22
anos; foi também professor de latim e literatura na Escola Normal de São Paulo; de sociologia
educacional no Instituto de Educação da Universidade de São Paulo; catedrático do
Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filoso�a, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo; professor emérito da referida faculdade da USP. Foi integrante do
movimento reformador da educação pública, na década de 20, que ganhou o país e foi
impulsionado pela Associação Brasileira de Educação, fundada em 1924. Entre 1927 e 1930,
promoveu uma ampla reforma educacional no Rio de Janeiro, capital da República, baseada na
proposta de extensão do ensino a todas as crianças em idade escolar, articulando todos os
níveis e modalidades de ensino (primário, técnico, pro�ssional, normal) e promovendo
adaptação da escola ao meio urbano, rural e marítimo. Fundou a biblioteca pedagógica
brasileira e, em 1932, redigiu e lançou, juntamente com outros 25 intelectuais, o Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova. Foi diretor-geral da Instrução Pública do Estado de São
Paulo, promulgando o Código de Educação do Estado de São Paulo (1934), e participou da
fundação da Universidade de São Paulo. Pode-se dizer que Fernando de Azevedo ajudou a
colocar a educação como prioridade na agenda nacional; sua atuação foi marcante na
divulgação do pensamento liberal em defesa da escola pública de ensino primário para todos.
Ao expor suas ideias educacionais, denunciou graves problemas que atingiam o ensino
brasileiro, como, por exemplo, o fato de o Governo Federal encarregar-se dos níveis de ensino
superior e secundário, que permaneciam acadêmicos e destinados a atender aos interesses da
elite, e a falta de um projeto que, de forma mais sistemática, organizasse a educação nacional.
Fernando de Azevedo foi um homem cujo pensamento voltava-se para múltiplos interesses
intelectuais, para quem nada do que fosse humano era estranho. Estudioso e amante dos
clássicos, nunca escondeu o seu fascínio pelas ciências modernas, que procurou incluir nos
currículos escolares. Nos anos 50, organizou a obra As ciências no Brasil. Entre seus 25
livros, a maioria na área da educação, há obras pioneiras no campo das ciências sociais, como:
Princípios de Sociologia (1938), Sociologia Educacional (1940) e Canaviais e engenhos na
vida política do Brasil (1948). Segundo o testemunho de Paschoal Lemme, Fernando de
Azevedo foi "uma das mais altas expressões da inteligência e da cultura do Brasil moderno",
destacando-se por três contribuições fundamentais: 
Poderíamos acrescentar uma quarta contribuição, que foi a sua importante participação no
processo de fundação da Universidade de São Paulo (1934), destacando-se como um lutador
incansável pela implementação do verdadeiro espírito universitário, plenamente identi�cado
com a Faculdade de Filoso�a, Ciências e Letras, como alma mater da Universidade. Fernando
de Azevedo morreu em São Paulo em 1974.
A Segunda República
O período de 1946 a 1964 foi um período de extremo desenvolvimento para o país,
com muitas
mudanças no aspecto econômico. Após o golpe militar, em 1964, o Brasil passou também por
uma transformação cultural e educacional.
Em 1948 foi apresentado à Câmara dos Deputados o projeto de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, elaborado por uma comissão de educadores de diversas tendências ideológicas, sob
a orientação de Lourenço Filho. Tal projeto idealizava maior autonomia na organização dos
sistemas de ensino, porém não foi aprovado pelo deputado Gustavo Capanema e, por
consequência, foi arquivado.
A reforma do ensino no antigo Distrito Federal (1927-1930): reforma essa que,
segundo as opiniões mais autorizadas, foi o marco inicial do processo de
modernização do ensino no Brasil;
O Manifesto dos pioneiros da educação nova (1932): documento único na história
da educação brasileira. [...] Subscrito por um grupo dos mais eminentes
educadores e intelectuais, mantém até hoje sua validade;
A obra A cultura brasileira: redigida inicialmente para servir de introdução ao
recenseamento de 1940, tornou-se de consulta obrigatória para quem deseja
conhecer a evolução da cultura nacional, em todos os seus aspectos.      
Em 1952, o projeto foi retomado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos
Deputados e a discussão sobre o assunto prolongou-se até 1956, quando foi encaminhado ao
plenário. Depois de tanta luta, o projeto foi efetivamente aprovado, tomando a forma de lei.
Nasceu, assim, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4.024/61).
Em 1959, Carlos Lacerda levantou uma discussão sobre o ensino público e o privado, dando
apoio ao ensino privado e colocando o Estado como responsável pelos recursos necessários
para a educação. Priorizava-se a igualdade entre os setores privado e público. Nesse período a
Igreja católica assumia a seguinte posição: a escola democrática não educa, apenas instrui.
Todo esse movimento signi�cava olhar a educação com interesse, visando à formação de um
povo mais culto e crítico, pois somente por meio da educação o povo pode deixar de ser
submisso a ações autoritárias. Por isso, existiam os movimentos, com interesses políticos,
contra a democratização no ensino; justamente para frear a educação para todos.
Nesse contexto, além do movimento intitulado Manifesto dos Pioneiros da Educação, os
pioneiros realizaram, em 1959, o Manifesto dos Educadores.
Quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi aprovada, depois de anos de
discussão, acabou não contemplando todas as mudanças necessárias, no plano educacional,
para acompanhar o desenvolvimento em processo no país; estava, portanto, ultrapassada.
O Conselho Federal da Educação exigia a criação de um Plano Nacional de Educação com
metas para oito anos. Esse plano destinou-se, especi�camente, à ampliação de recursos.
Passou por várias revisões e a última, em 1966, destinava recursos para a educação de
analfabetos com mais de 10 anos e para ginásios orientados para o trabalho. Após o
anteprojeto de 1937, a ideia do plano �cou só no papel, até 1962, quando foi instituído o
primeiro Plano Nacional de Educação, após a primeira LDBEN.
Todos esses desencontros aumentaram o descompasso entre a estrutura educacional e o
sistema econômico. De resto, podemos observar como a legislação sempre re�ete os
interesses apenas das classes representadas no poder. 
Após o golpe militar, o país entrou em um período ditatorial (1964-1985).
A política era embasada na indústria e dependia do capital estrangeiro; havia uma redução do
poder do Estado sobre a educação, em virtude do crescimento das instituições privadas. Esse
quadro mostrava os interesses do capital externo em primeiro plano, e as necessidades do
povo sempre eram colocadas em segundo plano. Essa visão já havia se iniciado,
anteriormente, no governo de Juscelino Kubitschek, que foi extremamente nacionalista.
Nesse período autoritário, o governo se sentia ameaçado por todos os que não concordavam
com a sua posição, e o comunismo era visto como uma das piores ameaças.
As décadas de 1950 e 1960 foram marcadas por uma cultura produzida por grupos sociais que
se manifestaram como elemento de transformação social. A educação, nesse período de
desenvolvimento, fundamentava-se na seguinte visão: o ensino deveria ser ministrado para a
sociedade de acordo com as exigências do mercado internacional.
Entre os anos de 1964 e 1971 foram assinados 12 MEC-USAID, acordos com agências
internacionais que serviam de diretrizes para o ensino superior e secundário. Tinham como
principal objetivo diagnosticar e solucionar os problemas da educação brasileira com base na
teoria do “capital humano” e numa visão empresarial.
A segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 5.692/71) foi instituída com o
objetivo de ajustar a educação brasileira ao modelo tecnicista e autoritário. O governo
divulgava para a sociedade civil a ideologia do progresso e a elevação do status através da
educação.
No governo de Médici (período mais repressivo da história brasileira), estabeleceu-se um
acordo entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a United States Agency for International
Development (USAID), priorizando a assistência técnica e a cooperação �nanceira para a
organização do sistema educacional brasileiro.
O ensino integrava as escolas primárias e médias. A formação do ensino médio e do ensino
técnico pro�ssional era voltada para o mercado de trabalho.
Por que existia essa formação tão enfatizada para o trabalho? Pelo simples fato de essa
con�guração favorecer os interesses do Estado, já que havia a necessidade de mão de obra
para abastecer as indústrias; porém era preciso cuidar para que não se abrissem perspectivas
de reivindicações salariais.
O Estado tinha o poder de decisão para interferir na formação da sociedade e, assim,
implantou um projeto educacional técnico-militar nas universidades, com cursos semestrais,
sistema de créditos, separação das unidades de pesquisa das pro�ssionalizantes, vestibular
uni�cado e classi�catório, ciclo básico, licenciaturas curtas, e instituiu o regime de pós-
graduação.
O ensino no Brasil, nesse período, organizava-se em níveis: primário, médio e superior. Pela
Lei 5.692/71, o ensino de nível primário agregou-se ao antigo ginásio e passou a constituir o
ensino de 1º grau; o ensino médio transformou-se em 2º grau.
Na parte diversi�cada dos currículos, incorporaram-se as disciplinas de Educação Física,
Educação Artística, Educação Moral e Cívica, Programa de Saúde e Ensino Religioso,
obrigatório para os estabelecimentos o�ciais e facultativos para os alunos. O Curso Supletivo
tinha como objetivo suprir a escolarização regular de adolescentes e adultos que não a
tivessem seguido ou concluído na idade apropriada. Já para o ensino técnico-pro�ssional, a
Lei 5.692/71 adotou uma orientação �exível, pela qual o aluno poderia optar por uma escola
pro�ssionalizante que também o preparasse para ingressar na universidade. Exemplos de
órgãos responsáveis pelo ensino pro�ssionalizante são o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial, conhecido como SENAI, e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, SENAC.
Três anos antes, por meio da Lei 5.540/68, tinham sido estabelecidas as normas de
organização e funcionamento do ensino superior.
Na década de 1960, ampliaram-se os movimentos que enfatizavam a educação de jovens e
adultos. Tomava corpo o processo para a consolidação de uma educação fora do padrão
básico.
Na década de 1950, a educação de jovens e adultos havia sido concebida como uma educação
de base, como desenvolvimento comunitário. Duas correntes compreendiam a educação de
jovens e adultos: a primeira, a educação libertadora, proposta por Paulo Freire; e a segunda, a
educação chamada de funcional, que visava à pro�ssionalização.
A história da educação de adultos no Brasil pode ser dividida em três períodos:
Alguns educadores marcaram essa fase da educação brasileira trazendo novos conceitos e
visões para a pedagogia.
Entre eles destaca-se, por sua grande importância não só para a
educação em geral, mas também para o ensino de jovens e adultos, Paulo Freire.
Foi alfabetizado no chão do quintal de sua casa, à sombra das mangueiras, com palavras do
seu mundo, não do mundo de seus pais.
Dizia que a sua alfabetização não foi enfadonha, porque partiu de palavras e frases ligadas à
sua experiência de vida, escritas com gravetos no chão de terra do quintal.
Tais experiências o marcaram, de modo que ele propunha a alfabetização de adultos voltada ao
mundo do adulto.
Em 1960, o prefeito da cidade do Recife, Miguel Arraes, organizou o Movimento de Cultura
Popular de Pernambuco (MCP), e Paulo Freire foi um dos intelectuais que se engajaram nesse
movimento. O MCP trabalhava com a educação popular das crianças e dos adultos e utilizava,
como ferramenta, o teatro popular. Foi através desse movimento que Paulo Freire realizou
suas primeiras experiências no campo da alfabetização de adultos.
De 1946 a 1958, por meio das campanhas chamadas cruzadas;
A partir de 1958, quando se realizou o 2º Congresso Nacional de Educação de
Adultos, com a participação de Paulo Freire, que levou à criação do Plano Nacional
de Alfabetização de Adultos, extinto pelo golpe militar de 1964;
O governo militar. Campanhas: Cruzadas do ABC (Ação Básica Cristã) e MOBRAL.
Com o golpe militar de 1964, Paulo passou a ser constantemente perseguido pelo governo, que
via em seu trabalho uma ameaça comunista e subversiva.
Paulo Freire foi preso, permanecendo por 70 dias na prisão, na cidade do Rio de Janeiro. Após
ser solto, �cou exilado na Bolívia, Chile, Estados Unidos e África, deixando, no Brasil, esposa e
�lhos. Retornou ao Brasil em 1980, com 58 anos. Mudou-se com sua família para São Paulo e,
a convite de Dom Paulo Evaristo Arns, foi ministrar aulas na PUC (Pontifícia Universidade
Católica).
De outubro de 1988 até maio de 1991, assumiu o cargo de secretário da Educação, no mandato
da Prefeita Luiza Erundina.
Em 1991, após sua saída da Secretaria da Educação, fundou, em São Paulo, o Instituto Paulo
Freire, para estender e elaborar suas ideias. O instituto mantém até hoje os arquivos do
educador, além de realizar numerosas atividades relacionadas ao legado do pensador e às
questões da educação brasileira e mundial.
Anísio Teixeira
Como salientado anteriormente, o movimento escolanovista foi fundamental para o processo
de desenvolvimento da educação brasileira, e um de seus maiores expoentes foi o pedagogo,
�lósofo e educador Anísio Teixeira (1900-1971), que nasceu na Bahia, formou-se em direito
no Rio de Janeiro e fez pós-graduação em Nova York, quando teve contato pessoal com John
Dewey e sua teoria pedagógica, que veio a in�uenciar de maneira decisiva Anísio e o
movimento escolanovista. 
Figura 3 – Anísio Teixeira
Fonte: Reprodução
A atuação de Anísio Teixeira na educação brasileira é vasta e profícua, abaixo seguem algumas
de suas contribuições:
Em 1924, como inspetor-geral de ensino da Bahia, promoveu uma reforma de
ensino estadual;
Em 1931, na Instrução Pública do Distrito Federal (então Rio de Janeiro),
promoveu um plano de integração entre as escolas primária, secundária e de
adultos, que gerou a criação de uma universidade municipal;
Em 1932, participou ativamente do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,
mas foi perseguido por suas posições políticas e mais tarde, em 1935, acabou
abdicando da presidência da ABE;
Em 1950, ajudou a criar o Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, que �cou
popularmente conhecido como Escola-Parque, que tinha as seguintes
Além da participação ativa em reformas educacionais, assinatura de manifestos e
envolvimento com políticas públicas, Anísio Teixeira se notabilizou como um importante
teórico da educação, com diversas publicações e re�exões instigantes para a educação
brasileira. Entre seus principais livros estão: Aspectos americanos da educação, Educação não
é privilégio, Pequena introdução à �loso�a da educação: a escola progressiva ou a
características:
- ARANHA, 2012, p. 587
Em 1959 foi signatário do Manifesto dos Educadores Mais uma Vez Convocados e
em 1961 participou das discussões da LDB;
Em 1961, juntamente com Darcy Ribeiro e outros, idealizou a Universidade de
Brasília (UNB), da qual chegou a ser reitor. Com o golpe de 1964 foi afastado e
aposentado compulsoriamente, seguindo, então, para os Estados Unidos para
lecionar em diversas universidades. Retorna depois ao Brasil e segue contribuindo
com os debates sobre educação, tornando-se um dos maiores nomes da educação
brasileira. 
“A ideia inicial era atender 4 mil alunos, visando a uma educação integral, que
incluía alimentação, higiene, socialização, preparação para o trabalho e para a
cidadania. Para tanto, projetou o funcionamento de cinco escolas: quatro delas,
chamadas Escolas-Classe, acolheriam cada uma mil alunos, para o ensino do
currículo escolar, e a quinta seria a Escola-Parque, onde, em turnos, se
revezariam os 4 mil alunos das Escolas-Classe para aulas de educação física,
atividades sociais e artísticas, cursos pro�ssionalizantes e envolvimento com a
comunidade.”
transformação da escola, Educação para democracia: introdução à administração escolar e
Educação é um direito.
No movimento Escola Nova, Anísio, in�uenciado pelas ideias de John Dewey, buscava outra
formulação para os horizontes educacionais, baseada na expressão “escola progressiva”, que,
segundo o próprio, seria: 
Em suas formulações, Anísio Teixeira reconhecia a necessidade de apropriação dos saberes
acumulados pela humanidade, contudo criticava a forma como as escolas tradicionais
conduzem esse processo. Considerava ultrapassado o método tradicional de ensino, baseado
na repetição e na memorização dos conteúdos, e na segmentação das disciplinas com
especialidades e fragmentações. Defendia a criação de condições para que o aprendizado fosse
integral e que sua articulação desenvolvesse uma atitude cientí�ca por parte dos estudantes.
Para ele, a criação de projetos, ações e atividades que gerem re�exões e engajamento são
fundamentais nesse processo de conquista de autonomia e responsabilidade do educando. 
Tinha, além disso, uma perspectiva democrática de ensino: o aprendizado não poderia ser
exclusividade de uma elite. A escola, para Anísio Teixeira, deveria ser um espaço que atendesse
- TEIXEIRA apud ARANHA, 2012, p. 589
“E progressiva por quê? Porque se destina a ser a escola de uma civilização em
mudança permanente (Kilpatrick) e porque, ela mesma, como essa civilização,
está trabalhada pelos instrumentos de uma ciência que ininterruptamente se
refaz. Com efeito, o que chamamos de ‘escola nova’ não é mais do que a escola
transformada, como se transformam todas as instituições humanas à medida
que lhes podemos aplicar conhecimentos mais precisos dos �ns e meios a que se
destinam.”
a todas as crianças e jovens, independentemente de sua classe social, e que, integralmente,
estimulasse o conhecimento de forma igualitária, �exível e variada, de acordo com os anseios
e as expectativas dos estudantes envolvidos no processo. Essa dimensão democrática e
integral das ideias de Anísio visava.
Anísio também desenvolveu re�exões importantes a respeito do ensino universitário, tendo
como base uma diretriz integradora e unitária. Consolidou-se como um dos mais importantes
expoentes da educação brasileira, tendo sonhado e lutado por uma sociedade mais justa e
igualitária, na qual o aprendizado não fosse um privilégio, como era então, e sim um direito.
Paulo Freire
Paulo Freire (1921-1997), recifense, foi um dos maiores educadores brasileiros de todos os
tempos. Suas práticas e re�exões ultrapassaram o nosso território, ganhando publicações e
sendo discutidas em todo o mundo. Seu trabalho é uma referência incontornável para a
educação contemporânea. A seguir uma síntese de sua trajetória: 
- ARANHA, 2012, p. 590
Em 1962, em Angicos no Rio Grande do Norte, começa suas experiências
educacionais com a alfabetização de trezentos trabalhadores do campo em
quarente e cinco dias. Esse processo gera notoriedade a Freire, que é convidado
“superar a tradição do dualismo escolar, que sempre destinou à elite a educação
acadêmica e aos pobres o ensino pro�ssional, geralmente de modo precoce,
antes que as crianças desse último segmento tivessem acesso aos bens
simbólicos da sua cultura, distorção que garante a reprodução das desigualdades
sociais.”
Figura 4 – Painel Paulo Freire, no Centro de Formação,
Tecnologia e Pesquisa Educacional (CEFORTEPE) da
Secretaria Municipal de Educação de Campinas, São Paulo
pelo então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, para desenvolver trabalho
semelhante no estado;
Participa ativamente do Movimento de Cultura Popular (MCP), em Recife, até 1964,
quando, em decorrência do golpe militar, suas atividades são suspensas e é
promulgada a sua prisão;
Exila-se no Chile por 14 anos e ajuda o país no processo de superação do
analfabetismo, sendo reconhecido mundialmente pela UNESCO;
Em 1970, em Genebra na Suíça, junto com outros exilados, cria o IDAC, que
prestaria assessoria a grupos diversos, como sindicatos e grupos feministas, a
processos de alfabetização de adultos de países como Guiné-Bissau, Angola, São
Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Nicarágua;
Após o processo de redemocratização, retorna ao Brasil e participa ativamente da
vida pública, com contribuições intelectuais fundamentais, além de assumir
cargos em universidade e trabalhar como secretário municipal da Educação em
São Paulo (1989-1991).
Fonte: Wikimedia Commons
Paulo Freire seguia a perspectiva marxista segundo a qual as ideias dominantes de um tempo
se manifestam e se enraízam na sociedade de acordo com os interesses das classes
dominantes. Sua base epistemológica partia, portanto, do princípio de que há uma classe que
oprime outra, e isso também se veri�caria nos processos pedagógicos. 
As diretrizes de Paulo Freire partem do princípio da não dissociação entre ação e re�exão.
Esses dois elementos são considerados fundamentais para que a crítica se estabeleça. Esses
parâmetros, para Freire, podem contribuir para o esclarecimento das relações de opressão,
fazendo com que assim se possa dar o passo seguinte, que seria o da emancipação humana da
opressão. 
Os princípios de Paulo Freire nos fazem pensar sobre as formas sociais e suas ações de
opressão no sentido da não adaptação, tentando fazer ver que essas relações se constituem
em critérios injustos. Esse processo desnaturaliza nossas percepções em relação às
construções sociais, nos fazendo perceber como a dinâmica sistêmica oculta as formas de
dominação da classe dominante.
- ARANHA, 2012, p.596
“O movimento de libertação deve partir dos próprios oprimidos, cuja pedagogia
será “aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou
povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade”. Trata-se de um
trabalho de conscientização e de politização. Não basta que o oprimido tenha
consciência crítica da opressão, mas que se disponha a transformar essa
realidade. “A práxis é re�exão e ação dos homens sobre o mundo para
transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-
oprimidos.”
Nessa perspectiva de transformação, a pedagogia do oprimido assume um papel fundamental
e se coloca em contraposição à pedagogia hegemônica, que Paulo Freire chamou de
“bancária”. 
Freire caracteriza essa pedagogia “bancária” como uma forma de ensino pautada por uma
relação verticalizada e autoritária, na qual o professor faz comunicados e “depósitos” e os
estudantes limitam-se a receber esses conteúdos, guardá-los e arquivá-los para depois usá-
los em algum teste ou exame. Essa estrutura, para Freire, reforça os traços de dominação
social, forjando uma estabilidade pretensamente harmônica e sem contradições, na qual os
estudantes são alinhados de forma passiva como receptores e os educadores são os sujeitos
agentes e conscientes do processo. 
Para conseguir enfrentar essa dinâmica “bancária” instituída, Paulo Freire elabora uma
concepção problematizadora da educação, que compreende o aprendizado como uma relação
entre o educando e o mundo vivido, entre os saberes formais e as suas próprias experiências.
Nessa perspectiva a educação se estabelece a partir do diálogo: educando e educador se
relacionam de maneira horizontal, produzindo assim formas de aprendizado para ambos. Ou
seja, o conhecimento não é mais, como na educação “bancária”, um atributo do sujeito
professor; na pedagogia freireana, o conhecimento é partilhado, entra em circuito, andando
de um lado ao outro, e se estabelecendo de maneira crítica. 
“Porque autenticamente re�exivo, e implica o ato do constante desvelar a
realidade e nela se posicionar. Esse saber acha-se entrelaçado com a necessidade
de transformar o mundo, pois os indivíduos se descobrem como seres
históricos, “como seres que estão sendo, como seres inacabados, inconclusos,
em e com uma realidade, que, sendo histórica também, é igualmente inacabada.
Para dar corpo e sentido a essas (e tantas outras) questões, Paulo Freire desenvolveu um
método de alfabetização. 
De acordo com ele, primeiro é importante que se leve em conta o ambiente no qual os
processos de alfabetização estão inseridos. Nesse sentido, realiza-se uma pesquisa para
levantar um universo vocabular desse grupo de pessoas a �m de selecionar as chamadas
palavras geradoras, que terão relação com esse contexto. Nas experiências de alfabetização em
Pernambuco foram selecionadas palavras como tijolo, voto, enxada, mangue, engenho, classe,
entre outras. Nas experiências em favelas cariocas outras palavras foram escolhidas, como
favela, salário, trabalho, poço, bicicleta, entre outras.   
Depois da primeira fase, são organizados círculos de leitura em grupos sob a orientação de um
animador, que pode ser um professor ou alguma pessoa pertencente àquele grupo que já
tenha sido alfabetizada. Nesse processo há um debate sobre a palavra geradora e seu contexto,
suas questões, as coisas que a atravessam, forjando-se assim uma situação problemática. E
depois passa-se para a visualização da palavra escolhida. Formando-se assim um circuito no
qual a palavra, sua gra�a, seus sons e seus sentidos não estão dissociados e nem distantes
das pessoas em processo de alfabetização.
Numa etapa de pós-alfabetização podem surgir análises de textos simples. Mas em todo o
processo é fundamental não se distanciar da problematização da situação enfocada. É por
meio dessa situação, de seu contexto, de sua relação com os estudantes que o processo se
realiza. 
O processo de alfabetização para Freire se organiza, portanto, de maneira horizontal e coletiva,
com educadores e educandos em processo de troca constante e aprendizagem mútua. Um
- ARANHA, 2012, p. 598
(…) Daí que seja a educação um quefazer permanente. Permanente, na razão da
inconclusão dos homens e do devenir da realidade.”
processo em que os debates, as re�exões se dão de forma partilhada e cooperada, e o
horizonte é a democratização do ensino.
No �nal da vida, Paulo Freire escreveu um livro chamado A pedagogia da autonomia, no qual
procura destacar práticas docentes fundamentais para o desenvolvimento pedagógico
autônomo em vistas da emancipação humana de estudantes e professores. Terminaremos,
pois, nosso percurso nesta unidade com algumas de suas formulações:
- ARANHA, 2012, p.598
Ensinar exige rigorosidade metódica;
Ensinar exige pesquisa;
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos;
Ensinar exige criticidade;
Ensinar exige estética e ética;
“O método de Paulo Freire pretende superar a dicotomia entre teoria e prática: no
processo, quando o indivíduo descobre que sua prática supõe um saber, conclui
que, de certa maneira, conhecer é interferir na realidade. Percebendo-se como
sujeito da história, toma a palavra daqueles que até então detêm seu monopólio.
Alfabetizar é, em última instância,
ensinar o uso da palavra.”
Ensinar exige corporei�cação das palavras pelo exemplo;
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição da discriminação;
Ensinar exige re�exão crítica sobre a prática;
Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural;
Ensinar exige consciência do inacabado;
Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado;
Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando;
Ensinar exige bom senso;
Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores;
Ensinar exige apreensão da realidade;
Ensinar exige alegria e esperança;
Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível;
Ensinar exige curiosidade;
Ensinar exige segurança, competência pro�ssional e generosidade;
Ensinar exige comprometimento;
Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no
mundo;
Ensinar exige liberdade a autoridade;
Ensinar exige tomada consciente de decisões;
Ensinar exige saber escutar;
Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica;
Ensinar exige disponibilidade para o diálogo;
Ensinar exige querer bem aos educandos.
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta
Unidade:
  Vídeos  
Fundamentos Históricos, Filosó�cos e Sociológicos da
Educação – O movimento da Escola Nova
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 Material Complementar
Fundamentos Históricos, Filosó�cos e Sociológicos da Educação -…
https://www.youtube.com/watch?v=DmiLDormnMA
Anísio Teixeira: Educação não é privilégio 
Palestra com Paulo Freire
Anísio Teixeira: Educação não é privilégio | Documentário
Prof. Paulo Freire
https://www.youtube.com/watch?v=Nc7ipHWIQVU
https://www.youtube.com/watch?v=2C518zxDAo0
Paulo Freire, 100 anos
Paulo Freire, 100 anos | Documentário
https://www.youtube.com/watch?v=tG_pVkhzr1c
ARANHA, M. L. A história da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna,
2012. 
BRANDÃO, C. R. O que é educação. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2005. 
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33. ed. São Paulo:
Paz e Terra, 1997.
GUIRALDELLI JUNIOR, P. História da educação. 2 ed. São Paulo : Cortez, 2000. 
RIBEIRO, M. L. S. História da educação brasileira: organização escolar. 18. ed. Campinas:
Autores Associados, 2003. 
ROMANELLI, O. O. História da educação no Brasil. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 
XAVIER, M. E. S. P. História da educação: a escola no Brasil. São Paulo: FDT, 1994.
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 Referências

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