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CAPÍTULO 3 A Estrutura da Matéria TÔPICOS Séculos de Descobertas Átomo Grego Átomo de Dalton Átomo de Thomson Átomo de Bohr Partículas Fundamentais Estrutura Atômica Arranjo Eletrônico Energia de Ligação Eletrônica Nomenclatura Atômica Combinações de Átomos Radioatividade Radioisótopos Meia-vida Radioativa Tipos de Radiação Ionizante Radiação Corpuscular Radiação Eletromagnética OBJETIVOS Ao final deste capítulo, o estudante deverá ser capaz de: 1. Relatar a história do átomo 2. Identificar a estrutura do átomo 3. Descrever as camadas eletrônicas e a instabilidade da estrutura atômica 4. Discutir radioatividade e características das partículas alfa e beta 5. Explicar a diferença entre duas formas de radiação ionizante: corpuscular e eletromagnética ESTE CAPÍTULO diverge do estudo de energia e força para voltar à base da própria matéria. O que compõe matéria? Qual é a magnitude da matéria? A partir do espaço interior do átomo para o espaço exterior do universo, há uma enorme variação de tamanho da matéria. Mais de 40 ordens de grandeza são necessárias para identificar objetos tão pequenos quanto o átomo e tão grandes quanto o universo. Em razão da matéria se estender em tão grande escala de magnitudes, a forma exponencial é utilizada para expressar as medidas dos objetos. A Figura 3-1 mostra as ordens de grandeza e ilustra como a matéria no nosso ambiente varia de tamanho FIGURA 3-1 O tamanho dos objetos varia bastante. O intervalo de tamanhos na natureza exige que a notação científica seja utilizada, pois mais de 40 ordens de magnitude são necessárias. O átomo é o alicerce de todo tecnólogo em radiologia para a compreensão da interação entre radiação ionizante e matéria. Este capítulo explica o que acontece quando a energia sob a forma de um raio X interage com o tecido. Embora um tecido tenha estrutura extremamente complexa, compõe-se de átomos e combinações de átomos. Ao examinar a estrutura dos átomos, podemos aprender o que acontece quando a estrutura é alterada. SÉCULOS DE DESCOBERTAS Átomo Grego Uma das pesquisas científicas mais marcantes e contínuas da civilização consiste na busca por determinar precisamente a estrutura da matéria. A mais antiga referência registrada para essa busca vem dos gregos, algumas centenas de anos a.C. Os cientistas naquele tempo pensaram que toda matéria era composta de quatro substâncias: terra, água, ar e fogo. Segundo eles, toda matéria poderia ser descrita como combinações dessas quatro substâncias básicas em várias proporções, modificada por quatro essências básicas: molhado, seco, quente e frio. A Figura 3-2 mostra como essa teoria da matéria foi representada naquela época. FIGURA 3-2 Representação simbólica das substâncias e essências da matéria conforme vistas pelos gregos antigos. Os gregos usaram o termo átomo, que significa “indivisível” [a (não) + temon (cortado)], para descrever a menor parte das quatro substâncias da matéria. Cada tipo de átomo era representado por um símbolo (Fig. 3-3, A). Hoje, 112 substâncias ou elementos são identificados; 92 são de ocorrência natural e os 20 restantes foram produzidos artificialmente em aceleradores de partículas de alta energia. Nós sabemos agora que o átomo é a menor partícula da matéria que tem as propriedades de um elemento. Muitas partículas são muito menores que o átomo; estas são chamadas de partículas subatômicas. FIGURA 3-3 Através dos anos, o átomo tem sido representado por muitos símbolos. A, os gregos imaginaram quatro diferentes átomos, representados por ar, fogo, terra e água. Estes símbolos triangulares foram adotados por alquimistas medievais. B, o átomo de Dalton tinha ganchos e argolas para dar conta das combinações químicas. C, o modelo do átomo de Thomson foi descrito como um pudim de ameixa, com as ameixas representando os elétrons. D, o átomo de Bohr tem um núcleo pequeno, denso e positivamente carregado cercado por elétrons em níveis precisos de energia. Um átomo é a menor partícula que tem todas as propriedades de um elemento. Átomo de Dalton A descrição grega da estrutura da matéria persistiu por centenas de anos. Na verdade, formou a base teórica para os inúteis esforços dos alquimistas medievais com o objetivo transformar chumbo em ouro. Não houve progresso até o século XIX quando a teoria atômica moderna foi fundada. Em 1808, John Dalton, professor inglês, publicou um livro resumindo suas experiências, as quais mostraram que os elementos podiam ser classificados de acordo com valores integrais de massa atômica. Segundo Dalton, um elemento era composto por átomos idênticos que reagiam quimicamente da mesma forma. Por exemplo, todos os átomos de oxigênio eram semelhantes. Eles se pareciam uns com os outros, eram construídos de modo idêntico e reagiam de forma equivalente. Eram, no entanto, muito diferentes dos átomos de qualquer outro elemento. A combinação física de um tipo de átomo com outro foi visualizada como sendo um arranjo de argolas e ganchos (Fig. 3-3, B). O tamanho e o número de argolas e ganchos eram diferentes para cada elemento. Cerca de 50 anos após o trabalho de Dalton, um estudioso russo, Dmitri Mendeleev, mostrou que se os elementos fossem dispostos em ordem crescente de massa atômica, uma repetição periódica das propriedades químicas semelhantes ocorreria. Naquela época, aproximadamente 65 elementos tinham sido identificados. O trabalho de Mendeleev resultou na primeira tabela periódica dos elementos. Embora houvesse muitos buracos na tabela de Mendeleev, ela mostrou que todos os elementos então conhecidos podiam ser colocados em um de seus oito grupos. A Figura 3-4 é uma representação da tabela periódica dos elementos. Cada bloco representa um elemento. O sobrescrito é o número atômico. O subscrito é a massa do elemento. FIGURA 3-4 Tabela periódica dos elementos. Todos os elementos do mesmo grupo (ou seja, coluna) reagem quimicamente de uma forma similar e têm propriedades físicas semelhantes. À exceção do hidrogênio, os elementos do grupo I, chamado de metais alcalinos, são todos os metais moles que se combinam facilmente com o oxigênio e reagem de modo violento com a água. Os elementos do grupo VII, chamados halogênios, são facilmente vaporizados e combinam-se com os metais para formar sais solúveis em água. Elementos do Grupo VIII, chamados de gases nobres, são altamente resistentes à reação com outros elementos. Esses agrupamentos de elementos são determinados pela disposição dos elétrons em cada átomo. Considerar-se-á isto de forma mais completa posteriormente. Átomo de Thomson Após a publicação da tabela periódica de Mendeleev, os elementos que faltavam foram separados e identificados e a tabela periódica tornou-se enfim preenchida. O conhecimento da estrutura do átomo, no entanto, manteve-se deficiente. Antes da virada do século XX, os átomos eram considerados indivisíveis. A única diferença entre os átomos de um elemento e os átomos de outro eram as suas massas. Por meio dos esforços de muitos cientistas, aos poucos tornou-se claro que havia uma natureza elétrica na estrutura de um átomo. No final da década de 1890, enquanto investigava as propriedades físicas dos raios catódicos (elétrons), J.J. Thomson concluiu que os elétrons eram parte integrante de todos os átomos. Ele descreveu o átomo como algo parecido com um pudim de ameixa: as ameixas representavam as cargas elétricas negativas (elétrons) e o pudim era uma massa disforme de eletrificação uniforme positiva (Fig. 3-3, C). O número de elétrons foi considerado igual à quantidade da carga positiva, porque se sabia que o átomo era eletricamente neutro. Mediante uma série de experimentosengenhosos, Ernest Rutherford em 1911 refutou o modelo do átomo de Thomson. Rutherford introduziu o modelo nuclear, que descreveu o átomo como contendo um pequeno e denso centro, positivamente carregado e rodeado por órbitas de elétrons* Ele chamou o centro do átomo de núcleo. Átomo de Bohr Em 1913, Niels Bohr aperfeiçoou a descrição de Rutherford a respeito do átomo. O modelo de Bohr era uma miniatura do sistema solar, no qual os elétrons giravam em torno do núcleo em órbitas específicas ou níveis de energia. Para os nossos propósitos, o átomo de Bohr (Fig. 3-3, D) representa a melhor forma de entender o átomo, embora os detalhes da estrutura atômica sejam mais precisamente descritos por um modelo mais novo, chamado cromodinâmica quântica (CDQ). Simplificando, o átomo de Bohr contém um núcleo pequeno e denso, positivamente carregado, cercado por elétrons carregados negativamente que giram em órbitas fixas, bem definidas, sobre o núcleo. No átomo normal, o número de elétrons é igual ao número de cargas positivas no núcleo. PARTÍCULAS FUNDAMENTAIS Nossa compreensão do átomo de hoje é, essencialmente, a que Bohr apresentou há quase um século. Com o desenvolvimento de aceleradores de partículas de alta energia, ou “golpeadores de átomos”, como alguns os chamam, a estrutura do núcleo atômico está lentamente sendo mapeada e identificada. Mais de 100 partículas subatômicas foram detectadas e descritas por físicos que trabalham com aceleradores de partículas. A estrutura nuclear é agora bem definida (Fig. 3-5). Núcleons – prótons e nêutrons – são compostos de quarks os quais são mantidos juntos por glúons. Essas partículas, no entanto, são de pouca importância para a ciência radiológica. Apenas os três constituintes principais de um átomo, o elétron, o próton e o nêutron, são considerados aqui. Representam as partículas fundamentais (Tabela 3-1). FIGURA 3-5 O núcleo é composto de prótons e nêutrons, que são feitos de quarks ligados por glúons. Tabela 3-1 Características Importantes das Partículas Fundamentais As partículas fundamentais de um átomo são o elétron, o próton e o nêutron. O átomo pode ser visto como um sistema solar em miniatura cujo Sol é o núcleo e cujos planetas são os elétrons. O arranjo dos elétrons em torno do núcleo determina a maneira pela qual os átomos interagem. Os elétrons são partículas muito pequenas que carregam uma unidade de carga elétrica negativa. Sua massa é de apenas 9,1 × 10−31 kg. Eles podem ser imaginados como se estivessem girando em torno do núcleo em órbitas precisamente fixas, assim como os planetas em nosso sistema solar giram em torno do Sol. Como uma partícula atômica é extremamente pequena, sua massa é expressa em unidades de massa atômica (u) por conveniência. Uma unidade de massa atômica é igual a 1/12 da massa de um átomo de carbono-12. A massa do elétron é 0,000549 u. Quando a precisão não é necessária, um sistema de números inteiros chamados números de massa atômica é usado. O número de massa atômica de um elétron é zero. O núcleo contém partículas chamadas núcleons, dos quais há dois tipos: prótons e nêutrons. Ambos têm cerca de 2000 vezes a massa de um elétron. A massa de um próton é 1,673 × 10−27 kg, o nêutron é ligeiramente mais pesado, cerca de 1,675 × 10−27 kg. O número de massa atômica de cada um deles é um. A principal diferença entre um próton e um nêutron é a carga elétrica. O próton leva uma unidade de carga elétrica positiva. O nêutron não carrega nenhuma carga; ele é eletricamente neutro. ESTRUTURA ATÔMICA Você pode ser tentado a visualizar o átomo como uma colmeia de atividade subatômica porque suas representações clássicas geralmente aparecem como a que é mostrada na Figura 3-3, D. Devido a limitações de espaço da página impressa, a Figura 3-3, D é bastante simplificada. Na verdade, o átomo é, sobretudo, um espaço vazio, semelhante ao nosso sistema solar. O núcleo de um átomo é muito pequeno, mas contém quase toda a massa do átomo. O átomo é essencialmente espaço vazio. Se uma bola de basquete, cujo diâmetro é de 0,23 m, representa o tamanho do núcleo de urânio, o maior átomo que ocorre naturalmente, o raio dos elétrons orbitais teria mais de 12,8 km de distância. Por conter todos os prótons e nêutrons, o núcleo do átomo contém a maior parte de sua massa. Por exemplo, o núcleo de um átomo de urânio contém 99,998% da massa total do átomo. Possíveis órbitas eletrônicas são agrupadas em diferentes “camadas”. O arranjo dessas camadas ajuda a revelar como um átomo reage quimicamente, ou seja, como ele se combina com outros átomos para formar moléculas. Uma vez que um átomo neutro tem o mesmo número de elétrons em órbita quanto de prótons no núcleo, o número de prótons em última instância determina o comportamento químico de um átomo. O número de prótons determina o elemento químico. Átomos que possuem o mesmo número de prótons, mas diferem no número de nêutrons são isótopos; eles se comportam da mesma forma durante as reações químicas. A tabela periódica dos elementos (Fig. 3-4) lista a matéria em ordem crescente de complexidade, começando com o hidrogênio (H). Um átomo de hidrogênio contém um próton no seu núcleo e um elétron fora do núcleo. O hélio (He), segundo átomo na tabela, contém dois prótons, dois nêutrons e dois elétrons. O terceiro átomo, o lítio (Li), contém três prótons, quatro nêutrons e três elétrons. Dois desses elétrons estão na mesma camada orbital, a camada K, como os elétrons do hidrogênio e do hélio. O terceiro elétron está na próxima camada orbital mais distante do núcleo, a camada L. Elétrons podem existir apenas em certas camadas, que representam diferentes energias de ligação eletrônica ou níveis de energia. Para fins de identificação, as camadas orbitais eletrônicas são codificadas por K, L, M, N, e assim sucessivamente, para representar as energias de ligação eletrônica relativas desde a mais próxima ao núcleo até a mais distante do núcleo. Quanto mais próximo um elétron está do núcleo, maior é a sua energia de ligação. O próximo átomo na tabela periódica, o berílio (Be), tem quatro prótons e cinco nêutrons no núcleo. Dois elétrons estão na camada K e dois estão na camada L. A complexidade da configuração eletrônica dos átomos aumenta à medida que se progride pela tabela periódica até o elemento natural mais complexo, o urânio (U). O urânio tem 92 prótons e 146 nêutrons. A distribuição dos elétrons é a seguinte: 2 na camada K, 8 na camada L, 18 na camada M, 32 na camada N, 21 na camada O, 9 na camada P e 2 na camada Q. A Figura 3-6 é uma representação esquemática de quatro átomos. Embora esses átomos sejam principalmente espaço vazio, foram diagramados em uma página. Se o tamanho real do núcleo de hélio fosse o que está na Figura 3-6, os elétrons da camada K estariam a alguns quarteirões de distância. FIGURA 3-6 Átomos são compostos de prótons e nêutrons no núcleo e elétrons em órbitas específicas em torno do núcleo. Aqui são mostrados os três menores átomos e o maior átomo de ocorrência natural, o urânio. Em seu estado normal, os átomos são eletricamente neutros; a carga elétrica do átomo é zero. O número total de elétrons nas camadas orbitais é exatamente igual ao número de prótons no núcleo. Se um átomo possui um elétron extra ou teve um elétron removido, diz- se que ele está ionizado. Um átomo ionizado não é eletricamente neutro, mas carrega uma carga igual, em magnitude, à diferença entre o número de elétrons e prótons. Você pode supor que é possível os átomos serem ionizados pela alteração do número de cargas positivas, bem como do número de cargas negativas. Átomos, entretanto, não podem ser ionizadospela adição ou subtração de prótons porque eles estão unidos de modo bem forte, e aquela ação alteraria o tipo de átomo. Uma alteração no número de nêutrons não ioniza um átomo porque o nêutron é eletricamente neutro. A Figura 3-7 representa a interação entre um raio X e um átomo de carbono, um constituinte primário dos tecidos. Os raios X transferem a sua energia para um elétron orbital e ejetam aquele elétron do átomo. Esse processo requer aproximadamente 34 eV de energia. Os raios X podem deixar de existir e um par de íons é formado. O átomo restante é agora um íon positivo, pois contém uma carga positiva a mais do que a carga negativa. FIGURA 3-7 A ionização de um átomo de carbono por um raio X deixa o átomo com uma carga elétrica líquida de +1. O átomo ionizado e o elétron liberado são chamados de par de íons. Em todos os átomos, exceto os mais leves, o número de nêutrons é sempre maior que o número de prótons. Quanto maior o átomo, maior é a abundância de nêutrons sobre os prótons. Ionização é a remoção de um elétron orbital de um átomo. Arranjo Eletrônico O número máximo de elétrons, que pode existir em cada camada (Tabela 3-2), aumenta com a distância entre a camada e o núcleo. Esses números não precisam ser memorizados porque o limite de elétrons por camada pode ser calculado a partir da expressão: Tabela 3-2 Número Máximo de Elétrons que Pode Ocupar Cada Camada Eletrônica Número da Camada Símbolo da Camada Número de Elétrons 1 K 2 2 L 8 3 M 18 4 N 32 5 O 50 6 P 72 7 Q 98 NÚMERO MÁXIMO DE ELÉTRONS POR CAMADA 2n2 onde n é o número da camada. Questão: Qual é o número máximo de elétrons que pode existir na camada O? Resposta: A camada O é a quinta camada a partir do núcleo, portanto: Esta resposta, 50 elétrons, é um valor teórico. Mesmo o maior átomo não preenche completamente a camada O ou superior. Os físicos chamam o número da camada n de número quântico principal. Cada elétron em cada átomo pode ser precisamente identificado por quatro números quânticos, o mais importante dos quais é o número quântico principal. Os outros três números quânticos representam a existência de subcamadas, que não são importantes para ciência radiológica. O leitor atento pode ter notado uma relação entre o número de camadas em um átomo e sua posição na tabela periódica dos elementos. O oxigênio tem oito elétrons, dois ocupam a camada K e seis ocupam a camada L. O oxigênio está no segundo período e no sexto grupo da tabela periódica (Fig. 3-4). O alumínio tem a seguinte configuração eletrônica: camada K, dois elétrons; camada L, oito elétrons; camada M, três elétrons. Portanto, o alumínio está no terceiro período (camada M) e no terceiro grupo (três elétrons) da tabela periódica. ARRANJO ELETRÔNICO O número de elétrons na camada mais externa de um átomo é igual ao seu grupo na tabela periódica. O número de elétrons na camada mais externa determina a valência de um átomo. O número da camada eletrônica mais externa de um átomo é igual ao seu período na tabela periódica. Questãce: Quais são o período e o grupo para o agente de contraste gastrointestinal, bário (Fig. 3- 4)? Resposta: Período 6 e o grupo II. Nenhuma camada mais externa pode conter mais de oito elétrons. Por que os elementos da tabela periódica demonstram a repetição das propriedades químicas semelhantes em grupos de oito? Além da limitação do número máximo de elétrons permitidos em qualquer camada, a camada externa é sempre limitada a oito elétrons. Todos os átomos que têm um elétron na camada externa posicionam-se no grupo I da tabela periódica; átomos com dois elétrons na camada externa estão no grupo II, e assim por diante. Quando oito elétrons ocupam a camada mais externa, esta encontra-se preenchida. Átomos com a camada externa cheia posicionam-se no grupo VIII, os gases nobres, e são muito estáveis. O esquema de progressão atômica do menor ao maior átomo é interrompido no quarto período. Em vez de simplesmente adicionar os elétrons para a próxima camada externa, os elétrons são adicionados à camada interna. Os átomos associados a este fenômeno são chamados elementos de transição. Mesmo nesses elementos, nenhuma camada externa contém mais de oito elétrons. As propriedades químicas dos elementos de transição dependem do número de elétrons nas duas camadas mais externas. A notação da camada do arranjo eletrônico de um átomo não identifica somente a distância relativa entre um elétron e o núcleo, mas também indica a energia relativa pela qual o elétron está ligado ao núcleo. Você poderia esperar que um elétron espontaneamente voasse para fora do núcleo, assim como uma bola girando na extremidade de uma corda faria se esta fosse cortada. O tipo de força que impede que isso ocorra é chamado de força centrípeta, uma força sempre apontada para o centro de órbita, resultante de uma lei básica de eletricidade a qual afirma que cargas opostas se atraem e cargas iguais se repelem. A força que mantém um elétron em órbita é a força centrípeta. Você, portanto, poderia esperar que os elétrons caíssem no núcleo devido à forte atração eletrostática. No átomo normal, porém, a força centrípeta apenas equilibra o movimento criado pela velocidade do elétron, de modo que os elétrons mantenham a sua distância do núcleo enquanto viajam em uma trajetória circular ou elíptica. A Figura 3-8 é uma representação desta situação para um átomo de pequeno porte. Em átomos mais complexos, o mesmo equilíbrio de forças existe e cada elétron pode ser considerado separadamente. FIGURA 3-8 Os elétrons giram em torno do núcleo em órbitas fixas ou camadas. A atração eletrostática resulta em uma trajetória eletrônica fixa em torno do núcleo. Energia de Ligação Eletrônica A magnitude (firmeza) do vínculo de um elétron ao núcleo é chamada de energia de ligação do elétron, designada Eb. Quanto mais perto um elétron está do núcleo, mais firme é essa ligação. Elétrons na camada K têm maiores energias de ligação que os elétrons na camada L, elétrons na camada L são ligados mais fortemente ao núcleo do que os elétrons na camada M, e assim por diante. Nem todos os elétrons na camada K de todos os átomos estão vinculados com a mesma energia de ligação. Quanto maior o número total de elétrons em um átomo, mais firmemente cada um é ligado. Para expressar de forma diferente, quanto maior e mais complexo é o átomo, maior é a Eb para os elétrons de cada uma das camadas. Já que os elétrons dos átomos com muitos prótons estão ligados de maneira mais forte ao núcleo do que aqueles de átomos pequenos, em geral é preciso gastar mais energia para ionizar um grande átomo do que um átomo de pequeno porte. A Figura 3-9 representa a energia de ligação dos elétrons de alguns átomos de importância radiológica. Os metais tungstênio (W) e molibdênio (Mo) são os principais constituintes do alvo de um tubo de raios X. Bário (Ba) e iodo (I) são usados extensivamente como agentes de contraste radiográficos e fluoroscópicos. FIGURA 3-9 Configurações atômicas e energias de ligação eletrônicas aproximadas para três átomos radiologicamente importantes. Quanto maiores ficam os átomos, mais fortemente ligados se tornam os elétrons em uma dada camada. Questão: Quanta energia é necessária para ionizar o tungstênio por meio da remoção de um elétron da camada K? Resposta: A energia mínima deve ser igual a Eb ou 69 keV – com menos do que isso, o átomo não pode ser ionizado. Carbono (C) é um importante componente do tecido humano. Tal como acontece com outros átomos do tecido, Eb para os elétrons da camada mais externa é de apenas aproximadamente 10 eV. No entanto, cerca de 34 eV são necessários para ionizar os átomos dos tecidos.O valor 34 eV é chamado de potencial de ionização. A diferença, 24 eV, causa múltiplas excitações de elétrons, que acaba por resultar em calor. O conceito de potencial de ionização é importante para a descrição de transferência linear de energia (LET), que será discutido no Capítulo 33. Questão: Quanto de energia a mais é necessária para ionizar o bário se comparado ao carbono pela remoção de elétrons da camada K? Resposta: NOMENCLATURA ATÔMICA Muitas vezes, um elemento é indicado por uma abreviação alfabética. Essas siglas são chamadas de símbolos químicos. A Tabela 3-3 lista alguns dos elementos importantes e seus símbolos químicos. Tabela 3-3 Características de Alguns Elementos Importantes para Ciência Radiológica As propriedades químicas de um elemento são determinadas pelo número e arranjo dos elétrons. No átomo neutro, o número de elétrons é igual ao número de prótons. O número de prótons é chamado de número atômico, representado por Z. A Tabela 3-3 mostra que o número atômico do bário é 56, indicando assim que 56 prótons estão em seu núcleo. O número de prótons adicionado ao número de nêutrons no núcleo de um átomo é chamado de número de massa atômica, simbolizado por A. O número de massa atômica é sempre um número inteiro. A utilização de números de massas atômicas é útil em muitas áreas da ciência radiológica. O número de massa atômica e a massa precisa de um átomo não são iguais. O número de massa atômica de um átomo é um número inteiro, que equivale ao número de núcleons no átomo. A massa atômica real de um átomo é determinada por medição e raramente é um número inteiro. O 135Ba tem A = 135, porque seu núcleo contém 56 prótons e 79 nêutrons. Porém, a massa atômica de 135Ba é 134,91 u. Apenas um átomo, 12C, tem massa atômica igual ao seu número de massa atômica. Isso ocorre porque o átomo de 12C é o padrão arbitrário para a medida atômica. Muitos elementos no seu estado natural são compostos de átomos com diferentes números de massa atômica e diferentes massas atômicas, mas idênticos números atômicos. A massa característica de um elemento – massa elementar – é determinada pela abundância relativa dos isótopos e suas respectivas massas atômicas. O bário, por exemplo, tem o número atômico 56. O número de massa atômica de seu isótopo mais abundante é de 138. O bário natural, no entanto, consiste em sete diferentes isótopos com números de massa atômica de 130, 132, 134, 135, 136, 137 e 138; a massa elementar é determinada pelo cálculo da massa média de todos esses isótopos. Com o protocolo descrito na Figura 3-10, os átomos da Figura 3-6 teriam a seguinte representação simbólica: FIGURA 3-10 Protocolo de representação dos elementos em uma molécula. Como o símbolo químico também indica a número atômico, o índice subscrito é frequentemente omitido. 1H,4He,7Li,238U Isótopos Átomos que possuem o mesmo número atômico, mas diferentes números de massa atômica são isótopos. Isótopos de um determinado elemento contêm o mesmo número de prótons, mas diferentes números de nêutrons. A maioria dos elementos apresenta mais de um isótopo estável. Os sete isótopos naturais do bário são os seguintes: 130Ba,132Ba,134Ba,135Ba,136Ba,137Ba,138Ba O termo isótopo descreve todos os átomos de um determinado elemento. Esses átomos têm diferentes configurações nucleares; no entanto, reagem da mesma forma quimicamente. Questão: Quantos prótons e nêutrons estão em cada um dos sete isótopos de bário de ocorrência natural? Resposta: O número de prótons em cada isótopo é 56. O número de nêutrons é igual a A- Z. Portanto, 130Ba: 130 − 56 = 74 nêutrons 132Ba: 132 − 56 = 76 nêutrons 134Ba: 134 − 56 = 78 nêutrons e assim por diante. Isóbaros Átomos com núcleos atômicos que têm o mesmo número de massa atômica, mas diferentes números atômicos, são isóbaros. Isóbaros são átomos que possuem diferentes números de prótons e diferentes números de nêutrons, mas o mesmo número total de núcleons. Transições isobáricas radioativas do átomo pai para o átomo filho resultam da liberação de uma partícula beta ou de um pósitron. O pai e o filho são átomos de diferentes elementos. Isótonos Átomos que possuem o mesmo número de nêutrons, mas diferentes números de prótons, são isótonos. Isótonos são átomos com diferentes números atômicos e diferentes números de massa, porém com um valor constante para a quantidade A-Z. Consequentemente, isótonos são átomos com o mesmo número de nêutrons no núcleo. A categoria final da configuração atômica é o isômero. Isômero Isômeros possuem o mesmo número atômico e o mesmo número de massa atômica. Na verdade, isômeros são átomos idênticos, exceto porque existem em diferentes estados de energia devido às diferenças no arranjo dos núcleons. Tecnécio-99m decai para tecnécio- 99 com a emissão de um raio gama de 140 keV, que é muito útil na medicina nuclear. A Tabela 3-4 apresenta um resumo das características desses arranjos nucleares. Tabela 3-4 Características de Diversos Arranjos Nucleares Questão: A partir da seguinte lista de átomos, escolha aqueles que são isótopos, isóbaros e isótonos. Resposta: 130I e 131I são isótopos. 131I e 131Xe são isóbaros. 130I, 131Xe e 132Cs são isótonos. COMBINAÇÕES DE ÁTOMOS Molécula Átomos de elementos diferentes podem-se combinar para formar estruturas chamadas moléculas. Quatro átomos de hidrogênio (H2) e dois átomos de oxigênio (O2) podem-se combinar para formar duas moléculas de água (2 H2O). A equação seguinte representa esta combinação atômica: Um átomo de sódio (Na) pode-se combinar com um átomo de cloro (Cl) para formar uma molécula de cloreto de sódio (NaCl), que é o sal comum de mesa: Ambas as moléculas são comuns no corpo humano. Moléculas, por sua vez, podem-se combinar para formar estruturas ainda maiores: células e tecidos. Composto Um composto químico é qualquer quantidade de um tipo de molécula. Embora mais de 100 diferentes elementos sejam conhecidos, a maioria deles é rara. Cerca de 95% da Terra e sua atmosfera são compostas de apenas uma dúzia de elementos. Da mesma forma, hidrogênio, oxigênio, carbono e nitrogênio compõem mais de 95% do corpo humano. As moléculas de água perfazem em torno de 80% do corpo humano. Existe um esquema organizado para representar elementos em uma molécula (Fig. 3-10). A notação estenográfica, que incorpora os símbolos químicos com subscritos e sobrescritos, é usada para identificar os átomos. O símbolo químico (X) posiciona-se entre dois subscritos e dois sobrescritos. O subscrito e sobrescrito à esquerda do símbolo químico representam número atômico e número de massa atômica, respectivamente. O subscrito e sobrescrito à direita são os valores para o número de átomos por molécula e para o estado de valência do átomo, respectivamente. A fórmula NaCl representa uma molécula do composto de cloreto de sódio. Este possui propriedades diferentes daquelas do sódio ou do cloro. Átomos se combinam entre si para formar compostos (ligações químicas) em duas formas principais. Os exemplos de H2O e NaCl podem ser usados para descrever esses dois tipos de ligações químicas. Hidrogênio e oxigênio se combinam fazendo a água por meio de ligações covalentes. O oxigênio tem seis elétrons em sua camada mais externa. Ela apresenta espaço para mais dois elétrons, então, em uma molécula de água, dois átomos de hidrogênio compartilham seus únicos elétrons com o oxigênio. O elétron do hidrogênio orbita em ambos os núcleos de H e O, mantendo assim os átomos ligados. Essa ligação covalente é caracterizada pelo compartilhamento de elétrons. Sódio e cloro se combinam fazendo o sal por meio de ligação iônica. O sódio tem um elétron em sua camada mais externa.O cloro possui espaço para mais um elétron em sua camada mais externa. O átomo de sódio desistirá de seu elétron em favor do cloro. Quando isso acontece, ele se torna ionizado porque perdeu um elétron e agora tem um desequilíbrio de cargas elétricas. O átomo de cloro também se torna ionizado já que ganhou um elétron e agora tem mais elétrons do que prótons. Os dois átomos são atraídos um pelo outro, resultando numa ligação iônica, por apresentarem cargas eletrostáticas opostas. Átomos de sódio, hidrogênio, carbono e oxigênio podem se combinar para formar uma molécula de bicarbonato de sódio (NaHCO3). A quantidade mensurável de bicarbonato de sódio constitui um composto químico usualmente chamado de fermento químico. A menor partícula de um elemento é um átomo; a menor partícula de um composto é uma molécula. As inter-relações entre átomos, elementos, moléculas e compostos estão bem ordenadas. Este esquema organizacional é o que os antigos gregos estavam tentando descrever com suas substâncias e essências. A Figura 3-11 é um diagrama deste esquema atual da matéria. FIGURA 3-11 A matéria tem muitos níveis de organização. Átomos se combinam para fazer moléculas e as moléculas se combinam para fazer os tecidos. RADIOATIVIDADE Alguns átomos existem em um estado excitado anormal, caracterizado por um núcleo instável. Para alcançar a estabilidade, o núcleo emite espontaneamente partículas e energia e transforma-se em outro átomo. Tal processo é chamado de desintegração radioativa ou decaimento radioativo. Os átomos envolvidos são radionuclídeos. Qualquer arranjo nuclear é chamado de nuclídeo; apenas núcleos que sofrem decaimento radioativo são radionuclídeos. Radioatividade Radioatividade é a emissão de partículas e energia, com o intuito de atingir a estabilidade. Radioisótopos Muitos fatores afetam a estabilidade nuclear. Talvez a mais importante seja o número de nêutrons. Quando um núcleo contém nêutrons em pouca quantidade ou em excesso, o átomo pode desintegrar radioativamente levando o número de nêutrons e prótons para uma razão estável e apropriada. Além de isótopos estáveis, muitos elementos têm isótopos radioativos ou radioisótopos. Estes podem ser artificialmente produzidos em máquinas, tais como aceleradores de partículas ou reatores nucleares. Sete radioisótopos de bário foram descobertos; todos são produzidos artificialmente. Na seguinte lista de isótopos de bário, os radioisótopos estão em negrito: Radioisótopos produzidos artificialmente foram identificados em quase todos os elementos. Poucos elementos apresentam também radioisótopos de ocorrência natural. Há duas fontes primárias de radioisótopos de ocorrência natural. Alguns radioisótopos se originaram na época da formação da Terra e ainda estão decaindo aos poucos. Um exemplo é o urânio, o qual em última análise decai para o rádio, que por sua vez, decai para o radônio. Estes e outros produtos do decaimento do urânio são radioativos. Outros radioisótopos, como 14C, são continuamente produzidos na estratosfera pela ação da radiação cósmica. Radioisótopos podem decair para atingir estabilidade de muitas maneiras, mas apenas duas, a emissão alfa e a emissão beta, são de particular importância aqui. Durante a emissão beta*, um elétron criado no núcleo é ejetado do núcleo, com considerável energia cinética, e escapa do átomo. O resultado é a perda de uma pequena quantidade de massa e uma unidade de carga elétrica negativa do núcleo do átomo. Simultaneamente, um nêutron sofre conversão para um próton. O resultado da emissão beta, portanto, é o aumento do número atômico** (Z → Z +1), enquanto o número de massa atômica permanece o mesmo (A = constante). Esta transformação nuclear resulta na mudança de um átomo de um tipo de elemento para outro (Fig. 3-12). FIGURA 3-12 131I que decai para 131Xe com a emissão de uma partícula beta. O decaimento radioativo por emissão alfa é um processo muito mais violento. A partícula alfa consiste em dois prótons e dois nêutrons ligados; o seu número de massa atômica é 4. Um núcleo deve ser extremamente instável para emitir uma partícula alfa, mas quando ele o faz, perde duas unidades de carga positiva e quatro unidades de massa. A transformação é significativa porque o átomo resultante não é apenas quimicamente diferente, mas também é mais leve por 4 u (Fig. 3-13). FIGURA 3-13 O decaimento do 226Ra para o 222Rn é acompanhado pela emissão alfa. Decaimento radioativo resulta na emissão de partículas alfa, partículas beta e, usualmente, raios gama. A emissão beta ocorre com muito mais frequência do que a emissão alfa. Praticamente todos os radioisótopos são capazes de sofrer transformação por emissão beta, mas apenas os radioisótopos pesados, por emissão alfa. Alguns radioisótopos são emissores beta puros ou emissores alfa puros, no entanto a maioria emite raios gama simultaneamente com a emissão da partícula. Questão: 139Ba é um radioisótopo que decai por emissão beta. Quais serão os valores de A e Z para o átomo que resulta dessa emissão? Resposta: Na emissão beta, um nêutron é convertido em um próton e em uma partícula beta: Lantânio é o elemento com Z = 57; Assim, é o resultado do decaimento beta do Ba Meia-vida Radioativa Materiais radioativos não estão aqui um dia e desaparecem no outro. Pelo contrário, radioisótopos desintegram-se em isótopos estáveis de diferentes elementos em uma taxa decrescente, de modo que a quantidade de material radioativo nunca alcança o zero completamente. Lembre-se do Capítulo 2: material radioativo é medido em curie (Ci) e 1 Ci é igual a desintegração de 3,7 × 1010 átomos a cada segundo (3,7 × 1010 Bq). A taxa de decaimento radioativo e a quantidade de material presente em qualquer dado momento são descritas matematicamente por uma fórmula conhecida como a lei do decaimento radioativo. A partir dessa fórmula podemos obter uma quantidade conhecida como meia-vida (T1/2). As meias-vidas dos radioisótopos variam em menos de um segundo por muitos anos. Cada radioisótopo tem uma única meia-vida característica. Meia-vida A meia-vida de um radioisótopo é o tempo necessário para que uma quantidade de radioatividade seja reduzida à metade do seu valor original. A meia-vida de 131I é de 8 dias (Fig. 3-14). Se 100 mCi (3,7 × 109 Bq) de 131I estava presente em 1º de janeiro ao meio-dia, então, ao meio-dia em 9 de janeiro, apenas 50 mCi (1,85 × 109 Bq) restariam. Em 17 de janeiro, 25 mCi (9,25 × 108 Bq) restariam e, em 25 de janeiro, 12,5 mCi (4,63 × 108 Bq). Um gráfico do decaimento radioativo do 131I permite determinar a quantidade de radioatividade remanescente após um dado período de tempo (Fig. 3-14). FIGURA 3-14 131I decai com uma meia-vida de 8 dias. Este gráfico linear permite a estimativa da radioatividade apenas por um curto tempo. Após cerca de 24 dias, ou três meias-vidas, o gráfico linear-linear do decaimento do 131I torna-se muito difícil de ser lido e interpretado. Consequentemente, esses gráficos são em geral apresentados na forma semilogarítmica (Fig. 3-15). Com este tipo de apresentação, pode-se estimar a radioatividade após um tempo muito longo. FIGURA 3-15 Este gráfico semilog é útil para estimar a radioatividade do 131I em qualquer dado momento. Questão: Na segunda-feira às 8 h da manhã, 100 μCi (3,7 MBq) de 131I está presente. Quanto vai restar na sexta-feira às 5 h da tarde? Resposta: O tempo de decaimento é de 4 dias e 1/3. Segundo a Figura 3-15, em 4 dias e 1/3, restará cerca de 63% da atividade original. Portanto, 63 μCI (2,33 MBq) restarão na sexta-feira às 5 h da tarde. Teoricamente, toda a radioatividade de um isótopo radioativo nunca desaparece. Após cada período de tempo que equivalea uma meia-vida, restará metade da atividade presente no início daquele período. Portanto, embora a quantidade de um isótopo radioativo diminua de modo progressivo, ela nunca chega à zero. A Figura 3-16 mostra dois gráficos semelhantes usados para estimar a quantidade de qualquer radioisótopo remanescente após qualquer período de tempo. Nesses gráficos, a percentagem de radioatividade original restante é expressa em função do tempo, medido em unidades de meia-vida. Para usar esses gráficos, deve-se expressar a radioatividade inicial como 100% e converter o período do tempo de interesse em unidades de meia-vida. Para tempos de decaimento superior a três meias-vidas, a forma semilog é mais fácil de usar. FIGURA 3-16 A radioatividade após qualquer período pode ser estimada pelos gráficos linear (A) ou a semilog (B). À quantidade original é atribuído um valor de 100%, e o tempo de decaimento é expresso em unidades de meia-vida. Questão: 65 mCi (2,4 × 109 Bq) de 131I está presente ao meio-dia de quarta-feira. Quanto restará 1 semana depois? Resposta: 7 dias = 7/8 T1/2 = 0,875 T1/2. A Figura 3-16 mostra que em 0,875 T1/2 aproximadamente 55% do radioatividade inicial restará; O 14C é um radioisótopo de ocorrência natural com T1/2 = 5.730 anos. A concentração de 14C no ambiente é constante, e o 14C é incorporado no material vivo a uma taxa constante. Árvores da Floresta Petrificada contêm menos 14C do que árvores vivas porque o 14C em árvores vivas está em equilíbrio com a atmosfera; o carbono em uma árvore petrificada foi fixado muitos milhares de anos atrás, e esse 14C fixado é reduzido ao longo do tempo por decaimento radioativo (Fig. 3-17). FIGURA 3-17 Carbono é um elemento biologicamente ativo. Uma pequena fração de todo o carbono é o radioisótopo 14C. Conforme uma árvore cresce, o 14C é incorporado na madeira na proporção da quantidade de 14C da atmosfera. Quando a árvore morre, trocas de 14C com a atmosfera não ocorrerão mais. Se a madeira morta é preservada pela petrificação, o teor de 14C diminui conforme o seu decaimento radioativo. Esse fenômeno serve como base para a datação por radiocarbono. Questão: Se um pedaço de madeira petrificada contém 25% do 14C que uma árvore viva hoje contém, quantos anos tem a madeira petrificada? Resposta: O 14C em matéria viva se mantém constante enquanto a matéria está viva, porque é constantemente trocado com o meio ambiente. Neste caso, a madeira petrificada foi morta há tempo suficiente para o 14C decair para 25% do seu valor original. Esse período de tempo representa duas meias-vidas. Por conseguinte, podemos estimar que a amostra de madeira petrificada tem aproximadamente 2 × 5.730 = 11.460 anos de idade. Questão: Quantas meias-vidas são necessárias antes que uma quantidade de material radioativo tenha decaído para menos de 1% do seu valor original? Resposta: Uma abordagem simples para este tipo de problema é contar meias-vidas. Número de meias-vidas Radiatividade remanescente 1 50% 2 25% 3 12,5% 4 6,25% 5 3,12% 6 1,56% 7 0,78% Uma abordagem mais simples encontra a resposta mais precisa na Figura 3-16: 6,5 meias- vidas. Outra abordagem é usar a seguinte relação: DECAIMENTO RADIOATIVO Atividade Restante = Atividade Original (0,5)n onde n = número de meias-vidas. O conceito de meia-vida é essencial para a ciência radiológica. É usado diariamente em medicina nuclear e tem um conceito correspondente na terminologia de raios X, a camada semirredutora. Quanto melhor você entender a meia-vida agora, melhor você entenderá o significado de camada semirredutora mais tarde. TIPOS DE RADIAÇÃO IONIZANTE Todas as radiações ionizantes podem ser convenientemente classificadas em duas categorias: radiação corpuscular e radiação eletromagnética (Tabela 3-5). Os tipos de radiação usados no diagnóstico por ultrassom e nas imagens por ressonância magnética são radiações não ionizantes. Tabela 3-5 Classificação Geral das Radiações Ionizantes Embora todas as radiações ionizantes ajam no tecido biológico da mesma forma, existem diferenças fundamentais entre vários tipos de radiação. Essas diferenças podem ser analisadas de acordo com cinco características físicas: massa, energia, velocidade, carga e origem. Radiação Corpuscular Muitas partículas subatômicas são capazes de causar ionização. Consequentemente, os elétrons, prótons e até mesmo raros fragmentos nucleares podem ser classificados como partículas de radiação ionizante se eles estão em movimento e possuem suficiente energia cinética. Em repouso, elas não podem causar ionização. Existem dois tipos principais de radiação corpuscular: partículas alfa e partículas beta. Ambas estão associadas com o decaimento radioativo. A partícula alfa equivale a um núcleo de hélio. Ela contém dois prótons e dois nêutrons. Sua massa é de aproximadamente quatro, e carrega duas unidades de carga elétrica positiva. Comparada com um elétron, a partícula alfa é grande e exerce uma enorme força eletrostática. As partículas alfa são emitidas apenas a partir dos núcleos de elementos pesados. Elementos leves não podem emitir partículas alfa, porque não têm excesso de massa suficiente (excesso de energia). PARTÍCULA ALFA Uma partícula alfa é um núcleo de hélio que contém dois prótons e dois nêutrons. Uma vez emitida a partir de um átomo radioativo, a partícula alfa viaja com alta velocidade através da matéria. Por causa da sua grande massa e carga, no entanto, ela facilmente transfere esta energia cinética aos elétrons orbitais de outros átomos. A ionização acompanha a radiação alfa. A partícula alfa com média energia possui 4 a 7 MeV de energia cinética e ioniza aproximadamente 40.000 átomos para cada centímetro percorrido através do ar. Devido a essa quantidade de ionização, a energia de uma partícula alfa é perdida com rapidez. Ela tem um alcance muito curto na matéria. No ar, partículas alfa podem percorrer cerca de 5 cm, ao passo que nos tecidos moles, o intervalo pode ser inferior a 100 μm. Consequentemente, a radiação alfa originada de uma fonte externa é quase inofensiva porque a energia da radiação é depositada nas camadas superficiais da pele. Com uma fonte interna de radiação, exatamente o oposto acontece. Se um radioisótopo emissor alfa é depositado no corpo, ele pode irradiar de modo intenso o tecido local. As partículas beta são diferentes das partículas alfa em termos de massa e carga. Trata-se de partículas leves com um número de massa atômica igual a 0 e carregam uma unidade de carga negativa ou positiva. A única diferença entre os elétrons e as partículas beta negativas é a sua origem. As partículas beta originam-se nos núcleos dos átomos radioativos e os elétrons existem em camadas de todos os átomos fora dos núcleos. Partículas beta positivas são pósitrons. Elas têm a mesma massa de elétrons e são consideradas como antimatéria. Voltaremos aos pósitrons novamente quando discutirmos produção de pares. PARTÍCULA BETA A partícula beta é um elétron ou um pósitron emitido a partir do núcleo de um átomo radioativo. Uma vez emitidas a partir de um radioisótopo, as partículas beta atravessam o ar, ionizando várias centenas de átomos por centímetro. O alcance da partícula beta é maior do que o da partícula alfa. Dependendo de sua energia, uma partícula beta pode cruzar de 10 a 100 cm de ar e aproximadamente 1 a 2 cm de tecidos moles. Radiação Eletromagnética Raios X e raios gama são as formas de radiação eletromagnética ionizante. Este tipo de radiação será explicado de maneira mais completa no próximo capítulo; a discussão aqui é necessariamente breve. Raios X e raios gama são com frequência chamados de fótons. Os fótonsnão têm massa nem carga. Eles viajam com a velocidade da luz (c = 3 × 108 m/s) e são considerados perturbações de energia no espaço. Raios X e raios gama são as únicas formas de radiação eletromagnética ionizante de interesse radiológico. Assim como a única diferença entre as partículas beta e elétrons é a sua origem, a única diferença entre raios X e raios gama é a sua origem. Os raios gama são emitidos do núcleo de um radioisótopo e normalmente associados com as emissões alfa ou beta. Os raios X são produzidos fora do núcleo, nas camadas eletrônicas. Raios X e raios gama existem viajando com a velocidade da luz ou não existem. Uma vez emitidos, apresentam uma taxa de ionização no ar de aproximadamente 100 pares de íons por cm, aproximadamente igual àquela das partículas beta. Em contraste com partículas beta, no entanto, raios X e raios gama têm uma grande penetração na matéria. A radiação de fótons perde intensidade com a distância, mas apenas teoricamente nunca chega a zero. A radiação corpuscular, por outro lado, tem um alcance finito na matéria, e esse alcance depende da energia da partícula. A Tabela 3-6 resume as características mais importantes de cada um desses tipos de radiação ionizante. Em medicina nuclear, as radiações beta e gama são as mais importantes. Na radiografia, apenas os raios X são importantes. A habilidade de penetração e a baixa taxa de ionização dos raios X os tornam particularmente úteis para imagens médicas (Fig. 3-18). Tabela 3-6 Características de Diversos Tipos de Radiação Ionizante FIGURA 3-18 Diferentes tipos de radiação ionizam a matéria com diferentes graus de eficiência. Partículas alfa representam radiação altamente ionizante, com um alcance muito curto na matéria. As partículas beta não ionizam tão facilmente e têm um alcance maior. Raios X possuem uma baixa taxa de ionização e um alcance muito longo. RESUMO Como um sistema solar em miniatura, o átomo de Bohr estabelece o cenário para a interpretação moderna da estrutura da matéria. Um átomo é a menor parte de um elemento, e uma molécula é a menor parte de um composto. As três partículas fundamentais do átomo são o elétron, o próton e o nêutron. Elétrons são partículas carregadas negativamente que orbitam em torno do núcleo em configurações ou camadas determinadas por forças eletrostáticas. As reações químicas ocorrem quando os elétrons em órbitas mais externas são compartilhados ou cedidos a outros átomos. Núcleons, nêutrons e prótons têm cada um cerca de 2.000 vezes a massa dos elétrons. Prótons são positivamente carregados e nêutrons não possuem carga. Os elementos são agrupados na tabela periódica, em ordem crescente de complexidade. Os grupos na tabela indicam o número de elétrons na camada mais externa. Os elementos nos períodos da tabela periódica têm o mesmo número de camadas orbitais. Alguns átomos demonstram o mesmo número de prótons e elétrons conforme outros elementos, porém um número diferente de nêutrons, atribuindo ao elemento uma massa atômica diferente. Estes são os isótopos. Alguns átomos, que contêm um número demasiado ou insuficiente de nêutrons no núcleo, podem se desintegrar. Isso é chamado radioatividade. Dois tipos de emissão de partículas, que ocorrem após a desintegração radioativa, são as partículas alfa e beta. A meia-vida de um elemento radioativo ou um radioisótopo é o tempo necessário para que a quantidade de radioatividade seja reduzida para a metade do seu valor original. A radiação ionizante consiste em radiação corpuscular e eletromagnética. Partículas alfa e beta produzem radiação corpuscular. Partículas alfa possuem quatro unidades de massa atômica, carga positiva e originam-se do núcleo de elementos pesados. As partículas beta têm um número de massa atômica igual a zero e uma unidade de carga negativa ou positiva. As partículas beta se originam do núcleo de átomos radioativos. Raios X e raios gama são formas de radiação eletromagnética chamada fótons. Esses raios não têm massa nem carga. Os raios X são produzidos nas camadas eletrônicas e os raios gama são emitidos a partir do núcleo de um radioisótopo. QUESTÕES 1. Defina ou identifique o que se segue: a. Fóton b. O átomo de Rutherford c. Pósitron d. Núcleons e. O arranjo da tabela periódica dos elementos f. Meia-vida radioativa g. W (símbolo químico para qual elemento?) h. Partícula alfa i. Camada K j. Compostos químicos 2. A Figura 3-1 mostra as seguintes dimensões aproximadas: um átomo, 10−10 m; a Terra, 107 m. Por quantas ordens de magnitude esses objetos diferem? 3. Quantos prótons, nêutrons, elétrons e núcleons são encontrados nos seguintes? 4. Utilizando os dados da Tabela 3-1, determine a massa de 99Tc em unidades de massa atômica e em gramas. 5. Esboce a configuração eletrônica esperada do 40Ca. 6. Se existissem átomos suficientemente grandes para terem elétrons na camada T, qual seria o número máximo permitido naquela camada? 7. Quão ligados são os elétrons da camada K no tungstênio em comparação aos (a) elétrons da camada L, (b) elétrons da camada M, (c) elétrons livres? (Consulte a Figura 3-9.) 8. Da seguinte lista de nuclídeos, identifique os conjuntos de isótopos, isóbaros e isótonos. 6028Ni 6128Ni 6228Ni 5927Co 6027Co 6127Co 5826Fe 5926Fe 6026Fe 9. O Sr tem uma meia-vida de 29 anos. Se 10 Ci (3,7 × 1011 Bq) estavam presentes em 1950, aproximadamente quanto restaria em 2010? 10. Complete o quadro seguinte com os valores relativos. 11. Por qual razão Mendeleev é lembrado? 12. Quem desenvolveu o conceito do átomo parecendo uma miniatura do sistema solar? 13. Liste as partículas fundamentais existentes dentro de um átomo. 14. Qual propriedade de um átomo descreve a energia de ligação? 15. Átomos podem ser ionizados alterando o número de cargas positivas? 16. Descreva como os pares de íons são formados. 17. O que determina as propriedades químicas de um elemento? 18. Por que um elétron não se afasta espontaneamente do núcleo de um átomo? 19. Descreva a diferença entre emissão alfa e beta. 20. Como o carbono-14 determina a idade de uma árvore petrificada? As respostas das questões podem ser encontradas no fim do livro. * Nota da Tradução: Rutherford introduziu o modelo planetário para o átomo – um núcleo com elétrons como se fossem partículas que orbitam em torno dele. O conceito de “nuvens” de elétrons vem da mecânica quântica, que surgiu bem depois. * Nota da Tradução: Existem dois tipos de emissão beta. A emissão beta− ocorre quando o núcleo emite um elétron e a emissão beta+, quando o núcleo emite um pósitron. ** Nota da Tradução: Se a emissão for beta−. Se a emissão for beta+ o resultado será a diminuição do número atômico.
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