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Módulo 1 - Vitimização e Proteção

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Direito de Proteção às 
Vítimas de Crimes
Vitimização e Proteção1
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Conteudista:
Rosana Cathya Ragazzoni Mangin, (Conteudista, 2021); 
Talita Arantes Cazassus Dall’Agnol (Coordenadora, 2021); 
Katia Silene Macedo Medeiros (Coordenadora, 2021); 
Diretoria de Desenvolvimento Profissional.
Enap Escola Nacional de Administração Pública
Enap, 2021
SAIS - Área 2-A -70610-900 - Brasília, DF
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Sumário
Unidade 1 – A dimensão da vitimização no Estado brasileiro ...........................................5
1.1 Conceito de vitimização ................................................................................................................................ 5
1.2 Percurso histórico ........................................................................................................................................... 7
Referências .............................................................................................................................................................11
Unidade 2 – Direitos e garantias ........................................................................................... 12
2.1 Direitos e garantias fundamentais relacionados à vítima ................................................................12
Referências .............................................................................................................................................................15
Unidade 3. Vitimização e suas espécies .............................................................................. 16
3.1 Espécies de vitimização: primária, secundária e terciária ................................................................16
Referências .............................................................................................................................................................20
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Caro(a) leitor(a), este é o início de sua jornada!
“Direitos das Vítimas de Crime” é um curso destinado a todas as pessoas que tenham interesse no tema. 
Pretende-se que, além de oferecer informações importantes sobre os direitos das vítimas de crime, você 
possa refletir sobre todos os assuntos que serão abordados e, ao final, esteja apto(a) para identificar 
estratégias de atenção, proteção e cuidado em relação a si e à coletividade. 
O curso inicia cuidando do conceito de vitimização e, por conseguinte, das noções mais atualizadas sobre a 
vítima de crime. Na sequência, serão apresentados alguns dos direitos e garantias fundamentais relacionados 
à vítima, presentes em normas e regulamentos, e, ao final do módulo, serão oferecidas informações sobre 
as espécies de vitimização 
Vamos caminhar juntos(as) nessa jornada, porque, com apoio mútuo, ela se torna mais leve.
Vitimização e Proteção
M
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Fonte: https://www.nordicexperience.com/washigton-post-take-gustav-vigeland-sculpture-park-must-see-oslo
A imagem retrata uma das esculturas de autoria de Gustav Vigeland, que está exposta no Parque Vigeland, 
em Oslo, na Noruega.
As esculturas do artista materializam aspectos da existência humana, como o trabalho, a ira, a maternidade, 
o sexo e a fraternidade, e são fontes de inspiração para as reflexões propostas a seguir sobre o conceito de 
vítima e de vitimização. O artista é o responsável pelo desenho da medalha oferecida ao(a) ganhador(a) do 
Prêmio Nobel da Paz!
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Unidade 1 – A dimensão da vitimização no Estado 
brasileiro
Nesta unidade programática será exposto e discutido o conceito de vitimização. 
Você terá oportunidade, também, de conhecer o percurso histórico e legal da vítima em relação ao processo 
penal, seus direitos e garantias fundamentais e as espécies de vitimização. 
Espera-se que, ao final da leitura, você compreenda a dimensão da vitimização e localize os dispositivos que 
conduzem aos direitos das vítimas e suas garantias.
Como você percebe a imagem ao lado? 
Provavelmente, essa imagem lhe desperta algumas 
percepções: angústia, restrição e violência podem 
ser algumas delas; contudo, é importante destacar 
que o processo de vitimização não se refere somente 
à sujeição de uma pessoa a um crime qualquer (leve 
ou grave); tal processo pode ocorrer, também, em 
situações não descritas enquanto crime pela lei penal. 
1.1 Conceito de vitimização
É importante estabelecer, inicialmente, a compreensão de que, no curso da história, a percepção sobre 
a vítima de crime é variável no tempo e no espaço. 
O mesmo acontece, portanto, com o conceito de vitimização. Não há um conceito unitário que explique 
plena e perfeitamente o que é a vitimização e que seja adequado em qualquer tempo ou lugar.
Um parâmetro de estudo, que se apresenta a seguir, foi proposto pelo psicólogo e criminólogo brasileiro, 
Alvino Augusto de Sá.
“Processo pelo qual alguém (que poderá ser uma pessoa, um grupo, um segmento de sociedade 
ou país) torna-se, ou é eleito a tornar-se, um objeto-alvo da violência por parte de outrem (que 
também poderá ser uma pessoa, grupo etc.). Como processo, implica uma rede de ações e/
ou omissões, interligadas entre si, dotadas de um caráter de historicidade e dinamizadas por 
interesses, ideologias e motivações, conscientes ou inconscientes”.
Fonte: Autor Desconhecido, licenciada em CC BY-NC
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Nota-se, portanto, um conceito amplo, que envolve fatores como tempo, espaço, ações, omissões e, 
ainda, aspectos psicológicos, ético-políticos e sociais, implicando em uma situação eminentemente 
relacional e complexa.
Quanto ao conceito de vítima, é possível utilizar aquele proposto na Declaração dos Princípios Básicos 
de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, adotada pela Assembleia Geral 
da Organização das Nações Unidas - ONU em 1985:
Você observou que a vítima pode ser identificada individual ou coletivamente e pode sofrer múltiplas 
violações em seus direitos? 
Em relação à identificação coletiva da vítima, pode-se exemplificar com os crimes ambientais ou contra 
a natureza, os quais podem afetar, direta ou indiretamente, grande número de pessoas, comunidades 
e povos. Quanto aos múltiplos tipos de violência, consideram-se várias ações ou omissões que podem 
causar danos ou sofrimento a alguém. 
A Declaração da ONU mencionada acima contém um anexo, que visa auxiliar os Governos dos Estados-
parte e a comunidade internacional, nos esforços desenvolvidos para fazer justiça às vítimas da 
criminalidade e de abuso de poder e lhes proporcionar a necessária assistência pelos danos sofridos 
em consequência de um crime, incluindo o abuso de poder por parte do próprio Estado.
“Entendem-se por “vítimas” as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido um 
prejuízo, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de 
ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como 
consequência de atos ou de omissões violadores das leis penais em vigor num Estado membro, 
incluindo as que proíbem o abuso de poder”.
Veja bem, é importante que todas as pessoas, profissionais e 
sociedade sejam mais empáticas em relação ao sofrimento da ví-
tima. Este curso pretende ser um passo para essa empatia e você 
pode ser um(a) importante agente multiplicador(a)!
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Período de Ouro da Vítima:
O percurso da vítima a colocou, inicialmente, como protagonista, ou seja, a figura mais importante nas 
relações que se estabeleciam consequentemente a um crime ou a uma violência, podendo tomar decisões 
a respeito das adversidades provocadas a si pelo ofensor. 
Nos casos em que esta fosse uma vítima fatal, ou naquelas situações em que não houvesse condições 
de exercer esse direito, sua família o assumia. Assim, conforme ensinaram Fernandes e Fernandes, na 
obra Criminologia Integrada, convencionou-se chamar esse período de “Período da Vingança Privada” ou 
“Período da Justiça Privada” ou, ainda, “Idade de Ouro da Vítima”. 
Vamos, pois, compreender o porquê dessas denominações.
Na antiguidade (período que se estende por milhares deanos antes de Cristo) não existia a figura da Justiça Pública. 
As regras de convivência social derivavam dos costumes de cada comunidade à sua época. 
O próprio grupo social estabelecia os limites relacionais; qual conduta seria considerada criminosa ou 
socialmente reprovável e quais bens deveriam ser protegidos. Veja, era o próprio grupo que cuidava, 
também, das pessoas que transgrediam as regras sociais, sendo a punição a principal estratégia utilizada. 
Em geral, não se buscava proteção e reparação para a vítima.
Historicamente, pessoas e grupos entram em conflito por dois motivos principais: domínio de 
território e continuidade da espécie, o que implica em privilegiar os membros de um mesmo grupo. 
Assim, as vendetas eram comuns nas sociedades mais antigas (e práticas vingativas também!). 
Não se buscava reparação dos danos, mas, sim, o castigo. Em alguns casos, a punição utilizada era 
a expulsão (desarmada e/ou sem alimentos) da pessoa transgressora da comunidade em que vivia, 
mas, geralmente, as penas aplicadas eram corporais e visavam impor um sofrimento ao ofensor.
Por muitos anos a sociedade utilizou-se desses mecanismos para resolver seus conflitos, mas, 
a reação da vítima, ou de quem atuava em seu lugar, nem sempre era proporcional; por vezes, 
ultrapassava a pessoa do infrator, estendendo-se à sua família ou, ainda, tratava com penas 
cruéis infrações de menor gravidade.
A noção de historicidade presente no conceito de vitimização encontra-se, também, no status vivenciado pela 
vítima. É possível identificar três fases principais, as quais, geralmente, sinalizam o status da vítima perante o 
processo penal: Protagonismo – Neutralização – Redescobrimento, conforme ensinaram García-Pablos de 
Molina e Gomes na obra “Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos”.
Essas fases não são estanques, é possível observar alguma flutuação entre os marcos históricos e temporais de 
cada uma delas, se considerarmos o contexto social das respectivas sociedades e países ao redor do planeta.
1.2 Percurso histórico
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Hamurabi foi um rei da Babilônia, reconhecido por sua interpretação de justiça, a qual tinha por objetivo contribuir 
para organizar o povo. Embora visasse equilíbrio e justiça entre as pessoas em conflito, suas leis variavam de 
acordo com a posição social que a pessoa ocupava, o que, certamente, mantinha pessoas em desigualdade. O 
Código continha algumas curiosidades: veja a determinação a respeito da fabricação da cerveja: “afogamento do 
cervejeiro em sua própria bebida se ela fosse ruim”.
Além do Código de Hamurabi, outros códigos e leis foram elaborados na antiguidade e serviram de base para 
constituir o que temos hoje em termos de lei e de Justiça Pública.
Fonte: www.dicasdelei.blogspot.com
Com o tempo e com a possibilidade de dizimação populacional, devido às “vinganças de sangue”, líderes locais 
buscaram estabelecer regras que atribuíssem alguma proporcionalidade nas relações de conflito, ou seja, um 
equilíbrio na aplicação dos castigos. 
A principal referência relatada a esse respeito data de, aproximadamente, 1.700 a.C. e encontra-se no Código 
de Hamurabi, documento que estabeleceu a pena de Talião. 
Você já ouviu a expressão “olho por olho, dente por dente”? Pois bem, era o que o rei Hamurabi entendia como 
Justiça, um meio proporcional de cuidar dos conflitos entre as pessoas da comunidade.
Fernandes, na obra Direitos Humanos e Vitimologia: uma nova postura 
da vítima no Direito Penal, aponta o Código de Ur-Nammu (para alguns 
arqueólogos este é o conjunto de normas mais antigas de que se tem 
notícia, com data aproximada de 2.028 a.C.); o conjunto de Leis de Eshnunna 
(encontrado em escavações realizadas no sul de Bagdá); o Alcorão (livro 
sagrado do Islamismo); o Código de Manu (que sintetizou as leis sociais e 
religiosas do Hinduísmo) e a Lei Mosaica (composta pelos livros bíblicos).
Em síntese, ainda não havia uma estrutura estatal e de direitos como a que há nos países democráticos 
atualmente, com divisão de poderes, aos quais caberia a elaboração, a fiscalização e a execução das leis; mas, 
aos poucos, os Estados foram se estruturando e constituindo a Justiça Pública.
Saiba mais
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Desse modo, os questionamentos sobre o poder ilimitado do rei ou do soberano, que liderava determinado 
grupo social foram ganhando espaço e, de acordo com Marmelstein, um dos primeiros filósofos a questionar o 
absolutismo, foi o alemão Johannes Althusius (1557-1638), defensor da soberania popular. 
Pois bem, ao assumir esse papel regulador, surge, no Estado, o ramo do Direito Público, sendo o Direito Penal e o 
Processual Penal, espécies desse ramo legal, porque regulam as relações que têm interesse geral para a sociedade.
Esses dois campos do Direito ocupam-se, dentre outros aspectos, do processamento de crimes e contravenções 
penais e do modo como o Estado irá resolver esses conflitos. 
Desse modo, o Estado passa a ser o protagonista no processamento de crimes e/ou demais situações de 
violências e, ao exercer esse papel, coloca-se no lugar da vítima, assumindo a responsabilidade de acusar, 
processar, julgar e fazer cumprir a lei. 
Buscou-se, portanto, garantir razoabilidade, legalidade e oficialidade para a composição dos conflitos, mas, 
por outro lado, afastou-se a vítima do processo, no qual ela passou a figurar, principalmente, como uma mera 
informante, uma vez que, originalmente, o sistema legal definiu, com precisão, o status do infrator, sem que a 
mesma atenção tenha sido dada à vítima. 
Em síntese, a partir da ideia de que o Estado assume a responsabilização no processo penal, de início, de modo 
absolutista e, posteriormente, garantindo alguma participação social, percebe-se que o papel da vítima perante 
o processo de responsabilização do ofensor foi, paulatinamente, sendo substituído pelo Estado.
Período da Neutralização:
Assim, aponta-se o segundo período do status da 
vítima, denominado Neutralização. 
O termo neutralização conduz à ideia de afastamento 
da vítima do processo de responsabilização do 
ofensor e a mantém numa posição vulnerável diante 
do processo penal. Esta nova posição da vítima 
coincide com a criação do Estado e da Justiça Pública. 
A passagem da justiça privada para a justiça pública 
é marcada historicamente pelo desenvolvimento 
do Direito Romano, longo período que se estendeu 
por muitos séculos na antiguidade, mas, com o 
Estado à frente do processo, a vítima deixa aquela 
posição de protagonista e o Estado (a justiça 
pública) passa a cuidar dos conflitos entre as 
pessoas e entre estas e o próprio Estado.
A menção ao modo de funcionamento estatal 
é importante porque, a partir desse marco, 
começam a ser questionados os direitos 
fundamentais da pessoa humana, fundamentados 
em leis e normas, como forma de limitação do 
poder soberano do rei. 
Diante da instituição do Estado como responsável pela resolução dos conflitos, é oportuno 
mencionar que este, tal como conhecemos hoje, se forma a partir da evolução do Estado 
Absolutista dos séculos XVI e XVII, no qual o rei concentrava os poderes e legislava (criava 
leis) de acordo com seus próprios parâmetros e sentimentos. Não havia, àquela época, o Poder 
Legislativo, representado atualmente pelos deputados e senadores que compõem o Congresso 
Nacional na esfera federal no Brasil, os deputados estaduais em seus respectivos estados da 
federação e, finalmente, os vereadores, em âmbito municipal; ou seja, não havia um controle em 
relação às ações do monarca que liderava a sociedade.
Segundo Marmelstein, na obra: Curso de Direitos Fundamentais, Hobbes e Maquiavel, dois 
grandes filósofos dos séculos XVI e XVII, são os responsáveis pelos fundamentos de que o poder 
deve ser concentrado no soberano, contrariando a concepção de que deveria ser assegurado aos 
indivíduos um nível máximo de fruição de sua autonomia e liberdade. Os direitos fundamentais 
surgiram como uma barreira ou escudo de proteção dos cidadãos contra a intromissão indevida 
doEstado em sua vida privada e contra o abuso de poder.
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Após a Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), a vítima passa a ganhar alguma atenção. A vitimização 
provocada pelas atrocidades cometidas na guerra inspirou a fundação da ONU – Organização das Nações 
Unidas, em 1945, e a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Inaugura-se, 
portanto, a fase denominada como o redescobrimento da vítima.
Por exemplo, o Código Penal Brasileiro, no artigo 121, dispõe: 
“Matar alguém”. A lei determina que matar alguém é crime; con-
tudo, não identifica uma pessoa especificamente; expõe de modo 
genérico a noção de pessoa e de ação delitiva, distanciando as 
pessoas envolvidas neste conflito. 
Período do Redescobrimento:
Nas décadas que se seguiram, os estudos e ações de cuidados sobre a vítima avançaram, destacando-se a 
Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, de 29 
de novembro de 1985, também de iniciativa da ONU.
No Brasil, as ações relacionadas à vítima ganharam maior expressão a partir da redemocratização do país no ano 
de 1985, sendo que, as primeiras pesquisas sobre o tema foram realizadas a partir do ano de 1988, embora, 
naquela época, pouco difundidas, segundo o que ensina, a primeira Pesquisa Nacional de Vitimização realizada 
no país, no ano de 2013, impulsionada, especialmente, pela constatação de que havia uma criminalidade oculta, 
não exposta por meio das estatísticas oficiais de crimes cometidos e formalmente investigados. 
Você pode acessar essa pesquisa, integralmente, clicando aqui.
Mais recentemente, com o fomento dos princípios da Justiça Res-
taurativa, promulgação de leis específicas e ações de conscienti-
zação social e políticas públicas de atendimento às vítimas, estas 
passaram a experimentar o redescobrimento de sua importância 
e protagonismo. 
Hans Von Hentig, psicólogo criminal e político alemão (1887-1974), é considerado o 
pioneiro nos estudos sobre a vítima. No ano de 1948, portanto, logo após o fim da 
Segunda Guerra Mundial, o autor publicou importante obra, O criminoso e sua vítima, 
contribuindo para o redescobrimento da vítima; não mais na perspectiva protagonista 
original (a vingança privada), mas a compreendendo nos âmbitos da Justiça Pública. 
Muitos outros pensadores, pesquisadores e criminólogos, destacando-se Benjamin 
Mendelsohn, advogado israelense (1900-1998), dedicaram-se a estudar a temática 
relacionada à vítima, seja por sua participação na situação fática referente ao crime, 
seja pelo processo de responsabilização do ofensor, ou, ainda, pela necessidade de 
reparação dos danos sofridos pela vítima.
Segundo Fernandes e Fernandes, na obra Criminologia Integrada, o 1º Congresso 
Internacional de Vitimologia ocorreu em Israel no ano de 1973, onde foram apontados 
os objetivos da vitimologia e discutidas as causas da vitimização.
Saiba mais
https://www.crisp.ufmg.br/wp-content/uploads/2013/10/Relat%C3%B3rio-PNV-Senasp_final.pdf
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FERNANDES, D. A. Direitos Humanos e Vitimologia: uma nova postura da vítima no Direito 
Penal. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 64, jan./jun. 2014. Disponível em: 
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=DIREITOS%20
HUMANOS%20E%20VITIMOLOGIA:%20UMA%20NOVA%20POSTURA%20DA%20
V%C3%8DTIMA%20NO%20DIREITO%20PENALI. Acesso em: 02 de maio de 2021.
FERNADES, N.; FERNANDES, V. Criminologia Integrada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A.; GOMES, L. F. Criminologia: introdução a seus fundamentos 
teóricos. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.
MARMELSTEIN, G. Curso de Direitos Fundamentais. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2009.
Pesquisa Nacional de Vitimização. Disponível em: https://helpertecnologia.com.br/assets/
vitimizacao_05_12_2013_senasp.pdf. Acesso em: 04 de maio de 2021.
SÁ, A. A. Vitimização no sistema penitenciário. Revista do Conselho Nacional de Política 
Criminal e Penitenciária, Brasília, v. 1, n. 8, jul./dez. 1996, pp.15-32.
ONU. Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade 
e de Abuso de Poder. 1985. Disponível em: https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/
files/decl-princjusticavitimas.pdf. Acesso em: 10 de junho de 2021.
Referências
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=DIREITOS%20HUMANOS%20E%20VITIMOLOGIA:%20UMA%20NOVA%20POSTURA%20DA%20V%C3%8DTIMA%20NO%20DIREITO%20PENALI
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=DIREITOS%20HUMANOS%20E%20VITIMOLOGIA:%20UMA%20NOVA%20POSTURA%20DA%20V%C3%8DTIMA%20NO%20DIREITO%20PENALI
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=DIREITOS%20HUMANOS%20E%20VITIMOLOGIA:%20UMA%20NOVA%20POSTURA%20DA%20V%C3%8DTIMA%20NO%20DIREITO%20PENALI
https://helpertecnologia.com.br/assets/vitimizacao_05_12_2013_senasp.pdf
https://helpertecnologia.com.br/assets/vitimizacao_05_12_2013_senasp.pdf
https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/decl-princjusticavitimas.pdf
https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/decl-princjusticavitimas.pdf
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Unidade 2 – Direitos e garantias
O pensamento expresso por Bobbio refere-se ao Direito Natural, aquele que, inerente à pessoa humana, deve 
ter valor em toda parte e não necessita ser incluído em lei para que seja reconhecido, tal como o direito à vida.
Os direitos positivos (ou positivados) são as normas e leis, ou seja, o sistema normativo de um Estado, que 
a todos submete e que visa garantir, inclusive, os direitos naturais. 
Quando Bobbio refere os direitos positivos universais, os coloca diante do reconhecimento dos direitos 
naturais positivados em documentos supranacionais (que submetem os países que o assinam) e que 
deveriam acompanhar o indivíduo por todos os espaços e em todo o tempo de sua vida.
Os direitos e garantias fundamentais relacionados à vítima, confundem-se com todos aqueles relacionados 
à pessoa humana, como os direitos naturais; e podem ser positivados no próprio país ou serem fruto de 
determinações supranacionais com valor nacional (é este o caso de algumas Declarações da ONU ou outras 
agências internacionais que, eventualmente, são assinadas e ratificadas no Brasil). 
No curso da história, a humanidade desenvolveu mecanismos de proteção a direitos, considerados 
apropriados de acordo com o padrão sociocultural da época em que foram concebidos. Esses dispositivos, 
nem sempre reconhecidos e positivados, objetivavam lidar com as violações de direitos, as invasões e 
apropriações do que era alheio e a regulação das relações interpessoais.
2.1 Direitos e garantias fundamentais relacionados à vítima
Desde o Código de Hamurabi (1700 a.C., aproximadamente), passando pela Magna Carta de 1215, aos mecanismos 
mais recentes de proteção aos direitos humanos, a humanidade busca afirmar, por meio de documentos escritos, 
sua vocação para a proteção e o cuidado em relação às pessoas e aos grupos aos quais pertencem.
Entretanto, nem sempre as ações mostravam-se eficazes para toda a população, porque, dentre outros fatores, 
muitos documentos foram construídos de modo desigual, privilegiando determinadas camadas sociais e mantendo 
oportunidades mais acessíveis somente a determinados grupos. 
“Os direitos do homem nascem como direitos naturais universais, 
desenvolvem-se como direitos positivos particulares, para finalmente 
encontrarem sua plena realização como direitos positivos universais” . 
Norberto Bobbio (1909-2004)
Magna Carta - Espécie de Constituição inglesa, promulgada no ano de 1.215, que 
visava limitar os poderes do rei e garantir condições para liberdades e direitos 
civis. O documento foi imposto pela nobreza ao rei João Sem Terra. Dentre 
outras determinações, impunha que o rei só poderia criar tributos ou majorar os 
já existentes, com a aprovação do Grande Conselho da Nobreza e que ninguém 
poderia ser processado ou julgado sem culpa formada a não ser por seus pares, 
mostrando-se como um dos fundamentos do processopenal atual.
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O Brasil teve sete Constituições ao longo de sua história, sendo a primeira, 
promulgada ainda na fase do Império (1824), e a mais recente e atualmente em 
vigor, a denominada Constituição Cidadã, promulgada em 1988 (CF/88).
Saiba mais
Um exemplo atual é o de mulheres que se veem, de uma hora para outra, 
violadas pela exposição de seu corpo ou de partes dele na internet. Geralmente, 
o ofensor é conhecido delas; um namorado ou ex-namorado, marido, ex-marido 
ou colega que, sentindo-se, enquanto homem, ultrajado em razão da dispensa 
ou separação, deseja vingar-se, publicando fotos, imagens ou nudes nas redes 
sociais. Atualmente, esta ação pode ser entendida, civil e criminalmente, como 
estupro virtual e o ofensor, caso seja comprovada sua culpa, punido conforme a 
lei. Esta modalidade de punição apenas foi possível porque as mulheres que se 
sentiam vitimizadas em razão do fato lesivo, provocaram os poderes para que sua 
proteção integral fosse assegurada.
Leia mais aqui.
Os documentos que embasam as garantias e direitos fundamentais de todos os cidadãos e incluem as vítimas de 
crime são fruto de intenso debate e, geralmente, seguem-se a eventos de transformações sociais, provocadas pela 
luta de cada povo em seu tempo; portanto, são marcados, histórica, cultural e geograficamente. 
Conforme ensina o professor José Afonso da Silva em sua obra “Curso de Direito Constitucional Positivo”, a 
Constituição do Estado seria a organização dos seus elementos essenciais que regulam a forma do Estado, a 
forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos e os limites 
de sua ação. Em síntese, a Constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado.
O título II da CF/88 trata dos direitos e garantias constitucionais, positivando direitos naturais e outros mais. 
Conforme se lê no caput do art. 5º, o princípio central cuida dos direitos inerentes à pessoa humana.
Portanto, os direitos e garantias colocados à disposição de todas as pessoas por meio da Constituição Federal e 
de outros documentos nacionais e internacionais, têm inegável valor para as vítimas de crime; entretanto, a estas 
devem ser garantidos direitos específicos, para que deixem a condição de invisibilidade e passem a ser consideradas 
em todas as suas necessidades, como, proteção, informação, apoio, assistência e atenção.
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros 
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, 
à segurança e à propriedade...”.
Os princípios de igualdade, fraternidade e liberdade serviram de base para a contenção do poder 
absolutista da época, marcadamente exercido na Europa e, também, para a proteção dos indivíduos, dando 
início a uma concepção democrática de relacionamento dos cidadãos entre si e destes com as lideranças 
políticas e administrativas, o que, paulatinamente, culminou com a promulgação de documentos nacionais 
consolidados nas Constituições de cada país do planeta.
https://posocco.jusbrasil.com.br/noticias/497174996/o-que-e-estupro-virtual
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Em síntese, às vítimas devem ser garantidos os direitos:
• à informação, a respeito do processo penal e as decisões judiciais adotadas, com direito à assistência judiciária;
• à proteção integral, vislumbrando-se aqui, a prevenção a novas violências;
• à participação, com acessibilidade suficiente, no processo penal, a fim de que tenha direito a voz e possa 
apresentar seus argumentos e necessidades; direito de ser ouvida e de oferecer provas contra o ofensor ou 
contra a ofensa recebida;
• à reparação aos danos sofridos;
• ao apoio necessário, com serviços especializados de cuidado multidisciplinar.
A reparação aos danos sofridos pela vítima deve se constituir em um interesse social, adotando-se uma concepção 
inclusiva e um olhar sistêmico, com uma política de Estado consolidada e dotação orçamentária suficiente para a 
execução de políticas públicas em sua atenção e cuidados. 
O Brasil vem avançando na elaboração e na efetivação de políticas públicas de suporte para as vítimas. A propositura 
deste curso representa um desses avanços.
Se você quiser conhecer mais sobre o que está sendo implementado em outros países, especialmente naqueles da 
União Europeia, clique aqui.
https://victim-support.eu/
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BRASIL. Código Penal Brasileiro. Decreto-Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. 
Acesso em: 11 de maio de 2021.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 de maio de 2021. 
SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 1991.
Referências
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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Unidade 3. Vitimização e suas espécies
Você já parou para pensar sobre esse termo, 
vitimização?
A vitimização é um processo que ocorre em vários 
contextos e graus; não se dirige apenas à vítima 
direta e determinada.
Saiba que a vitimização decorre de várias 
situações, como crimes contra a humanidade, 
criminalidade organizada, crimes contra a 
dignidade sexual, pessoas em processo de 
vitimização como, vítimas pela condição de seu 
sexo, vítimas pela origem étnica, condição da 
idade, orientação sexual, cybercriminalidade, 
entre outros; o rol é extenso.
Você tem observado como a tecnologia tem 
avançado nas relações entre as pessoas?
Pois bem, quanto à cybercriminalidade, destaca-
se que os novos meios de comunicação e de 
tecnologias, impulsionados pela expansão da 
internet, têm forte impacto na vida das pessoas. O 
mundo globalizado incrementa o crime organizado 
transnacional, por outro lado, a internet estimula 
a participação das pessoas em redes sociais e 
oferece novas oportunidades para que as vítimas 
se informem sobre seus direitos, estabeleçam 
contatos para auxiliá-las ou, ainda, participem de 
grupos compartilhando experiências, formando 
uma rede de apoio
3.1 Espécies de vitimização: primária, secundária e terciária
A vitimização compreende alguns subtipos e pode ser classificada em três grupos: primária, secundária e terciária.
Vitimização Primária:
Decorre diretamente do crime – quando for o caso – ou da violência, ainda que esta não se configure em crime 
propriamente dito, e do sofrimento causado diretamente à vítima. 
Há crimes mais graves, como aqueles que violam direitos fundamentais, como a integridade física de uma pessoa, 
colocando sua vida em risco, ou menos graves, como um furto sem violência. 
Veja nos exemplos a seguir:
• a pessoa sofre uma agressão; tem-se a violação de um direito e, provavelmente, o delito, mais, ou 
menos grave, dependendo de diversas circunstâncias;
• o indivíduo vê-se tolhido por outro, para realizar algo que contava como certo ou necessário; como nas 
situações em que uma pessoa disputa com outra a vaga de estacionamento, contando como se fosse dela.
No ambiente em que se considera lícito e, até mesmo, motivo de orgulho o comportamento “levar vantagem” 
sobre terceiros, a ocupação de vaga citada não mereceria o status de violência. 
O exemplo, aparentemente banal, representa, o que Kepp, jornalista norte americano radicado no Brasil, alertou 
sobre os “miniabusos que provocam minidanos”.
Saiba mais
O interessante pensamento de Kepp está sintetizado na frase a seguir: pequenos 
delitos são transgressões leves que passam impunes e, no Brasil, estão tão 
institucionalizados que os transgressores nem têm ideia de que estão fazendo 
algo errado. Ou então acham esses “miniabusos” irresistíveis, apesar de causarem 
“minidanos” e/ ou levarem a delitosmaiores. Veja na íntegra clicando aqui.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2608200412.htm
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Desse modo, não é a sofisticação da persecução penal que irá beneficiar a vítima e pacificar a sociedade; estimular 
solidariedade e programas de prevenção primária é absolutamente necessário, bem como a realização de ações 
inclusivas que diminuam a vulnerabilidade de uma pessoa, de uma comunidade ou de um povo. 
Acompanhe, leitor(a), um possível passo-a-passo da desgastante sequência de procedimentos que acompanham 
as vítimas de crime.
1 Inicia-se com a vítima sofrendo a violência e suas consequências.
2 Ofendida, lesionada, agredida, violentada, essa pessoa dirige-se à Delegacia de Polícia. 
3 Adentra um ambiente, em geral, estranho a ela e, por que não, relativamente atemorizador; por 
exemplo, uma mulher vítima de estupro sendo atendida por um homem que a intimida.
4 Aguarda o atendimento, em ambiente público, vendo e convivendo com pessoas submetidas a 
diversos tipos de situações, todas desagradáveis, estressantes. 
5 Começa a perceber que o que lhe aconteceu (para ela, de imensa relevância) corre o risco de 
desaparecer no comum dos acontecimentos, relatados por outras vítimas.
6 Atendida pelo escrevente, a vítima, eventualmente, desenvolve a desagradável percepção de 
insignificância, ao perceber que seu caso, muitas vezes, não passa de “mais um” no rol protocolar.
A vitimização secundária ocorre quando o Estado, no 
exercício do controle formal, impõe um sofrimento 
adicional à vítima; justamente, a instituição (ou 
instituições) que deveria(m) se encarregar de cuidar 
para que se fizesse justiça e se minimizassem os 
danos suportados pela vítima.
Esse processo de vitimização, também denominado 
revitimização, pode ocorrer desde o instante em que a 
vítima toma a decisão de formalizar uma denúncia, ou 
seja, no momento em que a vítima está na recepção 
de uma delegacia policial e, no local, não encontra a 
atenção devida às suas necessidades e apelos.
Esse tipo de vitimização pode ser um fator que 
dificulta a busca pelo sistema de justiça por 
parte da vítima, favorecendo as chamadas cifras 
ocultas da criminalidade, levantamento de dados 
que não correspondem à realidade e à incidência 
criminal de fato. 
Atualmente, uma das maiores preocupações em 
relação à revitimização ocorre nos processos 
de crimes contra a dignidade sexual, sendo as 
crianças e adolescentes, os principais grupos 
expostos à revitimização.
A série americana, “Inacreditável”, baseada em fatos 
da realidade e lançada pela plataforma Netflix no ano 
de 2019, expõe o sofrimento de uma jovem, vítima 
de violência sexual, diante do Estado revitimizador, 
caracterizando a vitimização secundária. 
Vitimização secundária: 
Fonte: Divulgação Netflix.
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7 Obriga-se, então, a descrever o acontecimento: atividade, no mínimo, estressante; em algumas 
situações, causadora de profunda vergonha e desgaste emocional. Em não raras situações, 
autêntico desafio emocional, desestabilizador, porque faz reviver acontecimentos que preferiria 
esquecer definitivamente. 
8 Conforme o caso, deverá enfrentar um exame de corpo de delito, com toda a (nova) invasão de 
privacidade que isso significa.
9 Constituir advogado ou buscar a Defensoria Pública, com novos relatos e respostas a 
questionamentos. O estresse, mais uma vez, renova-se.
10 Enfrentar, mais tarde, os trâmites processuais, quando ocorre a ida à Justiça e aos tribunais.
11 Prestar depoimento em juízo. Constatar que, de fato, sua participação no processo não passará 
de depoente. Percebe-se à disposição do Estado, mas não identifica, nos procedimentos, relevância 
no que lhe aconteceu, subjetivamente. Constata que o Estado se encontra mais voltado para a lei 
do que para o acontecimento; mais voltado para a punição do que para a reparação. 
12 Aguardar o resultado dos julgamentos. Nesse desgastante período adicional, coberto de 
incertezas alimentadas pela perspectiva de avaliações indevidas do juiz ou também dos jurados, 
conforme o caso, o tempo arrasta-se, colado na ansiedade pela solução do caso.
13 Surge o resultado e, com ele (mas, também sem ele e, até, bem antes dele!), ocorre a vitimização terciária
Embora esse processo de vitimização seja sustentado pelos mecanismos de controle formal, o mesmo pode ocorrer 
em relação às respostas das pessoas próximas e da comunidade, como se observará a seguir. 
Situação comum encontra-se nos casos de violência sexual 
intrafamiliar, nos quais, geralmente, a vítima é acusada por seu 
comportamento e não recebe a atenção (e, invariavelmente, a 
credibilidade) necessária a seu sofrimento. 
Vitimização terciária: 
A vitimização terciária depende de como a comunidade encara o tipo de violência sofrida pela vítima. Alguns 
crimes e outras formas de violências provocam indiscutível estigmatização da vítima, particularmente, aqueles que 
envolvem a dignidade sexual.
Nesses casos, além de suportar as consequências da violência (que podem incluir assédios, mutilações, gravidez, 
desequilíbrios psicológicos severos), a vítima defronta-se com o preconceito de outras pessoas.
A situação da vítima torna-se mais difícil quando se percebe excluída do círculo familiar ou social mais próximo, ou 
como alvo de olhares preconceituosos, transmissores de inúmeras mensagens carregadas de recriminação.
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Sintetizando, deve-se ressaltar a escassez de pesquisas a respeito do tema no Brasil e a importância de 
se adotar ações e programas de apoio e cuidado à vítima, com um foco interdisciplinar, proporcionando a 
efetiva e integral atenção em relação aos seus direitos violados. 
Nesta unidade programática, você pôde observar que a vítima percorreu um longo caminho para obter 
reconhecimento, superando regimes de governo absolutistas e a constituição de um sistema de justiça que 
a colocou em uma posição de invisibilidade e, desta, para uma visibilidade que ainda precisa ser aprimorada 
e melhor compreendida. 
Ser reconhecida em sua dignidade perante os prejuízos sofridos é um primeiro passo para a garantia dos 
direitos das vítimas de crime.
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CALHAU, L. B. Vítima e Direito Penal. 2. ed. Belo Horizonte: Mandamentos, 2003
 
CERQUEIRA, D. e BUENO, S. (Coords.). Atlas da Violência 2020. IPEA – Instituto de 
Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/
download/24/atlas-da-violencia-2020. Acesso em: 08 de maio de 2021.
 
KEPP, M. A mania nacional da transgressão leve. Artigo publicado no jornal Folha de S. 
Paulo, 2004. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2608200412.
htm. Acesso em: 15 de maio de 2021.
Referências
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2608200412.htm
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2608200412.htm
http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/secretaria-nacional-de-assistencia-socialsnas/cadernos/orientacoes-tecnicas-centro-de-referencia-especializado-para-populacao-em-situacao-derua-centro-pop-e-servico-especializado-para-pessoas-em-situacao-de-rua-1/05
	Unidade 1 – A dimensão da vitimização no Estado brasileiro
	1.1 Conceito de vitimização
	1.2 Percurso histórico
	Referências
	Unidade 2 – Direitos e garantias
	2.1 Direitos e garantias fundamentais relacionados à vítima
	Referências
	Unidade 3. Vitimização e suas espécies
	3.1 Espécies de vitimização: primária, secundária e terciária
	Referências

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