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DESENHO TÉCNICO E CAD Isabel Cristina Valente G es tã o D E S E N H O T É C N IC O E C A D Is ab el C ris tin a Va le nt e Curitiba 2021 Desenho Técnico e CAD Isabel Cristina Valente Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. V154d Valente, Isabel Cristina Desenho técnico e CAD / Isabel Cristina Valente. – Curitiba: Fael, 2021. 255 p. il. ISBN 978-65-86557-58-9 1. CAD (Programa de computador) 2. Desenho técnico I. Título CDD 005.369 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Voronina Svetlana Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Histórico, importância e aplicação do desenho técnico | 7 2. Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico | 29 3. Padronização do desenho técnico | 47 4. Aspectos gerais da representação do desenho técnico | 69 5. Uso da escala e instrumentos do desenho técnico | 93 6. Desenho geométrico e projeções ortogonais | 115 7. Dimensionamento e cotagem em desenho técnico | 137 8. Perspectivas, cortes e seções, hachuras | 159 9. Desenho técnico de arquitetura e engenharia civil | 181 10. Desenho técnico de instalações prediais | 209 Gabarito | 233 Referências | 247 Prezado(a) aluno(a), O ensino nos exige constante atualização, e no desenvolvi- mento desta obra não foi diferente – a pesquisa e a atualização constantes são necessárias para qualquer aspecto pessoal e pro- fissional. Neste texto inicial, gostaria de colocar que o estudo desta disciplina, DesenhoTécnico e CAD, não requer habilidade ou conhecimento prévio sobre desenho, mas sim sua atenção e dedição. Nesta disciplina, vamos tratar dos primeiros passos para o aprendizado do desenho técnico, a sua importãncia e utilização nas várias áreas de projeto. Assim, qualquer aluno que se dedique a entender as regras básicas e procedimentos entenderá o desenho, tanto manual quanto feito pelo computa- dor. Aprender um programa de desenho não significa aprender desenho técnico, pois é necessário aprender como representar um objeto, aprender as convenções gráficas e como usá-las para sua representação. Carta ao Aluno – 6 – Desenho Técnico e CAD Para isso, é necessário que você aprenda a pensar no objeto, enten- dendo as regras de representação gráfica. Após entender as regras básicas iniciais, você poderá se dedicar a aprender o desenho por meio dos vários softwares específicos para sua área, como vamos mostrar, e avançar na representação gráfica. Bons estudos! 1 Histórico, importância e aplicação do desenho técnico A palavra “desenho” tem origem no latim designare, for- mado por: de – fora, e signare – marcar, apontar, traçar. Dese- nhar então se refere a uma ação humana. Por definição, o dese- nho é a representação gráfica que, por meio de linhas e pontos, cores e sombras, de objetos, seres ou ideias sobre um plano, forma uma imagem ou ilustração (MICHAELIS, 2020). Então, podemos deduzir que o desenho nada mais é do que uma ferra- menta que usamos para transferir informações, sobre projetos, planos e ideias. A história do desenho se confunde com a história do homem. Muito tempo antes da escrita, os homens das cavernas já usavam as pinturas rupestres (pinturas rústicas encontradas em cavernas pré-históricas) para se comunicar e se expressar (FARIA, 2020) (Figura 1.1). Desenho Técnico e CAD – 8 – Assim, ao longo do tempo, com a evolução da cultura e dos modos de vida, o desenho passou a ser utilizado de várias formas, inclusive como escrita, contribuindo de maneira importante para a nossa compreensão da história. O registro da linguagem, por meio de signos para representar pala- vras, os chamados pictogramas (formados pela semelhança do desenho ao objeto a que se referem), formaram a base de sistemas de escrita, das anti- gas civilizações, como a egípcia e a suméria (PEIXOTO, 2013 p.31 apud CADÔR, 2007). Figura 1.1 – Pintura rupestre em gruta no Parque Nacional da Serra da Capivara-PI, Brasil Fonte: CC BY-SA 3.0. Esta evolução deu origem às duas formas de desenho que conhece- mos hoje: o desenho artístico – que vai comunicar ideias, sensações e sentimentos, estimulando a imaginação do observador – e o desenho téc- nico – que tem a finalidade de representar os objetos o mais próximo da realidade, de acordo com suas formas e dimensões. Na sequência deste capítulo, vamos compreender as diferentes for- mas de expressão do desenho técnico e do desenho artístico, como eles são elaborados, sua evolução como forma de comunicação humana e o seu desenvolvimento através da história. Vamos entender a importância do desenho técnico e onde ele está inserido em nosso cotidiano, quais as suas etapas de elaboração, e como evoluiu o desenvolvimento desta linguagem gráfica por meio do computador. – 9 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico 1.1 Desenho técnico e desenho artístico O desenho artístico, por essência, reflete a sensibilidade do artista, que pode expressar suas ideias, de forma rápida ou elaborada, sem o compromisso de retratar a realidade. Os artistas se expressam de maneira pessoal e, conforme Simone Peixoto (2013, p. 21), diferen- temente das outras formas, o desenho como arte também trata dos elementos não visíveis e imateriais, como sentimentos ou conceitos, além de representar objetos, plantas, uma paisagem ou a figura humana (Figura 1.2). Figura 1.2 – Desenho artístico: esboço a mão livre Fonte: Pixabay. Desenho Técnico e CAD – 10 – O desenho técnico, no entanto, tem a necessidade de seguir regras e convenções, para transmitir com exatidão as características do objeto que queremos representar, utilizando-se para isso de ferramentas de precisão (Figura 1.3). Desta forma, todos os elementos do desenho técnico devem seguir normas padronizadas, as chamadas normas técnicas, que veremos nos próximos capítulos, e que vão atender a diferentes modalidades das engenharias e da arquitetura. Figura 1.3 – Desenho técnico de arquitetura Fonte: Pixabay. 1.1.1 A evolução do desenho Já vimos que o desenho está associado à arte e à comunicação. Mas como foi sua evolução? Sabemos que os desenhos inicialmente eram feitos com carvão, terra, sementes e vegetais; mas com a evolução dos modos de vida, surgiram outros materiais, como o lápis, o papel e a tinta. Os novos materiais e o desenvolvimento de estudos, como a geometria e a matemática, possibilitaram o aprimoramento dessa forma de expressão. Segundo Peixoto (2013, p.33), o desenho nas civilizações egípcia, grega e romana era a base da produção humana (esculturas e pinturas); entretanto, não são conhecidos desenhos de obras desse período, apesar do grande conhecimento de anatomia e proporção. Já a partir do Renascimento, o desenho passou a ser a forma de repre- sentação mais usada para o projeto arquitetônico, como mostram as repre- – 11 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico sentações técnicas nos trabalhos de Leonardo da Vinci e Bruneleschi. Leo- nardo da Vinci (1452-1519), “o homem do Renascimento”, além de artista. é conhecido como escultor, arquiteto, engenheiro, inventor e estrategista. Por meio do desenho do O Homem Vitruviano (Figura 1.4), Leonardo da Vinci estudou as proporções do corpo humano, com base em figuras geomé- tricas perfeitas, de acordo com os textos clássicos de Vitrúvio. Figura 1.4 – O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci (1490) Fonte: Shutterstock.com/Kwirry São desta época os estudos de luz e sombra e a invenção da perspectiva (uma importante técnica de desenho que cria a ilusão de profundidade), muito usada em todas as aplicações do desenho (PEIXOTO, 2013, p. 39). O desenho do arquiteto e engenheiro Giuliano de Sangallo, de 1490, que está incluído no álbumde desenhos da Livraria do Vaticano, é dos mais Desenho Técnico e CAD – 12 – antigos que se tem conhecimento de uso de planta e elevação (desenho de uma fachada interna ou externa de uma edificação). O caderno de ras- cunhos sienense de Sangallo, com suas anotações e detalhes de projetos, pode ser acessado pelo site da Biblioteca digital Mundial (Figura 1.5). Figura 1.5 – Desenho do caderno de rascunhos de Giuliano de Sangallo, com a planta baixa e elevação de uma construção (1490) Fonte: https://www.wdl.org/pt/item/10597/view/1/1/ No século XVIII, o matemático francês Gaspard Monge, com o objetivo de facilitar a construção de fortificações militares, criou um método de repre- sentação de objetos tridimensionais (com comprimento, largura e altura) em um plano bidimensional (com comprimento e largura), usando o papel. Este – 13 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico método, publicado em 1795 com o título de Geometrie Descriptive (Figura 1.6), é a base do desenho técnico, e nos permite a visualização de todas as faces de um objeto ou produto (SCHULER; MUKAY, 2008, p. 1). Figura 1.6 – Traité de la Geometrie Descriptive, Gaspard Monge Fonte: https://egeometriadescritiva.wordpress.com/adisciplina/ Até aqui, os produtos eram desenvolvidos por artesãos, que se utili- zavam de maquetes e modelos para visualizar seus projetos. Com a Revo- lução Industrial, surge a necessidade de produzir desenhos de máquinas e equipamentos muito mais precisos e complexos. A produção deixa de ser artesanal e passa a ser em série – assim, surge o desenho industrial, ou desenho técnico, que impulsiona o desenvolvimento industrial. É a partir deste momento que se torna necessário normatizar a representação gráfica dos projetos, para facilitar o intercâmbio das informações técnicas entre os projetistas (BARBOSA, 2013 p. 2). 1.1.2 A Importância do desenho técnico O desenho técnico, que usamos para representar objetos e produtos com uma linguagem gráfica formal, é uma ferramenta muito importante para a comunicação de informações. Se considerarmos sua utilização, podemos observar por que o desenho técnico deve ser claro e de fácil leitura, para trans- mitir o conhecimento técnico necessário (MICELI; FERREIRA, 2008, p. 1). Desenho Técnico e CAD – 14 – No nosso cotidiano, podemos identificar vários exemplos de sua uti- lização, como placas de sinalização (como as de trânsito) e identificação visual (como as dos sanitários), mapas de localização (como do GPS, na figura 1.7), diagramas de funcionamento de aparelhos eletrônicos, gráficos, o desenho (ou design) de mobiliário, o desenho de arquitetura, dentre outros. Figura 1.7 – Navegador de um sistema GPS Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:DLX_con_mapa.png Ainda, diante da complexidade dos vários tipos de projetos, o dese- nho também é importante para a análise crítica das soluções e conceitos escolhidos na resolução dos problemas, por meio da sua representação. Assim, podemos entender que em qualquer área da indústria, como a indústria automobilística, agroindustrial, metalúrgica, mecânica, informá- tica, entre outras, ou construção civil, vamos precisar do desenho técnico (CATAPAN, 2017, p. 5). 1.1.3 Formas e etapas de execução Como vimos anteriormente, o desenho técnico, nosso objeto de estudo, evoluiu para uma linguagem gráfica universal pela necessidade – 15 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico de que os objetos representados neste desenho pudessem ser reconhecidos em qualquer lugar no mundo, por qualquer pessoa habilitada. Por exem- plo: para a fabricação de uma peça mecânica, é necessário o estudo deta- lhado da sua forma, tamanho, posição, e para o seu desenvolvimento e fabricação será fundamental o conhecimento básico da geometria. A execução de um desenho então depende fundamentalmente de conhecimento técnico, dos materiais e recursos disponíveis, e do uso da técnica adequada para utilização destes materiais. Já vimos que com a evolução e surgimento de novos materiais e recur- sos gráficos, o homem pode então se expressar de uma forma mais exata. E foi por esta necessidade, de que as representações fossem cada vez mais exatas, que surgiram as novas técnicas de desenho em todas as áreas. Vamos então entender quais são as etapas de desenvolvimento de um desenho técnico, conforme descreve Oliveira e Castilho (2016, p. 6). O desenho de uma peça, como um móvel, por exemplo, que pode envolver mais de um profissional, dependendo de sua complexidade, é executado seguindo uma sequência de etapas, de acordo com seu nível de elaboração. Primeiro, o projetista vai imaginar a peça e elaborar um esboço desta ideia, ou seja, um estudo, como o que vemos na figura 1.8a. Este estudo vai servir para a elaboração do desenho preliminar, um desenho em escala, para avaliação da proposta, como vemos na figura 1.8b. Figura 1.8 – (a) Esboço a mão livre do projeto de um móvel; (b) Desenho preliminar de uma peça de mobiliário Fonte: https://pxhere.com/pt/photo/1334140 Desenho Técnico e CAD – 16 – Depois de ajustado e aprovado, a próxima fase será o desenho téc- nico definitivo, ou desenho de execução, que então deverá apresentar todos os detalhes, medidas e informações necessárias para a execução deste móvel (Figura 1.9). Na sequência, o profissional que vai executar esta peça recebe o projeto e vai interpretá-lo para sua fabricação (CATA- PAN, 2017, p. 7; OLIVEIRA; CASTILHO, 2016, p. 6). Por essa razão, podemos entender que é fundamental e necessário que o desenhista, assim como o profissional executor, conheça e aplique todas as normas do desenho técnico. Figura 1.9 – Desenho técnico de execução. Engenharia Mecânica – pinças Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/desenho-t%C3%A9cnico-pin%C3%A7as-work shop-3324368/ Observamos que o desenho técnico também pode ser executado a mão livre. O “esboço a mão livre”, ou croqui, é muito usado por engenheiros e arquitetos, por sua rapidez e agilidade. O croqui não tem compromisso com o uso da escala, mas, usando do conhecimento técnico profissional, deve ser proporcional (CATAPAN, 2017, p.6). – 17 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico Da mesma forma, com os recursos disponíveis em constante atuali- zação, o desenho técnico também pode ser executado por meio de estudos detalhados feitos por computador, como veremos no próximo capítulo, e hoje em dia desenvolvidos em programas específicos para cada área, como o AutoCAD ou o SolidWorks. 1.2 Desenho técnico e indústria As informações podem ser transmitidas de diferentes maneiras para a execução de um projeto, objeto ou peça na indústria, mas somente o desenho pode transmitir de forma completa sua forma, dimensões e tole- râncias, material, acabamento, montagem e todas as suas peculiaridades. No desenho técnico, as representações são feitas por meio de tra- ços, símbolos, números e indicações escritas e, como já vimos, somente seguindo todas as normas técnicas estabelecidas vamos garantir a repro- dução de produtos ou peças tecnicamente iguais, e de acordo com as ideias do desenhista (OLIVEIRA; CASTILHO, 2016, p. 5). No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é quem estabelece, fundamenta e recomenda as normas do desenho técnico, assunto que vamos aprofundar no desenvolvimento desta obra. 1.2.1 Aplicações do desenho técnico Entendendo como as informações para execução de projetos e produ- tos são transmitidas na indústria, vamos conhecer de que forma o desenho técnico é aplicado. De acordo com João C. Barbosa (2013, p. 3), o desenho técnico pode ser dividido em duas modalidades principais, de acordo com sua aplicação: 2 desenho não projetivo – são os desenhos resultantes dos cálcu- los, que vão corresponder aos desenhos de gráficos, diagramas, fluxogramas e esquemas de um projeto ou produto. Neste dese- nho, a figura é representativa, e não se equivale ao projeto, como podemos observar na figura 1.10. DesenhoTécnico e CAD – 18 – Figura 1.10 – (a)Esquema de funcionamento de uma usina nuclear boiling water reactors BWR – “reator de água fervente”); (b) Gráfico do rendimento ideal termodinâmico de uma turbina a gás Fonte: (a) https://commons.wikimedia.org/ wiki/File:BoilingWaterReactor-fr.svg ;(b) https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/7/79/Rendimento_ideale_ termodinamco_di_una_turbina_a_gas.png 2 desenho projetivo – são os desenhos resultantes de projeções do objeto, em um ou mais planos, que correspondem às perspecti- vas e vistas ortográficas. O desenho projetivo é a maior parte dos desenhos utilizados na indústria e construção. Barbosa (2013, p. 3) também exemplifica os vários tipos de projetos utilizados: 2 projeto e fabricação de máquinas, equipamentos e de estru- turas nas indústrias de processo e de manufatura (indústrias mecânicas, aeroespaciais, químicas, farmacêuticas, petro- químicas, alimentícias etc.); – 19 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico 2 projeto e construção de rodovias e ferrovias, mostrando detalhes de corte, aterro, drenagem, pontes, viadutos etc.; 2 projeto e montagem de unidades de processos, tubulações industriais, sistemas de tratamento e distribuição de água, sistema de coleta e tratamento de resíduos; 2 representação de relevos topográficos e cartas náuticas; 2 desenvolvimento de produtos industriais; 2 projeto e construção de móveis e utilitários domésticos; 2 promoção de vendas com apresentação de ilustrações sobre o produto. Como podemos observar, o desenho projetivo é usado nas várias modalidades da engenharia, na arquitetura e no design, como o desenho mecânico, de estruturas, elétrico, têxtil e outros, lembrando que todos têm a mesma base do desenho técnico, e seguem suas normas. Observe os exemplos da figura 1.11, que se referem a um desenho técnico de arquitetura e a um desenho técnico mecânico, respectivamente. Figura 1.11 – (a) Planta baixa de projeto arquitetônico; (b) – Projeto de peças mecânicas para execução Desenho Técnico e CAD – 20 – Fonte: (a) elaborado pelo autor (2020); (b) https://pixabay.com/pt/photos/engenharia- mec%C3%A2nico-4915806/. 1.2.2 Ergonomia Apesar de ser uma disciplina à parte, a ergonomia tem uma intera- ção direta com o desenho técnico, e por isso falaremos brevemente de sua importância. A ergonomia analisa desde os instrumentos e ferramentas usa- dos para um trabalho até o ambiente em que ele é desenvolvido, na busca de melhorar esta relação da adaptação do trabalho ao homem (SILVEIRA; SALUSTIANO, 2012, p. 74). Como objeto de estudo de engenheiros indus- triais e mecânicos, em resposta às demandas que surgiram com a Revolução Industrial e após a Segunda Guerra Mundial, a aplicação da ergonomia no nosso dia a dia, como nos ambientes de trabalho, continua a se desenvolver, em todas as áreas (SILVEIRA; SALUSTIANO, 2012, p. 72-73). O desenho técnico utiliza a ergonomia como ferramenta, no desen- volvimento dos produtos ou sistemas, dos mais simples aos mais comple- xos, como no tamanho e design de telefones celulares e computadores, no design de pegadores e maçanetas, no estudo das dimensões de uma estação de trabalho, no projeto de mobiliário, e assim por diante. Podemos observar na figura 1.12 a aplicação deste estudo no projeto de um teclado de com- putador. Desta forma, o crescimento cada vez maior das demandas de con- sumo e de produtos levou as empresas a considerarem os fatores ergonômi- cos no desenho e projeto de produtos (SABINO NETO et al., 2012, p. 1). – 21 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico Figura 1.12 – Foto de teclado de computador com desenho ergonômico Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Microsoft_Natural_Ergonomic_Keyboard_ 4000.png Outro aspecto ergonômico importante a ser considerado no desenho técnico é a norma de acessibilidade (NBR 9050), que estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quando do projeto da cons- trução, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade. Observe a figura 1.13, com as medidas a serem respeitadas para projetos acessíveis. Figura 1.13 – Alcance manual frontal com superfície de trabalho – Pessoa em cadeira de rodas 60° 30° Fonte: NBR 9050/2020, p.19. Desenho Técnico e CAD – 22 – 1.3 O desenho assistido por computador Atualmente, na maioria das áreas, os desenhos são elaborados usando sistemas por computadores, por meio de programas (softwares) específi- cos para cada área, aplicados à engenharia (como o AutoCAD e o Soli- dWorks), geologia, geografia (QGis), mecânica (SolidWorks), arquitetura e design (AutoCAD, Adobe), como veremos com mais detalhes no pró- ximo capítulo. Devemos considerar que o computador é mais uma ferramenta, ou recurso, disponível, mas a forma de execução do desenho técnico por computador segue os mesmos passos descritos anteriormente, desde o esboço, passando pelo desenho preliminar até o desenho de execução. Podemos ver que na engenharia os desenhos assistidos por compu- tador são uma realidade que tem agregado muitos avanços, dos sistemas de projeto CADD (Computer-Aided Design and Drafting) aos sistemas de modelagem (BIM – Building Information Modeling – Modelagem de Informações da Construção) até a realidade aumentada (ambiente simu- lado), e exigem, cada vez mais, que os profissionais, das mais diversas áreas, aprimorem seus conhecimentos. Juliano Fiorelli (2005 p.7) aponta que apesar de outras opções, o sof- tware mais completo para elaboração de projeto e desenho, assistido por computador, é o CADD (projeto e desenho auxiliado por computador), estando em constante atualização. Ele não se limita a ser uma ferramenta de desenho, mas de projeto, por isso nos referimos a um sistema. Apesar da diferença entre CADD – projeto e desenho (design and drafting) assis- tido por computador e CAD – desenho (design) assistido por computador, este é o termo mais conhecido e usado pelos projetistas que, apesar da tradução, é entendido para aplicação no conjunto destas tarefas. Um sistema CADD, além de ferramenta de desenho, pode ser adap- tado às necessidades do usuário, ou seja, ter um menu específico com comandos para uso de cada área. Também possui recursos de dimensio- namento, cálculo de áreas e ângulos, distâncias, curvas e volumes, que podem ser usados de forma muito rápida, permitindo acelerar a execução de um projeto. Por meio dos traçados gráficos executados por este sistema, – 23 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico podemos produzir desenhos bi e tridimensionais de peças, componentes, conjuntos e detalhes do projeto (como o exemplo da figura 1.14). Ainda, ao mesmo tempo em que projetamos um modelo gráfico visual, o sistema CADD também permite que tenhamos um banco de dados associado a ele. Neste banco de dados, o desenhista pode ter associado ao projeto outras informações, como material, textura, pintura etc. E, além destas possibili- dades, os arquivos feitos em CADD podem ser armazenados na memória do computador e acessados quando necessário, permitindo correções e alterações (FIORELLI, 2005, p. 8). Atualmente, existem vários softwares que podem atender a estas finalidades, mas o sistema mais comercializado e popular no Brasil é o AutoCAD, usado na engenharia e na arquitetura, o qual veremos mais detalhadamente. Podemos citar ainda outros sistemas semelhantes, como o DATACAD, o IntelliCAD e o VisualCAD, também para uso da enge- nharia, entre outros mais específicos (FIORELLI, 2005, p. 8). Vamos conhecer um pouco mais sobre estes sistemas no próximo capítulo. Figura 1.14 – Desenho de peça mecânica desenvolvido em CAD Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenho_assistido_por_computador#/media/Ficheiro: CAD3D.jpg Desenho Técnico e CAD – 24 – 1.3.1 Os sistemas e sua aplicação na indústria Como já vimos, o desenho pode ser entendido como uma ferramenta de criação e um processo de transferênciade informação. Vamos ver que o desenho assistido por computador, e sua evolução, ampliou as possibi- lidades deste processo de transferência. O projeto feito em um sistema CAD, associado com outros sistemas, vai potencializar e expandir os pro- cessos de criação dos produtos. Estes sistemas, de acordo com Lucas Leão (2017), são identificados em três áreas de uso distinto: 2 na concepção, o CAD – desenho assistido por computador; 2 na análise de engenharia, o CAE – engenharia assistida por computador; 2 e na fabricação, o CAM – manufatura assistida por computador. Este conjunto de ferramentas vai nos permitir explorar e testar os principais aspectos de um produto, antes mesmo de sua execução. Pode- mos criar um modelo 3D, simular o uso de materiais, documentar o pro- jeto, fazer simulações de movimento e até imprimir o modelo em uma impressora 3D. Desta forma, é importante que possamos conhecer brevemente o foco de atuação de cada um, descrito a seguir: 2 o CAD, como já vimos, tem seu foco no desenho do produto e na documentação das fases do projeto. Na indústria, ele pode facilitar o processo de transferência de detalhes dos materias, dimensionamentos e tolerâncias, assim como visualizações 2D e 3D. Sua aplicação inclui indústrias automotivas, de construção, têxteis, de eletrônicos, aeroespaciais, dentre outras. 2 o CAE é o uso de programas para auxiliar nas tarefas de aná- lises de engenharia, que incluem: análise de elementos finitos, dinâmica de fluidos, desempenho de componentes e conjuntos, simulação e outros. Por exemplo, os parâmetros desejados para uma simulação são inseridos no software, que vai gerar uma análise das restrições do projeto, para estudo dos engenheiros (Figura 1.15). – 25 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico 2 o CAM é o uso de um software para controlar ferramentas de máquinas e equipamentos do processo de fabricação. Seu obje- tivo é criar um processo mais rápido de produção, com compo- nentes e ferramentas mais precisas. Nesta descrição de Lucas Leão (2017), podemos então observar que um programa CAD será necessário tanto na fabricação (CAM) quanto na análise de engenharia (CAE), pois ambos necessitam do modelo geo- métrico. Os dois requerem o CAD, que é o único que pode ser usado de forma independente na criação dos modelos virtuais – daí sua versatili- dade e importância. Estes três sistemas foram criados pensando nas necessidades dos engenheiros e técnicos em tornar seus trabalhos diários mais fáceis e pre- cisos, proporcionando um melhor benefício aos produtos, às empresas e ao usuário final, com a ajuda do poder de processamento cada vez maior dos computadores. Figura 1.15 – Simulação para análise estrutural de peça mecânica desenvolvida em programa CAE Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Z88v13_1.jpg Desenho Técnico e CAD – 26 – Após esta breve descrição, é importante destacar que apesar de toda evolução disponível pela computação gráfica, é essencial para qualquer profissional das áreas de engenharia, arquitetura e design o aprendizado do desenho técnico e seus fundamentos. Segundo Barbosa (2013 p. 3), o conhecimento da linguagem gráfica e seu uso permitem ao profissional o desenvolvimento do raciocínio lógico, da precisão da geometria e da visão espacial, e, muito importante para o projeto, o senso de organiza- ção formal das ideias e seu desenvolvimento. Conforme suas palavras, “o aprendizado ou o exercício de qualquer modalidade de engenharia irá depender, de uma forma ou de outra, do desenho técnico”. Síntese Como vimos neste capítulo, a origem do desenho se deu pela necessidade de o homem se comunicar e manifestar as impressões do seu modo de vida. Ao longo da história, acompanhando a evolução do homem e da cultura, o desenho passou a ser utilizado de várias formas, desde a escrita, pintura e escultura, com o desenvolvimento de técni- cas cada vez mais precisas. Esta evolução deu origem à divisão entre o desenho técnico, que tem a finalidade de transmitir o conhecimento de uma forma precisa, e o desenho artístico, que transmite sentimentos e conceitos, sem o rigor técnico. Apesar de o homem já usar o desenho para os mais diversos fins, a Revolução industrial trouxe a necessidade da produção em série, e surgem as primeiras normas disciplinando a representação gráfica dos projetos. A partir de então, o desenho técnico evoluiu para uma lingua- gem gráfica universal, que pode ser reconhecida e usada por um técnico habilitado em qualquer lugar do mundo. Daí sua importância como uma ferramenta de criação, comunicação e transferência de informações. Vimos também que a elaboração de um desenho técnico segue etapas, desde o esboço, que transmite a ideia inicial do projeto, passando para um desenho preliminar, a ser analisado e depois aprovado, até o desenho de execução, com todos os detalhes e informações necessárias para fabricação. Podemos entender também que as informações de projeto, para a indústria, são divididas em duas modalidades: o desenho técnico não projetivo, que – 27 – Histórico, importância e aplicação do desenho técnico são os gráficos, diagramas e fluxogramas, e o desenho projetivo, que vai corresponder aos projetos para fabricação e construção, mais conhecidos. Para complementar nosso conhecimento, aprendemos sobre a importância da ergonomia para o desenho projetivo, como ferramenta de informação na validação das soluções adotadas no desenvolvimento e uso dos mais diversos produtos do nosso dia a dia, como mobiliário, ele- trodomésticos, eletrônicos, veículos, máquinas e ferramentas, e outros. Concluindo nosso estudo, vimos que o desenho técnico pode ser exe- cutado por meio de estudos detalhados feitos por computador, em progra- mas com vários recursos disponíveis. Vimos ainda como as possibilidades do desenho assistido por computador são ampliadas por ferramentas que potencializam seu uso na análise de engenharia e na fabricação. Assim, podemos entender a importância do aprendizado do desenho técnico e dos fundamentos da geometria descritiva, inclusive para o uso da computação gráfica, que se identifica com a forma de representação tridimensional, e é a base dos programas usados nos mais diversos campos da engenharia, arquitetura e design. Saiba mais ARTE RUPESTRE. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: http://enci- clopedia.itaucultural.org.br/termo5354/arte-rupestre. Acesso em: 30 de Ago. 2020. Verbete da Enciclopédia. FREITAS, Marcelo Pinto de; MINETTE Luciano José. A importância da ergonomia dentro do ambiente de produção. IX SAEPRO – Sim- pósio Acadêmico de Engenharia de Produção. Universidade Federal de Viçosa, 2014. Disponível em: http://www.saepro.ufv.br/wp-content/ uploads/2014.5.pdf. Acesso em: 29 set. 2020. Desenho Técnico e CAD – 28 – Atividades 1. Considere tudo que você aprendeu até aqui e responda: o que é o desenho técnico? 2. Qual é a importância do desenho técnico? Exemplifique sua aplicação no cotidiano. 3. O desenho técnico é uma área em que o rigor e a precisão são essen- ciais. Justifique esta afirmação com base em seu aprendizado. 4. Quais as etapas de execução de um desenho técnico, e o que caracteriza cada uma delas? 2 Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico O desenho técnico é uma ferramenta muito importante para a comunicação de informações de desenhos e projetos. Para tanto, é essencial para qualquer profissional das áreas da engenharia, arqui- tetura e design o desenvolvimento da capacidade de análise e inter- pretação do desenho técnico, fundamental para o entendimento e seu uso a partir dos recursos e ferramentas disponíveis, como os sistemas Computer-aided desing (CAD). O avanço tecnológico dos sistemas computacionais proporcio- nou aos profissionais das engenharias, arquitetura e design um novo meio para o trabalho. Com o desenvolvimento do computador, a lin- guagem gráficado desenho técnico passou para uma nova etapa, podendo ser elaborado por meio de programas (softwares) especí- ficos, que proporcionam maior precisão no desenho de projetos, e podem ser customizados de acordo com a necessidade de cada área das engenharias, arquitetura e design, sendo uma realidade que tem agregado muitos avanços. Entre as tecnologias mais usadas para o desenvolvimento de proje- tos de arquitetura e engenharia, o CAD é identificado como o software mais completo voltado ao desenho técnico (FIORELLI, 2010, p. 7). Desenho Técnico e CAD – 30 – Estudamos anteriormente como o desenho técnico surgiu, sua impor- tância, suas principais aplicações, e como ele está inserido em nosso coti- diano. Entendemos também que as informações podem ser transmitidas de diferentes maneiras para a execução de um projeto, objeto ou peça na indústria, mas que somente o desenho pode transmitir de forma completa todas as suas peculiaridades. Neste capítulo, vamos entender seu desen- volvimento em sistemas CAD, conhecer as principais informações sobre estes sistemas, sua história e evolução relacionadas aos sistemas de infor- mática, seu uso nas principais áreas de projeto, e as aplicações do sistema mais usado pelo desenho técnico, o CAD 2D. 2.1 Evolução, equipamentos e sistemas operacionais Para este breve histórico, vamos dividir o desenvolvimento da com- putação gráfica aplicada aos projetos em três fases distintas. A primeira, quando surgem os primeiros terminais gráficos e impresso- ras, na década de 50 (SILVA, 2011, p. 19). No início dos anos 60, Ivan Sutherland apre- senta no Massachusetts Institute of Techno- logy (MIT), em sua tese de conclusão do PhD, um sistema inovador chamado “sket- chpad”, que se tratava de um editor gráfico. Por meio de uma caneta luminosa, chamada “light pen”, e com uma caixa de botões de comando, o usuário podia desenhar direta- mente na tela do computador (Veja a figura 2.1). O sistema permitia criar e editar obje- tos em 2D, e é reconhecido como o pri- meiro software de CAD (AMARAL; PINA FILHO, 2010, p. 3). Nos primeiros anos, a utilização dos softwares CAD restringiu-se às empresas do setor aeroespacial e automo- bilísticas, devido ao seu alto custo (AMA- RAL; PINA FILHO, 2010, p. 3). Figura 2.1 – Imagem de uso do software Sketchpad Fonte: http://upload.wikimedia. org/wikipedia/en/7/7b/ Sketchpad-Apple.jpg – 31 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico Os softwares CAD passaram a ser comercializados livremente a par- tir dos anos 70, mesmo período em que também foram desenvolvidos os softwares CAD 3D. O primeiro foi o Computer Aided Three Dimensio- nal Interactive Application (CATIA) , desenvovido em 1977. Em 1981, foi lançado o primeiro Personal Computer (PC), liberando o acesso pes- soal aos computadores, e em 1982 a empresa Autodesk lança o “Auto- CAD Release 1”, o primeiro programa CAD para PC (AMARAL; PINA FILHO, 2010, p. 3) (Figura 2.2). A partir daí, segundo Francisco Silva (2011, p.19), a modelagem tridimensional, voltada à visualização da forma, marca a segunda fase de desenvolvimento da computação gráfica. Figura 2.2 – (a) Imagem de uso do software CATIA (versão 1), na indústria aeronáutica; (b) Imagem da tela de trabalho do AutoCAD 1.versus versão DOS (1984) Fonte: (a) https://aero-modelisme.com/histoire-catia-dassault-systemes/catia-version-1- ibm/; (b) https://winworldpc.com/product/autodesk-autocad/1x-dos A terceira fase, a partir da década de 90, corresponde à simulação da construção do objeto, quando informações são agregadas ao modelo tridimensional e facilitam as decisões de projeto. Esta fase se deu a partir da evolução da capacidade de processamento dos computadores (SILVA, 2011, p. 19 apud SOARES, 2003). Em 1995, surge o primeiro programa CAD para utilização no Windows NT, o SolidWorks 95 3D CAD, apre- sentando uma boa relação custo-benfício em relação aos concorrentes. Até este momento, todos os programas usavam o sistema UNIX. Desta fase Desenho Técnico e CAD – 32 – em diante, e com a difusão da internet, o desenvolvimento dos sistemas CAD foi generalizado. Atualmente, este tipo de software é muito aces- sível, incluindo versões educacionais e para utilização de forma gratuita (AMARAL; PINA FILHO, 2010, p. 4). A computação gráfica, além da representação tridimensional do objeto em um plano bidemensional (a tela), hoje nos permite interagir com o objeto e simular sua existência em um mundo virtual. E, para além disso, as novas tecnologias já podem projetar o objeto fora da tela do com- putador (SILVA, 2011, p. 20). 2.2 Sistemas CAD em desenho técnico Como vimos, a partir do desenvolvimento do computador pessoal e da expansão da internet, os sistemas CAD se desenvolveram rapidamente, e continuam a se atualizar dia a dia. Vamos relembrar? Um aplicativo ou programa CAD tem uma série de ferramentas de apoio e desenvolvimento ao desenho técnico que podem acelerar a execução de um projeto, como os recursos de dimensionamento, cálculo de áreas, distâncias e ângulos, além de permitir a produção de desenhos bi ou tridimensionais. Entre as vantagens do uso desses sistemas está a capacidade de arma- zenamento – os bancos de dados, com todas as informações adicionais que podem ser associadas a um projeto. O sistema também permite que os nossos projetos sejam armazenados na memória do computador, possibili- tando correções e alterações quando necessário, além de: 2 precisão – o CAD propicia calcular com precisão os elementos de um projeto; 2 facilidade de alteração dos desenhos – o projeto digitalizado na memória do computador possibilita sua alteração sem que se destrua as versões anteriores; 2 compatibilização dos projetos – interação entre os projetos complementares, sem necessidade de novo desenho; 2 padronização – de procedimentos e desenho, pois os sistemas CAD dispõem de procedimentos normalizados em seu interior; – 33 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico 2 redução do tempo de projeto – maior produtividade, com melhor utilização dos recursos existentes; 2 menor possibilidade de erros de projeto – os sistemas CAD interativos evitam erros de projeto, desenho ou mesmo docu- mentação escrita; 2 benefícios na manufatura – os desenhos gerados no CAD podem ser aproveitados na manufatura das ferramentas ou dis- positivos, ou na programação de máquinas (FIORELLI, 2010, p. 7; BIZELLO, 2005, p. 8). Dos sistemas mais comercializados no Brasil, Fiorelli (2010, p. 8) destaca o MicroStation e o AutoCAD, além de outros aplicativos, como o DATACAD, o TurboCAD, o IntelliCAD e o VisualCAD. Todos com capacidades e características semelhantes, e que podem ser adaptados às necessidades de projeto. Também existem os aplicativos não comerciais, como o Libre- CAD, um aplicativo CAD 2D de código aberto (open source) e gratuito para Windows, Apple e Linux (https://librecad.org/). Veja sua interface na figura 2.3. Agora, vamos conhecer as características dos principais sistemas CAD utilizados para o desenho técnico. Figura 2.3 – Projeto de um pentágono realizado no software LibreCAD 2.0.0 Beta Fonte: https:// upload.wikimedia. org/wikipedia/ commons/4/46/ LibreCAD_pentagon. PNG Desenho Técnico e CAD – 34 – 2.2.1 AutoCAD Como vimos anteriormente, nos tempos atuais, vários aplicativos podem atender as finalidades do desenho técnico para o desenvolvimento de projetos. Sendo considerado de fácil uso por profissionais das mais diversas áreas, o AutoCAD é o software mais comercializado e popular no Brasil (NEVES, 2018, p. 29; FIORELLI, 2010, p. 8). O AutoCAD 2D se tornou a principal plataforma de softwares da Autodesk. Até o seu lançamento, as versões existentes eram difíceis de usar e só funcionavam em computadores de grande porte. A partir da ver- são 12, a Autodesk abandonou o ambiente Unix, e a partir da versão14 passou a trabalhar em cooperação com a Microsoft, com o sistema opera- cional Windows (SILVA; SILVA; SOUZA, 2016, p. 65).Desenvolvido e distribuído pela Autodesk Inc. (http://www.autodesk. com.br), com sua primeira versão lançada em 1982, o AutoCAD é um programa de modelagem 2D e 3D que se popularizou e mudou a forma de desenvolvimento dos projetos. Pode ser usado para projetos de engenha- ria mecânica, civil, elétrica, projetos urbanos, arquitetura, indústria, entre outros, e usualmente como ferramenta em disciplinas de desenho técnico (AMARAL; PINA FILHO, 2010, p. 4). Na figura 2.4 podemos visualizar a interface (tela de trabalho) do AutoCAD. Figura 2.4 – Projeto realizado no AutoCAD 2010, da empresa Autodesk Fonte: elaborada pelo autor. – 35 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico Assim como outros programas, o conteúdo dos desenhos e projetos desenvolvidos no AutoCAD pode ser identificado pelo tipo de ícone que aparece antes no documento, ou pela extensão após o formato do docu- mento. O AutoCAD pode gerar diversos tipos de arquivos. O DWG (*.dwg) – o formato de arquivo padrão do AutoCAD (extensão que é compartilhada por diversos programas CAD), e o DXF (*.dxf) – formato de intercâmbio com outros programas CAD) tornaram o AutoCAD padrão no mercado de soluções genéricas de CAD. O AutoCAD também é capaz de importar arquivos e extensões compatíveis com os demais programas CAD (AMA- RAL; PINA FILHO, 2010, p. 5; SILVA; SILVA; SOUZA, 2016, p. 66). O fabricante disponibiliza em seu site uma versão de avaliação e uma versão educacional para estudantes e professores. 2.2.2 SolidWorks O SolidWorks é um programa CAD 3D, para modelagem de sólidos, planejamento de dados e análise, geralmente utilizado no projeto de peças e conjuntos mecânicos. Este software é desenvolvido pela empresa Solid- Works, do grupo Dassault Systèmes (https://www.solidworks.com/pt-br). Na figura 2.5 podemos visualizar a interface (tela de trabalho) do SolidWorks. Pacheco e Otte (2018, p. 1) relatam a utilização do SolidWorks em conjunto com a disciplina de Desenho Técnico I, em curso técnico, com o objetivo de facilitar o aprendizado dos estudantes quanto à visualização espacial, considerando as possibilidades que este software tem de gerar um sólido ou uma peça mecânica em perspectiva. Figura 2.5 – Projeto realizado no software SolidWorks, da empresa SolidWorks Fonte: https:// upload.wikimedia. org/wikipedia/ commons/9/90/ Bisagra.png Desenho Técnico e CAD – 36 – O SolidWorks pode ser utilizado também como software de Compu- ted-Aided Engineering (CAE), em conjunto com programas de simulação, tais como o SolidWorks Simulation e o SolidWorks Flow Simulation. O SolidWorks é compatível com arquivos *.dwg gerados pelo AutoCAD, podendo modificar dados 2D ou convertê-los em dados 3D (AMARAL; PINA FILHO, 2010, p. 5). 2.2.3 CATIA O CATIA é um software de CAD 3D muito usado para modelagem de conjuntos mecânicos. Desenvolvido pela empresa Dassault Systèmes, ele é comercializado pela IBM. Segundo seu desenvolvedor, o CATIA tem a capacidade de modelar qualquer produto considerando seu compor- tamento na vida real, proporcionando o que chama de: “design na era da experiência” (https://www.3ds.com). É utilizado em design de construção, projetos e estruturas de edifícios, engenharia elétrica, renderizações realis- tas e experiências de realidade virtual. O CATIA é considerado um software de CAE, pois permite ao proje- tista analisar o modelo construído por meio das ferramentas de simulação, e é compatível com o SolidWorks. Na figura 2.6, podemos visualizar a inter- face (tela de trabalho) do CATIA (AMARAL; PINA FILHO, 2010, p. 5). O fabricante disponibiliza em seu site vídeos de treinamento do usuá- rio e materiais educacionais online para alunos e educadores. Figura 2.6 – Projeto realizado no software CATIA V5, da empresa Dassault Systèmes Fonte: https://upload. wikimedia.org/wikipedia/ commons/4/4d/CATIA_cre.jpg – 37 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico 2.3 Aplicação prática em CAD 2D Para falarmos sobre a aplicação prática do CAD 2D, vamos relem- brar os conceitos de aplicação dos sistemas CAD vistos até aqui, recor- dando a diferença entre o conceito de desenho e modelamento. Um desenho de engenharia é a representação de um objeto (tridimensional) em um plano (bidimensional – a folha de desenho) por meio de um sis- tema projetivo. O modelamento é a representação de um objeto em sua forma tridimensional. Em um sistema CAD 2D, desenvolvemos um desenho do produto utilizando as representações deste objeto por meio de vistas. Em um sis- tema CAD 3D, o produto é modelado de forma tridimensional dentro do espaço virtual, não somente por vistas do desenho (SILVA, 2011, p. 29). Nosso objetivo no desenho técnico é aprender o desenvolvimento do produto utilizando as representações em vistas, a primeira etapa deste processo. Portanto, vamos visualizar como é usado o CAD 2D para estas representações. Como vimos anteriormente, existem programas de código aberto (open source) gratuitos e programas comerciais. Sua utilização no dese- nho é bastante semelhante. Para seu conhecimento, vamos agora introdu- zir os conceitos básicos e o método de desenho de uso do CAD por meio do AutoCAD 2D. 2.3.1 AutoCAD 2D Assim como com outros programas, na página do fabricante (http:// www.autodesk.com.br) podemos ter acesso a uma versão de análise ou estudante, de forma gratuita, o que nos permite visualizar e treinar o uso desta ferramenta de desenho. O AutoCAD for Windows é uma versão de AutoCAD voltada para o ambiente Microsoft Windows, compatível com suas atualizações, e inclui os recursos de desenho bidimensional de AutoCAD. A tela de abertura do programa AutoCAD pode ser vista na figura 2.7, com a identificação do programa, sua versão e a barra abertura/fechamento de arquivos e programa. Desenho Técnico e CAD – 38 – Figura 2.7 – Tela de apresentação do AutoCAD Fonte: elaborada pelo autor. Ao ser iniciado, o AutoCAD abre uma tela onde, na barra de título, acima, encontra-se o nome do software e a versão (AutoCAD “X”). Ao seu lado, o nome do arquivo (Desenho 1.dwg) indica que aquele é um arquivo de entrada, ainda não gravado no disco. Quando o arquivo for gravado, “Dese- nho 1” será substituído pelo novo nome dado pelo usuário. Observe que aqui aparece a extensão dos arquivos de AutoCad (.dwg) (FIORELLI, 2010, p. 12). A tela básica de trabalho do AutoCAD for Windows, com seus prin- cipais campos: barra de título, barra de menus, barra de ferramentas, caixa de ferramentas, área de trabalho e área de diálogo está identificada na figura 2.8. Acompanhe a seguir a descrição destes comandos e ferramen- tas disponíveis (FIORELLI, 2010, p. 12). 2.3.1.1 Barra de menus A Barra de Menus contém os comandos e opções disponíveis, e é organizada para que o acesso aos comandos seja fácil. Para selecionar um dos itens do menu superior, basta clicar nele. Quando isso é feito, várias opções aparecem, abrindo-se abaixo do item selecionado. Para selecio- nar uma dessas opções, basta clicar nela e seguir, se for o caso, a lista de subopções apresentada. – 39 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico Vamos ver as características de cada um dos menus, segundo Fiorelli (2010, p. 13): 2 Arquivo – contém comandos de criação, abertura e salvamento de arquivos, de impressão (e plotagem) dos desenhos, de impor- tação e exportação de informações; 2 Editar – contém comandos para copiar e colar informações, desfazer e/ou refazer ações; 2 Visualizar – contém comandos que permitem visualizar o dese- nho de várias formas; 2 Inserir – contém comandos de inserir blocos e figuras; 2 Formatar – contém comandos de formatação de cor, linha (espessuras), texto e cota (medidas); 2 Ferramentas – contém comandos de auxílio na utilização da ferramenta AutoCAD. 2 Desenhar – contém os comandos para a criação de desenhos (linhas, formas geométricas, textos, dimensionamentos); 2 Cota – contém comandos que permitem cotar (colocar medidas) o desenho; 2 Modificar – contémos comandos de edição que alteram os elementos selecionados (sem gerar novos objetos), como os comandos mover e copiar. 2.3.1.2 Barra de ferramentas A barra de ferramentas possui ícones que substituem comandos ou opções da barra de menus, e contém os ícones para os comandos de uso mais frequentes, o que a torna mais rápida. 2.3.1.3 Área de trabalho Podemos considerar a área de trabalho como a área da prancheta do computador, ou seja, o espaço de trabalho do desenhista. No AutoCAD, esta área corresponde ao espaço dentro do sistema de coordenadas cartesianas. Desenho Técnico e CAD – 40 – Esse espaço corresponde a coordenadas da ordem de 10 elevado à vigé- sima potência (1020). Portanto, qualquer que seja o projeto, no AutoCAD há espaço suficiente para desenhá-lo em escala (tamanho) real (FIORELLI, 2010, p. 14). Vamos ver nos próximos capítulos o estudo da escala. 2.3.1.4 Caixa de ferramentas A caixa de ferramentas está dividida em dois grupos de comandos: os comandos de desenhar e os de modificar, e também pode ser acionada pelo mouse. Ela contém 34 ícones que correspondem a vários comandos ou opções do AutoCAD (FIORELLI, 2010, p. 14). Os comandos para desenhar são: 2 Linha (Line), Linha de construção, Polilinha (Poliline), Polí- gono, Retângulo, Arco, Círculo, Nuvem de revisão, Spline, Elipse, Elipse Arco, Inserir bloco, Criar bloco, Ponto, Hachura, Região, Tabela, e Texto de múltiplas linhas. Os comandos de modificar são: 2 Apagar, Copiar objeto (copy), Espelhar (Mirror), Cópias parale- las, Matriz, Mover (Move), Rotacionar (Rotate), Escala (Scale), Esticar, Apagar (Trim), Estender (Extend), Quebrar em um ponto, Chanfrar, Concordar, e Explodir (Explode). 2.3.1.5 Área de diálogo (comandos) A área de diálogo está situada na parte inferior da tela e exibe as mensagens e solicitações do sistema e os comandos que o usuário digitar ou estiver usando do menu superior. Os comandos de AutoCAD também podem ser digitados pelo usuário na área de diálogo. Para cancelar um comando, basta pressionar a tecla “esc”(FIORELLI, 2010, p. 16). 2.3.1.6 Linha de status (coordenadas) A linha de status, que se encontra logo abaixo da linha de comando, monitora o valor das coordenadas do cursor na área de trabalho e de algu- mas variáveis de ambiente do AutoCAD. Movendo-se o cursor sobre a érea de trabalho, atualizam-se automaticamente os valores de suas coor- denadas X e Y (EEEP, 2014, p. 82) – 41 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico Figura 2.8 – Tela de trabalho do AutoCAD Fonte: elaborada pelo autor. 2.3.1.7 Criação de um desenho básico O AutoCAD usa um sistema de coordenadas retangular, que permite posicionar objetos por meio da localização por coordenadas X, Y e Z exatas. Para os desenhos no plano bidimensional, utilizamos somente as coordenadas X e Y. Para utilizar o AutoCAD efetivamente, você deverá compreender os fundamentos deste sistema de coordenadas (EEEP, 2014, p. 84). Observe o exemplo da figura 2.9. Quando estiver desenhando no AutoCAD, você será frequente- mente perguntado por pontos, para informar a localização dos objetos (início e fim de uma linha, centro de um círculo etc.). Para informar este ponto, não podemos utilizar um simples clique com o cursor, sob risco de cometermos imprecisões. Toda linha deve ter um ponto inicial e um ponto final, identificado pelas coordenadas (SILVA; SILVA; SOUZA, 2016, p. 11,12). Desenho Técnico e CAD – 42 – Figura 2.9 – Uso do sistema cartesiano em desenho no Autocad Fonte: elaborada pelo autor. 2 Coordenadas absolutas Coordenadas absolutas são as coordenadas de um ponto em rela- ção à origem 0,0, onde x e y podem ser valores inteiros ou reais. No sistema cartesiano, podemos definir as coordenadas da figura 2.8, no primeiro ponto (Ponto A) como sendo 1,0; o próximo ponto (Ponto B) tem dimensão 5,0, o próximo ponto (Ponto C) tem dimensão 2,0, e o Ponto D tem dimensão de 5,0. 2 Coordenadas relativas Coordenadas relativas são coordenadas que relacionam um des- locamento em X com outro em Y. Usando coordenadas relativas, podemos clicar (ou iniciar o desenho) em qualquer parte da área de trabalho. Formato: @dx,dy – onde dx e dy correspondem ao deslocamento cujos valores podem ser inteiros ou reais, positivos ou negativos, caso o deslocamento seja contrário ao sentido dos eixos X e Y. Com o comando Line, que permite criar segmentos de reta (clique com o mouse no ícone do comando na caixa de ferramentas), podemos desenhar o retângulo da figura 2.10. Line Primeiro ponto: 1,0 (ou qualquer ponto da área de trabalho) – 43 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico Próximo ponto: @5,0 Próximo ponto: @0,2 Próximo ponto: @-5,0 Próximo ponto: @0,-2 <Enter> Também podemos perceber que o AutoCAD, assim como os outros programas CAD, trabalha com medidas unitárias, não importando se são em centímetros (cm) ou metros (m). Esta definição será necessária somente para a impressão do desenho, posteriormente (FIORELLI, 2010, p. 19; SILVA; SILVA; SOUZA, 2016, p. 12). Figura 2.10 – Construção de retângulo na área de trabalho do AutoCAD Fonte: elaborada pelo autor. Esta é uma breve descrição da área de trabalho e dos principais comandos do Autocad 2D. Nosso intuito é o conhecimento da aplicação do CAD e sua capacidade como uma ferramenta do desenho técnico, neces- sário para os futuros profissionais. Neste enfoque, este material apresenta subsídios para que o profissional possa continuar seu desenvolvimento no assunto, apresentando alternativas para o desenvolvimento dos seus projetos com eficiência. Desenho Técnico e CAD – 44 – Síntese Como vimos neste capítulo, é fundamental para qualquer profissional das áreas da engenharia, arquitetura e design o entendimento de todas as ferramentas e recursos disponíveis para o desenvolvimento do desenho técnico. Desta forma, é importante o conhecimento do avanço tecnoló- gico dos sistemas computacionais. Das tecnologias mais usadas para o desenvolvimento de projetos, o CAD é identificado como o sistema mais completo. Seu desenvolvimento se deu a partir dos anos 50, com o sur- gimento dos primeiros terminais gráficos, e o primeiro software de CAD surge a partir dos anos 60, permitindo editar objetos em 2D. Os primeiros softwares CAD 3D surgem a partir dos anos 70, quando passam a ser comercializados livremente; a partir dos anos 80, com o surgimento do PC (Personal Computer) e o lançamento do AutoCAD (Release 1), se expande o desenvolvimento de seu uso para a modelagem tridimensional. A partir dos anos 90, com o lançamento de versões para Windows e a difu- são da internet, o uso dos sistemas CAD se popularizou, tornando-se mais acessível. Também vimos as vantagens do uso dos sistemas CAD para o desenho técnico e projeto, desde sua precisão, facilidade de alteração, padronização até os benefícios de fabricação. Também conhecemos os sistemas CAD mais usados e suas principais características, conforme sua aplicação, como o AutoCAD, o SolidWorks e o CATIA; além do conhecimento dos sistemas de licença livre (open source), que podem ser usados de forma gratuita, e as licenças educacio- nais e de avaliação, que podem ser usadas para conhecimento e treina- mento dos profissionais. Por fim, estudamos a aplicação prática do CAD 2D, que é o programa usado para o desenvolvimento de um desenho por meio de vistas, sendo o programa base de desenvolvimento da computação gráfica, e nosso obje- tivo no desenho técnico. A partir daí, estudamos a apresentação e os principais comandos dis- poníveis no AutoCAD 2D, sua apresentação e seus principais campos: barras de menus, ferramentas, área de trabalho, sistema de coordenadas e comandos, até uma aplicação inicial, demonstrando o uso das coordena- das no desenho. – 45 – Sistemas CAD e sua aplicação no desenho técnico Assim, tomamos conhecimento das principais informações sobre os sistemas CAD e sua aplicação como ferramenta para o desenho técnico, e como estes sistemaspodem contribuir na execução de estudos detalhados, em programas com vários recursos disponíveis. Saiba mais O GUIA do Mochileiro para AutoCAD. Autodesk Help. 11 ago. 2020. Se você não estiver familiarizado com o AutoCAD ou com o Auto- CAD LT, este guia apresenta os comandos essenciais necessários para criar desenhos 2D. Também serve para atualizar a memória se você tiver acabado de concluir o treinamento inicial ou se usar o AutoCAD apenas ocasionalmente. Suporte e Aprendizado da Autodesk. Disponível em: http://help.auto- desk.com/view/ACD/2021/PTB/?guid=GUID-2AA12FC5-FBB2-4ABE- 9024-90D41FEB1AC3. Acesso em: 2 out. 2020. Saiba mais QCAD – 2D CAD para Windows, Linux e Mac. O sistema CAD de código aberto para todos. 7 set, 2020. QCAD é um aplicativo gratuito de código aberto para desenho assis- tido por computador (CAD) em duas dimensões (2D). Com o QCAD, você pode criar desenhos técnicos, como plantas de edifícios, interiores, peças mecânicas ou esquemas e diagramas. O QCAD funciona em Win- dows, macOS e Linux. O código-fonte do QCAD é lançado sob a GPL versão 3 (GPLv3), uma popular licença open source (livre). Disponível em: https://www.qcad.org/en/. Acesso em: 2 out. 2020. Atividades 1. Quais as três fases de desenvolvimento da computação gráfica, e o que caracteriza cada uma delas? Desenho Técnico e CAD – 46 – 2. Entre os sistemas CAD comercializados, o AutoCAD é o mais popular no Brasil. Cite três características deste software. 3. Qual a diferença entre o conceito de desenho e modelamento, e como se desenvolvem no sistema CAD? 4. Como funciona, basicamente, o sistema de coordenadas do soft- ware AutoCAD, e onde ele se encontra na tela de trabalho? 3 Padronização do desenho técnico Até aqui estudamos que as informações podem ser transmiti- das de diferentes maneiras para a execução de um projeto, objeto ou peça na indústria e na construção, mas que somente o desenho pode transmitir de forma completa todas as suas peculiaridades. Vimos que o desenho técnico é uma ferramenta muito importante para a comunicação de informações de desenhos e projetos, facilitando o intercâmbio das informações técnicas entre os projetistas. Também, que o desenvolvimento do com- putador e dos sistemas CAD expandiu as possibilidades de uso do desenho técnico para a execução de projetos e produtos. Mas, devemos entender que a execução do desenho técnico, usando das ferramentas ao nosso dispor, depende de regras de represen- tação para o efetivo intercâmbio das informações. Ao longo do tempo, o crescimento da economia e as guerras impulsionaram a necessidade da transmissão do conhecimento. É a partir da Revolução Industrial que surge a necessidade de se estabelecer regras para a representação gráfica dos projetos, para facilitar o intercâmbio das informações técnicas entre os Desenho Técnico e CAD – 48 – projetistas, na produção de desenhos de máquinas e equipamentos muito mais complexos (BARBOSA, 2013, p. 2). A padronização – ou normalização – é uma ferramenta poderosa, aceita por todos, que simplifica os assuntos, estabelece soluções e compar- tilha tecnologias. No desenho técnico, a padronização uniformiza o dese- nho, por meio de um conjunto de regras que vão regulamentar sua leitura e execução, e também a reprodução desta técnica em diferentes áreas, com o objetivo de evitar erros (ABNT, 2020; DIAS; LIMA, 2011, p. 42). No Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é quem estabelece, fundamenta e recomenda as normas técnicas, assunto que vamos aprofundar neste capítulo. Também vamos entender melhor o que é normalização, qual sua importância, e como se tornou um sistema internacional. Vamos ver ainda quais as principais normas da ABNT para o desenho técnico. 3.1 Normalização Já vimos que foi a necessidade de os objetos representados serem reconhecidos em qualquer lugar no mundo, por qualquer pessoa habilitada, que propiciou a evolução do desenho técnico para uma linguagem gráfica universal (OLIVEIRA; CASTILHO, 2016, p. 5). Assim, para garantir a reprodução de produtos ou peças que sejam tecnicamente iguais, temos que seguir as normas técnicas estabelecidas. As normas internacionais surgiram com o objetivo de padronizar o desenho técnico. Elas facilitam e simplificam os processos de produção e a compreensão dos desenhos e projetos por pessoas de nacionalidades diferentes, além de unificar as características dos produtos, entre outras vantagens. Vamos entender como ocorreu este processo de normalização. 3.1.1 Evolução da normalização e organizações Nas últimas décadas do século XIX, o desenvolvimento das relações econômicas entre as nações, envolvendo máquinas e equipamentos mais precisos e de maior valor, levou à necessidade de se compatibilizar as – 49 – Padronização do desenho técnico tecnologias, como afirmam Dias e Lima (2011, p. 30). É a partir deste momento que se torna necessário fixar normas para a fabricação e repre- sentação gráfica dos produtos. O impulso decisivo para o início deste pro- cesso foi o desenvolvimento da siderurgia e a difusão do uso da energia elétrica (DIAS; LIMA, 2011, p. 30). O International Electrotechnical Commission (IEC), fundado em 1906, em Londres, foi criado a partir de uma primeira experiência de nor- malização internacional, entre organizações de cientistas, engenheiros e líderes empresariais. O objetivo da comissão foi estabelecer uma coopera- ção técnica, que visava a uniformização de características de equipamen- tos e instrumentos elétricos e de termos técnicos. O trabalho da Comissão é a base do Sistema Internacional de Medidas (SI) (DIAS; LIMA, 2011, p. 31,32). Após a Segunda Guerra Mundial, ampliou-se o processo de nor- malização, até a criação da International Organization for Standardization (ISO) (identificação na figura 3.1), em 1947, que assume as funções de normalização desenvolvidas pelo IEC e estabelece sua sede em Genebra, na Suíça (DIAS; LIMA, 2011, p. 39). Figura 3.1 – Logo da International Organization for Standardization (ISO) Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ISO_Logo_(Red_square).svg A edição de uma norma internacional começa por uma decisão do Comitê de Gestão Técnica, que institui um Comitê Técnico (Technical Committee – TC), e este comitê estabelece seu programa de trabalho para o tema (ABNT, 2011, p. 40). A Comissão Técnica TC 10 da ISO realizou Desenho Técnico e CAD – 50 – a primeira normalização internacional visando a utilização da Geome- tria Descritiva como linguagem gráfica da engenharia e da arquitetura, chamando-a de Desenho Técnico (HOELSCHER; SPRINGER; DOBRO- VOLNY, 1978). Veja na figura 3.2 o Jornal da ISO de 1952, onde constam as publicações dos comitês. Figura 3.2 – Capa da publicação ISO de 1952, com informações sobre os comitês técnicos, as normas publicadas e informações administrativas Fonte: https://www.iso.org/files/live/sites/isoorg/files/about%20ISO/iso_story/img/2012_ iso-journal-may-1952_for-web.jpg – 51 – Padronização do desenho técnico No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foi criada em 1948, como uma entidade permanente de normalização. A NB-1 – Cálculo e Execução de Obras de Concreto e a MB-1 – Cimento Portland – Determinação da Resistência a Compressão, são consideradas as primeiras Normas Técnicas Brasileiras. No final dos anos 40, a ABNT tinha 17 seções especializadas e registrava, nesta época, entre suas ativi- dades de normalização, o desenho técnico (DIAS; LIMA, 2011, p. 51,54). Veja na figura 3.3 a identificação visual da ABNT, adotada a partir de 2003. A ABNT, assim como a ISO, é uma entidade privada, independente e sem fins lucrativos. Após as normas serem editadas pela ABNT, são regis- tradas no Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) como normas brasileiras (NBRs), para estarem de acordo com as normas internacionais aprovadas pela ISO (ABNT, 2020). A criação dos organismos de normalização, quevimos anterior- mente, não envolveu governos, e foi conduzida por cientistas, engenhei- ros e empresários. Figura 3.3 – Identificação das logomarcas de uso exclusivo da ABNT Marca da ABNT Institucional, permitido somente com autorização prévia. Marca da ABNT Certificadora, permitido somente com autorização prévia. Fonte: Manual de Instruções do uso da Marca ABNT, PG-15.04,2019. 3.1.2 Definição Segundo a ABNT (2020), a normalização é um processo, no qual os interessados cooperam entre si para formular e aplicar regras na solução ou prevenção de problemas. A tecnologia será o instrumento que estabe- lece as condições para que o produto, projeto, sistema, bem ou serviço possa atender suas finalidades de forma segura. Então, a normalização trabalha na elaboração, difusão e implementação das normas. Portanto, a norma é um documento que é estabelecido por consenso, aprovado por um organismo de normalização reconhecido, que fornece as regras, diretrizes e características mínimas a serem seguidas (ABNT, 2020). Desenho Técnico e CAD – 52 – Outro aspecto importante que a ABNT (2020) destaca é a volunta- riedade das normas, ou seja, que as normas não são obrigatórias por lei. Alguns países tornam normas obrigatórias, em algumas áreas. No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor é uma norma que se tornou obrigatória por lei. Então, é possível a produção de um produto que não siga a norma, mas assegurar sua competitividade no mercado pode ser mais difícil, e em alguns mercados o fornecedor terá responsabilidades adicionais. 3.1.3 Objetivos e importância Qual a contribuição das normas em nossas vidas? Quando produtos, sistemas e serviços deixam de atender às expectativas e se mostram peri- gosos ou incompatíveis, nos preocupamos com as normas. Ao contrário, quando são seguros e trabalham bem, a tendência é não lembrarmos delas, por isso são tão importantes (ABNT, 2020; ISO, 2020). As normas asseguram importantes aspectos aos produtos e serviços, tais como: qualidade, segurança, confiabilidade, eficiência, intercambia- lidade (troca), respeito ambiental e custo econômico. Ainda, se destacam como ferramentas essenciais na redução de barreiras e como uma forma eficiente de economizar tempo, pois: 2 facilitam o comércio entre os países; 2 estimulam soluções e disseminam a inovação; 2 compartilham avanços tecnológicos e a boa prática de gestão; 2 economizam dinheiro, fornecendo detalhes técnicos e de segurança; Podemos afirmar que as normas são uma referência idônea do mer- cado. São usadas em processos de regulamentação, de acreditação, de cer- tificação, de metrologia, de informação técnica e nas relações comerciais entre o cliente e o fornecedor. Segundo a ABNT ISO/IEC, a normalização pode ter um ou mais objetivos específicos em relação à adequação e ao propósito de um produto, processo ou serviço, sendo que estes objetivos podem ser sobrepostos. Veja na figura 3.4 os objetivos da normalização de acordo com o Guia 2:2006. – 53 – Padronização do desenho técnico Figura 3.4 – Objetivos da normalização, segundo a ABNT ISO/IEC Guia 2:2006 Fonte: http://www.abnt.org.br/normalizacao/o-que-e/objetivos A sociedade se beneficia da normalização em vários aspectos. São benefícios técnicos, econômicos e sociais, na nossa vida diária, no traba- lho e lazer. A ABNT (2020) nos traz aguns destes aspectos: 2 o consenso e terminlogia facilitam a transferância de tecnologia, assim como o acordo sobre unidades métricas e grandezas que facilitam o desenvolvimento; 2 as normas de acessibilidade permitem qualidade de vida para pessoas com deficiência; 2 as normas de segurança protegem as pessoas em todas as áreas, assim como os símbolos normalizados, independente- mente da língua; 2 a padronização permite economia e benefícios nos custos de fabricação dos produtos; 2 protocolos para computadores permitem a comunicação de pro- dutos diferentes, e os requisitos de desempenho e segurança garantem o atendimento aos usuários, assim como a compatibi- lidade dos equipamentos. Desenho Técnico e CAD – 54 – Parafusos, contêiner de carga, catões bancários e documentos, são exemplos de assuntos e áreas de normalização, assim como o desempenho dos produtos que nos permite, entre outros, o controle da poluição (ruído, vibração, emissão de poluentes). 3.2 Sistemas internacionais, normas ISO A ISO aprova normas internacionais em um grande número de áreas de interesse econômico e técnico. É importante destacar que os novos campos de atuação da ISO repercutem preocupações atuais. Na década de 1970, foram criados dois Comitês Técnicos específicos – Qualidade do Ar e Qualidade da Água, e em 1980 o Comitê de Energia Solar, para a discus- são das normas ambientais. As normas internacionais para o controle da qualidade começaram a ser discutidas em 1978, quando foi incorporado à estrutura da ISO um Comitê sobre Gestão da Qualidade (DIAS; LIMA, 2011, p. 42). A organização reúne especialistas que desenvolvem as normas internacionais, que são de caráter voluntário e baseadas em consenso, em assuntos relevantes, que oferecem soluções aos desafios internacio- nais. Além disso, a ISO trabalha com a conscientização pública sobre a padronização, a promoção do ensino da padronização, com pesquisas relacionadas aos padrões, e a promoção do treinamento dos seus mem- bros (ISO, 2020). A promoção de pesquisas tem o objetivo não só de demonstrar as vantagens da padronização, mas seus impactos, e despertar o interesse na participação das organizações e da sociedade. O desenvolvimento das normas segue os seguintes princípios: 2 responder a uma necessidade de mercado; 2 serem desenvolvidas por meio de um processo com várias partes interessadas; 2 serem desenvolvidas com base na opinião de especialistas globais; 2 serem desenvolvidas com base em um consenso. – 55 – Padronização do desenho técnico A organização trabalha para que os benefícios da padronização inter- nacional cumpram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS). As dimensões econômica, ambiental e social são abordadas diretamente nos padrões ISO (Veja a figura 3.5). Figura 3.5 – Número de padrões ISO que se aplicam às metas de desenvolvimento sustentável Fonte: https://www.iso.org/standards.html, 2020. Além das normas internacionais, a ISO publica outros resultados de seus comitês e pesquisas, também traduzidos pelos organismos nacionais. Desta forma, temos: 2 normas ISO – são os padrões internacionais; 2 especificações técnicas ISO/TS – trabalhos ainda em desenvol- vimento, para uso imediato, mas que aguardam retorno de seu uso (feedback); 2 relatórios técnicos ISO/TR – diferentemente das anteriores, pode incluir dados de pesquisas ou relatório informativo; 2 especificações ISO/PAS publicamente disponíveis – publi- cação para responder a uma necessidade urgente do mercado, para uso imediato, e aguarda retorno de seu uso (feedback). Tem um prazo de 6 anos para se tornar uma norma internacio- nal ou ser retirada; 2 acordos de Workshop internacional da IWA – consistem em acordos publicados indicando um interesse de desenvolvimento. São documentos desenvolvidos fora dos comitês, pelos interes- sados do mercado. Têm um prazo de 6 anos para se transformar em outro destes documentos ou serem retirados. Desenho Técnico e CAD – 56 – 2 guia ISO – são guias que ajudam os leitores a entender mais sobre a aplicação dos padrões (ISO, 2020). 3.2.1 Os organismos nacionais de normalização A ISO é uma rede de organismos de normalização nacionais e seus membros são as organizações de padronização mais importantes em seus países. Existe apenas um membro que representa a ISO por país. Hoje, a ISO está associada a 165 organismos nacionais de normalização de dife- rentes países (ISO, 2020; ABNT/SEBRAE, 2012, p.42; DIAS, 2011, p. 34). Dentre os principais organismos de normalização, estão: 2 no Reino Unido – International Electrotechnical Commission (IEC)e o British Standards Institution (BSI); 2 na Alemanha – Deutsches Institut für Normung (DIN); 2 na França – Association Française de Normalisation (AFNOR); 2 na Espanha – Associacion Espanola de Normalizacion y Certifi- cacion (AENOR); 2 em Portugual – Instituto Portugues da Qualidade (IPQ); 2 nos Estados Unidos – American National Standards Institute (ANSI); 2 no Canadá – Standards Council of Canada (SCC); 2 no Japão – Japan Industrial Standards Committee (JISC); 2 na Argentina – Instituto Argentino de Normalizacion Y Certifi- cacion (IRAM); 2 no Uruguai – Instituto Uruguayo de Normas Tecnicas (UNIT); 2 no Brasil – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Existem três categorias de membros da ISO, com níveis diferentes de acesso e influência sobre o sistema. Os membros plenos (ou órgãos membros) influenciam o desenvolvimento e a estratégia dos padrões ISO, participando e votando nas reuniões técnicas e políticas. Os membros – 57 – Padronização do desenho técnico correspondentes observam o desenvolvimento dos padrões e estratégias da ISO, participando de reuniões técnicas e políticas como observadores. Os membros assinantes se mantêm atualizados sobre o trabalho da ISO, mas não podem participar dele (ISO, 2020). 3.2.2 Comissão Técnica TC/10 ISO A ISO/TC10 é a Comissão Técnica que trabalha na padronização e coordenação da documentação técnica do produto (TPD), incluindo os desenhos técnicos, produzidos manualmente ou por computador. Essa padronização, para fins técnicos, vem facilitar a preparação, gerencia- mento, armazenamento, recuperação, reprodução, troca e uso do produto ao longo do seu ciclo de vida (ISO/TC 10, 2020). Podemos perceber que este trabalho inclui a atualização das normas, acompanhando a tecnologia disponível. Observe a figura 3.6. Figura 3.6 – Página da Comissão Técnica 10 da ISO Fonte: https://committee.iso.org/home/tc10 A ISO/TC 10 trabalha para fornecer um conjunto completo de espe- cificações de padrões, baseado e criado por consenso internacional, em apoio a todos os ramos da indústria. Os benefícios esperados na aplicação dos padrões disponíveis para a documentação técnica do produto (TPD) incluem redução de custos, Desenho Técnico e CAD – 58 – garantia de qualidade, menor tempo entre o conceito de design e a colo- cação do produto no mercado, redução do risco de interpretação errada e a instituição de uma plataforma de comunicação (ISO/TC 10, 2020). Os padrões de especificações disponíveis incluem: 2 regras de desenho – apresentação de desenhos técnicos e dimen- sionamento; 2 regras de documentação – classificação de produtos, sistemas, documentos etc.; 2 gerenciamento de informações técnicas do produto – armazena- mento, recuperação e troca; 2 modelagem de produto; 2 classificação de documentos, sistemas etc.; 2 terminologia – uma linguagem unificada de documentação; 2 simbologia; 2 mídia e equipamento para desenho – filme, papel vegetal, cane- tas etc. 3.3 Normas da ABNT para desenho técnico Como vimos anteriormente, a ABNT é a entidade responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT NBR) elaboradas por seus comitês, organismos setoriais e comissões de estudos. A ABNT é mem- bro fundador da ISO, da Comisión Panamericana de Normas Técnicas (Copant) e da Asociación Mercosur de Normalización (AMN), e também é membro da IEC. A ABNT disponibiliza no seu site o portal ABNT Catálogo, para a pesquisa de normas e coleções de normas nacionais e internacionais. No ABNT Catálogo você encontra os produtos e serviços da ABNT, como nor- mas, cursos, publicações e projetos. Além dos documentos técnicos nacio- nais, é possível adquirir normas de outros organismos, bem como escolher a forma de visualização, podendo ser física ou eletrônica (Figura 3.7). – 59 – Padronização do desenho técnico Figura 3.7 – Página de busca do catálogo de normas ABNT Fonte: https://www.abntcatalogo.com.br/ Após conhecermos a importância, os objetivos e as vantagens das normas técnicas, vamos conhecer as principais normas da ABNT para desenho técnico. Nos próximos capítulos, iremos analisar a aplicação de algumas delas mais a fundo. 3.3.1 Normas para desenho técnico As normas brasileiras para desenho técnico abrangem desde nor- mas gerais de denominação e classificação dos desenhos até normas de Desenho Técnico e CAD – 60 – representação, entre elas os formatos de papel, a representação do dese- nho, as linhas e suas espessuras, a escala, a caligrafia técnica, as cotas, as legendas, o dobramento de folhas, e outras mais específicas, que tratam dos assuntos separadamente. Então, para cada um destes temas há uma NBR, como citam Costa e Lor (2015, p. 2). Na sequência, vamos ver sobre o que tratam as principais normas do desenho técnico, de acordo com esta proposta de apresentação. 3.3.1.1 Normas gerais 2 ABNT ISO 10209 (07/2012) – documentação técnica de pro- duto – vocabulário. Esta norma substituiu a norma ISO 10209-2 (1993), que cancelou e substituiu a NBR 10647 (1989). A norma está em revisão (seu procedimento de revisão pela ISO ocorre a cada cinco anos) e será substituída pela ISO/DIS 10209. Esta norma estabelece e define termos relacionados aos métodos de projeção usados na documentação técnica de produto, abran- gendo todos os campos de aplicação, e inclui todos os termos técnicos do desenho digital, como: 2 tipos de desenho quanto ao seu aspecto geométrico (dese- nho projetivo e não projetivo); 2 tipos quanto ao grau de elaboração (esboço, desenho preli- minar e definitivo); 2 quanto ao grau de pormenorização (desenho de compo- nente, desenhos de conjunto, detalhes); 2 quanto à técnica de execução (a mão livre ou utilizando computador). 2 NBR 10067 (05/1995) – princípios gerais de representação em desenho técnico – procedimento. Seu objetivo é fixar a forma de representação aplicada em desenho técnico. Vamos ver a seguir seus aspectos principais: 2 normaliza o método de projeção ortográfica, que pode ser no 1º diedro ou no 3º diedro e os símbolos para representa- ção (Figura 3.8); – 61 – Padronização do desenho técnico Figura 3.8 – Símbolos do método de projeção ortogonal no 1º diedro e no 3º diedro, respectivamente Fonte: NBR 10067 (ANBT, 1995). 2 fixa o preto como a cor de representação do desenho técnico; 2 dá denominação às vistas (Figura 3.9), e fixa sua posição relativa em relação ao 1º e 3º diedros; Figura 3.9 – Denominação das vistas do desenho técnico Fonte: NBR 10067 (ANBT, 1995). 2 determinação do número de vistas e escolha da vista princi- pal: A vista mais importante da peça deve ser usada como vista principal. Devemos executar visitas, cortes e seções sempre que necessário, evitando o emprego de muitas linhas tracejadas; 2 vistas especiais – vista auxiliar; elemento repetitivo (Figura 3.10); 2 linhas de interseção (Figura 3.11); Desenho Técnico e CAD – 62 – Figura 3.10 – Simplificação de elementos repetitivos no desenho Fonte: NBR 10067 (ANBT, 1995). Figura 3.11 – Linhas de interseção traçadas nas vistas com linhas contínuas estreitas Fonte: NBR 10067 (ANBT, 1995). 2 representações de extremidades de eixos com seção qua- drada – traçadas com linha contínua estreita, caracterizam superfícies planas na extremidade de eixo (figura 3.12) e furos quadrados ou retangulares; Figura 3.12 – Linhas de interseção traçadas na vista, com linhas contínuas estreitas Fonte: NBR 10067 (ANBT, 1995). – 63 – Padronização do desenho técnico 2 vistas de peças simétri- cas – estas peças podem ser representadas somente por uma parte do todo. As linhas de simetria são identificadas com dois tra- ços estreitos, curtos e para- lelos nas extremidades das linhas de simetria (observe os traços curtos no eixo de simetria na figura 3.13). 2 cortes e seções – quando a localização do plano de corte não for clara, a posi- ção deve ser indicada. O plano de corte deve ser identificado com letra mai- úscula e o sentido
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