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A filosofia cristã

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FILOSOFIA 
Renan Costa Valle Scarano
A filosofia cristã
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar as concepções filosóficas do pensamento cristão.
  Comparar as correntes de pensamento no período de influência do 
cristianismo.
  Analisar a relação entre filosofia e religião.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a filosofia cristã. Você também vai co-
nhecer as múltiplas vertentes filosóficas da Idade Média. O período da 
filosofia medieval corresponde aos séculos V a XV d.C. Esse período foi 
marcado pela influência do cristianismo, que intervém não só na filosofia, 
mas também na organização política e social — sobretudo a partir do 
ano 380, quando a religião cristã se torna a religião oficial do Império 
Romano. Portanto, a estrutura eclesiástica não se manteve apenas na 
esfera religiosa, mas invadiu a política, a economia e a cultura.
Como você vai ver, a filosofia medieval foi influenciada significativa-
mente pela filosofia grega, mas possuiu aspectos próprios, advindos do 
pensamento cristão. Outra característica que merece destaque é o fato 
de que muitos dos filósofos medievais, como você deve imaginar, eram 
também padres ou clérigos da Igreja.
O pensamento cristão 
e as suas concepções filosóficas
Vasconcellos (2014) sugere que o pensamento cristão tem início com os padres 
da Igreja. A fi losofi a medieval é comumente dividida em duas correntes: patrís-
tica e escolástica. “A Patrística consiste no pensamento dos chamados Padres 
da Igreja, isto é, os pais, os fundadores do pensamento cristão” (VASCON-
CELLOS, 2014, p. 11). Essa corrente situa-se entre os anos 100 d.C. — época 
considerada o fi m da era apostólica, isto é, após a escrita do Apocalipse de 
João (o último dos livros bíblicos) — e o século V. Já a escolástica se inicia 
por volta do século V e se estende até o início do Renascimento, ou seja, o 
século XIV (VASCONCELLOS, 2014).
De acordo com Vasconcellos (2014), a Idade Média se inicia por volta 
do ano 476, com a queda do Império Romano do Ocidente, e termina em 
1453, com a tomada de Constantinopla pelos povos turcos e a consequente 
queda do Império Romano do Oriente. No entanto, “[...] se adotássemos uma 
periodização mais afeita à divisão histórica, colocaríamos a Patrística no final 
da Antiguidade” (VASCONCELLOS, 2014, p. 11). Isso significa pensar o 
Medievo, do ponto de vista filosófico, como um período marcado pela relação 
entre a filosofia grega e o pensamento cristão, judeu ou árabe; tal período se 
estende por um tempo demarcado, “[...] mais ou menos do ano 100 até 1500” 
(VASCONCELLOS, 2014, p. 11). Dizer que há a construção de um pensamento 
filosófico nesse período significa apontar que houve uma reflexão que fincou 
raízes na Antiguidade, mas que buscou dar respostas aos problemas de seu 
tempo, “[...] um tempo em que as questões religiosas não são relegadas a um 
segundo plano” (VASCONCELLOS, 2014, p. 12).
O período histórico designado como Idade Média é dividido em três mo-
mentos: Alta Idade Média (séculos V a X); Idade Média Central (séculos XI 
a XIII) e Baixa Idade Média (século XIV). O período da Alta Idade Média 
corresponde à:
[....] época da formação dos reinos bárbaro-romanos e do feudalismo, no 
Ocidente, da permanência do Império Bizantino e da formação dos Estados 
eslavos, no Oriente, da forte expansão e progressiva consolidação do Islã 
nas terras banhadas pelo Mediterrâneo e da primeira unificação da Europa: 
o Império Carolíngio (SANTOS; COSTA, 2015, p. 9).
No período da Idade Média Central, mais precisamente no século XIII, 
ocorre o desenvolvimento das escolas universitárias. É nesse período que 
surge a escolástica, cuja origem está relacionada à criação das escolas. A esse 
período corresponde também a entrada dos textos de Aristóteles no Ocidente, 
fato responsável por mudanças na filosofia medieval (SANTOS; COSTA, 2015). 
O período da Baixa Idade Média corresponde aos séculos de transição; no 
final do século XIII, começam as primeiras investigações científicas. Nesse 
período, sobretudo com a filosofia de Guilherme de Ockham, já há traços da 
Modernidade.
A filosofia cristã2
Como você já viu, do ponto de vista filosófico, há duas grandes tradições 
que marcam a filosofia no período medievo, que são a patrística e a escolástica. 
A religião cristã, desde o início, buscou transmitir uma mensagem de salvação, 
estabelecer certos valores e postular certas crenças. Porém, o cristianismo 
demorou certo tempo para conceber o seu conjunto fundamental de princípios e 
doutrinas. Nesse sentido, os padres da Igreja tiveram um importante papel por 
meio da patrística (VASCONCELLOS, 2014). Os padres da Igreja primitiva 
eram conhecidos como “apologetas” e foram os primeiros sistematizadores 
do pensamento cristão. Há uma divisão entre os padres gregos e os padres 
latinos. Conforme Gilson (2001), a literatura cristã latina começou em Roma 
no fim do século II e no início do III. Mas só em meados do século III o latim 
substituiu a língua grega.
Entre os padres latinos, encontram-se Tertuliano, Minúcio Félix, Cipriano de 
Cártago, Clemente de Roma, entre outros. Entre os padres gregos, destacam-se 
Justino, João Crisóstomo e a escola de Alexandria, cujos principais expoentes 
foram Clemente de Alexandria e Orígenes. Clemente “[...] via na filosofia 
grega uma espécie de revelação da verdade cristã, destinada aos pagãos” 
(VASCONCELLOS, 2014, p. 19). O nome mais significativo da patrística foi 
Agostinho de Hipona, que viveu entre os anos 354 e 430. Os seus escritos 
abordam de forma não sistemática temas da teologia, da filosofia, da psico-
logia, da antropologia e da política. Agostinho defendia a interioridade como 
o caminho privilegiado para o encontro com Deus. 
De acordo com Abbagnano (2007, p. 175): “segundo S. Agostinho, o homem 
pode conhecer Deus porquanto ele mesmo é a imagem de Deus. Memória, 
inteligência e vontade, em sua unidade e distinção recípocra, reproduzem no 
homem a trindade divina de Ser, Verdade e Amor” (De Trin., X, 18).
Nesse sentido, o conhecimento de Deus só pode ocorrer pela fé, ou seja, a 
razão não atinge Deus de imediato. Já “A alma, o homem interior, no entanto, 
pode ser conhecida pela razão e é partindo dela que o homem poderá, no en-
contro consigo mesmo, encontrar também a Deus” (VASCONCELLOS, 2014, 
p. 22). Portanto, o tema central de Agostinho é a busca por Deus, e essa busca 
se faz pela fé. O caminho que o próprio Agostinho faz em sua vida, narrada 
na obra Confissões, para chegar até Deus é o percurso de fora para dentro; 
isto é, é na alma que Deus se revela. Essa é a descoberta de Agostinho; logo, 
procurar Deus e a alma significa procurar a si mesmo. Nesse viés, Deus está 
dentro do homem, de fora para dentro e de dentro para Deus.
Assim, “Fundamentado teoricamente no neoplatonismo, Agostinho enten-
derá que Deus é uma luz que está acima do espírito, só podendo ser atingida 
pelo homem na medida em que este transcende o que há de mais elevado 
3A filosofia cristã
nele” (VASCONCELLOS, 2014, p. 23). Percebe-se, portanto, uma influência 
neoplatônica no pensamento de Agostinho. Platão afirmava que o mundo das 
ideias era o mundo da verdade, indicava que o suprassensível, o racional, seria 
o lugar da verdade. Essa influência platônica marcou também o pensamento 
de Agostinho acerca do mal. Ao buscar a natureza do mal, o filósofo descobriu 
que se tratava de uma ausência do bem. Para Agostinho, “[...] todas as coisas 
são boas, sendo o mal, portanto, uma privação do bem, porque não poderia 
originar-se de Deus” (VASCONCELLOS, 2014, p. 24).
O caminho ao interior é o caminho até a verdade, o retorno a si, à interio-
ridade. É o que se pode ver no livro De Vera Religione:
Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração 
do homem. E se não encontras senão a tua natureza sujeita a mudanças, vai além 
de ti mesmo. Em te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendestua 
alma que raciocina. Portanto, dirige-te à fonte da própria luz da razão. Aonde 
pode chegar, com efeito, todo bom pensador senão até a verdade? Se a verdade 
não é atingida pelo próprio raciocínio, ela é, justamente, a finalidade da busca 
dos que raciocinam (AGOSTINHO apud VASCONCELLOS, 2013, p. 24).
A procura pela verdade não é apenas uma busca intelectual, mas existencial. 
Exige-se do homem que se recline sobre si mesmo, submergindo na interio-
ridade para obter o reconhecimento de si e de seu Deus (VASCONCELLOS, 
2014). Dessa forma, Agostinho chama a atenção para as verdades eternas e 
absolutas que estão presentes na mente humana, mas que estão além da razão. 
Deus aparece como uma realidade que transcende a razão e a fé, como o prin-
cípio norteador do pensamento filosófico-teológico (VASCONCELLOS, 2014).
A fé em Agostinho é um fator que precisa de compreensão, ou seja, não é uma crença 
ingênua, tola. Ao contrário: é algo em que a razão se faz necessária na forma de um 
auxílio. Vasconcellos (2014) comenta que, para Agostinho, o caminho consiste em 
aceitar a fé pela revelação e, a partir de então, a razão exerce o seu papel.
Uma discussão muito presente na época de Agostinho era a relacionada ao 
mal. No entanto, tal debate já existia em Clemente de Alexandria e em Orígenes; 
para ambos, o mal era identificado com o não ser. Mas é com Agostinho que 
A filosofia cristã4
tal investigação ganha proporções maiores. Explicar a questão do mal era um 
problema central para o pensamento cristão. O que era o mal? A conclusão a que 
Agostinho chega em suas Confissões é a de que o mal é a ausência de bem, ou seja, 
o mal não é uma substância. Mas se isso for admitido, como então explicar o mal?
“A fim de explicar os motivos que tornam possível a manifestação do 
mal, [Agostinho] estabelece uma distinção ontológica entre o criador e a 
criatura” (VASCONCELLOS, 2014, p. 32). Enquanto o criador é o sumo 
bem, a criatura que provém do criador pode ser boa, mas não sumamente boa. 
Assim, a oscilação do bem ou a sua diminuição já é um mal. O tema do livre-
-arbítrio entra nessa discussão quando Agostinho explica o conceito de pecado: 
“O pecado reside, pois, na separação estabelecida entre o que o homem é, 
enquanto criatura, e aquilo que ele quis ser, por vontade própria, pelo exercício 
do seu livre-arbítrio” (VASCONCELLOS, 2014, p. 32). O mal é nesse ponto 
resultado de uma escolha do homem, uma possibilidade dada por Deus por 
meio do livre-arbítrio: “Pelo livre-arbítrio, o homem pode permanecer no bem, 
mesmo podendo aderir ao mal” (VASCONSELLOS, 2014, p. 33).
Como você pode notar, Agostinho foi um dos maiores filósofos de seu tempo e o 
principal pensador da patrística. O alcance de seu pensamento extrapolou os limites 
da religiosidade. Embora naque época não se tivesse acesso aos textos de Aristóteles, 
o neoplatonismo foi um aspecto influenciador da patrística.
No período que sucede a patrística, desenvolve-se a escolástica. Nesse 
período, mais precisamente nos séculos XII e XIII, em Bolonha e em Paris, 
surgem as primeiras universidades (REALE; ANTISERI, 2003). Um dos 
mais influentes filósofos e inaugurador desse período foi Severino Boécio 
(480–527). O texto A consolação da Filosofia foi um dos mais lidos pelos 
filósofos medievais (VASCONCELLOS, 2014). Outro fator enquadra Boécio 
como o pensador que inaugura uma nova forma de filosofar: o fato de que 
as primeiras traduções que se conhece de Aristóteles foram realizadas por 
ele. Boécio conhecia latim e grego; a sua intenção era não só traduzir, mas 
comentar as obras de Platão e Aristóteles. Além disso, ele pretendia mostrar 
que os dois pontos centrais da filosofia grega possuíam mais concordâncias 
do que discordâncias (VASCONCELLOS, 2014).
5A filosofia cristã
O problema dos universais, questão presente em grande parte da Idade 
Média, interessou a Boécio. De acordo com Leite Júnior (2001), o conteúdo 
central do problema gira em torno do estatuto ontológico dos universais. Nesse 
sentido, o problema dos universais:
[...] investiga sobre a possibilidade da existência ou não existência dos univer-
sais. Ora, tal questão remete a uma segunda inquirição, a saber: admitindo-se 
que os universais existam, pergunta-se: que tipo de existência possuem? 
Em outras palavras: se existem, sua existência é real ou meramente mental 
(pensada)? (LEITE JÚNIOR, 2001, p. 15).
A grosso modo, pode-se dizer que o universal é aquilo que é comum a 
muitos. Boécio tratou do problema dos universais sobretudo em seu comentário 
à obra Categorias, de Aristóteles. De acordo com Leite Júnior (2001), Boécio 
reconhece que o fundamento para que algo possa ser considerado universal 
não é encontrado fora da realidade,
mas nas próprias coisas sensíveis; contudo, a noção de universal que for-
mamos na mente se dá por abstração, a partir do conhecimento que temos 
da semelhança presente nos objetos sensíveis. Em verdade, os universais 
são produzidos na mente apenas pelo fato de que há algo comum a muitos, 
presente na realidade, junto ao que é sensível (LEITE JUNIOR, 2001, p. 38).
Outro filósofo do período da escolástica que merece destaque é Anselmo 
de Aosta (1033–1109). Com Anselmo, há uma valorização da razão natural, 
sem que isso implique demérito da fé (VASCONCELLOS, 2014). A razão é 
entendida por Anselmo não como um impedimento da fé, nem como uma 
alternativa contraposta, mas “[...] como um outro meio de acesso ao conteúdo 
da revelação, meio este, contudo, indissociado da fé” (VASCONCELLOS, 
2014, p. 58). O autor ressalta que a razão, entendida como um modo de se 
fazer filosofia, não deve ser confundida pela compreensão que é feita dela na 
filosofia moderna. A razão humana não substitui a fé, tampouco se opõe a 
ela, mas tem a capacidade de conduzir a fé à verdade.
Anselmo dedicou a sua filosofia ao problema da prova da existência de 
Deus. Por meio de quatro provas, ele busca mostrar como se pode chegar até 
Deus. A primeira prova “[...] deriva da consideração de que cada qual tende a se 
apoderar das coisas que julga boas [...] a bondade em virtude da qual as coisas 
são boas só pode ser uma” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 149). A segunda 
prova diz respeito à grandeza qualitativa: “A variedade dessa grandeza, por nós 
A filosofia cristã6
constatada, exige a suma grandeza, da qual todas as outras são participação 
gradual” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 149).
A terceira prova fala do ser propriamente: 
Tudo aquilo que existe, existe em virtude de alguma coisa ou em virtude de 
nada. Mas nada existe em virtude de nada [...] do nada não provém o nada. 
Assim, ou se admite a existência do ser em virtude do qual as coisas existem 
ou nada existe. Mas, como existe algo, existe o ser supremo (REALE; AN-
TISERI, 2003, p. 150). 
A quarta prova da existência de Deus deriva da constatação dos graus de 
perfeição, “[...] apoia-se sobre a hierarquia dos seres e exige que exista uma 
perfeição primeira e absoluta” (REALE; ANTISER, 2003, p. 150). Essas 
provas, por meio das quais Anselmo conclui que Deus é “[...] aquilo do qual 
nada de maior se pode pensar” (REALE; ANTISER, 2003, p. 150), estão em 
sua obra denominada Monologion.
Tomás de Aquino (1225–1274) foi um dos maiores filósofos do Medievo. 
Ele estudou as obras de Aristóteles com seu mestre e catedrático Alberto 
Magno (1193–1280). Magno preocupou-se em distinguir filosofia e teologia. 
Ele considerou algumas diferenças para demonstrar que o conhecimento 
filosófico e o teológico não são a mesma coisa. No conhecimento filosófico, 
utiliza-se somente a razão; a filosofia parte de premissas que são evidentes, 
ou seja, que devem ser conhecidas por si mesmas; a filosofia parte da experi-
ência das coisas criadas; e, por fim, a filosofia é um procedimento puramente 
teorético. Já sobre o conhecimento teológico, Alberto diz que, em primeiro 
lugar, trata-se da fé, que vai além da razão. Por meio da fé, chega-se a coisas 
que influenciam a razão, ou seja, que não aparecem de imediato à razãoe que 
sem a fé seriam impensáveis. Outra diferença é que a fé parte de Deus, que 
revela a verdade. A quarta diferença é que por meio da razão não é possível 
dizer o que é Deus; somente pela fé pode-se chegar nele. Por fim, a fé comporta 
um processo intelectivo e afetivo “[...] pois envolve a existência do homem no 
amor de Deus” (REALE; ANTISER, 2003, p. 203).
Tomás de Aquino foi um profundo conhecedor do debate filosófico e 
teológico de seu tempo. Ele concebe a filosofia de forma independente da 
teologia, ao contrário, por exemplo de Boaventura, filósofo e contemporâneo 
de Tomás. Para Tomás, filosofia e teologia são modos diferentes de se buscar 
a verdade e de se opor ao erro. O filósofo não coloca superioridade nem na 
razão, nem na fé; ambas provêm de Deus (VASCONCELLOS, 2014). Nas 
conhecidas cinco vias de acesso a Deus desenvolvidas por Tomás, o filósofo, 
7A filosofia cristã
por meio da razão, elabora uma série de argumentos para demonstrar que por 
meio da razão é possível chegar à existência de Deus. A seguir, veja em que 
consistem essas cinco vias.
O primeiro argumento diz que “[...] tudo o que se move é movido por outro; 
por conseguinte, também o que moveu foi movido e assim ocorre sucessivamente” 
(VASCONCELLOS, 2014, p. 76). Esse movimento não pode se suceder infinita-
mente; assim, é necessário que exista um primeiro motor que move e esse motor 
é Deus. A segunda via versa sobre a causalidade como ponto de partida. Tudo o 
que existe deve ter uma causa e assim por diante; desse modo, chega-se à causa 
primeira, que é Deus. Tomás estrutura a terceira via a partir de coisas possíveis 
e coisas necessárias: “No mundo sensível encontram-se coisas que podem ser e 
também podem não ser. São, pois, contingentes” (VASCONCELLOS, 2014, p. 
77). Dessa forma, se algo foi gerado, significa que não existia antes da geração; 
a existência de uma coisa também segue o mesmo raciocínio. A conclusão de 
Tomás é que “[...] a existência de um ser necessário, por si mesmo, [...] é a causa 
da necessidade para os outros” (VASCONCELLOS, 2014, p. 77). Esse ser 
necessário para a existência dos outros é Deus.
A quarta via versa sobre o grau de perfeição existente nas coisas. Há coisas 
boas e outras não tão boas, existe o mais verdadeiro e o menos verdadeiro. Dessa 
forma, conclui o filósofo, “[...] os diferentes graus de perfeição, existente nas 
coisas, supõem um máximo grau de perfeição, que é Deus” (VASCONCELLOS, 
2014, p. 77). A quinta e última via de acesso que prova a existência de Deus diz 
que algumas coisas agem em vista de um fim, ou seja, há uma ordem perce-
bida nas coisas do mundo: “Tal ordem supõe um ordenador [...] conclui Tomás 
que existe um ordenador inteligente que faz com que as coisas naturais sejam 
ordenadas a um fim. Tal ordenador é Deus” (VASCONCELLOS, 2014, p. 77).
Em sua grande obra intitulada Suma Teológica, Tomás filosofa sobre 
diversos temas: teológicos, éticos e políticos, temas acerca da natureza do 
homem, a questão das virtudes, etc. Tomás discute também o problema do 
ser e da essência, portanto se debruça sobre a metafísica. Em uma de suas 
primeiras obras, O ente e a essência, o filósofo explicita os conceitos da me-
tafísica. Nesse sentido, Tomás afirma que tudo o que existe é ente. Esse ente 
pode ser lógico ou puramente conceitual, como real ou extramental (REALE; 
ANTISERI, 2003). Tomás resgata a discussão acerca dos universais e se coloca 
como um pensador realista moderado, “[...] segundo o qual o caráter universal 
dos conceitos é fruto do poder de abstração do intelecto. O universal não é 
real, porque somente o indivíduo é real” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 216). 
No entanto, por meio do intelecto, é possível alcançar a universalidade das 
coisas, resultado da ação de abstração da inteligência.
A filosofia cristã8
Sobre o ente e a essência, Tomás diz que tudo é ente, inclusive Deus, mas, 
em Deus, “[...] o ser se identifica com sua essência, razão pela qual também é 
chamado ‘ato puro’ e ‘ser subsistente’” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 216). 
Porém, na criatura, o ser se distingue da essência, no sentido de que, na criatura, 
a essência não é a sua existência, mas possui (tem) a existência. Já em Deus, a 
essência se identifica com o ser, ou seja, é ato puro. Nas criaturas, a essência 
é potência de ser, isto é, existe enquanto potência. Como você pode notar, a 
filosofia de Aristóteles é a grande influenciadora da filosofia de Tomás: “A 
filosofia tomista é uma filosofia cristã e seria singular equívoco esquecê-lo. O 
aristotelismo, nela, representa um caminho e um meio, sofrendo modificações 
tão profundas que chega a perder a sua fisionomia própria” (TRUC, 1968, p. 109).
Aristóteles, em sua Metafísica, defendeu a teoria das quatro causas, que 
diz que tudo o que existe deriva de uma causalidade. Nessa obra, Aristóteles 
buscou investigar o ser enquanto ser. Ao contrário de Platão, ele levou em 
consideração em sua filosofia a natureza; nesse sentido, o filósofo percebeu 
que há movimento na natureza. Daí que o seu pensamento se direciona para 
o início do movimento da natureza. O primeiro motor imóvel é a ideia a que 
chega Aristóteles sobre o início das coisas; o motor imóvel é o responsável por 
colocar o movimento nas coisas. O motor imóvel é imaterial, eterno, possuidor 
de inteligência suprema e de suma bondade.
Para Gilson (2006, p. 2), “[...] o espírito da filosofia medieval [...] é o espírito 
cristão, que penetra a tradição grega, trabalhando-a por dentro e fazendo-a 
produzir uma visão do mundo”. Nesse sentido, pode-se tomar como exemplo 
Agostinho e Tomás de Aquino. Inspirados nas filosofias de Platão e de Aristóteles, 
os filósofos cristãos produziram uma filosofia cristã à luz da filosofia grega.
As correntes de pensamento filosófico
que haviam no período de desenvolvimento
do cristianismo
Em qualquer período histórico, há uma infl uência circular, ou seja, nos dois 
sentidos. Se você admitir que o período medieval infl uenciou e determinou 
em boa parte a orientação geral da história fi losófi ca, também precisa consi-
derar que tal período foi infl uenciado pela fi losofi a antiga. Coutinho (2008, 
p. 3) explica que o período medieval emerge na história como resultado de 
três fatores: “[...] o arruinamento do mundo clássico antigo, a barbarização 
do espaço europeu e o advento e difusão do Cristianismo”. A convergência 
desses três acontecimentos se dá não longe dos primeiros séculos da era cristã.
9A filosofia cristã
Quando o pensamento cristão passa a se desenvolver na cultura, já existem 
correntes filosóficas presentes no campo em que ele exerce força hegemônica: 
“A Idade Média não enjeita o legado cultural do Classicismo greco-romano. 
Assume-o, porém, não na sua pureza clássica, mas submetendo-o ao espírito 
que lhe era próprio: medievaliza-o, quer dizer, barbariza-o e cristianiza-o” 
(COUTINHO, 2008, p. 6). A filosofia platônica exerceu grande influência 
sobre o campo filosófico, e tal influência não foi interrompida durante a Idade 
Média. Além disso, outras correntes filosóficas, tais como o helenismo, o 
neopitagorismo, o gnosticismo e o cabalismo, existiram no período em que o 
cristianismo se desenvolveu.
Três escolas fizeram parte da filosofia helenística. São elas: o estoicismo, 
o epicurismo e o ceticismo. O estoicismo compreende a reflexão acerca da 
natureza, das leis e das formas de relação entre elas. O estoicismo defende 
que o cosmos é formado pela harmonia das forças contrárias. Assim, a justa 
medida contemplada na natureza é aquela que deve ser buscada pelo filósofo, 
seja na vida política, seja nas ações morais (CÂMARA, 2014). Ulmann (2008) 
explica que a palavra “estoicismo” se origina da expressão grega stoá poikílê, 
cujo significado é “pórtico multicolorido”. Nesse pórtico, o filósofo Zenon de 
Cítio (336–264 a.C.) costumava ensinar seus discípulos.
A filosofia estoica divide-se em três fases: “1. Estoicismo primitivo ou antigo, 
com seus três representantes — Zenon, Cleantes e Crisipo;2. Estoicismo médio, 
no qual se destacam Panécio e Posidônio; 3. Estoicismo romano, com Sêneca, 
Musônio Rufo, Epicteto e Marco Aurélio” (ULMANN, 2008, documento on-
-line). Sêneca, um dos principais filósofos dessa escola, sugere que o mundo é 
dividido em quatro reinos ou naturezas viventes, além da matéria inerte. 
Existem as seguintes quatro naturezas: a das árvores, a dos animais, a do 
homem e a de Deus. As duas — homem e Deus — são racionais e possuem 
idêntica natureza; no entanto, distinguem-se, pois uma é imortal (Deus), a 
outra, mortal (SÊNECA apud ULMANN, 2008, documento on-line).
Para os estoicos, o ser absolutamente perfeito é Deus:
[...] o qual encerra toda a perfeição da natureza, integralmente. E a natureza, 
em sua integridade, é racional. Todo o resto caracteriza-se como relativamente 
perfeito, ou seja, cada ser em seu grau distingue-se por um traço de perfeição 
(ULMANN, 2008, documento on-line). 
A filosofia cristã10
A filosofia da natureza desenvolvida pelos estoicos considera que o logos 
é o princípio cósmico. O logos, a razão, é imanente no cosmos, assim tudo é 
racional (REALE; ANTISERI, 2003). Para os estoicos, todas as coisas são 
partes de um grande organismo: “Tal como no corpo humano toda modificação 
num membro é sentida em todos os outros, assim também no cosmo existe 
recíproca inter-relação (ULMANN, 2008, documento on-line).
O epicurismo é outra corrente filosófica que exerce grande influência na 
cultura helênica. Epicuro de Samos fundou sua Escola em Atenas em 307/306 
a.C. De acordo com Reale e Antiseri (2003), Epicuro retomou de Leucipo e 
Demócrito a teoria atomista, de Sócrates o conceito de filosofia como arte 
de viver, e dos Cirenaicos a estreita relação entre felicidade e prazer. Epicuro 
adotou substancialmente a tripartição de Xenocrates da filosofia em lógica, 
fisica e ética. De acordo com Reale e Antiseri (2003, p. 261), a lógica deve 
“[...] elaborar os cânones segundo os quais reconhecemos a verdade; a segunda 
estuda a constituição do real; a terceira, o fim do homem (a felicidade) e os 
meios para alcançá-la”. A lógica e a física devem ser elaboradas em função 
da ética.
Nesse sentido:
A ética, ponto de convergência de toda a doutrina de Epicuro, apresenta a 
forma em que os homens podem tornar-se felizes, livres das mazelas que os 
perturbam, sejam essas causadas pela política, sociedade ou advindas da 
religião (CÂMARA, 2014, documento on-line). 
Ao contrário de Platão, que afirma que a sensação confunde a alma e desvia 
o ser, Epicuro pontua que é pela sensação que se colhe o ser.
Algumas correntes filosóficas se difundiram nos primeiros séculos depois 
de Cristo tanto no Oriente quanto no Ocidente. O gnosticismo foi a primeira 
tentativa
de filosofia cristã, feita sem rigor sistemático, com a mistura de elementos 
cristãos míticos, neoplatônicos e orientais. Em geral, para os gnósticos o co-
nhecimento era condição para a salvação, donde esse nome, que foi adotado 
pela primeira vez pelos Ofitas ou Sociedade da Serpente, que mais tarde se 
dividiram em numerosas seitas (ABBAGNANO, 2007, p. 485).
11A filosofia cristã
De acordo com Abbagnano (2007), uma das teorias mais típicas de tal 
corrente filosófica é o dualismo dos princípios supremos. Nessa perspectiva, 
“A tentativa de união entre os dois princípios, bem e mal, tem como resultado 
o mundo, no qual as trevas e a luz se unem, mas com predomínio das trevas” 
ABBAGNANO, 2007, p. 486).
O século II da era cristã é o momento em que aparecem os padres apolo-
gistas ou apologetas, “[...] assim chamados porque suas obras principais são 
apologias da religião cristã” (GILSON, 2001, p. 2). As obras apologéticas 
serviam como forma de sustentação para se obter dos imperadores romanos 
o reconhecimento do direito legal dos cristãos a existirem num império que 
era oficialmente pagão (GILSON, 2001). Justino escreveu, no ano de 150, 
uma apologia destinada ao imperador Adriano e a Marco Aurélio (Segunda 
apologia). Justino era um pagão da religião grega que se converteu à religião 
cristã antes de 132. De acordo com Gilson (2001), ele buscava na filosofia 
uma religião natural. Frequentou a escola estoica, dirigiu-se aos peripatéticos, 
instruiu-se no pitagorismo e filiou-se aos discípulos de Platão. Em seu Diálogo 
com Trifão (sua terceira obra), Justino narra como encontrou na religião cristã 
as respostas às perguntas que lhe inquietavam. Gilson (2001) aborda a história 
de Justino para mostrar que a religião cristã “[...] oferecia uma nova solução para 
problemas que os próprios filósofos tinham levantado” (GILSON, 2001, p. 5).
Filosofia e religião
De acordo com Gilson (2001), a religião cristã tomou contato com a fi losofi a 
no século II. Já a fi losofi a medieval é marcada por uma íntima ligação com a 
religião, sobretudo a religião cristã, embora haja uma refl exão fi losófi ca oriunda 
dos árabes e judeus, de acordo com Vasconcellos (2014). Nesse sentido, é “[...] 
usual, no período medieval, a utilização da fi losofi a para tratar de temas que 
são, em si mesmos, teológicos” (VASCONCELLOS, 2014, p. 10). Portanto, 
há dois elementos que provocam discussões nos historiadores da fi losofi a: 
cristianismo e fi losofi a. Há uma fi losofi a cristã? Ou uma fi losofi a medieval?
Como você sabe, a Bíblia não é um livro histórico, ou seja, ela não objetiva 
tratar de história, mas abordar uma mensagem de fé. Em algumas passagens 
do Novo Testamento, há sinais de que os primeiros cristãos se aproximaram 
da cultura filosófica grega com o intuito de se fazerem entender e também 
de conquistar povos que não pertenciam à cultura judaico-cristã, como os 
greco-romanos. Considere dois exemplos disso: o quarto evangelho, escrito 
A filosofia cristã12
provavelmente no ano 85 d.C. (SANTOS; XAVIER; ARAUJO, 2011), atribuído 
a são João; e algumas epístolas de Saulo de Tarso, tais como a primeira carta 
aos colossenses, a epístola aos romanos e a epístola aos tessalonicenses.
O evangelho de João foi escrito originalmente em grego. Ele é diferente 
em relação aos outros três, pois traz uma linguagem simbólica, além de ele-
mentos da filosofia grega, tais como a ideia de logos, como pode ser visto no 
capítulo 1: “No princípio [arché] era o verbo [logos]. E o verbo estava com 
Deus. E o verbo era Deus”. No original: “ Ἐλ ἀξχῇ ἦλ ὁ ιόγoν, kαὶ ὁ ιόγoν ἦλ 
πξὸο ηὸλ ζεόλ, θαὶ ζεὸο ἦλ ὁ ιόγoν” (SANTOS; XAVIER; ARAUJO, 2011, 
documento on-line). Note que, além de retomar a narrativa da origem do 
universo presente no livro do Genesis, o autor do evangelho traz dois termos, 
arché e logos, que estão presentes na filosofia grega desde os pré-socráticos. 
Arché é o termo utilizado para discutir a origem das coisas; e logos significa 
“[...] a razão enquanto substância causa do mundo” (ABBAGNANO, 2007, p. 
630). O termo logos foi definido primeiramente pelo filósofo pré-socrático 
Heráclito de Éfeso (540–470 a.C.). Esse termo era utilizado para tratar da 
razão enquanto causa do mundo, mas no pensamento cristão logos é o termo 
utilizado para referir-se à pessoa divina (ABBAGNANO, 2007).
Portanto, aqui, já se tem a influência da filosofia grega. Como você viu, 
arché é o termo que designa o princípio das coisas. Os filósofos pré-socráticos, 
entre eles Tales de Mileto, Heráclito de Éfeso e Pitágoras de Samos, atribuíram 
a origem do universo a diferentes fatores. Assim, ao se perguntar sobre qual 
era o fundamento das coisas, os filósofos procuravam tal fundamento na 
natureza e utilizavam a razão para investigar a origem do mundo. Ou seja, eles 
não designavam a fé como um elemento da filosofia e tampouco atribuíam 
o criacionismo como doutrina ou fator fundante das coisas. Já o pensamento 
cristão afirma que Deus é o ser que criou o universo e todas as coisas: “No 
princípio, Deus criou o céu e a terra” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002, Gn 1, 
1). Esse pensamento que o cristianismo sustenta é herdado da cultura judaica.
As cartas atribuídas a Saulo de Tarso, assim como os Atos dos Apóstolos,trazem elementos que sinalizam a aproximação do movimento cristão dos 
primeiros séculos com a filosofia grega. Os Atos dos Apóstolos, capítulo 
17, versículos 18 a 34, narram um episódio em que Saulo de Tarso, cidadão 
romano, discute com alguns filósofos gregos, entre estoicos e epicureus, no 
Areópago. A disputa versa sobre questões como a nova doutrina e assuntos 
teológicos. Com isso, tem-se uma ideia da aproximação da nova religião com 
a filosofia grega desde Saulo, ou seja, entre os anos 40 e 50 d.C.
13A filosofia cristã
Quando se fala em filosofia cristã, não se podem perder de vista as discussões filosóficas 
já realizadas na Grécia Antiga e que prosseguiram em momentos históricos posteriores. 
A filosofia destaca-se por utilizar a razão para tratar de temas que dizem respeito à 
vida das pessoas, como a política, a ética, o homem, o conhecimento, a estética, entre 
outros. A razão, o diálogo e a discussão são elementos estruturantes da filosofia no 
que toca ao período grego. Outra característica da filosofia é que ela se desenvolveu 
numa determinada cultura, a grega, que tinha uma organização social e política própria. 
Do ponto de vista religioso, a sociedade grega adorava e cultuava deuses e deusas; 
portanto, era uma sociedade politeísta.
Esses pontos impactam a cultura cristã e a sua herança judaica monoteísta. O grande 
ponto que é trazido para o campo das discussões filosóficas pelo pensamento cristão 
é a fé. Nesse sentido, houve todo um esforço para conciliar fé e razão durante a época 
medieval. Houve também filósofos que renegaram a razão e sustentaram que a fé 
era o único elemento a ser levado em conta quando se pensava em fazer filosofia.
Definir o significado da filosofia não é tarefa fácil. De acordo com Ab-
bagnano (2007), tal significado pode ser encontrado no livro Eutidemo, de 
Platão, e perpassa diferentes épocas até chegar à Modernidade. A filosofia 
é vista como o uso do saber em proveito do homem. No livro de Platão, a 
filosofia refere-se a “[...] uma ciência em que coincidam fazer e saber” (AB-
BAGNANO, 2007, p. 442). De acordo com esse conceito, filosofia implica: 
“[...] posse ou aquisição de um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, o 
mais válido e o mais amplo possível; [bem como] uso desse conhecimento em 
benefício do homem” (ABBAGNANO, 2007, p. 442). Esses dois elementos, 
aponta Abbagnano (2007), estão presentes desde a Antiguidade e perpassam 
a Modernidade, em Descartes, Hobbes e Kant.
A filosofia trata-se, portanto, de um saber acessível ao homem. Esse saber 
é entendido:
[...] tanto como revelação ou posse quanto como aquisição ou busca, podendo-se 
entender que seu uso deva orientar-se para a salvação ultraterrena ou terrena 
do homem, para a aquisição de bens espirituais ou materiais, ou para a reali-
zação de retificações ou mudanças no mundo (ABBAGNANO, 2007, p. 442). 
Assim, desde os gregos antigos, a filosofia transmite a ideia de um saber 
que é racional e que está a serviço do homem, ou seja, um conhecimento que 
lhe é útil; não se trata de um saber contemplativo. A filosofia, portanto, é um 
A filosofia cristã14
saber útil que serve para que o homem conheça o mundo, conheça a si mesmo, 
conheça o outro, conheça seu ambiente. Ela trata do conhecimento a serviço 
do homem (ABBAGNANO, 2007).
Por outro lado, o cristianismo é um movimento religioso, advindo do 
judaísmo. Portanto, traz em si uma concepção monoteísta, adora um Deus 
como o criador do universo. Mas, diferentemente do judaísmo, o cristianismo 
defende que o messias já veio ao mundo e que seu nome é Jesus. A religião 
cristã é baseada nos evangelhos, que são escritos sobre a vida de Jesus e os 
seus ensinamentos. Os evangelhos são compostos de quatro livros, escritos por 
Marcos, Lucas, Matheus e João. A sua mensagem é a de que Jesus anunciou o 
reino de Deus, a salvação dos homens. A fé é o elemento central do cristianismo.
Fé e razão são dimensões que se entrecruzam na filosofia cristã e também 
na filosofia medieval. O elemento da salvação também é abordado na filosofia 
grega e na religião cristã. No entanto, ambas abordam esse aspecto de formas 
diferentes. Gilson (2001) sintetiza essa diferença da seguinte maneira: “A 
filosofia é um saber que se dirige à inteligência e lhe diz o que são as coisas; 
a religião se dirige ao homem e lhe fala de seu destino” (GILSON, 2001, p. 
16). Vale dizer que é a partir do encontro do cristianismo com a filosofia grega 
que se desenvolve a filosofia medieval.
Gilson (2006) critica alguns comentadores e historiadores da filosofia que 
negam a existência de uma filosofia cristã. Tais autores defendem que retalhos 
de doutrinas gregas foram mais ou menos costurados a uma teologia; ou, ainda, 
salientam que os critãos retomaram o pensamento de Platão e de Aristóteles 
para satisfazer seus interesses. Junto a esses críticos, Gilson (2006) coloca os 
chamados racionalistas, que consideram que a razão não pertence à ordem da 
religião, mas à ordem da filosofia. Ele ainda comenta que não há um filósofo 
neoescolástico que considere haver uma relação entre filosofia e religião: “O 
que os neoescolásticos negam é que nenhum pensador cristão tenha conse-
guido constituir uma filosofia porque sustentam que são Tomás de Aquino 
fundou uma [...] a única constituída num plano racional” (GILSON, 2006, p. 
8). Enquanto os racionalistas colocam a filosofia no topo e a identificam com 
a sabedoria, os neoescolásticos a tornam subalterna da teologia.
Gilson (2006, p. 16) comenta que o fato de não haver filosofia na Bíblia 
não autoriza a sustentar que “[...] a Escritura não possa ter exercido alguma 
influência sobre a evolução da filosofia”. Em suma, Gilson (2006, p. 17) afirma, 
acerca da discussão entre fé e razão, que, segundo a tradição agostiniana, a 
fé é diferente da razão e da filosofia da religião; já a tradição tomista ressalta 
que “[...] a razão é inseparável da fé em seu exercício”. Nesse sentido, o autor 
15A filosofia cristã
ressalta que, embora não se saiba no que consiste a filosofia cristã, não se deve 
renegar a filosofia do pensamento cristão, pois “[...] não há razão cristã, mas 
pode haver um exercício cristão da razão” (GILSON, 2006, p. 17).
Como você sabe, há teórios que dizem que a Idade Média foi a idade das 
trevas, em que não houve filosofia, mas uma teologia que colocava a filosofia 
como subalterna. Essa é, por exemplo, a leitura histórica feita pelo Positivismo. 
Contudo, Gilson (2006) defende que, desde o Renascimento, com o retorno aos 
valores clássicos da cultura greco-romana, e também no Iluminismo, houve 
um período filosófico fértil influenciado por ideias advindas do cristianismo. 
Isso pode ser observado na metafísica de René Descartes, que, em oposição à 
metafísica grega, reflete o pensamento cristão. Descartes, na obra Meditações, 
aborda o problema da existência de Deus e da existência da alma, que são 
demonstradas por meio do método das provas. Gilson (2006, p. 18) sugere 
que isso lembra as provas da existência de Deus em santo Anselmo e até em 
Tomás de Aquino, além disso, a noção de liberdade de Descartes remonta 
à ideia medieval sobre a relação entre graça e livre-arbítrio, “[...] problema 
cristão por excelência”. Com isso, Gilson (2006) denota que há um pensamento 
cristão e que ele influenciou a filosofia.
Um aspecto que aparece na filosofia desde os filósofos antigos é a busca 
pela sabedoria. Alguns pensadores definem o alcance da sabedoria como o 
objetivo da vida filosófica. Saulo de Tarso, o apóstolo que defendia que o 
cristianismo era uma religião e não uma filosofia (GILSON, 2006), afirmava 
que “[...] o Evangelho é uma salvação, e não uma sabedoria, seria melhor 
dizer que a salvação que ele prega é, a seu ver, a verdadeira sabedoria, e isso 
precisamente por ser uma salvação” (GILSON, 2006, p. 28). Nota-se, pois, 
um redimensionamento de conceitos como sabedoria e salvação, que estão 
presentes na filosofia grega, mas que, no pensamento cristão de Saulo de 
Tarso, transformam-se.Em Justino, o elemento filosófico está no centro do debate. De acordo 
com Gilson (2006), em Diálogo com Trifão, Justino afirma que o objetivo 
da filosofia é levar os fiéis até Deus e uni-los a ele. A busca pela verdade, 
enquanto problema filosófico, é central nos primórdios do pensamento cristão: 
“Um homem busca a verdade apenas pela razão, e fracassa; a verdade lhe é 
oferecida pela fé, ele a aceita e, tendo-a aceitado, acha-a satisfatória para a 
razão” (GILSON, 2006, p. 31). Justino chega a verdades filosóficas por ca-
minhos não filosóficos: “Onde reina a desordem da razão, a revelação faz a 
ordem reinar” (GILSON, 2006, p. 31). Essa é a experiência que o pensamento 
cristão torna relevante.
A filosofia cristã16
Desse ponto de vista, Gilson (2006) salienta que o cristianismo não é um 
conhecimento abstrato da verdade, mas um método de salvação. De acordo 
com o autor, no século II, os sistemas filosóficos, como os de Platão e de 
Aristóteles, visavam essencialmente à constituição de uma ciência, ou seja, 
não possuíam uma “[...] eficácia para a conduta da vida” (GILSON, 2006, p. 
36). Por sua vez, o cristianismo prolongava a ordem natural com uma ordem 
sobrenatural. Apelando para a graça divina como fonte inesgotável de energia 
“[...] para a apreensão do verdadeiro e a realização do bem, o cristianismo 
se oferecia ao mesmo tempo como uma doutrina e uma prática” (GILSON, 
2006, p. 36). O pensamento cristão colocava-se nesse momento como uma 
filosofia prática para a vida. Diferente de uma filosofia especulativa e de um 
conhecimento abstrato, o cristianismo defendia a verdade enquanto revelação 
de Deus, obtida pela ação de fé do homem. Portanto, a filosofia grega era vista 
nesse momento como o caminho de uma razão sem guia, enquanto o filósofo 
cristão possuía uma razão dirigida (GILSON, 2006).
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