Buscar

Subjetividade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Subjetividade: uma análise pautada na psicologia histórico-cultural.
Leontiev (1978/1983, p. 44), traz a subjetividade como “uma propriedade do sujeito ativo”. Um fator que torna o sujeito único, singular. Uma subjetividade constituída com base na realidade material, na relação entre os homens.
O DESENVOLVIMENTO DO PSIQUISMO E DA SUBJETIVIDADE NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL.
O desenvolvimento da subjetividade tem sido compreendido como um processo natural, desvinculado das condições históricas, como se ocorresse em etapas universalizadas, pautadas, muitas vezes, apenas na maturação biológica, não dando conta de explicar o homem concreto, síntese das relações sociais, como propõe uma visão marxista. Para Marx, “o conteúdo da essência humana reside no trabalho.... o ser do homem, a sua existência, não é dada pela natureza, mas é produzida pelos próprios homens” (Saviani, 2004, p. 28). O homem constrói, assim, sua essência em sua existência, em sua atividade prática chamada trabalho. Para o homem, não basta adaptar-se à natureza, é preciso transformá-la. Essa transformação ocorre por meio do trabalho
.
A análise de Saviani (2004) evidencia que Marx, nas teses sobre Feuerbach, aponta claramente sua concepção de essência humana, de subjetividade e sua definição de homem. O desenvolvimento do homem é, portanto, um processo histórico e social, visto que “o homem é um ser de natureza social, que tudo o que tem de humano nele provém de sua vida em sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade” (Leontiev, 1978/2004, p. 279, grifos do autor). O homem só se torna homem, só se humaniza, enquanto se apropria dos mediadores construídos culturalmente, dos conhecimentos construídos pela humanidade ao longo de seu desenvolvimento sócio-histórico. 
Dessa forma, o sujeito desenvolve as características especificadamente humanas à proporção que internaliza o trabalho social, o modo de pensar e agir cristalizado na sociedade na qual está inserido. Sem o processo de transmissão de conhecimentos e de comunicação, seria impossível a continuidade do processo histórico, visto que as gerações seguintes não teriam acesso ao desenvolvimento histórico-cultural da humanidade.
Segundo Leontiev (1978/2004), os indivíduos, para se humanizarem, precisam se apropriar da cultura e dos mediadores culturais criados pela humanidade. Portanto o homem só se torna homem ao apropriar-se do mundo, e a constituição da sua subjetividade caminha desse ir e vir do mundo interno para o mundo externo, numa relação dialética entre objetividade e subjetividade. 
Vigotsky (1931/2000) diz que o comportamento de um adulto culturalizado é o resultado de dois processos distintos do desenvolvimento psíquico: por um lado, é um processo biológico de evolução das espécies animais e por outro um processo histórico. O homem constitui sua subjetividade mediante o processo de apropriação dos conhecimentos construídos historicamente, desenvolvendo, assim, suas funções psicológicas superiores, tais como raciocínio lógico, pensamento abstrato, capacidade de planejamento, entre outras funções. Esse é um aspecto fundamental para o desenvolvimento da subjetividade e está assentado, também, na relação com outros homens. As funções psicológicas aparecem primeiro num plano interpsiquico e depois tornam-se intrapsiquicas, ou seja, aparece no plano externo/social e é internalizada; um processo de fora para dentro. 
A apropriação do mundo permitirá, portanto, que a criança, cada vez mais, torne-se humanizada e constitua a sua subjetividade em uma realidade concreta. Saviani (2004, p. 46) destaca que os sujeitos se constituem por meio das relações que estabelecem entre si, ou seja, um indivíduo “só pode tornar-se homem se incorporar, em sua própria subjetividade, formas de comportamento e ideias criadas pelas gerações anteriores e retrabalhadas por ele e por aqueles que com ele convive”. O psiquismo é determinado pela sua relação com o mundo exterior. Por isso não pode ser considerado como um psiquismo puro ou abstrato, e deve ser entendido como “imagem subjetiva do mundo objetivo, isto é, como reflexo psíquico da realidade. O psiquismo e consequentemente o reflexo psíquico resultam de uma relação ativa estabelecida entre o homem e a natureza, são produtos da evolução humana” (Martins, 2007, p. 64).
O homem se humaniza enquanto se apropria da cultura construída histórica e socialmente pelos seus antepassados, o que se torna muito difícil em uma sociedade permeada pela divisão de classe e pelo processo de alienação. 
Sujeito, subjetividade e modos de subjetivação na contemporaneidade.
SUBJETIVIDADE
Para Félix Guattari, a “(. . .) subjetividade não é passível de totalização ou de centralização no indivíduo” (Guattari & Rolnik, 1996, p. 31). Já, de início, o autor esclarece que a subjetividade não implica uma posse, mas uma produção incessante que acontece a partir dos encontros que vivemos com o outro (social, natureza, meio; o que produz efeitos nos corpos e nas maneiras de viver). A “subjetividade é essencialmente fabricada e modelada no registro do social” (idem).
Em larga medida, somos atravessados por essa concepção que, por diferentes vias, colabora para que a nossa vida seja organizada de maneira bastante fixa, valendo-se de regras e valores instituídos que, ao ganharem uma configuração dominante, são legitimados como algo que deve assim permanecer. Retomando as ideias de Guattari, vemos que a subjetividade é por ele compreendida como um processo de produção no qual comparecem e participam múltiplos componentes. Esses componentes são resultantes da apreensão parcial que o humano realiza, permanentemente, de uma heterogeneidade de elementos presentes no contexto social. Nesse sentido, valores, ideias e sentidos ganham um registro singular, tornando-se matéria prima para expressão dos afetos vividos nesses encontros. Essa produção de subjetividades, da qual o sujeito é um efeito provisório, mantém-se em aberto uma vez que cada um, ao mesmo tempo em que acolhe os componentes de subjetivação em circulação, também os emite, fazendo dessas trocas uma construção coletiva viva. 
É necessário acrescentar que a difusão desses componentes se dá a partir de uma série de instituições, práticas e procedimentos vigentes em cada tempo histórico. É nessa dinâmica mutante que os processos de subjetivação vão tomando forma. Assim, esses componentes ganham importância coletiva e são atualizados de diferentes maneiras no cotidiano de cada vivente. Por isso mesmo, eles podem ser abandonados, modificados e reinventados em um movimento de misturas e conexões que não cessa. Pode-se dizer, então, que os múltiplos componentes de subjetividade difundem-se como fluxos que percorrem o meio social, dando-lhe movimento.
Obviamente, há sempre o risco de que essas invenções sejam capturadas e transformadas em novas referências a serem simplesmente reproduzidas pela coletividade. Os “processos de singularização” podem ser compreendidos como uma espécie de desvio, de escapatória frente às tentativas de traduzir a existência pelo crivo dominante do capital. A matéria prima que compõe as subjetividades são variáveis e historicamente localizadas. Portanto, quando recorremos em nossos estudos à noção de subjetividade, tal qual pensada por Guattari, estamos referidos a uma matéria-prima viva e mutante a partir da qual é possível experimentar e inventar maneiras diferentes de perceber o mundo e de nele agir. O encontro com esses componentes possibilita fazer conexões díspares e inesperadas, precipitando movimentos que insistem em suas misturas e desvios.
Assim, novos componentes são recorrentemente inventados e abandonados tendo, portanto, valor e duração históricos. Para compreender como esses componentes subjetivos se agrupam e, por isso, ganham contornos distintos, passaremos a analisar, a partir de agora, uma outra noção aqui proposta: os modos de subjetivação.
MODOS DE SUBJETIVAÇÃO
Vejamos como Foucault faz a análise dos modos de subjetivação recorrendo, primeiramente, aosseus estudos sobre o estoicismo. Ele encontra, nos gregos, uma forma de vida a partir da qual o sujeito, por meio do denominado “cuidado de si”, não o toma como uma regra rígida a ser seguida por todos como conduta geral, institucionalizada ou imposta. Ao contrário, o cuidado de si configurava-se como uma forma de viver facultativa que era acolhida espontaneamente por aqueles que assim o desejasse. Desse modo, essa decisão era tomada apenas por uma parcela pequena da população que escolhia ter uma vida considerada como bela e, a partir dessa escolha estética, tinha interesse e disponibilidade para assumir os cargos públicos. Somente aqueles que tinham condições de cuidar de si e tomavam essa tarefa como uma forma de vida (que pressupunha diferentes exercícios regulares e na maioria das vezes austeros), poderiam cuidar dos outros, governando as cidades. Na Antiguidade, esta elaboração do si e sua conseqüente austeridade não é imposta ao indivíduo pela lei civil ou pela obrigação religiosa; trata-se, ao contrário, de uma escolha feita pelo indivíduo para a sua própria existência.
Podemos considerar, nesse caso, que a escolha estética e política, por meio da qual se acolhe um determinado tipo de existência é compreendida por Foucault como um modo de subjetivação possível. Os modos de subjetivação podem tomar as mais diferentes configurações, sendo que estas cooperam para produzir formas de vida e formas de organização social distintas e, cabe insistir, mutantes. 
Os modos de subjetivação são transformados a partir de uma ruptura histórica. Vemos que emerge, pois, um discurso distinto, marcado pela obrigatoriedade do cuidado de si, que introduz uma mudança decisiva no modo de subjetivação anteriormente descrito. Aquele conjunto de regras até então facultativas transforma-se em uma obrigação. 
SUJEITO
O sujeito, segundo Deleuze, se constitui no dado. Deleuze também rompe com a noção de uma unidade evidente atribuída ao sujeito, ou seja, com a noção de um ser prévio que permanece. Para ele, o sujeito não está dado, mas se constitui nos dados da experiência, no contato com os acontecimentos e isso acontece nos diferentes encontros vividos com o outro, exercitamos nossa potência para diferenciarmos de nós mesmos e daqueles que nos cercam. 
Partindo do pressuposto de que a vida acontece nesse campo problemático complexo, onde os dados podem ser tomados como forças, ele mostra que existem as forças que afetam o sujeito de diferentes maneiras e perturbam uma organização mais conhecida, que convencionamos chamar de “eu”. Essas forças que circulam do lado de fora mantêm entre si uma relação de enfrentamento, de luta e de choque. Por isso mesmo, o sujeito não pode ser concebido como uma entidade pronta, mas ele se constitui à medida que é capaz de entrar em contato com essas forças e com as diferenças que elas encarnam, sofrer suas ações e, em alguma medida, atribuir-lhes um sentido singularizado. 
O sujeito, nessa perspectiva de análise, só pode ser analisado a partir de uma processualidade, de um vir a ser que não se estabiliza de maneira definitiva. Ele é construído à medida que experiencia a ação das forças que circulam no fora, e que, por diferentes enfrentamentos, afetam o seu corpo e passam, em parte, a circular também do lado de dentro. Sob essa ótica, a produção do sujeito envolve um movimento que não conhece sossego, pois ele não está dado de uma vez por todas. 
Qualquer tentativa de cristalizar esse movimento das forças, qualquer pretensão de discipliná-las ou mesmo de reprimi-las, faz com que a noção de sujeito ganhe contornos transcendentais. Ao transcender, a compreensão do sujeito fica colada a uma essência, a uma entidade ou, por que não dizer, a uma identidade.

Continue navegando